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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Terra no Asfalto - Capítulo 8 - Agradeço a Escola de Rock, Terra no Asfalto! - Por Luiz Domingues

Bem, o Terra no Asfalto foi uma banda cover que apesar de ter sido criada com esse objetivo, exclusivamente (salvo a vã tentativa em tornar-se banda autoral ao final de 1981), teve muitos méritos. O primeiro e óbvio, foi o de proporcionar-me uma escola viva, onde libertei-me enfim da fase inicial da minha carreira, por causa da insegurança em ostentar um nível técnico de principiante, até então, que foi superado.

Claro, um pouco antes, quando eu fui tocar na banda de apoio do cantor, Tato Fischer, em 1979, na verdade eu já estava seguro e com um nível técnico mínimo necessário para considerar-me um músico profissional, mas no Terra no Asfalto, ganhei ainda mais desenvoltura e cancha de palco (apesar da banda ter atuado predominantemente circunscrita aos palcos de pequenas casas noturnas).

O segundo ponto também, é motivo de orgulho. Mesmo por ter sido uma banda irregular, com diversas idas e vindas em sua formação e trajetória, o Terra no Asfalto teve em suas fileiras, grandes músicos. Não é toda banda cover que pode orgulhar-se dessa forma por ter tido tantos músicos tão bons assim na sua formação ao longo da sua história. 

O terceiro ponto são as histórias acumuladas. Algumas engraçadas, outras desagradáveis, mas no cômputo geral, quando uma banda, mesmo sendo apenas uma banda cover, reúne um repertório significativo de ocorrências, com boas histórias vividas em sua carreira, é sinal de que foi prolífica. 

O seu início foi marcado pelo puro improviso.

A maneira com a qual foi formada, mostrou-se inusitada, com praticamente uma fusão feitas às pressas. Aquele primeiro show de 1979, que gerou a semente inicial, foi de uma imprudência total, mas provou também que houvera uma "química" entre aqueles músicos arregimentados às pressas, e de fato, aquele aglomerado de músicos unidos de uma forma tão inesperada, gerou a formação de uma ótima banda. 

A entrada do Fernando "Mu", trouxe um élan. Foi o meu primeiro contato com um guitarrista de altíssimo nível, e embora muito genioso, e difícil para se lidar como Ser Humano, foi a oportunidade para ter a minha primeira sensação de estar a fazer parte de uma banda com comprometimento Rocker, e nível técnico compatível com essa pretensão. 

Não levo em conta o trio-base do Tato Fischer, nesse mesmo sentido, pois ali eu também estava a tocar com músicos de um nível mais alto do que o meu na ocasião, principalmente o Sérgio Henriques, mas ali não foi exatamente uma banda de Rock.

O crescimento da banda, ao movimentar público nos primeiros bares, e posterior oportunidade para tocar em bares mais categorizados, foi bonito, apesar de ser meramente o trabalho de uma banda cover. Os momentos difíceis do meio do ano de 1980, não amarguraram-me, pois eu estava a todo vapor a tocar nos primórdios do Língua de Trapo, e a fazer vários trabalhos paralelos. E convenhamos, com dezenove para vinte anos de idade, as dificuldades da vida nem são sentidas, inteiramente.

A volta do Terra no Asfalto, ao final de 1980, coroou a trajetória da banda, por oferecer-lhe a sua melhor fase, com regularidade, foram várias apresentações memoráveis, e um resultado financeiro arrecadado, providencial.

Na foto recortada acima, eis a minha própria persona (Luiz Domingues), a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido

Banda cover não é, nem nunca foi o meu objetivo de vida, contudo, recordo-me com carinho de várias ocasiões onde o Terra no Asfalto tocou para públicos entusiasmados, e arrancou aplausos e gritos. Não era o nosso som autoral, e sim o sucesso fácil da criação alheia e consagrada, mas ficou a lembrança de uma banda azeitada, e com recursos técnicos, muito bons.

Após a parada forçada no meio de 1981, a banda perdeu o fôlego e nunca mais alcançou esse patamar máximo que conseguíramos anteriormente. Entre muitos percalços, finais e recomeços, estendemos a sobrevida do Terra no Asfalto até ele proporcionar-me uma oportunidade de vida, enfim, quando nos seus estertores, eu conheci o Rubens Gióia e finalmente montei a minha banda de Rock autoral, sonho perseguido desde 1976 e que o caráter infantojuvenil do Boca do Céu, não permitira-me realizar. Posso afirmar sem medo de errar, que o Terra no Asfalto foi a semente primordial do nascimento d'A Chave do Sol.
E para falar sobre os seus membros agora, devo esclarecer que recentemente, graças ao Facebook, restabeleci contato com o excelente guitarrista, Aru Junior. No dia 2 de maio de 2012, passei uma prazerosa tarde na sua residência, convidado para um café.
Nessa visita, relembramos diversos fatos sobre o Terra no Asfalto e trocamos informações sobre o paradeiro de diversos membros e agregados da banda. Alguns fatos revelaram-se surpreendentes, e outras tristes, os quais registrarei agora nesse trecho final sobre o capítulo do Terra no Asfalto.


Agregados do Terra no Asfalto:
Edmundo Gusso, baterista & percussionista, Rocker inveterado, amigo, anfitrião e incentivador da nossa banda, em foto bem mais atual

Esqueci-me da maioria dos nomes das pessoas que formavam aquela trupe de amigos freaks que a banda colecionou ao longo de sua trajetória. Lembro-me mais vivamente do Edmundo Gusso, que além de ser o mais assíduo, manteve contato nos anos posteriores e teve uma participação discreta como músico convidado da banda em dada ocasião, comentada em capítulo anterior.
Ótimo baixista e produtor musical, Ney Haddad em foto dos anos noventa, na sala técnica de seu estúdio, "Quorum", em São Paulo 

Houve o Ney Haddad, então quase adolescente e depois disso, há muitos anos, consolidado como um baixista muito tarimbado. Ele é dono do estúdio Quorum, e toca no "Mobilis Stabilis". Interagimos bastante nos anos noventa, quando as nossas respectivas bandas nessa década, Pitbulls on Crack e Neanderthal, dividiram muitos camarins e uma coletânea lançada pela gravadora Eldorado.

