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sábado, 9 de fevereiro de 2019

Patrulha do Espaço - Capítulo 21 - Viradas Afins & Baratos on The Rocks - Por Luiz Domingues

Eis que o show realizado na cidade de Ponta Grossa, no Paraná, ainda repercutia e bem, com comentários positivos e uma enxurrada gerada por fotos e vídeos disponibilizados da parte de muitas pessoas, profissionais ou diletantes, que cobriu tal espetáculo. Os dias passaram bem rápido e logo teríamos um compromisso para a nossa cidade de São Paulo, portanto a envolver bem menos gastos e cansaço com viagem e logística, ao menos para eu mesmo (Luiz Domingues), Rodrigo e Marcello, pois Junior e Marta viviam há muitos anos em Brasília e portanto, seria cansativo para eles, desta vez. 

Desde o início das tratativas desse show em São Paulo, previamente marcado para o mês de maio de 2018, fomos informados pelo Junior, que tal confirmação estava a ser postergada, devido a complicações burocráticas alheias à nossa vontade. Ocorreu que a nossa apresentação estaria vinculada a um festival, cujo mote seria a comemoração dos quarenta anos de existência da gravadora, Baratos Afins. 

Originariamente, seriam quatro dias, com quatro ou mais atrações em cada noite, mas o Sesc Pompeia propôs a redução dessa intenção e dessa forma, os shows foram reduzidos em número de dias e atrações. 

A ideia do seu produtor, Luiz Carlos Calanca, proprietário da gravadora/loja de discos, famosa na Galeria do Rock de São Paulo, foi montar uma seleção significativa a representar ao máximo os artistas que ele lançara nessas quatro décadas de atividade, mas com o Sesc a impor limites, isso foi frustrado em parte. 

Dessa forma, o nosso show, que estava previsto para o dia 12 de maio, foi antecipado para 11 de maio e teríamos a companhia de uma banda de Heavy-Metal, que representaria os esforços do Calanca em lançar as coletâneas, "SP Metal" Volumes 1 e 2, no caso a banda santista, "Santuário", nos idos dos anos oitenta.

Em nosso caso, a história da Patrulha do Espaço com a Baratos Afins remontava a 1982, quando o terceiro álbum da banda (fase pós-Arnaldo Baptista, é bom salientar, pois na soma, seria o quinto disco), foi lançado por essa histórica gravadora. Ao tratar-se do famoso disco denominado, "Patrulha", simplesmente e famoso entre os fãs, como: "o disco branco da Patrulha", que contém muitos clássicos do seu repertório, tais como: "Columbia", "Bomba", Cão Vadio", "Mar Metálico", Transcendental" e a versão avassaladora para: "Meus 26 Anos", releitura do repertório do Joelho de Porco, nos anos setenta. Porém, participar dessa festa da Baratos Afins traria outros elementos importantes para a nossa banda e outros signos interessantes a resvalar em minha pessoa, igualmente.

Sobre a Patrulha do Espaço, além da discografia lançada por tal selo e os anos e anos de convivência com Luiz Carlos Calanca e sua equipe de trabalho, a efeméride em cima da efeméride, fora criada. Explico: a nossa formação "Chronophágica", da Patrulha do Espaço, participara da festa organizada nos mesmos moldes, em 2003, e naquela ocasião, a comemorar-se os vinte e cinco anos da Baratos Afins. 

Portanto, sob uma incrível coincidência, a Patrulha do Espaço participaria novamente e com a mesma formação de outrora, oficialmente desfeita em 2004. E mais um ponto, eu também tinha uma ligação seminal com tal gravadora, por conta dos dois álbuns d'A Chave do Sol, por ela lançados, nos longínquos anos de 1984 e 1985, respectivamente. E mais um dado, só fomos conhecer e negociar a nossa entrada nessa gravadora (refiro-me à Chave do Sol), por intercessão de Rolando Castello Junior, que deu-nos a dica e fez a devida apresentação e indicação elogiosa ao Calanca, sobre o nosso trabalho, ainda nos estertores de 1983. 

E mais um ponto a salientar, eu também acrescentaria mais uma ligação com a Baratos Afins, pois ainda não nesse dia em específico, mas estava prestes a ser lançado o novo single d'Os Kurandeiros, em versão para plataformas digitais, com produção do Calanca, portanto mais uma vez eu estaria irmanado com tal gravadora. Dessa forma, fiquei bem contente com a possibilidade em participar da festa dos quarenta anos desse Selo, desta feita a usar a camisa da Patrulha do Espaço em seus últimos shows da carreira, que encerrar-se-ia nesse ano de 2018.

Mas nem tudo foi alegria na confirmação desse show, pois com a antecipação da nossa data, de 12, para 11 de maio de 2018, tal ato arbitrário da parte do Sesc, impossibilitou a participação do Marcello Schevano, conosco. Seria de fato a oportunidade para termos a nossa formação Chronophágica em peso, e com o acréscimo da vocalista, Marta Benévolo, que estava na banda, desde 2010. Portanto, como realizaria um show no mesmo dia com o Golpe de Estado, inviabilizou-se a presença do Marcello Schevano, conosco.

Por ser um show marcado pela efeméride da Baratos Afins, o Junior propôs algumas modificações no repertório base que havíamos preparado e executado em Ponta Grossa, no Paraná, quatro semanas antes. Isso para aproximarmo-nos mais dos álbuns que a Patrulha do Espaço lançara sob a chancela da Baratos Afins. Nesses termos, acrescentamos três canções: "Simples Toque", "Ovnis" e "Piratas do Espaço" (estas duas últimas, sim do álbum "Patrulha 4", lançado pela Baratos Afins em 1984.). 

Gosto das três músicas, particularmente, que remontam à ótima fase da banda com seu Power Trio de ouro no início dos anos oitenta, com Junior; Dudu & Serginho, que eu tive o prazer de assistir ao vivo, várias vezes, e interagir no cotidiano. Já falei isso várias vezes ao longo da minha autobiografia, mas sempre gosto de realçar, o Rolando foi muito generoso para com A Chave do Sol em seus primórdios e não só por indicar-nos e elogiar-nos ao Luiz Carlos Calanca, como já mencionei, mas por apoiar a nossa banda, que dava os seus primeiros passos na carreira, em 1982, inclusive com apoio material concreto, visto que muitos de nossos primeiros shows, só foram possíveis graças ao empréstimo, sem nenhum ônus, do equipamento de PA da Patrulha do Espaço. E sem esquecer-me de que A Chave do Sol abrira um show da Patrulha do Espaço, em julho de 1983, com grande sucesso, na cidade interiorana de Limeira-SP.

Bem, de volta à realidade de 2018, acertadas as músicas, previamente, mediante conversas desenvolvidas pela comunicação virtual, também soubemos que uma atividade extra fora agendada para a Patrulha do Espaço e marcada para o dia 12, o sábado posterior ao show do Sesc, o que faria com que a antecipação brusca da data, valesse a pena, enfim, por uma via torta. O programa, "Live on the Rocks", da Webradio Stay Rock Brazil, agendara a nossa banda para uma participação super especial, como um encaixe, visto que essa data pertencia na verdade, a uma outra banda, da cena moderna do Heavy-Metal, chamada: "Masmorra", onde inclusive o baterista era um velho amigo meu, o simpático, Toni Estrella. Bem, assim ficou estipulado que gravaríamos a nossa participação, portanto.

