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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Crônicas da Autobiografia - O Aluno que Desejou o Duelo e Nada Mais - Por Luiz Domingues

Aconteceu no tempo da minha "Sala de Aulas", por volta de 1989...

Desde quando eu comecei a ministrar aulas, no mês de julho de 1987, como uma atividade paralela aos meus esforços em prol da carreira musical, houve um panorama padrão em minha clientela, ou seja, a imensa maioria que procurava-me como “professor”, nutria admiração pela minha trajetória na música, notadamente, com "A Chave do Sol", banda pela qual atuei na década de oitenta e que arregimentara muitos fãs.

Por isso, houve quase sempre o componente da admiração pessoal em cada um que me abordava e em alguns casos, certos alunos nem tinham tanta vontade para aprender a tocar baixo elétrico, mas queriam mesmo a aproximação e chance para conversar, forjar amizade, talvez até conhecer outras pessoas do meio, por meu intermédio. Mas claro, essas foram exceções, pois a maioria nutrira os seus sonhos pessoais e queria estudar com o objetivo de construir carreira, avançar com uma banda (e muitos já as mantinham, naturalmente). 

Em meio a tal panorama, dali do início de minha atividade como professor, até 1989, acostumei-me com o fato de que a maioria esmagadora, e posso dizer, total, foi formada por pessoas que me admiravam e consequentemente, respeitavam-me muito, fora o tratamento cortês da parte de todos.

Dentro dessa prerrogativa, eu fui surpreendido em determinado dia, mais ou menos entre março e abril de 1989, não me recordo ao certo, quando recebi um novo aluno em minha sala de aulas. No contato telefônico prévio, não notei nada de anormal na abordagem do rapaz. Combinamos dia e horário e nesse contato prévio, o sujeito manifestou-se com educação.

Entretanto, no dia da primeira aula eu já notei algo estranho assim que atendi a porta de meu apartamento, local onde eu mantinha a minha sala de aulas, naquela ocasião. Com atitude altiva e inexplicável ao considerar-se que fora o primeiro contato pessoal que mantivemos, foi com essa soberba quase indisfarçável que esse rapaz adentrou a minha residência. Bem, relevei, logicamente, afinal de contas poderia ter sido apenas uma interpretação equivocada da minha parte.

Uma vez instalados na sala de aulas, eu estabeleci o meu padrão no primeiro contato, que foi no sentido de conversar com o novo aluno e saber qual seria a experiência dele ao instrumento naquele momento e assim pedir para que ele tocasse livremente para eu fazer uma avaliação de seu estágio e só a dispensar esse procedimento aos que declaravam na entrevista preliminar, que estavam na estaca zero do aprendizado.

Com esse rapaz, a sua postura que eu achara altiva por ocasião de sua chegada, piorou, na medida em que notei que assim que lhe passei o instrumento, a minha suspeita confirmou-se por completo, pois ele fez um verdadeiro mise-en-scène para empunhar o baixo, não sem antes arrumar a sua longa cabeleira e posteriormente a exercer uma gesticulação grandiloquente, como se estivesse no palco de um grande festival internacional, com cem mil pessoas a gritarem pelo seu nome, em sinal de idolatria.

A seguir, o rapaz passou a executar solos bastante exagerados, ao demonstrar ser adepto daquela corrente virtuosística do Hard-Rock, quase no limiar do Heavy-Metal, bem em voga naquele momento do final de década de oitenta.

O sujeito fez determinadas escalas com uma rapidez estonteante, usou o recurso da técnica do “Two Hands”, também bastante típico para quem era entusiasta dessa estética e ficava a mirar-me com ar de soberba, como se esperasse que eu me mostrasse incomodado diante de sua técnica avançada e certamente a esperar que eu aceitasse a provocação para entrar em uma espécie de disputa, a caracterizar-se como um verdadeiro duelo, ali no ambiente da minha humilde sala de aulas.

Ao terminar a sua exibição, antes mesmo que eu pudesse falar alguma coisa, ele devolveu-me o instrumento e enfaticamente disse-me:

-“agora é a sua vez de mostrar-lhe a sua técnica”...

Bingo! Desvelou-se ali a verdadeira intenção do rapaz, pois ele não me procurara com a intenção de estudar comigo, mas o seu objetivo fora desafiar-me.

Não contente, ele foi ainda mais deselegante ao dizer com claro sinal de deboche, que “gostaria de ver o grande baixista d'A Chave do Sol apresentar algo novo que ele já não soubesse”.

O sujeito tocava muito bem, detinha uma grande técnica, não nego, mas eu não estava nem um pouco preocupado em estudar alucinadamente para ser reconhecido como um grande instrumentista, quiçá o melhor, justamente por que a minha escola na música não era a mesma que ele apreciava.

