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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Trabalhos Avulsos - Capítulo 44 - Uncle & Friends: A Trinca Telecaster e um Pouco Mais - Por Luiz Domingues

Sob um curto espaço de tempo, eis que surgiram várias oportunidades para a minha atuação em termos de trabalhos avulsos. Em julho de 2018, eu havia tocado em meio a um enorme grupo formado por muitos músicos, quando participei do “Festival Mulherada Criativa”. Ali mesmo nesses bastidores, o guitarrista e compositor, Lincoln Baraccat, havia formulado-me um convite, para que eu participasse de sua banda de apoio, para uma apresentação em um outro festival ao ar livre, igualmente produzido pelo Centro Cultural da Vila Pompeia, pelas ruas desse tradicional bairro da zona oeste de São Paulo, a ser realizado, dali a cerca de cinquenta dias, e que denominar-se-ia: “A Gosto Musical”. 
 
Nesse ínterim, poucos dias depois, eu fui convidado pelo guitarrista, Chico Suman, para uma apresentação em casa noturna, mas que não viabilizou-se por um mero detalhe logístico de minha parte, que tornara-se incontornável e nesse caso, eu lastimei a sua não concretização, assim como o amigo, Suman. 
 
Achei portanto, que a próxima atividade extra aos trabalhos regulares que desenvolvia com a minha banda oficial, Kim Kehl & Os Kurandeiros (e leve em conta o leitor, que nessa fase de 2018, eu estava também a apresentar-me em vários shows da Patrulha do Espaço, na condição de um ex-membro convidado a fazer parte da sua turnê de despedida da sua carreira), seria a missão para acompanhar, Lincoln Baraccat, conforme agendara-se a partir do seu convite, mas eis que repentinamente apareceu o convite de Diogo Oliveira, um super artista que muito admiro e lá fui eu participar de uma Jam-Session com ele e o ótimo baterista, Pedro Silva, em uma casa noturna (experiência relatada no capítulo anterior). Entretanto, sem mais surpresas no meio do caminho, o próximo trabalho foi mesmo com Lincoln Baraccat.

       Fotógrafo de primeira linha, Lincoln "The Uncle" Baraccat
 

Para melhor situar o leitor, vale a pena esclarecer que apesar de possuir um bom trabalho autoral e ser, portanto um compositor, guitarrista e vocalista, Lincoln Baraccat não tinha a carreira musical como prioridade em sua vida. As suas principais atividades pautavam-se pelas artes gráficas, onde ostentava uma carreira prolífica, ao atuar como fotógrafo, ilustrador, chargista, desenhista, arte-finalista, webdesigner e publicitário. 
 
Como fotógrafo, a sua fama mostrava-se enorme, dada a sua produção pregressa e consagrada. Por exemplo, são incontáveis os trabalhos dele para bandas de Rock, desde os anos setenta, com material por ele produzido para capa e encarte de álbuns, fotos promocionais e sobretudo, fotos ao vivo. E não são fotos comuns, mas verdadeiras obras de arte, tamanha a sua perspicácia em capturar momentos mágicos dos artistas no palco e aí, tirante o seu talento como fotógrafo, o fato de também tocar, cantar & compor, deu-lhe essa sensibilidade extra, para clicar com extrema maestria.
Item clássico da discografia da Patrulha do Espaço, o famoso "disco branco", lançado em 1982, teve o apoio fotográfico de Lincoln Baraccat, apenas um, entre tantos trabalhos significativos que ele produziu no campo da fotografia
 
Já ouvia falar sobre a sua fama, como fotógrafo, desde os anos oitenta, mas não o conheci nessa ocasião. Soube que mudara-se do Brasil, e assim, não houvera uma perspectiva para que trabalhássemos juntos, presumivelmente. 
 
Quando eu entrei na Patrulha do Espaço, em 1999, lembro-me que o Rolando Castello Junior quis marcar uma sessão de fotos com o Lincoln, que estava de volta ao Brasil e do qual falava maravilhas, pelos trabalhos que este realizara para a nossa banda nos anos oitenta, quando eu nem era membro, mas já era amigo do Rolando, por conta da ajuda providencial que ele prestara à minha então banda, “A Chave do Sol”. 
 
E desde essa época (falo sobre algo ocorrido em 1982), o Rolando elogiava e recomendava os serviços de Baraccat. De volta ao ponto da narrativa, em 1999, fui com o Rolando à residência do Lincoln Baraccat, para fecharmos uma sessão, mas um desencontro ocorreu e não foi possível encontrá-lo nesse dia, além de que um impedimento posterior fez com que procurássemos outro fotógrafo, Moa Sitibaldi, quando realizamos enfim a sessão de fotos promocionais que necessitávamos, por volta de outubro desse ano (1999).
Foto de Lincoln Baraccat a retratar a minha pessoa (Luiz Domingues), durante a apresentação da Magnólia Blues Band, em 12 de março de 2014, ocasião em que finalmente conhecemo-nos, pessoalmente
 
Foi somente em 2014, que finalmente eu conheci, Lincoln Baraccat, pessoalmente, quando este compareceu ao Magnólia Villa Bar, para prestigiar mais uma apresentação da então, “Magnólia Blues Band”, banda que mantinha como núcleo base, os próprios Kurandeiros, acrescido do tecladista, Alexandre Rioli, com o intuito de se convidar um artista por semana para uma grande Jam-Session. 
 