E mais uma nova, que culminou em confirmar-se como uma oportunidade muito boa para fazermos um show perante uma grande multidão e melhor ainda, a contar enfim com a presença do nosso amigo e velho companheiro, Marcello Schevano. 

Participaríamos da Virada Cultural de São Paulo, na semana subsequente, em 19 de maio de 2018. Junior e Marta chegaram em São Paulo, na semana do show do Sesc e um ensaio foi marcado para o dia 10 de maio, quinta-feira, no estúdio Orra Meu, dos irmãos Schevano. 

Foto de um momento de descontração da banda, no ensaio realizado em 10 de maio de 2018. Marta Benévolo no primeiro plano a comandar a "selfie", com Rolando Castello Junior ao fundo, eu (Luiz Domingues) e Rodrigo Hid. Ensaio da Patrulha do Espaço no estúdio Orra Meu de São Paulo, em 10 de maio de 2018. Click (selfie). acervo e cortesia: Marta Benévolo

Eis que aproximou-se o dia do show no Sesc Pompeia e logo que chequei os meus recados nas redes sociais, vi que várias pessoas avisaram-me e repercutia de uma maneira geral que o anúncio do show estava em vários portais de notícias, mas um deles em particular, mostrava-se mais vistoso, digamos assim, e sem nenhum demérito aos demais. 

Porém, acostumados desde sempre a habitar o mundo underground do Show Business, nas raras ocasiões onde um órgão mainstream tratava-nos com reverência, chegava a causar espécie. 

Ocorreu que uma matéria sobre o show fora publicada no portal de notícias G1, que pertencia à Rede Globo e para ilustrar a matéria, um vídeo da Patrulha do Espaço fora postado. E tratou-se de nossa aparição em 2003, com a formação Chronophágica em ação, e naquela ocasião a participar das comemorações em prol dos então vinte e cinco anos de existência da Baratos Afins. 

Portanto, além de alvissareiro, marcou um elo entre a Patrulha do Espaço, a Baratos Afins e a própria efeméride em si, visto que neste novo instante, 2018, tocaríamos no mesmo palco e formação, com o acréscimo de Marta Benévolo, mas com a ausência de Marcello Schevano, conforme já descrevi anteriormente.

Foto informal do interior da Van que conduziu a banda, do estúdio Orra Meu para o Sesc Pompeia, em 11 de maio de 2018. Rolando Castello Junior no primeiro plano, Marinho Thomaz na condução da Van, com Samuel Wagner ao seu lado. Click e acervo: Luiz Domingues

Encontramo-nos no estúdio Orra Meu, por volta das 13 horas e tivemos uma ótima surpresa ali, ao saber da companhia que teríamos e sobre a qual não estava planejada, anteriormente. Ocorreu que por força de Marcello Schevano não poder tocar conosco nessa noite (por conta do show que faria com o Golpe de Estado na mesma data, em outro espaço na cidade, no Teatro Eva Wilma, localizado no bairro da Vila Carrão, zona leste de São Paulo), além da sua perda em nossas fileiras, o fato gerou também a que a nossa estrutura logística se quebrara, nesse ínterim. 

A equipe técnica que servir-nos-ia, teve que ser dividida para atender o Golpe de Estado, portanto, se a ideia inicial seria contar com Daniel Barreto, como roadie e motorista da Van que conduzir-nos-ia ao Sesc Pompeia, com essa divisão, ele fora designado para trabalhar com o Golpe de Estado. 

Tudo bem, teríamos dois roadies conosco, da velha equipe da nossa fase Chronophágica, nas pessoas amigas de Samuel Wagner e Daniel "Kid". Mas não haveria um motorista habilitado para conduzir a Van, em princípio. Todavia, tudo mudou quando um amigo de longa data; músico dotado de um altíssimo nível e famoso ao extremo, tomou a dianteira e ao surpreender-nos, ofereceu-se de pronto para conduzir-nos ! 

Não acreditamos, mas o nosso motorista nessa missão, foi Marinho Thomaz, baterista seminal do histórico, "Casa das Máquinas", uma das mais importantes bandas da história do Rock brasileiro, mas também com passagem pelo Tutti-Frutti, Humahuaca e uma infinidade de trabalhos avulsos a serviço de artistas famosos, ao atuar em bandas de apoio, como side man de Guilherme Arantes e muitos outros astros. 

Então, além de ajudar-nos tremendamente com o seu gentil oferecimento, nós ganhamos uma companhia incrível, tanto no percurso em sua ida e volta, quanto nos momentos prazerosos que tivemos no camarim do pré show, quando ele contou-nos histórias inacreditáveis sobre a sua carreira, incluso bem do começo, nos anos sessenta e ainda recuou ainda mais, ao citar a sua infância, ao final dos anos cinquenta, ocasião em que costumava acompanhar o seu irmão, Netinho Thomaz, nos bastidores dos shows do The Clevers, e posteriormente d'Os Incríveis, onde o seu igualmente famoso irmão tocou e foi um grande astro. 

Bem, por essa não esperávamos e foi um prazer inenarrável contar com a sua companhia e sobretudo pelas histórias que garantiu-nos horas com gargalhadas intermináveis, mediante as histórias incríveis e hilárias, que ele contou-nos. 

Chegamos ao Sesc Pompeia e assim que adentramos as suas dependências, pela lateral do seu histórico teatro, claro que muitas lembranças passaram pela minha mente. A Chave do Sol; Língua de Trapo; o programa da TV Cultura, "A Fábrica do Som" e a própria, Patrulha do Espaço em minha fase, que também ali apresentara-se em 2001, sob a nossa formação, na filmagem do programa, "Musikaos", também da TV Cultura. 

Ali construí muitas histórias que já foram relatadas em minha autobiografia, certamente. Todavia, não tocaríamos ali naquela noite, mas no palco de um outro espaço tão icônico quanto, na história do Sesc Pompeia, e igualmente a trazer lembranças, principalmente para a Patrulha do Espaço de nossa formação, com outras apresentações que ali fizemos entre 2001 e 2003. 

Eis que chego ao palco da sua famosa "chopperia" e ao cumprimentar os técnicos da equipe de áudio do backline e PA que ali trabalhavam, sou surpreendido, quando o técnico do PA cumprimenta-me a perguntar-me : -"você não está a lembrar-se de mim, não é mesmo?" 

Cáspite, aquele tipo de situação que eu detesto enfrentar, isto é, não reconhecer alguém com quem eu tivera um contato no passado, a gerar aquele constrangimento... pois então ele quebrou o suspense e esclareceu-me ser o Zé Luiz, técnico de som responsável pela produção do EP d'A Chave do Sol em 1985, no estúdio Vice-Versa. Poxa, não o revia desde tal época, praticamente, apesar de saber que ele trabalhara durante esses anos todos, com diversos artistas, amigos meus, tais como as bandas : Golpe de Estado, Taffo e Dr. Sin. Ótimo, se já era um bom profissional em 1985, imagine em 2018, com a experiência acumulada...

Logo a seguir, chegou ao ambiente, Luiz Carlos Calanca. Estava exausto pela maratona que enfrentara na produção ocorrida na noite anterior sob a sua própria curadoria, mas feliz, por estar a concretizar a comemoração dos quarenta anos de atividades de sua loja e gravadora. 

De fato, em um país como o Brasil, isso foi muito além do extraordinário, mesmo porque, no ramo da cultura, ao raciocinarmos como um negócio a envolver uma loja de discos e gravadora a lançar artistas do nicho underground, realmente persistir foi um ato heroico, do qual ele merece os meus cumprimentos. 

