A Chave do Sol
Jornais do Fã-Clube - 1984-1987
A ideia da criação do jornal foi natural quando a banda se colocou em meio a um momento sob franca expansão e isso foi concretizado nas manifestações que recebíamos da parte de fãs, pela mais prosaica, porém eficaz maneira em sentirmos tal temperatura, ou seja, pelas cartas que se avolumaram em nossa histórica caixa postal: "19090, São Paulo".
Portanto, um informativo a conter um apanhado de nossas atividades, a visar alimentar os membros do Fã-Clube com tais informações, se tornou uma necessidade premente e com o decorrer do tempo, tal expansão da banda, associada à demanda do próprio Fã-Clube, sob uma consequência direta, justificou tal esforço da nossa parte.
Claro, não dispúnhamos dos melhores recursos, pois apesar dos avanços reais, nunca chegamos ao mainstream e consequentemente ao ponto de criarmos condições financeiras para gerar uma grande estrutura. No entanto, houve época em que chegamos a contratar um funcionário remunerado (o saudoso: Eduardo Russomano), e planos para rodar o jornal em gráfica, ao ter que contratar diagramador profissional etc.
Um protótipo do jornal foi criado ainda em 1984, mas somente a partir de 1985, foi que o lançamos de fato e começamos a distribuí-lo aos associados do fã-clube, em princípio, gratuitamente, mas logo tal procedimento se tornou inviável e então, nós passamos a cobrar pelo serviço. Eis abaixo, todos os seus exemplares:
Eis a página 1, a trazer mais dados sobre o novo vocalista, o gaúcho Chico Dias e ao retratá-lo com uma foto do seu próprio acervo pessoal, para mostrá-lo em uma cena dúbia, em sua casa, com a nítida intenção de fomentar a polêmica. E também uma foto da banda em situação imediatamente anterior, mas muito atual naquela ocasião, ao citar a gravação do primeiro compacto, que estávamos a divulgar sob todo o vapor, no decorrer de 1984.
A página 2, do número inaugural do jornal do Fã-Clube, chamado "piloto número zero". No canto direito central, há uma brincadeira a envolver o Rubens Gióia, em termos de "Quiz" para os fãs, e se revela como uma tentativa de não ter sido um fanzine sisudo, apenas a fornecer notícias sobre o cotidiano e conquistas da banda, mas também com a capacidade para brincar com os fãs e neste caso, levávamos em consideração que um grande contingente de nossos fãs, era formado por adolescentes e jovens adultos recém-saídos da adolescência.
A página três do jornal do fã clube, com mais informações e fotos.
A situação pesou, monetariamente a falar, pois não obstante o volume de associados crescer em proporção geométrica, os nossos recursos mal conseguiam seguir um crescimento aritmético e sustentável. Portanto, quando decidimos lançar enfim o jornal de número 1, em junho de 1985, só o viabilizamos através de uma simplificação radical, ao fazer uso de uma única página, mais a se parecer com um "memorandum" de empresa corporativa. E nessa altura, já havíamos gerado mais novidades radicais, como a troca de vocalistas e a gravação de um novo álbum em curso. Com pouco espaço, a diagramação é sofrível, ao se assemelhar a um trabalho escolar mal feito, eu sei, mas foi o que deu para fazermos. Fora os erros crassos de português, e daí, não vou me escorar no fato de que não tínhamos verba para contratar um revisor profissional (isso foi um fato, sim), contudo, claro que como responsável pela elaboração do texto, isso foi da minha inteira responsabilidade e ao falhar, peço desculpas generalizadas.
Em setembro de 1985, a partir do jornal número 2, conseguimos enfim atingir uma meta, com a criação da periodicidade trimestral ao ser cumprida. E para abandonar o pudor ante a realidade dos fatos, começamos a cobrar pelo envio do jornal e com uma verba inteiramente gerada pelo próprio Fã-Clube, viabilizamos o formato antigo, mais robusto, com duas páginas e muito mais textos e informações. Outra novidade, abolimos a ideia de uma capa com manchetes e otimizamos a página "1", com mais boxes e consequentemente, mais tópicos e informações sobre a banda.
