Pesquisar este blog

quarta-feira, 2 de março de 2016

Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 4 - Nuvem Dissipada a Gerar o Agradecimento Final - Por Luiz Domingues

Após o show no Café Delirium, em 18 de fevereiro de 2016, a próxima atividade de Ciro & Nudes foi uma entrevista para um programa de Internet, no caso, o "Comunidade em Ação", do comunicador, Guto Senatore, na Flix TV. 

Como eu havia recém realizado a minha terceira cirurgia, em 17 de março de 2016, obviamente não pude comparecer e participar junto aos colegas. Mas fiquei feliz por vê-los e ouvi-los a me saudarem em público, quando eles me desejaram pronto restabelecimento da convalescença que eu enfrentava, por conta de meu estado pós-operatório.

Veja abaixo tal aparição de Ciro, Kim & Carlinhos no programa de Guto Senatore:

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=l3m3z6PD7Ec

Ciro & Nudes em entrevista - Programa Comunidade em Ação - Flix TV - Comunicador: Guto Senatore
22 de março de 2016

E nessa época, março de 2016, os planos eram bons, com o Ciro a aspirar gravar um novo álbum e nessa altura, já tínhamos composto músicas, eu e Kim, para alimentar um novo disco do "Nudes", e assim a delinear a nossa formação, com participação ativa na criação coletiva etc. e tal. 

Falava-se nessa perspectiva com bastante entusiasmo e sob uma fase em que o Ciro havia arrefecido o seu ímpeto em relação à militância política, fator que norteara os seus esforços fortemente nos anos anteriores, isso contribuiu decisivamente para que o seu foco na carreira estivesse restabelecido, mesmo porque, questão de pouquíssimo tempo depois, muito de seu empenho feroz nas Redes Sociais e notadamente a sua participação em "Hang Outs" de Internet (ao lado de Lobão e alguns militantes e que eram acompanhados por muitas pessoas), já não se fazia premente dado os fatos históricos de 2016. Com essa missão parcialmente cumprida, ao verificar a derrubada inevitável do governo que odiava, já não houve a mesma predisposição para ele focar nessa cruzada, vinte e quatro horas por dia.

Nesse ínterim, eu tive o prazer de publicar em meu Blog 1, uma resenha sobre o livro do Ciro: "Relatos da Existência Caótica", em julho de 2016. Eis o Link para acessá-lo:

http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2016/07/relatos-da-existencia-caotica-ciro.html

Assim que o Ciro me encontrou e repercutiu pessoalmente a minha resenha, eu lhe perguntei quantas outras resenhas já haviam sido publicadas sobre o seu livro e ele me falou que só a existia a minha. Inacreditável, mas mesmo com o seu prestígio na música e a se levar em consideração que ele já havia sido articulista e free-lancer de jornais mainstream (Folha de S.Paulo, incluso), nem assim lhe deram o devido crédito por sua obra literária. 

Isso só reforçou a minha avaliação de que o mundo literário e a mídia que lhe dava cobertura, era (é) similar, ipsis litteris, ao mundo da produção musical e dessa forma, o fato do artista estar a habitar o patamar underground, trazia (traz) tais dissabores para os autores, e não importava o seu quilate artístico. Em síntese, qual a novidade neste país que ignora a criação cultural?   

Mas um ponto obscuro estava por chegar na minha (nossa) trajetória com o "Nudes", e não houve nenhuma maledicência da parte do Ciro, tampouco de seus então novos companheiros, nesse desvio de curso, eu preciso deixar isso muito claro. 

O que aconteceu, a partir de abril de 2016 em diante, foi que um outro foco lhe chamou a atenção e não teve nada a ver com a militância política em que se envolvera nos anos anteriores. 

Pois mediante conversas que ocorreram coletiva e individualmente, o Ciro exortara à todos o seu desejo de deixar o trabalho com a psicodelia/surrealismo, um pouco de lado e mergulhar em uma veia mais Rock'n' Roll, visceral. 

Segundo ele nos dizia, ele ansiava por um som que a grosso modo poderia ser qualificado como o Rock praticamente "in natura" que o Lou Reed produziu nos seus melhores discos solo, do início dos anos setenta. Ora, uma ideia boa, eu também gosto desses trabalhos do Reed e não haveria de ser uma má estratégia esse novo direcionamento do seu foco.

Da esquerda para a direita: Chico Marques & Claudio "Moco Costa", a dupla de guitarristas & vocalistas da banda Pop Rock, "8080", e que se uniu ao Ciro para formar o grupo: "Flying Chair"

Só que a seguir, ele conheceu e começou a interagir com outros artistas, no caso a dupla de guitarristas & vocalistas da banda Pop-Rock, "8080", Chico Marques e Claudio "Moco" Costa e a firmar amizade com ambos, foram a se reunir e juntos compuseram músicas novas, exatamente nessa predisposição estética que ele ansiava e assim, empolgado, Ciro decretou que nessa fluidez que encontrara com os seus novos parceiros, preferia montar um trabalho novo com esses artistas e deixar o Nudes em suspensão, até segunda ordem. 

Nessa situação, os membros remanescentes da última formação do "Nudes" (eu-Luiz Domingues-, Kim Kehl & Carlinhos Machado), recebemos um comunicado via e-mail, a nos convidar a participarmos das gravações do novo disco que ele pretendia gravar com os seus novos parceiros, na qualidade de convidados, mas na prática, tal ideia não prosperou, visto que empolgado com o novo trabalho, ele preferiu fundar uma nova banda, chamada: "Flying Chair" e de fato, ainda em 2016, se anunciou o lançamento de um EP com essa sua nova banda.

                       Um cartaz promocional do Flying Chair

Portanto, teoricamente o Nudes não acabou oficialmente ou a última formação se dissolveu, mas ao mesmo tempo, diante dessa inércia que a banda foi colocada, foi como se tal trabalho estivesse encerrado, na prática, apesar de parecer que estava apenas em fase de suspensão sabática.

Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada em dois momentos: No teatro Parlapatões em 2014 e no café Delirium em 2016. Clicks de Lara Pap

Conforme eu especifiquei anteriormente, a situação da nossa formação do Nudes ficara sob uma espécie de suspensão "sine die". Na verdade, o panorama que se desenhou à nossa frente, foi mais de suspeição do que suspensão, quando notamos, ao analisarmos o desenrolar dos fatos, via redes sociais da Internet, que o Ciro estava a todo vapor a empreender todos os seus esforços em prol da criação de sua nova banda, denominada: "Flying Chair". 

Falo isso no bom sentido, certamente, pois nem eu, tampouco os meus colegas, Kim e Carlinhos, nem por um segundo sequer nos sentimos preteridos, desprestigiados ou a nutrir qualquer tipo de ressentimento, mesmo porque, se houvesse tal predisposição de nossa parte, teria sido algo descabido. 

Isso porque o Ciro não recrutou novos músicos para formatar o Nudes à nossa revelia, mas ele simplesmente optou por formar uma banda em paralelo, com outra sonoridade e outro nome, portanto, nós que éramos Os Kurandeiros e mantínhamos a nossa própria banda em paralelo, igualmente, jamais poderíamos reclamar de tal predisposição semelhante, adotada por ele, no mesmo sentido. 

Além do mais, os próprios Kurandeiros se desdobraram em "Magnólia Blues Band", por mais de dois anos e também a nossa banda fora grupo de apoio para artistas como Edy Star e Big Chico, além de conter a identidade secreta como: "Os Koveiros" e o próprio Nudes, portanto, ao vermos o Ciro a montar o seu "Flying Chair", tal ato se tornara algo muito natural para a nossa percepção e ao ir além, nós gostávamos dos guitarristas, Chico Marques e Claudio "Moco" Costa, com os quais interagimos algumas vezes (com o "Moco", muitas vezes, pois ele fora o nosso convidado da Magnólia Blues Band e dos próprios Kurandeiros, por ocasião do Projeto "Sunday Blues", realizado no "Templo Club" no início de 2016).

                A capa do CD  de estreia do grupo Pop-Rock, "8080"

Ótimos guitarristas e vocalistas, além de serem boas pessoas, ambos, eles eram componentes da banda Pop-Rock, "8080", cujo primeiro álbum eu tive o prazer em resenhar no meu Blog 1. Veja a resenha, através do Link abaixo:

http://luiz-domingues.blogspot.com.br/search?q=8080

Em suma, estávamos a par de toda a movimentação de Ciro, Chico & Claudio e a comunicação do Ciro via e-mail, nesse ínterim, dizia sobre o Nudes entrar em descanso temporário etc. e tal, conforme eu já expliquei em parágrafo anterior, inclusive. 

Entretanto, o tempo foi a passar e a cada dia, o entusiasmo do Ciro com o seu novo projeto, nos obrigou a enxergarmos que a sua energia estava 100% baseada nesse novo projeto e mesmo que houvesse alguma intenção de se fazer algum show específico do "Nudes", como por exemplo se um contratante surgisse com a proposta de uma boa produção, mediante cachê robusto etc. e tal, dificilmente o Ciro, empolgado com a sua nova banda, pensaria em nos recrutar para cumprirmos tal tarefa e o mais lógico seria usar o seu novo grupo, entrosado e empolgado que estava com seus novos companheiros de trabalho.

Ciro & Nudes ao vivo no Teatro Parlapatões de São Paulo, em abril de 2014. Click: Lara Pap

Sendo assim, em tese, ficou patente que a nossa formação do "Nudes" estava encerrada e me cabe estabelecer neste ponto, o balanço final dessa etapa pessoal da minha carreira e os agradecimentos finais, como de praxe no meu texto autobiográfico, conforme assim eu procedi em relação à todas as bandas pelas quais atuei no passado.

Portanto, preciso retroagir ao ano de 2011, quando recebi o telefonema do guitarrista Kim Kehl, em um dia qualquer de julho daquele ano e a sua proposta teve dupla intenção. 

Ele me convidou a integrar sua banda, Os Kurandeiros e ao mesmo tempo me ofereceu vaga na banda de apoio de Ciro Pessoa, denominada, "Nu Descendo a Escada", ou "Nudes" como carinhosamente a chamamos, e na qual ele estava recém-ingresso também, ao participar de uma reformulação total do time que acompanhava tal artista. 

Claro que eu aceitei a dupla jornada, de imediato, mas não sem elucubrar muitas dúvidas a respeito do trabalho do Nudes, ao me  basear na carreira pregressa do Ciro, com a sua notória atuação em trabalhos fortemente mergulhados no mundo da estética do Pós-Punk da década de oitenta, portanto, a antever um possível conflito motivado por interesses antagônicos, que em princípio, me preocupou.

O Pink Floyd em ação, em uma foto clicada entre 1966 e 1967, aproximadamente
 
Todavia, assim que o conheci, de sua fala, ouvi a expressão: -"o futuro é Pink Floyd" e dessa forma, se demoliu por inteiro qualquer tipo de receio que eu pudesse nutrir sobre a nossa convivência, ideias & ideais dentro da música, apreço à contracultura & afins e a visão macro da história do Rock, com aberta simpatia à psicodelia sessentista clássica. 