Como fã das estéticas dos anos 1960 & 1970, eu entrei na música com outros propósitos, ao estar comprometido pelos aspectos inerentes em termos culturais e comportamentais e não pela técnica, fanatismo pelo instrumento e obsessão pessoal em usar tais prerrogativas com mentalidade competitiva, como se fosse um esporte com adversários a serem sobrepujados.

Portanto, apenas limitei-me a dizer-lhe que visto que eu o avaliara com grande técnica e embasamento teórico similar a tal patamar, o meu método, técnica pessoal e nível teórico se mostrava nitidamente inferior e assim, acostumado a lidar com alunos com pouco ou nenhum conhecimento musical, eu não teria nada a acrescentar para ele.

Recomendei-lhe a seguir, que ele procurasse um professor com maior nível do que o meu, se quisesse crescer ainda mais ao instrumento.

Ele ficou visivelmente desapontado, pois o que desejara mesmo, fora duelar e “vencer-me”, talvez por ter alimentado algum tipo de raiva recôndita e sedimentada por considerar-se “injustiçado” por se sentir muito melhor do que eu em qualquer parâmetro musical, e talvez potencializado pelo fato de eu ter ficado naquele instante, mais famoso do que ele. Enfim, foi da parte dele uma atitude lastimável, se analisada por qualquer ponto de vista.

Como eu jamais interessei-me pelo mundo do Heavy-Metal, nunca soube se esse rapaz ascendeu em sua carreira a tocar em uma banda, gravar, quiçá ter partido para o exterior e doravante a se consagrar em sua carreira etc. Torço para que sim, não tenho nenhum motivo para desejar-lhe mal, apesar da desfeita subliminar que me aprontou.

E a minha vida como professor prosseguiu naquele instante de 1989, pois eu alonguei por mais dez anos tal atividade ao atingir um auge com essa atividade, de onde tenho muitas lembranças boas e orgulho dos meninos que ajudei com um modesto impulso inicial de minha parte e fato esse ocorrido bem depois, já no avançar dos anos noventa, conforme deixei claro no relato do meu livro autobiográfico.

E sobre esse prosseguimento da minha atividade como professor, após o episódio com esse aluno desafiador e pleno de soberba, ocorrido em 1989, eu nunca mais tive uma ocorrência semelhante, ainda bem.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Crônicas da Autobiografia - Não Confunda Pedreira com Siderurgia - Por Luiz Domingues

                     O Pedra em ação em 2008. Foto de Grace Lagôa

                           Aconteceu no tempo do Pedra, em 2008...

O Pedra sempre pautou-se como uma banda aberta a praticar uma gama de tendências bem mais abrangentes do que se espera de uma banda de Rock tradicional.

E mesmo ao não fugir de sua alma mater que sempre foi o Rock, tal predisposição para se colocar no mercado musical como uma banda adepta do dito, “leque aberto” em termos de criação, foi um fato também que tal posicionamento gerou estranhamento da parte de alguns analistas mais radicais, dada a maneira mais reclusa em enxergar o Rock como uma fortaleza fechada e imutável, da parte deles.  

Entre as ocorrências mais salientes nesse sentido na história dessa banda e que não foram mencionadas no meu livro autobiográfico, eu cito aqui nesta crônica e uma delas foi bastante sintomática ao considerar-se essa questão do trabalho do Pedra em relação à expectativa gerada sobre nossa obra, da parte de críticos entrincheirados em nichos oclusos.
Ocorreu que nós fomos convidados (em março de 2008), a concedermos entrevista a um programa de Rádio, que também era filmado e cujas imagens eram exibidas através de uma emissora de TV comunitária da cidade de São Paulo. 

Tratava-se de um programa que já era longevo, portanto bem-sucedido, sem dúvida, chamado: “Rádio Corsário” e que por existir desde os anos 1980, continha o seu público seguidor cativo, certamente. 

Para se ter uma ideia, eu havia participado duas vezes dessa atração ao conceder entrevistas naquela década citada, quando representei a minha banda na ocasião, “A Chave do Sol”, portanto, mais de vinte anos depois e após ter construído trajetórias longas com outras bandas no meio do meu caminho pessoal (A Chave/The Key, Pitbulls on Crack, Sidharta e Patrulha do Espaço), foi impressionante estar ali com uma quinta banda de carreira, no caso, o Pedra, mas foi o que ocorreu, e nesse sentido, louvo a longevidade de atração radiofônica e a firmeza de propósitos de seus artífices, aos quais, os parabenizo pela perseverança. 

