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segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Crônicas da autobiografia - Avant-garde ou avacalhado? - Por Luiz Domingues

Aconteceu entre o tempo final do Boca do Céu e início do Língua de Trapo, em algum momento de 1979

Foi através do meu amigo, Laert Sarrumor, que eu tomei conhecimento que ele estava a interagir com um grupo de poetas jovens e muitos deles a despontar em uma cena artística que se pronunciava, aparentemente, ao menos através da nossa visão da movimentação cultural naquele instante, como relevante, mesmo que alojada no patamar underground. 

Alguns desses poetas, inclusive, se colocavam a apresentar fama crescente dentro desse meio e assim a despertar a atenção de certos críticos que os consideravam (a falar da turma toda), como avant-garde pela sua arte considerada revolucionária para o espectro da época, final dos anos setenta.  

Entretanto, apesar dessa aura positiva construída em torno desses rapazes e moças, com quase todos a gravitar na cidade de Brasília e arredores, eu li alguns trabalhos feitos por tais emergentes criadores e não me impressionei, embora não pudesse afirmar que fosse ruim tal produção, porém, certamente ficara claro na minha percepção que eles eram superestimados e com a devida ressalva de que eu era muito jovem na ocasião e sem uma grande substância intelectual para tecer tal juízo estético com absoluta precisão.

Eis que o Laert se aproximou de um deles com maior regularidade, este por sinal que era o mais incensado dessa turminha e estabeleceu correspondência com tal poeta, no padrão literal da época, ou seja, a trocar missivas com ele e a seguir, sugeriu que eu também me aproximasse desse poeta para que se criasse assim um elo mais firme entre nós que éramos músicos e companheiros de banda, com um núcleo de poetas emergentes, e daí, a se precipitar em tese uma série de ações em conjunto que poderiam ser benéficas para todos.

Bem, o rapaz me respondeu com atenção e respeito e logo passou a me mandar seus poemas mimeografados para a minha apreciação. É claro que eu nunca fui um especialista nesse quesito e naquela época, mal a sair da adolescência, muito menos. 

Todavia, eu lia os poemas desse rapaz e identificava uma espécie de inconformismo destrutivo, pessimista e deveras depressivo na sua obra, a denotar que a sua influência primordial devia ser o existencialismo de Jean Paul Sartre, ou pensamento de Friedrich Nietzsche e talvez a visão de Thomas Hobbes como base de pensamento filosófico, e além disso, a escatologia da qual fazia uso para construir seus versos, devia ter vindo de Augusto dos Anjos que o impressionara nos bancos escolares, com ecos dos poetas franceses ditos "malditos" do século dezenove e muito possivelmente descobertos depois dele ter ouvido os discos do grupo de Rock sessentista, "The Doors", ou dos emergentes artistas que se alavancavam pela via do Pós-Punk, então em altíssima voga nessa específica ocasião. 

Bem, fica a ressalva que foram meras conjecturas livres, sem base alguma de minha parte, mas para sintetizar, aqueles poemas carregados de uma visão desalentadora da existência humana, não me agradavam e sobretudo, eu não me conformava com o fato de que ele (e seus pares, também), eram superestimados por muitos.

Foi então que esse rapaz me perguntou se eu escrevia igualmente e em caso afirmativo, se poderia lhe enviar algum trabalho de minha criação para ele tomar conhecimento. Eu de pronto lhe expliquei que sim, gostava de escrever, mas não gostava de escrever poesias, a preferir outras modalidades de literatura. No entanto, ele insistiu e sim, eu tinha alguns poemas escritos em folhas de caderno e que considerava bem fracos, portanto jamais tencionei exibi-los de forma pública. 

Ele insistiu e eu nunca entendi a sua real intenção com tal pedido, haja vista que eu lhe afirmei categoricamente não ser poeta e ele sabia muito bem que eu era apenas um recém ingresso na vida adulta, mas adolescente ainda em vários aspectos e reles aspirante a músico nessa ocasião.

Então, desconfiado de sua real intenção e ao mesmo tempo incomodado com a fama que ele tinha e que na minha ótica era indevida pela superestimação da sua arte que não continha nada de "revolucionária" na minha opinião, eu criei alguns poemas com teor absurdo na escolha de metáforas e alegorias, e acintosamente a lhe imitar, como uma forma velada de escárnio implícito de minha parte, exatamente para confrontar a sua fama que eu achava indevida.
Muitos deles foram formados por frases mais apropriadas como aforismos, mas usados em forma de versos, com a deliberada intenção de contestar o próprio estilo do decantado poeta.

Lembro-me de um em específico, que talvez tenha sido a gota d'água para desmascará-lo, pois ele adorava usar imagens fortes com teor deveras desagradável para se expressar e neste caso, eu fiz o mesmo, mas acredito que ele não tenha gostado de se ver refletido no espelho quando leu o meu "poema":

"Não uso analgésico. Curo a minha dor de cabeça com uma boa martelada certeira, mesmo que seja, talvez, definitiva"...   

