Conforme eu mencionei ao final do último capítulo, infelizmente no ano de 2013, nos reunimos apenas pela ocasião do aniversário da Isabela Johansen, em janeiro. Após essa festa, agradabilíssima, por sinal, eu somente tive contatos virtuais com o Ciro Pessoa, Caleb Luporini e Paulo Pires, os membros dos "Nudes".
Já no caso do Kim Kehl, o contato era constante por conta das atividades d'Os Kurandeiros e neste momento de início de 2014, somada à recente criação da Magnólia Blues Band, logicamente (esta banda também tem os seus capítulos exclusivos dentro da minha autobiografia).
Vez
por outra também conversei virtualmente com a Luciana Andrade, mesmo
que ela não fizesse mais parte da banda e de fato, doravante ela esteve focada em sua carreira solo, e com
sucesso, pelo que pude acompanhar.
Ciro Pessoa em foto promocional de 2014. Fonte: Internet
Entretanto, por volta de fevereiro de 2014, uma notícia boa apareceu na minha caixa de e-mails, vinda da parte do Ciro Pessoa: "show em Piracicaba!"
Abri o e-mail com entusiasmo, porque sempre gostei do trabalho, da loucura toda que envolve o Ciro e da sua bagagem extra-musical a evocar o surrealismo, tanto na música quanto na literatura, mas com respingos múltiplos, naturalmente.
Ouso dizer que
apesar de parecer uma obviedade, não é todo mundo que estabelece uma
ligação direta e reta entre a psicodelia sessentista no âmbito do Rock &
contracultura em geral, com o surrealismo, propriamente dito.
E o Ciro o fazia de uma forma franca e absolutamente natural, portanto, se tornara evidente que eu me afeiçoara ao trabalho de uma forma entusiasmada.
No caso do e-mail em si, o seu teor foi animador: um show houvera sido fechado para o "Nudes", na cidade de Piracicaba-SP, exatamente na unidade do Sesc local. Tal espetáculo seria parte de um evento temático sobre surrealismo, a englobar exposições e palestras com escritores, inclusive sob renome e peso, caso do intelectual, Claudio Willer: poeta, escritor e pesquisador, a se tratar de uma das maiores autoridades sobre o surrealismo no Brasil.
Nada
mais animador para uma retomada do trabalho, portanto e com a certeza de que
haveria, como sempre há como uma praxe na rede Sesc, uma estrutura boa, com som e iluminação de qualidade, além de
estrutura profissional de camarim, cenotécnica e um cachê digno, certamente.
Claro que respondi animadamente ao Ciro, que eu estava a postos, e a aguardar a definição do repertório e marcação de ensaios.
O meu amigo, Carlinhos Machado, baterista d'Os Kurandeiros e do Magnólia Blues Band, e que em 2014, também passou a integrar o "Nudes" de Ciro Pessoa. Fonte: Internet
Logo
surgiu uma resposta e eu soube que haveriam novidades na formação dos Nudes,
e muito animadoras para nós, diga-se de passagem, ainda que seja cabível um
esclarecimento sobre esse fato.
Bem, o Ciro havia cogitado com o Kim, a possibilidade do baterista d'Os Kurandeiros e da Magnólia Blues Band, Carlinhos Machado, entrar para os Nudes, também. Claro que achei sensacional a ideia de ter um amigo a mais na banda, a tornar o convívio, ainda mais prazeroso.
No entanto, cabe a ressalva de que eu não tinha
nada contra Paulo Pires e Caleb Luporini, baterista e tecladista que
faziam parte da banda, assim que ingressei no trabalho em 2011. Aliás, muito pelo contrário, os achava bons músicos e o nosso relacionamento foi ótimo, nos três shows que fizemos juntos, anteriormente.
Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues), em foto de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Mas a ideia de contar com o Carlinhos na banda, foi excelente, pela nossa amizade firmada há muitos anos e nada contra os demais que não fariam parte da banda doravante, é lógico.
Outra novidade, seria a inclusão da então esposa do Ciro,
Isabela Johansen, nos vocais, a suprir a ausência da ótima, Luciana
Andrade, que deixara a banda.
Isabela Johansen, cantora, guitarrista e compositora. Fonte: Internet
De fato, Isabela detinha dotes
musicais muito bons e uma experiência pregressa como vocalista e guitarrista de bandas de Rock
anteriormente, portanto, certamente que ela não seria uma presença forçada pelo nepotismo da parte do Ciro, goela abaixo de
todos, mas muito pelo contrário, se tornou um acréscimo bastante positivo à estrutura da banda.
Com essa
perspectiva de reformulação total da banda, ensaios foram marcados e o Ciro
passou uma incumbência pessoal para o Kim e eu mesmo (Luiz).
Kim Kehl em foto ao vivo: Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Juja Kehl
O Kim criou um tema com climas incríveis, sob uma sequência de acordes que trazia consigo uma melancolia soturna, porém com uma doçura subliminar e dramática.
Nos ensaios, ficamos muito animados com o resultado, pois mesmo sendo um tema esvoaçante, sem pulsação definida e com o baixo e a bateria só a praticar efeitos, praticamente, ficou muito bonito, a emoldurar de maneira muito efusiva a locução performática que o Ciro desejava para esse início de show.