A diagramação não melhorou muito, mas ao menos tentava ser funcional. Tudo feito na base da régua e caneta esferográfica e texto a ser datilografado "na raça", sem nenhuma noção técnica de diagramação profissional, ou seja, tudo no "olhômetro", como um trabalho escolar feito por adolescentes, mas, serviu e muito aos nossos propósitos!
Mais uma boa novidade, com a verba auto-gerada, pudemos aumentar ainda mais o volume da publicação, ao voltarmos ao formato com quatro páginas, com o qual concebemos o número "zero", em 1984.
E com o aumento de páginas, a possibilidade para se criar mais boxes, com muito mais informação e também com a chance de se gerar muito mais boxes mediante teor lúdico, para brincar com a imaginação dos fãs da banda, a exemplo da sessão de fofocas, na qual eu mesmo, como redator e editor do texto, me divertia em imitar descaradamente o estilo de colunismo social & Rocker que eu adorava ler nas páginas da revista: "Rock, a História e a Glória", nos anos setenta, através do jornalista, Ezequiel Neves, que assinava como "Zeca Jagger"
E como gostávamos de mudar de vocalista, hein? Essa busca frenética pelo frontman adequado, nos prejudicou em muitos aspectos, sem dúvida. E para falar especificamente da página acima, a sessão "Stars', salvo comprovados depoimentos, agia como tabloide sensacionalista britânico, ou seja, publicava boatos como se fossem verdades absolutas, sem comprovação das fontes. Nunca inventamos nada, mas bastava tomarmos conhecimento de um rumor e ao constatarmos ser algo a favor da banda, publicávamos, sem checar nada. Por não ser jornalismo profissional e por haver o interesse na autopromoção, questão ética a parte, achávamos válido agir dessa forma não recomendável em uma eventual esfera de jornalismo profissional.
Bem,o jornal de número 4, se apresentou com alvissareiras novidades para a banda e de fato, vivíamos um momento excepcional com oportunidades múltiplas que fizeram o nosso telefone tocar, espontaneamente.
Foram muitas novidades boas para a banda nessa edição de abril de 1986! E a menção que eu participei de um debate promovido por uma renomada revista de circulação nacional, sobre o "Heavy Metal", foi verdade, não vou omitir, mas ao pensar hoje em dia e eu já pensava isso fortemente na época: o que eu estive a fazer ali?
Os vazamentos para caberem as sílabas do texto, impossíveis de se alojarem corretamente pela falta de espaço, chegam a ser singelos, pela nossa falta de estrutura para lidar com isso, com um mínimo de recursos gráficos adequados. A sessão "fofoca" é hilária com a minha verve como "Luiz Zeca Jagger Domingues" em ação, embora eu afirme, nada do que escrevi foi mentira, mas confesso, alguns fatos foram super valorizados para garantir uma auto-promoção para a banda.
Só boas novas em abril de 1986! A próxima edição do jornal haveria de ser ainda mais animadora.
Eis o fanzine, na sua edição número cinco, em julho de 1986. Realmente a se mostrar esfuziante com tantas boas novidades sobre o "momentum" da banda.
Jet set do Rock e dá-lhe Zeca Jagger!
Nessa página, há um curioso apanhado sobre os vocalistas anteriores que A Chave do Sol teve antes da entrada do Beto Cruz, na banda. E a presença de vários detalhes ilustrativos colocados a esmo, se tornou um tipo de ornamento bem usado, mas convenhamos, o que significa o crânio com aspecto diabólico na margem direita inferior? Não tínhamos nada a ver com o Heavy-Metal em voga naquela década, mas ele nos perseguia...
Fase boa com show anunciados e outros recentemente realizados...