Um outro amigo, foi o "Catito", um freak completamente louco, que tinha uma Kombi e muitas vezes auxiliou-nos com transporte. Um outro rapaz, que chamava-se, Sérgio, era irmão de um dos músicos da banda experimental, "Uakti". Roatã Duprat, também merece a menção, certamente como amigo que acompanhou e ajudou a banda. 
Na primeira foto, Wagner "Sabbath" e na segunda, o poeta, Julio Revoredo. Fotos do acervo de Julio Revoredo (agradeço pela cortesia!)
 
Registro aqui como forma carinhosa e honorária, mas que na verdade não foi membro, tampouco um agregado direto da banda, o Wagner "Sabbath", que foi um rapaz que apareceu com frequência nas apresentações da nossa banda e insistia com viva tenacidade para ter participações forçadas com a banda. Ele queria cantar e tocar guitarra, a todo custo. A sua insistência mostrava-se tão grande, que um dia deixamos que ele se apresentasse sozinho à guitarra, no intervalo de uma apresentação nossa, no Bar 790. Ele trouxe consigo o poeta, Julio Revoredo, seu amigo de longa data em algumas apresentações do Terra no Asfalto e que posteriormente, passou a acompanhar a carreira d'A Chave do Sol, e daí, este veio a tornar-se o nosso parceiro letrista em várias composições. E claro...Wagner continuaria a pedir para cantar com A Chave do Sol, e sonhara em vir a ser nosso vocalista. No capítulo sobre A Chave do Sol, eu tenho boas histórias dele.
 
Um amigo do Paulo Eugênio, chamado: Pérsio, tinha equipamento que alugava para bandas de baile, principalmente. Muitas vezes ele socorreu-nos, ao alugar-nos mini PA's, microfones e pedestais. Mantive contato com ele, e no tempo posterior com A Chave do Sol, nós alugamos o seu PA de grande proporção para dois shows, em 1983 e 1984, respectivamente. Houve mais uns cinco ou seis agregados desses, cujos nomes apagaram-se da minha memória, infelizmente.

E as namoradas & esposas dos membros: Consuelo, Maria Helena, Celina Silva, Mary Ellen, Virgínia, Lilian e Bruna, que eu lembro-me e outras, as quais fico a dever os seus nomes.

Falo agora dos músicos com pequenas passagens pela banda:

Edmundo Gusso
A residência do Edmundo Gusso, no bairro das Perdizes, zona oeste de São Paulo, onde o Terra no Asfalto fez os seus primeiros ensaios, ainda em dezembro de 1979  

O Edmundo Gusso, amigo fiel do Paulo Eugênio e que foi o primeiro benfeitor da banda, ao emprestar a sua residência para os nossos primeiros ensaios, tocou percussão em uma apresentação do Terra no Asfalto, na cidade de Campinas-SP, na Escola de Idiomas, Cultura Inglesa. Apesar dessa efêmera participação como músico, ele foi testemunha assídua de toda a carreira da banda. E por ser um amigo que eu tinha boas referências, foi o primeiro em quem pensei quando quis recrutar um baterista para A Chave do Sol. 
 
Esse episódio já foi registrado no capítulo sobre "A Chave do Sol". Edmundo Gusso compareceu a vários shows da Patrulha do Espaço e do Pedra, nos anos 2000, quando conversamos, além de encontros fortuitos pelas ruas.
 
Catalau
Catalau em foto de sua época de ouro com o Golpe de Estado, nos anos oitenta 

O Catalau não chegou a tocar ao vivo conosco, nem como uma breve participação, mas foi cogitado para ser guitarrista & vocalista do Terra no Asfalto, em meados de 1980. Ele fez poucos ensaios acústicos, mas a sua participação na banda não concretizou-se. 
 
Encontrei-o em 1983, a tocar com o "Fickle Pickle" e a partir de 1985, ele brilhou no Golpe de Estado, até afastar-se dessa banda em em meados dos anos 1990 e dar uma guinada na sua vida, ao tornar-se um pastor evangélico e cantor gospel. Convivi bastante com ele entre 1983 e 1990, mas depois que deixou o Golpe de Estado e tornou-se evangélico, a última vez que nos falamos, foi no camarim do Sesc Pompeia, em 2003, quando dividimos um show coletivo com a Patrulha do Espaço, onde eu estava a atuar, além do cantor, Serguei.

Tato Fischer
                        Tato Fischer, em foto bem mais atual

Também efêmera, porém produtiva, foi a passagem meteórica de Tato Fischer pelo Terra no Asfalto. A sua melhor colaboração, foi na primeira edição da apresentação na Escola de Idiomas, Cultura Inglesa, em 1980. Ele também teve uma participação em uma apresentação acústica e bem improvisada, e nada mais. Falei sobre o Tato com detalhes no capítulo sobre os Trabalhos Avulsos. Nunca mais tive contato com ele, depois dessa sua participação com o Terra no Asfalto, apesar de estarmos conectados pela rede social, Facebook.
Rubens Gióia
O lendário guitarrista, Rubens Gióia, em foto bem mais atual, de 2014, aproximadamente

Embora a sua participação tenha limitado-se a três ou quatro ensaios acústicos e reuniões para a escolha de repertório, claro que merece a citação. Ou seja, Rubens não teve de fato uma história com o Terra no Asfalto, mas ao mesmo tempo, esse contato supostamente fugaz, foi fundamental para delinear o início da história d'A Chave do Sol. Dispensa comentários aqui, pois é personagem fixo e vital no capítulo sobre "A Chave do Sol".

Maurício "Pardal"
Na falta de alguma foto do Maurício, fico com essa representação simbólica de sua passagem meteórica pela banda e a sua "saída pela direita", ao estilo do grande, "Leão da Montanha"...
 