Ao ir além, tal tema caiu como uma luva para se tornar o início do show e por se considerar que o Ciro planejava uma entrada em cena a usar a persona de René Magritte como inspiração para sua performance, eis que ficou realmente esplêndido.
Tal tema inicial recebeu o título de: "Evacuando
Ideias na Selva do Improvável" e apesar de um certo tom escatológico
que poderia ser sugerido, tal nome desejou expressar mais o sentido da catarse
intelectual do que qualquer outra coisa, evidentemente.
Eu, Luiz Domingues, em foto informal de janeiro de 2000. Acervo pessoal
No meu caso, a incumbência que ele me passara, fora semelhante. Tratou-se de um outro texto bruto, ao estilo Beatnick, denominado: "As Nuvens Enjauladas do Zoo".
Pensei inicialmente em um tema sob "looping", a trazer uma certa lembrança do trabalho do "The Doors" em canções que hipnoticamente tal banda tocava com um ou dois acordes, apenas para dar vazão ao seu vocalista, Jim Morrison poder declamar ou algo estritamente psicodélico, no estilo próximo ao som psicodélico com sabor jazzístico, do grupo, "Love", do polêmico, Arthur Lee.
Contudo, no primeiro ensaio que
fizemos, ao visar o show do Sesc Piracicaba, a ideia ganhou um outro
contorno, não muito diferente do que eu imaginei inicialmente, porém mais
"tenso", eu diria.
Na segunda ilustração, a histórica capa do primeiro álbum do King Crinsom, "In The Court of the Crimson King", lançado em 1969
Bem, o que ocorreu no desenvolvimento desse tema, foi que ele se tornou muito "nervoso", ao lhe conferir uma ambientação "esquizoide", logicamente a lembrar o som do grupo Prog-Rock, King Crimson dos primeiros tempos, e dessa forma, a interpretação do Ciro para declamar o seu texto, ganhou tal amplitude de uma loucura desesperada, quiçá desmesurada e claro que ficou muito intenso para ele interpretar e entusiasmou a todos, principalmente o Ciro, é claro.
Não foi exatamente o que eu estava a imaginar, mas
confesso que tal intensidade a lembrar um surto psicótico, me agradou como uma expressão figadal, pois
foi evidente que o Ciro usaria e abusaria desse tema para intensificar
a sua performance ao vivo.
E na realidade, isso foi proporcionado pelo Carlinhos Machado, pois quando eu propus mostrar a ideia para ele, visto que fomos os primeiros a chegarmos ao estúdio para o ensaio, ele propôs instintivamente sob um andamento muito além do que eu havia concebido e dessa forma, mudou a sua característica e lhe forneceu ainda mais dramaticidade.
Os ensaios, portanto, correram sob tal expectativa de se acrescentar músicas novas, a serem compostas ali no calor da ocasião e
com total interatividade coletiva.
Por exemplo, tirante tais temas dos quais eu já observei, houve uma canção composta ao violão pela Isabela, que estava semi-pronta, com uma letra a usar um poema de Manoel de Barros, o famoso poeta surreal. Parecia uma canção Folk, bem sessentista, a lembrar canções como as praticadas por grupos vocais sessentistas, tais como: "The Mamas and the Papas", "Peter, Paul & Mary", e outros artistas similares, ou seja, com uma certa docilidade. Lembrava de certa forma também, o trabalho d'Os Mutantes, nos seus tempos mais de seus primórdios psicodélicos e com a Rita Lee a transitar entre a loucura explícita e a docilidade ingênua, ao estilo "Pollyanesca".
A adaptação do Carlinhos Machado à banda esteve excelente. Ele se sentira preocupado em ter que decorar tantas músicas novas em poucos ensaios, mas absolutamente ambientado e integrado, a interagir com desenvoltura conosco. Haveriam apenas mais dois ensaios, no entanto, e com a inclusão de novas músicas, ou seja, acho que o Carlinhos teve certa razão para ficar apreensivo.
Eu (Luiz Domingues) a usar camisa clara no banco da frente e Kim Kehl, atrás a olhar o seu telefone. Em clima de descontração dentro da van da produtora, ao nos dirigirmos para a cidade de Piracicaba-SP, em abril de 2014. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado
A viagem foi agradabilíssima, em clima de grande camaradagem, com descontração e brincadeiras sobre tudo e todos, conforme as conversas evoluíam dentro da van. Ao chegarmos em Piracicaba, me chamou a atenção como o volume de água do famoso rio homônimo, estava muito abaixo de seu normal.
Carlinhos Machado na frente a comandar a selfie. No banco intermediário, Kim Kehl e atrás, Ciro Pessoa e Isabela Johansen. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado
Eu havia visitado aquela simpática cidade interiorana pela última vez em 2008, quando fora me apresentar com o Pedra, no mesmo Sesc.
Estacionamos
na porta do Sesc e a movimentação normal do cotidiano daquela unidade se mostrava em sua totalidade. Muitas crianças e adolescentes a usarem as instalações
esportivas, idosos nas atividades de terceira idade, lanchonete lotada,
pessoas a usufruírem das dependências etc. Foi bonito ver como o Sesc
cumpria a sua função social com galhardia, e a servir uma cidade interiorana do
porte de Piracicaba, isso se amplificara.