Enfim, o poeta celebrado pela "intelligentsia" não me respondeu mais. Acho que deve ter me julgado um perfeito idiota por ter escrito tal bobagem. De fato, isso que eu lhe enviei era (é) um lixo como poesia e a ideia propalada, abominável e desprezível até ao se considerar que se trata de uma metáfora, contudo, não era nada diferente como ideia, em comparação ao que o rapaz costumava escrever e encantar os seus admiradores, principalmente certos jornalistas culturais da época e assim, na prática, ele provavelmente se irritou mesmo foi com a constatação de que ele impressionava muita gente, mas definitivamente eu não me incluía nesse mesmo rol.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Crônicas da autobiografia - O exótico ambiente cenográfico - Por Luiz Domingues

    Aconteceu no meu tempo com a Patrulha do Espaço, em 2003

Durante a fase "chronophágica" da Patrulha do Espaço, ou seja, a se tratar da nossa formação, muitas coisas acontecerem nos bastidores, como é de se esperar na rotina de uma banda de Rock. Claudia Fernanda foi a nossa produtora de 1999 a 2004, e por volta de outubro de 2003, ela nos disse que achara uma casa em exposição para a venda no bairro do qual, eu (Luiz), Rolando e Rodrigo morávamos bem próximos uns dos outros e o Marcello habitava um bairro vizinho muito perto do nosso.

A novidade, no entanto, se deu no sentido que ao visitar a casa, ela descobrira que ali havia sido a habitação de um colecionador que amealhara uma quantidade incrível de objetos históricos, ao ponto de ter transformado a sua residência em um museu aberto à visitação pública, tamanho o volume de antiguidades e obras de arte que colecionara ao longo dos anos.

Esta foto não corresponde à coleção mencionada. Eu tentei achar fotos específicas da coleção na internet, mas não consegui, portanto, é só para constar mesmo como ilustração.

Mais do que isso, se o sobrado apresentava um belo estilo arquitetônico, a sugerir uma construção dos anos vinte ou trinta do século passado, naturalmente que já chamava a atenção por suas dependências e também pelo muito razoável grau de conservação, além da observação de material de acabamento interno de época, contudo, o que realmente impressionou a nossa produtora foi uma surpresa incrível que havia no imenso quintal da residência.

E assim que tomou conhecimento, ela nos avisou e exortou a visitarmos o imóvel, para constatarmos o que ela descobrira ali na parte dos fundos da casa. De pronto, eu marquei com o Rodrigo e Rolando, e também com a presença da Claudia, visitamos o imóvel em um dia bem ensolarado e no meu caso, não gastei nem dez minutos de caminhada para acessar o endereço, porque morava a poucos quarteirões dali. 

A coleção era formada por muitos objetos interessantes, isto é, chamava a atenção por si e lógico, com o falecimento do colecionador, o museu estava desarticulado e as peças não estavam exatamente arrumadas para uma exposição, mas deveras amontoadas, a denotar que os herdeiros estavam a organizar a sua retirada para algum depósito ou coisa que o valha. E a casa também nos impressionou a conter cômodos enormes, e o chamado "pé direito" muito alto, naquela concepção de amplitude que foi padrão de construção nessas décadas remotas.

Todavia, a grande surpresa que a Claudia nos alertou, realmente nos surpreendeu positivamente e mais do que isso, se tornou imediatamente uma opção muito interessante para a nossa banda usar e eu vou revelar agora o que vimos ali.

Foto a mostrar a cidade Ouro Preto-MG, a antiga Vila Rica do século XVIII. O cenário certamente foi baseado nesse modelo. 

Pois o tal colecionador aproveitou o seu quintal imenso, quase a se caracterizar como no padrão de uma casa de campo e ali montou uma cidade cenográfica para ser usada em filmagens. Vimos fachadas de casinhas ao estilo colonial a insinuar algo parecido com o que se vê em cidades históricas mineiras, preservadas do século XVIII. E cada casinha a conter placas a designar estabelecimentos tais como "prefeitura", "cadeia pública", "fórum", "armazém" e "boticário" entre outros, além de uma capela para demarcar a ideia de uma igreja matriz, a caracterizar se tratar de uma pequena cidade situada nessa época e uma réplica reduzida de um cemitério.

Pois então a ideia se tornou vívida para nós: vamos usar esse cenário para coletar imagens para um novo clipe e/ou sessão de fotos, certo?
Infelizmente os nossos planos se frustraram de imediato, quando abordamos pessoas que estavam ali a cuidar da coleção e funcionários da imobiliária, que só nos disseram que com a morte do proprietário e colecionador, os seus herdeiros estavam inclinados a vender o máximo de objetos para outros colecionadores e o que não conseguissem comercializar, seria vendido mediante baixo valor para o dito "ferro velho".