Muitas pessoas passaram pela equipe de produção de tal programa e nesse instante, a apresentação esteve a cargo de um simpático locutor/entrevistador, chamado, Julio Viseu e com a produção de Sergio “Pachá”, este, um rapaz que fora roadie do “Inox” nos anos oitenta e que eu conhecia desde essa mesma época, quando A Chave do Sol interagiu com tal banda, em alguns bastidores de shows.
O comunicador, Julio Viseu, membro da produção do programa, desde os anos oitenta e um gentleman
 
Fomos muito bem recebidos e de fato, Viseu era (é) um rapaz extremamente cortês e bem articulado e sobre isso estivemos absolutamente à vontade sob a sua condução da entrevista, mesmo com a nossa sincera explicação de que não éramos uma banda de Heavy-Metal e nem mesmo a professarmos o Hard-Rock, na acepção do termo, portanto, com um trabalho um tanto quanto deslocado para o ouvinte/telespectador padrão daquele programa. 

Mesmo com tal advertência clara de nossa parte, o convite não sofreu nenhum abalo e diante de tal boa vontade da parte da produção do mesmo e também a raciocinar que a nossa banda padecia da falta de oportunidades para expor o seu trabalho, não poderíamos dar-nos ao luxo de desperdiçar chances, portanto aceitamos o chamado, prontamente.
Ao chegarmos ao estúdio da emissora, que ficava instalado no mesmo local em que eu a visitara algumas vezes nos anos oitenta, nós entramos e quando passamos pela sala da técnica, um rapaz que era um funcionário da equipe radiofônica, ao olhar-nos, não conseguiu guardar para si a sua estupefação ante o nosso visual habitual, “não coadunado com o Heavy-Metal”, uma constante para os entrevistados que ali ele se acostumara a ver passar e assim ele emitiu uma intervenção impactante, mas carregada por signos oriundos da sua idiossincrasia. Quando passamos, ouvimos a sua voz nada discreta ao afirmar (aliás, creio que proposital para que a ouvíssemos): -“vocês nem parecem metaleiros”.

Brincalhão por natureza e sempre rápido em suas intervenções espirituosas, Rodrigo Hid respondeu-lhe de pronto e creio ter sido didático em seu intento: -“por que não somos, ora, de onde tirou essa ideia?”

Simples assim...

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Crônicas da Autobiografia - Garotos Emo a Vandalizarem - Por Luiz Domingues

Aconteceu no tempo da Patrulha do Espaço, em algum momento do segundo semestre de 2003 

Desde que entrei para a formação da Patrulha do Espaço, em 1999, eu assumi uma função na produção da mesma, como responsável pela divulgação de shows. 

Coordenei, portanto, toda a parte de colocação de cartazes e distribuição de “filipetas” (flyers), a anunciar as nossas apresentações e nesse sentido a comandar uma equipe de colaboradores, e no caso das filipetas, contávamos com a sorte, invariavelmente de contarmos com espetáculos protagonizados por artistas do nosso espectro artístico, para aproveitarmos a movimentação antes dos nossos shows e na contramão, eu incentivei equipes que trabalhavam a favor de outros artistas, a aproveitarem a movimentação de nosso público, em nossas apresentações.  

Mas nem sempre a sorte foi favorável aos nossos anseios e assim, muitas vezes em que não tivemos nada perto de nós, ou seja, com alguma similaridade comprovada na seara cultural/artística, por diversas ocasiões nós forçamos campanhas de divulgação no autêntico campo minado das adversidades estéticas, no afã de aproveitar a oportunidade ao menos para estabelecer um contato fugaz com um público que nem sabia de nossa existência, em tese. 

Isso aconteceu em algumas campanhas de divulgação e especificamente em uma delas, algo exótico ocorreu e mesmo que não tenha tido nada a ver conosco diretamente, chamou-nos a atenção.
Foi o seguinte: nós resolvemos distribuir filipetas em um evento ao ar livre a ser realizado na Praça Charles Miller, e para quem não conhece São Paulo, tal local trata-se de um imenso Boulevard que fica em frente ao portão principal do estádio do Pacaembu. 

Ali aconteceria um show patrocinado por uma emissora de rádio que dedicava-se exclusivamente ao fomento da cena do “Emocore”, uma ridícula cena formada por garotinhos muito mal formados musicalmente e sobretudo mal instruídos sobre a história do Rock e que dessa forma cultuavam uma espécie de New-Punk-Rock dos anos 2000, com forte tendência Pop, sob uma atroz ruindade técnica inerente e tudo devidamente manipulado sob a meticulosa engenharia dessa emissora em conluio com empresários que fabricavam bandas nesses moldes sob a pior intenção possível. 

Ou seja, nem devíamos ter ido gastar o nosso material gráfico ali com tais garotos imberbes que gostavam dessas bandas de plástico, mas o nosso dilema instantâneo foi gastar ali o material ou amargar fazer dele, sobra para usar como papel de rascunho, pois não houve nada mais interessante antes da data do nosso próximo show.
Cheguei acompanhado do meu amigo, o baterista, Junior Muelas, que na época tocava com a banda “Hare” e grupo este que houvera aberto vários shows da Patrulha do Espaço em cidades interioranas paulistas, desde 2001 e também o roadie da nossa banda, Samuel Wagner, que sempre esteve presente nessas ações de divulgação, por ter sido o meu fiel escudeiro nessas missões, além de mais alguns rapazes para efetuar o trabalho. 

