Rodrigo Hid com a Patrulha do Espaço, em 2004. Foto: Ana Fuccia
Quando a
nossa formação da Patrulha do Espaço encerrou-se em 2004, o anúncio
oficial foi dado em setembro desse ano, porém, na realidade ainda
cumprimos um show no mês subsequente, em outubro.
Contudo, o fato é que vivíamos uma fase de desgaste nítido na relação interna da banda, há meses, pelo menos desde o final de 2003, e assim, o companheiro Marcello Schevano articulou a criação de uma nova banda em paralelo, que denominar-se-ia: "Carro Bomba" e o Rodrigo Hid começou a projetar a ideia de lançar um álbum solo.
Assim que a Patrulha do Espaço saiu de nossas respectivas vidas, eu soube que o Rodrigo estava a promover ensaios com o jovem e super promissor baterista da banda, "Quarto Elétrico" (Ivan Scartezini), uma ótima banda por sinal, e que havia sido atração de abertura de alguns shows da Patrulha do Espaço, de nossa fase e também com o seu baixista, o super talentoso, Thiago Fratuce, que fora um de meus melhores alunos, nos anos noventa.
A sua ideia inicial seria gravar em trio e ele, por ser um multi
instrumentista, certamente que supriria com galhardia toda a parte das
guitarras, teclados, vozes e violões acústicos, portanto a contar com
o apoio de uma cozinha de muita categoria, formada por Ivan Scartezini e Thiago
Fratuce. Em suma, ele teria tudo para lançar um álbum incrível, ainda mais se
levarmos em conta a obviedade de que ele é um compositor inspiradíssimo,
portanto não seria apenas o atrativo da exímia execução da parte dele e
de seus convidados, mas sobretudo pela certeza de que haveriam de ser,
um conjunto de músicas lindas.
Rodrigo Hid com o Pedra, em 2006. Foto: Grace Lagôa
Todavia, poucas
semanas depois, ocorreu o convite do guitarrista, Xando Zupo, para que Rodrigo
viesse a integrar a sua nova banda que estava a ser articulada e com a
agravante de que eu mesmo, Luiz Domingues, também estava inserido nesse projeto (e
naturalmente que eu insisti para que ele, Rodrigo, aderisse a esse novo trabalho).
Então, eis que culminou com
que ele aceitasse o desafio e nessa nova configuração, o seu projeto para a produção de
um disco solo fosse engavetado. Cerca de um ano e meio depois disso, o
próprio baterista, Ivan Scartezini, também agregou-se a essa nova banda,
batizada como: "Pedra" e tal história está contada em detalhes nos seus
respectivos capítulos alojados nos meus Blogs 2 e 3 e igualmente nas
páginas do livro impresso, com tal teor, "Quatro Décadas de Rock".
Rodrigo Hid com o Pedra, em 2014. Foto: Leandro Almeida
Mas o
tempo passou, o "Pedra" acabou, depois de um ano de inatividade, voltou,
e acabou novamente, desta feita definitivamente em 2015.
E o Rodrigo, desde
muito tempo, já havia tornado-se um dos mais requisitados músicos da
noite paulistana, a tocar em bandas cover (como por exemplo, o
"Rockover", ao lado do excelente guitarrista, Ronaldo Paschoa,
ex-Tutti-Frutti, ex-Guilherme Arantes e ex-Rita Lee), também em inúmeros
pequenos combos e além de tudo isso, o fato de por ser eclético ao extremo, propiciou que ele pudesse montar uma
agenda incrível como artista solo, a cumprir voz & violão e/ou voz
& piano em inúmeras casas noturnas e também para vir a se tornar "side man" de
artistas importantes da MPB com teor Folk/Rural, como Chico Teixeira,
filho do compositor, cantor e violonista, Renato Teixeira.
Portanto,
com a sua agenda completamente lotada, e ainda que isso fosse (seja) uma maravilha, a pensar
estritamente no aspecto financeiro, demorou, mas finalmente Rodrigo Hid vislumbrou
uma boa oportunidade para desengavetar o seu projeto para lançar um disco
solo.
Para tanto, Rodrigo planejou gravar o seu disco, a formar vários combos, com músicos amigos que transitaram pela sua carreira até aquele ponto e assim, foi com muita alegria que eu recebi o seu convite para gravar duas faixas em princípio, e mais feliz ainda fiquei, quando soube que o baterista dessas duas faixas em que eu gravaria, seria o meu velho e querido amigo, José Luiz Dinola.
Ora, que prazer gravar novamente com
meu velho colega d'A Chave do Sol e de certa forma resgatar a frustração
de um outro projeto nosso que não conseguiu chegar nesse ponto em ter gravado o seu
material criado, no caso, o "Sidharta", e nesse aspecto, diretamente
ligado também ao Rodrigo Hid.