Nessa circunstância, eis que Lincoln veio acompanhar a participação do guitarrista, Marceleza “Bottleneck”, amigo em comum para todos. Ele clicou ótimas fotos e veio prestigiar a Magnólia Blues Band em outras ocasiões, igualmente. Mas tirante essa fase em 2014, não estabelecemos um forte vínculo de amizade e dali em diante, nos anos posteriores, ele assistiu mais alguns shows, aí sim, d'Os Kurandeiros, ocasiões essas em que fotografou-nos, mas sem que conversássemos mais detidamente. 
Todavia, foi nos bastidores do evento, “Festival Mulherada Criativa”, ocorrido em julho de 2018, que ele abordou-me e formulou o convite, a avisar-me que tinha em mãos a certeza de contar com três músicos da pesada, os guitarristas excepcionais, Roy Carlini e Caio Durazzo, além do monstruoso baterista, Franklin Paolillo e da cantora, Amanda Semerjion, dona de uma voz belíssima. 
 
Portanto, fiquei honrado e feliz por saber que teria tantas companhias com alto quilate artístico, nessa apresentação. Consultei a minha amiga, Lara Pap, a produtora dos Kurandeiros e soube que a data estaria disponível e por coincidência, o nosso baterista, Carlinhos Machado, também participaria do mesmo evento, na condição de convidado de um outro grupo montado com a presença de inúmeros músicos amigos nossos, incluso Rubens Gióia, meu ex-colega d’A Chave do Sol.
Dali em diante, foram alguns dias com troca de mensagens entre eu e Lincoln, onde as coordenadas foram estabelecidas e mediante um e-mail a conter o material virtual, com o áudio das canções, as suas respectivas letras e o mapa harmônico cifrado, tudo facilitou-se para que eu pudesse conhecer e decorar o seu material. 
 
Chegara o dia da apresentação, e mesmo sem a marcação de nenhum ensaio prévio, eu sabia que mediante a participação de músicos daquele calibre, nada poderia dar errado e da minha parte, as canções já estavam dominadas. Tratou-se de um conjunto composto por Rocks, Blues e Baladas, todas com um certo ar cinquentista, portanto, agradabilíssimas para tocar-se. 
 
Mais que isso, a apresentar boas melodias e espaço generoso para um revezamento de solos, entre Roy Carlini e Caio Durazzo, e até do próprio, Lincoln Baraccat. Foi no domingo, 19 de agosto de 2018, que tal data configurou-se, entretanto, na véspera, um recado geral foi emitido a dar conta de que o posto de gasolina da esquina, onde o palco seria montado, serviria como estacionamento disponível aos participantes. 
 
Comemorei, pois tocar em feiras ao ar livre sempre foi muito difícil por esse aspecto da logística. Mas quando cheguei ao local, no dia do evento, passei pelas bombas de gasolina a bordo de meu automóvel e logo um frentista apareceu para cobrar-me uma quantia absurda, seguramente o dobro do preço que um estacionamento cobraria em um dia comum. Incontinente, engatei a marcha ré do carro e evadi-me do posto, pois claro que o sinal emitido fora violado e na verdade, o estabelecimento não vinculara um convênio com a organização do festival para dar suporte aos artistas e técnicos participantes, mas o seu objetivo seria cobrar de todos, incluso os visitantes da feira. Bem, por sorte, achei uma vaga de rua, dois quarteirões abaixo e apesar de ser incômodo e deveras perigoso caminhar e carregar o case (estojo) do instrumento, foi pelo menos algo melhor que sucumbir à sanha dos exploradores da festa.
 
Sanada essa questão, assim que eu cheguei perto do palco, encontrei-me com inúmeros amigos: músicos, produtores, fotógrafos, jornalistas e radialistas, enfim, muita gente ligada à música e foi um prazer conversar com tantos amigos ali reunidos. Tais festivais tem sempre essa característica, devo observar e isso por si só, já faz valer a participação, mas claro, existe o prazer de se subir ao palco e tocar, evidentemente. Em meio a tanta gente conhecida que cumprimentara, avistei a figura de Lincoln Baraccat, cujo apelido que ostentava nessa época, servira-lhe também para denominar a banda: "Uncle & Friends". 

Cada vez que apresenta-se, Lincoln Baraccat inventa um nome novo para a banda e o seu show, especialmente cunhado para cada ocasião e desta feita, apresentar-nos-íamos como: “Uncle & Friends”. 

Fui informado que Caio Durazzo estava a chegar, por dirigir-se diretamente de um outro evento onde tocara no início daquela tarde, e Roy Carlini, idem, pois apresentara-se em uma cidade interiorana próxima, e sinalizara estar na estrada, de volta à São Paulo, e já quase a chegar. Viria com ele, a sua esposa, a cantora, Amanda Semerjion, que também participaria. 

Eis que o excepcional baterista, Franklin Paolillo chegou e a banda que precedera-nos, tocava os seus últimos números. Em tom de brincadeira, algum amigo falou ao Lincoln, que não teríamos outra alternativa, a não ser tocarmos como trio, visto que os demais convidados não haviam chegado ainda. 

Ele brincou, também, ao responder que acalentara desde sempre esse sonho de tocar com um formato “Power-Trio”. Eu não receei, pois se isso de fato concretizasse-se, pelo fato dele ser o compositor das canções, sabia toda a harmonia, melodia e letras das canções, obviamente. E como eu estava seguro sobre a minha parte e o Franklin Paolillo, além de ser um baterista monstruoso, também já havia feito outras apresentações a executar esse trabalho do Lincoln, eu não enxerguei nenhum problema em começar o show só entre nós três, caso os demais participantes chegassem atrasados. 