Esse músico mal esquentou o banco de baterista, pois foram somente quatro apresentações com a sua atuação. A banda estava desfigurada em 1982, e não esboçava reação para evitar esse fim presumível, quando ele, ao sentir o clima decadente, saiu pela tangente, até a ironizar a situação, conforme eu já relatei. Pouco tenho noção sobre a carreira do "Pardal" antes e depois de sua passagem meteórica pelo Terra no Asfalto. Sei apenas que era um músico com extrema qualidade técnica, mas desconheço sua trajetória para citá-la aqui. Nunca mais tive notícias suas, após 1982.

Luis "Bola"
Uma bateria Tama com dois bumbos, dois surdos, vários tons e uma "prataria" vasta, era para poucos no início dos anos oitenta. Assim era o Kit de Luis "Bola", quando ele tocou com o Terra no Asfalto

O Luis “Bola” foi baterista duas vezes do Terra no Asfalto, mas na realidade, tocou muito pouco. Deu azar de entrar em momentos de baixa, com agenda pequena, ou em fase de reformulação da banda. 
 
Ele era um rapaz determinado e de bom astral. Bom baterista, camarada e com disposição para trabalhar. Ajudou-me a ganhar dinheiro, ao convidar-me para participar de um show para acompanhar uma cantora popularesca (relatado amplamente no capítulo: "Trabalhos Avulsos"). 
 
Passei muitas horas prazerosas em sua casa, a ouvir discos de sua coleção gigantesca de vinis. Era fanático pelo Frank Zappa e foi nessa fase onde eu também acabei mais a escutar a obra do mestre, Zappa. Depois do Terra no Asfalto, encontrei o Bola em 1984, quando ele levava a esposa para uma consulta pré-natal. Não lembro-me se era a primeira ou segunda filha do casal, que estavam a esperar. Só lembro que foi repentino e muito rápido, pois ocorreu em um dia chuvoso e ele limitou-se a cumprimentar-me, pois estava preocupado em amparar a esposa grávida, em meio à chuva. E foi a última vez em que o vi ou tive alguma notícia sua.

Edson "Kiko"
O verdadeiro interesse musical do Edson "Kiko", era pela dita "World Music", que tem tudo a ver com música étnica, Folk Music & afins 

O Edson foi um rapaz que eu indiquei para a banda em um momento onde o Cido Trindade deixou-nos desamparados, subitamente. Admirei muito a sua boa vontade em esforçar-se para dominar um universo musical do qual não fazia parte, pois não acompanhava o Rock e gostava mesmo era de música étnica, jazz etc. 
 
Ele foi muito generoso, ao ceder a sua residência localizada no bairro do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo, para ensaios super confortáveis. O cômodo de ensaios era imenso e mesmo na ausência de vedação, tocávamos sossegados, sem problemas com a vizinhança. Era um bom músico e só ficava um pouco deslocado no nosso contexto mais Rock, mas deu conta do recado. 
 
A saída dele foi lamentável, ainda que a obedecer uma resolução que privilegiava o melhor para a banda naquele instante, supostamente. Fiquei bem chateado, ao sentir-me maculado, eticamente a expressar. Já pedi minhas desculpas para ele anteriormente e reitero-as aqui. 
 
Soube de uma notícia dele, na metade dos anos oitenta, ao dar conta de que estava a apresentar-se com uma banda de estilo, “World Music”, com tendências africanas. Fiquei contente por saber disso, pois era o seu desejo artístico. E isso foi a última informação que soube a seu respeito.

A Falar agora dos componentes mais regulares da formação do Terra no Asfalto...

Fernando Guimarães Vasconcelos/“Mu”
 
Na primeira foto, se trata de um recorte possível de uma foto coletiva em que o Mu estava inserido, daí a impossibilidade da sua feição estar retratada com clareza e eu sinto muito por não haver uma foto sequer dele, com melhor qualidade. Sobre a simbologia do cachimbo, foi assim eu conheci o Fernando "Mu", sob uma tarde quente de verão, em janeiro de 1980, a usar tal artefato e com uma guitarra Gibson Les Paul, Junior, nas suas costas, carregada tal como o Juca Chaves o faria... 

Eu tinha uma versão um pouco distorcida sobre a morte do Fernando "Mu". O Rolando Castello Júnior, baterista da Patrulha do Espaço, havia contado-me que o Mu fora assassinado no Largo 13 de Maio, centro do bairro de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, por um traficante de drogas. Foi quase isso, na verdade. 
 
Segundo apurei com o Aru Junior, em visita à sua residência (encontro ocorrido em 2 de maio de 2012), o Mu foi mesmo assassinado, mas em uma padaria próxima à famosa estátua do Borba Gato, na Av. Santo Amaro e alguns quarteirões distante do Largo 13 de maio, portanto. 
 
Foi de fato um traficante de drogas a cobrar acerto de contas, mas o devedor não era o Mu! O sujeito "jurado de morte" estava a tomar cerveja com o Mu, em uma madrugada de domingo para segunda-feira. Um carro com quatro bandidos chegou, abordou o rapaz em questão e o Mu, de forma imprudente, tentou amenizar a situação do seu amigo, a argumentar com os bandidos. 
 
Dessa forma, o elemento visado safou-se ao aproveitar a confusão armada, mas os bandidos não tiveram dó e assassinaram o Mu, de uma forma fria e muito cruel. Segundo o Aru, foram três tiros a queima roupa, na cabeça. E o Aru chegou a ser avisado a tempo de comparecer ao velório. Isso ocorreu em 1997 e não em 1995, como eu supunha anteriormente. 
Elenco e músicos da peça "Calabar", montagem de 1980. O Fernando "Mu" é o último em pé, na fileira mais alta, da esquerda para a direita, a usar jaqueta jeans, clara

O Mu saiu do Terra no Asfalto em 1980, com uma grande chance, mas infelizmente não a aproveitou. Por não firmar-se no elenco da peça teatral, "Calabar", ele perdeu oportunidades de ouro para infiltrar-se no mundo da MPB, mainstream. 
 