Então, eu combinei com todos que infiltrassem-se em meio à plateia, a distribuir uma rota para cada um agir pelos flancos dentro da multidão e na volta, o combinado foi que encontrar-nos-íamos na famosa e enorme banca de jornais, que aliás era o ponto de encontro mais tradicional entre amigos, nas partidas de futebol no Pacaembu, no pós-jogo, no caso de amigos que torciam para equipes rivais entre si e não poderiam entrarem juntos a ostentar camisetas antagônicas ou mesmo no caso de perderem-se uns dos outros. Eu sabia desse popular ponto de encontro desde os anos setenta, quando comecei a frequentar aquele estádio para assistir jogos de futebol.
Foi então que eu e Junior Muelas, que estávamos perto da referida banca de jornais e ponto de encontro, vimos uma cena dantesca.

O famoso jornalista que cobria a área de Rádio e TV, Nelson Rubens, que era (é) famoso por protagonizar uma coluna de fofocas a abordar principalmente o universo habitado por atores e atrizes de novelas, cantores populares e subcelebridades em geral que habitam as emissoras de TV aberta, surgiu a caminhar em meio à multidão de garotinhos "emo" e até então, ao ser abordado discretamente, mostrara-se tranquilo a se dirigir em direção ao seu automóvel, estacionado ali perto. 

Quando ele chegou perto do carro, teve que pedir licença para muitos jovens que estavam encostados em seu veículo, alguns até em clara postura de abuso, sentados sob o seu capô. Nesse mesmo instante, inevitavelmente algum galhofeiro gritou o famoso bordão que Nelson Rubens usava (usa) exaustivamente em suas reportagens televisivas: -“eu aumento, mas não invento”...

Como um fósforo aceso perto de uma bomba de gasolina, aquilo gerou a chama imediata, ou seja, todos à sua volta passaram a compor um coro, com essa frase e tal como uma palavra de ordem, a histeria ganhou força entre outros que nem estavam perto, a aumentar o contingente. 

Até aí, tudo bem, Nelson ria e ficara nítido em seu semblante que regozijava-se com tal demonstração espontânea de sua popularidade, mas sob uma fração de segundos, alguém teve o ímpeto de empurrar o carro e dessa forma, contaminados pela energia bestial que move as multidões bovinas, outros seguiram a mesma ideia e assim começou um movimento físico intenso, a balançar o carro perigosamente. 

O coro engrossara e nesta altura, o jornalista que estava já sentado dentro do veículo, mudara completamente a sua postura e gritava para que parassem com isso e já não demonstrava estar a achar a brincadeira saudável e claro que nessa proporção, não o fora mais e estava nas vias de fato do vandalismo e da agressão gratuita.  

Foi quando alguns policiais aproximaram-se e nem precisou intervirem com truculência, pois a garotada dispersou imediatamente e Nelson pode enfim engatar o seu carro e partir em segurança. 

É impressionante como a euforia desmedida gera violência sem sentido, e através de uma fração de segundos e não por acaso, vemos cenas deprimentes em festas, que deveriam se pautar pela manifestação coletiva de alegria pela sua motivação primordial, mas que culminam em ocorrências policiais.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Crônicas da Autobiografia - Fatos que Estragam Momentos Mágicos em um Show de Rock - Por Luiz Domingues

Aconteceu no tempo do... (nesta crônica, menciono fatos que ocorreram-me do final dos anos oitenta, ao final dos anos noventa, portanto sob um período entre o meu tempo com A Chave/The Key, até a minha saída do Pitbulls on Crack)

Ali pela metade dos anos oitenta, foi que houve uma aceleração mais visível do processo iniciado timidamente nos anos sessenta (com o avançar gradual pela década de setenta), em prol de tornar o Brasil um país preparado para entrar no circuito mundial de turnês dos grandes e médios artistas internacionais. 
 
E nessa onda de profissionalismo que enfim começou neste país, muitos artistas do Rock das décadas de sessenta e setenta, pejorativamente chamados como “dinossauros”, mediante uma nítida intenção deliberada para estigmatizá-los como “velhos & decadentes”, vieram ao Brasil em sequência, dali até o início dos anos noventa e independente da fase em que viviam, envelhecidos ou não, fãs tupiniquins que não tiveram a oportunidade de assisti-los em seu auge criativo, não furtaram-se diante de tais oportunidades e lotaram os espaços por onde tais veteranos astros apresentaram-se em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais brasileiras. 
 
Foi o meu caso, igualmente, pois eu assisti a vários shows de artistas internacionais que gostava e acompanhava de longa data, a relevar se estes estivessem velhos e sem o élan de seu auge de carreira, tampouco com seu vigor artístico renovado, pois o importante ali naquela circunstância foi o fator sentimental para amenizar a sensação do tempo perdido e ver dessa forma, o artista admirado em ação. 
 