O senhor que subiu inesperadamente ao palco para cantar e ao seu lado, mais jovem e alto, o organizador da Feira, Cleber, do Centro Cultural da Vila Pompeia. Lastimavelmente, desconheço o nome desse veterano senhor, para citá-lo, aqui. Festival A Gosto Musical, na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia de Zéppa de Souza Filho
 
Então subimos ao palco e iniciamos os preparativos pessoais, quando o organizador geral da Feira, o Cleber, que costuma organizar todas as feiras do bairro ao longo do ano inteiro, surgiu no palco a conduzir um senhor idoso, e eu percebi que este veterano senhor, balbuciou alguma coisa com o Lincoln, mas nessa confusão com técnicos a fazerem ajustes na troca de set up de uma banda para a outra, eu imaginei que o senhor queria falar ao microfone, talvez para pronunciar um agradecimento ou emitir algum recado com interesse público. 

Mas eis que o vejo a falar com o Lincoln, sobre tonalidade de músicas e assim que percebi a situação que desenhara-se, não deu tempo para esboçar uma reação sequer, pois o senhor em questão virou-se em minha direção e perguntou-me: -“o senhor é que vai tocar contrabaixo?" E nem deu tempo para eu responder-lhe, pois a seguir falou-me: -"Lá menor, vamos tocar uma canção mariache, mexicana”... 

Bem, não foi nada difícil para executar, mas assim sob surpresa, realmente... e o público adorou, não pela excelência musical, dada a improvisação absoluta ali estabelecida, mas gostaram da figura do senhor idoso, e que empolgara-se em cantar, ao soltar a voz, mediante um gestual bem típico de cantores de outrora, a sua referência pessoal, certamente. 

Tudo bem, não custou-nos nada dar atenção ao senhor idoso e nessa altura, Roy Carlini já havia chegado e montava o seu amplificador ao meu lado. Mas eis que o senhor fulmina-nos ao dizer ao microfone: -“Ré menor, Rock Around the Clock”... e saiu a cantar, mesmo que nós não houvéssemos emitido um acorde inicial para ele ajustar a sua voz, à tonalidade. O público apreciou, mesmo ante a precariedade inusitada da situação e mesmo a atrapalhar-se com a letra e não respeitar o mapa harmônico da música, ele conseguiu interpretar até o seu final. 

O senhor em questão, mediante a minha presença encoberta, atrás, com Lincoln "The Uncle" Baraccat, ao seu lado e Franklin Paolillo, atrás na bateria e encoberto. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia de Marcos Vinícius Troyan Streithorst

Dessa forma, mais uma vez o senhor forçou a situação, ao anunciar: -“Rock Around the Clock”, quando o Lincoln retrucou-lhe: -“mas o senhor acabou de cantar essa”... e o senhor em questão, a mostrar-se desorientado, respondeu-lhe: -“já cantei?"

Bem, realmente seria de bom tom ter parado ali, e tudo bem, mas o idoso a seguir, gritou, entusiasmadamente: -“Tutti-Frutti” e começou a cantar o clássico de Little Richard, mas nós tocamos só um pequeno trecho e logo o Lincoln deu um basta, ao agradecer a participação do senhor, para dar a entender que estava encerrada a sua forçada participação e que, por conseguinte, nós precisávamos iniciar oficialmente o nosso show. 

Nessa altura, o guitarrista, Caio Durazzo já estava no palco, pronto para atuar conosco e a cantora, Amanda Semerjion, encontrava-se no backstage, também pronta para atuar e ela não cantaria em todas as canções, apenas aguardaria o seu momento para participar, ali no início do espetáculo.

Flagrantes da atuação da banda que acompanhou Lincoln "The Uncle" Baraccat. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Humberto Morais              
 
Tudo pronto, começamos e aí foi uma sucessão de momentos bons que ali vivenciamos, pois todos fizeram a sua tarefa caseira e a falta de um ensaio formal, não revelou-se necessária. Música após música, foi bastante prazerosa a performance e o público respondeu calorosamente. 
 
Sobre a banda, cabe registrar que Roy Carlini é filho de Luiz Carlini e de fato herdou, via DNA, o talento do pai, pois tocou com maestria. Tanto nas bases, quanto nos solos e sobretudo pelo ótimo uso do slide guitar, ele fez uma apresentação impecável. Também cantou bem, a dividir com o Lincoln, alguns vocais. 
 
Sobre Caio Durazzo, o mesmo raciocínio, este também tocou demais, com um estilo diferente, e isso foi ótimo para fornecer o devido diferencial ao show. Mestre em Rock’n' Roll clássico cinquentista, notadamente a escola do Rockabilly, Durazzo foi o guitarrista certo na hora certa, ali. Ele também dividiu voz com o Lincoln. 
 
Sobre Franklin Paolillo, o que mais pode ser dito sobre um dos maiores bateristas da história do Rock brasileiro? Pois eis que vi-me em meio às suas viradas incríveis, quebradas super criativas no chimbau e mais uma variedade de surpresas rítmicas, as quais tive o prazer de buscar improvisar junto com ele, ao dividir as minhas frases do baixo. E como se não bastasse, é um Ser humano incrível, com uma humildade que cativa-nos completamente. 
 