Nos primórdios da formação d'A Chave do Sol, ele apareceu fortuitamente em uma tarde no Café Teatro Deixa Falar (em 1982), e presenciou um ensaio nosso, rapidamente. 
 
Lembro-me por vê-lo a atuar em uma banda de Rock Progressivo, de muita categoria (com o tecladista & guitarrista Fernando Costa na formação), a apresentar-se no programa: "A Fábrica do Som", da TV Cultura de São Paulo, em 1984. Mas infelizmente era o som errado, na época errada. Soube, anos depois, pelo amigo em comum, Edmundo Gusso, que ele gravara um álbum com a "bandazul" entre 1986 e 1987.
Fernando Guimarães Vasconcelos, o popular "Mu", nesta foto a tocar violino. Recorte do encarte de um álbum da "Bandazul", lançado entre 1986 e 1987. Acervo e cortesia: Edmundo Gusso
 
Depois disso, só fui saber mesmo de seu falecimento por motivo violento, muitos anos depois. O Mu chamava-se, Fernando, mas ninguém que o conhecia no meio, chamava-o assim. E no curtíssimo tempo em que foi membro do Terra no Asfalto, ele ingressou em nossa banda e chegou a impor-se como líder. Tinha uma postura altiva, era temperamental, mas eu sabia que por baixo dessa característica como um “outsider” durão, havia um rapaz com bons propósitos. 
 
Como músico, ele foi excepcional. Um dos melhores com quem já toquei, apesar do tão pouco tempo em que trabalhamos juntos. A sua segurança era enorme. Os seus solos eram infernais, a sua interpretação como cantor era intensa e a sua postura de palco foi a de um grande artista. 
 
Infelizmente, ele não teve a oportunidade para ser reconhecido como o grande artista que era e a sua carreira foi calcada na absoluta obscuridade do mundo underground, de onde jamais conseguiu libertar-se. Eu sinto muito que um talento desses tenha ficado circunscrito à última divisão da música, a tocar para públicos diminutos e formado por incautos em sua maioria, que nem percebiam o seu talento. 
 
E um outro fator que eu admirava nele, foi o élan Rocker. Ele tinha o Rock nos seus poros, como uma marca de nascença, que poucos possuem. Que esteja bem acompanhado, na presença de Jimi Hendrix, "lá do outro lado"...

Sérgio Henriques
Sérgio Henriques aos teclados, atrás de César Camargo Mariano, e Elis Regina, que agradecem os aplausos do público.

Eu o conheci quando o Cido Trindade levou-me para a banda de apoio de Tato Fischer, em meados de outubro de 1979. Músico de sólida formação teórica, era (é) um excelente tecladista, a moda antiga, daqueles bem setentistas e "piloto" de vários tipos de teclados. 
 
Tremenda figura do bem, era calmo, e muito zen naquela época em que convivemos. Depois de 1982 com o Terra no Asfalto, encontramo-nos nos bastidores de uma edição do programa, "A Fábrica do Som", em 1983, onde eu atuei com A Chave do Sol, e ele, com o "Premeditando o Breque". 
 
E muitas vezes o assisti ao vivo na TV, a acompanhar feras da MPB tais como Jorge Benjor ou Pepeu Gomes. Assim como encontramo-nos fortuitamente na rua, nos anos 1990 e 2000, várias vezes
 
Com o Terra no Asfalto, ele teve várias participações picotadas, mas o motivo de sua ausência fora perfeitamente compreensível. Depois que foi tocar com César Camargo Mariano, na banda de apoio de Elis Regina, o mundo dos astros da MPB mainstream, abriu-se para ele, e daí, foram várias participações como tecladista side-man para acompanhar artistas consagrados. 
 
Ele tocou em duas turnês da Elis Regina ("Saudade do Brasil" e "Trem Azul"), com Rita Lee, tocou na turnê do LP "Lança Perfume". Depois emendou trabalho autoral com o Premeditando o Breque, banda contemporânea do Língua de Trapo e inserida no movimento "Vanguarda Paulista", do início dos anos oitenta. 
 
E a seguir, ficou um bom tempo com Jorge Benjor e também com Pepeu Gomes. Atualmente (2016), vejo-o sempre a caminhar pelas ruas próximas à minha, ao levar os seus cachorros para passear. Soube que casou-se com outra mulher após separar-se da Celina Silva e tem uma filha já adulta.

Cido Trindade
Na primeira foto, a persona de Cido Trindade em ação com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido. Já na segunda, não era essa exatamente a bateria do Cido Trindade, mas esta da foto é idêntica. Trata-se de uma bateria da marca nacional, "Pinguim", imitação da norte-americana, "Ludwig", modelo perolada/"sparkle", dos anos setenta.

Sobre o Cido Trindade, depois que ele saiu em definitivo do Terra no asfalto, em 1982, nunca mais tocamos juntos. Nessa época, ele já estava a morar com a sua namorada, chamada, Maria Helena, e eu só fui vê-lo novamente ao final de 1983, quando eu estava com A Chave do Sol em fase de começar a popularizar-se e simultaneamente de volta ao Língua de Trapo, em minha segunda passagem por essa banda e esta havia dado um salto vertiginoso na carreira, a usufruir de um pleno pico de sucesso. 
 
Lembro-me dele e de sua esposa a assistir um show do Língua de Trapo no Teatro Lira Paulistana, onde demonstrou felicidade por ver que eu e Laert, que ele conhecera também desde o tempo do Boca do Céu, sob uma situação de ascensão na carreira. 
 
Depois disso, soube apenas que o casal mudara-se para Barcelona e lá tiveram um filho. Cido Trindade envolveu-se com música erudita e soube que estava a atuar como membro de uma orquestra. 
 
Recentemente, um primo meu (Marco Turci), que era amigo dele nos anos setenta (e que aliás foi quem apresentou-nos em 1977, a iniciar a nossa amizade), disse-me que ele, Cido, tem um disco gravado com música experimental, lançado na Europa, por um selo norueguês. Não sei, entretanto, se trata-se de um disco solo, se é de uma orquestra ou uma banda. 
 
