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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Patrulha do Espaço - Capítulo 18 - Sou um Eterno Tripulante Dessa Nave - Por Luiz Domingues

No Parque da Aclimação, em São Paulo, a primeira formação da Patrulha do Espaço, clicada por Grace Lagôa, em 1977 

Soube da fundação da Patrulha do Espaço, assim que se anunciou a sua participação em um festival binacional, a apresentar artistas brasileiros e argentinos, que realizar-se-ia em setembro de 1977, na cidade de São Paulo. 

O seu primeiro concerto foi em grande estilo, portanto, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, sob um Festival de Rock latino-americano, quando artistas brasileiros e argentinos, dividiram o palco em um show que entrou para a história do Rock sul-americano. 

Eu desejei muito ter comparecido em tal show e de fato, nesse ano de 1977, foram raros os shows de Rock apresentados em São Paulo, que eu perdi e existiram muitos, semanais. 

Nesse primeiro show da Patrulha do Espaço, eu soube que o Arnaldo Baptista se agarrara aos teclados, por se recusar a sair do palco, mesmo com os outros componentes da banda já a se retirarem sob pressão dos organizadores, motivado pelo estouro de tempo de sua apresentação, e de fato, foram muitos artistas escalados para se apresentarem naquela noite. 

Portanto, logo no primeiro show, a Patrulha do Espaço já iniciou a sua carreira a gerar história e lenda no Rock brasileiro. É bem verdade que Arnaldo Baptista havia insinuado a criação da banda anteriormente, com a formação da "Space Patrol", em 1974, junto ao Zé Brasil, este como o futuro líder do "Apokalypsis" e também, Marcelo Aranha.

Rara foto de uma atuação ao vivo da "Space Patrol", ao vivo em janeiro de 1974, com esta banda formada por: Arnaldo Baptista, Zé Brasil e Marcelo Aranha. Click: Sue Cunninghan 

Mas como essa banda não teve continuidade e por ter ficado circunscrita a poucas apresentações, é certamente essa formação de 1977, a considerada como o ponto inicial da Patrulha do Espaço, formalmente. 

Em sua primeira formação, contou com: Arnaldo Baptista, aos teclados e voz, Rolando Castello Junior, na bateria, Osvaldo "Cokinho" Gennari, no baixo e John Flavin, na guitarra.

Nesses tempos setentistas, toda a orientação artística ainda fora calcada na sonoridade das estéticas das décadas de 1960 & 1970, certamente, sob influências óbvias e muito boas, o que foi natural. Arnaldo deixou a nave ainda em 1978, mas o Rolando Castello Junior não esmoreceu e assumiu a cabine de piloto.

Saiu também o guitarrista, John Flavin, e com Eduardo "Dudu" Chermont, a assumir as seis cordas, a Patrulha do Espaço se estabeleceu como Power-Trio, a avançar por 1979 e 1980, alheia à fase terrível de derrocada do Rock brasileiro, sob ventos tenebrosos que sopravam da Europa, a anunciar tempos difíceis para quem gostava da sonoridade e estética cultural/comportamental das décadas de 1960 e 1970.

Em 1980, a banda lançou com muita ousadia, um LP independente, o que foi um escândalo para a época, pois a pressão das gravadoras se revelava massacrante nessa época e um ato desses era considerado uma rebeldia inadmissível da parte de qualquer artista, ao gerar até boatos sobre elas, as gravadoras, buscarem elementos jurídicos (como assim?), para impedir o lançamento de álbuns, da parte de artistas independentes. 

Saiu o baixista, "Cokinho", e entrou, Sérgio Santana em seu lugar, para dar prosseguimento ao trabalho.

A terceira formação da Patrulha do Espaço, entre 1981 e 1984, considerada como a responsável por uma das melhores fases da história da banda, opinião geral, da qual concordo e pela qual eu me considero um admirador. Da esquerda para a direita: Rolando Castello Junior, Dudu Chermont e Sérgio Santana

Heroicamente, a fazer das tripas coração, o trio lançou mais três discos, e teve uma chance de ouro para se projetar ainda mais ao abrir os três shows do grupo norte-americano, "Van Halen", em São Paulo, no início de 1983. 

Abro um parêntese para destacar que quando eu iniciei as minhas atividades com "A Chave do Sol", foi o momento em que conheci o Rolando Castello Junior pessoalmente ainda na metade de 1982.

No primeiro show d'A Chave do Sol, o Rolando nos emprestou um pedaço do equipamento de PA da Patrulha do Espaço, para que pudéssemos nos apresentarmos com qualidade.

Assisti dois desses concertos do "Van Halen", e a abertura da Patrulha do Espaço foi muito boa nas duas ocasiões, ao arrancar aplausos da plateia, formada por doze mil pessoas aproximadamente, em cada noite.
Em julho de 1983, A Chave do Sol realizou o show de abertura da Patrulha do Espaço em um clube localizado na cidade de Limeira, no interior de São Paulo. Ficamos encantados e gratos pela oportunidade de podermos tocar para cerca de três mil e quinhentas pessoas, naquela noite gelada de inverno.
Infelizmente, ao final de 1984, A Patrulha do Espaço teve um rompimento com a sua formação estável, ao perder o ótimo guitarrista, Dudu Chermont. Mas o Rolando Castello Junior sempre foi um abnegado e para não deixar a motivação cair, engendrou um novo álbum a ser gravado rapidamente ao trazer da Argentina, Norberto "Pappo" Napolitano, um dos maiores guitarristas do Rock latino-americano e assim, em 1985, a banda lançou um novo disco, ao dar mostras de que a nave permaneceria sob voo regular.