Em síntese, me senti inteiramente a vontade para me integrar nesse trabalho e mais que isso, a apreciar muito fazer parte dele e dar a minha contribuição, grande admirador da estética sessentista em geral que eu sou desde sempre e mais detidamente ao universo do Rock psicodélico daquela década.

Foto do primeiro show do Nudes, na formação em que fiz parte. 9 de dezembro de 2011. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

E assim se procedeu, ao realizarmos os primeiros ensaios, com Kim e os músicos, Paulo Pires (bateria), Caleb Luporini (teclados) e a bela e competente vocalista, Luciana Andrade. 

Vieram os primeiros shows, sob condições modestas de produção, porém eu relevei, pois, o trabalho se revelara tão interessante e a companhia dessa nova turma em que eu me inseri foi tão boa, que eu nunca me incomodei com esse início sob padrões, digamos, "franciscanos". 

No entanto, ao mesmo tempo tal dinâmica me causou espanto, visto que pensei: como seria possível um membro egresso do mundo Pós-Punk, que sempre teve o apoio da "intelligentsia" e o beneplácito da mídia mainstream, não tivesse caminho aberto para produções maiores e com direito a manter uma agenda sustentável? 

No entanto, logo fui a perceber que Ciro também sofria com barreiras intransponíveis, assim como todo artista que sempre militou na contramão da formação de opinião, meu caso e do Kim, igualmente. Nesse aspecto, Ciro, apesar de ser um ex-"Titãs" e um ex-"Cabine C", além de ter sido parceiro de artistas incensados tais como Edgard Scandurra e Julio Barroso, por exemplo, na verdade estava no limbo da carreira, tanto quanto nós que nunca tivemos tais oportunidades. Uma pena, mas essa foi a realidade e não a facilidade que eu imaginara no início, com o autor de "Sonífera Ilha" a fazer shows sob agenda lotada e abertura em uma mídia, senão a mainstream, pois os tempos eram outros, ao menos sob um padrão intermediário entre isso e o mundo abissal da obscuridade underground.

Nesses termos, um novo show só foi ocorrer oito meses depois em uma cidade interiorana paulista, já em agosto de 2012, e foi muito interessante, conforme o descrevi com detalhes em capítulo anterior. Com direito a um trem de carga a passar durante o show (literalmente), e com tal inusitada interferência natural fazer com que a banda flutuasse em alguns instantes e assim, a se tratar de uma lembrança das mais queridas que eu guardo deste trabalho com a minha participação. 

E foi a última vez que essa formação contou com Paulo Pires e Caleb Luporini e já o fizéramos sem Luciana Andrade, portanto, muitas modificações ocorreram.

Uma lástima, daí em diante se seguiu um longo período de inatividade, só quebrado em 2014, quando dois shows muito estimulantes foram realizados, um no interior do estado e outro na capital e aí sim, ambos em teatros, com uma infraestrutura mais condizente com a psicodelia proposta. 

Carlinhos Machado entrou na banda e então o Nudes definitivamente se tornou mais um braço d'Os Kurandeiros. E a cantora/compositora, Isabela Johansen também ingressou na formação. Casada com Ciro na ocasião, era na verdade uma boa cantora, guitarrista e compositora, portanto, a despeito da relação conjugal com Ciro, não se tratou de nepotismo da parte dele, pois a Isabela foi uma artista que agregou valor para a banda.  

Então, além desses ótimos shows realizados com essa nova formação e maior interatividade, pois eu (Luiz Domingues), Kim e Carlinhos contribuímos com ideias de novas canções para o trabalho (Isabela também colaborou com composições), houve um princípio de euforia, visto que sentimos a química a se pronunciar. 

O show se sofisticou ainda mais, com a inserção de mais textos surrealistas, baseados no livro que Ciro preparava para lançar e isso nos animou ainda mais.

Cartaz a anunciar um "Hangout" de Internet, a denunciar a militância política em que o Ciro se envolveu fortemente

Entretanto, as oportunidades rapidamente escassearam e mais um período de limbo, sobreveio. Muito desse hiato foi por conta do furor político que cresceu ao longo do ano de 2015 com tanta manipulação midiática em prol de uma trama maquiavelicamente bem engendrada e nessa circunstância, o Ciro havia se empolgado com a militância política via "hangouts" de internet e aliado a artistas como Lobão e Roger Moreira, ele mergulhou com ênfase nessas ações e dessa forma, o nosso trabalho com o "Nudes" se prejudicou bastante. 

Tirante um show motivado exatamente por essa militância política da qual participamos ao seu pedido e a fazermos uma aparição de choque apenas, uma nova ação só foi ocorrer no mês de outubro desse ano, quando o Ciro propôs um show para abrilhantar a noite de autógrafos de seu livro.

Noite de autógrafos e show dos Nudes, no Café Delirium de São Paulo. Na foto, eis o momento pré-show, durante a sessão de autógrafos da obra: "Relatos da Existência Caótica". Vê-se o seu autor, Ciro Pessoa e eu, Luiz Domingues ao seu lado, em foto clicada por Lara Pap. 23 de outubro de 2015.
 
Foi muito agradável e honroso para nós participarmos com um show nessa noite de autógrafos do seu livro e chegamos a tocar músicas novas compostas especialmente para a ocasião, baseadas em textos da própria obra. Porém, infelizmente apesar dessa noite profícua, pouco tempo depois, a vocalista, Isabela Johansen, deixou a banda e nos desfalcou doravante. 

Um novo show foi marcado logo a seguir, no mesmo espaço, a se tratar de uma casa noturna de São Paulo e na formação de um quarteto, o Nudes com a minha presença, além de Kim e Carlinhos, se apresentou pela derradeira vez, no início de 2016. 

Logo a seguir, Ciro começou a empreender esforços em prol de sua nova banda, "Flying Chair" e o Nudes ficou engavetado sine die. Portanto, neste momento em que escrevi este trecho, decidi encerrar a minha história com esse trabalho, e de fato, o tempo passou e não houve mais possibilidade de mudança de tal panorama. 

Contudo, como a vida é mutável e/ou volátil, se houver um novo dado como o surgimento de material bootlegs, fotos, vídeos ou algo do gênero, naturalmente que eu poderei abrir um novo capítulo adicional e relatar tais novidades póstumas.

Neste momento, vou agradecer aos personagens que gravitaram em torno do "Nudes", nesse período do qual eu fui componente, entre 2011 e 2016:

1) Kico Stone 

O grande Kico Stone (a usar óculos), na foto acima, em companhia do guitarrista superb, Tony Babalu. Acervo e cortesia de Tony Babalu. Click: Karen Holtz

Ativista cultural, ator, grande conhecedor da história do Rock e um film-maker de primeira linha, Kico acompanhou os shows desde o início de minha entrada na banda, sempre a prestigiá-los e a filmá-los. Sou-lhe grato por esse apoio e pela amizade expressa nesse e em outros trabalhos nos quais estive e estou envolvido, e sempre conto com a sua boa companhia nos bastidores a garantir a conversa inteligente, amizade e filmagens de alta categoria. Sempre brinco com ele, pois o chamo como: O "D.A. Pennebaker" da Pauliceia.

2) Gustavo Johansen
      Gustavo Johansen, irmão da vocalista, Isabela Johansen

Irmão de Isabela Johansen, sou grato ao Gustavo pela filmagem do show no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 2014. Foto: Internet

3) Lara Pap
  A produtora d'Os Kurandeiros: Lara Pap, Fonte: Internet

Produtora d'Os Kurandeiros, Lara Pap emprestou um pouco da sua força de trabalho para o Nudes e claro que os seus esforços foram muito providenciais e bem-vindos para todos nós. Agradeço-lhe por ter nos ajudado tanto.

Falo agora sobre os membros da primeira formação do Nudes, em que eu fiz parte:

1) Paulo Pires

Nessa foto promocional da banda "Lavoura", Paulo Pires é o rapaz na parte de baixo, à esquerda, a usar óculos escuros e com cabelos curtos. Caleb Luporini está ao seu lado, também a usar óculos escuros, porém com cabelos mais longos
 
Baterista da formação assim que ingressei no trabalho, Paulo era (é) um bom baterista, muito firme e sério em seu comportamento pessoal, na maior parte do tempo. Somente no terceiro show que fizemos juntos, pudemos enfim nos conhecermos melhor e foi então que eu verifiquei que ele era (é) um grande conhecedor de música em geral e do mundo do Rock em específico, além de ser um colecionador de discos. 

O nosso convívio foi pequeno, com apenas três shows realizados, apesar desses eventos terem se espalhado por muitos meses entre uns e outros. 

Sujeito gentil e bom músico, fiquei com uma boa impressão ao seu respeito. Tempos depois, vi notícias suas com outro trabalho, uma banda com ares experimentais, quiçá, "industriais", chamada: "Lavoura". Torço para que esteja bem e feliz em seus projetos.

2) Caleb Luporini

              O tecladista, baixista e compositor, Caleb Luporini

Simpatizei com a sua pessoa desde o primeiro ensaio em que realizamos juntos em 2011 e de fato, Caleb se mostrara super simpático, expressivo e gentil. 

Bom tecladista, ele me disse ser baixista, também e demonstrava pela conversa, ter boas influências musicais do passado, embora claramente fosse um músico ligado também em sonoridades modernas sob cunho "indie", experimentalismos com música eletrônica etc. 

Também componente do "Lavoura", vejo o seu nome sempre citado em eventos de música eletrônica e demais modernidades etc. e tal. Sempre estarei a torcer por ele, boa pessoa que é, para que seja bem-sucedido e feliz.

3) Luciana Andrade

A cantora, instrumentista e compositora, Luciana Andrade. Foto: Leonardo Pereira
 
Eu tenho a tendência de simpatizar de imediato com pessoas que mesmo ao terem adquirido proeminência na sociedade, seja lá por qual motivação, se mantêm humildes, sem que o sucesso altere o seu comportamento social e sobretudo, no campo pessoal. 

Foi o caso de Luciana Andrade, uma artista que fez sucesso mega popular através da banda, "Rouge", a frequentar o mundo das celebridades da esfera da TV aberta, revistas de fofocas & afins, mas ela não mudou o seu comportamento diante dessa fama e não só isso, ao demonstrar amor a arte, esteve conosco, imbuída da entrega artística para cantar as canções surrealistas do Ciro, com o mesmo empenho que teria ao cantar os seus sucessos Pop radiofônicos, no programa da Hebe Camargo. 

Dona de uma linda voz e que coloria sobremaneira o som do Nudes, além disso era (é) muito afinada, tinha (tem) talento de sobra e é uma mulher muito bonita, portanto sem soar piegas: Lu canta e encanta. 

Assim que saiu do Nudes, logo no começo de 2012, ela colocou os seus esforços em prol de uma carreira solo que teve um começo promissor, muito embalada pela sua fama popular pregressa, portanto eu a vi em muitas ocasiões em programas de TV aberta e afins, o que naturalmente ela deveria aproveitar ao máximo, vide o caráter efêmero com as quais, essas oportunidades surgem e desaparecem. 

