Eu (Luiz Domingues) ao vivo com o Pedra no Via Funchal de São Paulo, em setembro de 2006. Click: Grace Lagôa
Portanto, por se considerar que eu já acumulava uma carreira com trinta e dois anos de existência naquela época (mediante muitos trabalhos realizados e alguns deles ao ter alcançado boa repercussão), foi natural que através da Internet e pela via das redes sociais, as pessoas falassem sobre a minha pessoa e a respeito de tais trabalhos, sem que eu tivesse noção do que acontecia.
Nesses
termos, um grande produtor musical que eu conhecera nos anos oitenta e que tivera uma
relação de trabalho e amizade comigo, se aproximou do Pedra pela Internet e
sob uma primeira instância, se mostrou interessado em realizar entrevistas
comigo, Luiz e Xando, ao visar relembrar memórias de bandas oitentistas por onde atuamos,
respectivamente: A Chave do Sol e Harppia (no caso do Xando).
O grande produtor musical e ativista incansável, Antonio Celso Barbieri, que também é músico e mantém a sua obra sempre em atividade. Fonte: Internet
Tratou-se
de Antonio Celso Barbieri, um ativista cultural incansável e produtor cultural que eu
conhecera em 1984, quando este esteve envolvido com a produção do evento: "Praça do Rock", em que A Chave do Sol se apresentara por diversas vezes.
Depois
disso, entre 1985 e 1986, nossa relação progrediu, com Barbieri
a produzir muitos shows d'A Chave do Sol, até que em 1987, ele tomou a resolução pessoal de deixar o país, para ir morar em Londres, onde
se radicou e mora, desde então.
O produtor cultural, músico e ativista, Antonio Celso Barbieri. Fonte: Internet
Nos anos noventa, quando eu estava no Pitbulls on Crack, houve a possibilidade da parte dele, tentar ajudar essa banda de alguma forma e um material foi enviado em mãos para ele, através de um amigo meu que para lá viajou em 1997, mas Barbieri não pode fazer muita coisa na ocasião, para ajudar.
Nos anos 2000, em 2001 para ser específico, Barbieri veio ao Brasil passar férias e e ele assistiu um show da Patrulha do Espaço, banda pela qual eu estava a trabalhar na ocasião, através de uma casa noturna de São Paulo, todavia, nenhum negócio foi combinado, ao se revelar apenas uma reunião prazerosa, em ritmo de confraternização entre amigos.
Então, desta feita foi a primeira vez, em anos, que ele se mostrara interessado em produzir alguma coisa com uma banda minha, pois fui informado que ele se revelara muito impressionado com o som do Pedra.
Já fazia muitos anos, ele mantinha um Site bem organizado e muito acessado, chamado: "Memórias do Rock Brasileiro", no qual depositava textos a expressar as suas memórias que remontam aos anos sessenta e setenta e também sobre a sua militância mais incisiva como produtor musical, a partir dos anos oitenta, além de muito material acumulado sobre bandas brasileiras em geral, principalmente as que ele manteve contato, a trabalhar conjuntamente.
Portanto,
por apreciar o nosso som e nessa altura, o nosso segundo álbum já estava a sair e com o
Xando a providenciar a sua disponibilidade para audição, ele rapidamente publicou uma
matéria em seu site, a tecer elogios rasgados ao trabalho do Pedra e como eu o conhecia de
longa data, sabia que Barbieri não era (é) de rasgar seda a toa. Se estava
a elogiar, foi por que se impressionara de fato.
Eis acima, a matéria que ele, Barbieri, publicou no Site "Memórias do Rock Brasileiro" a enfocar o trabalho do Pedra
Não demorou e ele fez uma proposta irrecusável à banda: queria produzir um videoclip conosco! Claro que aceitamos, mesmo por que, tínhamos dois bons clips produzidos em película de cinema e vários promos de internet, referentes à diversas músicas do primeiro disco, mas neste instante de 2008, estávamos sem perspectivas para produzirmos um clip no mesmo nível e um disco novo estava por ser lançado.
Barbieri se empolgou e passou a interagir fortemente com a banda, portanto, e mediante os seus e-mails e depoimentos postados na saudosa Rede Social "Orkut", que foram diários, praticamente, a nos deixar a par de seus planos.
Foi quando em um dia desses de intensa conversação, ele nos disse que estava encantado com um vídeo experimental que assistira na internet, feito por um artista canadense, chamado: Paul Wittington.
Mais que isso, tal vídeo por ele comentado, se mostrara assombrosamente
próximo da metragem da música: "Longe do Chão", do nosso novo disco e que,
pasmem, se encaixara visualmente de uma forma tão perfeita à música e
suas nuances, que pareceu ter sido concebido para ela e vice-versa.
Frame do clip de "Longe do Chão" com a presença do famoso "robot cadavérico que o protagoniza. Produção de Antonio Celso Barbieri
A carecer de poucos ajustes que ele mesmo providenciaria em sua ilha de edição, lá em Londres, Barbieri esteve animadíssimo para fazê-lo. Lógico que aceitamos e dinâmico ao extremo (e eu o conhecia há muitos anos e sabia que ele era assim mesmo, portanto), não me surpreendi quando soube que ele já havia feito contato com o artista canadense citado e havia pago uma quantia exigida pelo mesmo, a fim de lhe outorgar os devidos direitos exclusivos sobre a imagem.
Sendo
assim, ao oferecê-lo como um presente para a banda, levemos em conta que além de pagar uma boa
quantia para o rapaz do Canadá, e perder horas em uma ilha de edição, isso por si só, foi sensacional para nós, mas o que não poderíamos imaginar, seria que tal
clip com essa animação a se coadunar de uma forma incrível com a nossa
música, ofertar-nos-ia uma surpresa, ao gerar uma reação pública espantosa, assim que fosse ao ar.