Instalamo-nos no camarim e conversamos bastante, notadamente sobre produção musical nos dias atuais, com a presença do Rolando e de Marta Benévolo e claro que também foi prazeroso esse momento pré show. Fomos para o palco acompanhar o processo da preparação do backline e do PA/monitor e claro, iniciarmos a nossa preparação prévia para o soundcheck. 

Foi quando avistei adentrar ao ambiente, o guitarrista, Micka, líder do Santuário, banda da seara do Heavy-Metal, que fizera a sua fama nesse nicho, nos anos oitenta e que abriria o show, na condição de representante das coletâneas : "SP Metal Volumes I e II", álbuns lançados pela Baratos Afins, que fizeram sucesso entre o público desse universo específico, naquela década. 

A intenção do Luiz Calanca, certamente fora montar o seu festival com representantes de alguns de seus lançamentos e ante a realidade que muitas bandas estavam dissolvidas há anos, houve uma dificuldade operacional na montagem desse elenco a repercutir os quarenta anos de existência da Baratos Afins.

Em conversa que tive com o próprio Micka, sempre muito simpático, por sinal, ele esclareceu-me que o próprio Santuário, na prática não existia mais ativamente, há anos. Houvera realizado um show em 2015, apenas, para que a banda gravasse a sua participação no filme que ele mesmo, Micka, produzira, para contar a história do Heavy Metal no Brasil. 

E agora, a sua banda cumpriria esse show de 2018, novamente com a intenção em filmar e fotografar bem a performance. Nada contra a banda, e muito menos em relação ao Micka, que era/é um sujeito 100% do bem, em todos os sentidos, mas a junção do Santuário conosco foi equivocada ao meu ver. 

O Calanca deveria ter preparado uma noite Heavy-Metal em específico e escalado outra banda do mesmo nicho para atuar com eles, e sem elucubrar muito, digo que artistas como o Salário Mínimo, Centúrias e Harppia, eram bandas que estavam na ativa em 2018, e todas com uma história dentro da Baratos Afins, todavia, o Luiz deve ter tido os seus critérios para escolher e optou dessa forma, embora eu não tenha avaliado tal junção, como muito feliz, pela disparidade entre os estilos. 

Tirante o fato de que a presença d'A Chave do Sol, seria impossível e o Golpe de Estado apresentava um conflito de agenda naquela noite, acredito que mesmo assim, haveria opções mais compatíveis com o nosso nicho de atuação, talvez até "As Radioativas", uma banda bem mais moderna, mas certamente mais próxima de nossa proposta sonora. Bem, condições estéticas tão somente, visto que não haveria e não houve, nenhum problema em conviver e compartilhar o palco com o Santuário, onde aliás, foi um prazer poder conversar com o Micka e os demais componentes dessa banda, nos bastidores, em vários momentos durante aquela tarde e noite. 

Rodrigo Hid e Zé Brasil, no camarim, antes do show. Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia, em 11 de maio de 2018. Acervo e cortesia de Zé Brasil. Click: Silvia Helena 

No camarim, além do pessoal do Santuário, Luiz Carlos Calanca e das histórias incríveis de Marinho Thomaz, recebemos também muitos amigos queridos, antes e depois. Zé Brasil e Silvia Helena, a dupla/casal do Apokalipsys, o músico e crítico musical, Régis Tadeu, Marcelo Dorota Martins, que foi webdesigner da Patrulha do Espaço em 2001, Michel Camporeze Téer e sua esposa, Vera Mendes (ambos citados muitas vezes na minha autobiografia pelo apoio à própria Patrulha do Espaço, mas sobretudo ao Pedra), a produtora musical, Gigi Jardim e seu então namorado, prestes a tornar-se marido, (o guitarrista, Marcello Patto), enfim, foi animado.
No camarim do Sesc Pompeia, antes do show. Foto 1) da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Zé Brasil e Daniel "Kid". Foto 2) Em pé, atrás: eu (Luiz Domingues) e Samuel Wagner. Abaixo: Rodrigo Hid (agachado), Rolando Castello Junior, Daniel "Kid" Ribeiro e Marta Benévolo. Foto 1: Acervo e cortesia: Zé Brasil. Click: Silvia Helena. Foto 2: Acervo e cortesia: Daniel "Kid". Click: Marcelo Dorota Martins

Bem, clima ótimo no camarim, com bastante café e muitas histórias sobre o Rock em São Paulo no ano de 1968, por exemplo, onde muitos ali guardavam inúmeras lembranças para externar, entretanto, fomos avisados que o Santuário estava na penúltima música de seu show, portanto, hora para irmos à coxia e empreendermos os últimos ajustes para entrar em cena...

Então chegamos a coxia, com o Santuário a encerrar o seu show e deu para verificarmos que o Sesc Pompeia recebera um bom público, inclusive havia entusiastas da estética do Heavy-Metal dos anos oitenta no recinto, que respondiam com vivacidade ao espetáculo perpetrado pela banda em questão. Enfim, que bom que o show dos rapazes foi a contento de sua expectativa, e de seu público, também. 

Feitos os ajustes básicos em prol da troca de set up entre as bandas, eis que um funcionário do Sesc abordou-me para dizer que haveria uma apresentação formal para anteceder a nossa entrada em cena. 

Ótimo, achei que seria algo grandiloquente, ao estilo da narração para a entrada de pugilistas no ringue de luta, induzido pelo teor que o rapaz alardeou-me, mas, alguns segundos depois, eu mal pude acreditar que a apresentação simplória com a qual ele mesmo fez a nossa introdução ao público, fosse absolutamente contraditória ao que relatara-me, mas tudo bem, o que importou foi subirmos ao palco, enfim.

Patrulha do Espaço em ação no palco do Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia: Alex Minconi   

Entramos com bastante energia, a tocar temas mais pesados como "Robot" e "Deus Devorador", canções do LP "Patrulha'85", um álbum notadamente marcado pelo flerte da banda com o Heavy-Metal oitentista. Bem, nessa turnê de despedida a ideia seria tocar canções de todos ou pelo menos quase todos os discos da banda, portanto, foi normal haver tal passagem por sons mais pesados que a banda cometeu em alguns momentos da sua carreira. Caso também da música: "Olho Animal", canção do mesmo disco citado e que também executamos nessa noite.

Mais fotos de nosso show no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia: Alex Minconi   

Mas logo vieram temas mais amenos, tais como: "Arrepiado" e "Berro", típicas "Power Ballads" setentistas, e das quais gostei muito em tocar, como houvera ocorrido no show passado em Ponta Grossa, no Paraná. E também, "Simples Toque", uma canção que eu e Rodrigo Hid nunca havíamos tocado anteriormente, em nosso tempo como membros da banda, entre 1999 e 2004, e proveniente do primeiro álbum da Patrulha do Espaço, pós-Arnaldo Baptista, lançado em 1980, o mítico: "álbum preto". Foi muito prazeroso tocar tal música, fortemente influenciada pelo Blues-Rock sessenta/setentista, a la Led Zeppelin. E a nossa interpretação empolgou, pela reação efusiva da plateia. 

Tocamos também: "Ser", uma música da nossa fase (eu e Hid), extraída do CD "Chronophagia" e "Ovnis", esta do LP "4", de 1984, e que eu e Hid também nunca tocáramos em nosso tempo com a banda e da qual também gosto, inclusive da letra, com uma mensagem bonita, a expressar uma intervenção alienígena no planeta Terra, a visar o bem da humanidade etc.

Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Ana Amb
 
A plateia respondeu com calor e carinho, mas eis que algo imponderável ocorreu e se não chegou a desestabilizar-me, tampouco aborrecer-me decisivamente, causou-me outrossim, uma perplexidade pelo seu caráter incompreensível e certamente descortês da parte de quem o protagonizou. 

Bem, ocorreu que lá pela quinta ou sexta música do show, em meio aos aplausos e urros de regozijo da imensa maioria, uma voz isolada passou a usar tais intervalos entre uma música ou outra para chamar-me a atenção, e o fez de uma maneira um tanto quanto agressiva. 

Em princípio, julguei ser uma espécie de brincadeira vinda de algum conhecido e de fato, havia vários no recinto, incluso ex-companheiros de bandas por onde atuei (José Luiz Dinola, ex-A Chave do Sol e ex-Sidharta) e Deca (ex-Pitbulls on Crack e ex-Sidharta) e muitos outros amigos, caso do Nilton Cesar "Cachorrão, um fraternal amigo de longa data e vocalista do Centúrias, até os dias atuais. 

Mas esse rapaz chamava-me a atenção, insistentemente a usar o antigo apelido pelo qual fui conhecido décadas atrás, e eu notei enfim, que o tom de seus gritos não mostrava-se amistoso, nem mesmo como uma brincadeira de mau gosto, como inicialmente eu deduzira. 

Então, após isso começar a ficar mais incisivo, eu procurei identificá-lo visualmente, no afã para entender afinal de contas, sobre o que tratava-se. 

De fato, achei-o em meio a multidão e constatei ser um rapaz grisalho, a denotar que fora jovem possivelmente entre os anos setenta e oitenta, ou seja, dentro da minha faixa etária, igualmente, portanto, devia conhecer-me dessa época, certamente a reforçar a ideia dele ter gritado tanto o meu antigo apelido, para chamar-me a atenção. Mas assim que ele notou que eu o identificara, enfim, mostrou-se de fato agressivo e com um semblante fechado, vociferava: -"volte para os anos oitenta, Tigueis"...

Eu (Luiz Domingues) a mirar na lente sempre inspirada de Edgar Franz, o popular, "Bolívia". Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia

Bem, não respondi-lhe ao microfone, obviamente, visto tratar-se de uma manifestação isolada e só ele pareceu-me estar contrariado com a minha presença no palco em meio a cerca de trezentas pessoas que aplaudiam-me com entusiasmo, portanto, eu não estragaria o astral do show que estava ótimo, para dar visibilidade a este senhor e assim atrapalhar o bom andamento do espetáculo, para incomodar os demais e aliás, quem estava a perturbar ali as pessoas que estavam a apreciar o show, fora ele mesmo com a sua manifestação desagradável, entretanto, fiquei curioso para entender a motivação do rapaz. 

Certamente devia nutrir algum tipo de contrariedade pessoal com a minha pessoa ou pelos trabalhos que desenvolvi ao longo da minha carreira, e a julgar pela sua faixa etária, talvez não gostasse d'A Chave do Sol, banda pela qual mais atuei nos anos oitenta, ou quem sabe, pelo contrário, fosse um fã radical dessa banda ao ponto de julgar-me um traidor por ter tocado em outras bandas, inclusive a própria Patrulha do Espaço. 

Pois esse rapaz teve (e tem), todo o direito de não gostar de meu trabalho artístico, e considerar-me um músico ruim, desinteressante ou pensar o mesmo sobre qualquer banda pela qual atuei, mas aquela hostilidade ali foi tão despropositada, que fiquei curioso por conversar com ele, para ouvir a sua motivação para tratar-me daquela forma. Bem, artista é vitrine e ninguém agrada sob unanimidade. 

Haja vista a função "unlike" nas Redes Sociais em geral e notadamente no YouTube, onde verificamos uma quantidade significativa de manifestações em desagrado com formas de arte que não deveriam receber um sinal desses, sequer. 

Mas elas existem, basta olhar vídeos de concertos das melhores orquestras do mundo a interpretar de uma forma impecável, grandes obras de compositores incontestáveis da música erudita. E mesmo assim, em meio a milhares de "likes", sempre tem uma meia dúzia de "unlikes" registrados ali, anonimamente mais a denotar um ato de sabotagem ou idiotia, como queiram. 

Não é o meu caso, estou a dez milhões de anos luz longe da genialidade de artistas desse quilate, aliás, mas claro que qualquer artista que coloca a sua obra para a avaliação pública está sujeito a ataques dessa natureza. 

E sobre a minha reação no palco, eu também não retruquei com nenhuma sinalização em desagrado, e muito menos com alguma agressividade ou deboche, atitudes que abomino e jamais usaria em cima de um palco, mesmo sendo alvo gratuito de um vilipêndio. 

Apenas olhei e sorri para ele, que demonstrou no seu semblante, que realmente não gostava de minha pessoa. Reitero, ele teve (e tem) todo o direito em não gostar de minha pessoa, não seguir-me em redes sociais, não comprar os meus discos e mudar de emissora se uma música minha estiver a tocar, mas deveria ter ido embora se fora apenas para assistir a primeira banda da noite ou assistido silenciosamente a nossa apresentação, pois acima de tudo, perturbou quem estava a sua volta, mediante os seus gritos desagradáveis. Porém, como sempre... vida que seguiu...

Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Claudio Alexandre Magalhães    

Então o rapaz cansou de espalhar o seu mau humor e sobretudo a sua contrariedade pessoal para comigo e absolutamente incompreensível, por sinal, ao evadir-se do recinto. Ainda bem para quem cercava-o, pois enfim puderam assistir o show em paz, sem a presença de uma pessoa inconveniente a estragar o prazer coletivo. 

Seguimos a tocar normalmente e devo salientar que os meus companheiros nem perceberam essa manifestação isolada, e só fui comentar com o Rodrigo Hid, sobre tal ocorrido, no dia seguinte ao show. 

Temas como, "Não Tenha Medo", "Festa do Rock", "Cão Vadio" e "Homem Carbono" foram executados, com grande resposta do caloroso público presente. E aí chegamos à reta final com "Colúmbia". Não sem antes, o produtor fonográfico, Luiz Carlos Calanca, ser chamado ao palco para ser ovacionado pela plateia. 

Luiz Carlos Calanca, produtor fonográfico e proprietário da loja / gravadora, Baratos Afins, no momento em que foi ovacionado pelo público do Sesc Pompeia de São Paulo, em meio ao show da Patrulha do Espaço. 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia

Visivelmente emocionado, Calanca comemorava com esse micro festival onde o show da Patrulha do Espaço esteve inserido, os quarenta anos de existência de sua famosa loja e gravadora, Baratos Afins. 

Algo notável mesmo, visto que sobreviver por quatro décadas, seja com a loja, seja pela gravadora, realmente revelou-se como um ato de heroísmo em um país como o Brasil, que simplesmente despreza a educação; cultura e preservação de sua própria história. 

Mais que isso, Calanca nunca parou de produzir, a atravessar inúmeras crises econômicas que este país já enfrentou, além dos modismos subculturais, todos, além da derrocada colossal da indústria fonográfica. 

Bem, a história da Baratos Afins com a Patrulha do Espaço já mostrava-se longeva, pois foi uma das primeiras bandas que o Calanca lançou em disco pela sua gravadora. Eu também tenho uma história antiga com tal gravadora, através dos dois primeiros discos d'A Chave do Sol, sob a produção fonográfica de Luiz Carlos Calanca. 