Apesar de ter recrutado um guitarrista monstruoso, com forte orientação Rocker, 1960 & 1970, e mestre em Blues-Rock, sobretudo, na figura de Norberto Napolitano, o popular "Pappo", uma lenda do Rock argentino, a Patrulha do Espaço enveredou para o som pesado com o álbum: "Patrulha' 85, ao flertar com o Hard-Rock/Heavy-Metal, oitentista

Infelizmente, ao meu ver, apesar de contar com um guitarrista monstruoso, a banda enveredou por um caminho espinhoso ao buscar se adequar ao mercado de metade dos anos oitenta e esse disco de 1985, tem esse espírito "mezzo" Heavy-Metal, que me desaponta, como fã. 

E assim, a banda sinalizou esmorecer, quando forçou uma parada no hangar, momentaneamente e somente ao final dos anos oitenta, voltou com força e estilo.

Uma animadora "volta" em 1989, com Rubens Gióia, meu ex-colega d'A Chave do Sol a assumir a guitarra e Percy Weiss nos vocais, a se mesclar com velhos tripulantes como Rolando Castello Junior e Sérgio Santana

Recrutou-se então a persona de Rubens Gióia, meu ex-companheiro d' A Chave do Sol e como um trio (eventualmente quarteto, com o vocalista, Percy Weiss, na formação), a resgatar a sonoridade clássica, pareceu estar a voltar ao seu voo seguro, quando um duro golpe aconteceu, motivado pelo falecimento prematuro do baixista, Serginho Santana. 

Sem forças para continuar, Rolando Castello Junior ainda tentou montar uma nova formação em 1992, e assim lançou um LP, denominado: "Primus Inter Pares", a homenagear o baixista, Sérgio Santana.

Ao contar com Rubens Gióia, Rolando Castello Junior também convidou o vocalista, Percy Weiss, o excelente baixista, Renê Seabra, e mais um guitarrista, o jovem, Xando Zupo, que anos mais tarde viria a se tornar meu companheiro no "Pedra". O disco é muito bem tocado, mas peca por dois aspectos, em minha opinião:

1) Apresenta arranjos orientados para o Heavy-Metal oitentista, demais para o meu gosto.


2) Contém poucas músicas inéditas, com a maioria delas composta por regravações do próprio material da Patrulha do Espaço, ao requentá-lo e distorcê-lo, no sentido estético.

Depois disso, o Rolando Castello Junior passou os anos subsequentes a arregimentar formações improvisadas para cumprir oportunidades sazonais, surgidas para cumprir shows, mas apenas em 1999, surgiu uma chance concreta para enfim dignificar para valer, o valor dessa nave. Eu entro aí, nessa história. Mas devo retroceder um pouco para o leitor entender o contexto em que eu me encontrava um pouco antes.

Em 1996, eu fui componente do "Pitbulls on Crack", uma banda com orientação "Indie Rock", basicamente, mas que continha uma forte influência do Glitter-Rock britânico e setentista. 

Eu já vinha há anos a tentar me reaproximar enfim da sonoridade e estética que tanto amo, ou seja, a exercida entre as décadas de sessenta e setenta.

E o CD que lançamos em 1996, trouxe em seu aparato mercadológico, toda uma aura sessenta-setentista, muito em função da pressão que eu mesmo exercera nas reuniões de "brainstorm" com a banda, e os marqueteiros da gravadora Primal/Velas. 

Mas apesar disso, o "Pitbulls on Crack" não fora a plataforma adequada para eu exercer esse resgate que ansiava, em sua totalidade. Por isso, apesar de ser muito amigo dos companheiros, eu saí dessa banda e fui me empenhar para buscar esse sonho, enfim.

Pareceu uma medida insana, sair de uma banda que tinha gravadora, vídeoclips, execução radiofônica e um nome sedimentado no âmbito do mundo underground, após cinco anos e meio de trabalho, mas eu precisava buscar essa raiz primordial que me motivara a ingressar na música e que eu havia perdido, desde os anos setenta. 

Formei assim o "Sidharta", com o então adolescente, Rodrigo Hid, que conhecera por este ter sido guitarrista da banda de um aluno meu, por volta de 1992. O "Sidharta" nasceu desse embrião inicial, com o forte propósito de criar uma estética artística, totalmente comprometida com ícones sessenta-setentistas.

Queríamos buscar a atmosfera de outrora, não apenas na sonoridade das músicas, mas por se evocar tais ideais no vestuário/figurino, cenários, ambientações etc. 

Avançamos por 1998, a trabalharmos fortemente nesse sentido e após a saída do guitarrista, Deca (depois disso este amigo se tornou membro do "Baranga"), que fora componente também, convidamos outro jovem multi-instrumentista, e ultra talentoso membro, chamado: Marcello Schevano.

Com a presença de José Luiz Dinola, esta a ser o meu velho companheiro d'A Chave do Sol, na bateria e vocais, fechamos a formação nesse quarteto e por um ano ensaiamos, quando compusemos vinte e duas músicas. 

No início de 1999, o José Luiz resolveu não prosseguir conosco e decidimos então procurar um baterista que vibrasse por essa estética retrô, integralmente.

Convidamos assim, o super baterista, Rolando Castello Junior, com direito a uma armadilha, um verdadeiro ardil que também relatei sob o ponto de vista do final dos trabalhos do Sidharta e início da Patrulha do Espaço, nesta autobiografia (e o Rolando Castello Junior também já contou isso sob a visão dele, nas páginas do "Dossiê Volume 4", CD que contém a história da Patrulha do Espaço narrada por ele em punho, através dos respectivos encartes dos quatro volumes lançados e há a perspectiva dele lançar um volume 5, ainda). 

Então, Rolando Castello Junior aceitou o desafio, mas nos dissuadiu da ideia romântica de usarmos o nome "Sidharta", ao nos fazer enxergar que seria muito mais fácil nos lançarmos como "Patrulha do Espaço", ao contrário de entrarmos no mercado com uma banda iniciante, em termos de nome e prestígio. Claro, fez todo o sentido, a sua explanação foi irrefutável.

Em março de 1999, começamos a ensaiar e incorporamos quase todo o repertório do "Sidharta" como material novo da Patrulha do Espaço, para mesclá-lo ao repertório clássico da banda. 