Detalhes do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido
O show do Ciro Pessoa fora mais uma peça inserida na semana temática sobre o surrealismo que o Sesc Piracicaba promoveu, onde já haviam ocorrido debates sensacionais, entre os quais, um com Claudio Willer, um dos grandes "Papas" da literatura beat e um especialista em surrealismo.
Willer estava naquele instante,
muito entusiasmado com o trabalho literário do próprio, Ciro, e já havia
inclusive assinado o prefácio do seu livro, que estava no prelo.
Portanto, a ambientação para o nosso show, foi a mais favorável possível.
Mais detalhes do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido
Como cenário, usamos uma projeção simples no telão, mas que outorgou uma
ambientação fantástica e muito condizente com o espírito do show.
Mais uma página do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido
As
imagens foram de nuvens a passarem o tempo todo, a oferecer um caráter
onírico ao espetáculo. Fora de uma simplicidade total, ao contrário de
outros shows que o Ciro fizera anteriormente, inclusive com cenários
sofisticados, sob extrema ambientação psicodélica e surrealista.
Mais detalhes do programa a respeito da semana temática sobre o surrealismo, evento ocorrido em abril de 2014 no Sesc de Piracicaba-SP, na qual o nosso show foi inserido
Desta
feita, a ideia fora buscar a simplicidade, contudo, a sugerir o aspecto onírico, implícito.
Outro fator conceitual se deu nos figurinos e instrumentos. Para
quebrar o extremo uso de cores psicodélicas de shows anteriores, a
Isabela deu a ideia de um conceito em branco e preto, generalizado.
Usamos todos nós, portanto, figurino a combinar os dois tons básicos e também estendemos o conceito aos instrumentos. Enquanto conceito, achei boa a ideia e acatei a decisão geral sem problemas, mas claro, fica a ressalva óbvia, de que se dependesse somente de meu gosto pessoal, afogar-nos-íamos em cores caleidoscópicas, absolutamente psicodélicas e lisérgicas, sempre...
Instrumentos a postos no palco! Ciro
Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014.
Click, acervo e cortesia: Kim Kehl
O
Kim levou consigo, duas guitarras, uma Gibson Les Paul preta e uma Fender
Stratocaster branca e eu levei o meu Fender Jazz Bass, preto. O Carlinhos
tinha uma bateria preta, mas por conveniência logística, usou a
bateria disponibilizada pelo Sesc, uma carcaça "cherry", mas sem maior
prejuízo ao conceito estético proposto.
Tudo foi muito tranquilo no soundcheck, com os técnicos de som e luz a atender-nos com simpatia. O background de apoio do Sesc funcionou no padrão da instituição, e estávamos animados para fazer o show.
Ciro Pessoa a aguardar o momento do soundcheck. Ciro
Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014.
Click, acervo e cortesia: Kim Kehl
A relaxar
no camarim, preparamo-nos com tranquilidade para entrar em cena. O Ciro
usou um terno, com apoio de acessórios, como um belo chapéu "coco" e um
guarda-chuva enorme, a dar-lhe incrível semelhança com a figura de René
Magritte. Foi proposital, logicamente, e sua entrada em cena, foi
sensacional com esse figurino e performance absolutamente surreal.
A banda reunida no camarim poucos minutos antes de adentrar o palco. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Click (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado
Antecipei-me um pouco...
agora sim é hora para falar do show, portanto!
Tudo pronto, os três sinais do teatro tocaram enfim e como era (é) bom para um artista se apresentar em um teatro, nunca me canso de exaltar isso, e reforçar o conceito de que tocamos sempre onde é possível, mas o ideal, sempre, é um ambiente adequado para a prática da arte com todo o conforto para todos, incluso o público, naturalmente.
Ciro Pessoa envolto pelas nuvens exibidas no telão. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
O genial artista plástico, René Magritte. Fonte: Internet
O seu visual, incluso um estratégico chapéu coco, remetera ao René Magritte e no gestual, fazia referência à sua figura surreal.
Muito lentamente a acompanhar a mudança sonora no áudio, Ciro começou a declamar o seu novo poema: "Evacuando Ideias na Selva do Improvável", que o Kim havia musicado, mas não como música Pop cantada, porém apenas a estabelecer uma ambientação climática.
Com o Ciro a declamar o seu hermético poema. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
Ciro & Nudes em momento intenso no palco. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
Uma releitura diferente também foi executada ao vivo, nesse dia. Sob uma escolha de Ciro & Isa, tocamos: "Mágica", d'Os Mutantes, uma música não muito lembrada do repertório dessa celebrada banda (ela consta em seu segundo LP, de 1969), mas que teve tudo a ver com a atmosfera permeada pelo surrealismo total que o Ciro quis imprimir para esse show.
A loucura estava a explodir com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
Outro conceito adotado, mas desta feita com uma ideia da Isabela, todos tocamos a usar figurino em preto e branco e até nos instrumentos tentamos fazer valer essa ideia estética, conforme já havia dito anteriormente.
Isabela e Ciro na frente com Carlinhos Machado ao fundo. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
Isabela lança bolhas de sabão para a plateia, enquanto o Ciro caminhava para o camarim. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
Kim Kehl, Isabela Johansen, Ciro Pessoa, Carlinhos Machado e Luiz Domingues: o Nudes agradece ao público, findo o espetáculo. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
E como eu apreciava estar em um espetáculo com esses componentes estéticos todos reunidos! Só faltou mesmo o colorido no figurino para ser perfeito, embora eu ache que o conceito P & B que a Isabela idealizou, funcionou e foi até interessante pela sobriedade a não ofuscar a atenção ao texto.