Portanto, foi um prazer participar desse show, também por tal celebração e certamente que eu igualmente considerei muito bonita e justa a ovação que ele recebeu ao subir ao palco, e quando ele aproximou-se de minha pessoa para um abraço no palco, eu pude agradecer-lhe por tudo e esse "tudo", foi a expressão mais apropriada a denotar pelos trabalhos d'A Chave do Sol por ele produzidos, discos da Patrulha do Espaço que ele lançou, embora não sejam da discografia de minha formação, exatamente, mas sinto-me agraciado, igualmente; esforços empreendidos pelo "Pedra", banda que não gravou pela Baratos Afins, mas recebeu ajuda direta dele, através de shows por ele produzidos e muito recentemente (em 2018, mesmo), com Kim Kehl & Os Kurandeiros, quando selamos parceria para o lançamento de um single pela via virtual, onde orgulhosamente obtivemos a chancela da gravadora Baratos Afins, nas plataformas para vendas digitais. 

Em suma, uma parceria com a Patrulha do Espaço, desde 1982, e comigo em particular, através d'A Chave do Sol, desde 1983. Fiquei feliz e orgulhoso por tocar em sua festa de quarenta anos, marcados pela fé no Rock.

Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia: Fran Quadros    

Encerramos o espetáculo e mesmo com o tempo bastante estourado e sob aquela pressão habitual exercida por produtores do Sesc para encerrarmos, pudemos enfim tocar ao menos uma canção em termos de bis, que o público pediu com entusiasmo. E assim executamos: "Vou Rolar", do disco, "Missão na Área 13", para encerrar a noitada.
Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Washington Santos

Missão cumprida, não na Área 13, mas no celebrado Sesc Pompeia, equipamento cultural histórico e encravado em um bairro igualmente histórico para o Rock paulistano; paulista e brasileiro. Fechamos mais uma bela história na Vila Pompeia por onde tanto caminhei pelos idos de 1966 e 1967, tempo em que ali morei e quando em todo quarteirão do bairro havia uma banda de Rock a ensaiar nas tardes de sábado. Rocker tornei-me também, e ali, mais uma vez, "veni, vidi & vici", ave Pompeia Rock... 
Bastidores bem animados, no pós-show. Sempre da esquerda para a direita nas descrições, Foto 1: o casal de filhos de Carlos Muniz Ventura, eu (Luiz Domingues) e o próprio, Carlos, fotógrafo, músico e amigo desde os anos 1980, tendo feito fotos para capas de discos d'A Chave do Sol e Pitbulls on Crack. Acervo e cortesia de Carlos Muniz Ventura. Click: desconhecido. Foto 2: Um velho amigo, o guitarrista, Ricardo Giudice, da banda oitentista, "Abutre" e eu (Luiz Domingues). Acervo e cortesia de Ricardo Giudice. Click: desconhecido. Foto 3: O casal de fotógrafos e filmakers, Bolívia & Cátia, enquadrados pela também fotógrafa, Fran Quadros, com a banda em ação, no palco. Click, acervo e cortesia: Fran Quadros. Foto 4: eu (Luiz Domingues) e a amiga, Raquel Aquino Calabrez. Acervo e cortesia de Raquel Aquino Calabrez. Click: sua filha; Foto 5: Rolando Castello Junior, Ricardo Giudice e Paulo Thomaz (baterista de inúmeras bandas citadas, amplamente em minha autobiografia e nesse momento, 2018, de volta ao Baranga). Click, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia. Foto 6: Confraria de fotógrafos, com Washington Santos, João Pirovic, Fran Quadros e Edgar Franz "Bolívia". Acervo e cortesia de Bolívia & Cátia. Click: Cátia. Foto 7: Lúcio Zapparolli (músico - ex-Santa Gang e técnico de áudio), Amadeu, amigo da Patrulha do Espaço, desde o início da formação Chronophágica, Rogério Utrila (radialista e ativista cultural) e Edgar Franz "Bolívia". Acervo e cortesia de Bolívia & Cátia. Click: Cátia. Foto 8: Edgar Franz "Bolívia" e uma cópia do set list do show da Patrulha do Espaço, em sua mão. Click, acervo e cortesia: Fran Quadros. Foto 9: Daniel Gerber (guitarrista do Power Blues), João Pirovic (fotógrafo) e Carlos Dutra (fotógrafo). Click, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia. Foto 10: Edgar Franz, Marinho Thomaz (baterista do Casa das Máquinas) e Rogério Utrila. Acervo e cortesia de Bolívia & Cátia. Click: Cátia. Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018

Eis abaixo um vídeo a conter duas canções que executamos nessa noite, no Sesc Pompeia : "Não Tenha Medo" e "Arrepiado". Filmagem de André Santos

Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=bU9VL9qkghs

Clima agradável ao extremo na coxia, onde recebi muitos cumprimentos da parte de amigos queridos ali presentes e que estendeu-se ao camarim no pós show. 

Ficamos com a sensação de um bom trabalho realizado, e felizes por termos feito o antepenúltimo show de despedida da nossa banda, em sua cidade natal, além de participar e celebrar o aniversário da Baratos Afins, e homenagear dessa forma, o seu mentor e Rocker inveterado, Luiz Carlos Calanca. 

No dia seguinte, sábado, um compromisso extra fora marcado. A banda não estava a viver a normalidade de sua carreira, tratou-se de uma turnê de despedida, mas essa semana em São Paulo, apesar desse caráter não oficial, pareceu-nos uma rotina de banda na ativa, pois além do show realizado no Sesc e esse compromisso do dia seguinte, que seria a gravação de um programa de rádio, especial, marcaria também a realização de três ensaios para a semana subsequente e mais um show a ser cumprido no sábado, dia 19 de maio, do qual, falo mais adiante nesta narrativa.

Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Foto 1: Click; acervo e cortesia de Raquel Aquino Calabrez. Foto 2: Click; acervo e cortesia de Zé Brasil. Foto 3: Click; acervo e cortesia de Kico Stone. Foto 4: Click; acervo e cortesia de Liz Silva. Foto 5: Click; acervo e cortesia de Bolívia & Cátia

No soundcheck, uma foto clicada pelo vidro da sala técnica, onde vê-se a presença de Marta Benévolo e Rodrigo Hid em meio aos acertos finais e por um pequeno detalhe, Rolando Castello Junior, agachado a arrumar as peças da sua bateria. Patrulha do Espaço no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Ana Amb 

Alguns dias antes, mesmo a anteceder os ensaios que precederam o show no Sesc Pompeia, o Rolando já havia avisado-me que uma emissora de rádio da internet, uma Webradio, havia solicitado a presença da Patrulha do Espaço para a gravação de um programa especial e que envolveria entrevista e uma apresentação ao vivo, gravada previamente em estúdio. 

Ora, nem precisou dizer que emissora ou nem mesmo o programa em questão, pois logo deduzi ser o ótimo, "Live on the Rocks", da Webradio Stay Rock Brazil. 

Eu já havia participado de uma edição desse programa, em outubro de 2015, com Os Kurandeiros e conhecia bem os seus artífices, Rockers inveterados, ativistas culturais incansáveis e também todos, sem exceção, ótimas pessoas. Portanto, fiquei feliz em participar mais uma vez desse programa, na condição de um "ex-componente" convidado para atuar na turnê final da banda e tendo esse compromisso radiofônico como um adendo bem agradável, por sinal. O local foi o Rocks Studio, o mesmo em que participara com Os Kurandeiros em 2015, capitaneado pelo competente guitarrista e técnico de áudio, Fábio Hoffmann.