O Rolando Castello Junior aprovou a proposta e foram momentos marcados por muita alegria em minha trajetória, pois além de eu estar a trabalhar em prol do meu sonho Rocker primordial (em torno dos ideais fincados através das estéticas das décadas de 1960 & 1970), me alegrara ser um agente no resgate da própria banda, em favor de suas raízes.

Foi, portanto, um prazer enorme estar a colaborar para a Patrulha do Espaço voltar às suas origens e logo de início, o fato de Rodrigo Hid e Marcello Schevano, serem ambos guitarristas e tecladistas, proporcionou à banda, a oportunidade para resgatar o repertório da época do Arnaldo Baptista, material que a banda não tocava desde 1978, quando da saída do próprio Arnaldo.
Logo no primeiro show, surpreendemos os fãs que estavam acostumados aos últimos tempos da Patrulha do Espaço com o som pesado que produzia há anos, a tocar um repertório formado por clássicos da banda, a moda original, sem ranços oitentistas, a resgatar uma aura Hippie, há muito perdida. As músicas novas agradaram em cheio, a possibilidade de se tocar várias da época do Arnaldo Baptista, idem. Mas não foi somente isso...

Os shows estabeleceram a abertura de um túnel do tempo, mediante detalhes que passamos a adotar na ambientação de cena, e que encantavam o público com observação mais arguta. 

Para início de conversa, os nossos shows tiveram o aroma dos incensos. Resgatamos com força esse hábito há muito esquecido no Rock brasileiro e quando o público entrava no ambiente dos locia sem que tocamos, e não importava se fosse uma casa noturna, salão ou teatro, nós queimávamos dúzias de incensos.

Mesmo a lutar contra a falta de recursos para estabelecermos produções sofisticadas, nos esmerávamos em compor cenários, como verdadeiras tendas hippies que muito lembrava a atmosfera de shows produzidos nos lendários auditórios Fillmore, dos Estados Unidos. Usamos projeção com bolhas psicodélicas, ainda que primitivamente, por falta de recursos melhores, caprichávamos no figurino "hippie chic", tivemos muitas flores, sempre que possível...
Pequenos detalhes cênicos também fizeram parte de nossos esforços. Ornamentos em cima dos amplificadores, pelos cantos do palco e sobre teclados e praticável de bateria, foram de estátuas de Deuses orientais a um porta-retrato com a foto de Timothy Leary, de castiçal de velas à echarpes de seda jogadas a esmo e até um boneco de um ET, em tamanho natural, foi usado certa vez, ao causar um efeito visual chamativo. Foram tempos anacrônicos, no entanto, indiferentes à essa estética, e nem sempre o público entendera sequer o significado de tudo isso.

Lembro-me por exemplo de um programa de TV, ao vivo, onde a despreparada apresentadora achou engraçado o porta-retrato com a imagem de Tim Leary em cima do órgão Hammond, e me inquiriu a respeito, mas simplesmente ignorou a minha explicação. 

Enfrentamos públicos alheios e às vezes até hostis. Lembro-me de um show em 2001, para uma grande multidão, no qual as principais atrações foram duas bandas: uma famosa nos anos oitenta e outra que se mostrara como a crista da onda no início dos anos 2000, e esta detinha estética agressiva, portanto antagônica aos nossos ideais, a se configurar como uma dessas formadas por meninos a usarem bermudas e praticarem um som agressivo, mediante letras recheadas com palavrões.

Quando subimos ao palco, ouvimos vários insultos do público cativo dessa tal banda e bastava olhar para eles para se ter a certeza de que nunca houveram tomado conhecimento sobre artistas do Rock, tais como The Beatles, Jimi Hendrix, Janis Joplin, enfim.

Mas tivemos também momentos com enorme satisfação. Foram várias as vezes em que tivemos a surpresa agradável por termos um público antenado em nossa proposta em favor do vintage.

Tivemos muitos momentos inspirados ao vivo, como se estivéssemos no auditório do Fillmore West em 1968, retratado acima na foto, e com a figura de seu mítico diretor, Bill Graham, em destaque no seu palco

Em muitas cidades interioranas de São Paulo e principalmente nos três estados do Sul do país, encontramos plateias extremamente jovens, com a garotada a vibrar como se vivesse em 1968, ao ansiar por aquela sonoridade e por reconhecer todo o nosso esforço para reproduzir essa atmosfera mágica, em todos os sentidos. 

Não foram poucas as vezes em que eu saí do palco profundamente emocionado com a recepção de um público muito jovem e a desejar viver esse sonho, como se estivessem a viver a época, de fato.

E assim, gravamos três discos de estúdio ("Chronophagia", em 2000, ".ComPacto", em 2003 e "Missão na Área 13", em 2004). Houve também no meio do caminho, o lançamento da coletânea,"Dossiê Volume 4" (em 2001), pela qual o Rolando Castello Junior narrou toda a história da banda, ao seguir a prerrogativa de ter lançado os três primeiros volumes anteriormente, ainda no final dos anos noventa e nesse volume 4, se marcou o início da história da formação de 1999, comigo e os talentosos: Hid e Schevano.

E mesmo quando essa formação se desmanchou em 2004, ainda houve um lançamento póstumo, com: "Capturados ao Vivo no CCSP em 2004", um CD ao vivo (mas lançado em 2007), obtido através de três shows realizados no Centro Cultural São Paulo (CCSP), nos estertores dessa formação. 

A nave da Patrulha do Espaço prosseguiu com formações improvisadas, mas a se manter no ar, até chegar na formação atual, quando a banda lançou em 2012, um novo CD com inéditas, denominado: "Dormindo em Cama de Pregos", no qual uma faixa ao vivo, out take do disco, "Capturados ao Vivo no CCSP em 2004", foi anexada como bônus track, ao tratar-se de: "Rock com Roll". Posteriormente, a banda lançou mais um álbum, chamado: "Veloz", em 2015.