No camarim do pós-show, tivemos assédio, apesar da baixa frequência no teatro. Uma fã do Ciro (na foto acima, em pé entre eu e o próprio Ciro), viajara de uma cidade próxima, só para nos ver em ação, e estava eufórica pela performance. Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado) Ciro Pessoa e Nu Descendo a Escada no Sesc Piracicaba-SP, em abril de 2014. Acervo e cortesia: Ciro Pessoa. Click: produtor do show (nome não anotado)
Cartaz elaborado para divulgar o show de Ciro & Nudes no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014
Placa de entrada do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo. Fonte: Internet
O saguão de espera do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo. Fonte: Internet
Interior do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo
Outro ângulo do saguão de espera para o público do Teatro Parlapatões, na Praça Roosevelt, localizado no bairro da Consolação, no centro de São Paulo
1) Cancelar a apresentação.
2) Tocar com uma amplificação reduzida e estabelecer uma dinâmica muito disciplinada para usar o parco PA do Teatro e sem microfonar a bateria e os amplificadores, evidentemente.
Cartaz alternativo sobre o nosso show no Teatro Parlapatões de São Paulo em 5 de junho de 2014.
Enfim, era o tipo de pessoas que acham que um show musical dependia apenas de se ligar um plug na tomada, como se aciona um eletrodoméstico na cozinha de uma residência.
Com o som acertado e por incrível que pareça sob uma situação bizarra por não haver nenhum instrumento acoplado ao PA do teatro (nem mesmo a bateria, pasmem!), nesse momento foi só aguardar os três sinais do teatro e começar o espetáculo.
Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Clicks (selfies nas fotos 3 e 4), acervo e cortesia: Carlinhos Machado
Vista do camarim para o palco, do Teatro Parlapatões com o backline do Nudes a postos. Click: Lara Pap
Ali, no improviso total, o Ciro teve uma ideia bizarra e que no âmago do trabalho, todo amalgamado pela loucura que o permeava naturalmente, seria plausível e impactante. Como o camarim ficava instalado sob um patamar acima do palco, bem alto por sinal, o acesso para o palco se fazia por uma escada íngreme e com uma certa periculosidade até, e se encontrava ao fundo, a quebrar um pouco a ideia de um palco italiano tradicional, com saídas laterais para as coxias etc.
O palco montado para a apresentação. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Ilustração a conter a obra: "Nu Descendo a Escada", obra de Marcel Duchamp, realizada em 1912. Fonte: Internet
Sobre a ideia extravagante que o Ciro propôs, como é sabido, o nome da banda era: "Nu Descendo a Escada" (tal nome, aliás, fora baseado em uma pintura assinada por Marcel Duchamp, datada do ano de 1912), portanto, ao verificar a escada íngreme e com a projeção que havíamos programado para ser exibida na hora do show e no caso a usar a própria parede, portanto, com a escada a fazer parte involuntária de tal parede, o Ciro de pronto sugeriu que nos despíssemos e entrássemos em cena inteiramente nus para impactar a plateia e fazer jus à loucura que permeava o trabalho.
Isabela Johansen aparece agachada a preparar algumas "colas" estratégicas a conter trechos de letras de músicas, colocadas no piso do palco, próximo ao microfone que usaria em cena. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Momentos do soundcheck. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Flagrantes do show! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
O show foi uma loucura! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Assista abaixo o vídeo de duas canções: "Evacuando Ideias na Selva do Improvável" + "Praia de Marfim", com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, no Teatro Parlapatões, de São Paulo, em 5 de junho de 2014
https://www.youtube.com/watch?v=G3jPO8c76Js
Logo na primeira música, um sujeito estranho entrou a correr no teatro, por ter surgido da rua e invadiu o palco, quase a tocar no Ciro, mas os seguranças do teatro estavam no seu encalço e o detiveram rapidamente, para levá-lo para fora.
Isabela Johansen na primeira foto e Ciro Pessoa, na segunda. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
https://www.youtube.com/watch?v=H0cuk3OmGJ4
O show foi filmado pelo irmão de Isabela, Gustavo Johansen e com apoio de Carlos Augusto Nascimento, mas não disponibilizado em versão integral, ao menos por enquanto, quando concluí este trecho do capítulo, em fevereiro de 2016.
https://www.youtube.com/watch?v=BAtwD4ZnKcI
Apenas alguns trechos estão no YouTube, mas espero que um dia tal material seja postado na íntegra. O momento do pós-show foi bastante festivo. Não houve um grande público presente, mas quem ali compareceu foi bastante carinhoso para conosco.
Nos bastidores, a atriz, Grace Gianoukas veio nos cumprimentar. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
A atriz, Grace Gianoukas, famosa criadora do "Terça Insana", um dos mais famosos espetáculos do estilo "Stand Up Comedy" do Brasil, compareceu. Ela era amiga de longa data do Kim, pelo fato de ter sido casada com o Abrão, um cantor & compositor com o qual o Kim teve uma banda ao final dos anos oitenta: "Abrão & Os Lincolns".