E ainda tivemos o creme especial para tornar o confeito ali produzido, como algo muito especial: Amanda Semerjion canta com uma graça tremenda e foi além, pois ligou o “drive” na garganta e rasgou em alguns momentos a garantir-nos uma performance excelente. 
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Clicks, acervo e cortesia de João Pirovic
 
Na última canção, “Bolinha de Gude”, o radialista, Rogério Utrila, subiu e cantou junto com Lincoln. Em suma, foi uma apresentação autoral de um trabalho que não teve um ensaio prévio, mas que soou tão bem, que pareceu uma banda a trabalhar com regularidade. O público apreciou, a feira estava bem cheia e apesar do inverno de 2018, ter lembrado os invernos antigos em São Paulo, dada a incidência de baixas temperaturas por bastante tempo, neste domingo em específico, o frio apresentou-se moderado e assim, muitas famílias estiveram presentes, com idosos e crianças, incluso, portanto, foi bastante movimentado e divertido, em meio a tantos Food Trucks e Rock’n' Roll a predominar no palco. 
 
Alguém contou-me que através das redes sociais, alguns moradores das imediações estavam a reclamar com veemência sobre a interdição, bagunça e sobretudo pelo barulho perpetrado pelas apresentações. Bem, não seria possível agradar a todos, mas na contrapartida, quem esteve na rua, divertiu-se a valer e sinto muito se atrapalhamos o futebol na TV de quem incomodou-se com o som alto. E para quem importa-se com o ludopédio dominical, meu caso, o meu time ganhou naquela tarde e o meu velho amigo, Nilton "Cachorrão" Cesar, avisou-me sobre o resultado, mediante comunicação gestual, enquanto eu ainda tocava...
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Marcos Vinicius Troyan Streithorst
 
Por ser um fotógrafo sob alto padrão, Lincoln Baraccat atraiu a presença de inúmeros colegas seus, a prestigiá-lo. Aqui neste capítulo, usei algumas das fotos disponíveis desse evento, mas nos tópicos referentes ao material desse trabalho, o leitor encontrará o material completo. É só pesquisar no arquivo deste meu Blog 3.
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Marcos Kishi        

E assim foi, toquei com uma turma da pesada no show: “Uncle & Friends”, a executar o material autoral do guitarrista, cantor e compositor, Lincoln “The Uncle” Baraccat, com muito prazer e um toque ficou no ar, quando ele afirmou-me: -“poderão haver outros”. 
 
Sim, com certeza, é só convidar-me e se eu puder, lá estarei. Domingo, dia 19 de agosto de 2018, no evento: “A Gosto Musical”, sob um palco montado no cruzamento das Ruas Padre Chico, com Diana, no coração da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo, com cerca de trezentas pessoas ali na audiência. 
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia de Leandro Almeida
 
E mais uma particularidade, que na verdade revelou-se uma incrível coincidência: Lincoln, Roy e Caio, tocaram com guitarras Fender Telecaster ! Creio que não combinaram entre si, mas os três usaram o mesmo modelo, algo que eu não nunca havia visto antes e até o Luiz Carlini observou tal peculiaridade com precisão, por ter sido algo muito exótico. A tarde da trinca Telecaster...
Confraternização final no pós-show. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia de Vanderlei Bavaro

Bem, esse ano de 2018, mostrara-se pródigo em termos de convites para trabalhos avulsos e dessa maneira, questão de um mês depois, eu receberia mais um. Uma terceira oportunidade para tocar no Hid Trio, um combo super improvisado, liderado pelo meu amigo,  odrigo Hid e a convidar baixistas e bateristas diferentes, o tempo todo. Assunto esse enfocado em seu próprio capítulo, naturalmente. Mas logo uma nova etapa com Uncle & Friends, delinear-se-ia.

Como costuma ser usual nesse campo dos trabalhos avulsos, mesmo que estes não sejam pautados pelo compromisso formal em estar inserido dentro de uma banda, em meio às suas atividades normais de carreira, o fato é que muitas vezes podem trazer em seu bojo, uma continuidade, sob uma outra circunstância e nesse caso, não importa se isso realiza-se sazonalmente. 

Foi o que ocorreu com o trabalho do guitarrista, compositor e cantor, Lincoln "The Uncle" Baraccat. Sobre a sua pessoa, já discorri anteriormente e não cabe repetir, mas saliento que a sua personalidade Rocker e multifacetada, em meio aos seus talentos como fotógrafo & ilustrador é um fato público e notório, e devo acrescentar, algo bastante celebrado no meio e aliás, há muito tempo, vide as suas ilustrações para a revista: "Rock; a História e a Glória", nos igualmente gloriosos, anos setenta. 

E foi assim, ao início de dezembro de 2018, que Lincoln abordou-me via Rede Social Facebook e consultou-me sobre uma data a ser cumprida dali a duas semanas e sob condições parecidas com as quais eu havia participado em sua banda, em agosto, ou seja, novamente ao ar livre em uma das feiras organizadas pelo Centro Cultural da Vila Pompeia. Eu tinha um show a cumprir com Os Kurandeiros, a minha banda, apenas para o dia anterior, e assim, pude aceitar a sua gentil oferta e mais uma vez, coloquei-me à sua disposição para atuar ao lado do "Uncle & Friends".

Fui informado que o time escalado seria o mesmo que atuara em agosto, o que também deixou-me feliz e honrado por mais uma vez poder tocar ao lado de tantas feras, jovens e veteranos mesclados, mas todos com algo em comum: a extrema destreza em suas respectivas especialidades. Portanto, que prazer fazer um som com tantos músicos tão bem gabaritados e tarimbados. 