Um outro frame do clip de "Longe do Chão" com a presença do famoso "robot cadavérico que o protagoniza. Produção de Antonio Celso Barbieri
Ainda fechado para o público em geral, nós vimos a prova final do clip e ficamos muito impressionados com a qualidade da animação e a sincronia incrível que estabelecera com a música e de fato, a edição do Barbieri fora mínima, em alguns detalhes apenas, a suprimir algumas tarjas escritas em inglês e neste caso, sem nenhuma conexão com a nossa música, ao substitui-las por palavras básicas em português e dentro do contexto da canção.
Ficamos super animados, pois tivemos enfim um clip a altura dos anteriores e que veio muito a calhar com o lançamento do novo álbum.
Então, o Barbieri abriu ao público em geral no YouTube e algo muito incrível ocorreu!
Mais um frame do clip de "Longe do Chão", com a presença do famoso "Robot" protagonista. Produção de Antonio Celso Barbieri
O que se sucedeu, foi que assim que o Barbieri lançou o videoclip no You Tube, antes mesmo de iniciar os seus esforços em termos de divulgação entre seus contatos, uma explosão viral começou a ocorrer. Demoramos algum tempo para entender o que sucedia, pois foi algo muito fora da nossa realidade, como artistas que militávamos no underground da música, apenas.
Pois foi em um dia
de ensaio e quando a banda estava em uma pausa, para tomar café na sala de estar
do Overdrive Estúdio, quando o Xando foi à sala da técnica para dar uma olhada
no monitor de computador que ali ficava ligado na internet o dia inteiro e então voltou abismado para a sala de estar, para nos dizer que havia alguma coisa errada, pois o nosso novo vídeo entrara a
pouco minutos no ar, e já havia passado da marca de mil e quinhentas visualizações!
Xando Zupo ao vivo com o Pedra no Avenida Bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa
Desacostumados a termos um tipo de reconhecimento viral nesses termos, ficamos todos atônitos e ele mesmo, Xando, por ser o mais acostumado a lidar com a Internet e neste caso, desde meados dos anos noventa, contemporizou a situação para evitar que especulássemos algo fora da nossa realidade, ao tentar emitir explicações sobre "bugs" de internet etc. e tal e que provavelmente essa contagem não estava certa, pois logo a equipe técnica do YouTube corrigiria tal anomalia, ao demarcar portanto, o número mais compatível com a nossa projeção habitual, dentro do mundo underground da música, onde habitávamos.
Mas quando
voltamos ao ensaio, o número não parava de crescer vertiginosamente e
já passara de dois mil views, em uma questão de meia hora de atuação no ar.
Xando Zupo a preparar a guitarra no estúdio da emissora Brasil 2000 FM em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
Foi quando o Xando examinou melhor os fatos e nos passou a informação que não fora um erro, em absoluto, e que o vídeo entrara na capa de indicações do YouTube, portanto estava "a viralizar" naturalmente, daí tal escalada astronômica!
No mesmo
momento, Barbieri já se mostra enlouquecido em Londres, ligadíssimo no
fenômeno e eufórico, nos mandou mensagens a todo instante a repercutir os
números e já havia usado tal acontecimento para realçar os seus esforços
pessoais de divulgação.
No dia seguinte, já passara de dezoito mil visualizações e não parava de crescer, a suscitar comentários, a maioria deles com teor altamente positivo, a falar de nossa música e nossa banda e muitos da parte de pessoas completamente alheias ao nosso espectro artístico e dessa maneira, foi um claro acréscimo de popularidade que recebemos, a se revelar como algo inacreditável para uma banda como a nossa, fora dos esquemas do mundo mainstream.
E por
incrível que pareça, apesar de estarmos a sermos expostos e submetidos à
avaliação de pessoas que nunca haviam ouvido falar de nós e que nem
detinham familiaridade com o Rock, sequer, a quantidade de comentários
positivos foi gigantesca e absolutamente surpreendente para nós!
No bojo desses comentários, houve a presença de Rockers, também, e eu me lembro de um rapaz do Peru, que era seguidor de Vintage Rock e que teceu um longo elogio à banda, ao se mostrar surpreso com a qualidade de nossa música e sobretudo pelos signos setentistas claramente expressos em nossa obra.
Ora, a fazer uso de um dito popular: "foi melhor que a encomenda", e digo mais, muitíssimo melhor!
Só me lembro a priori de um comentário negativo, o que foi até inacreditável em face da mega
exposição pela qual fomos submetidos, perante pessoas de todo tipo gosto cultural e musical. Esse rapaz maldoso disse, laconicamente: -"Imagens= Bom. Música=Bosta"...
Nesse caso, mais pareceu um típico "troll" ou "hater" de Internet, ou seja, um jovenzinho desocupado que devia passar o tempo a destilar ódio gratuito pelas redes sociais e nem ficamos chateados, logicamente, porquanto ter sido algo isolado e descabido em essência, muito embora ele tenha salvaguardado o seu direito de não gostar da nossa música.
Com o passar dos dias, o número de visualizações não parou de aumentar. Foi uma sensação incrível que experimentamos, algo inédito para o tipo de artista que éramos (somos), sempre à margem dos grandes movimentos de exposição midiática.
Em três
dias, já havia passado de cinquenta mil visualizações e não dera mostras que iria diminuir em tal escalada.
Nesse ínterim, a imprensa especializada, mais próxima de nós, notou tal movimentação e começou a publicar notas a comentar sobre o fenômeno e claro que
ficamos muito contentes com esse resultado inesperado.
Antonio Celso Barbieri, em um momento adiante da cronologia que eu enfoco, em 2015 ao lançar o seu livro: "O Livro Negro do Rock" em São Paulo
Da parte do Barbieri, a animação foi total e ele nos falara que chegaríamos a cem mil views em pouco tempo na sua avaliação e que assim que isso ocorresse, ele começaria a travar contatos com gravadoras britânicas para tentar uma colocação para nós e concomitantemente, começou a articular uma turnê europeia para a nossa banda e de fato, ele detinha contatos não só em Londres mas em outras cidades inglesas e de outros países europeus.
Segundo nos disse, seria algo bem realista, é claro, na base de apresentações em pequenas casas e eventuais festivais, e que ao passarmos das cem mil visualizações, ficaria mais fácil alinhavar tudo.