O Cido Trindade é bastante citado na minha autobiografia em três capítulos: Boca do Céu, Trabalhos Avulsos e Terra no Asfalto. Foi um bom amigo nos primórdios do Boca do Céu, a minha primeira banda e da qual ele acompanhou de perto e até atuou como convidado em uma apresentação, certa vez em 1978. 
 
Ele deu-me o primeiro empurrão na carreira, ao tirar-me da condição de um reles aspirante a artista/músico, para algo sob um patamar acima, ao chamar-me para integrar a banda de apoio do cantor, Tato Fischer. Dessa banda, surgiu o "Terra no Asfalto" e além disso, chamou-me também para outros trabalhos paralelos e mesmo não tendo mais contato comigo, sou-lhe muito grato por essa ajuda e boa amizade naquela época em que convivemos, entre 1977 e 1982.

Geraldo “Gereba”
Pela talento nato que possuía, o Gereba merecia muito mais, mas infelizmente, a sua curta carreira como guitarrista foi vivida a tocar com uma guitarra de má qualidade técnica, caso da "Rei", uma marca nacional simplória e que copiava o design de algumas guitarras da Fender norte-americana, caso dos modelos "Jazz Master", "Mustang" e "Jaguar", mas de uma forma grotesca, infelizmente...

Nunca mais vi o Geraldo "Gereba", depois da frustrada tentativa em reativar o Terra no Asfalto, na metade de 1982. Sei apenas que ele faleceu anos depois, por conta de uma cirrose. 
 
Não tenho essa confirmação oficial sobre a época do ocorrido, nem onde foi a sua passagem. O que posso dizer para ilustrar sobre ele, acredito já ter expresso amplamente no capítulo inteiro, sempre que referi-me à sua figura.
 
Para reforçar, Gereba foi um talento bruto, sem nenhuma instrução musical. Era puro ouvido e “feeling”. O seu estilo era brasileiro, e o seu ídolo máximo era o Pepeu Gomes, de quem copiou todos os solos à perfeição. 
 
E tal como Pepeu na época dos Novos Baianos, o Gereba tocava sem nenhuma estrutura digna de seu talento. Usava uma guitarra da obscura marca, "Rei", péssima, e nunca teve uma guitarra importada com qualidade. 
 
Um outro ídolo que ele teve, foi o guitarrista do grupo, “Ten Years After”, o britânico, Alvin Lee. Mesmo sem entender uma só palavra de inglês, ele adorava o Ten Years After e sabia tocar muitas músicas, a reproduzir o som do Alvin Lee, de uma forma muito emocionante. 
 
Como Ser Humano, o Gereba era um bom rapaz. Sujeito simples e alegre o tempo todo. Era, guardadas as devidas proporções, uma espécie de "Garrincha" do Terra no Asfalto. Prosaico e ingênuo em certos aspectos, porém um monstro pela criatividade e desenvoltura à guitarra, tal como o jogador das pernas tortas o foi para o futebol.

Wilson Canalonga Jr. ("Wilsinho")
 
Na primeira foto, Wilson em foto bem mais atual a atuar ao vivo pelo nordeste. O Wilson usou no Terra no Asfalto, um modelo de guitarra exatamente como esse da foto, acima. Tratava-se de uma guitarra da marca, Giannini, modelo "Pingo de Ouro", preta como a da foto. Era uma guitarra que a Giannini lançara no mercado ao final dos anos setenta, como réplica da guitarra britânica, "Vox", modelo "Tear Drop", imortalizada pelo saudoso guitarrista dos Rolling Stones, Brian Jones, nos anos sessenta, que a usou bastante. Mas aqui no Brasil, esse modelo da Giannini também era conhecido como "Guitarra Craviola" ou "Pingo de Ouro"
 
Quando deixou o Terra no Asfalto, início de 1982, o Wilson já estava imbuído de um objetivo pessoal: estudar música. E de fato, ele se matriculou no "Clam", a famosa escola dirigida pelos componentes do Zimbo Trio. 
 
Naquela escola, que era excelente pela sólida pedagogia baseada em cursos norte-americanos, a mentalidade era excessivamente jazzística. Nada contra, mas quem entrava naquela egrégora, tendia a afastar-se do Rock, ao criar paradigmas e preconceitos.  
 
Encontrei com ele em 1983, mais ou menos e verifiquei que a sua mentalidade já estava diferente, só a citar as feras do Jazz, etc. e tal. Depois disso, fiquei muitos anos sem notícias, até que o Edmundo, nosso amigo em comum, contou-me em 2000, quando esteve presente em um show da Patrulha do Espaço, que o Wilson havia mudado-se para o nordeste, há muitos anos, e havia desenvolvido uma técnica enorme na guitarra, a tocar Jazz, e nem queria saber mais do Rock.  
 
Em conversa que tive com o Aru, ele passou-me mais informações, para enriquecer esta narrativa. Foi quando eu soube por exemplo, que ele, Wilson, estava a morar no Recife e teve outra filha. E indo além, soube também que no início dos anos noventa, ele chegou a formar uma banda orientada pelo Rock Progressivo setentista, com o próprio Aru Junior, denominada: "Nave". Após alguns desentendimentos, o "Nave" foi conduzido adiante pelo vocalista, Roger Troyan, ex-“Yessongs” (banda cover do Yes, cujo guitarrista fora o Aru Junior).
 
Essa circunstância não foi muito agradável, segundo o Aru contou-me, com discórdia sobre o nome da banda, sendo que o fundador e criador do nome, fora o próprio, Aru. Mas o Wilson mudou-se para Recife e a sua predileção era mesmo, atualmente, e desde muito tempo, o Jazz. Ele continua casado com a Consuelo, que no tempo do Terra no Asfalto, era uma adolescente bem novinha, apenas.
Paulo Eugênio tinha razão, Wilsinho tinha traços faciais bem parecidos com o Paul McCartney
 
A falar do Wilsinho que eu conheci ao final de 1979, ele era um guitarrista iniciante, mas com muita vontade de desenvolver-se ao máximo, na guitarra. Se nos solos e harmonizações, ainda não era o grande músico que viria a ser depois, a sua participação como guitarrista base, violonista e backing vocals do Terra no Asfalto, sempre foi muito importante. 
 