Sobre a cidade cenográfica, alguém nos confirmou que ali fora usado como set de filmagem para filmes curta e longa metragem, cenas de novelas, documentários e muitos comerciais para a TV, mas que dificilmente os herdeiros autorizariam tal uso novamente, pois já havia uma especulação exercida por incorporadoras bem predatórias no sentido de pressionar os moradores do quarteirão inteiro para que vendessem as suas casas e uma vez tudo demolido, espigões residenciais ali fossem construídos.

Que pena, teria sido incrível usar aquele cenário tão inusitado, algo encravado no meu bairro e que por anos, eu nunca imaginei existir.   

Corte brusco: muitos anos depois, cerca de 2023, estava eu a assistir uma reportagem no Youtube, e chamou-me a atenção o objeto da matéria em si, que tratou exatamente da existência dessa residência/museu, e com ênfase na cidade cenográfica, quando muitos esclarecimentos foram disponibilizados.

E finalmente eu descobri o nome de seu proprietário, colecionador e curador, que eu admiro pelo espírito de preservação da cultura, mediante o seu esforço como ativista e minucioso colecionador. O senhor se chamava Facul de Facul ("de Facul", talvez, a designar uma localidade de algum país árabe, sua possível origem familiar, mas não posso afirmar se tratar disso exatamente).

Não achei o vídeo que eu assisti em 2023, mas há dois vídeos muito interessantes dele em vida, a conter uma entrevista que ele concedeu para o famoso apresentador, Jô Soares, ainda em meio ao programa "Jô onze e meia" exibido pela emissora SBT em 1993 e o outro, a mostrar um depoimento & entrevista nas dependências da casa, em 1998, mediante um grau de abordagem bem informal.

Eis o vídeo da entrevista do senhor Raful de Raful ao Jô Soares, no seu programa "Jô Onze e meia" pelo SBT em 1993, tal material foi gravado mediante tecnologia analógica, via VHF, e digitalizado a posteriori. Apesar da imagem opaca e áudio deficiente, vale a pena assistir. Por volta da minutagem 37', mais ou menos, o vídeo prossegue com outros entrevistados.

Eis o link para acessar a entrevista:
https://www.youtube.com/watch?v=9QFKeLYeeVE&t=13s

E eis abaixo o vídeo de 1998. Também mediante tecnologia analógica via VHF e digitalizado a posteriori. Apesar da imagem opaca e áudio deficiente, igualmente, vale a pena assistir. Por volta da minutagem 47', o senhor Facul de Facul mostra objetos da sua coleção e ao final do vídeo, passeia com as suas entrevistadoras na cidade cenográfica.

Eis o link para acessar o YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ehnkw8sB8RU

Que pena que não serviu para a Patrulha do Espaço aproveitar o cenário mas devo registrar que gostei muito dessa descoberta "antes que tardia", bem no clima da ambientação colonial mineira do século XVIII, existente no meu bairro em plena zona sul de São Paulo.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Crônicas da autobiografia - A quebra do encanto - Por Luiz Domingues

                    Fatos que aconteceram no decorrer da carreira toda 

Eu sempre li muitos relatos escritos por atores, sobre o seu ofício e o quanto tratam o momento de suas respectivas atuações como algo ritualístico, praticamente a configurar tal momento especial e tão caro para eles, como um autêntico exercício sacerdotal, no sentido de estarem conectados com uma força mística, sobrenatural ou algo que o valha. Faz sentido e eu sempre tive em mente que não apenas na dramaturgia, mas literalmente em todos os ramos da arte, o mesmo fenômeno ocorra, ou seja, o elo do artista com uma energia extra-física é algo absolutamente vital para garantir o papel máximo da arte, que é justamente o de nos levar sempre a um patamar maior no grau civilizatório.

De onde sai o impulso para alguém escrever tantas palavras, nas diversas ramificações da literatura e nos prover assim de ideias, sinapses, cultura e tanta sapiência contida nos livros? E o que faz o pintor ou escultor a dar forma aos traços e espalhar beleza através das cores?

Para os bailarinos e coreógrafos a pergunta é: de onde sai tanta inspiração para obter dos movimentos do corpo humano algo mediante tanta expressividade e sensação de expansão libertária? 

E os cineastas que sintetizam todas as artes em uma película? Como podem conceber uma avalanche sensorial total concentrada em uma tela, e neste caso, a não importar o seu tamanho para o espectador?

Então, eu sempre tive em mente que a mesma sensação de magia que os atores descrevem quando falam da sua atuação no teatro, principalmente, ocorre ipsis litteris com os músicos. E até na coincidência entre tais ramos, pois fazer um show ao vivo para nós que somos da música, tem o mesmo impacto e sensação que os atores sentem quando estão a encenar uma peça no palco do teatro e com um adendo: quando eles falam que atuar na TV e no cinema tem características diferentes, mas no cômputo geral tem também a sua "magia", nós também temos essa experiência dupla.