Seria aquele tipo de turnê bem simples, com a banda a viajar espremida entre o equipamento de palco básico, dentro de uma van, a ocupar hotéis de terceira linha e sem maiores requintes nas refeições, mas de nossa parte, pobres Rockers tupiniquins, não haveria problema algum para enfrentarmos tais condições espartanas.
Bem, tudo isso se mostrara muito inesperado para nós. Os nossos planos, antes desse acontecimento excepcional, eram simples na ocasião: queríamos lançar o novo disco, fazermos o máximo de shows possíveis em São Paulo, talvez algum em alguma cidade interiorana e no máximo tentar algo no Rio de Janeiro, mas daí a cogitarmos a Europa, nem em sonhos.
Assim, embalados por um repentino sucesso viral de internet, nos colocamos em uma situação absolutamente inusitada.
E a confirmar a projeção feita por Barbieri, alguns dias depois e estivemos quase a alcançar a casa dos cem mil
views e isso foi uma cifra astronômica para uma banda do nosso patamar.
Então, Barbieri já estava a planejar tudo sobre nossa ida à Inglaterra e dessa forma, ficamos incumbidos para deixarmos a documentação em dia, ao atualizarmos passaportes.
De nossa parte, imbuído da vontade de ajudar no embalo gerado, o iluminador, Wagner Molina, também detinha muitos contatos na mídia mainstream e no show business em geral. Nesses termos, ele se prontificou a nos ajudar e marcou comigo uma ida à sede da rádio Gazeta FM, na qual ele tinha amigos no seu corpo dirigente e mediante esse mote do estouro do clip no YouTube, mais o lançamento do novo álbum, Molina quis forjar uma música nossa na programação da referida emissora, e sem ter que pagar "jabá", apenas a usar como lastro, o fenômeno do estouro do clip e o seu prestígio pessoal nessa negociação.
Claro, ele nos perguntou se aceitaríamos participarmos de um ou mais shows gratuitamente em prol da
emissora, sob uma permuta, e nós aceitamos a troca, que mesmo ao se caracterizar como uma espécie
de jabá velado, se fosse cumprido a posteriori, ou seja, na base da máxima: "primeiro
executem a nossa música maciçamente, depois cumpriremos os tais shows", haveria de ser
um pouco menos aviltante à nossa dignidade.
Eu mesmo, Luiz, fui com ele à tal reunião marcada, mas na hora de conversar com os maiorais da referida emissora, Molina pediu para eu que eu ficasse fora da sala de reuniões. Senti o clima pesado, nitidamente, pois uma mulher que fazia parte dessa cúpula se portou de uma maneira pouco amistosa ao me examinar visualmente e impetuosamente me falou que quando me viu no saguão da emissora, achou que eu fosse o "empresário" da banda, e não o artista em questão.
Ora, foi uma maneira grotesca para afirmar que me julgara "inadequado" visualmente, principalmente pela questão da idade, naquela altura para
completar quarenta e oito anos de idade, portanto ao aparentar possuir uma maturidade que a deixara perplexa em seus parâmetros pessoais em termos do que é o show
business e sobretudo pelos conceitos de gestão de carreira que artistas
do mundo popularesco seguem, mediante a opinião formada por "personal stylists" & gestores de carreira,
acostumados a fazer com que trabalhadores rurais oriundos de fazendas remotas do centro-oeste do país, se transformem em galãzinhos padronizados,
da noite para o dia, uma regra que sobrepuja a música e a arte em muitos
anos-luz, nesse planeta paralelo em que viviam.
Nesses mesmos dias em que nosso vídeo se transformara em um fenômeno no YouTube, estávamos agendados a participarmos de um programa de internet, muito mais próximo da nossa realidade underground.
Still de uma entrevista conduzida pelo Alexandrelli em questão em seu Talk-Show
Tratou-se de um programa chamado: "Loucuras do Alexandrelli", um talk-show conduzido pelo rapaz em questão, com produção de Celia Coev (que conhecemos nesse dia, e hoje é uma amiga muito ativa nesse mundo de programas de TV de Internet), para uma emissora virtual chamada, "Just TV".
Fomos ao
programa embalados pelo sucesso que o vídeo da canção, "Longe do Chão", estava
a fazer e a entrevista foi boa, com direito a algumas músicas tocadas ao
vivo e "mezzo" acústicas, inclusive eu mesmo, Luiz, atuei a usar um baixo
semi-acústico que pertencia ao saudoso baixista, Renê Seabra, que me emprestara na ocasião.
Mais um "still" do Alexandrelli em meio ao seu Talk-Show então exibido pela Just TV
Figura louca, que se revelava como um misto de Cazuza com Sérgio Malandro, o Alexandrelli conduzia o seu programa de uma forma histriônica, mas devo dizer que nos divertimos muito com toda aquela loucura aventada de improviso da parte dele.
Rapidamente também, levamos uma cópia do clip de "Longe do Chão" para o programa que a banda, "Irmandade do Som", produzia para a Rede NGT e uma cópia também para a programação geral dessa emissora.
Ali tocávamos com muitas exibições, desde 2006 e os nossos clips de: "O Dito Popular" e "Sou Mais Feliz", que foram, ambos, objetos de sucesso na grade da emissora e também nesse programa em específico.
Eu (Luiz) e Rodrigo representamos o Pedra, apenas para participarmos de uma entrevista, sem intervenção a tocarmos ao vivo, em conversa conduzida pela vocalista e dançarina da banda, Cris "Boka de Morango" Escudeiro. Infelizmente eu não tenho cópia desse vídeo, assim como o do programa anteriormente citado, "Loucuras do Alexandrelli".
Com um clip
a explodir no YouTube, shows agendados e mais o disco novo a sair do forno, tal somatória com boas novas nos forneceu a sensação de que finalmente estávamos a recuperar o embalo
perdido ao final de 2006, ao haver culminado com o fato de que o ano de 2007, houvesse sido muito difícil
para nós.