A ostentar o selo do escritório de empresários artísticos que havia nos contratado, estávamos mega animados por termos fechado contrato com eles e de fato, todos os indícios apontavam para o sucesso, com mãos profissionais a gerenciar a nossa carreira que deslanchava espontaneamente por uma série de fatores ocorridos no decorrer de 1986 e certamente impulsionados pelos nossos próprios esforços iniciados em 1982...
Rubens Gióia a olhar para a bruxa em debandada... hilário
De fato, como diz a legenda da foto do Zé Luiz Dinola, nesse show do Teatro Mambembe, nós tocamos um repertório todo com músicas novas. Não é um expediente recomendável para nenhum artista, mas nós arriscamos e a resposta foi magnífica. Isso dá a dimensão de como essa fase da banda arregimentou muitos admiradores, só a perder em popularidade para a fase clássica do Power-Trio que realçamos muito entre 1983 e 1984, graças às cinco aparições que fizemos no programa: "A Fábrica do Som", da TV Cultura de São Paulo.
Nesta página há uma explanação sobre a então recente viagem de Beto Cruz à Nova York e os equipamentos que ele trouxe na bagagem
Por força das circunstâncias, só se alardeou mesmo a nossa associação com o escritório de empresários que nos contratara, em janeiro de 1987, quando já estávamos profundamente descontentes com a condução da parte deles, do nosso gerenciamento de carreira e a poucos passos do rompimento de contrato. Foi uma pena, mas mesmo assim, ainda tivemos algumas boas novas para divulgar.
O episódio da nossa apresentação na TV Record de São Paulo, a interagir com o indefectível "Menudo", é contado bem rapidamente.
Bravamente, após termos rompido com o escritório que nos empresariava, tentávamos recuperar o fôlego perdido.
Ainda com boas novidades e todas geradas pelos nossos próprios esforços.
Bem, no Box "Fã-Clube", foi totalmente desnecessário o desabafo e deselegante até, ao apelar feio em certas colocações, certamente. Reflexo de nossas frustrações pelas seguidas demonstrações de rejeição da parte das gravadoras, mas a despeito da banda ter razão em alguns aspectos, foi inexorável que tirante algumas músicas com teor Pop que possuíamos, face a mentalidade dos produtores que comandavam as ações no mercado, naquela década, o nosso espectro artístico não tinha chance alguma e ponto final...
Se mostra hilária a história do roadie, Edgard Puccinelli Filho, a envolver a travesti, Roberta Close. De fato, eles conversaram na rua, mas a história foi bem edulcorada para ficar engraçada, no "box"...
Esse foi o último número do jornal do fã-clube e o teor das notícias publicadas reflete o clima ruim, permeado por incertezas. O box a retratar a foto da banda, no canto inferior direito da foto, é mais que melancólico, mas quase denuncia o desespero da banda em se sentir sem perspectivas, ao analisar as oportunidades que se mostraram tão esplendorosas, pouco tempo antes, a irem para o ralo...
Foi triste o anúncio da suspensão do jornal aos fãs. Mais que uma derrota do fã-clube, refletiu o momento difícil da banda e ainda ninguém sabia nesse momento, apenas nós componentes, que o Zé Luiz Dinola estava a deixar a banda e assim, a sua participação na confecção do próprio jornal fora mais sob o título da camaradagem, pois na realidade, ele já nem se sentia com vontade mais para empreender tal tarefa.
Desabafo sincero no Box "Chave Situação", mas certamente muito triste. Reflexo de nossa situação naquele instante. A banda ainda lutaria até o final de 1987 e lançaria o seu derradeiro álbum. O fã-clube continuaria junto a trabalhar, mas focado apenas em ações simples como responder cartas e enviar filipetas de shows, tocado só por um membro, eu mesmo, Luiz Domingues e sem o apoio fundamental do colega José Luiz Dinola. Paciência foi o que tivemos e assim se procedeu. Portanto, o número 9, lançado em julho de 1987, foi efetivamente o derradeiro jornal do fã-clube d'A Chave do Sol.
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