E sobre o repertório, este seria um tanto quanto reduzido, pois este festival seria mais enxuto, com menos atrações e todas a cumprir um set mais econômico, talvez a visar a preservação do sossego dos moradores daquele quadrante do bairro, visto que em contrapartida ao fato que a maioria aprovava a realização das feiras pelo bairro da Vila Pompeia, e as aproveitam com a família, em peso a consumir o que era vendido nas inúmeras barracas e nos muitos food trucks ali presentes, haviam os que não gostavam da interdição do trânsito e sobretudo da música, que em predomínio, pendia para o Rock. 

Ainda a falar sobre o repertório, seriam apenas oito canções, desta feita, mas dentro daquele universo do que tocáramos em agosto, portanto, apenas retomei a audição e reforcei a execução de canções que eu já havia participado, anteriormente. 

Domingo, sob forte calor e com previsão de chuva, ao cair da tarde, assim que eu cheguei ao bairro, o que predominara mesmo, fora o calor. Parecia uma típica tarde interiorana, mas a assolar a capital, com um sol abrasador, e pouca incidência de brisa a caracterizar uma sensação térmica semelhante a de uma estufa. E para agravar, como é uma praxe nos festivais organizados nesse ultra simpático bairro paulistano, mas visto pelo lado negativo, achar uma vaga de estacionamento grátis pelas ruas é uma raridade. 

Rodei bastante até achar uma vaga em frente ao colégio das freiras (Sagrado Coração de Jesus), na Rua Coronel Melo de Oliveira, ou seja, para quem conhece a Vila Pompeia, sabe que parei longe da Rua Padre Chico, onde realizar-se-ia o evento. Na ida, em declive, tudo bem andar com o bag do baixo às costas, mas na volta, já imbuí-me da determinação de pedir carona para algum amigo, pois a subida seria dolorosa. Assim que cheguei ao backstage, já encontrei muitos amigos, o que também é uma praxe nesses festivais, mas nesse aspecto, como algo extremamente positivo. 

Uma banda tocava e o som agradou-me, o Borsatti Blues Band executou muitos clássicos do Blues e do Blues-Rock, muito bem tocados, a apresentar um bom time de músicos. Não conhecia ninguém ali dessa banda, mas gostei da desenvoltura da rapaziada. 

Foi quando ao término do espetáculo dessa banda citada, o tempo começou a virar. Ventos fortes vieram a tornar o azul do céu, inexistente e por conseguinte a encobrir a luz do sol. Chuva anunciada, vi com tristeza que muitas famílias apressaram-se a evadirem-se do local. Pais a carregar com rapidez os seus filhos pequenos, idosos e pessoas a conduzir pequenos animais domésticos a sair, os comerciantes a esboçar, de uma forma ligeira, tomar providências para proteger as suas instalações móveis e o inevitável ocorreu. 

Muita água caiu, com a sempre assustadora ação de raios & trovões e aos gritos, a ordem para desligar-se o gerador que alimentava o palco, foi ouvida por todos, com a energia elétrica devida e prudentemente cortada. Tudo levou a crer, pelo panorama ali desenhado, que o evento seria encerrado abruptamente, mas a produção foi paciente e pediu aos músicos que apresentar-se-iam na sequência, para que todos aguardassem no local. Cerca de noventa minutos depois, a chuva deu a sua trégua e o gerador foi ligado novamente. Haveria a continuidade e o organizador geral já contava-nos que havia ligado para a Secretaria de Cultura do Município e havia recebido a autorização para prorrogar a festa, por mais um tempo. Azar dos que não gostam da movimentação ali instaurada, pois haveria de atrapalhar o início da sua noite a assistir os programas populares da TV e inevitavelmente a prejudicar a ação dos motoboys que entregam pizzas e assim, consequentemente, retardar o jantar de muitos moradores das redondezas. 

Então, com substancial atraso, eis que a banda programada para atuar às quinze horas, enfim subiu ao palco. Chamada, como: "Banda Vivo Black", esta apresentou um repertório recheado por clássicos do Rock sessenta-setentista, mas de uma forma peculiar e devo dizer, criativa, pois tudo pôs-se a soar como Soul Music, à moda antiga, permeado por doses maciças de R'n'B; Funk (o verdadeiro) e Blues-Rock. 

Em suma, foi agradabilíssimo, e mesmo por que, os seus componentes, todos, tocaram muito bem e o vocalista apresentou uma voz rasgada, ao melhor estilo de um cantor de Soul, da velha guarda. Eu, e quase todos que estavam ali a assistir, deliciamo-nos com a performance da ótima banda, em meio aos seus arranjos criativos e tudo mediante a escolha de timbres vintage, para garantir a fidedignidade de suas escolhas e proposta. 

Tarde a cair rapidamente, com o atraso devidamente absorvido por todos, foi com tranquilidade que preparamo-nos para atuar, mas de antemão, duas surpresas estavam computadas. A primeira, ruim, deu-se quando eu fui avisado que o excepcional guitarrista, Roy Carlini e sua esposa, a ótima cantora, Amanda Semerjion, não tocariam conosco, por conta de algum contratempo de última hora. Uma pena, pois ambos são ótimos e o desfalque só não seria totalmente desastroso, pois sabíamos que Caio Durazzo já estava ali e com seu talento, haveria por suprir a lacuna. 