O Clip de
"Longe do Chão", produzido por Antonio Celso Barbieri em 2008, a contar
com a animação "Android 207", do artista canadense, Paul Wittington:
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=tyFjiBlphNo
E sob tal
embalo, o Barbieri sinalizou com um segundo lançamento de vídeoclip,
exatamente para tentar aproveitar o sucesso do "clip do Robot", como
fora apelidado o vídeo de "Longe do Chão", ao fazer alusão ao seu
personagem principal, o "Android 207".
Antes de falar do segundo clip que o produtor Barbieri sinalizou preparar, eu abro
parêntese para explicar que o clip de "Longe do Chão" se trata de uma animação e que o seu personagem é um
robot em miniatura, com uma aparência um tanto quanto macabra & fantasmagórica, em uma situação a viver uma experiência sensorial/cognitiva,
e ser observado em situações de dificuldades ante obstáculos, ao tentar
achar uma saída dentro de um intrincado labirinto.
Fotos posadas do Pedra por ocasião do show realizado no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Clicks: Grace Lagôa
Empolgados com tudo o que estava a ocorrer conosco, jamais poderíamos supor que um mal-entendido gigantesco, provocaria uma ruptura abrupta e triste, a fulminar com toda aquela euforia que permeara os nossos últimos dias, no entanto.
Foi assim que ocorreu o desastre:
quando Barbieri nos mostrou o segundo clip que produzira (da música: "Projeções"),
nós notamos que ele colocara uma tarja a anunciar o seu site. Ora, nada mais justo
que ele inserisse uma propaganda de seu site e isso seria o mínimo que poderíamos
fazer por ele, em termos de retribuição por tudo o que tal produtor abnegado estava a contribuir de bom em
nosso favor, ao gerar um verdadeiro portal aberto a conter novas e alvissareiras oportunidades inimagináveis
(e inalcançáveis em tese), para a carreira da nossa banda.
Still do clip da canção "Projeções", com produção de Antonio Celso Barbieri e ilustrações de Diogo Oliveira
Contudo, discordávamos da forma como a tarja aparecia, bem no meio da metragem do clip e um tanto quanto exagerada em sua dimensão em termos de tipologia, a obstruir ligeiramente o foco do clip em si. Isso também acontecera com o clip viralizado de "Longe do Chão" e entre nós, achávamos tal procedimento inadequado, mas em meio à euforia gerada pelo resultado no YouTube, nunca tivemos uma conversa franca sobre essa questão com o Barbieri e assim, quando ficou pronto o clip de "Projeções", vimos que ele insistira nesse procedimento e nessa altura, já estávamos prontos para falar abertamente sobre essa queixa, respeitosa, de nossa parte.
Todavia, um acontecimento fortuito e quase involuntário, causou um incidente e mudou o rumo da nossa relação com Barbieri, a destruir a parceria, lastimavelmente.
Ocorreu que o Rodrigo postou uma cópia do clip novo, ainda sem a tal legenda no ar a anunciar o site de Barbieri e quando o produtor viu a postagem, enlouqueceu pela atitude tomada de nossa parte de forma intempestiva.
Da parte
do Rodrigo, eu asseguro que a sua intenção não fora maquiavélica para prejudicar o
Barbieri, é claro que não. Em sua ingenuidade, ele achou que adiantaria o serviço e que
"depois", mediante uma conversa, tudo esclarecer-se-ia com Barbieri, visto que
na ficha técnica, todo o crédito para ele, estava correto e
com direito à menção ao seu site, o que fora o justo e a demarcar o mínimo de nossa
parte para retribuir tudo de bom que ele estava a realizar por nós e
certamente ainda faria.
Mas foi o tal negócio... como explicar uma situação em que a pessoa apenas enxerga o ato em si e a boa intenção velada de fato não importa nesse caso? Pois então, eu imagino o Barbieri, lá em Londres, cheio de entusiasmo para com a banda, ao abrir o seu monitor e constatar que o clip fora lançado de forma unilateral e sem a tarja de seu site, sendo que o esforço de produção fora todo seu?
O que ele deve ter sentido? Claro que ele se sentiu traído, apunhalado pelas costas, e neste caso, eu compreendo perfeitamente a sua reação ante o despropósito em que foi levado a acreditar sob total estupefação!
No calor da discussão (e foram dias marcados por uma troca de e-mails tensos, travados entre ele e Xando, que absorveu a bronca por ter acesso direto aos endereços oficiais da banda e dessa maneira a receber a artilharia pesada de Barbieri), e assim, o rompimento das relações foi inevitável. Foi na prática, um mal-entendido inacreditável que gerou um resultado tão forte, ou maior ainda que o surpreendente sucesso do primeiro clip, eu diria.
O Rodrigo só queria lançar o novo clip sem a tarja e nós também achávamos que ela era inconveniente, esteticamente a se observar. Pensávamos que se na edição, o Barbieri colocasse com toda a justiça e direito, a sua propaganda no início e no final do clip, ao estilo da edição de emissoras musicais tais como a MTV ou VH1, ficaria perfeito para ambas as partes e queríamos tratar dessa particularidade com ele.
Portanto, a
precipitação inocente do Rodrigo, em postar antes de combinar a
modificação com o autor dos clips, gerou esse mal-estar de um tamanho
gigantesco.
Da parte do Barbieri, ele se sentiu usado e traído e não fora esse o caso, de forma alguma, pois o Pedra era formado por quatro homens de bem, que jamais tomariam uma atitude assim contra ninguém, quanto mais um amigo que estava a nos proporcionar uma ajuda incrível, naquele momento, sem precedentes.
Contudo, no calor da raiva, eu entendo que se tornara muito difícil para ele, Barbieri, enxergar a situação com tal frieza e constatar que fora apenas um erro lastimável que cometêramos e sem nenhuma intenção para prejudicar o nosso benfeitor, o que aliás, seria de uma loucura sem sentido algum de nossa parte.
Como resultado, após discussões ríspidas entre as duas partes, Barbieri retirou o clip de "Longe do Chão" do ar e cancelou o lançamento do clip de "Projeções".