A banda a cumprimentar o público ao final do espetáculo. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Uma questão e que não pode ser computada como um problema propriamente dito, aliás, muito pelo contrário, se tratou de uma realidade a gerar impedimento, fora que o casal Ciro & Isa estava com uma filha recém-nascida para cuidar e claro, apesar de contar com apoio de vovós e outros familiares, demandava cuidados básicos e daí a limitação para se assumir compromissos, cumprir horários etc.
Uma panorâmica da banda no palco. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Blog Luiz Domingues 1:
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2015/10/nao-e-por-ma-vontade-dos-profissionais.html
A partir do final de maio, voltei a me apresentar com Os Kurandeiros e também com a Magnólia Blues Band, mas com bastante cuidado e limitações físicas visíveis. Como as atividades com o Nudes estavam paralisadas naquele instante, a minha doença e convalescença não prejudicou o andamento dos trabalhos, diretamente dessa banda.
Ciro Pessoa & Nudes no Bierboxx, em 28 de junho de 2015. Foto do acervo dos Blues Riders
Ciro & Nudes + Blues Riders na confraternização final... click, acervo e cortesia dos Blues Riders
Por ter sido curto, eu não senti incômodo em demasiado, mas o fato foi que estava ainda bastante debilitado pela convalescença pós-cirúrgica, infelizmente. Aconteceu em 28 de junho de 2015, um domingo ao final da tarde, com cerca de cinquenta pessoas presentes e clima muito exaltado pelos discursos em tom de desagrado em relação ao então governo federal.
Eu, Luiz Domingues, em destaque! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Teatro Parlapatões de São Paulo, em 5 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Com Ciro Pessoa, na festa de aniversário de dois anos de sua linda filha, Antonia Pessoa, em 2015. Click, acervo e cortesia: Isabela Johansen
No entanto, eu já tinha ciência nesse dia da festa infantil (na verdade, desde antes), que o livro do Ciro, estava na gráfica, a espera apenas do processo industrial, portanto, havia a intenção de sua parte em se produzir uma noite de autógrafos e acoplada a um show, para reforçar tal lançamento.
Capa e convite para o lançamento da obra: Relatos da Existência Caótica, de Ciro Pessoa
Comunicados
pelo Ciro que o seu livro estava a chegar da gráfica e que uma noite de
autógrafos estava marcada para ser realizada em outubro, em uma casa
noturna no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, voltamos a
conversar com bastante frequência por e-mail e inbox de Facebook, entre
setembro e outubro de 2015.
Discutido
um repertório básico de show, houve uma proposta do Ciro para
intensificar o esforço de que novas músicas surgissem e com letras
baseadas em poemas que faziam parte do livro que seria lançado.
Ele mandou duas letras para o Kim e duas para que eu as musicasse, também.
Ciro Pessoa em foto promocional de 2014. Fonte: Internet
No meu caso, recebi dois poemas, denominados: "Planície dos Sonhos" e "Xadrez Cósmico". Trabalhei primeiro com um riff que já tinha em mente há muitos anos e que reiteradas vezes tentei colocar à disposição do "Pedra", mas ali nunca foi aproveitado, e de fato, propor ideias para o Pedra sempre fora uma questão muito difícil pela maneira em aquela banda se portou ao longo da sua história e não cabe aqui tecer nenhum comentário a mais.
Agora,
livre de crivos alheios e intimidadores, o riff poderia ser aproveitado
sem problemas e foi o que fiz para musicar o poema: "Planície dos
Sonhos".
Não foi
fácil, no entanto, encaixar a métrica da melodia cantada, ao poema, pois é
notório que é muito mais difícil para qualquer compositor, criar a
música para uma letra pronta, por ser o processo inverso, pensar na letra
com harmonia, ritmo e melodia definidos, muito mais fácil.
Ciro Pessoa no camarim do Sesc Piracicaba em 2014. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado
Mesmo por ter que realizar algumas modificações a posteriori e com apoio do próprio, Ciro, que também estabeleceu algumas mudanças nos versos do poema, o resultado ficou ótimo.
Fiquei bastante contente por verificar a ideia prosperar e se tornar uma canção com forte apelo psicodélico sessentista, uma das minhas paixões em termos de vertentes dentro do Rock.
Já a outra
canção, foi fruto de uma melodia que por incrível que pareça, veio à
minha mente no período em que fiquei internado no hospital.
Ao se tratar
de um Rock'n' Roll bem ao sabor glitter setentista, ganhou co-parceria
com o Kim, que criou um riff para a sua introdução e outro sob intermezzo, bem interessantes, a enriquecer a composição.
Um ensaio acústico foi marcado na residência dos Pessoa e onde foi possível mostrar as músicas e estabelecer os seus respectivos arranjos.
Kim Kehl no camarim do Sesc Piracicaba em 2014. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado
Da parte do Kim, a sua contribuição com novas músicas se deu com os poemas: "Biscoitos & Mariposas" e "La la la".
Sobre "Biscoitos & Mariposas", o Kim nos trouxe também um Rock básico, mas com
uma melodia absolutamente inusitada. Tratou-se de algo inspirado no
canto lírico e ao se levar em consideração que o Kim adora música erudita e detém amplo
conhecimento na área, tal concepção que nos trouxe, foi uma ideia genial e
que se casou de uma forma louquíssima com a letra surreal escrita pelo
Ciro.