Pois neste caso, acredito que para um ator, mesmo sem plateia e mediante a suposta frieza de um estúdio de TV ou "set" de cinema, quando o diretor dá a ordem para a equipe técnica filmar e ele, ator, entra na cena, a sua entrega para viver a personagem ao máximo deve ter o impacto pessoal da sua consciência, ao lhe manter conectado com a ideia de que a sua atuação ali está sendo registrada para sempre. Pois é o mesmo que nós músicos sentimos no estúdio ao gravarmos discos, pois se ali não existe a emoção do público a reagir, a ideia de que estamos a registrar algo de forma histórico e que vai nos marcar para sempre, é emocionante.

A falar detidamente sobre os shows ao vivo, sim, quanto mais público, mais energia sentimos. E claro que o profissionalismo nos impele a nos apresentarmos com a mesma energia e entrega mediante público pequeno ou até inexistente, porém, é fato que a energia é muito maior na proporção da sincronicidade estabelecida com o público e se ele é numeroso e vibrante, a energia trocada é muito maior. Em suma, tendemos a tocar melhor com público numeroso e animado.

Todavia, há o lado obscuro dessa simbiose, pois nem sempre temos a sorte de contar com uma audiência absolutamente uniforme no sentido do artista e da plateia vibrarem na mesma faixa energética.

E invariavelmente, nos deparamos com pessoas fora do contexto completamente e que parecem ter pago o ingresso e adentrado o local aonde vamos nos apresentar para quebrar a magia, completamente.

Eu sei que tem gente que o faz de forma involuntária, sem intenção de atrapalhar o espetáculo, mas há também a presença do sabotador contumaz que deliberadamente vai a um show com má intenção. No entanto, não vou entrar nesse mérito agora e talvez eu escreva no futuro uma crônica, conto ou matéria jornalística para tratar especificamente desse assunto desagradável, mas aqui, quero falar apenas sobre o prejuízo que a ação nos causa, sem especificar se é proposital ou não. 

Então, o fato em si é que você está a tocar, o clima está ótimo, a banda está super entrosada e o público responde com entusiasmo, mas subitamente alguém insiste em lhe chamar pelo nome, aos berros, tentando fazer com que você o mire, mesmo em um trecho da execução da canção na qual é crucial manter a atenção nos companheiros ou vice-versa. E a pessoa nem pensa nisso, é claro, e só quer que você a olhe nesse momento inconveniente e com essa intenção obsessiva, simplesmente não para de berrar.

O primeiro inconveniente é que os seus gritos ensandecidos, logicamente incomodam as pessoas que estão ao seu redor, a lutar freneticamente com o alto volume do som executado pela banda e reproduzido pelo equipamento de "PA". Segundo, que nem passa pela cabeça dessa pessoa que o músico está exatamente a viver aquele momento mágico, envolto aos efeitos da iluminação e sob um som de alta potência, a vibrar intensamente com o som que está a produzir do seu próprio instrumento e também a absorver e a se deixar envolver emocionalmente com os sons emitido pelos instrumentos comandados pelos seus companheiros e simplesmente de forma súbita, alguém insiste em lhe chamar aos berros.

Mais do que isso, você está a exercer a conexão mágica da música, ao sentir a expressividade máxima da canção que ajuda a interpretar juntos aos seus colegas, está a sentir cada nota a vibrar no seu corpo inteiro, a mergulhar na letra e na mensagem que está a passar para a sua audiência, portanto, também a atuar como um ator que interpreta e repassa um sentimento ao público e o sujeito está ali na plateia a berrar para lhe tirar dessa ação quase mediúnica.

Cansado de ser interrompido tal qual uma campainha de porta ou chamada de telefone que não vai parar enquanto você não atender, você resolve olhar e a pessoa apenas sorri para você ou para gesticular com um sinal de "joia" e acredite, se for isso está ótimo, pois há os que querem "puxar conversa" no meio do show, ao vislumbrar que você se esforce para no meio daquela completa realidade inaudível, entender o que ele fala e o sujeito quer uma resposta, como se estivéssemos a conversar na sala de estar de uma residência silenciosa.

E para não deixar de mencionar os que enviam bilhetes escritos e esperam que você se abaixe, pegue o pedaço de papel, leia a mensagem e sobretudo, atenda o seu pedido. Nesse caso, geralmente se trata de pedido de música e que muitas vezes não está prevista  para ser tocada naquele espetáculo. Há também os números de telefone enviados pelas moças mais entusiasmadas e não posso ser hipócrita ao afirmar que nesse quesito não seja algo agradável.