Meu caro leitor, diante de tudo o que já falei sobre o episódio desses clips, em especial o do "robot", dá para mensurar o tamanho do prejuízo artístico que essa decisão de retirá-lo do ar, nos causou?
Então, para cessar a animosidade, todavia com o selo amargo do rompimento de relações a nos demarcar, Barbieri pediu a nossa atitude em forma de cavalheirismo, para que também retirássemos o vídeo de "Longe do Chão" do ar, ao pensar em nossas postagens, e claro que o fizemos, em termos de lisura.
E a minha situação pessoal nesse imbróglio, como amigo e admirador da ação cultural de Barbieri desde os anos oitenta, como ficou?
Eu, (Luiz Domingues) no camarim do Teatro X de São Paulo, em março de 2008. Click: Grace Lagôa
Sim, por que dos quatro componentes do Pedra, eu fui o que melhor conhecera o Barbieri, por conta dos inúmeros shows que ele produzira da minha banda nos anos oitenta, A Chave do Sol, e neste caso, a minha impressão sempre fora a melhor possível sobre a sua pessoa, em todos os quesitos, notadamente a sua força como produtor entusiasmado e empreendedor, assim como a lisura no trato financeiro.
Pelo lado humano, o considerava (considero), um bom amigo. Mas ali em 2008, eu vivia um pequeno dilema pessoal, pois não acessava a internet, exatamente por não conhecer nem o be-a-bá dos computadores, que me possibilitasse me dirigir a uma Lan House do bairro e me comunicar diretamente com ele, quando certamente o chamaria para uma conversa esclarecedora entre amigos e sei que ele ouvir-me-ia com outro sentido.
Por outro
lado, eu não poderia também ser contra o pensamento da minha banda e de seus
interesses, além de que particularmente, também achava que a história da
tarja estava exagerada e deveria ser modificada.
O produtor cultural, Antonio Celso Barbieri. Fonte: Internet
Então, ao avançar um pouco na cronologia, mas só para encerrar esse episódio da relação entre o Pedra & Barbieri, digo que por ocasião do Natal de 2008, eu me certifiquei do endereço postal dele, em Londres e lhe enviei uma carta manuscrita, tradicional, ao ponderar sobre toda essa questão e a expressar o meu lamento pelo mal-entendido que gerou prejuízo e perda para todos e também que eu estava muito chateado em nome da nossa amizade, que vinha desde os anos oitenta.
Eu precisava tomar essa atitude, por tudo o que já expressei antes, mas sobretudo pelo fator limitante em meu caso, por não conter meios para me expressar através da comunicação virtual e assim, ao não ter me manifestado, ter passado a imagem de conivente ou omisso ante essa situação.
Alguns
dias depois, ao avançar para janeiro de 2009, eu recebi uma carta muito
bonita, manuscrita por ele, Barbieri, a se mostrar emocionado com minha
manifestação e a reiterar que apesar do aborrecimento gerado, ele teve a
certeza de que isso não abalaria a nossa amizade formatada por décadas e que
ficara muito lisonjeado com a minha manifestação isolada e sincera.
Eu, Luiz Domingues, no camarim do Teatro X de São Paulo em março de 2008. Click: Grace Lagôa
Ele não demonstrou, no entanto, com essa carta, que havia entendido e absorvido o ponto de vista do Pedra nessa confusão, mas foi o tal negócio, eu não poderia exigir que ele entendesse, pois seria uma questão de fórum íntimo da parte dele.
O tempo
passou, o Pedra acabou, passou mais um tempo e o Pedra voltou (não se preocupe, leitor, pois volto à cronologia assim que terminar este
raciocínio). Então, em
2013, passados cinco anos desse lamentável episódio, sem alarde, sem
propaganda, Barbieri repostou os dois clips do Pedra, no YouTube.
O Pedra em ação no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Click: Grace Lagôa
Claro que a repercussão foi muitíssimo diferente, haja vista que hoje em dia, 2016, o clip de "Longe do Chão" ainda está com "setecentos e poucas visualizações", em um padrão até abaixo do que o Pedra gerou em seus promos, normalmente ao longo de sua história.
Todavia, eu fiquei
contente pelo fato do Barbieri ter tido tal atitude e também por colocar os créditos
de uma forma bem mais razoável, ao marcar a sua justa propaganda, mas sem
tirar o foco dos dois clips em si.
Mais que
isso, em ambos, o clip de "Projeções", também, são belas produções que ele
fez e merecem muito estarem no ar para que as pessoas possam usufruir desses trabalhos.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=wL9NQ59CikY
As músicas
e as imagens em ambos, se coadunam de uma forma extraordinária e eu atribuo ao
Barbieri, a feliz percepção por ter feito tal junção, fora o trabalho todo
da produção que ele empreendeu e o seu costumeiro entusiasmo para produzir e empreender!
Por volta de 2014, ele nos abordou, timidamente, como se a relação estivesse a se normalizar, e neste caso foi para aventar a possibilidade de participarmos de um festival com artistas brasileiros, em Londres.
E nessa altura, eu já interagia fartamente na Internet e assim participei igualmente dessa conversação. Não deu certo o seu intento, um tipo de fator dessa monta em produção de show é complicado para lograr êxito e tudo bem, a vida seguiu.
A nossa amizade pessoal continua normal, nos falamos por telefone quando ele veio ao Brasil em 2015, porém infelizmente eu estava a convalescer por ter enfrentado duas cirurgias decorrentes de um problema de saúde que eu tive no início desse ano, e por isso não nos encontramos pessoalmente nessa ocasião.
Vez por outra ele publica textos meus, dos quais aprecia, em seu site, e isso me deixa feliz e honrado, certamente.
Foi assim então a história dos clips produzidos por Antonio Celso Barbieri e apesar do desfecho lastimável que tivemos em 2008, a vida seguiu para o Pedra, apesar da perda incalculável que isso gerou na época.
De volta à cronologia, estivemos chateados ao extremo pelo ocorrido, mas tínhamos shows para cumprirmos!
O nosso próximo compromisso foi marcado para o local onde nos apresentáramos em fevereiro, quando participamos do festival: "Grito Rock".