A atual "line-up" da Patrulha do Espaço (refiro-me a 2016), é uma boa e sólida formação, e conta com um jovem guitarrista, um desses artistas sensacionais que vibraram o sonho 1960 & 1970 e que conhecemos na estrada em 2001, chamado: Danilo Zanite. Que siga em frente com muita sorte, para manter a chama do Rock, acesa.
De minha parte, foi assim a minha participação entre 1999 e 2004, em que apesar das dificuldades, eu pude exercer o sonho e me senti em uma banda de Rock a moda antiga, cercado pelos ícones contraculturais que amo, a fazer uma música carregada com "Boas Vibrações Aquarianas". Só faltou tocarmos no auditório, Fillmore, mas ainda tenho esperança de um dia, obter esse prazer quase messiânico para um velho Rocker...

Tenho orgulho do trabalho realizado, mas sobretudo pelo resultado prático que vi expresso no semblante de jovens em inúmeras cidades por onde passamos e nos apresentamos. Os urros de euforia pela performance da banda, saudados a cada detalhe. O esforço descomunal para criarmos a atmosfera de show de Rock das décadas de sessenta e setenta. 

O talento absurdo de Hid e Schevano, a tocarem inúmeros instrumentos cada um, ao cantarem, comporem e atuarem. 

A descomunal técnica do Rolando Castello Junior, um baterista que detém o mesmo nível artístico das grandes feras internacionais e icônicas que tanto nos influenciam... sinceramente, não vejo diferença técnica alguma entre ele e as grandes celebridades idolatradas na história do Rock. 

Corrobora tal impressão o fato de que tenho como base a minha visão e audição privilegiada, visto que eu toquei junto e testemunhei todo o gestual de sua atuação, portanto, sei o grau de dificuldade inerente a cada frase que ele executava, e assim, você pode acreditar em minha opinião, meu amigo leitor, pois é fidedigno o que afirmo. 

O sonho por estar na estrada com uma banda de Rock desse nível elevado pela técnica e volúpia sonora, se realizou em sua plenitude.

Creio que a Patrulha do Espaço foi para a minha trajetória, a concretização do sonho primordial acalentado em 1976. Aquela energia lúdica e onírica que vislumbrei nos tempos do Boca do Céu, a minha primeira banda, ainda a viver os estertores da Era Hippie no Brasil, foi posta em prática com a Patrulha do Espaço, a partir de 1999, sem dúvida. 

Nunca foi intenção da Patrulha do Espaço, tentar estabelecer concessões para pleitear espaço no âmbito mainstream. Embora contivesse no bojo de sua criação, algumas músicas que poderiam até nos dar essa pretensão para tentar o Pop comercial do mainstream, todavia, fomos realistas de que o panorama se projetara como algo totalmente avesso e fechado, portanto, nem perdemos o nosso tempo com ilusões pueris. 

De forma notável, fizemos muitos shows e gravamos discos, sem apoio algum. O pouco apoio que tivemos da parte de terceiros, foi sazonal, sob pequena monta e por ter sido assim, o desbravamento foi efetivado pela força de vontade.

O desgaste psicológico foi grande e culminou com o cansaço ao atuarmos mediante tantas dificuldades, mas esse aspecto gerencial dos bastidores, em nada desabona o lado artístico. Sob tal ponto de vista, reputo a minha longa passagem pela banda, como extremamente vitoriosa.

Isso é patente, ao analisar os números. Foram 122 shows (a contar a participação como convidado em uma apresentação de 2014), duas pastas abarrotadas com matérias de jornais & revistas como legado de portfólio e cinco álbuns: três de estúdio com material inédito, uma coletânea e um álbum ao vivo. 

A quantidade de vídeos com promos, clips, aparições na TV e shows ao vivo que já existem no YouTube e outros portais de Internet, é muito grande e vai crescer ainda mais, pois eu mesmo estou empenhado em lançar muito mais material que possuo e sei que o Rolando Castello Junior e um de seus filhos, Ray Castello, estão empenhados nessa mesma atribuição. Tirante o material, teve (tem) o carinho do público, o qual considero ser o maior legado.

São muitos os fãs que me abordam e pedem autógrafos por conta específica desse trabalho, e recordam com carinho da nossa fase com essa histórica banda. 

Se uma sensitiva vidente ou cartomante me revelasse em 1976, que o meu esforço para me tornar músico/artista/Rocker, lograria êxito e que um dia eu tocaria em uma banda do porte e história da Patrulha do Espaço, por mais motivado que estivesse para lutar por isso, creio que não acreditaria na previsão. Mas aconteceu e portanto, agradeço aos Deuses do Rock por terem me ofertado tal oportunidade. 

Agora é a hora para falar das pessoas que gravitaram na órbita dessa nave!

Nesses anos todos em que eu fiz parte dessa formação fantástica da Patrulha do Espaço, claro que além dos três companheiros de jornada espacial, tivemos uma série de pessoas que trabalharam diretamente na equipe de apoio da banda, e muitos, indiretamente.

Agora é o momento para relembrar dessa turma boa que acreditou e sonhou conosco, vibrou na mesma sintonia, mergulhou na aventura de se fazer Rock como deve ser feito, sem concessões às manipulações dos marqueteiros e seus lacaios, os famigerados "formadores de opinião". 

Peço mil desculpas se esquecer de mencionar alguém, ou grafar errado o nome, omitir sobrenome etc. Recorrer somente à memória, sem ter apoio de anotações, não é fácil. Todavia, tenho o recurso da edição e a medida que precisar, volto aqui (refiro-me aos meus Blogs na Internet, certamente) e promoverei as correções devidas, se for o caso. Já para o livro impresso, o que foi demarcado, assim permaneceu, logicamente. 

E genericamente, sem citações nominais, agradeço aos produtores, contratantes, técnicos, jornalistas e fãs que muito nos incentivaram nesses anos de nossa formação e também aos fantásticos músicos que conhecemos na estrada e que abriram os nossos shows e eventualmente tocaram conosco em ocasiões especiais. 