E há também a agressividade da parte de pessoas que vão aos shows para provocar. Mesmo em meio a plateias totalmente favoráveis, com fãs da sua banda em imensa maioria no auditório, é sempre possível haver alguém com má intenção no ambiente e que vai tentar te desestabilizar, com ou sem motivo e claro que se trata de uma prática abominável.

Há os que gritam de longe, não exatamente para lhe chamar a atenção durante a performance, mas entre as músicas. Geralmente são pessoas bem intencionadas que querem tecer algum comentário positivo e bem rápido, para extravasar a sua própria excitação pessoal, isso eu entendo. Os piadistas de ocasião também aproveitam para exercer a sua manifestação graciosa e muitas vezes são felizes e provocam risadas generalizadas inclusive dos artistas que estão no palco e também ocorrem momentos de diálogos francos com o artista que estiver a falar no microfone, mas neste caso, por consentimento do artista ou até provocado por ele mesmo para haver uma interação rápida com a plateia.

Outro fato que ocorre com certa regularidade, é da parte de pessoas bem intencionadas que percebem algum problema técnico e no afã de ajudar, chamam a atenção do artista. Claro que a intenção é boa, mas se procurassem algum membro da equipe de produção para relatar o que viram, seria bem melhor, mesmo porque, no meio da balbúrdia do som e absorto no foco para interpretar, o músico não vai abandonar a sua ação, deixar o instrumento de lado e deixar os companheiros sem o seu suporte para ir resolver uma pendência, seja ela qual for. Para tal função emergencial, existem os roadies e técnicos da equipe, além dos produtores do espetáculo.

Por fim, como apreciador de música, fã de muitos artistas e frequentador de shows, eu nunca cometi com colegas meus e nem mesmo para com ídolos que me influenciaram fortemente, tal deslize de lhes tirar a atenção durante as suas respectivas performances ao vivo, mas nem todo mundo tem essa mesma consciência quando está na plateia, ao manter a elegância de apreciar uma banda a se apresentar.

E quando em cima do palco, mesmo com boa intenção, eu sempre lamentei muito quando alguém insistiu em me tirar daquela espécie de "transe mediúnico" que me elevou na frequência para um mundo etéreo, algo que só a música é capaz de proporcionar com tanta assertividade no campo metafísico. 

Tal quebra do encanto no qual eu estava conectado equivale mais ou menos a estar a sonhar com o paraíso e ser acordado abruptamente mediante gritos e acredite, essa conexão uma vez quebrada, jamais se repete na mesma intensidade. É possível se criar outra conexão no show subsequente, que será diferente, exclusiva, mas naquele show que você estava a fazer e no qual foi interrompido, infelizmente não vai conseguir estabelecer a energia mística novamente.

E claro que eu sempre detestei e continuo a detestar deixar tal vibração por conta de uma quebra do encanto feita por alguém que não leva essa magia em consideração.

sábado, 2 de novembro de 2024

Crônicas da autobiografia - Hippies a trabalhar para o sistema - Por Luiz Domingues

           Aconteceu no tempo do Boca do Céu, no início de 1979

No avançar de 1978, a pressão familiar em torno de uma possível resolução sobre qual rumo profissional eu adotaria para o resto da vida, de forma oficial, a respeito da escolha de uma faculdade para cursar e me profissionalizar em termos de algo fora da música, ganhou volume. Tudo bem, eu ainda estava no segundo ano do curso secundário e os meus pais sabiam muito bem que eu teria que completar o curso em 1979, para prestar o exame vestibular somente ao final desse ano. 

No entanto, eu estava mesmo é muito determinado a firmar posição para me tornar músico e na prática, eu já me considerava assim desde abril de 1976, quando entrei para a formação do Boca do Céu, a minha primeira banda de carreira e mesmo sem saber tocar uma única nota musical na prática, nessa época, a minha vontade sempre foi ferrenha e a me acompanhar antes mesmo de eu colocar a "mão na massa", a tratar de aprender a tocar, simultaneamente ao participar das atividades incipientes dessa banda formada por adolescentes, incluso eu mesmo.  

Em suma, quando o ano de 1979 entrou, a pressão familiar começou a aumentar, na medida pela qual se ainda me faltava completar o curso médio, eu precisava ganhar dinheiro através de qualquer tipo de ocupação em paralelo aos estudos. O problema foi que a banda não avançara e não teve nesse instante, nenhuma perspectiva de angariar rendimentos em torno de possíveis cachês, tampouco outras receitas advindas e pelo contrário, o grupo estava também a viver um momento de crise interna que culminou com o encerramento de suas atividades em abril desse ano.

Eu só começaria a ganhar alguma remuneração com música a partir de outubro, quando fui convidado para entrar na banda de apoio do cantor, pianista e compositor, Tato Fischer, e dali em diante, também a participar de outros trabalhos que arrolei como "trabalhos avulsos" para efeito de construção da minha autobiografia, além de também ter feito parte da primeira formação do Língua de Trapo nesse período.