Conforme
eu já havia mencionado quando comentei sobre essa participação no festival citado, fomos muito bem tratados pela direção do espaço em
si, o "Centro Cultural Cidadão do Mundo" e ali surgira o convite para
realizarmos um show inteiro no seu espaço, como uma produção única.
Estabelecemos a
nossa divulgação padrão e ao contrário do show cumprido no Festival citado,
claro que faríamos uma apresentação completa e isso denotara um esforço
acrobático para acomodar o equipamento todo, a promover a utilização
dos teclados, visto que a apresentação no referido festival fora cumprida sob o padrão do
típico show de choque, com poucas músicas apenas e só a privilegiar o repertório com
músicas no âmbito das duas guitarras, para facilitar a nossa logística.
Chegamos ao final da tarde no espaço, muito mais preocupados em fugirmos do trânsito e convenhamos, não é fácil sair de São Paulo rumo a São Caetano do Sul-SP, ao final da tarde e início da noite.
Recebidos com entusiasmo pelos responsáveis da casa, estivemos com bastante tempo hábil e com muita paciência, fizemos a ginástica acrobática para colocar todo o equipamento naquele palco tão tímido e a fazer tudo funcionar.
Já sabíamos de antemão que o PA disponibilizado pela casa, seria bem simples e claro que fazer-se-ia mister observar a dinâmica bem espartana, sob o risco de não se ouvir as vozes e assim prejudicar a performance geral.
Apesar de ter sido uma banda com excelência musical inquestionável, o Pedra mantinha um sério defeito em sua performance ao vivo e que nunca o corrigiu a contento, a se tratar exatamente sobre o fator da dinâmica.
Pelo fato de Rodrigo e Xando terem, ambos, o costume de tocarem muito alto, a banda sempre padeceu nesse aspecto, infelizmente. Não por maldade da parte deles, de forma alguma, mas por manterem esse comportamento arraigado, eles se escoravam em explicações típicas de guitarristas sobre "válvulas que precisam da pressão X para atuar melhor e obter o som Y" ou a dupla amplificação, mesmo em ambientes minúsculos, como fator preponderante para se obter o fator do estéreo em certas circunstâncias etc.
Tais
argumentos foram verdadeiros, tecnicamente a falar, porém, também representavam apenas uma sutileza sonora muito específica, que aos ouvidos leigos eram absolutamente irrelevantes e na
prática, com toda essa massa de equipamentos, ficava impossível nos apresentarmos sob um volume razoável e assim, na hora decisiva, quando tocávamos em casas noturnas
tímidas, sob ação de PA's bem fraquinhos, como esse em questão, a
inteligibilidade das letras ficava hiper prejudicada e isso gerava
frustração para a banda a posteriori, a estabelecer um círculo vicioso.
Esse que eu mencionei e o fator da dificuldade para estabelecer uma agenda sustentável, foram os dois pontos cruciais que mais atormentaram a banda ao longo de sua história.
Haveria
uma banda de abertura para esse espetáculo em específico, mas que sob um arranjo bem caseiro, não representaria
nenhum estorvo, pois seria a banda do nosso roadie, Daniel Kid.
Ao usar o nosso equipamento, sem problema algum, seria um prazer dar essa oportunidade à banda: "Daniel Kid e os Rockers".
Soundcheck
realizado, todos saíram para jantar nas imediações, mas eu permaneci nas dependências da
casa. Portanto, quando eu estava a descansar no camarim improvisado, instalado no mezanino da casa, eis que eu ouvi a voz de uma pessoa amiga a conversar com os donos do
estabelecimento, que eram amigos dela em comum. Tratou-se
de Cris "Boka de Morango" Escudeiro, dançarina e cantora da banda, "Irmandade do
Som", que tão bem nos receberas em seu programa exibido através da rede NGT, ao final de
2006.
Rara foto
desse show, na verdade uma a mostrar os seus bastidores, no camarim do Centro Cultural Cidadão
do Mundo, de São Caetano do Sul-SP, em maio de 2008. Da esquerda para a direita: Rodrigo Hid,
Cris "Boka de Morango" Escudeiro e eu (Luiz Domingues). Foto: Grace Lagôa
Moradora
de São Caetano do Sul-SP, quando ela soube que ali tocaríamos, se prontificou a nos prestigiar e foi um prazer recebê-la, naturalmente, a se tratar de uma pessoa muito querida por nós que se tornara nossa amiga desde 2006.
Um problema estrutural ocorreu lamentavelmente com a banda de abertura. O guitarrista desse grupo havia tido um problema de última hora e a banda se preparara para atuar com um guitarrista substituto, mas este também adoecera no dia da apresentação.
Corajosamente, Daniel Kid e o baterista fizeram uma apresentação hiper improvisada, a aproveitar o fato de que o baterista também tocava violão e assim, com um duo formado por violões e vozes, eles fizeram uma performance acústica e curta. Achei bem positiva a predisposição de ambos, ao não cancelar a apresentação e improvisar, ainda que a contrair um claro prejuízo artístico, pois estavam prontos para uma apresentação elétrica com toda a potência da banda, mas isso não foi possível.
Já o nosso show foi bom, conseguimos dar o recado mesmo em meio a uma apresentação com palco apertado, a gerar incômodos físicos, até. O pessoal do espaço foi super simpático e apreciamos a hospitalidade, mas o público que compareceu foi bem pequeno, infelizmente. Noite de 2 de maio de 2008, no Centro Cultural Cidadão do Mundo, em São Caetano do Sul-SP, com cerca de vinte e cinco pessoas presentes na casa.
O que nos animou nesse momento, apesar do episódio desagradável sobre o cancelamento dos dois vídeos produzidos por Antonio Celso Barbieri, foi a perspectiva de termos mais datas marcadas para bem breve, o que era raro para a nossa banda e claro que seria muito bom.
O próximo
show, seria um micro festival a ser realizado em uma casa noturna (velha
conhecida nossa, por sinal), mas cuja organização seria providenciada por uma agência produtora nova,
que nos sinalizou estar imbuída da vontade para crescer e aparecer no mercado.