Ter visto tantas bandas boas e a vibrarem com tanta esperança pelo Rock baseado nas estéticas clássicas das décadas de 1960 & 1970, novamente, me fez muito feliz e esperançoso pelo futuro. Vocês, músicos dessas bandas, não podem imaginar o quanto eu fiquei feliz por vê-los a atuar, com a sua juventude, técnica, criatividade e amor ao verdadeiro Rock. 

Para falar dos apoiadores, vou separar por ano, em que cada pessoa entrou na nossa vida.

1) 1999

Assim que começamos a ensaiar, é óbvio que a minha turma de adolescentes, que eu chamava carinhosamente como: "meu exército de Neo-Hippies", se incorporou à nossa órbita, de forma imediata e incondicionalmente. Eles já me ajudavam de uma forma entusiasmada, desde os primórdios do Pitbulls on Crack, a partir de 1992, apoiaram com muito vigor a criação do Sidharta, em 1997 e foi natural que acompanhassem com muita animação e vontade para colaborarem com os primeiros passos de nossa formação com a Patrulha do Espaço. 

Já adultos e a trabalharem em suas próprias bandas, muitos deles, foram ajudantes com imenso valor nesses meses iniciais de nossas atividades em 1999, para atravessar 2000 e com alguns deles a nos acompanharem além de 2001, também.  

Ricardo Schevano, meu ex-aluno e irmão do Marcello, foi um deles e na época, já estava a começar as suas atividades com o "Baranga", sua banda. Marcelo "Pepe" Bueno (também meu ex-aluno e já a tocar no "Tomada"), Edil & Marilu Postól, Guilherme "Tiê" & Carolina Poppi, Pedrinho "Wood" Ayoub (Tomada), Eduardo Donato, Fernando Minchillo, Alexandre "Leco" Peres Rodrigues, Toni Peres Rodrigues, Marcelo "Always" Burani e Carlos "Cali" Keller Rodrigues, foram alguns que estiverem muito perto de nós, nesse início.

Ao poeta, Julio Revoredo, pelas lindas letras em canções que foram, gravadas no álbum "Chronophagia", e sua esposa, Regina Célia, pelo apoio e torcida! 

Roberto Garcia Morrone e Carlos Alberto Fazano, que contribuíram bastante, também.

Edson Vincentin, que filmou os primeiros shows da banda.

O grande artista plástico, André Peticov, que nos deu dicas preciosas sobre como fazer "bolha psicodélica" a moda antiga, e dá-lhe Guaraná!

O saudoso,
Renê Seabra, pela força nos primeiros shows, mesmo caso de Luciano "Deca".

Claudio "Formiga", pela sua bondade em nos receber bem no estúdio Alquimia, onde fizemos os primeiros ensaios da nossa formação e o freak-mor da Vila Mariana, Paulo "P.A." Antonio, pela acolhida em seu estúdio, onde ensaiamos fortemente para preparar o material do álbum "Chronophagia", nos últimos meses de 1999. Saudade daqueles ensaios ultra freaks, com a presença dos amigos: Nobuga, o saudoso, Hélcio Aguirra, e com aquela matilha de Sheep Dogs..."Sol", "Lua", Estrela"...

Wagner Molina, o "mago da luz", que iluminou os nossos primeiros shows no Centro Cultural, em 1999, e muitas vezes mais, no futuro.

José Agatão, pela amizade e apoio em toda essa fase.

Nelsinho, de Santo André-SP, um fã da Patrulha do Espaço que acompanhava a banda desde 1977, e Carlão (Namastê!), também do ABC.

2) 2000

Logo no início do ano, foi ótimo contar com o apoio de baterista superb, Paulo Zinner, na gravação do álbum, ao atuar como produtor e por ter exercido "voto de Minerva", em decisões controversas adotadas no estúdio.

Zoroastro "Zôro" Barany, pelo empenho em ser o engenheiro de som do álbum, Chronophagia. A sua boa vontade para dar o seu melhor, muito nos ajudou, apesar de seu pecado mortal de ser teimoso, por insistir em gravar tudo "flat", o que arruinou a possibilidade de termos obtido timbres sensacionais nesse disco, principalmente no caso do baixo. Já expliquei isso amplamente nos capítulos focados nessa parte da cronologia e não vou repetir aqui. Em tempo, está perdoado por isso!

Daniel "Lanchinho", pela ajuda na reta final dessa produção do "Chronophagia" e também pela atuação como músico convidado.

Alexandra "Joplin" e o incrível, Manito, pelo brilhantismo artístico que trouxeram ao nosso disco!

Johnny Adriani, pelo magnífico trabalho da ilustração de capa e encarte do disco.

Luiz Chagas, pelo apoio na assessoria de imprensa.

Marcelo "Macarrão", pelo apoio para participarmos do programa: Turma da Cultura!

Marcos Sptizer, o grande Dr. Rock! Agradeço pelo seu apoio forte em muitas ocasiões.

Dárcio e Marcos Cruz, de Avaré-SP pelo apoio irrestrito, amizade, mas sobretudo por comungar de nossos ideais no campo do Rock!


Osmar Santos Jr. & Staff da Brasil 2000 FM, pela oportunidade e sempre bem-vindo entusiasmo! 

Fernando, Vinicius e Getúlio Junior, de Santo André-SP, pelo entusiasmo em sempre prestigiar-nos !

Os irmãos Fabio Rolles, Branco e toda a família Santos!

Luiz Carlini & Helena T. + Tutti-Frutti, pelo apoio total!

Alexandre Quadros, um abnegado apoiador!
 
Salvatore D'Angelo, pelo apoio na época e também em 2015-2016, pelo suprimento de fotos de shows oriundos do seu acervo pessoal a incrementar os meus Blogs na Internet !

Emmanuel & Sinésio Barretto, Helder Pomaro e Itamar Fonseca, pelo apoio no transporte da banda, através dos ônibus de sua empresa, "Magic Bus", quando nos proporcionou as nossas primeiras viagens para fora de São Paulo.