Todavia, o que não se imagina em meio a uma circunstância dessas, é que aquele momento mágico da emoção ao se assistir um artista que muito admiramos e fez parte de nossa formação musical, pode ser atrapalhado da maneira mais torpe possível.
Em minhas lembranças, recordo-me por exemplo da primeira vez que assisti um show do Jethro Tull, em 1988. Não foi nem de longe o "velho Tull" de seus momentos gloriosos vividos na década de setenta, porém claro que ainda em boa forma e com uma formação consistente para lhe representar bem etc. e tal. 
 
Que maravilha ver o Ian Anderson, mesmo já a viver a sua meia-idade, em plena ação, a empreender a sua performance toda teatralizada, a tocar flauta divinamente, cantar e movimentar-se pelo palco com um ótimo preparo físico! Martin Barre ao seu lado a tocar sua guitarra “classuda” e o bom Dave Pegg a ocupar o baixo com bastante dignidade, ao executar as ótimas linhas criadas por seus predecessores, Glenn Cornick, Jeffrey Hammond-Hammond e o excepcional, John Glascock (gosto dos quatro, devo dizer, mas reconheço que Glascock fora o melhor de todos os baixistas que passaram pela formação do Jethro Tull). 
 
Tudo muito digno, a conter um repertório recheado com clássicos da discografia setentista da banda e por ter sido a sua primeira e tardia passagem pelo Brasil, claro que a banda caprichou no set list, a privilegiar o repertório mais esperado pelos seus fãs. 
 
Até um medley de “Thick as a Brick”, um disco seminal e temático, em ritmo de Ópera-Rock, portanto difícil para separar os seus trechos da suíte como músicas em execuções individuais, ocorreu e levou o público ao delírio, mas aí, eis que o imponderável aconteceu...
Veio então a hora mais esperada, o clássico dos clássicos do repertório do velho Tull prenunciou-se assim que Martin Barre tocou as primeiras notas na sua guitarra. 
 
O Riff mais famoso, capaz de provocar o frenesi mais desejado e a despertar-me a sensação de trinta e tantos anos a ouvir o LP homônimo dessa canção, ao ver fotos e vídeos da banda ao vivo e sonhar em ter a sorte que os europeus, japoneses, australianos e norte-americanos tiveram à sua disposição o tempo todo, enquanto nós, pobres terceiro-mundistas latino-americanos ficávamos só com o sonho: o glorioso Riff de “Aqualung” soou em São Paulo!
 
Todavia, eu mal começara a mergulhar nessa euforia e um imbecil, completamente alcoolizado, apareceu repentinamente próximo de minha pessoa e de minha namorada na ocasião e aos berros, passara a gritar: -“toca Aqualung” e pior, veio a apoiar-se sobre as pessoas à minha volta. 
 
Este energúmeno não parou de gritar e não entendia quando algumas pessoas no entorno tentaram explicar-lhe que a banda executava justamente tal canção, pois, completamente fora de si, ele só berrava e despencava sobre as pessoas, sem coordenação motora alguma, graças ao seu estado etílico avançado. 
 
Esteve estragado o momento de magia tão aguardado, pois o ébrio não parou de gritar e mesmo expulso pelas pessoas, ainda ouvia-se a sua voz tresloucada durante os momentos posteriores à realização do espetáculo, a pedir “Aqualung”, alucinadamente em outros cantos da casa de shows.
Pareceu ser um sonho, mas eu assistiria um Beatle em ação, enfim. Paul McCartney no palco do Maracanã, com quase cento e oitenta mil pessoas presentes, inveterados beatlemaníacos ávidos por verem o mito em ação pela primeira vez no Brasil. 
 
Mas o clima ali, apesar de haver gente bem-informada, não parecia o de um concerto de Rock na acepção da palavra, mas o de um baile suburbano popularesco da pior espécie. 
 
Uma lastimável sessão de “lambada”, o ritmo popularesco que fazia sucesso nas novelas da Rede Globo na ocasião, foi o som torturante que nos foi impingido mediante o som ambiente ao estilo “muzak/lounge ”, na ambientação do pré-show e sob um volume ensurdecedor, impossível de ser ignorado, tal qual uma dor de dente. 
 
Evidentemente que esqueceram-se de avisar os organizadores do show que não teria sido a escolha mais adequada disparar tal som ambiente normalmente usado nos alto-falantes durante o intervalo dos jogos de futebol, mas enfim... 
No mesmo ano, 1990, o "camaleão do Rock" veio ao nosso país, com a sua nova turnê: “Sound and Vision”, sob uma proposta dos sonhos para quem nunca o vira antes, a conter uma retrospectiva geral de sua carreira, a tocar músicas de todos os discos, algumas que ele não executava há anos, décadas, até.
 