Cheguei cedo, bem antes do horário pré-combinado e isso deu-se pela facilidade de sua localização ser bem próxima de minha residência. Mas acho que superestimei tal prerrogativa, pois exagerei mesmo em minha avaliação ao ponto de tocar a campainha do estúdio e verificar que não havia ninguém para atender-me no estabelecimento em questão. 

Cerca de meia hora depois, eis que uma moça jovem e bonita, aproximou-se e mediante a posse da chave, deduziu que eu fosse músico, pela obviedade da minha cabeleira Rocker, à moda antiga. E pelo figurino dela, também logo notei que tinha uma relação com a música, ainda que certamente pelos signos mais modernos a denotar apreço pelas vertentes do Rock pesado do período pós anos oitenta. 

Bem recebido pela simpática, Julia Saad Rittner, logo fui informado que ela era assistente de áudio do Studio Rocks, a trabalhar com o Fabio Hoffmann. Ótimo, juventude a renovar e manter a chama acesa dentro da grande cadeia que envolve a música profissional. 

Mais um pouco, e eis que o pessoal da Webradio Stay Rock Brazil chegou e era sempre um prazer estar na companhia agradabilíssima de Adilson Oliveira, um tremendo guitarrista, que nutre uma paixão pelo Rock brasileiro, que é contagiante, o gentleman, Renato Menez e o ultra ativista cultural, Rogério Utrila. 

Ficamos ali sob uma conversa super prazerosa, quando o Renato falou-me que haveria uma série de convidados ali para assistir a entrevista e a gravação do especial ao vivo. 

Bem, esperava algo dentro da normalidade desse programa, com uma gravação discreta, mas ao mesmo tempo, compreendi que a presença da banda estava a ser tratada de uma forma especial, a ostentar uma reverência muito bonita da parte deles, por demonstrar respeito e admiração.

Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Marta Benévolo e Rodrigo Hid. Patrulha do Espaço, no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Ana Amb

Então, muitas pessoas convidadas pela Webradio chegaram, e o engraçado foi que eu conhecia a maioria ali presente, por vê-los constantemente nos shows d'Os Kurandeiros. 

Entre tanta gente valorosa ali reunida, destaco as presenças de Carla Maio (fotógrafa), Índia Dias (que eu conhecia desde a época da banda, "A Chave/The Key", ou Chave "sem" Sol, como ficou apelidada), ou seja, lá pelos idos de 1988, 1989), Ana Amb, Ka Tagnin, Humberto Morais (fotógrafo), além do Raphael Rodrigues, o fã / amigo, que é um dos maiores estudiosos sobre a história do Rock brasileiro, que eu conheço. 

Marcos Kishi, o fotógrafo classe A e também uma testemunha ocular da história a contar-me sempre, sobre ter visto a minha atuação com o Língua de Trapo nos idos de 1983 e 1984, várias vezes, in loco no Teatro Lira Paulistana. E também a presença do gentleman, Toni Estrella, que na verdade estava ali também com uma dupla missão, visto que a sua banda, "Masmorra" iria participar do programa e na verdade, a data pertencia-lhes e por uma intervenção especial a aproveitar a presença da Patrulha do Espaço, agrupada para o show que fizéramos na noite anterior no Sesc Pompeia, houve um esforço para encaixar-nos. Outras pessoas estiveram presentes, também, inclusive a presença de um jovem músico de uma boa banda emergente, chamada, "Picanhas de Chernobyl", bem comprometida com a estética vintage, chamado : Leonardo Barbosa Sacramento, popular, "Ratão". Gostei em ter podido conversar com ele, rapaz humilde, ótimo músico e com aquele brilho no olhar de quem sonha com o Rock, como nos tempos de outrora, portanto claro que identifiquei-me de imediato com ele, pela nossa óbvia similaridade nos ideais.

Rolando Castello Junior em plana ação! Patrulha do Espaço no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Rogério Utrila

Bem, gravamos a entrevista inicialmente, e o estúdio ficou pequeno para tanta gente. Os três entrevistadores estavam visivelmente emocionados com a presença da banda e deixaram isso claro, ao explicitar o sentido da comoção e da honradez em ter a nossa presença ali e claro que eu também não só apreciei tamanha demonstração de respeito e reverência, mas igualmente pela comoção gerada que também comoveu-me, principalmente quando o Rogério Utrila também manteve a tradição do programa, ao declamar um poema de sua autoria, para homenagear a banda, mediante um jogo de palavras a conter títulos de diversas canções do nosso repertório, e que foi muito bonito, onde várias músicas da minha fase na banda com Hid & Schevano, foram citadas e ali, calou-me fundo. 

Logicamente, a maioria das perguntas foram dirigidas ao decano da banda; membro fundador e brigadeiro-mor da nave azulada, visto que foi o único que perdurou em todas as fases e gravou todos os álbuns do grupo. Rolando falou, portanto, sobre os primórdios da formação da banda; a luta travada ao longo desses anos todos, com momentos bons e ruins, como a perda de vários membros, infelizmente abatidos pela inevitabilidade da morte. 

Eu (Luiz Domingues) com a palavra... Patrulha do Espaço no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Marcos Kishi

Enfim, eis que surgiu uma brecha para eu manifestar-me e eu falei que a minha relação com a banda começara em 1977, quando da sua formação, na qualidade de um fã e que bem mais tarde, eu tivera o prazer em ser um componente, a partir de 1999. 

Ressaltei que a nossa formação Chronophágica foi uma formação que marcou na história da banda, por ter princípios muito bem delineados em prol do resgate vintage da sonoridade e estética. Não ocorreu-me mencionar, devido a brevidade do tempo, mas eu acrescento aqui, que sob uma maneira intermediária, a minha relação com a Patrulha do Espaço tornou-se forte entre 1982 e 1983, por conta dos muitos eventos e situações onde a minha então banda, A Chave do Sol, fora ajudada por Rolando Castello Junior, portanto algo histórico, igualmente.

Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid, Rolando Castello Junior e Marta Benévolo. Patrulha do Espaço no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Marcos Kishi

Então, Rodrigo falou também sobre a sua experiência em nossa fase chronophágica, ao relembrar diversas passagens de nossa formação e Marta Benévolo também teve a oportunidade em falar sobre a sua etapa com a banda, mais moderna e a tendência a pender para um material mais pesado, ao gosto dos apreciadores de sonoridades do Hard-Rock e Heavy-Metal oitentistas. 

Encerrada a entrevista, foi a hora para gravarmos algumas canções. Tocamos: "Não Tenha Medo", "Transcendental", "Ser", "Arrepiado" e "Simples Toque".

Luiz Domingues (foro 1) e Rodrigo Hid (foto 2). Patrulha do Espaço no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Rogério Utrila

Feita essa gravação, encerrou-se a nossa participação, e assim fomos embora do local, satisfeitos com a acolhida dos amigos da Webradio Stay Rock Brazil e também da parte do Rocks Studio.

Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Marta Benévolo, Renato Menez, Rolando Castello Junior e Adilson Oliveira. Agachados: Rodrigo Hid e Rogério Utrila. Patrulha do Espaço no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Marcos Kishi

Muito bom ter tido essa oportunidade, por tudo o que já comentei anteriormente, e sobretudo pela reverência demonstrada pelos rapazes à banda e a cada um de nós, individualmente.
A confraternização total com todo mundo que esteve no Rocks Studio para prestigiar-nos na gravação do programa. Patrulha do Espaço no programa Live on the Rocks, da Webradio Stay Rock Brazil. Rocks Studio de São Paulo. 12 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Marcos Kishi 

Bem, um show extra fora marcado para a cidade de São Paulo. Tratou-se da participação da Patrulha do Espaço, na Virada Cultural de São Paulo, que realizar-se-ia, ao final de semana subsequente. 

O tal show extra em São Paulo, que o Rolando aventara, foi mesmo agendado e tratou-se da inserção da banda no evento, "Virada Cultural", tradicional na cidade, desde muito tempo. Ótimo, tocaríamos em um palco bem estruturado, no centro da cidade e certamente ante uma grande multidão. 

Como havíamos tocado na sexta-feira anterior, e no sábado subsequente participáramos da gravação do programa, "Live on the Rocks", da Webradio Stay Rock Brazil, a confirmação da nossa participação na Virada Cultural de São Paulo motivou a marcação de mais ensaios, mesmo por que, Marcello Schevano participaria conosco e assim, músicas clássicas da nossa formação, seriam executadas. 

Muito bem, reunimo-nos portanto, nos dias 14, 15 & 16 de maio, no estúdio Orra Meu e assim realizamos ensaios com o time "chronophágico" completo, mais a presença da cantora, Marta Benévolo, naturalmente. Tivemos também um convidado especial, na presença do vocalista, Rogério Fernandes, que fora convidado e cantaria a canção, "Cão Vadio", conosco.

Ensaios bons, incluímos canções tais como: "Nave Ave"; "Homem Carbono" e "Sunshine", tradicionais pelo uso de teclados e a estabelecer o revezamento na pilotagem entre Rodrigo e Marcello, uma tradição em nossa formação, além de outras, caso de "São Paulo City", onde o duo de guitarras feito por ambos, sempre foi muito marcante em nossos shows, quando da existência da nossa formação ao início dos anos 2000. 

No dia do show, reunimo-nos no Estúdio Orra Meu e de lá saímos juntos, no uso de uma Van, mas a nossa comitiva não sairia inteira, visto que por coincidência, o Marcello teria show com o seu "Carro Bomba", naquela mesma noite, em uma casa noturna localizada na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. Bem, em meio a confusão que é chegar perto de um dos inúmeros palcos espalhados pela cidade, dentro da "Virada Cultural", além do trânsito mastodôntico gerado pela interdição de várias ruas, chegamos enfim e conseguimos estacionar a Van, dentro de um espaço reservado. 

Fazia um frio intenso e os camarins, apesar de reservados e separados para cada artista, na verdade revelaram-se como tendas de lona, portanto, pouco contribuíram para amenizar a sensação de frio.

Assim que chegamos, o Lafayette apresentava-se e a rebarba do som que ouvíamos da monitoração, com evidente delay (atraso), estava com uma massa sonora forte, mas tudo bem mixado, com um equilíbrio bom. Fui assistir um pouco da apresentação pela coxia e apreciei a performance. 

O som parecia bom na monitoração e a banda tocava com muita energia. Para quem não sabe, Lafayette foi tecladista da banda do Roberto Carlos, RC7, no tempo da Jovem Guarda e tinha, tradicionalmente, como sua marca registrada, o uso daqueles timbres provenientes do órgão Farfisa e/ou Vox, típicos da década de sessenta, super usados no Rock Pop ao estilo "Bubblegum", também por algumas bandas psicodélicas daquela década e a turma da Jovem Guarda igualmente seguira tal tendência. 

Bem, cercado por músicos mais jovens e egressos da cena Indie noventista, tais como alguns membros de bandas como "Autoramas" e "Penélope", o velho Lafayette mostrou estar em grande forma e claro, em pleno uso daqueles timbres clássicos que o notabilizara. Com um repertório 100% calcado no cancioneiro da Jovem Guarda e com predomínio lógico das canções do Roberto Carlos, a apresentação foi muito boa e o público respondeu com bastante entusiasmo. 

Aliás, também reparei quando assisti pela coxia, que já havia uma boa multidão ali presente e segundo fui informado por pessoas ligadas à produção do evento, em nossa apresentação, tendia a aumentar, pois esperavam uma grande massa por nossa conta e do Made in Brazil, que tocaria a seguir. 

Tratou-se do palco denominado: "História do Rock", que localizou-se na Avenida Ipiranga, bem na altura do clássico Edifício Copan, famoso por ter uma arquitetura ousada e celebrada por ter sido assinada pelo arquiteto, Oscar Niemeyer. 

Encerrado o show do Lafayette, fomos chamados ao palco para a preparação do set up e fora aventada a realização de um ligeiro soundcheck. Descartamos tal operação, no entanto, pois fazer isso em frente a uma multidão ali colocada e logicamente aos berros pela adrenalina proveniente da sua expectativa, teria sido muito inconveniente. 

Show ao ar livre é sempre complicado e soundcheck tem que ser feito com sossego e com silêncio, portanto, confiamos que a equalização básica já estava feita pelos shows dos artistas que haviam apresentado-se antes de nós e pelo que vimos no caso do Lafayette, estava tudo bem equilibrado, com a devida ressalva de que o nosso som seria muitíssimo mais pesado que a Jovem Guarda que tal banda praticara.

Flagrantes da nossa apresentação na Virada Cultural de São Paulo, em 2018. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Clicks; acervo e cortesia de Marcos Kishi

Tivemos boas presenças no camarim. Marinho Thomaz, baterista do Casa das Máquinas, Luiz Carlos Calanca, proprietário da Loja/gravadora, Baratos Afins, Elizabeth Queiroz, cantora e o seu namorado, o intelectual, Sérgio Barbi, enfim, foram boas as conversas ali travadas nos momentos que antecederam o espetáculo. Chegara a hora, fomos para o palco.

Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid, Rolando Castello Junior (ao fundo, na bateria), Marta Banévolo e Marcello Schevano. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Marco Antonio

De fato, houve uma grande multidão presente e que esteve ali pronta para enfrentar o frio que fora intenso, potencializado pela sensação térmica, graças às fortes rajadas de vento. Enquanto tocava, eu via a ação do vento sobre as bases de sustentação da lona de proteção, e em alguns momentos, chegou a ser assustador. 

E também pela ação da garoa fina, típica paulistana, embora cada vez mais rara na capital bandeirante, devido a tantas mudanças climáticas nas últimas décadas. 

Começamos com um set pesado, a privilegiar o Hard-Rock, inicialmente e o público respondeu com entusiasmo. Foi patente ser um público Rocker e formado por muitos fãs da Patrulha do Espaço, certamente.

Rodrigo Hid & Marcello Schevano, o duo de guitarras da nossa formação chronophágica em pelo momento de energia intensa. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Acervo e cortesia de Rodrigo Hid. Click: desconhecido

Então fomos mesclar um pouco com as canções mais amenas e também com os temas mais progressivos, onde mediante o uso dos teclados, e o clássico revezamento entre Hid e Schevano ao instrumento, revivemos com galhardia a nossa formação, em sua potencialidade. 

Devo registrar que a canção, "Sunshine", arrancou urros da plateia e com quatro vozes, incluso a presença de Marta Benévolo, eis que soou bem bonita a nossa performance. 