Nudes reunido no ensaio, em 6 de outubro de 2015. Click (automático), acervo e cortesia: Isabela Johansen
A outra
canção que criou, "La la la", foi um bubblegum sessentista sensacional e
com um potencial pop extraordinário. Mas no momento crucial, ficou fora do set list do show. Mais um ensaio acústico foi marcado e a seguir, dois ensaios elétricos para firmar o show.
Por outro lado, ao se considerar que o show não foi o foco em si, mas um reforço ao lançamento do livro e noite de autógrafos, a divulgação esteve a atingir frentes diferentes, do mundo literário, inclusive. O poeta, Claudio Willer, havia confirmado presença e de fato, ele havia assinado o prefácio do livro, portanto, seria uma super honra para o Ciro e a todos nós, contar com a presença de um grande artista e pensador, a prestigiar o evento. E assim chegou o dia da noite de autógrafos & show!
Ciro Pessoa em destaque com Carlinhos machado à bateria e eu, Luiz Domingues, na retaguarda. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
O palco
se revelara sob um porte até razoável ao se considerar que a casa não mantinha o
costume de promover shows musicais regularmente, mas apenas de forma
sazonal. Contudo, houve um problema grande ali: não havia PA, tampouco iluminação e
a estrutura para o suporte de energia era pífia, portanto preocupante para nós.
Bem, sobrou para o Kim Kehl que mais uma vez teve a inglória missão de levar o seu PA particular para nós usarmos, o que lhe deu uma tremenda dor de cabeça extra.
Ciro Pessoa e Isabela Johansen na frente, com Carlinhos Machado e e eu, Luiz Domingues, na retaguarda. Ciro
Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro
"Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São
Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara
Pap
De minha parte, como eu já estava a tocar com Os Kurandeiros e a Magnólia Blues Band, regularmente, estava nessa fase a incomodar os amigos em ter que carregar, literalmente, o meu backline, portanto, mais uma vez teria que contar com a boa vontade deles.
Cheguei ao
estabelecimento antes de todos. Fui bem recebido pela promotora da casa,
mas notei o despreparo da moça e da casa, para lidar com espetáculos musicais, assim que
cheguei ao palco, pois haviam sofás colocados ali e a moça se mostrou
perplexa quando eu lhe pedi que tais móveis fossem retirados, pois se mostrara óbvio que
não caberia o nosso equipamento e nem nós mesmos, naquele espaço exíguo.
Isabela Johansen em destaque (o braço de Ciro Pessoa denota que ele estava ao seu lado). Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues), estamos atrás na primeira foto. Já na segunda foto, Isabela Johansen novamente está no destaque e eu, Luiz Domingues, apareço atrás. Ciro
Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro
"Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São
Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara
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Os meus companheiros chegaram e com os sofás retirados enfim, a desobstruírem o palco, montamos tudo e fizemos o chamado "autosoundcheck", a comprovar que conseguimos imprimir uma qualidade sonora mínima e assim ficamos mais seguros de que o show teria um áudio com qualidade. A casa recebeu o seu público, e muita gente interessada no show ou no livro do Ciro, também pôs-se a aproximar-se.
Em um dado
instante, o Ciro foi para a mesa de autógrafos e foi bastante procurado
por seus fãs que compraram o seu livro e aproveitaram o ensejo para
garantir as suas dedicatórias.
Vi muitos jornalistas presentes e Claudio Willer veio prestigiar, sim, uma grande honra para todos nós.
Encontro de poetas surrealistas: Ciro Pessoa e Claudio Willer! Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
O lado mau disso tudo foi que a diretoria da casa desejara que o show começasse tarde, no padrão da praxe das casas noturnas, o que tornou a espera cansativa, e na ausência de um camarim, ficar ali na multidão com o som mecânico relativamente alto, gerou um certo cansaço mental para todos.
Dois psicodélicos inveterados: Ciro Pessoa & eu (Luiz Domingues) Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Eu, particularmente detesto ambientes barulhentos, por natureza. Sei que as pessoas acham tal afirmativa engraçada e de certa forma paradoxal por eu ser um Rocker e estar acostumado a fazer shows de Rock, porém, na verdade detesto barulho e jamais frequento casas noturnas por esse motivo, e também por ser abstêmio, portanto, a minha tendência é cansar rapidamente ao ficar em lugares assim. Mas enfim chegou a hora e lá fomos nós.
Ciro Pessoa em destaque, com Carlinhos Machado, atrás. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
A
sonoridade e o "punch" do show foram muitos bons, embora tenhamos todos
cometidos erros pontuais, individualmente a falar, mas facilmente
contornáveis.
O fato de
que eu (Luiz Domingues), Kim Kehl, e Carlinhos Machado tocarmos em outras duas bandas que mantém o Blues e o
Rock como pilares e o improviso total como modus operandi, fez com que
o nosso entrosamento natural se efetuasse em favor dos Nudes, também.
A perspectiva do contra-plano. Ciro
Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro
"Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São
Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara
Pap
Muitos fãs dos trabalhos do Ciro, com os Titãs e Cabine C, e também de seus discos solo, esteve ali presente, mas houveram também fãs que nos admiravam por nossos trabalhos em outras bandas.