Falei com ela por algumas vezes pelas Redes Sociais e a sua simpatia sempre foi muito grande para comigo. Torço para que faça muito sucesso e seja feliz!

E agora a falar dos membros da formação mais recente:

1) Isabela Johansen

Isabela Johansen, cantora, instrumentista e compositora. Fonte: Internet
 
Com uma juventude a flor da pele, Isabela trouxe muita vitalidade à banda, com a sua verve Rock'n' Roll, acentuada. Guitarrista e vocalista de bandas "Indie", em um passado próximo, Isabela se revelou uma boa cantora e com performance bastante interessante no palco, a mostrar desenvoltura, poder de improviso, uma boa dose de loucura cênica e muito carisma. 

Jovem, muito bonita e vivaz, claro que ela chamava bastante a atenção nos shows por conta da sua beleza física, mas Isabela era mais que um rostinho bonito, pois nos mostrou ser boa cantora, instrumentista e compositora. 

Infelizmente, o desgaste de seu casamento com Ciro respingou na banda, quando se tornou por conta dessa pendência pessoal dela com ele, impossível a sua permanência no trabalho, após a separação do casal. 

Atualmente, Isabela integra uma banda de Rock chamada: "Taberna Escandinava", que tem feito uma boa escalada inicial de carreira, apesar de militar no mundo underground. Torço pelo sucesso dela, sempre, haja vista a constatação de que além dos seus dotes artísticos, ela é uma pessoa muito agradável no trato pessoal e nós nos tornamos amigos, certamente.

2) Carlinhos Machado

Baterista com um currículo gigantesco, Carlinhos Machado somou mais um trabalho à sua enorme lista, ao ter tocado no Nudes, também. Click: Lara Pap

Não há muito o que acrescentar sobre Carlinhos Machado, visto que estamos a trabalhar juntos desde 2011 com Os Kurandeiros e ele esteve junto nos demais desdobramentos que essa banda teve (tem), incluso o Nudes. 

Portanto, só posso dizer que é um músico eclético, amigo de longa data, leal colega que muito me ajudou em muitas circunstâncias, grande companheiro de conversas, lembranças & "causos" e um ótimo baterista, com o qual eu me entrosei inteiramente e é sempre bom saber que terei as suas baquetas a trabalharem em favor de meu baixo, a cada show.

3) Kim Kehl

Kim Kehl, guitarrista de muitas bandas e com inúmeras histórias acumuladas, a serviço dos Nudes, na foto acima. Click: Lara Pap
 
O mesmo raciocínio que eu tive em relação ao Carlinhos, eu estabeleço sobre o Kim Kehl, pois interagimos em muitos desdobramentos d'Os Kurandeiros, como igualmente ocorreu no caso do Nudes. 

Sou-lhe grato por ele haver me telefonado em um dia de julho de 2011, ao me formular uma proposta dupla de trabalho, sendo um destes empreendimentos, o Nudes de Ciro Pessoa. 

Sou-lhe agradecido também pelo companheirismo dentro do trabalho do Nudes e pela sua capacidade como guitarrista, ao trazer resoluções harmônicas e coloridos melódicos para esse trabalho, a honrar as tradições da psicodelia sessentista. Tais momentos me forneceram o prazer de atuar ao vivo dentro de uma vertente do Rock que eu aprecio sobremaneira, portanto, apesar da escassez de oportunidades que essa banda obteve, infelizmente, nas poucas vezes em que atuamos pelos palcos, a psicodelia se fez presente e foi com galhardia. 

Nesta atualidade estamos a trabalhar juntos com Os Kurandeiros normalmente, e assim espero, por muito tempo.

4) Ciro Pessoa

Cantor/instrumentista/compositor/poeta & escritor, Ciro Pessoa, um baluarte do surrealismo/psicodelia, no Brasil. Click: Lara Pap
 
O protagonista-mor desse trabalho, Ciro Pessoa me surpreendeu positivamente, quando enfim nos conhecemos na gelada noite de 24 de agosto de 2011, e ao proferir uma frase de efeito, eis que ele me cativou em torno de seus reais propósitos para com esse trabalho: -"o futuro é Pink Floyd". 

Para quem enxerga a verdade expressa em uma frase que para todos os efeitos revela o retrocesso, se interpretada de forma cartesiana, eis aí o porto seguro que me tranquilizou a interagir artisticamente com um artista que eu pensara erroneamente que mantivesse ideais antagônicos aos meus.  

Ciro detinha uma grande capacidade criativa, era performático ao extremo e exercia tal loucura no palco, sem parcimônia. Com ele em cena, tudo era possível e eu adorava contar com tal elemento ao meu lado, como um trunfo do trabalho. 

Sentia-me a atuar em uma banda psicodélica, a tocar no auditório Fillmore West em pleno 1967, com a loucura a dominar todas as ações. 

Como eu já explanei amplamente, Ciro se mostrara empolgado e empenhado com seu novo trabalho através da banda: "Flying Chair". Eu desejei que ele fosse muito feliz através dessa nova empreitada artística de sua parte e atesto que a banda tinha alta qualidade, visto que resenhei seu álbum de estreia em meu Blog 1. Veja abaixo, o Link para saber de tal impressão que tive desse trabalho:

http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2017/08/flying-chair-1-album-por-luiz-domingues.html

Eu, Luiz Domingues em ação com o Nudes, em 2014. Click: Lara Pap

Para encerrar, eu agradeço ao Ciro Pessoa a oportunidade por ter tocado ao seu lado, a exercer a psicodelia, que é uma das vertentes que eu mais aprecio no Rock sessentista, e se tive lampejos dessa escola em alguns trabalhos pregressos que realizei, com outras bandas pelas quais eu fui componente (bem sutilmente no "Pitbulls on Crack" e mais incisivamente no "Sidharta" e na "Patrulha do Espaço"), creio que através do Nudes, eu pude exercer tal vertente de uma forma mais substancial e integralmente.

*Como nota em adendo de 2020, infelizmente a pandemia mundial em torno do "Coronavírus/Covid-19", que ceifou a vida de milhões de pessoas ao redor do planeta, levou consigo também o nosso Ciro Pessoa, em 5 de maio de 2020. Que ele descanse em paz e leve consigo a psicodelia e o surrealismo para abrilhantar com o seu talento, a dimensão em que foi habitar.

Está encerrada, portanto, a minha história com o "Nudes" (Nu Descendo a Escada), banda de apoio do cantor/compositor, escritor & poeta, Ciro Pessoa.

Daqui em diante, o assunto será a minha história com a Magnólia Blues Band, iniciada em 2014, que  foi uma banda criada para alimentar o projeto "Quarta Blues" e assim acompanhar convidados da cena do blues, predominantemente. As atualizações seguem a posteriori, com minha banda atual, Kim Kehl & Os Kurandeiros e sazonais novidades com trabalhos avulsos e/ou reencontros com bandas do meu passado ou mesmo a estabelecer um campo aberto para trabalhos novos que possam surgir, já a comporem o texto bruto do meu livro autobiográfico subsequente: "Mais Rock Depois dos Quarenta".

Grato por ler a história dessa etapa da minha carreira!

terça-feira, 1 de março de 2016

Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 3 - Relatos da Existência Caótica - Por Luiz Domingues

Conforme eu mencionei ao final do último capítulo, infelizmente no ano de 2013, nos reunimos apenas pela ocasião do aniversário da Isabela Johansen, em janeiro. Após essa festa, agradabilíssima, por sinal, eu somente tive contatos virtuais com o Ciro Pessoa, Caleb Luporini e Paulo Pires, os membros dos "Nudes". 

Já no caso do Kim Kehl, o contato era constante por conta das atividades d'Os Kurandeiros e neste momento de início de 2014, somada à recente criação da Magnólia Blues Band, logicamente (esta banda também tem os seus capítulos exclusivos dentro da minha autobiografia). 

Vez por outra também conversei virtualmente com a Luciana Andrade, mesmo que ela não fizesse mais parte da banda e de fato, doravante ela esteve focada em sua carreira solo, e com sucesso, pelo que pude acompanhar.

       Ciro Pessoa em foto promocional de 2014. Fonte: Internet

Entretanto, por volta de fevereiro de 2014, uma notícia boa apareceu na minha caixa de e-mails, vinda da parte do Ciro Pessoa: "show em Piracicaba!"

Abri o e-mail com entusiasmo, porque sempre gostei do trabalho, da loucura toda que envolve o Ciro e da sua bagagem extra-musical a evocar o surrealismo, tanto na música quanto na literatura, mas com respingos múltiplos, naturalmente. 

Ouso dizer que apesar de parecer uma obviedade, não é todo mundo que estabelece uma ligação direta e reta entre a psicodelia sessentista no âmbito do Rock & contracultura em geral, com o surrealismo, propriamente dito.

E o Ciro o fazia de uma forma franca e absolutamente natural, portanto, se tornara evidente que eu me afeiçoara ao trabalho de uma forma entusiasmada. 

No caso do e-mail em si, o seu teor foi animador: um show houvera sido fechado para o "Nudes", na cidade de Piracicaba-SP, exatamente na unidade do Sesc local. Tal espetáculo seria parte de um evento temático sobre surrealismo, a englobar exposições e palestras com escritores, inclusive sob renome e peso, caso do intelectual, Claudio Willer: poeta, escritor e pesquisador, a se tratar de uma das maiores autoridades sobre o surrealismo no Brasil. 

Nada mais animador para uma retomada do trabalho, portanto e com a certeza de que haveria, como sempre há como uma praxe na rede Sesc, uma estrutura boa, com som e iluminação de qualidade, além de estrutura profissional de camarim, cenotécnica e um cachê digno, certamente. Claro que respondi animadamente ao Ciro, que eu estava a postos, e a aguardar a definição do repertório e marcação de ensaios.

O meu amigo, Carlinhos Machado, baterista d'Os Kurandeiros e do Magnólia Blues Band, e que em 2014, também passou a integrar o "Nudes" de Ciro Pessoa. Fonte: Internet

Logo surgiu uma resposta e eu soube que haveriam novidades na formação dos Nudes, e muito animadoras para nós, diga-se de passagem, ainda que seja cabível um esclarecimento sobre esse fato. 

Bem, o Ciro havia cogitado com o Kim, a possibilidade do baterista d'Os Kurandeiros e da Magnólia Blues Band, Carlinhos Machado, entrar para os Nudes, também. Claro que achei sensacional a ideia de ter um amigo a mais na banda, a tornar o convívio, ainda mais prazeroso. 

No entanto, cabe a ressalva de que eu não tinha nada contra Paulo Pires e Caleb Luporini, baterista e tecladista que faziam parte da banda, assim que ingressei no trabalho em 2011. Aliás, muito pelo contrário, os achava bons músicos e o nosso relacionamento foi ótimo, nos três shows que fizemos juntos, anteriormente.

Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues), em foto de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Mas a ideia de contar com o Carlinhos na banda, foi excelente, pela nossa amizade firmada há muitos anos e nada contra os demais que não fariam parte da banda doravante, é lógico. 

Outra novidade, seria a inclusão da então esposa do Ciro, Isabela Johansen, nos vocais, a suprir a ausência da ótima, Luciana Andrade, que deixara a banda.

Isabela Johansen, cantora, guitarrista e compositora. Fonte: Internet

De fato, Isabela detinha dotes musicais muito bons e uma experiência pregressa como vocalista e guitarrista de bandas de Rock anteriormente, portanto, certamente que ela não seria uma presença forçada pelo nepotismo da parte do Ciro, goela abaixo de todos, mas muito pelo contrário, se tornou um acréscimo bastante positivo à estrutura da banda. 

Com essa perspectiva de reformulação total da banda, ensaios foram marcados e o Ciro passou uma incumbência pessoal para o Kim e eu mesmo (Luiz).

Mediante e-mail recebido do Ciro, eu soube que ele solicitara que eu e Kim musicássemos dois textos de sua autoria. Um deles seria a introdução do novo show. Ambos eram louquíssimos, bastante influenciados pela literatura Beatnick, a evocar imagens fantásticas, sob surrealismo total.
Kim Kehl em foto ao vivo: Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Juja Kehl

O Kim criou um tema com climas incríveis, sob uma sequência de acordes que trazia consigo uma melancolia soturna, porém com uma doçura subliminar e dramática. 

Nos ensaios, ficamos muito animados com o resultado, pois mesmo sendo um tema esvoaçante, sem pulsação definida e com o baixo e a bateria só a praticar efeitos, praticamente, ficou muito bonito, a emoldurar de maneira muito efusiva a locução performática que o Ciro desejava para esse início de show.

Ao ir além, tal tema caiu como uma luva para se tornar o início do show e por se considerar que o Ciro planejava uma entrada em cena a usar a persona de René Magritte como inspiração para sua performance, eis que ficou realmente esplêndido. 

Tal tema inicial recebeu o título de: "Evacuando Ideias na Selva do Improvável" e apesar de um certo tom escatológico que poderia ser sugerido, tal nome desejou expressar mais o sentido da catarse intelectual do que qualquer outra coisa, evidentemente.

Eu, Luiz Domingues, em foto informal de janeiro de 2000. Acervo pessoal

No meu caso, a incumbência que ele me passara, fora semelhante. Tratou-se de um outro texto bruto, ao estilo Beatnick, denominado: "As Nuvens Enjauladas do Zoo". 

Pensei inicialmente em um tema sob "looping", a trazer uma certa lembrança do trabalho do "The Doors" em canções que hipnoticamente tal banda tocava com um ou dois acordes, apenas para dar vazão ao seu vocalista, Jim Morrison poder declamar ou algo estritamente psicodélico, no estilo próximo ao som psicodélico com sabor jazzístico, do grupo, "Love", do polêmico, Arthur Lee. 

Contudo, no primeiro ensaio que fizemos, ao visar o show do Sesc Piracicaba, a ideia ganhou um outro contorno, não muito diferente do que eu imaginei inicialmente, porém mais "tenso", eu diria.

Na segunda ilustração, a histórica capa do primeiro álbum do King Crinsom, "In The Court of the Crimson King", lançado em 1969

Bem, o que ocorreu no desenvolvimento desse tema, foi que ele se tornou muito "nervoso", ao lhe conferir uma ambientação "esquizoide", logicamente a lembrar o som do grupo Prog-Rock, King Crimson dos primeiros tempos, e dessa forma, a interpretação do Ciro para declamar o seu texto, ganhou tal amplitude de uma loucura desesperada, quiçá desmesurada e claro que ficou muito intenso para ele interpretar e entusiasmou a todos, principalmente o Ciro, é claro. 

Não foi exatamente o que eu estava a imaginar, mas confesso que tal intensidade a lembrar um surto psicótico, me agradou como uma expressão figadal, pois foi evidente que o Ciro usaria e abusaria desse tema para intensificar a sua performance ao vivo.

E na realidade, isso foi proporcionado pelo Carlinhos Machado, pois quando eu propus mostrar a ideia para ele, visto que fomos os primeiros a chegarmos ao estúdio para o ensaio, ele propôs instintivamente sob um andamento muito além do que eu havia concebido e dessa forma, mudou a sua característica e lhe forneceu ainda mais dramaticidade. 

Os ensaios, portanto, correram sob tal expectativa de se acrescentar músicas novas, a serem compostas ali no calor da ocasião e com total interatividade coletiva.

Rara foto de um dos ensaios para o show do Sesc Piracicaba, datada de março de 2014. Click, acervo e cortesia de Isabela Johansen, que ficou fora do quadro. Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Carlinhos Machado, Ciro Pessoa (de costas) e Kim Kehl

Por exemplo, tirante tais temas dos quais eu já observei, houve uma canção composta ao violão pela Isabela, que estava semi-pronta, com uma letra a usar um poema de Manoel de Barros, o famoso poeta surreal. Parecia uma canção Folk, bem sessentista, a lembrar canções como as praticadas por grupos vocais sessentistas, tais como: "The Mamas and the Papas", "Peter, Paul & Mary", e outros artistas similares, ou seja, com uma certa docilidade. Lembrava de certa forma também, o trabalho d'Os Mutantes, nos seus tempos mais de seus primórdios psicodélicos e com a Rita Lee a transitar entre a loucura explícita e a docilidade ingênua, ao estilo "Pollyanesca". 


A adaptação do Carlinhos Machado à banda esteve excelente. Ele se sentira preocupado em ter que decorar tantas músicas novas em poucos ensaios, mas absolutamente ambientado e integrado, a interagir com desenvoltura conosco. Haveriam apenas mais dois ensaios, no entanto, e com a inclusão de novas músicas, ou seja, acho que o Carlinhos teve certa razão para ficar apreensivo.
De fato, creio que pelo menos mais um ensaio teria sido mais adequado para o Carlinhos, principalmente, cuja entrada na banda estava a se iniciar. Todavia, mesmo ao lidar com essa realidade, creio que nos acertamos com apenas dois ensaios e dessa forma fomos para Piracicaba-SP, bastante animados com a perspectiva de uma boa performance naquele palco, interiorano.
Eu (Luiz Domingues) a usar camisa clara no banco da frente e Kim Kehl, atrás a olhar o seu telefone. Em clima de descontração dentro da van da produtora, ao nos dirigirmos para a cidade de Piracicaba-SP, em abril de 2014. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado

A viagem foi agradabilíssima, em clima de grande camaradagem, com descontração e brincadeiras sobre tudo e todos, conforme as conversas evoluíam dentro da van. Ao chegarmos em Piracicaba, me chamou a atenção como o volume de água do famoso rio homônimo, estava muito abaixo de seu normal. 

Carlinhos Machado na frente a comandar a selfie. No banco intermediário, Kim Kehl e atrás, Ciro Pessoa e Isabela Johansen. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Eu havia visitado aquela simpática cidade interiorana pela última vez em 2008, quando fora me apresentar com o Pedra, no mesmo Sesc. 

Estacionamos na porta do Sesc e a movimentação normal do cotidiano daquela unidade se mostrava em sua totalidade. Muitas crianças e adolescentes a usarem as instalações esportivas, idosos nas atividades de terceira idade, lanchonete lotada, pessoas a usufruírem das dependências etc. Foi bonito ver como o Sesc cumpria a sua função social com galhardia, e a servir uma cidade interiorana do porte de Piracicaba, isso se amplificara.

Detalhes do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido

O show do Ciro Pessoa fora mais uma peça inserida na semana temática sobre o surrealismo que o Sesc Piracicaba promoveu, onde já haviam ocorrido debates sensacionais, entre os quais, um com Claudio Willer, um dos grandes "Papas" da literatura beat e um especialista em surrealismo. 

Willer estava naquele instante, muito entusiasmado com o trabalho literário do próprio, Ciro, e já havia inclusive assinado o prefácio do seu livro, que estava no prelo. Portanto, a ambientação para o nosso show, foi a mais favorável possível.

Mais detalhes do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido

Como cenário, usamos uma projeção simples no telão, mas que outorgou uma ambientação fantástica e muito condizente com o espírito do show.

Mais uma página do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido

As imagens foram de nuvens a passarem o tempo todo, a oferecer um caráter onírico ao espetáculo. Fora de uma simplicidade total, ao contrário de outros shows que o Ciro fizera anteriormente, inclusive com cenários sofisticados, sob extrema ambientação psicodélica e surrealista.


Mais detalhes do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido

Desta feita, a ideia fora buscar a simplicidade, contudo, a sugerir o aspecto onírico, implícito. Outro fator conceitual se deu nos figurinos e instrumentos. Para quebrar o extremo uso de cores psicodélicas de shows anteriores, a Isabela deu a ideia de um conceito em branco e preto, generalizado.

Clima agradável no camarim, Nudes em preparação para o show! Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Clicks, acervo e cortesia: Carlinhos Machado
 
Usamos todos nós, portanto, figurino a combinar os dois tons básicos e também estendemos o conceito aos instrumentos. Enquanto conceito, achei boa a ideia e acatei a decisão geral sem problemas, mas claro, fica a ressalva óbvia, de que se dependesse somente de meu gosto pessoal, afogar-nos-íamos em cores caleidoscópicas, absolutamente psicodélicas e lisérgicas, sempre...

Instrumentos a postos no palco! Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click, acervo e cortesia: Kim Kehl

O Kim levou consigo, duas guitarras, uma Gibson Les Paul preta e uma Fender Stratocaster branca e eu levei o meu Fender Jazz Bass, preto. O Carlinhos tinha uma bateria preta, mas por conveniência logística, usou a bateria disponibilizada pelo Sesc, uma carcaça "cherry", mas sem maior prejuízo ao conceito estético proposto.

As nuvens a passar no telão, reforçaram e muito o conceito proposto para esse show. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click, acervo e cortesia: Kim Kehl
Clima de descontração para os "Nudes" no camarim do Sesc Piracicaba, em abril de 2014. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Clicks (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Tudo foi muito tranquilo no soundcheck, com os técnicos de som e luz a atender-nos com simpatia. O background de apoio do Sesc funcionou no padrão da instituição, e estávamos animados para fazer o show.

Ciro Pessoa a aguardar o momento do soundcheck. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click, acervo e cortesia: Kim Kehl

A relaxar no camarim, preparamo-nos com tranquilidade para entrar em cena. O Ciro usou um terno, com apoio de acessórios, como um belo chapéu "coco" e um guarda-chuva enorme, a dar-lhe incrível semelhança com a figura de René Magritte. Foi proposital, logicamente, e sua entrada em cena, foi sensacional com esse figurino e performance absolutamente surreal.

A banda reunida no camarim poucos minutos antes de adentrar o palco. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Antecipei-me um pouco... agora sim é hora para falar do show, portanto!