Mas exatamente nesse ponto do início de 1979, com o Boca do Céu em frangalhos e a caminhar para o seu final inevitável e sobretudo por me enxergar sem outras perspectivas de imediato, eu precisava de dinheiro e a ouvir os boatos de vários conhecidos meus nas mesmas condições, ou seja, aspirantes a artistas igualmente e quase todos eles completamente sem dinheiro e nada dispostos a cortar o cabelo e a usar roupas sociais tradicionais, pois ainda havia essa forte determinação da parte desses hippies convictos, dos quais me incluía, a não abandonar as marcas de nossos ideais, eis que busquei alternativas.

Um primeiro movimento ocorreu nesse sentido de se buscar a solução conciliadora para tal conflito (ganhar dinheiro versus fazer parte do "sistema careta"), quando um amigo meu e que já estava a se embrenhar no mundo da arte, por atuar como músico de apoio de uma companhia teatral, me disse que alguém que ele conhecera nesse meio da dramaturgia, lhe dissera que o teatro municipal de São Paulo abrira vagas para o curso de cenotécnica, ou seja, a formar profissionais que cuidam do maquinário pesado que existe nas coxias dos teatros tradicionais e bem equipados, para manipular cenários que servem para ilustrar as peças teatrais e também shows musicais e que pasmem, o curso não seria cobrado, mas ao contrário, pago pelo teatro aos interessados, como uma espécie de bolsa de estudos e que posteriormente, depois de formado, o profissional recém formado, ressarciria o poder público no caso, a descontar o investimento educacional empreendido, de seu possível salário assegurado como funcionário público a serviço da secretaria de cultura municipal.

Claro, fomos correndo nos inscrever, mas a nossa decepção foi instantânea, no sentido de que ao chegarmos no posto de atendimento do teatro, fomos informados que as vagas eram limitadas ao extremo e que haviam sido preenchidas muito rapidamente.

Cerca de alguns dias depois, esse mesmo amigo que estava na mesma situação, me informou que um outro trabalho havia surgido e que não era ligado à arte, longe disso e a despeito de estar a serviço de tudo o que odiávamos (sistema, consumismo, materialismo etc), era flexível no tocante à aparência dos funcionários, ou seja, estavam a contratar jovens cabeludos com aparência hippie, sem restrições.

E lá fomos nós a um escritório enorme, localizado em um ponto alto da avenida Brigadeiro Luiz Antonio, bem perto do cruzamento com a avenida Paulista. Eu, esse amigo que me dera a dica e um primo meu, que também era amigo de longa data do meu amigo, chegamos lá e fomos direcionados a um salão rústico instalado no fundo do quintal e sem nenhuma burocracia, apenas fornecemos os nossos respectivos dados pessoais e passamos por um treinamento muito simplório, porém eficaz, no sentido de que o trabalho era fácil de ser executado em tese, pois na prática e a se tratar de algo que não foi dito nesse treinamento, mas que descobrimos muito rapidamente, mantinha a perspectiva de coletar dissabores múltiplos no cotidiano, através do trato direto com populares que teríamos, além de haver pressão por resultados e a se revelar cansativo ao extremo no aspecto físico, propriamente dito.

Ali na hora dessa palestra didática, a simplicidade do funcionamento desse trabalho nos animou tanto quanto o fato de que realmente conforme fora ventilado, a tal empresa não se importava com a aparência de seus contratados e assim, a profusão de hippies cabeludos como nós se mostrou enorme dentro daquele salão.

E do que se tratou? Bem, o trabalho era de campo, a fazer pesquisa de mercado. O foco eram as propagandas de produtos diversos veiculados na TV e nos cabia indagar se as pessoas consumiam tais produtos no seu cotidiano, motivados por tais propagandas comerciais ou não.

Então, entre janeiro e fevereiro de 1979, em meio aos ensaios do Boca do Céu em seus últimos dias e minha obrigação escolar diária a cumprir o chamado na época, "3º ano colegial", estive quase que diariamente a preencher as manhãs e tardes dos dias úteis e dos sábados também, a tocar a campainha de residências a esmo para solicitar que os moradores preenchessem um enfadonho questionário, a lhes aborrecer de uma forma contumaz.

Bem, não precisei cortar o cabelo e nem usar terno e gravata, porém, para ganhar um pagamento em torno de uma diária de trabalho, a labuta se mostrou terrível. Tínhamos que chegar na sede dessa agência bem cedo e as equipes de trabalho eram montadas a esmo, ali na hora, igual a formação de times de futebol de salão nas aulas de educação física das escolas, ou seja, de forma aleatória. Um coordenador ia conosco em uma "Kombi" e no percurso, nos falava sobre qual seria a pesquisa do dia, enquanto distribuía os papeis e as pranchetas e em qual bairro iríamos trabalhar, isto é, nunca era planejado previamente, mas sempre a caminho do novo destino, dentro do carro.  