Um rapaz em específico, chamado: Raphael Rodrigues, que costumava aparecer em shows d'Os Kurandeiros (eu já o havia visto em shows do Pedra, igualmente), foi um bom exemplo disso que observo. Nesse dia, esse colecionador levou consigo muitos discos para eu autografar de trabalhos que eu fizera com outras bandas.
Nesse sentido, havia na mesa em que se sentou para nos assistir, discos da Patrulha do Espaço, A
Chave do Sol, Pedra, Kim Kehl & Os Kurandeiros e até do Pitbulls on
Crack, da minha parte e Made in Brazil, Mixto Quente, Lírio de Vidro da parte do Kim... mais que
isso, esse rapaz se mostrara fã dos trabalhos do Ciro, também, e pediu
várias músicas para tocarmos de seus discos solo, além dos trabalhos
dele com os Titãs e o Cabine C.
Apesar da psicodelia e das letras surreais, o público gostou e não houve nenhum sinal de rejeição da parte dos habitues que estavam ali alheios ao lançamento do livro: "Relatos da Existência Caótica" ou do show de Ciro & Nudes.
Ciro Pessoa em destaque, com Carlinhos Machado na bateria e eu, Luiz Domingues, ao fundo. Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro "Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Pelo
contrário, se não houve uma ovação, eu diria que da parte de quem esteve
ali alheio, até mesmo para entender quem seria o Ciro e muito menos nós, a reação
foi bastante respeitosa, com aplausos.
Eis abaixo, um resumo
do show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Delirium Café, em
23 de outubro de 2015. Filmagem de Jani Santana Morales
https://www.youtube.com/watch?v=cBvVCf5wF6A
Missão cumprida, dali em diante a meta foi aguardar por novas oportunidades e logo teríamos a novidade de se começar a cogitar a gravação de um álbum. Mas na prática, novidades só viriam mesmo no início de 2016 e seria uma oportunidade para usar o clichê: temos duas notícias, uma boa e outra ruim... qual você quer ouvir primeiro?
Ciro Pessoa pronto para receber os seus fãs e leitores para um autógrafo no seu recém lançado livro. Ciro
Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro
"Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São
Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara
Pap
Passado o show de lançamento do livro, "Relatos da Existência Caótica", em outubro de 2015, houve perspectivas para shows fixos, a se configurar como temporada, a ser realizado no próprio Delirium Café, além de consultas para shows em outras casas noturnas e teatros.
Entretanto, com a
virada do ano de 2015, para 2016, tivemos uma má notícia que culminou em respingar em nossa banda, quando soubemos que o casal Ciro &
Isabela se separou e assim, se inviabilizou a presença da Isabela na
banda, doravante.
Então ainda como casal: Ciro Pessoa & Isabela Johansen. Ciro
Pessoa & Nu Descendo a Escada no show de lançamento do livro
"Relatos da Existência Caótica" de Ciro Pessoa. Delirium Café de São
Paulo em 23 de outubro de 2015. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara
Pap
Claro que não vou comentar absolutamente nada sobre questões pessoais do casal, aqui, e nem em segredo eu o faria com ninguém, mas cabe registrar que lastimei a situação pelos dois, como casal e individualmente, e claro que também pelo prejuízo à banda, com a perda da Isabela, que nos comprovou o seu valor como cantora, performancer e compositora.
Doravante, teríamos que prosseguir sem ela e foi o que fizemos.
Entre janeiro e fevereiro, o Ciro compareceu a vários shows d'Os Kurandeiros e do Magnólia Blues Band, quando fez aparições a cantar conosco.
Cartaz a anunciar o próximo show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, no Delirium Café de São Paulo em 18 de fevereiro de 2016
Foi uma espécie de preparação, pois em fevereiro o Ciro nos anunciou ter fechado um show novamente no Delirium Café, e assim, fizemos dois ensaios acústicos na sua residência, e um elétrico na semana do show. A ideia foi estabelecer uma modificação no set list base do show e assim, músicas que não tocávamos há tempos, foram reincorporadas ao repertório.
Ciro também convidou o baterista do grupo de Rock, "Ultraje a Rigor", o Marco "Bacalhau" Aurélio, para tocar uma música conosco, como convidado especial.
Eis acima uma cópia do filme "La Follie Du Docteur Tube", do grande diretor francês, Abel Gance
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fN4he9MJ38A
Ciro deu a
ideia de usarmos imagens de filmes surrealistas e dadaístas, como
projeção de fundo e de minha parte, eu me lembrei que havia enviado aos
Nudes, ainda em 2014, a ideia para usarmos um curta metragem lançado em 1915,
denominado: "La Follie Du Docteur Tube", do cineasta francês, Abel Gance,
para um futuro promo da banda, visto que tal material caíra em domínio
público, ao completar noventa e nove anos de seu lançamento.
Por se tratar de um filme louquíssimo, absolutamente psicodélico, com lisergia incrivelmente futurista para os padrões de 1915, fatalmente cairia como uma luva para se tornar um promo de uma música dos Nudes.
Portanto, assim que se ventilou a ideia da projeção, eu lhes lembrei desse curta-metragem e de pronto eles aceitaram a sugestão. O Kim fez uma edição a conter trechos de alguns filmes desse teor, igualmente ("Un Chien Andaluz", de Buñuel & Dali, naturalmente incluso), e haveria de ser um atrativo a mais para o show.