Na primeira foto, a banda reunida no camarim. Na segunda, o Nudes de Ciro Pessoa em ação no palco do Sesc Piracicaba, em abril de 2014. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado (foto 1) e acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) (foto 2)
 
Tudo pronto, os três sinais do teatro tocaram enfim e como era (é) bom para um artista se apresentar em um teatro, nunca me canso de exaltar isso, e reforçar o conceito de que tocamos sempre onde é possível, mas o ideal, sempre, é um ambiente adequado para a prática da arte com todo o conforto para todos, incluso o público, naturalmente.
Ciro Pessoa envolto pelas nuvens exibidas no telão. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 
 
O Ciro entrou em cena vagarosamente, a ostentar um enorme guarda-chuva, para reforçar o conceito da vinheta de áudio, a simular o ruído de raios, trovões e da chuva e também das imagens no telão, a mostrar nuvens carregadas.
             O genial artista plástico, René Magritte. Fonte: Internet

O seu visual, incluso um estratégico chapéu coco, remetera ao René Magritte e no gestual, fazia referência à sua figura surreal.
Muito lentamente a acompanhar a mudança sonora no áudio, Ciro começou a declamar o seu novo poema: "Evacuando Ideias na Selva do Improvável", que o Kim havia musicado, mas não como música Pop cantada, porém apenas a estabelecer uma ambientação climática.
Com o Ciro a declamar o seu hermético poema. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 
 
A banda entrou em cena e a nos colocamos a produzir aquele clima sonoro, que aliás, ficou muito bonito. E o show seguiu, a mesclar mais canções novas como: "Ecos da Tagarelice Mental" e "Borboletas", esta última, baseada em um poema de Manuel de Barros, em meio a uma canção doce e bonita, composta pela Isabela, além de canções tradicionais dos discos solo do Ciro e também o seu material com os Titãs e Cabine C, suas bandas pregressas.
Ciro & Nudes em momento intenso no palco. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
  
Uma releitura diferente também foi executada ao vivo, nesse dia. Sob uma escolha de Ciro & Isa, tocamos: "Mágica", d'Os Mutantes, uma música não muito lembrada do repertório dessa celebrada banda (ela consta em seu segundo LP, de 1969), mas que teve tudo a ver com a atmosfera permeada pelo surrealismo total que o Ciro quis imprimir para esse show.
A loucura estava a explodir com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 

Outro conceito adotado, mas desta feita com uma ideia da Isabela, todos tocamos a usar figurino em preto e branco e até nos instrumentos tentamos fazer valer essa ideia estética, conforme já havia dito anteriormente.
Isabela e Ciro na frente com Carlinhos Machado ao fundo. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 
 
Apreciamos muito realizar o show, embora o teatro não tenha lotado, infelizmente. Acho que pela performance toda, merecíamos contar com uma casa com lotação esgotada, mas não estávamos em 1967, portanto, psicodelia & surrealismo, com direito a loucura total, não esteve na crista da onda em 2014, foi o que deduzimos.
Isabela lança bolhas de sabão para a plateia, enquanto o Ciro caminhava para o camarim. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 
 
Pena, perderam uma dose maciça de um show completamente louco, em todos os aspectos.
Kim Kehl, Isabela Johansen, Ciro Pessoa, Carlinhos Machado e Luiz Domingues: o Nudes agradece ao público, findo o espetáculo. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 

E como eu apreciava estar em um espetáculo com esses componentes estéticos todos reunidos! Só faltou mesmo o colorido no figurino para ser perfeito, embora eu ache que o conceito P & B que a Isabela idealizou, funcionou e foi até interessante pela sobriedade a não ofuscar a atenção ao texto.
No camarim do pós-show, tivemos assédio, apesar da baixa frequência no teatro. Uma fã do Ciro (na foto acima, em pé entre eu e o próprio Ciro), viajara de uma cidade próxima, só para nos ver em ação, e estava eufórica pela performance. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 
Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) 
 
Saímos do Sesc e voltamos para São Paulo imediatamente, pois a distância entre Piracicaba e São Paulo é relativamente curta (188 Km), e tudo foi muito divertido nas conversas que travamos na van, também nas paradas em postos de estrada para esticar as pernas e a chegada em São Paulo já na alta madrugada, foi muito tranquila. 
 
Ao lado da casa do Ciro havia uma fábrica (sim, fábrica e não padaria), de pães. Tal indústria trabalhava durante a madrugada e costumava atender as pessoas do bairro, mesmo não que não fosse um comércio propriamente dito, mas uma indústria, e assim, vendia informalmente, no varejo. Com aquele cheiro de pão quente a nos inebriar, terminamos a noite a arrematar pacotes com pães saídos do forno, na hora e sob um preço absurdamente barato.
 
Poucos dias depois, o Ciro nos comunicou que havia fechado outro show, desta feita em um tradicional teatro do centro de São Paulo e claro que apreciamos muito a perspectiva.
Cartaz elaborado para divulgar o show de Ciro & Nudes no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014
 
Quando recebemos a notícia que o Ciro negociava com o Teatro Parlapatões, para a realização do nosso show nesse espaço, ficamos contentes, é claro. Primeiro pela sequência de shows mais ou menos próximos, visto que havíamos nos apresentado em abril, na unidade do Sesc Piracicaba, e assim, contar com uma perspectiva de continuidade foi tudo o que aspirávamos. 
 
Segundo, pelo fato de que tocar em um teatro novamente, como ocorrera em Piracicaba, foi o ambiente ideal para apresentarmos o show, além de que, se fosse em uma casa noturna não haveria uma ambientação adequada para um tipo de espetáculo tão intenso, dessas características. Portanto, gostamos muito de saber que surgira essa oportunidade.
Placa de entrada do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo. Fonte: Internet

Mas dependera outrossim de uma verificação prévia em termos técnicos, pois não obstante ser um teatro bonito, tradicional e super bem localizado, fora na verdade um espaço focado para as apresentações teatrais e não detinha quase que nenhuma tradição com shows musicais.
O saguão de espera do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo. Fonte: Internet  
 
O que acontecia ali em termos musicais, costumava se pautar pelas produções simples, intimistas mesmo e não um show de Rock com a sua eletricidade e volúpia inerentes, portanto, com as suas necessidades técnicas adequadas e que, como é sabido, são muitas, em via de regra.
 
Encontramo-nos ali no teatro para uma verificação prévia, alguns dias antes do espetáculo ocorrer. De fato, o pequeno PA oferecido fora adaptado para dar apoio tão somente para a sonoplastia de peças teatrais, e jamais suportaria a carga de um show de Rock, como deve ser.
Interior do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo
 
Fora isso, notamos que se levássemos para o palco um backline pesado, ficaria impossível tocar, pois massacraríamos o pequenino PA, a afastar completamente a chance das vozes serem ouvidas, portanto, tendo em mente que para tal tipo de espetáculo que estávamos a realizar, no qual o Ciro declamava longos poemas com a banda a emoldurar com trilha incidental, praticamente nesse momento, isso aniquilaria o espetáculo. 
 
Alugar um PA como reforço, além de ser fora de cogitação pela questão monetária, seria impossível também, ali pelas características do teatro, o que tornaria o show, ensurdecedor e acarretaria problemas com a vizinhança, fora torturar o nosso próprio público.
Outro ângulo do saguão de espera para o público do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo
 
Então, o que nos restou para lidarmos com tal situação, foram duas hipóteses:

1) Cancelar a apresentação.


2) Tocar com uma amplificação reduzida e estabelecer uma dinâmica muito disciplinada para usar o parco PA do Teatro e sem microfonar a bateria e os amplificadores, evidentemente. 
 
Optamos por manter a data marcada e realizar essa verdadeira loucura, sob o ponto de vista técnico.
Cartaz alternativo sobre o nosso show no Teatro Parlapatões de São Paulo em 5 de junho de 2014.
 
Divulgação a ir para a rua, nos animamos em manter o show marcado, mas sabíamos de antemão que seria um exercício de resiliência sonora e performática. 
 
Como se não bastasse a falta de infraestrutura, houve um outro empecilho, desta feita perpetrado pela administração do teatro: eles haviam marcado uma outra apresentação musical para o mesmo dia, e assim, mediante a sua ingenuidade em não saber lidar com o universo musical, tais produtores acharam que uma apresentação marcada para as 21:00 horas, com o nosso show a seguir, para as 23:00 horas, não atrapalhar-nos-ia... 
 
Foi o tal negócio: apesar de lidar com produção artística, o mundo teatral mantém outras características, pois música demanda outras necessidades prévias, por exemplo, o trabalho do soundcheck, que denota horas para ser acertado, antes do artista subir ao palco e dar início ao seu show. 
 
Ao alegar se tratar de uma dupla intimista, na base da voz & violão, não incomodar-nos-ia que esses artistas se apresentassem antes, desde que nós realizássemos um soundcheck no período da tarde, a deixar o nosso "set up" arrumado, previamente. 
 
Entretanto, o pessoal do teatro não entendeu isso, e achavam ingenuamente que se chegássemos com o show dessa dupla em andamento, mediante parcos vinte minutos ou até menos, seria o suficiente para deixarmos o nosso palco preparado, logo a seguir.

Enfim, era o tipo de pessoas que acham que um show musical dependia apenas de se ligar um plug na tomada, como se aciona um eletrodoméstico na cozinha de uma residência.
 
Argumentamos que o mínimo que queríamos por necessidade, seria poder chegarmos mais cedo, antes do show desses artistas e arrumar o nosso palco. Já que se tratara de um duo a conter voz e violão, não atrapalhá-lo-ia em nada, que a nossa bateria, amplificadores, guitarra e baixo, ficassem no palco, preparados, com o soundcheck realizado previamente e set up pronto para nós, mediante ajustes simples, para que o duo deles, tocasse antes. Convencidos, enfim, nos deixaram fazer isso, ufa!
 
Entretanto, no dia do show eu fui o primeiro a chegar ao teatro e tive uma boa nova: o show do duo fora cancelado e nós pudemos ter o palco só para nós. Melhor ainda, portanto!
Na primeira imagem, cartaz alternativo sobre o show. Abaixo, foto bem do início do show, com o Ciro ainda a usar o guarda-chuva com o qual entrara em cena... Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Com o som acertado e por incrível que pareça sob uma situação bizarra por não haver nenhum instrumento acoplado ao PA do teatro (nem mesmo a bateria, pasmem!), nesse momento foi só aguardar os três sinais do teatro e começar o espetáculo.
 