No quesito humano, era um rapaz tranquilo, gentil e sempre disposto a ajudar as pessoas. Fanático pelos Beatles, tinha bastante semelhança fisionômica com o Paul McCartney e nas apresentações, o Paulo Eugênio brincou muitas vezes com ele, ao chamar a atenção do público para esse detalhe. 
 
Em 2012, acrescento que através do Aru Junior, o guitarrista, Wilson Canalonga Junior, descobriu o meu endereço no Facebook e adicionou-me. Fiquei muito feliz com essa solicitação de amizade, e claro que o aceitei imediatamente e dessa maneira fui direto ao seu “inbox”, e escrevi-lhe uma longa saudação, onde expliquei-lhe a minha determinação de estar a escrever as minhas memórias, e que havia um capítulo exclusivo para contar a trajetória do Terra no Asfalto. 
Na foto recortada acima, a persona de Wilson Canalonga Junior a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido
 
Para encerrar, eu reforço o meu agradecimento ao Wilson, pelo companheirismo que tivemos entre 1979 e 1982, quando atuamos juntos no Terra no Asfalto.

Aru Júnior
          O grande guitarrista, Aru Junior, em foto bem mais atual

Em maio de 2012, fui visitar o Aru Junior em sua residência, onde passamos horas a falar sobre as nossas lembranças do Terra no Asfalto. Muitas informações novas foram-me passadas desde essa visita e ajudaram-me a encerrar esse capítulo do Terra no Asfalto, com maior riqueza de detalhes. 
 
O Aru Junior foi o membro dessa banda, em que tive mais contato depois do final da banda. Lembro-me em 1988, quando convidou-me a conhecer a sua casa na ocasião, onde ele mantinha um estúdio de ensaios. Nessa época, ele estava casado com uma cantora chamada: Dadá Cyrino, que também fora apresentadora da TV Cultura de São Paulo, onde chegou a apresentar A Chave, na fase "sem Sol" (conto essa história no capítulo adequado). 
 
Ele cogitava nessa ocasião, montar uma banda autoral e chegou a convidar-me para conhecer o trabalho, mas eu estava com A Chave e não pude comprometer-me na ocasião. A sua esposa na época, estava para lançar-se no mercado fonográfico hispânico, com um repertório Pop latino e talvez sobrasse oportunidade para ser side-man em sua banda de apoio. 
 
Mas não frutificou tal proposta, apesar do casal ter ido assistir um show d'A Chave, no Black Jack Bar nesse ano, 1988. Anos depois, o Aru Junior apareceu em um show da Patrulha do Espaço, no Centro Cultural São Paulo (em 2000, para ser preciso). 
 
Ele conhecia o Rolando Castello Júnior desde os anos setenta, pelo fato do Júnior ter namorado a sua irmã, Ruth. Em retribuição, eu fui assistir a apresentação da banda: “Yessongs”, cover do "Yes", no Café Piu-Piu do bairro do Bexiga, dias depois. Fiquei contente por vê-lo a tocar e cantar em grande estilo, o repertório complexo do Yes e com perfeição, ainda mais ao contar com o excelente baixista, Gerson Tatini (Ex-Moto Perpétuo), na formação e sem dúvida, este músico é o maior especialista em executar as linhas do Chris Squire, no Brasil. 
 
Em 2011, quando eu comecei a tocar com o Kim Kehl e Os Kurandeiros, o baterista, Carlinhos Machado contou-me sobre a entrada do Aru na banda de apoio do ex-Secos & Molhados, Gerson Conrad, onde ele foi baterista por muitos anos. 
 
Fiquei muito contente por saber dele, quando decorrente desse contato, rapidamente adicionamo-nos no Facebook, e agora o contato está sacramentado, pois além do mais, moramos no mesmo bairro.
Bem parecida com essa, assim era a Gibson SG do Aru Junior, que tantos solos sob alto padrão produziu para o Terra no Asfalto 

E outras duas curiosidades que ele contou-me na tarde de 2 de maio de 2012: a primeira, foi relatada quando eu falei sobre o Fernando Mu, nestas considerações finais. 
 
A segunda, diz respeito à própria família dele, Aru Junior, e surpreendeu-me, pelo caráter inusitado da coincidência, ao melhor estilo "mundo pequeno". 
 
Pois no capítulo: "Trabalhos Avulsos" da minha autobiografia, eu relatei a formação de um trio instrumental onde atuariam eu, Cido Trindade e o cunhado dele, Aru, um rapaz chamado: Luis, um guitarrista com estilo bastante jazzístico. 
 
Pois bem, quando perguntei dele (o cunhado, Luis), fui informado que a sua segunda filha, sobrinha do Aru, era estrela no mundo do Indie Rock internacional... como assim? Pois tal sobrinha do Aru chama-se: Luiza e foi guitarrista da banda indie: "Cansei de Ser Sexy". Inacreditável mundo pequeno! Quando o Terra no Asfalto estava na ativa, lembro-me do nascimento da primeira filha do casal, Luis & Ruth, chamada: Diana. A Luiza nasceu depois, cresceu, tornou-se guitarrista, e fez turnês de cunho mundial com a sua banda, veja que curioso.
Na foto recortada acima, a persona de Aru Junior a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido
 
Bem, para falar sobre o Aru, especificamente, tenho a dizer que trata-se de um músico com sólida formação teórica. É multi-instrumentista, pois toca bem piano e estudou violoncelo em uma universidade norte-americana. 
 
Como guitarrista, ele é excepcional e o seu estilo transita entre Steve Howe e Jimmy Page em doses maciças e com pitadas generosas de George Harrison nessa receita. Bom vocalista e com talento como arranjador, quando entrou na banda, tornou-a segura, toda arrumadinha tal como uma orquestra. 
 