E de última hora, o meu amigo, Kim Kehl, que também participaria do evento a apresentar-se com o combo: "Reunion Pompeia" (Carlinhos Machado também atuaria nesse combo), foi convidado pelo Lincoln e faria ao menos uma canção conosco, o hit de Baraccat, "Bolinha de Gude".

Na primeira foto, Lincoln "The Uncle" Baraccat, o anfitrião da tarde. Foto 2: Caio Durazzo, Lincoln "The Uncle Baraccat, Franklin Paolillo e eu (Luiz Domingues). Foto 3: Lincoln "The Uncle" Baraccat, Caio Durazzo, Franklin Paolillo e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Festival Mulherada Criativa, na Vila Pompeia em São Paulo, em 16 de dezembro de 2018. Clicks; acervo e cortesia: Dani Spinosa (foto 1) e Vanderlei Bavaro (foto 2)

Mas houve uma terceira surpresa. Franklin Paolillo havia tocado naquela tarde, em outro evento, com uma banda orientada pela MPB, com ares a oscilar entre o Samba-Rock e o Reggae e pedira ao Lincoln para que esta banda, cujos membros estavam todos ali reunidos, para que estes tocassem duas músicas antes de nós, como um encaixe de última hora. 

Foi então que eu fui surpreendido pela abordagem de um dos seus componentes, o simpático violonista, chamado, Eugênio, que reconhecera-me por conta de meu trabalho nos anos 1980, com A Chave do Sol. Poxa, que prazeroso travar essa conversação ali nos bastidores. 

Para tornar tudo ainda mais familiar, verifiquei que o baixista da banda fora o extraordinário, Xantilee Jesus, meu amigo virtual de Facebook, mas que eu nunca havia encontrado, pessoalmente. Claro que a conversa foi animada também com ele e com o não menos simpático guitarrista da banda, que igualmente reconhecera-me como antigo componente d'A Chave do Sol. 

Os rapazes tocaram dois números e então, foi assim que o quarteto base, formado por Lincoln "The Uncle" Baraccat, o esfuziante, Caio Durazzo, o espetacular, Franklin Paolillo e eu, Luiz Domingues, no baixo, iniciamos a apresentação e devo dizer, a missão tornara-se difícil após a ótima performance das bandas anteriores, a "Banda Vivo Black"  e seu som todo cheio de swing da Soul Music clássica sessenta-setentista e também em relação à banda de Reggae & Samba-Rock, contudo, a nossa garra Rock'n' Roll chegou com muito vigor e de pronto, o público respondeu com muita sinergia, o que deu-nos aquele entusiasmo para fazer da longa espera pela chuva parar, algo totalmente esquecível naquele instante. 

O Rock mandou ali em cima do palco e em meio ao entusiasmo do Lincoln para executar as suas canções, tivemos o brilhantismo da guitarra de Caio Durazzo, e a quebradeira ultra-swingada de um gênio das baquetas, chamado, Franklin Paolillo. Tocar com um monstro desses, além da obviedade de ser um super prazer poder dividir (no sentido literal da divisão rítmica), no total improviso, as suas viradas incríveis, também sempre abriria a possibilidade da epifania ser gerada, ao transportar-me de imediato para 1975, e ali, no calor dos meus quinze anos de idade, a ouvir boquiaberto a massa sonora proveniente do LP "Fruto Proibido", de Rita Lee & Tutti-Frutti, e jamais poder supor, naquela época, que um dia eu poderia tocar com essa fera. 

E para tornar a experiência ainda mais prazerosa, Paolillo é um dos seres humanos mais incríveis que eu conheço, no meio. O fato de ser um monstro na música, não extrai um milímetro da sua humildade padrão, fato raro, muito raro em um meio tão permeado por egos infláveis por todos os lados. O set foi curto, mas com aquele calor humano gerado, ficou aquela ótima impressão de uma sinergia perfeita, agradável, e a reviver o verdadeiro sentido do Rock. 

Foto 1: Caio Durazzo e Lincoln "The Uncle" Baraccat em ação. Foto 2: Kim Kehl, Lincoln "The Uncle" Baraccat, Rogério Utrila, com Caio Durazzo e Franklin Paolillo atrás e encobertos e eu (Luiz Domingues). Foto 3: Lincoln "The Uncle" Baraccat, Caio Durazzo (encoberto), Franklin Paolillo e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Festival Mulherada Criativa, na Vila Pompeia em São Paulo, em 16 de dezembro de 2018. Clicks, acervo e cortesia: Dani Spinosa (foto 1) e Vanderlei Bavaro (fotos 2 e 3)

Bem, logo chegou a última canção, e Kim Kehl subiu ao palco. Foi um delírio Rock'n' Roll, com uma execução que ultrapassou quinze minutos de duração em torno de um Rock tradicional, com estrutura cinquentista, em torno dos três acordes básicos, mas apesar de ter ficado extensa, foi bastante empolgante.
O ótimo guitarrista, Marcelo Frisoni, em momento de êxtase na performance, com Lincoln "The Uncle" Baraccat a tocar e observá-lo. Uncle & Friends no Festival Mulherada Criativa, na Vila Pompeia em São Paulo, em 16 de dezembro de 2018. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Eis que eu vejo então, sob total improviso, o ótimo guitarrista, Marcelo Frisoni, adentrar ao palco e apanhar a guitarra de Caio Durazzo, para entrar com tudo em nossa Jam. Rogério Utrila já estava a cantar conosco e tocar um cowbell. A "festa do Rock" consumara-se, como teria dito o grande guitarrista argentino, Eduardo Deposé...