Incrível, finalmente eu fui assistir David Bowie ao vivo e com a minha imaginação fortemente impactada pelos discos e vídeos dos "Spiders From Mars" que apreciara desde sempre, que momento inesquecível haveria de ser!
 
Bem, entrei então no estádio pronto para embarcar nessa emoção, que eu sabia, seria de “estação em estação”, através de uma viagem de trem ao infinito. 
 
Entretanto, ao contrário da minha expectativa pessoal entusiasmada, logo na abertura do show do Bowie, a reação da plateia mostrou-se gelada. Os Titãs, com os seus hits oitentistas haviam feito o estádio Palestra Itália, do Palmeiras, cantar e vibrar, mas tal reação também deixara nítido que a imensa maioria estava ali pelo “oba oba” em torno de David Bowie e demonstrara claramente que não conhecia a carreira do artista, além da superficialidade de algumas poucas músicas mais modernas e massacradas pelas emissoras de rádio nos anos oitenta ou através da MTV. 
 
Mega clássicos de seu repertório setentista, tais como: “Space Oddity”, “Jean Genie”, “Life on Mars” e “Suffragette City” foram executadas com volúpia e para a grande maioria das pessoas, ficara claro em minha avaliação que poucas ali presentes esboçavam conhecê-las o suficiente para lhes motivar aplicarem um aplauso pálido que fosse. 
 
Isso no entanto não foi um problema meu, todavia revelou o mero reflexo de estarmos em 1990 e tal geração não manter conexão alguma com o Rock, um aspecto a se lastimar, mas sendo inevitável dentro do processo cultural e midiático em voga, de maneira inevitável. 
 
Contudo, o pior mesmo veio da parte de um casal que estava sentado bem na minha frente. Mesmo a ocupar a arquibancada numerada, sentados em cadeiras teoricamente mais confortáveis (e caras), assim que se apagaram as luzes de serviço do estádio e o show começou, eles levantaram-se e colocaram-se a namorar, a ignorar o show e os pedidos incessantes para que se sentassem, pois é claro que atrapalhavam à todos ali naquele raio de visão ofuscado por seus corpos. 
 
E chegou-se em um ponto em que as pessoas indignadas começaram a tomar atitudes mais extremas, como arremessarem objetos, ou seja, mesmo ao terem pago um ingresso caro, além de não verem o show com a visão a que tinham direito e a terem que aguentar a atitude de escárnio da parte do casal (que deveria ter ido ao motel naquela noite, visto que estavam nitidamente desinteressados da exibição do Bowie), o fato foi que eu ainda corri risco de machucar-me com os detritos que ali surgiram e que visaram acertá-los. 
 
E assim, mesmo ao pagar caro, eu tive que abrir mão de minha cadeira numerada e assistir o restante do show em pé e sob um ângulo de visão inadequado, fora o desprazer de ficar a ouvir comentários da parte de incautos ao meu redor, a exprimirem as suas opiniões pouco embasadas sobre o Bowie ser “chato”... ou seja, foi o meu “Rock’n' Roll Suicide” ali, ou, "This ain’t Rock”n Roll, this is genocide"...
Poucos meses depois, eis que outro artista setentista da mesma envergadura anunciara shows na terra dos tupiniquins. Os componentes do Deep Purple a respirarem o mesmo ar que nós, e lá foram os fãs terceiro-mundistas sequiosos por vê-los em ação, cônscios de que foram outros tempos e aquela energia de uma “bola de fogo a queimar, feita no Japão e na Europa”, não seria a mesma. Paciência, veríamos quatro dos cinco componentes mais clássicos da formação da banda em ação. 
 
Ginásio do Ibirapuera lotado e eis que um bando de vagabundos mobilizara-se para pular o cerco de um setor mais barato a fim de tentar chegar à pista, mais cara, e da qual não teriam em tese, o direito de ocuparem. Nessa tentativa para burlar a atenção dos seguranças do evento, esses rapazes astutos pararam bem na minha frente, a aguardarem uma oportunidade para empreender tal ato ilícito, longe da vigilância dos seguranças do espetáculo. 
 
Com o show já a ocorrer, eu via a figura lendária de Ritchie Blackmore a jogar a sua guitarra Fender Stratocaster para o alto, Jon Lord ainda com saúde para tal, a se digladiar com o órgão Hammond e aqueles imbecis ali em pé, a obscurecerem a nossa visão! 
 
Eis que educadamente, apesar de que estes trastes não mereciam ser tratados dessa forma, alguém pediu-lhes para que ao menos se mantivessem agachados, pois estavam acintosamente a nos atrapalhar. Mas a reação foi imediata e típica de todo mau-caráter em potencial, que não suporta ser advertido, independentemente dos atos ilícitos que esteja a fazer, mas que ao contrário, sente-se "ofendido" muito quando é chamado à atenção...  
 