Rogério André, Toni Peres Rodrigues e Carlos Fazano, o primeiro time de Roadies, formado. Samuel Wagner só entrou para a equipe de roadies, ao final do ano de 2000.
3) 2001

Yves, pela tentativa de ajuda com a problemática do órgão Hammond.

O grande, Kôlla Galdez, que fez um milagre sonoro e graças a isso tivemos um novo disco para lançar, o CD ".ComPacto", e teria sido uma lástima se isso não ocorresse, tamanha a qualidade dessas canções. Haja luz, amigo, Kôlla!

Gil & Givaldo, pelo apoio na produção dos álbuns "Dossiê Volume 4" e ".ComPacto".

Lourival, pelo apoio em seu estúdio de ensaios, o mais ufológico da Vila Mariana na zona sul de São Paulo.

Marcelo Dorota Martins, pela ajuda incomensurável em colocar um "site" super digno para a banda, no ar!

O superb artista plástico, Antonio Peticov e seu assistente, cujo nome não me recordo e que por um triz não realizaram um sonho nosso em termos uma pintura psicodélica ultra sessentista, em nosso ônibus.

Gastão Moreira, Clemente Nascimento, Marcelo Macarrão e Jorge Mautner, pelo Musikaos!

Atílio Bari & Uka, pelo genial "Em cartaz!"

Thiago Gardinalli, pelo programa: "Intimação", na Rede Vida de TV.

Ney Gonçalves Dias, por nada, mas a culpa não foi nossa se não havia a presença das letras de nossas canções, impressas no encarte do nosso disco, ao frustrar o seu Karaokê.

Miguel Vaccaro Neto... e não diga... não!

Eduardo Moya, Patrick Flemer, Andreia Mayume e Sérgio Sampaio, pela produção do Clip de "Homem Carbono"

Carlinhos "Jimi", por atuar no Clip de "Homem Carbono" e apoio em tantas outras circunstâncias.

Márcio & Cynthia Brandini, e Ricardo "Magrão" Brandini, pelo apoio irrestrito.

Marco
Carvalhanas, pela tentativa de ser Road Manager, esforço em geral para ajudar e amizade.

Sarah Reichdan, que nesse ano, passou a nos oferecer boas oportunidades para a banda e isso se estendeu em 2002, também.

Zé Roberto, pelos esforços iniciais com a compra, manutenção e condução do veículo.
4) 2002

Luciano Reis, pelo apoio incondicional, suporte, e amizade!

Evandro Demari, e o baterista da banda, "Os Arnaldos", muito solícitos em nossas primeiras passagens pelo Rio Grande do Sul.

Walter "Alemão" Gonçalves, o motorista da nave azulada!

Daniel "Kid" Ribeiro, que entrou para o time de roadies, definitivamente. E James Castello, por trabalhar muitas vezes na equipe de roadies, também.


Walter "Casão" Casagrande Junior, pela simpatia em nos auxiliar na Transamérica FM!

Paulo e Alan Garcia, pelo estúdio e empenho em mixar o CD ".ComPacto!"
5) 2003

Marcos Mündell, pelo belo logotipo que se transformou na capa do CD ".ComPacto".

Luiz "Barata" Cichetto, por todo o apoio à concretização do lançamento do CD ".Compacto", com o Site da banda, divulgação e trabalho como Road Manager, além de ter sido o "escriba" das turnês, desde o final de 2002.

Luiz Carlos Calanca & Baratos Afins. E também, Carolina Calanca, filha do Luiz, pela filmagem do show do Sesc Pompeia em maio desse ano.

Dum de Lucca, pelo apoio na assessoria de imprensa.

Ana Fuccia (e filhas, Amanda e Ítala), pelo apoio fotográfico, artes plásticas para ornar o palco como objeto de cena e amizade!

Eduardo, pelo seu simpático estúdio de ensaios localizado no bairro da Saúde, zona sul de São Paulo.

Loja Nuvem Nove, através de seus simpáticos proprietários, Zé Carlos & Julia, pelo apoio sempre entusiasmado.

Amadeu, também por apoiar e patrocinar.


Thiago Gardinalli, pelo apoio que tivemos na rádio Jovem Pan AM!

Junior Muelas, Alberto Sabella, Gustavo Vasquez & Fabio Poles, além de muitos outros amigos de São José do Rio Preto-SP, pela hospitalidade, apoio e empenho para a gravação do álbum: "Missão na Área 13".

6) 2004

Todo o staff do Área 13 Estúdio, pela gravação ao vivo dos shows no CCSP em julho, e que culminou no disco lançado em 2007.


Michel Camporeze Téer, pelo fantástico apoio no lay-out final e diagramação da capa do álbum: "Missão na Área 13". 

Syang e sua equipe de produção, pela acolhida em seu programa de TV, "Swing com Syang".

Hora para falar sobre as pessoas mais próximas da banda:

1) Walter "Alemão" Gonçalves

O nosso folclórico motorista era bom de volante, bom mecânico e um homem bom. Ficava carrancudo as vezes, mas na maior parte do tempo, brincava muito e nos divertia com as suas pilhérias, mediante os seus gritos repentinos ao volante e suas "pérolas" em forma de aforismos. 

A sua última viagem conosco foi em maio de 2004 e depois disso, eu nunca mais tive notícias suas. Lastimo não ter uma única foto dele para ilustrar a menção (refiro-me aos Blogs de internet), mas a foto do volante de um ônibus, Mercedes Benz, acho que o representa simbolicamente bem, pois ele nos levou em segurança, ao segurá-lo com firmeza, em milhares de kilômetros.

2) Daniel "Kid" Ribeiro

A partir de 2001, Daniel se tornou um roadie fixo da nossa equipe de apoio e salvo algumas ausências sazonais, nos acompanhou até o final da nossa formação. Músico de grande categoria, ele toca bem baixo, guitarra, violão, canta e compõe. Teve uma banda autoral por bastante tempo chamada: "Daniel Kid & Os Rockers", que lançou um disco: "Primeiro Ato".