Ótimo, gente empreendedora era (é), sempre bem-vinda.
Recebemos convite da parte de uma produtora que dizia representar um escritório de agendamento de shows e que seria novata no meio, e que dessa forma, detinha planos para entrar no mercado a fim de promover shows com bandas de Rock autorais e na condição extra-mainstream.
Na
conversa inicial, apesar dessa moça aparentar ser bem jovem, ela se mostrava articulada e
desinibida, além de que, a sua argumentação parecia marcada pela prudência,
ao estilo realista, sem inventar fatores fora do comum, a sonhar
com produções exageradas e sobretudo, prometer resultados mirabolantes, ao se considerar que trataria com artistas como nós, que militávamos no
underground da música.
O Pedra a posar no Teatro X de São Paulo em março de 2008. Click: Grace Lagôa
Bem, nesses termos, por que não aceitar a proposta inicial, que seria um balão de ensaio para a produtora, a organizar um show triplo em uma casa noturna com razoável infraestrutura (me refiro ao "Café Aurora", localizada no Bexiga, zona centro-sul de São Paulo), e da qual já conhecíamos por termos nos apresentado ali em duas ocasiões, anteriormente?
Ao ir além, a companhia que teríamos nesses shows compartilhados, seria ótima, ao lado dos amigos das bandas: "Tomada" e "King Bird".
O Pedra a posar nas dependências do estúdio Overdrive de São Paulo, em 2008. Click: Grace Lagôa
Pois então aceitamos o convite e mesmo ao não esperar muita coisa de uma bilheteria compartilhada entre quatro partes, e pior ainda, por se considerar que o show fora marcado para um dia útil e consequentemente dificílimo para atrair público, uma terça-feira, interpretamos com alegria que a tal jovem parecia estar a trabalhar de uma maneira correta, por que ela agendara uma entrevista a ser concedida para a emissora Brasil 2000 FM, para divulgar o micro festival e claro que aceitamos participar, a fim de promover o show, ao lado de alguns componentes do "Tomada".
No dia da apresentação, o clima de camaradagem foi muito grande entre as bandas e não seria para menos, pela amizade ali generalizada. O Tomada tocou primeiro e havia trazido consigo, a figura de Martin Mendonça, guitarrista da banda de apoio da Pitty, uma cantora que havia alcançado um patamar médio na música, entre o underground e o mainstream, portanto, ostentava um certo prestígio no meio e este rapaz estava envolvido com o pessoal do Tomada, a produzir o seu novo álbum.
O King Bird tocou o seu som mais pesado, um Hard-Rock com muitos signos setentistas bem interessantes, mas não fechados na intenção retrô, propriamente dita. O seu trabalho na verdade pendia para a modernidade do Rock pesado e assim mais próximo do Heavy-Metal, bem entendido. Músicos dotados de um excepcional gabarito e muito gentis no trato pessoal, gostei muito de compartilhar um show com eles.
Quando
fomos chamados ao palco, lamentavelmente e por ser uma terça-feira, a casa já
não apresentava o pico de público em que iniciara a noitada e os que ali
permaneceram estavam sob um estado etílico bastante alterado, portanto a impressão
que eu senti ali, foi que esperavam de nós uma atitude de banda de
entretimento para embalar a sua bebedeira, mas o Pedra tinha uma
proposta artística muito sofisticada para esse tipo de expectativa hedonista gerada pelo baixo escalão.
O Pedra presente no estúdio da rádio Brasil 2000 FM, a conceder entrevista. Foto: Grace Lagôa
Nesses
termos, foi uma apresentação sem sinergia com o público e tirante
poucos ali presentes que foram para realmente nos ver, em detrimento das outras
bandas, realmente não foi uma noite feliz para o Pedra.
Aconteceu que
tal como jogador de futebol que somente entra em campo com a intenção de vencer
o jogo, sempre, o músico também só sobe ao palco para fazer uma
apresentação perfeita e que agrade inteiramente o público, mas isso nem
sempre acontece. No caso dos jogadores, por que existem adversários com o
mesmo objetivo, em nosso caso, são diversos outros fatores, ao ir das falhas técnicas do
equipamento à falta de sinergia com o público. Uma pena, portanto, mas nessa noite nós não empolgamos ninguém ali presente.
Enfim, vida que seguiu, teríamos um novo show em breve e não queríamos que essa apresentação sob resultado pífio, aliado ao baixo astral que amargáramos com a retirada dos novos clips do ar, fato amplamente já relatado anteriormente, nos tirasse o ânimo para enfrentarmos os próximos compromissos.
Sobre
a garota e sua agência produtora, as duas sumiram e nunca mais tivemos
notícias... e claro que isso não nos surpreendeu, na medida em que sabíamos
há muito tempo, que produzir shows de Rock dá muito trabalho e os frutos dessa
semeadura demoram para florescer, portanto, para quem pensa ser fácil e desiste na primeira adversidade, arrivederci! Noite de 13 de maio de 2008, Café Aurora em São Paulo, com cerca de oitenta pessoas presentes na casa.
O Pedra em sua primeira aparição na Feira da Vila Pompeia de São Paulo em meio de 2006. Click: Grace Lagôa
O leitor mais atento há de se recordar que ali fizéramos o nosso primeiro show, exatamente dois antes, portanto, haveria por ser simbólico para nós, cumprirmos uma nova participação com tantos acontecimentos ocorridos nesse ínterim para o nosso engrandecimento e apesar das dificuldades inerentes para uma banda independente, alojada no underground da música, havíamos crescido em vários aspectos.
Nessa feira, o "Palco Rock" é tradicionalmente o mais concorrido, a demonstrar uma certa dificuldade para se agendar uma participação, tamanha a demanda provocada por postulantes, incluso bandas de outras cidades e estados que sabem que a Feira da Pompeia é uma vitrine para as suas aspirações.
Entretanto, desta feita nós tentamos uma cartada nova como estratégia e quando negociamos a nossa participação, pedimos para tocarmos em um outro palco, destinado para atrações não comprometidas com o Rock, a transitar entre a MPB então moderna e outras vertentes, tais como a World Music, música étnica e até artistas praticantes de tendências experimentais.