E foi então que eles esboçaram partir para as vias de fato. Por sorte, a nossa turma ali era bem grande e quando a animosidade se instaurou, ao notarem que muitos amigos nossos já se levantaram para intervir, os safados saíram em debandada. Pois é... "smoke on the water, and fire in the sky"...
No ano seguinte, 1992, ocorreu um fato que não chegou a incomodar-me diretamente, mas levou-me a uma reflexão. Show do Black Sabbath no estádio de atletismo do Ibirapuera. Sento-me em minha cadeira e alguns metros abaixo, vejo um garoto novo, prostrado no solo e nitidamente embriagado. Passado o show, eis que eu vejo a deprimente cena de seus amigos a tentar reanimá-lo, com um tipo de diálogo unilateral pois o rapazinho certamente não estava a entender nada: -“ fulano, acorda, o show acabou, temos que ir embora”. 
 
Bem, esse pagou caro e "apagou", literalmente, a não ver nada e certamente ficou ali... jogado em um “Hole in the Sky”, digamos assim...  
Um ano depois, 1993, Paul McCartney voltou ao Brasil e desta feita com show em São Paulo. Na fila do estádio do Pacaembu, eis que vejo uma cena deprimente e que marcou-me. 
 
Isso não teve nada a ver com o show em si (que foi ótimo, bem melhor do que o do Maracanã, no Rio de Janeiro, três anos antes), mas tratou de estragá-lo, ao menos na minha percepção pessoal, pois eu ouvi duas mulheres a comentarem com um tom de desprezo, sobre uma outra moça, com baixa estatura à frente, alguns metros distante delas e de onde eu estava também: 
 
-“ o que essa "anãzinha" está a fazer aqui? Credo, não deveriam permitir”... 
 
Cáspite, pensei eu! A pergunta na verdade deveria ser outra, pois não foi possível acreditar que essas duas senhoritas, com esse tipo de preconceito odioso, estivessem ali para assistir o show de um artista que escrevera uma linha de pensamento bem diferente, muitos anos antes, através de uma de suas canções: “And in the End, the Love You Take, is equal to the Love You Make” ("e no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você criou"). Precisa explicação?
Mais magia interrompida: show dos Rolling Stones em 1995, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Não acredito que vou ver Mick Jagger a engatinhar pelo palco com Keith Richards a tocar o Riff de “Midnight Rambler”, que momento mágico, histórico e seminal!
 
Entretanto, a completa dispersão de um público de estádio de futebol, lotado por fãs de ocasião que nem faziam ideia do que isso representava para as tradições dessa mega banda, ícone de um espectro de mega Rock que não existia mais, chegou a ser constrangedora. 
 
E no mesmo dia, com a chuva torrencial que ameaçava chegar (e de fato veio, em forma de dilúvio), um amigo meu que também era um entusiasta da contracultura dos anos sessenta, não teve dúvida, ao achar estar em meio a pessoas igualmente "antenadas" nessas tradições perdidas no tempo, e assim, ele começou a bradar em plenos pulmões:
 
 -“No Rain, No Rain, No Rain”... 
 
Todavia, ali em janeiro de 1995, poucos entenderam a sua intenção e o silêncio constrangedor em contraste com a sua ode aos anos sessenta, deu a medida exata de que os laços estavam rompidos. Ninguém ali havia assistido o documentário sobre o Festival de Woodstock, pelo visto, e se alguém assistira, não se empolgou ao ponto de adotar tais ideais de vida e por consequência, esse amigo frustrou-se ao gritar sozinho. 
 
E talvez pela falta de energia maior desse mantra de voz isolada, São Pedro ignorou completamente o pálido clamor e mandou uma tempestade forte sobre nós. Bem, tal santo com atribuições hidráulicas também ignorou o pedido dos hippies em 1969, é bem verdade...
No mesmo ano de 1995, lá estava eu com amigos na pista do estádio de atletismo do Ibirapuera, com a perspectiva de assistir o Elton John em ação. 
 
De sua banda incrível dos anos setenta só não haveria a presença do ótimo baixista, Dee Murray, falecido há tempos, infelizmente (e do qual sou grande fã), portanto, apesar dessa ausência forçada, a expectativa foi boa. 
 
Infelizmente, revelou-se como mais um show morno por parte do público incauto que não conhecia o seu repertório mais clássico e certamente foi decepcionante sentir o gelo das pessoas enquanto o Reginaldo, digo, Elton, destruía o piano ao tocar: “Honky Cat” e Take me to the Pilot”, por exemplo e sob um contraste só explicável pela ação maciça da mídia, a audiência pouco informada sobre a sua carreira, vibrou muito ao som da trilha do desenho animado: “Rei Leão”, uma das poucas canções que tal massa de pessoas conseguiu identificar e apreciar, mas isso foi esperado, infelizmente. 
 