Na
sala da técnica do estúdio "A" de gravação do complexo "Orra Meu", o
"Sidharta" reunido, dezenove anos depois, com a sua formação clássica. Da
esquerda para a direita: José Luiz Dinola, Marcello Schevano, Rodrigo
Hid e Luiz Domingues. Agora, o objetivo seria gravar o 1º disco solo de
Rodrigo Hid, com Dinola e Domingues a dar suporte instrumental e
Schevano a operar e produzir essa gravação. 1° de março de 2017. Acervo e cortesia de Rodrigo Hid. Click:
Diogo Barreto
Portanto,
seria mais que um prazer pela amizade envolvida entre nós três, mas uma
espécie de resgate tardio, mas bem-vindo sobre algo que não conseguimos
realizar naquela época, entre 1998 e 1999, com o Sidharta. E para
reforçar toda essa incrível teia de conexões entre nós três, houve um
quarto elemento que teve tudo a ver conosco e seria o propiciador
técnico de tal ação. Refiro-me a Marcello Schevano, que abriu as portas
de seu recém-inaugurado mega estúdio, e ele próprio prontificou-se a
ser o "tape operator" e produtor do álbum.
Cabe
destacar que quando ele e o seu irmão, Ricardo Schevano, este na qualidade de meu ex-aluno (e
baixista experiente e de alto nível, há anos), montaram o seu estúdio,
ambos foram estudar produção de áudio e nessa altura, estavam ambos habilitados como
técnicos de gravação de alto padrão. E diante de um estúdio maravilhoso
que fundaram, com tecnologia de ponta e equipamentos e instrumentos
vintage de primeira categoria, qualquer álbum que fosse produzido em seu
estabelecimento, tendia a ter qualidade sob nível internacional, portanto, um
disco de Rodrigo Hid que traz no bojo a sua qualidade artística altíssima,
e produzido sob tais condições técnicas de nível norte-americano ou europeu, só
poderia ficar excelente, foi uma dedução lógica.
Reencontro
de velhos amigos em jornadas conjuntas e distintas, da esquerda para a
direita: Rodrigo Hid, Luiz Domingues e José Luiz Dinola. Primeiro
ensaio para a gravação de duas faixas do disco solo de Rodrigo Hid.
Estúdio B de gravação do complexo Orra Meu. 1º de março de 2017. Foto:
Diogo Barreto
Sobre as
canções que Rodrigo designou-me a gravar junto com o José Luiz Dinola,
a minha familiaridade com ambas, era total. Tratou-se de duas canções que
chegaram a serem gravadas pelo "Pedra", a fim de figurar no repertório do CD
derradeiro da banda, o "Fuzuê", mas que foram descartadas por um membro da banda por questão de seu gosto pessoal, ao julgá-las não adequadas ao
bojo do álbum.
Sobre essa produção em si, eu descrevi a situação nos
capítulos finais do Pedra, basta procurar no arquivo do Blog. Mas o
importante é que o Rodrigo estava disposto a regravá-las e eu, que
aprecio as duas, fiquei muito feliz por ter essa chance de novamente
colocar o meu baixo nelas, e vê-las enfim, lançadas.
Uma delas
chama-se: "Siga o Sol" e trata-se de um Folk-Prog muito bonito, com final
em looping emocionante, bem setentista. E a outra que na época tinha o
nome provisório de: "Porão" (o Rodrigo pensa em criar uma nova letra e
possivelmente ela passará a ter outro título quando for lançada),
trata-se de uma canção que ele já planejava gravar em 2004, quando
esboçou produzir o seu disco, inicialmente, e ficou anos a tentar vencer a
resistência de um colega nossa para inclui-la no repertório do Pedra e mesmo
ao gravá-la, não conseguiu evitar o seu descarte na hora do lançamento do
disco dessa banda, ocorrência que já citei anteriormente.
A manter o seu
arranjo original, a música tem uma introdução muito a ver com a estética do Prog-Rock
setentista e uma parte cantada, mais Pop, a lembrar o som de Elton John e
para citar um artista brasileiro semelhante, Guilherme Arantes.
Ensaio
com José Luiz Dinola e Rodrigo Hid, para gravarmos duas faixas no disco
solo dele, Hid. Estúdio de gravação B do complexo "Orra Meu". 1º de
março de 2017. Foto: Rodrigo Hid (selfie)
Baseamo-nos
nas gravações malogradas do Pedra, eu e Dinola para prepararmos as duas
canções previamente e alguns ensaios foram marcados para se cumprir a devida pré-produção dessa
gravação. E foi um prazer realizar tais encontros, para efetuar esse
trabalho e inevitavelmente termos ótimos momentos marcados pela nostalgia ao agruparmo-nos,
os quatro ex-integrantes do Sidharta, e curiosamente, no primeiro
ensaio, o Rolando Castello Junior estava no estúdio de gravação, a
participar de uma sessão de decupagem do material gravado nos shows ao
vivo, onde nós também revivemos a nossa formação da Patrulha do Espaço,
portanto, sob o mesmo teto, dia e horário, muitos personagens da minha história pessoal
na música, em épocas diferentes estiveram ali agrupados, o que foi um
momento de alegria pessoal, sem dúvida alguma.