Ao chegarmos em um ponto de um bairro, ali se demarcava a posição que o carro ficaria e se distribuíam as ruas para cada trabalhador percorrer. Havia também o perfil desejado, que só era revelado na hora. Por exemplo, em um determinado dia o plano era conversar com pessoas de 20 a 25 anos de idade, em outro, tinha que ser de 45 em diante, ou mesmo somente com mulheres ou homens, conforme o produto que seria pesquisado.

E havia a cota de cada um. O coordenador estabelecia um número mínimo de pesquisas realizadas, que parecia ser uma meta fácil, mas na prática, ao longo do dia, se tornava sempre muito difícil cumprir, pois a quantidade de pessoas que simplesmente se recusava a participar era enorme.

Foi nesse emprego provisório que eu pude sentir o que um carteiro sente no seu cotidiano, ao enfrentar o calor escaldante, chuvas torrenciais de verão, cães raivosos e o trato com muita gente ignorante que hostiliza só por ser abordado e de forma inexplicável pois a abordagem foi sempre muito respeitosa de minha parte, cuidadosa inclusive, ao ponto de deixar clara a ressalva que bastaria a pessoa recusar para eu parar de falar. Mesmo assim, tive momentos de angústia ao ser ameaçado por brucutus incautos que sem entender sequer o que eu falava exatamente, se sentiram "ofendidos" pela minha abordagem, como se eu fosse um galhofeiro de ocasião e estivesse a estabelecer algum tipo de escárnio gratuito para com eles.

Ocorreu também que me deparei bastante com o tipo de dona de casa aflita, a alegar estar com uma panela no fogo alto de seu fogão e não poder parar para atender alguém na porta (ainda mais a se tratar de uma "bobagem" na concepção delas e convenhamos, com razão), fato que foi muito comum e certamente compreensível de minha parte, no sentido de que não queria conversa ou ao se prontificar a me atender, se irritava quando o questionário se mostrava longo. De fato, alguém tocar a campainha da sua casa para lhe perguntar se ao escovar o seu dente você usa a pasta cuja propaganda viu durante o intervalo comercial da novela das oito do dia anterior, eu mesmo não toleraria, portanto, me solidarizo com quem se indignou comigo nesse aspecto. 

Por precaução, tomei sempre muito cuidado ao ser atendido por qualquer mulher bonita que me atendeu, por ter sido mais do que necessária tal cautela, para não gerar nenhum problema com pai, marido, irmão ou namorado bravo, e também cultivei a paciência com jovem debochado que fingia ser colaborativo mas buscava apenas a oportunidade para exercer o escárnio para comigo, como uma oportunidade fortuita que lhe batera a porta. Em termos ligeiramente diferentes mas no mesmo campo, as crianças tendiam a agir dessa forma igualmente. 

E no quesito da fraude, pairava o tom ameaçador do coordenador que advertia os trabalhadores todo dia, assim que chegávamos em um bairro qualquer: -"eu vou checar todos vocês, e se eu flagrar um questionário fraudado, o pesquisador estará despedido sumariamente e nem precisa voltar com a Kombi para a sede". De fato, todos os coordenadores agiam dessa forma e eu nem posso me queixar, pois esse quesito da credibilidade da pesquisa precisava ser preservado.

E por ser difícil preencher a cota (se não cumprisse, o trabalhador simplesmente não ganhava o pagamento do dia, independente das pesquisas feitas e a sola de sapato gasta completamente), algumas vezes eu confesso que apelei. Desesperado para preencher a maldita cota e não perder o dinheiro, muitas vezes já com o período noturno a se pronunciar e a pressão para voltar para a Kombi a se mostrar insustentável, eu argumentei com pessoas relutantes a participar pois eu dependia dela para não perder o emprego e sensibilizadas, muitas responderam o enfadonho questionário por pura dó da minha pessoa, a me salvar na última hora.

O efeito da "barra, o que mais" também era desagradável para se impor ao consultado. Essa técnica de questionamento nos fora ensinada no treinamento, a consistir de sempre tentar extrair mais alguma informação da pessoa, sobre as suas lembranças dos comerciais que haviam visto. Por exemplo, se o assunto era "sorvete", ao questionar as impressões das pessoas sobre os comerciais de TV sobre tal produto, o consultado geralmente recorria mais ao seu campo afetivo do que ao comercial em voga e nesse ponto, o escritório nos forçava a sempre tentar extrair mais informações quando a pessoa falava pouco sobre o que lembrava especificamente sobre o comercial comentado. E assim, perguntávamos: "o que mais?". E ao acrescentar algo a mais, dividíamos as novas colocações feitas pelas pessoas, por barras, daí ter se tornado folclórico entre os entrevistadores a expressão: "barra, o que mais?" 