No camarim, o clima de confraternização entre os Nudes foi ótimo, ao nos dar a confiança de que faríamos um bom show, apesar da condição técnica estranhíssima, já descrita.
Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Clicks (selfies nas fotos 3 e 4), acervo e cortesia: Carlinhos Machado
 
Camarim descontraído, só estávamos a aguardar o momento para exercer a doce psicodelia no palco. Quando recebemos o sinal de que as portas abrir-se-iam para o público, já estávamos prontos e só nos restara esperarmos pelos três sinais tradicionais do teatro.
Vista do camarim para o palco, do Teatro Parlapatões com o backline do Nudes a postos. Click: Lara Pap

Ali, no improviso total, o Ciro teve uma ideia bizarra e que no âmago do trabalho, todo amalgamado pela loucura que o permeava naturalmente, seria plausível e impactante. Como o camarim ficava instalado sob um patamar acima do palco, bem alto por sinal, o acesso para o palco se fazia por uma escada íngreme e com uma certa periculosidade até, e se encontrava ao fundo, a quebrar um pouco a ideia de um palco italiano tradicional, com saídas laterais para as coxias etc.
O palco montado para a apresentação. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Na verdade, a coxia ali era bem pequena, praticamente um pequeno biombo onde os atores podiam aguardar a deixa para as suas entradas em cena, mas sem muita margem para uma invisibilidade, pela ótica da plateia. 
 
Em suma, um palco para apresentações teatrais cruas, sem muita possibilidade cenotécnica e mais baseada em texto, e na expressividade dos atores. Em nosso caso, como o show tinha bastante presença de texto, logicamente que as coxias poderiam auxiliar em entrada e saída de cena, principalmente do Ciro e da Isabela, mas ao mesmo tempo que o espetáculo continha essa carga surreal & psicodélica, apresentava também o elemento Rock, como um componente forte e nesse caso, nada poderia nos deter e nem mesmo a ausência de um PA adequado, no caso.
Ilustração a conter a obra: "Nu Descendo a Escada", obra de Marcel Duchamp, realizada em 1912. Fonte: Internet

Sobre a ideia extravagante que o Ciro propôs, como é sabido, o nome da banda era: "Nu Descendo a Escada" (tal nome, aliás, fora baseado em uma pintura assinada por Marcel Duchamp, datada do ano de 1912), portanto, ao verificar a escada íngreme e com a projeção que havíamos programado para ser exibida na hora do show e no caso a usar a própria parede, portanto, com a escada a fazer parte involuntária de tal parede, o Ciro de pronto sugeriu que nos despíssemos e entrássemos em cena inteiramente nus para impactar a plateia e fazer jus à loucura que permeava o trabalho.
Isabela Johansen aparece agachada a preparar algumas "colas" estratégicas a conter trechos de letras de músicas, colocadas no piso do palco, próximo ao microfone que usaria em cena. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Bem, ninguém ficou chocado ou ultrajado em princípio, mas ali, no calor da iminência para entrar em cena, ponderamos que seria uma loucura total, mas posteriormente seria ridículo fazermos o show despidos e igualmente se vestíssemos em cena para dar tal prosseguimento.
Momentos do soundcheck. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Rimos muito da proposta, mas seria exagerado e embaraçoso sob um segundo instante, além do que, apesar do teatro ser bastante acostumado a lidar com encenações bem alternativas, mediantes apresentações da parte de grupos teatrais experimentais etc. e tal, talvez tal determinação mais ousada desse porte, gerasse um problema ali, além de tudo.
Flagrantes do show! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Bem, descartada a ideia, isso não impediu que a entrada em cena fosse performática, com o Ciro na frente a descer a escada e a portar um guarda-chuva enorme, caracterizado como René Magritte, seguido da banda, também a descer lentamente, ao seguir o padrão e sob as imagens de nuvens a nos transpassar e o áudio a conter a sonoplastia de uma chuva torrencial, com direito a trovões. Tocamos basicamente o set list que havíamos apresentado em abril último, no Sesc de Piracicaba.
O show foi uma loucura! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Fora um misto de canções a abranger o material proveniente dos dois discos solos do Ciro, mais algumas músicas novas, que já se tratara do fruto obtido nessa nova fase da banda e em parceria com Isabela Johansen, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl e Carlinhos Machado. 

Assista abaixo o vídeo de duas canções: "Evacuando Ideias na Selva do Improvável" + "Praia de Marfim", com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, no Teatro Parlapatões, de São Paulo, em 5 de junho de 2014
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=G3jPO8c76Js  


Logo na primeira música, um sujeito estranho entrou a correr no teatro, por ter surgido da rua e invadiu o palco, quase a tocar no Ciro, mas os seguranças do teatro estavam no seu encalço e o detiveram rapidamente, para levá-lo para fora.
 
Aquela ocorrência foi tão repentina que não chegou a nos extrair a concentração e nem mesmo nos assustou, visto que ele foi rapidamente retirado do palco, mas o público ficou sem entender nada e talvez as pessoas tenham pensado se tratar de alguma intervenção cênica com atores, para causar impacto proposital, portanto.
Isabela Johansen na primeira foto e Ciro Pessoa, na segunda. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Após o show, comemoramos tal resolução, pois essa intervenção inusitada pode ter reforçado todo o conceito de loucura que caracterizava o show.
 
Abaixo, eis um rápido "teaser", com um trecho da música "Ecos da Tagarelice Mental"  
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=H0cuk3OmGJ4 


O show foi filmado pelo irmão de Isabela, Gustavo Johansen e com apoio de Carlos Augusto Nascimento, mas não disponibilizado em versão integral, ao menos por enquanto, quando concluí este trecho do capítulo, em fevereiro de 2016. 
Outro breve "teaser", com um trecho da música "Planos"

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=BAtwD4ZnKcI

Apenas alguns trechos estão no YouTube, mas espero que um dia tal material seja postado na íntegra. O momento do pós-show foi bastante festivo. Não houve um grande público presente, mas quem ali compareceu foi bastante carinhoso para conosco.
Nos bastidores, a atriz, Grace Gianoukas veio nos cumprimentar. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A atriz, Grace Gianoukas, famosa criadora do "Terça Insana", um dos mais famosos espetáculos do estilo "Stand Up Comedy" do Brasil, compareceu. Ela era amiga de longa data do Kim, pelo fato de ter sido casada com o Abrão, um cantor & compositor com o qual o Kim teve uma banda ao final dos anos oitenta: "Abrão & Os Lincolns".
A banda a cumprimentar o público ao final do espetáculo. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Foi um ótimo show, pois além da performance ter sido muito boa, ficamos muito surpreendidos sobre como conseguimos realizar um show com um PA tão inadequado e só a suprir as vozes. Claro que tivemos dificuldades inevitáveis nessas condições, principalmente o Carlinhos, que se guiou o show inteiro apenas pelo som dos amplificadores de baixo e guitarra, sem ouvir as vozes, adequadamente. 
 
Mas no cômputo geral, foi bem satisfatória a apresentação e dali em diante, ansiávamos por uma boa sequência, para firmar bem essa formação da banda, a assim gerar frutos, naturalmente.
Na primeira foto, a banda a posar no camarim, minutos antes de se dirigir ao palco. Na segunda imagem, um "still" da filmagem do Show, mostra a o Ciro a interagir com a projeção feita no show. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Tivemos uma animação muito grande após o show no Teatro Parlapatões, ao esperarmos dias ótimos para os "Nudes". Senão vejamos: músicas novas a surgirem em parceria direta conosco, a entrada do Carlinhos Machado na formação oficial da banda, a boa participação da Isabela Johansen na banda (com boa voz, ideias, composições e ótima presença de palco), foram enfim, bons indícios que nos credenciara a pensarmos que boas novas chegariam. No entanto, houveram fatores alheios à nossa vontade para minar tais boas perspectivas que haviam sido enxergadas somente pelo prisma artístico de nossa parte.
Uma questão e que não pode ser computada como um problema propriamente dito, aliás, muito pelo contrário, se tratou de uma realidade a gerar impedimento, fora que o casal Ciro & Isa estava com uma filha recém-nascida para cuidar e claro, apesar de contar com apoio de vovós e outros familiares, demandava cuidados básicos e daí a limitação para se assumir compromissos, cumprir horários etc. 
 
O outro ponto foi que o Ciro havia se engajado de corpo e alma com manifestações públicas de repúdio ao governo federal, embalado por uma ostensiva campanha de propaganda alimentada de forma deliberada por forças obscuras.
Ao ir além e a usar de seu prestígio artístico, ele realizou diversos "hangouts" a debater com o Lobão, outro artista que se engajara na mesma causa e com outros ativistas, portanto a angariar simpatias e antipatias, conforme o sabor de cada torcida uniformizada dentro dessa discussão. Não entrarei no mérito para explicitar isso em questão, no entanto, o que cabe dizer aqui, foi que o foco dele fora bastante desviado e aquele "momentum" bom que se desenhara à nossa frente, se diluiu por conta dessa militância (e não falo isso em tom de crítica, no sentido de que ele teve o livre arbítrio para tomar tal partido, mas apenas na obrigação em relatar como fato histórico).
 
Ao perdermos terreno, não tivemos mais atividades oficiais em 2014, ao nos limitarmos a manter conversas internas por e-mails, nesse período.
Uma panorâmica da banda no palco. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Em 2015, eu passei por um problema sério de saúde, que me consumiu um tempo longo com internação hospitalar, duas cirurgias, e uma lenta recuperação, que se estende aos dias atuais, 2016, quando escrevo este trecho.
 
Já comentei mais detalhadamente sobre o que me ocorreu pessoalmente, no capítulo sobre a minha trajetória com Kim Kehl & Os Kurandeiros, a cobrir o mesmo período do tempo, portanto não vou repetir aqui. Deixo, no entanto, novamente o link de uma matéria que escrevi, como forma de agradecimentos aos profissionais do Hospital São Paulo, responsáveis por salvar a minha vida. Nessa matéria publicada no meu Blog 1, mas não anunciada como outras matérias em redes sociais, há uma explicação detalhada sobre a minha doença e o período hospitalar pelo qual passei:

Blog Luiz Domingues 1:
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2015/10/nao-e-por-ma-vontade-dos-profissionais.html


A partir do final de maio, voltei a me apresentar com Os Kurandeiros e também com a Magnólia Blues Band, mas com bastante cuidado e limitações físicas visíveis. Como as atividades com o Nudes estavam paralisadas naquele instante, a minha doença e convalescença não prejudicou o andamento dos trabalhos, diretamente dessa banda. 
 
Nessa época em que estava a voltar a normalizar a minha vida, Ciro nos comunicou que estava por articular um evento para uma casa noturna, aonde curiosamente Os Kurandeiros já haviam se apresentado várias vezes, chamada: Bierboxx, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.
Ciro Pessoa & Nudes no Bierboxx, em 28 de junho de 2015. Foto do acervo dos Blues Riders
 
Tal evento teve cunho político, como um ato militante em prol de valores conservadores e nasceu graças aos esforços em que o Ciro esteve engajado para apoiar, ao aludir aos fatos alardeados que alimentavam a pauta do jornalismo mainstream dessa época, absolutamente manipulados a atender interesses escusos, mas enfim, essas pessoas embarcaram na fantasia da teoria da conspiração.
 
Chamado como: "artivismo", tal evento teve a participação de alguns artistas que se engajaram nessa causa fantasiosa, entre poetas e músicos. Não anotei o nome dos artistas que se apresentaram de forma intimista, na base da voz & violão, mas foram alguns, além de poetas e alguns que discursaram em tom de desabafo político regado a ódio desmesurado e palavrões, mas convenhamos, deixa para lá. 
 