Quando fomos tocar "São Paulo City", algo inusitado ocorreu, no entanto. Eis que iniciamos e com muita energia, o público já entrou de primeira no embalo do pesado riff orientado pelo Blues-Rock, mas infelizmente, quando fomos entrar no refrão e para quem conhece a canção e sobretudo bem a respeito da nossa formação, sabe o quanto essa vocalização entra com força, no entanto, eis que uma voz intrusa soou inesperadamente nos monitores. 

Naquela fração de segundos, ficamos confusos sobre o que ocorria e quando eu olhei ao lado, vi que um intruso surgira, de uma forma completamente fortuita e subira ao palco para cantar, sem ser convidado. 

Segundo a Marta falou-nos posteriormente, o sujeito havia surpreendido-a (negativamente, é claro), ao surgir inesperadamente a arrancar-lhe o microfone da sua mão, para cantar. Deu para ver que ele usava uma camiseta com a estampa do logotipo da nossa banda, a denotar que era nosso fã e pelo jeito que cantou, certamente que o era, mesmo. 

Então, sinalizamos aos roadies que tomassem alguma atitude, visto que a segurança do evento, mostrara-se falha em permitir que o rapaz invadisse o palco e pior ainda, ao não esboçar tomar uma providência rápida para que ele fosse retirado dali. 

Uma panorâmica banda. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Raquel Aquino Calabraz

Ficamos atônitos e certamente chateados por tal invasão e demonstração de completa falta de noção do rapaz em questão, mas rapidamente absorvemos a grosseria de sua parte e seguimos em frente, é óbvio. Três ou quatro músicas adiante, ei que eu olho para trás e flagro o mesmo elemento a vir em franca correria, novamente, em direção à ponta do palco e com a deliberada intenção em forjar cantar conosco, mais uma vez. Desta feita, os nossos roadies foram rápidos e quando avançaram em direção ao rapaz, ele bateu em debandada, quando fugiu em direção ao público, e ao pular a grade de proteção e pela queda que teve, creio ter machucado-se com certa gravidade, mediante a presença de sangue a escorrer pelo seu rosto. 

Bem, cabe dizer que o rapaz, independente de sua inconveniência, demonstrou dotes vocais, pois cantou no tom e mediante uma potência vocal a denotar ser um cantor de fato, ou no mínimo, um bom aspirante. 

Até aí, de certa forma, justificara-se a sua vontade em querer cantar conosco, mas cabe uma reflexão e ela é bem óbvia, na verdade. Ora, se ele sonhava em ser cantor de uma banda de Rock e desejava uma chance para demonstrar o seu potencial, essa foi a pior alternativa que escolheu para exercê-la. 

Senão veja, amigo leitor: se almejara ser um artista, deveria aprender que invadir o palco de um artista e constrangê-lo da maneira como o fez, foi de uma descortesia ímpar. Marcello contou-nos que esse rapaz era figura recorrente em outros shows, principalmente de bandas veteranas setentistas. Ele já havia visto o sujeito invadir o palco do Casa das Máquinas, banda pela qual atuava, igualmente, e com o mesmo procedimento, muito mal-educado. Fica aí o recado, não é assim que constrói-se uma carreira. 

Que montasse uma banda, atuasse a percorrer a "via crucis" de todo aspirante a artista, e sobretudo, que aprendesse ser o palco, um templo sagrado e ali, quando algum energúmeno o invade, quebra-se a magia do espetáculo, ao tirar a concentração do artista. E quebrada essa conexão mágica, fica difícil reavê-la. Que mudasse o seu comportamento o quanto antes, portanto. 

Sei que tornou-se uma moda bem recente (2018), fotos com bandas no contraplano, após o término dos seus shows, para enquadrar o seu público junto a si, mas particularmente, não gosto desse expediente. No entanto, eis aqui tal postura ao término do nosso show na Virada Cultural de São Paulo. Da esquerda para a direita: Marcello Schevano, Marta Benévolo, Rolando Castello Junior, Rodrigo Hid e eu (Luiz Domingues). Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Leandro Almeida

Tirante esse pequeno imbróglio, que mais revelou-se como um ato gerado pela falta de educação da parte de um incauto, o show foi excelente, a honrar as tradições da banda e marcar a penúltima apresentação da nossa "nave ave" em sua carreira, que encerrava-se, na cidade de São Paulo, o seu berço. 

Ali, em frente àquela multidão, em plena Avenida Ipiranga, aos pés do Edifício Copan, tocamos com energia e pronta resposta popular. Missão cumprida sob intenso frio, nessa noite.

Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid e Marta Benévolo. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Raquel Aquino Calabraz

Nos bastidores, encontrei-me com o vocalista, Rubens Nardo e o baterista, Dimas Zanelli, que tocariam a seguir com o Made in Brazil, e mais uma porção de amigos, entre eles, Michel Caporeze Téer e a sua esposa, Vera Mendes. Frio intenso, ainda intensificado, já batia na casa da uma hora da manhã, quando fomos embora. A nossa próxima reunião seria em Belo Horizonte, em Minas Gerais, em 16 de junho.
No camarim, pouco tempo antes de iniciarmos os show. Da esquerda para a direita: Marcello Schevano, Marta Benévolo, eu (Luiz Domingues), Rolando Castello Junior e Rodrigo Hid. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Leandro Almeida

Tudo certo para a continuidade da turnê, após os dois shows e a apresentação ao vivo no estúdio Rocks Off, para o programa: "Live on the Rocks", da Webradio Stay Rock Brazil, e com tudo tendo ocorrido em maio de 2018, na cidade de São Paulo, um fato novo e deveras surpreendente, sabotou a nossa apresentação em Belo Horizonte. 

Eis que ainda em maio desse ano, estourou uma greve geral dos caminhoneiros no Brasil, e a sociedade finalmente percebeu o quão errônea a política de infraestrutura, toda focada no transporte rodoviário, fomentada por décadas a fio, revelou-se ao ponto de constatar o abastecimento estrangulado e a população, chegar assim, ao limiar do desespero, sem combustível nos postos e consequentemente verificar que para chegar-se à barbárie social, bastava cortar o combustível fóssil... entretanto, e a Patrulha do Espaço com isso? Bem, o show em Belo Horizonte foi sumariamente cancelado, infelizmente.

Sanada a greve e a normalização da sociedade garantida, eis que por volta de julho, recebo a comunicação que uma nova data fora agendada para setembro. 

Cartaz recebido e pronto para a divulgação, data reservada para não coincidir com apontamentos d'Os Kurandeiros, eu já avisara os meus muitos amigos em Minas Gerais, com maior foco em Belo Horizonte e cidades da Grande BH, principalmente e houve uma animação por essa apresentação e a oportunidade em rever amigos mineiros etc. e tal, porém... quando a data aproximou-se e estávamos no limite para estabelecer a comunicação sobre a logística, com a confirmação da passagem aérea e reserva de hotel, no entanto, infelizmente veio a confirmação de um novo cancelamento. 

Não houve um acerto financeiro adequado desta feita e assim, cancelou-se o show. Fiquei chateado, aliás, todos nós, incluso os amigos e fãs mineiros, pelo que constatei nas redes sociais, mas foi inevitável. 

Uma pena, adiei o combinado café & pão de queijo para uma outra ocasião com os amigos de Minas. Nesses termos, ficou a perspectiva apenas do último show em São Paulo e consequentemente, o último da carreira da banda. 

Continua...

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