Se por um lado perdemos o ímpeto dos primeiros tempos com a espontaneidade do Gereba e a rebeldia Rocker do Mu, com o Aru, transformamo-nos em uma orquestra bem ensaiada e muito segura.
 
Aprendi muita coisa com ele, que era bem mais experiente. Mas uma lição que eu aprendi com ele e reputo ter mudado a minha vida, nem tem a ver com teoria musical e diz respeito à mise-en-scène: ele insistia para que todos os músicos da banda fizéssemos movimentos com o instrumento, pois segundo dizia: -"o público leigo não entende de música em sua maioria. O sujeito do público olha e não sabe discernir se você toca bem ou mal. Mas se você agitar-se freneticamente, o convencerá que você é ótimo". 
 
Nunca mais esqueci-me dessa dica, e a partir do nascimento d'A Chave do Sol, adotei uma performance de palco a mais frenética possível, impressionado com essa orientação. Com isso, eu despertei a atenção de fãs e jornalistas, o que gerou uma aura sobre a minha carreira, ao superestimarem-me como músico. Muito do que construí na minha carreira, foi graças a essa postura cênica adotada e decorrência da valiosa dica do Aru Junior.
 
E sou-lhe eternamente grato por ter tido o cuidado em escolher a dedo um baixo com extrema qualidade, na América do Norte, que acompanha-me até hoje, gravou todos os discos da minha carreira e aparece em dúzias de vídeos e fotos das bandas onde atuei. Realmente foi uma escolha preciosa, pois esse baixo é mesmo demais como instrumento e foi o meu primeiro baixo com alto nível que tive, após anos a tocar em instrumentos de segunda e terceira linha. 
 
Esse é Aru Junior, um verdadeiro maestro, com uma vivência enorme na música, além do talento e alta capacidade técnica. Vá assisti-lo nos shows do Gerson Conrad, onde é seu guitarrista, e comprove!
 
Paulo Eugênio Lima
Na primeira foto, eis a persona de Paulo Eugênio Lima a atuar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido. Na segunda foto, eis uma Brasília preta bem parecida com a do Paulo Eugênio. Considero tal carro emblemático na história dessa banda, ao ponto de sempre que venho a pensar nesse carro, despertar-me lembranças desse trabalho e dos companheiros que nele militaram comigo
 
Depois que fizemos a reunião final de acerto das contas sobre o espólio do equipamento, em 1983, nunca mais eu tive contato algum com o Paulo Eugênio Lima. Em visita que fiz à casa do guitarrista Aru, tive enfim uma péssima notícia ao seu respeito.
 
Fui informado que ele faleceu há cerca de cinco ou seis anos atrás (sob a perspectiva de 2016, deve ter sido em 2009 ou 2010, o Aru também não sabia essa informação com precisão). Segundo ele disse-me, o Paulo Eugênio faleceu em uma mesa de cirurgia de hospital. Não sabemos se foi em decorrência de uma doença, ou se sofreu um acidente, ou mesmo se ainda fora vítima de alguma violência urbana, enfim. 
 
Paulo Eugênio Lima era um bom cantor, sem dúvida. Mesmo sem instrução teórica, ele tinha noções boas de afinação, pulso, ritmo, andamento, emissão, respiração, enfim, o be-a-bá do vocalista profissional. 
 
Era também um bom percussionista, muitas vezes a ajudar-nos com as suas intervenções rítmicas, e assim trazer balanço à banda. Tinha boa dicção e cantava bem em inglês, com pronúncia bastante aceitável. 
 
A sua performance de palco era boa, com desinibição e comunicava-se bem com o público, muito respaldado por ter sido guia de excursões à Disney World. Ele sabia conduzir o público e tinha um carisma inegável. 
 
Lamento muito que já tenha partido, por considerar que era pouca coisa mais velho do que eu, e hoje talvez estivesse na casa dos cinquenta e poucos anos, de onde concluo que faleceu muito jovem. 
 
O Paulo foi uma personalidade aglutinadora para a banda. Sempre foi o dínamo nesse sentido, ao tomar a dianteira para promover as reformulações necessárias na parte interna da banda, além de ser o “business man”, pois todos os contatos de nossas apresentações, foram fruto de seus esforços, não como empresário, eu diria, mas como relações públicas, sem dúvida, pois ele tinha esse dom natural em sua personalidade, por envolver-se com as pessoas, mediante o seu forte poder de persuasão. 
 
A "Brasília preta" que ele possuía, foi emblemática, pois representou o "Pauloeugêniomovel" oficial e assim, é praticamente um símbolo do Terra no Asfalto, naqueles três anos em que convivemos e trabalhamos pelos bares de São Paulo. Que esteja bem lá no céu, a cantar com o Mu e o Gereba, talvez em uma nova fase da banda, agora chamada: “Céu no Asfalto”

Último capítulo desta parte importante de minha trajetória musical. Como eu já deixei claro ao longo de toda a narrativa, o Terra no Asfalto foi mais que um "ganha-pão", em um momento em que foram cruciais dois aspectos para a minha vida e trajetória de carreira:
 
1) Ganhar dinheiro.
2) Autoafirmação como músico profissional.

Ao ir além, foi um verdadeiro curso intensivo que eu fiz, por oferecer-me experiência musical, destreza ao instrumento, segurança, postura de palco e convívio com músicos de alto nível. 
 
Infelizmente, além da narrativa desta autobiografia, praticamente não existe material da banda. Por tratar-se de uma banda cover, nunca cogitamos fotografar apresentações, tampouco fazer uma sessão de fotos promocionais (lastimável!). Não existe um release oficial, histórico ou qualquer material, a não ser as minhas anotações de apoio com datas, locais e quantidade de público presente nas apresentações, fora pouquíssimos itens de portfólio, como tenho usado e abusado como ilustração nos capítulos (ao referir-me às postagens nos meus Blog dois e três, naturalmente). Melhor que nada, diria o otimista, mas muito pouco para o pessimista de plantão...