Sobre bandas que participaram, além dos Nudes, houve também um show de choque dos "Blues Riders", a se tratar de uma ótima banda formada por ótimas pessoas, como eu costumo sempre dizer. Admiro muito a luta deles que tem como marca registrada a persistência impressionante, ao lutarem por anos a fio em meio a uma cena sempre hostil para bandas desse tipo de sonoridade e proposta artística.
 
O show dos Blues Riders foi ótimo, com aquela energia habitual, ao desfilar os seus Blues-Rocks que esbarravam no peso do Hard-Rock, muitas vezes. Gentis como sempre, tais colegas nos emprestaram o seu backline e de fato, se o show dos Blues Riders fora de choque, o nosso foi ainda mais curto, a se configurar como uma mera aparição fortuita, pois a intenção do Ciro fora mais produzir o evento e discursar com veemência política a respeito do que acreditava ser uma verdade, do que inserir a nossa apresentação formal.
Ciro & Nudes + Blues Riders na confraternização final... click, acervo e cortesia dos Blues Riders

Por ter sido curto, eu não senti incômodo em demasiado, mas o fato foi que estava ainda bastante debilitado pela convalescença pós-cirúrgica, infelizmente. Aconteceu em 28 de junho de 2015, um domingo ao final da tarde, com cerca de cinquenta pessoas presentes e clima muito exaltado pelos discursos em tom de desagrado em relação ao então governo federal. 
 
Algum tempo depois, eu recebi o convite para comparecer ao aniversário da pequena Antonia, filha de Ciro & Isabela.
Eu, Luiz Domingues, em destaque! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Fui com muito prazer prestigiar a festa pelo natalício da pequena, Antonia Pessoa e só não fiquei muito tempo, pois ainda não me sentia 100% bem.
Com Ciro Pessoa, na festa de aniversário de dois anos de sua linda filha, Antonia Pessoa, em 2015. Click, acervo e cortesia: Isabela Johansen

No entanto, eu já tinha ciência nesse dia da festa infantil (na verdade, desde antes), que o livro do Ciro, estava na gráfica, a espera apenas do processo industrial, portanto, havia a intenção de sua parte em se produzir uma noite de autógrafos e acoplada a um show, para reforçar tal lançamento. 
 
Mais que isso, algumas músicas novas continham as suas respectivas letras baseadas em poemas desse livro, portanto, seria mais do que necessário haver uma apresentação musical para esse lançamento. Portanto, em breve começaríamos a ensaiar a visar esse compromisso, para 2015.

Capa e convite para o lançamento da obra: Relatos da Existência Caótica, de Ciro Pessoa

Comunicados pelo Ciro que o seu livro estava a chegar da gráfica e que uma noite de autógrafos estava marcada para ser realizada em outubro, em uma casa noturna no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, voltamos a conversar com bastante frequência por e-mail e inbox de Facebook, entre setembro e outubro de 2015.

Discutido um repertório básico de show, houve uma proposta do Ciro para intensificar o esforço de que novas músicas surgissem e com letras baseadas em poemas que faziam parte do livro que seria lançado. Ele mandou duas letras para o Kim e duas para que eu as musicasse, também.

        Ciro Pessoa em foto promocional de 2014. Fonte: Internet

No meu caso, recebi dois poemas, denominados: "Planície dos Sonhos" e "Xadrez Cósmico". Trabalhei primeiro com um riff que já tinha em mente há muitos anos e que reiteradas vezes tentei colocar à disposição do "Pedra", mas ali nunca foi aproveitado, e de fato, propor ideias para o Pedra sempre fora uma questão muito difícil pela maneira em aquela banda se portou ao longo da sua história e não cabe aqui tecer nenhum comentário a mais. 

Agora, livre de crivos alheios e intimidadores, o riff poderia ser aproveitado sem problemas e foi o que fiz para musicar o poema: "Planície dos Sonhos". Não foi fácil, no entanto, encaixar a métrica da melodia cantada, ao poema, pois é notório que é muito mais difícil para qualquer compositor, criar a música para uma letra pronta, por ser o processo inverso, pensar na letra com harmonia, ritmo e melodia definidos, muito mais fácil.

Ciro Pessoa no camarim do Sesc Piracicaba em 2014. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Mesmo por ter que realizar algumas modificações a posteriori e com apoio do próprio, Ciro, que também estabeleceu algumas mudanças nos versos do poema, o resultado ficou ótimo. 

Fiquei bastante contente por verificar a ideia prosperar e se tornar uma canção com forte apelo psicodélico sessentista, uma das minhas paixões em termos de vertentes dentro do Rock. 

Já a outra canção, foi fruto de uma melodia que por incrível que pareça, veio à minha mente no período em que fiquei internado no hospital. Ao se tratar de um Rock'n' Roll bem ao sabor glitter setentista, ganhou co-parceria com o Kim, que criou um riff para a sua introdução e outro sob intermezzo, bem interessantes, a enriquecer a composição. Um ensaio acústico foi marcado na residência dos Pessoa e onde foi possível mostrar as músicas e estabelecer os seus respectivos arranjos.

Kim Kehl no camarim do Sesc Piracicaba em 2014. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Da parte do Kim, a sua contribuição com novas músicas se deu com os poemas: "Biscoitos & Mariposas" e "La la la". 

Sobre "Biscoitos & Mariposas", o Kim nos trouxe também um Rock básico, mas com uma melodia absolutamente inusitada. Tratou-se de algo inspirado no canto lírico e ao se levar em consideração que o Kim adora música erudita e detém amplo conhecimento na área, tal concepção que nos trouxe, foi uma ideia genial e que se casou de uma forma louquíssima com a letra surreal escrita pelo Ciro.

Nudes reunido no ensaio, em 6 de outubro de 2015. Click (automático), acervo e cortesia: Isabela Johansen

A outra canção que criou, "La la la", foi um bubblegum sessentista sensacional e com um potencial pop extraordinário. Mas no momento crucial, ficou fora do set list do show. Mais um ensaio acústico foi marcado e a seguir, dois ensaios elétricos para firmar o show. 

Fotos do ensaio de 15 de outubro de 2015. Click (automático), acervo e cortesia: Isabela Johansen

Por outro lado, ao se considerar que o show não foi o foco em si, mas um reforço ao lançamento do livro e noite de autógrafos, a divulgação esteve a atingir frentes diferentes, do mundo literário, inclusive. O poeta, Claudio Willer, havia confirmado presença e de fato, ele havia assinado o prefácio do livro, portanto, seria uma super honra para o Ciro e a todos nós, contar com a presença de um grande artista e pensador, a prestigiar o evento. E assim chegou o dia da noite de autógrafos & show!
A casa noturna onde o evento transcorreu, chamava-se: "Delirium Café". Bem montado e localizado, parecia atender um tipo de público classe média alta em essência, pela ambientação, mas sobretudo por ser uma casa especializada em bebidas alcoólicas estrangeiras e bem caras, disponíveis em sua carta de opções, habitual.

Ciro Pessoa em destaque com Carlinhos machado à bateria e eu, Luiz Domingues, na retaguarda. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

O palco se revelara sob um porte até razoável ao se considerar que a casa não mantinha o costume de promover shows musicais regularmente, mas apenas de forma sazonal. Contudo, houve um problema grande ali: não havia PA, tampouco iluminação e a estrutura para o suporte de energia era pífia, portanto preocupante para nós. Bem, sobrou para o Kim Kehl que mais uma vez teve a inglória missão de levar o seu PA particular para nós usarmos, o que lhe deu uma tremenda dor de cabeça extra.

Ciro Pessoa e Isabela Johansen na frente, com Carlinhos Machado e e eu, Luiz Domingues, na retaguarda. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

De minha parte, como eu já estava a tocar com Os Kurandeiros e a Magnólia Blues Band, regularmente, estava nessa fase a incomodar os amigos em ter que carregar, literalmente, o meu backline, portanto, mais uma vez teria que contar com a boa vontade deles. 

Cheguei ao estabelecimento antes de todos. Fui bem recebido pela promotora da casa, mas notei o despreparo da moça e da casa, para lidar com espetáculos musicais, assim que cheguei ao palco, pois haviam sofás colocados ali e a moça se mostrou perplexa quando eu lhe pedi que tais móveis fossem retirados, pois se mostrara óbvio que não caberia o nosso equipamento e nem nós mesmos, naquele espaço exíguo.

Isabela Johansen em destaque (o braço de Ciro Pessoa denota que ele estava ao seu lado). Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues), estamos atrás na primeira foto. Já na segunda foto, Isabela Johansen novamente está no destaque e eu, Luiz Domingues, apareço atrás. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Os meus companheiros chegaram e com os sofás retirados enfim, a desobstruírem o palco, montamos tudo e fizemos o chamado "autosoundcheck", a comprovar que conseguimos imprimir uma qualidade sonora mínima e assim ficamos mais seguros de que o show teria um áudio com qualidade. A casa recebeu o seu público, e muita gente interessada no show ou no livro do Ciro, também pôs-se a aproximar-se. 

Em um dado instante, o Ciro foi para a mesa de autógrafos e foi bastante procurado por seus fãs que compraram o seu livro e aproveitaram o ensejo para garantir as suas dedicatórias.

Na noite de autógrafos, o autor do livro, Ciro Pessoa e sua bela assistente, Antonia Pessoa. Delirium Café, de São Paulo. Outubro de 2015. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Vi muitos jornalistas presentes e Claudio Willer veio prestigiar, sim, uma grande honra para todos nós.
Encontro de poetas surrealistas: Ciro Pessoa e Claudio Willer!  Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

O lado mau disso tudo foi que a diretoria da casa desejara que o show começasse tarde, no padrão da praxe das casas noturnas, o que tornou a espera cansativa, e na ausência de um camarim, ficar ali na multidão com o som mecânico relativamente alto, gerou um certo cansaço mental para todos.
Dois psicodélicos inveterados: Ciro Pessoa & eu (Luiz Domingues) Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Eu, particularmente detesto ambientes barulhentos, por natureza. Sei que as pessoas acham tal afirmativa engraçada e de certa forma paradoxal por eu ser um Rocker e estar acostumado a fazer shows de Rock, porém, na verdade detesto barulho e jamais frequento casas noturnas por esse motivo, e também por ser abstêmio, portanto, a minha tendência é cansar rapidamente ao ficar em lugares assim. Mas enfim chegou a hora e lá fomos nós.

Ciro Pessoa em destaque, com Carlinhos Machado, atrás. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A sonoridade e o "punch" do show foram muitos bons, embora tenhamos todos cometidos erros pontuais, individualmente a falar, mas facilmente contornáveis. O fato de que eu (Luiz Domingues), Kim Kehl, e Carlinhos Machado tocarmos em outras duas bandas que mantém o Blues e o Rock como pilares e o improviso total como modus operandi, fez com que o nosso entrosamento natural se efetuasse em favor dos Nudes, também.