 

Na primeira foto, o quarteto base dessa atuação do "Uncle & Friends. Na foto 2, da esquerda para direita: Kim Kehl, Caio Durazzo, eu (Luiz Domingues), Franklin Paolillo e Lincoln" The Uncle Baraccat. Foto 3, o quarteto base com Caio Durazzo, eu (Luiz Domingues), Franklin Paolillo e Lincoln "The Uncle" Baraccat. Uncle & Friends no Festival Mulherada Criativa, na Vila Pompeia em São Paulo, em 16 de dezembro de 2018. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Noite já a avançar, assisti a apresentação do "Reunion Pompeia", combo que sucedeu-nos e uma alma caridosa (Lara Pap, a produtora d'Os Kurandeiros), ofereceu-me carona até onde eu estacionara o meu carro. Realmente, cansado pela longa espera, a acrescentar a performance no palco, teria sido um martírio subir aquela ladeira íngreme. 

Missão cumprida e ainda nessa tarde de 16 de dezembro de 2018, Lincoln, "The Uncle" Baraccat, disse-me que haveria a perspectiva para filmar-se três canções de seu repertório, sob uma performance ao vivo, para a montagem de eventuais clips, ou "promos" como dizia-se antigamente, em um estúdio de uma produtora de cinema. Quando? Talvez em janeiro de 2019, portanto, esse trabalho com "Uncle & Friends" ainda poderá verter em mais histórias...

Eis acima, um vídeo a conter a performance da canção: "Bolinha de Gude" (Lincoln "The Uncle" Baraccat), com Uncle & Friends, na Feira Mulherada Criativa, ao ar livre na Vila Pompeia, em São Paulo. 16 de dezembro de 2018. Filmagem: Lara Pap

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=RYYcONIceT8   

Portanto, possivelmente... continua... 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Trabalhos Avulsos - Capítulo 43 - Jam-Session com Diogo Oliveira & Pedro Silva - Por Luiz Domingues

Eis que após ter participado de uma grande celebração em meio ao no Festival "Mulherada Criativa", no início de julho, ao ar livre pelas ruas da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo, fora formulado-me um convite para um novo trabalho avulso a ser realizado em breve, nos mesmos moldes, em outra feira de rua e no mesmo bairro, entretanto, antes que isso concretizasse-se, outro convite surgiu, aliás, dois outros. 

O primeiro, foi para eu participar como substituto do grande, Marcião Gonçalves, na banda de apoio do magistral guitarrista, cantor e compositor, Chico Suman, em um show a ser realizado na casa de espetáculos, Santa Sede Rock Bar. Ora, tocar com Suman seria um prazer; substituir o amigo, Márcio, idem (ele iria tocar com Renato Teixeira em um show fora de São Paulo, nessa noite) e igualmente, por ser no Santa Sede Rock Bar, uma casa cujos proprietários e sua equipe, são meus amigos e onde eu estava habituado a apresentar-me com forte regularidade, com a minha banda, Os Kurandeiros. 

Mas por conta de um apontamento familiar que eu teria naquele dia proposto para a apresentação, fui obrigado a declinar do convite, infelizmente. Foi quando um outro convite surgiu e desta feita, eu pude aceitar e curiosamente, formulado por um músico que não é apenas um outro amigo de longa data, como também gravita na mesma turma de Chico Suman e construiu uma estreita proximidade com a minha ex-banda, "Pedra", por ter sido colaborador direto do nosso trabalho, ao ter criado capas de discos (os cd's: Pedra II e Fuzuê), inúmeros cartazes e flyers, cenários para shows e um dos vídeoclips mais criativos que eu tive de um trabalho meu, o clip da nossa versão (refiro-me ao Pedra), da canção: "Cuide-se Bem", do Guilherme Arantes. Falo sobre... Diogo Oliveira!

Em foto capturada no camarim do Centro Cultural São Paulo, em fevereiro de 2007, Diogo Oliveira é o primeiro da esquerda para a direita. Ao seu lado, três, dos quatro componentes do Pedra: Ivan Scartezini, Xando Zupo e eu (Luiz Domingues). Foto: Grace Lagôa
 
Músico multi-instrumentista, cantor e compositor, não contente em ser muito bom no campo da música, Diogo é um artista plástico ultra criativo, webdesigner, publicitário, criador de histórias em quadrinhos e muito mais ações no campo das artes gráficas e visuais em geral, a atestar a sua genialidade múltipla. Não só por todo esse potencial criativo e multifacetado, Diogo é o chamado: "um dos nossos", dada a sua confessa opção pela contracultura sessentista, a ostentar uma alma aquariana, versada pelos ideais "woodstockeanos", portanto, é fraterno amigo e signatário dos mesmos ideais que eu professo, desde sempre.

Nesses termos, o seu convite foi para eu participar de uma jam session, junto a ele e também com a participação do excelente baterista, Pedro Silva, em uma casa noturna localizada no bairro do Ipiranga, na zona sudeste de São Paulo. 

E como faz parte da mesma turma, o seu baixista regular seria o Marcião Gonçalves, mas este estaria ocupado nessa noite, a tocar com... Chico Suman, em um festival de Blues, na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. Para resumir, eu não pude tocar com Suman, dias antes para substituir o amigo, Marcião Gonçalves, e agora, eu teria que substituí-lo, para que este pudesse acompanhar, Suman, ao se constituir em uma certa ironia do destino ali configurada. 