Exaltamos esse detalhe cênico a ser usado no show, no release do show e a divulgação foi incrível, a me fazer lembrar do padrão de trabalhos de divulgação em que participei com bandas anteriores pelas quais eu atuei, ao se considerar o período pré-internet, com apoio da mídia mainstream tradicional, notadamente a impressa escrita.
Abaixo, eis o link da matéria publicada na Folha de São Paulo em seu caderno "Ilustrada", no dia do show:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/02/1740461-ciro-pessoa-usa-cenas-surrealistas-de-bunel-em-show-gratuito-em-sp.shtml
Nesses termos, até matéria na Folha de São Paulo, nós conseguimos e com destaque para o fato de que o show teria esse apoio de imagens sensacionais a realçar o surrealismo, a psicodelia e o dadaismo.
Ainda a convalescer e nesse ponto a apresentar sintomas desagradáveis, decorrentes de uma
hérnia abdominal por conta das cirurgias que realizara em 2015, no dia
do show, eu não estava muito bem.
Mas com o apoio dos amigos que não me deixaram fazer nada e de fato eu não podia nem pensar em fazer esforços desmedidos, até um pouco antes do show acontecer, eu estava a me sentir desconfortável pelo esforço vespertino em ter que dirigir automóvel etc. e tal. Todavia, deu tudo certo a posteriori, ainda bem.
Flagrantes da banda em ação! Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap
Muitos amigos prestigiaram o evento e a casa lotou. Nem todo mundo ali esteve pelo show, pois a casa detinha seu público habitue e baseado na jovem burguesia paulistana, é bem verdade.
O
Marco "Bacalhau" Aurélio, apareceu bem antes do show começar, com a sua namorada e
assim estabelecemos uma animada conversa sobre vários assuntos, incluso a minha exótica
contribuição vocal na gravação de uma música de sua ex-banda, "Little
Quail and the Mad Birds", em 1993, por conta da gravação do LP
coletânea, "A Vez do Brasil", da gravadora Eldorado, em que também
participei com minha então banda, Pitbulls on Crack. Essa história aliás, está
contada em detalhes no capítulo sobre o Pitbulls on Crack, no ponto em que
analiso os fatos decorrentes dessa cronologia citada.
Com Marco "Bacalhau Aurélio, a tocar bateria e Carlinhos na frente a fazer backing vocals com o Ciro. Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Click, acervo e cortesia: Jani Santana Morales
Tanto ele, Marco "Bacalhau" Aurélio, quanto a sua namorada foram extremamente simpáticos comigo e eu também apreciei conversar com ambos naqueles momentos do pré-show.
Mas houve
muita gente atraída pelo trabalho do Ciro & Nudes, sim, e foi um
belo show, com muita energia e uma performance muito inspirada da parte
do Ciro, que usou e abusou da loucura em seus trejeitos e improvisos.
Ciro & Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Click, acervo e cortesia: Kico Stone
Apesar das
dificuldades óbvias em se tocar com um PA inadequado para o tamanho da casa, e
ainda por cima só possível graças aos esforços pessoais do Kim Kehl, que foram
extraordinários em providenciar o backline e seu PA particular para suprir o
show, visto que a casa não apresentava equipamento algum. Isso sem contar a ausência de um equipamento de iluminação, ou seja, nos apresentamos com luz de serviço mínima, também por conta das projeções no telão.
Pelo fato
de ter saído uma matéria grande na Folha do São Paulo, muitos fotógrafos e
film-makers apareceram e nesse aspecto eu cheguei a me surpreender pela quantidade de profissionais a fotografarem e filmarem, a se revelar como mais usual em shows realizados em
teatros, e não em casas noturnas.
https://www.youtube.com/watch?v=JS223cizVoA
"As Formigas Estão Vendo Tudo", com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, em 18 de fevereiro de 2016, no Delirium Café de São Paulo. Filmagem: Kico Stone
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=COHdYt74l-c
Muitas
propostas para shows, aparições na TV, entrevistas e outras ações,
incluso a gravação de um novo álbum, ocorreram dali em diante,
a nos animar sobre as perspectivas que o trabalho poderia alcançar.
Fechados
como um quarteto, fomos: Athos, Porthos, Aramis & D'Artagnan,
doravante, embora a possibilidade de incorporar um tecladista tivesse entrado
na lista de medidas futuras a serem adotadas.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Q6miM3rZNgE
No entanto, infelizmente não tivemos mais atividades, a não ser uma entrevista para um programa de internet.
Ciro Pessoa & Nudes no Delirium Café de São Paulo, em fevereiro de 2016. Click, acervo e cortesia: Kico Stone
Portanto, no próximo capítulo, eu comento como inusitadamente este trabalho se diluiu logo a seguir, por conta de fatos novos que ocorreram na vida artística do Ciro Pessoa e como, apesar de tal desfecho insólito, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl e Carlinhos Machado, não nos abalamos e seguimos com as nossas outras bandas em absoluta normalidade e sem nenhum ressentimento com o destino repentino que o Nudes teve.
Cartaz alternativo para anunciar o show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada para o Delirium Café de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2016
E também traço no último capítulo, o balanço final desta minha trajetória com esse trabalho e acrescento os agradecimentos finais aos seus personagens que contribuíram direta ou indiretamente com essa história.
Eu, Luiz Domingues a atuar com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada em junho de 2014 no Teatro Parlapatões de São Paulo. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
Continua...
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