Após três
ensaios, a gravação foi marcada e o Dinola sugeriu uma técnica diferente
na metodologia de gravação, que já estava habituado a usar nas
gravações de sua banda, o "Violeta de Outono" e cujo conceito, o
guitarrista, Fábio Golfetti havia aprendido na Europa, em meio às suas
andanças como membro da banda Prog-Rock internacional, o "Gong".
Nesse
conceito, a aproveitar-se do fato da tecnologia digital estar muito
avançada, fica mais fácil gravar músicas mais complexas, ao estilo Prog-Rock, que tenham muitas partes, divididas em trechos, e posteriormente a montagem
milimétrica de tais frações é perfeita. No caso da música
provisoriamente conhecida como: "Porão", tal metodologia facilitou-nos a
vida, pois trechos complexos foram gravados separadamente, a minimizar
ao máximo a incidência de erros. Dessa forma, muito rapidamente o José
Luiz Dinola gravou a bateria das duas canções e na mesma tarde, em
pouquíssimo tempo, eu já gravei a minha parte, igualmente, com muita
tranquilidade.
A preparar-me
para gravar, sob absoluta tranquilidade na sala A do estúdio Orra Meu,
com Marcello Schevano, na operação. E pela visão da janela, o roadie,
Diogo Barreto a fazer ajustes na bateria de José Luiz Dinola, na sala ao
lado. Na minha mão em pleno uso, o Fender Precision e no cavalete, o Rickenbacker 4001,
gentilmente emprestado por Ricardo Schevano. 19 de abril de 2017. Foto:
Rodrigo Hid
Sobre os
baixos que eu usei, levei o meu Fender Precision para gravar o Prog-Rock que
torna-se canção Pop ao seu final e o Rickenbacker na canção Folk-Prog,
a seguir a mesma intuição que tive por ocasião da gravação das mesmas
canções mas para o disco do Pedra. Creio ter sido adequado nas duas
ocasiões, estou convencido que é o que as músicas pedem.
A diferença, é
que usei o Rickenbacker do Ricardo (e não o meu, que curiosamente é da
mesma cor, só que modelo 4003 e do ano de 1980), e o dele é um 4001, ano
1973, ou seja, com linha de captação, Toaster. E a amplificação cedida
pelo estúdio, com caixa e cabeçote Ampeg, absolutamente matadora, a imprimir timbre e peso, fantástico. Ricardo Schevano auxiliou-me muito na
produção desse som de baixo, e atesto que saí do estúdio muito
satisfeito com a sonoridade dessa captura.
Marcello operou, mas com supervisão de um de seus professores do curso de áudio, e que também opera regularmente ali no estúdio "Orra Meu", o ótimo, André Miskalo. Além de Ricardo, que também habilitou-se teoricamente muito bem e acompanhou tudo de perto. Portanto, Rodrigo cercou-se de técnicos gabaritados e com tal estúdio ultra equipado e moderno, teria tudo para se elaborar um álbum memorável.
Algumas semanas depois dessa gravação, vi pelas redes sociais da Internet, que um novo time de músicos convidados por Rodrigo já estava a gravar mais faixas. Tudo absolutamente em família, a outra cozinha convidada fora formada por Rolando Castello Junior e Nelson Brito, a dispensar qualquer tipo de apresentação sobre ambos...
E no início de julho de 2017, eis que eu recebo um novo recado pelo inbox do Facebook, com Rodrigo a convocar-me para gravar mais duas faixas, desta feita com o extraordinário baterista, Franklin Paolillo, uma lenda do Rock brasileiro setentista. Uma canção será inédita e a outra, "Sonhos Siderais", uma peça que o Rodrigo compôs para o nosso projeto Sidharta, portanto, estou muito animado para desengavetar mais um tema que trabalhamos com tanto carinho naquele projeto ocorrido ao final dos anos noventa e esta não aproveitada por outra banda, posteriormente, como muitas que foram gravadas pela Patrulha do Espaço ou pelo Pedra.
Sendo assim, futuramente mais um ou dois capítulos serão escritos a falar sobre esse trabalho avulso que realizo com o meu velho amigo, Rodrigo Hid e a envolver diretamente muitos companheiros de inúmeras jornadas de minha carreira.
A conversar com os irmãos Schevano: Ricardo, em pé e Marcello, sentado, próximo a mesa de som. Gravação do disco solo de Rodrigo Hid, no estúdio Orra Meu, de São Paulo. 19 de abril de 2017. Foto: Rodrigo Hid
Continua... (mas com data indefinida para publicação, neste momento, dezembro de 2017)