Todavia, o pior mesmo veio quando na iminência de um momento sublime do espetáculo, eu iria finalmente viajar no "slide" tocado pelo guitarrista Davey Johnstone, após mais de trinta anos de espera: “Rocket Man” a alçar voo, we’ve have a lift off, só que não… pois uma outra briga esdrúxula estourou perto de minha presença. 
 
Um energúmeno passara a berrar com um outro sujeito que era bem mais alto e estava à sua frente. Acontece que ali era a pista e diferentemente de um teatro ou cinema onde o bom senso faz com que pessoas mais altas procurem lugares mais atrás para não atrapalharem a visão dos mais baixos, ali, foi um território livre e portanto, ao seguir a ética popular, os incomodados que se mudassem, mas o embate verbal entre os dois tratou de arruinar o “Rocket Man” de todos ali no mesmo quadrante, incluso eu...  
Outra ocorrência desagradável deu-se quando o “Steppenwolf” veio para Pindorama, na metade dos anos noventa. 
 
Incrível, não dava nem para acreditar que eu assistiria, John Kay, com aqueles óculos escuros, a cantar: “The Pusher”, “Magic Carpet Ride” e claro, “Born to Be Wild”. Aquela lembrança a retumbar na minha mente, eu e meus amigos freaks nos anos setenta, a assistirmos pela enésima vez o filme: “Easy Rider”, no Cine Bijou, da Praça Roosevelt em São Paulo e o som do velho Lobo da Estepe a dizer tudo ali!
 
Pois bem na hora mais esperada, lá estou eu no calor da emoção gerada, quando os primeiros acordes de “Born to Be Wild” soaram nessa casa de espetáculos situada do bairro de Moema, na zona sul de São Paulo. Com o coração na boca, a sensação foi: agora voarei no meu carpete mágico junto com John Kay, que “barato” incrível, voltei para os anos sessenta!
 
Contudo, subitamente tudo foi por água baixo, quando uma briga eclodiu em uma mesa próxima. Foram muitos socos, chutes, garrafadas & palavrões a competirem com o Steppenwolf no palco e por conta de tal infortúnio, foi-se pelo ralo a minha conexão com a vibração de 1969...
Dois anos depois e uma outra banda sessentista que muito aprecio, veio para São Paulo e com sua formação clássica. Alvin Lee & Cia, todos bem envelhecidos é verdade, mas em boa forma musical, a tocarem muito bem. Foi inacreditável assistir o “Ten Years After”, ali na segunda metade dos anos noventa. 
 
Nesse dia em específico, eu resolvi radicalizar e fui ao show "paramentado". Tirei do guarda-roupa uma calça do estilo "boca-de-sino" que usava como figurino de meus próprios shows e lá fui eu. E não é que chamei a atenção em demasia por conta do figurino? 
 
Eu via as pessoas a comentarem na fila de entrada e a se cutucarem para chamarem a atenção uma das outras ao apontarem-me, como se eu fosse um alienígena, quando na verdade, deduzia-se que ali só deveria haver apreciadores do velho Ten Years After, mas tal reação causou-me estupefação, pois eu pensei que estava em um Concerto de Rock à moda antiga e não no bingo da quermesse da Igreja... fazer o que? “I’m Going Home”... by helicopter...

Ao falar sobre incômodos, além disso tudo que eu arrolei acima, acrescento alguns itens que obedecem a um "padrão" em qualquer show, independente de qual artista for apresentar-se: o inferno para estacionar o carro (e a incrível exploração monetária, com cobrança de tarifas astronômicas em estacionamentos das redondezas do local da apresentação), a revista sempre truculenta da parte da polícia que opera com a incrível mentalidade beligerante de tratar todo cidadão como "suspeito", punguistas sempre a postos para assaltar, golpistas também aos montes com abordagens as mais inusitadas, bolinadores da mulher alheia (mais “mão boba” e assédio descarado, portanto, pense mil vezes antes de levar a esposa/namorada ou irmã para um show de estádio), desorganização e desrespeito da parte de tudo e de todos.

E nem vou mencionar os banheiros insalubres (creio que não vale a pena trazer tal lembrança à baila) e os inconvenientes vendedores de bebidas, lanches, sorvetes & afins. 

Então, eis que você está ali a ver Page & Plant tocar uma música significativa como “Kashmir”, com a lágrima a escorregar pelo rosto, e aí, um idiota pisa no seu pé e berra na sua orelha:

- “sovete”... assim mesmo, sem pronunciar a letra “R”, para ficar ainda mais irritante a experiência traumática de se quebrar a magia em que você estava, mergulhado em meio às brumas de Avalon... 

E lá se foi aquele momento transcendental em que tanto sonhara, desde que ouvira pela primeira vez o LP "Physical Graffiti", do Led Zeppelin, no longínquo ano de 1975...