Bem, eis que um dia um grupo de entrevistadores foi chamado a uma sala da sede e eu e meu primo estivemos selecionados entre eles. Comentamos entre nós que seríamos despedidos, mas eis que veio a surpresa quando nos foi comunicado que mediante uma suposta observação de diversos coordenadores, nós havíamos sido bem cotados e assim, fomos convidados a fazer parte de uma equipe para trabalhar em uma pesquisa feita em outra cidade de outro estado. Com perspectiva de pagamento quase dobrado, despesas de avião & hotel sem nenhum ônus para nós e diárias de alimentação bem interessantes, fomos convidados e aceitamos trabalhar nessa campanha a ser feita em Curitiba. 

Bem, o coordenador escolhido foi um rapaz que já conhecíamos do cotidiano desse trabalho feito em São Paulo e que se mostrava bem sério na sua atribuição e não muito mais velho do que nós. Fomos à Curitiba, cumprimos o trabalho dentro da mesma rotina e a diferença foi que ficamos três dias a trabalhar na capital paranaense. Nas horas vagas noturnas deu para passear bem pelo então tranquilo centro de Curitiba e gastar o dinheiro da diária com certos luxos alimentares até.

Algum tempo depois, nós largamos esse trabalho e tanto no meu caso quanto do meu primo, não foi por demissão, mas por cansaço daquela rotina extenuante e sobretudo pela baixa remuneração, pois na realidade aquele trabalho não prosperaria para o resto da vida para ninguém. A minha cabeça estava 100% na música e o meu primo havia passado no vestibular e estudaria no Rio de Janeiro, portanto, mesmo que gostasse desse "bico", ele teria que deixá-lo em breve por precisar se mudar de São Paulo.

Então veio o lapso do tempo. Em 1983, eu já estava a tocar com A Chave do Sol, que estava a ter os seus primeiros sinais de projeção midiática e em paralelo, fui convidado e aceitei acumular duas bandas ao voltar para a formação do Língua de Trapo.

E como o Língua de Trapo tinha o Teatro Lira Paulistana como um pilar de sua carreira, ali eu toquei por muitas temporadas, e me acostumei a ter como um excelente suporte técnico, o trabalho do técnico de som da casa que se mostrava extremamente solícito e competente na sua atribuição técnica. E logo que eu o vi pela primeira vez nos bastidores do teatro, achei a sua fisionomia familiar e sobretudo pelo seu nome, deveras exótico, não tive dúvidas de que se tratava do mesmo rapaz que fora coordenador dessa empresa de pesquisas e que além de muitas vezes comandar a equipe na qual eu fui escalado para trabalhar em bairros variados de São Paulo, também fora o coordenador dessa empreitada feita em Curitiba. 

Não falei com ele sobre isso de imediato, mas em 1984, já bem mais entrosado, ao ponto de nos considerarmos amigos e também pelo fato dele ter operado inúmeros shows d'A Chave do Sol e ter se afeiçoado à nossa banda, eis que um dia, em um momento de jantar ocorrido na casa do nosso baterista, José Luiz Dinola, eu tomei coragem e lhe revelei a minha lembrança sobre tal passagem mútua que tivemos em 1979, marcada por algo absolutamente nada a ver com a nossa relação com a música.

Ele ficou perplexo, pois não se lembrava de forma alguma de haver me conhecido nessa época e o simples fato de eu tocar no assunto dessa empresa de pesquisa de mercado já o deixou estupefato, pois a realidade da vida dele havia mudado radicalmente. Ora, a minha também e foi verdadeiramente incrível termos tido essa relação de trabalho tão incomum em 1979, e anos depois estarmos a trabalhar novamente, desta feita mergulhados na música profissional.

No entanto, volto neste instante ao início desta crônica e relembro ao leitor que quase todo mundo que foi parar nessa agência de pesquisa de mercado na qual trabalhei em 1979, era aspirante a artista, empenhado para adentrar na engrenagem do show business, ou já dentro desse ramo, mas a precisar reforçar o orçamento pessoal, por ainda estar nas camadas inferiores da música profissional. Nesses termos, por termos quase todos essas características, não pode ser considerado exatamente uma surpresa termos nos encontrado anos depois sob outras circunstâncias e ter sido tão boa a nossa relação de trabalho no campo artístico.

Para encerrar esta história, esse rapaz que já era muito bom ali no início dos anos oitenta como técnico de áudio, ficou ainda melhor com o decorrer dos anos. Ele foi técnico fixo de artista mainstream por anos a fio, operou "PA" gigante de grandes festivais e é respeitadíssimo no meio, com todos os méritos, no rol dos melhores operadores de som para shows ao vivo, do Brasil.

E da minha parte, ficou essa lembrança de algo não exatamente ligado à música, mas que dadas as circunstâncias bem típicas da época, se tornou uma página curiosa da minha trajetória pessoal. Enfim, lembrei de muita coisa, mas.../o que mais?