O repertório proposto seria formado por clássicos do Rock, Blues e Folk Music das décadas de sessenta e setenta, e em sua imensa maioria, canções que eu costumava tocar com Os Kurandeiros, inclusive no mesmo tom. Algumas poucas sob tom diferente e as que eu nunca havia tocado, ao menos, conhecia amplamente por memória afetiva. Falo sobre The Beatles, The Rolling Stones, Jimi Hendrix, Cream, Eric Clapton, Johnny Cash, Derek and Dominos, Neil Young, Stevie Wonder, The Band etc. Em síntese, só coisa boa.

O palco do Quina Bar de São Paulo, com a bateria de Pedro Silva, montada e a espera do ataque. 4 de agosto de 2018. Click e acervo: Luiz Domingues
 
Cheguei ao local, o Quina Bar, e assim que comecei a retirar o meu equipamento do automóvel, vi que Diogo Oliveira estava a estacionar, ali perto. Entrei e fui bem recebido pelos funcionários, todos simpáticos e logo notei a presença do baterista, Pedro Silva, que montava a sua bateria, no pequeno palco da casa. 

Eu não tinha muita intimidade com ele (havíamos interagido em dois shows do Pedra e um d'Os Kurandeiros com o Suman Brothers Band, em épocas passadas), mas a sua simpatia cativou-me de imediato e ali estabelecemos uma conversa muito boa. 

A sua bateria, uma Ludwig dos anos sessenta, impressionou-me muito pela sua beleza e raridade, inclusive ao consideramos que a marca Ludwig, outrora icônica ao mundo do Rock, caíra em uma espécie de ostracismo nas últimas décadas, mas em minha percepção, versado que sou pelas décadas de sessenta e setenta, os bateristas mais jovens podem ignorar isso e preferirem as marcas asiáticas em geral, mas Ludwig é Ludwig no meu conceito. 

Pedro é um excelente baterista, muito técnico, criativo e pela conversa que tivemos, 100% influenciado pela mesma estética, portanto, a conversa foi muito animada. Aliás, descobri que ele era (é) também professor universitário, a ministrar aulas em uma faculdade de economia, na cidade de Santo André-SP, no ABC paulista e muitos alunos seus estiveram presentes, ali no Quina Bar, nessa noite. 

Ele mesmo confidenciou-me que em suas aulas, apesar de que estava (está) em uma cátedra das ditas matérias exatas, ele sempre inseria dentro do contexto geral, analogias a falar sobre música, e Rock sessentista, geralmente. Portanto, se depender dele como professor, teremos formandos em economia com simpatia pelo Rock sessentista, nas gerações futuras.

No pós-show, a confraternização dos músicos: Pedro Silva, eu (Luiz Domingues) e Diogo Oliveira. Quina Bar de São Paulo. 4 de agosto de 2018. Acervo e cortesia: Diogo Oliveira. Click: Carol Machado
 
Eis que chegam ao estabelecimento, Carlinhos "Jimi" e Carol Machado, meus amigos de longa data, Carlinhos é um grande guitarrista e amigo desde o meu tempo como componente da Patrulha do Espaço, conheço-o desde 2001. E quanto a Carol Machado, ela acompanhou bastante a trajetória do Pedra, nos anos 2000. 

Tirante esses amigos em comum, o bar lotou com inúmeros outros amigos de Diogo e Pedro, mais estranhos, frequentadores da casa e foi muita animada a performance. Diogo cantou e tocou com maestria, isso não surpreendeu-me, já o conheço há muitos anos e sei de seu potencial como músico. A sua interpretação para as canções do Jimi Hendrix, foi excelente e elogiado pelo próprio, Carlinhos "Jimi", e este é um especialista na obra desse ícone do Rock sessentista. 

Pedro Silva também tocou muito, gostei muito da sua criatividade e intensidade. É o tipo de músico que empolga-se e deixa transparecer isso na performance, e por conta dessa particularidade nítida de sua personalidade, fez com que eu lembrasse-me do Nahame Casseb, o popular "Naminha", baterista com quem eu toquei na minha segunda passagem pelo Língua de Trapo, em 1983 & 1984. Naminha era assim também, um baterista que quando se animava, expressava isso nitidamente no gestual e no semblante. Fizemos duas entradas bem animadas, as pessoas interagiram muito, e assim, foi uma noitada extremamente prazerosa.

Ao encerrar, Diogo contou-me que estava para lançar uma Revista de História em Quadrinhos, autoral e revelou-me o teor da sua criação, os principais personagens e o mote. Com a abordagem absolutamente psicodélica, teria muito a ver com o estilo do Robert Crumb, influência óbvia dele como cartunista e sob bom gosto, certamente. E foi assim, uma Jam session animada, com ótimo repertório, mediante um público interativo e simpático, com excelentes músicos, ótimo convívio e presença de amigos queridos em comum. Em suma, como diria o Dr John: -"Such a Night!" 

Agora sim, o próximo trabalho avulso anunciado, seria acompanhar o guitarrista, cantor e compositor, Lincoln "The Uncle" Baraccat, que não possuía uma banda fixa e assim, cada vez que marcava um show, costumava montar um time inteiramente novo e sensacional para acompanhá-lo, a la Ringo Starr e desta feita, eu tive a honra de receber e aceitar o seu convite para fazer parte de seu grupo sazonal.

Confraternização final pós show. Pedro Silva, eu (Luiz Domingues) e Diogo Oliveira. Quina Bar de São Paulo, em 4 de agosto de 2018. Acervo e cortesia de Diogo Oliveira. Click: Carol Machado