A perspectiva do contra-plano. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Muitos fãs dos trabalhos do Ciro, com os Titãs e Cabine C, e também de seus discos solo, esteve ali presente, mas houveram também fãs que nos admiravam por nossos trabalhos em outras bandas. 

Um rapaz em específico, chamado: Raphael Rodrigues, que costumava aparecer em shows d'Os Kurandeiros (eu já o havia visto em shows do Pedra, igualmente), foi um bom exemplo disso que observo. Nesse dia, esse colecionador levou consigo muitos discos para eu autografar de trabalhos que eu fizera com outras bandas. 

Nesse sentido, havia na mesa em que se sentou para nos assistir, discos da Patrulha do Espaço, A Chave do Sol, Pedra, Kim Kehl & Os Kurandeiros e até do Pitbulls on Crack, da minha parte e Made in Brazil, Mixto Quente, Lírio de Vidro da parte do Kim... mais que isso, esse rapaz se mostrara fã dos trabalhos do Ciro, também, e pediu várias músicas para tocarmos de seus discos solo, além dos trabalhos dele com os Titãs e o Cabine C.

A lembrar a foto do LP do Festival de Woodstock, a pequena Antonia Pessoa passeia pelo palco, antes do show! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Apesar da psicodelia e das letras surreais, o público gostou e não houve nenhum sinal de rejeição da parte dos habitues que estavam ali alheios ao lançamento do livro: "Relatos da Existência Caótica" ou do show de Ciro & Nudes.

Ciro Pessoa em destaque, com Carlinhos Machado na bateria e eu, Luiz Domingues, ao fundo. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Pelo contrário, se não houve uma ovação, eu diria que da parte de quem esteve ali alheio, até mesmo para entender quem seria o Ciro e muito menos nós, a reação foi bastante respeitosa, com aplausos. 

Eis abaixo, um resumo do show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Delirium Café, em 23 de outubro de 2015. Filmagem de Jani Santana Morales

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cBvVCf5wF6A 


Missão cumprida, dali em diante a meta foi aguardar por novas oportunidades e logo teríamos a novidade de se começar a cogitar a gravação de um álbum. Mas na prática, novidades só viriam mesmo no início de 2016 e seria uma oportunidade para usar o clichê: temos duas notícias, uma boa e outra ruim... qual você quer ouvir primeiro?

Ciro Pessoa pronto para receber os seus fãs e leitores para um autógrafo no seu recém lançado livro. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Passado o show de lançamento do livro, "Relatos da Existência Caótica", em outubro de 2015, houve perspectivas para shows fixos, a se configurar como temporada, a ser realizado no próprio Delirium Café, além de consultas para shows em outras casas noturnas e teatros.  

Entretanto, com a virada do ano de 2015, para 2016, tivemos uma má notícia que culminou em respingar em nossa banda, quando soubemos que o casal Ciro & Isabela se separou e assim, se inviabilizou a presença da Isabela na banda, doravante.  

Então ainda como casal: Ciro Pessoa & Isabela Johansen. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Claro que não vou comentar absolutamente nada sobre questões pessoais do casal, aqui, e nem em segredo eu o faria com ninguém, mas cabe registrar que lastimei a situação pelos dois, como casal e individualmente, e claro que também pelo prejuízo à banda, com a perda da Isabela, que nos comprovou o seu valor como cantora, performancer e compositora. 

Doravante, teríamos que prosseguir sem ela e foi o que fizemos.

Ciro Pessoa no show d'Os Kurandeiros, no Santa Sede Rock Bar, em 15 de janeiro de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Entre janeiro e fevereiro, o Ciro compareceu a vários shows d'Os Kurandeiros e do Magnólia Blues Band, quando fez aparições a cantar conosco.

Cartaz a anunciar o próximo show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, no Delirium Café de São Paulo em 18 de fevereiro de 2016 

Foi uma espécie de preparação, pois em fevereiro o Ciro nos anunciou ter fechado um show novamente no Delirium Café, e assim, fizemos dois ensaios acústicos na sua residência, e um elétrico na semana do show. A ideia foi estabelecer uma modificação no set list base do show e assim, músicas que não tocávamos há tempos, foram reincorporadas ao repertório.  

Ciro também convidou o baterista do grupo de Rock, "Ultraje a Rigor", o Marco "Bacalhau" Aurélio, para tocar uma música conosco, como convidado especial.

Eis acima uma cópia do filme "La Follie Du Docteur Tube", do grande diretor francês, Abel Gance

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fN4he9MJ38A

Ciro deu a ideia de usarmos imagens de filmes surrealistas e dadaístas, como projeção de fundo e de minha parte, eu me lembrei que havia enviado aos Nudes, ainda em 2014, a ideia para usarmos um curta metragem lançado em 1915, denominado: "La Follie Du Docteur Tube", do cineasta francês, Abel Gance, para um futuro promo da banda, visto que tal material caíra em domínio público, ao completar noventa e nove anos de seu lançamento.  

Por se tratar de um filme louquíssimo, absolutamente psicodélico, com lisergia incrivelmente futurista para os padrões de 1915, fatalmente cairia como uma luva para se tornar um promo de uma música dos Nudes. 

Portanto, assim que se ventilou a ideia da projeção, eu lhes lembrei desse curta-metragem e de pronto eles aceitaram a sugestão. O Kim fez uma edição a conter trechos de alguns filmes desse teor, igualmente ("Un Chien Andaluz", de Buñuel & Dali, naturalmente incluso), e haveria de ser um atrativo a mais para o show.  

Exaltamos esse detalhe cênico a ser usado no show, no release do show e a divulgação foi incrível, a me fazer lembrar do padrão de trabalhos de divulgação em que participei com bandas anteriores pelas quais eu atuei, ao se considerar o período pré-internet, com apoio da mídia mainstream tradicional, notadamente a impressa escrita.

Abaixo, eis o link da matéria publicada na Folha de São Paulo em seu caderno "Ilustrada", no dia do show:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/02/1740461-ciro-pessoa-usa-cenas-surrealistas-de-bunel-em-show-gratuito-em-sp.shtml

Nesses termos, até matéria na Folha de São Paulo, nós conseguimos e com destaque para o fato de que o show teria esse apoio de imagens sensacionais a realçar o surrealismo, a psicodelia e o dadaismo. 

Ainda a convalescer e nesse ponto a apresentar sintomas desagradáveis, decorrentes de uma hérnia abdominal por conta das cirurgias que realizara em 2015, no dia do show, eu não estava muito bem.

Uma panorâmica do Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Mas com o apoio dos amigos que não me deixaram fazer nada e de fato eu não podia nem pensar em fazer esforços desmedidos, até um pouco antes do show acontecer, eu estava a me sentir desconfortável pelo esforço vespertino em ter que dirigir automóvel etc. e tal. Todavia, deu tudo certo a posteriori, ainda bem.

Flagrantes da banda em ação! Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap 

Muitos amigos prestigiaram o evento e a casa lotou. Nem todo mundo ali esteve pelo show, pois a casa detinha seu público habitue e baseado na jovem burguesia paulistana, é bem verdade.  

O Marco "Bacalhau" Aurélio, apareceu bem antes do show começar, com a sua namorada e assim estabelecemos uma animada conversa sobre vários assuntos, incluso a minha exótica contribuição vocal na gravação de uma música de sua ex-banda, "Little Quail and the Mad Birds", em 1993, por conta da gravação do LP coletânea, "A Vez do Brasil", da gravadora Eldorado, em que também participei com minha então banda, Pitbulls on Crack. Essa história aliás, está contada em detalhes no capítulo sobre o Pitbulls on Crack, no ponto em que analiso os fatos decorrentes dessa cronologia citada.  

Com Marco "Bacalhau Aurélio, a tocar bateria e Carlinhos na frente a fazer backing vocals com o Ciro. Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Click, acervo e cortesia: Jani Santana Morales

Tanto ele, Marco "Bacalhau" Aurélio, quanto a sua namorada foram extremamente simpáticos comigo e eu também apreciei conversar com ambos naqueles momentos do pré-show.  

Mas houve muita gente atraída pelo trabalho do Ciro & Nudes, sim, e foi um belo show, com muita energia e uma performance muito inspirada da parte do Ciro, que usou e abusou da loucura em seus trejeitos e improvisos.

Ciro & Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Click, acervo e cortesia: Kico Stone

Apesar das dificuldades óbvias em se tocar com um PA inadequado para o tamanho da casa, e ainda por cima só possível graças aos esforços pessoais do Kim Kehl, que foram extraordinários em providenciar o backline e seu PA particular para suprir o show, visto que a casa não apresentava equipamento algum. Isso sem contar a ausência de um equipamento de iluminação, ou seja, nos apresentamos com luz de serviço mínima, também por conta das projeções no telão.

Pelo fato de ter saído uma matéria grande na Folha do São Paulo, muitos fotógrafos e film-makers apareceram e nesse aspecto eu cheguei a me surpreender pela quantidade de profissionais a fotografarem e filmarem, a se revelar como mais usual em shows realizados em teatros, e não em casas noturnas.

Abaixo, a versão de "Biscoitos e Mariposas", com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Delirium Café em 18 de fevereiro de 2016. Filmagem de Lara Pap
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=JS223cizVoA

"As Formigas Estão Vendo Tudo", com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, em 18 de fevereiro de 2016, no Delirium Café de São Paulo. Filmagem: Kico Stone 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=COHdYt74l-c 

Muitas propostas para shows, aparições na TV, entrevistas e outras ações, incluso a gravação de um novo álbum, ocorreram dali em diante, a nos animar sobre as perspectivas que o trabalho poderia alcançar.  

Fechados como um quarteto, fomos: Athos, Porthos, Aramis & D'Artagnan, doravante, embora a possibilidade de incorporar um tecladista tivesse entrado na lista de medidas futuras a serem adotadas. 

"Vertigem & Colapso" com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Delirium Café, em 18 de fevereiro de 2016, Filmagem de Kico Stone

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Q6miM3rZNgE

No entanto, infelizmente não tivemos mais atividades, a não ser uma entrevista para um programa de internet.
Ciro Pessoa & Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Click, acervo e cortesia: Kico Stone
 
Portanto, no próximo capítulo, eu comento como inusitadamente este trabalho se diluiu logo a seguir, por conta de fatos novos que ocorreram na vida artística do Ciro Pessoa e como, apesar de tal desfecho insólito, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl e Carlinhos Machado, não nos abalamos e seguimos com as nossas outras bandas em absoluta normalidade e sem nenhum ressentimento com o destino repentino que o Nudes teve.

Cartaz alternativo para anunciar o show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada para o Delirium Café de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2016

E também traço no último capítulo, o balanço final desta minha trajetória com esse trabalho e acrescento os agradecimentos finais aos seus personagens que contribuíram direta ou indiretamente com essa história.

Eu, Luiz Domingues a atuar com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada em junho de 2014 no Teatro Parlapatões de São Paulo. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Continua...