Atualmente, 2016, é baixista na banda de apoio do compositor, Walter Franco, além de atuar em várias bandas cover pela noite, além de trabalhar com produção musical em geral, também.

                             Samuel Wagner em foto de 1999

3) Samuel Wagner


Fã inveterado da banda, ele assistiu com enorme interesse os primeiros shows de 1999, mas só a partir do segundo semestre de 2000, se tornou roadie oficial da Patrulha do Espaço. V

Samuel viajou conosco em todas as ocasiões, desde então, e continuou a ser roadie da banda até os dias atuais (2016). 

Já trabalhou com outras bandas também, como o Golpe de Estado, Made in Brazil, Tutti-Frutti, Pedra, Tomada e Baranga e até artistas fora do mundo do Rock, como Michel Teló. 

Ele fez muita divulgação, ao colar cartazes e distribuir filipetas pelas ruas da cidade. Falamo-nos com relativa constância e nutrimos em comum, o apreço de colecionarmos DVD's a conter material sobre seriados, desenhos animados e filmes vintage, ao estabelecermos sempre um intercâmbio com materiais desse porte. 

4) Claudia Fernanda

Pessoa com uma personalidade forte, e bastante experiente como produtora de eventos sob vocação nas artes plásticas, foi uma pessoa valorosa a nos ajudar muito em termos palcos sempre bem aprumados, cenicamente a falar e invariavelmente a usar de soluções criativas para otimizar a nossa verba curta, para tal. 

Não somente por essa qualidade, ela foi polivalente e eficiente como boa produtora executiva para arrumar sempre um jeito para tudo, e apagar eventuais incêndios, um perigo constante para uma banda na estrada. Ficou conosco de 1999, até um pouco além da dissolução de nossa formação. Soube que se mudou para Fernando de Noronha a seguir, onde vive nos dias atuais.

Falo agora sobre os tripulantes dessa jornada espacial e Rocker:

1) Marcello Schevano

O seu talento absurdo como músico multi-instrumentista, cantor e compositor já era visível lá atrás, quando eu notei a sua incrível capacidade musical, nos idos de 1994-1995. O tempo só confirmou isso e o seu brilho com a Patrulha do Espaço e nos trabalhos que fez depois (Carro Bomba, Casa das Máquinas, Som Nosso de Cada Dia, Golpe de Estado etc), o comprovam, sem chance de haver qualquer contra-argumentação. 

Após a dissolução de nossa formação, interagi com ele bastante no ano de 2006, quando as nossas respectivas bandas, "Pedra" e "Carro Bomba", fizeram uma série de shows em dobradinha, por algumas casas noturnas de São Paulo. 

Depois disso, nos reencontramos em um show da Patrulha do Espaço, realizado em 2014, no Centro Cultural São Paulo, quando tocamos juntos na condição de convidados especiais da nossa ex-banda. 

Tenho muito orgulho por vê-lo a brilhar intensamente com o seu talento fora do comum, e torço para que tenha muito sucesso em seus trabalhos atuais, e lance um dia, o disco solo que ele começou a gravar e engavetou, e cujo som bruto eu conheço e considero, muito bom. 

Marcello é capaz de se sentar ao piano e compor: "Nave Ave", empunhar uma guitarra e fazer, "O Ritual", ser doce ao violão e tocar "Epílogo". 

Também envereda pelo misticismo ao propor que respiremos "Prâna", ao buscar a reflexão antropológica-psicanalista em "Sendo o Tudo e o Nada", desvendar o "Véu do Amanhã", propor alquimia em "Terra de Minerais" e homenagear a cidade em que nasceu como uma das mais belas odes a São Paulo que eu conheço, chamada: "São Paulo City". 

Em suma, Marcello Schevano é um compositor sob múltiplas facetas, portanto raro no cenário artístico brasileiro. 

Em 2016, ele montou em parceria com seu irmão, Ricardo Schevano, um estúdio espetacular de gravação e ensaios (chamado: "Orra Meu"), com um nível compatível a estúdios norte-americanos ou europeus, ao abrir mais um campo de atuação em sua vida, como produtor musical e empresário.

2) Rodrigo Hid

Tudo o que eu disse sobre o Marcello Schevano, acima, vale ipsis litteris para o Rodrigo Hid. As diferenças no texto são mínimas, por exemplo, o conheci um pouco antes, 1992. 

Sou muito amigo de seus pais e sei bem de onde vem o seu talento. Por DNA, a herança criativa de Tufi Hid, seu pai, lhe passou criatividade pelo sangue. 

Rodrigo é tudo o que o Marcello o é, também, como músico. Toca divinamente vários instrumentos, é um tremendo cantor, compõe com uma qualidade de artista de primeira grandeza, escreve ótimas letras e é um dos maiores imitadores que eu conheci, assim como o Tufi, seu pai. O seu talento como humorista nato, sempre nos divertiu muito nos bastidores e claro que eu sinto saudade dessas galhofas. 

Ao contrário do Marcello, no entanto, nós tivemos uma sequência de trabalho além da Patrulha do Espaço, ao ficarmos juntos no "Pedra", por dez anos, aproximadamente. 

Sou-lhe grato pelo companheirismo, ótimo astral e pelos momentos mágicos nas performances de palco, proporcionados pelas músicas que ele compôs, sozinho ou em parceria comigo e os demais companheiros. 

"O Pote de Pokst" arrancava suspiros, lembra-se, Rodrigo? Eu sei de onde vinha aquela energia... era pura alquimia, vinda de algum recanto místico europeu, onde o chapéu é sempre tirado para Roy Harper. 

Orgulho-me muito por ter tido, Rodrigo Hid, como companheiro dessa jornada espacial e especial. Sob uma analogia, se fôssemos a tripulação da Enterprise, Rodrigo seria o Spock, e é dali que veio as canções de alta qualidade artística, tais como: "Sendas Astrais", "Anjo do Sol" e Alma Mutante, certamente... mas como "Nem Tudo é Razão", até um vulcano, como Rodrigo Hid, sabe que não dá para ser um "Homem Carbono", e aí, o jeito é pular de um "Trampolim"...