Agradeço a todos os companheiros que passaram pela banda, por todos os shows que fizemos. Mas sobretudo pela enorme ajuda que prestaram-me, ao ajudarem-me a cumprir a transição de que tanto necessitava, ao suplantar a barreira inicial dos primeiros e difíceis anos de minha carreira, para uma condição melhor como músico profissional, em condições de lutar por uma carreira autoral, no mundo musical.
"Pinguim", a tradicional marca de uma bateria nacional bem feita, inspirada na clássica "Ludwig", norte-americana e que Cido Trindade possuía e com a qual tantas vezes tocou com o Terra no Asfalto
 
Obrigado ao Cido Trindade, por acreditar em minha pessoa e em um momento onde percebeu que eu melhorara como instrumentista, vislumbrou levar-me para um trabalho como side-man ao acompanhar o cantor, Tato Fischer, e sem o qual, não acarretaria na oportunidade em ter conhecido o tecladista, Sérgio Henriques. 
Um piano elétrico da marca alemã, "Würlitzer", idêntico ao que o excelente tecladista, Sérgio Henriques possuía e cujo sonoridade ao executar peças como "Long Distance Runaround" do Yes ou "Lady Madonna", dos Beatles, entre tantas outras canções, ainda ressoam em minhas lembranças das noitadas em que tocamos juntos com o Terra no Asfalto

Agradeço ao Sérgio Henriques por ter retirado da manga, a oportunidade desse trio que acompanhava Tato Fischer, fundir-se a um outro trio de músicos e ter nascido aí o primeiro sexteto raiz do Terra no Asfalto. Sem Sérgio Henriques, eu não teria conhecido Paulo Eugênio, que foi o homem aglutinador do Terra no Asfalto. Através de Paulo Eugênio, conheci Wilson, Gereba, Mu e Aru Junior, quatro guitarristas da pesada.
Paulo Eugênio era bom na percussão e as suas intervenções sempre ajudaram a banda a ter mais "molho" em suas interpretações, principalmente nos temas da MPB  

Obrigado, Paulo Eugênio Lima, onde estiver, por ter proporcionado-me a chance para tocar com essas feras todas, por oitenta e três vezes, onde sem dúvida, teve o peso de um curso intensivo em minha formação musical.
A famosa guitarra "Craviola" da Giannini, marca registrada de Wilson Canalonga Junior, no Terra no Asfalto 

Obrigado ao Wilson pelo convívio, amizade, conversas sobre os Beatles que adoramos e pela possibilidade de ouvir as suas vocalizações nos bonitos backing vocals que fazia.
A guitarrinha "Rei" era horrenda, mas nas mãos do Gereba, soava com a sonoridade de gente grande! "Um Bilhete para Didi" e para o Gereba, também!
 
Obrigado, Gereba, pela sua guitarra "arretada". Os Seus solos inacreditáveis ainda ressoam na minha memória, cheios daquela brasilidade que só você e o Pepeu Gomes possuem... que esteja a tocá-los aí, do "outro lado!"
Uma Gibson Les Paul, modelo Junior. A que pertenceu ao Mu era do ano de 1958, uma verdadeira joia rara e que um dia um malfeitor da vida levou embora, fortuita e lastimavelmente. Tenho quase certeza de que tratou-se de um gatuno incauto, que sequer nem mensurou o valor estratosférico que ela tinha. E o que o Mu fazia com ela, então... era um verdadeiro azougue 

Muito grato, Mu. Você foi o primeiro grande guitarrista Rocker com o qual pude ter a honra de tocar. Tocar contigo, foi como estar no palco do festival de Woodstock, e tocar junto com um Deus do Rock, de verdade. Jamais esquecerei a sua interpretação para: "Star-Spangled Banner", ao fazer toda a ruideira de alavancas do Jimi Hendrix, em uma Gibson Les Paul, Junior, a puxar o headstock na mão! Fazer aquilo sem alavanca, foi inacreditável e deixaria o Hendrix de queixo caído!
Foto promocional de Gerson Conrad & Trupi, por volta de 2012. Aru Junior é o primeiro à esquerda, seguido de Gerson Conrad, Carlinhos Machado e o rapaz à direita, deduzo ser o baixista da banda, mas infelizmente, foge-me o seu nome.          

Obrigado, Aru Junior! Você foi um professor e um maestro na minha iniciante trajetória naquela época. A sua dica sobre mise-en-scène mudou mesmo a minha vida e se sou respeitado na minha carreira, devo muito a essa orientação valiosa. E que bom que esteja do "lado de cá", espero que por muitos anos, ainda.
Impossível lembrar-me do Luiz "Bola", sem associá-lo ao grande mestre, Frank Zappa, do qual era fã incondicional. "Don't Eat the Yellow Snow, Uncle Meat!
 
Obrigado, Luis “Bola!” Você foi muito cordial comigo e os sons do Frank Zappa que ouvimos na sua casa, foram sempre muito incríveis.
Torço para que Edson "Kiko" tenha realizado-se com a World Music que apreciava e onde desejava militar em sua carreira
 
Edson "Kiko": já expressei na narrativa, as minhas desculpas reiteradas vezes. Espero que esteja bem neste momento!

Um agradecimento especial ao Edmundo, pelo apoio recebido logo no início das atividades da banda e amizade expressa por muitos anos, ainda que nos vejamos sazonalmente. 

Aos agregados, amigos e músicos com passagens rápidas, um muito obrigado, igualmente.

O Terra no Asfalto teve méritos, apesar de ter sido somente uma banda cover. Nos agradecimentos expressos acima, fica uma constatação: essa banda teve o efeito de um dominó... uma peça ligou-se à outra, e sem as quais, eu não teria tido tantas oportunidades. 
Muito obrigado por ler esta história, amigo leitor! 
 
O fim do Terra no Asfalto é o começo da história d'A Chave do Sol na minha trajetória. Basta continuar a ler dali em diante...