3) Rolando Castello Junior

O nosso desafio antes do começo da formação chronophágica da nossa banda, fora motivar o Rolando Castello Junior, que vinha de um momento de desilusão com a cena artística, chateado com os rumos do Rock, cada vez mais tenebrosos no Brasil etc. 

Ele é mais velho do que eu, sete anos. Quando a formação acabou, eu tinha quase a idade que ele tinha quando nós o abordamos em 1999, portanto, também passei por essa fase de desânimo e baixa energia. 

Entendo-o por aquele momento que vivenciou, portanto, e só quem ostenta uma longa carreira e vê passar tantos modismos trôpegos, sabe o quanto é duro ser um artista idealista e tenaz, disposto a levar a tocha acesa adiante, a despeito de todas as adversidades e por ser assim, isso pode ser computado como mais uma qualidade sua e de fato, nessa minha trajetória, conto nos dedos de uma só mão, os artistas que eu conheci com tal capacidade em torno da resiliência e determinação. 

Como músico, acho que ele dispensa maiores comentários. Considero o Rolando Castello Junior, um baterista com um nível técnico igual ou até superior que muitos dos grandes bateristas da história do Rock internacional e que nos influenciam tanto. 

A sua técnica e pegada, são absolutamente matadoras. Sem nenhuma intenção em parecer piegas (falo isso como testemunha ocular e auditiva), a sua performance ao vivo é idêntica a dos grandes bateristas da história e claro que emociona. 

Por isso ao longo deste relato sobre a Patrulha do Espaço, tantas vezes eu mencionei o fato de que Rockers mais antenados urravam, literalmente, ao verem & ouvirem as suas viradas inacreditáveis, ao desenhar frases impossíveis nos tambores da sua bateria. 

Mais que isso, o Rolando Castello Junior é um dos maiores Rockers que conheci e trabalhei. E nesse sentido, afirmo sem medo de errar, foi um dos poucos que eu tive a certeza absoluta de que entendia o que foi (é) o Rock, com profundidade. 

Rolando Castello Junior é culto. Domina vários assuntos e escreve muito bem, haja vista a qualidade poética dos encartes dos discos da Patrulha do Espaço que ele redigiu, principalmente o texto biográfico dos encartes que acompanham a série de coletâneas chamada: "Dossiê". 

E por ser um homem culto, eu afirmo com todas as letras que é um Rocker como foram os Rockers de outrora. Quando a invasão de trogloditas ogros a usarem as indefectíveis bermudas, os arvorou de serem eles os "novos Rockers da modernidade", tudo foi para o ralo.

Chronophagia é isso, para quem ainda não entendeu o conceito, ou seja, a certeza de se buscar a energia indevidamente rompida com o passado para construir um presente que nos garanta um futuro melhor. 

Rock é luxo, Rock é Art-Rock, Rock é sofisticação artística, Rock é desbunde contracultural e o Rolando Castello Junior tem ciência de tais máximas, e melhor ainda, vive isso, intensa e diariamente.

Dessa maneira, me orgulho muito de ter tido esse convívio com ele, e das conversas que tivemos ao tratarmos sobre assuntos diversos, tais como o cinema retrô que apreciamos, II Guerra Mundial e o Rock, naturalmente. 

Saudade da nossa química musical, igualmente e que deu um resultado extraordinário. A capacidade quase telepática que estabelecemos, ao executarmos em duo, variações rítmicas criadas no improviso total, e ao vivo, entrou para a história da banda, e claro que eu me orgulho disso. Formamos uma cozinha poderosa, ao ponto de ser um atrativo a parte e na altura do brilhantismo de nossos jovens virtuoses, Hid & Schevano. Sou grato aos Deuses do Rock por essa oportunidade. 

Rolando Castello Junior segue a liderar a Patrulha do Espaço, e assim será por muitos anos, torço por isso.

Ao encerrar as minhas considerações, reitero que ter podido tocar em uma banda com esse porte, história, bagagem artística e legado, já teria sido demais para qualquer Rocker que se preze. 

Como se não bastassem todos esses atributos, existe a nobreza de uma árvore genealógica que lhe confere o parentesco direto com os Mutantes, ou seja, um verniz e tanto.

Todavia, a minha formação foi além, pois não foi apenas um bom combo formado por instrumentistas e cantores aptos para fazerem de cada noite, uma noitada excelente, porém, teve como princípio "chronophágico", resgatar o elo perdido da própria banda. Moderna, na base do "ponto com", mas docemente retrô para trazer de volta o "compacto", teve a coragem para estabelecer o seu manifesto em prol do "religare" do Rock, ou seja, "com pacto".

A nossa banda quando voltou com essa formação de 1999, não voltou somente para tocar corretamente, mas subiu ao palco amparado por uma série de princípios, os mais nobres, diga-se de passagem. E desse fato, eu muito me orgulho. 

O legado desse trabalho está expresso nos discos e pode ser sentido no material do portfólio, fotos e vídeos das mais diversas fontes.

Nessa "retomada", abrimos o caminho para o "véu do amanhã" que há de ser melhor e conterá assim o eco aquariano com o qual tanto sonhamos. É mais que um mero arroubo artístico, é muito maior que a própria música. Um dia essa colheita vai florescer e a nossa semente jogada lá atrás, vai se justificar e nos dignificar muito além da nossa obra artística. Anotem isso que vos digo!

Fim desta etapa das mais emocionantes da minha autobiografia na música. Daqui em diante, a minha autobiografia trata do trabalho que eu empreendi a seguir, o "Pedra".

Meu muito obrigado a Marcello Schevano, Rodrigo Hid, e Rolando Castello Junior!

Que a Patrulha do Espaço continue a desbravar o espaço sideral, para levar o Rock ao seu lugar de direito: nas alturas!