Não que
estivéssemos a negar as nossas raízes, como uma assumida banda de Rock que éramos, mas
queríamos ter a chance de tocarmos para um público diferente, no afã de se
conquistar novas frentes e além disso, a concorrência haveria de ser bem menor em
um palco assim, pois estávamos acostumados a lidar com a dificuldade em se agendar espaço, no famoso Palco Rock contido nessa Feira.
O lado obscuro dessa estratégia, seria o resultado prático, pois apesar da habitual aglomeração que o "Palco Rock" tem na sua produção e logística, é de fato o que mais atrai público. Dessa maneira, sabíamos de antemão que não teríamos um público formado por milhares de pessoas como acontece todo ano no "Palco Rock", mas apostávamos na presença de um público diferente e que talvez começasse a nos descobrir, além de, seguramente, termos mais espaço para tocar, visto que a logística do "Palco Rock" era sempre tumultuada e quando o artista subia ao palco, inexoravelmente era muito maltratado por produtores subalternos do festival que se colocavam sob um estado de nervos bem alterado pelo atraso gerados e tendiam a descontar o seu nervosismo nos artistas a jogarem toda a pressão pela bagunça da qual eles haviam sido os únicos responsáveis, na verdade.
Fora tudo isso, o tempo para cada banda tocar, geralmente programado para ser meia hora em média para cada artista, culminava por se reduzir com os atrasos e a relembrar, quando tocamos em 2006, esperamos horas para nos apresentarmos e quando subimos ao palco, tocamos a primeira música e ao iniciarmos a segunda canção, já estávamos violentamente pressionados a encerrar a nossa apresentação.
Portanto, isso também pesou na nossa decisão para procurarmos tal espaço alternativo em outro palco, talvez menos concorrido e dessa forma, presumivelmente mais confortável em termos de tempo hábil para atuarmos.
Tal palco se chamava: "Palco Atitudes".
Neste caso, acho que
eu já exprimi a minha opinião para a conotação errônea que a palavra
"atitude" assumiu no universo do Rock, após os anos oitenta e a autêntica
contrariedade que eu nutro por tal expressão forjada por marqueteiros e
jornalistas mal-intencionados.
Erro na interpretação do release oficial do evento, neste site, eis que nos anunciaram como se fôssemos tocar no Palco Rock.
Portanto, já me causava uma impressão ruim tal nome a denotar uma intenção obscura, para ser ameno. Mas tudo bem, apesar disso, eu estive motivado para tocar e como os demais, apostei na eficácia de nossa estratégia.
Todavia, tudo foi por água abaixo quando fomos notificados que havíamos sido escalados para tocar às 12:30 horas, ou seja, um horário ingrato pelo fator do calor e sobretudo pela fatal baixa frequência, pois mesmo com a Feira já a apresentar um bom público a circular pelas ruas nesse horário, certamente não seria o público consumidor de música e sim o contingente interessado nas centenas de barracas de comidas & bebidas, e artesanato.
E não deu outra, quando chegamos ao palco montado na esquina das Ruas Ministro Ferreira Alves e Tucuna, havia um público muito pequeno a prestigiar o artista que se apresentava antes de nós. Sinceramente não me lembro o nome da banda em questão.
Apenas me recordo que fora um quarteto em ação, igualmente como o nosso, mas nitidamente os músicos não continham uma escola Rocker como a nossa, pela pegada. Eles faziam um som Pop, um tanto quanto anos influenciado pela sonoridade dos anos oitenta e quiçá pela MPB "moderninha" da época ao sabor dos artistas da gravadora "Trama", para se definir de uma forma generalizada.
Quando
acabou a apresentação desses artistas, eu percebi que a produção desse palco se mostrara nitidamente mais
amistosa do que a costumeira grosseria típica imposta pelos sujeitos que trabalham no "Palco
Rock" e pelo menos isso me reconfortou pela escolha que fizéramos.
Fomos chamados a nos apresentarmos e o nosso show foi bem azeitado, musicalmente, com o som bem equalizado nos monitores. O lado mau, foi que o público não melhorou em nada quando começamos a nossa apresentação.
Para ser sincero, ao se comparar com a multidão rotineira do "Palco Rock", eu diria que fora irrisório, com pouco mais de cinquenta pessoas na frente do palco, o que foi muito decepcionante para nós.
Para
contrariar o que eu falei há alguns parágrafos acima, digo que tocamos quase
confortavelmente em termos de tempo, pois uma produtora começou uma leve
pressão na penúltima música prevista em nosso set list, ao mostrar o ímpeto para cortar o nosso tempo, quando alegou atrasos.
Foi ameno, é verdade, mas depois que saímos, subiu ao palco uma banda, que na minha ótica agiu de maneira deselegante, duplamente. Primeiro, que os sujeitos tocaram uma ou duas músicas autorais e as demais, covers, e pior ainda, covers de artistas de qualidade muito duvidosa no cenário Pop do mainstream daquela época. E segundo, por que o seu set foi em torno de quase o dobro do nosso e ninguém os importunou para que encurtassem a sua apresentação e deixassem o palco.
O Xando ficou incomodado com essa demonstração de tratamento diferente entre nós e tal banda, eu me lembro bem e na primeira oportunidade em que a mocinha que nos incomodara, passou por nós, ele a cobrou ao mencionar que a banda em questão estava a tocar o dobro do tempo e ainda por cima não houve cabimento que eles estivessem a executarem covers em um espaço que seria em tese, para a música autoral. A mocinha ficou então a praticar aquele discurso padronizado, ao estilo "call center", ao fornecer desculpas esfarrapadas e só faltou lhe dizer: -"estaremos analisando a sua queixa, senhor"...
A resumir, fizemos uma tentativa para buscarmos um espaço diferente e não logramos êxito em nosso intento. Tocamos em um palco desinteressante, sob um horário inóspito e para um público sofrível em termos de presença.
Não houve nenhum artista significativo do meio artístico escalado para o mesmo palco, para
dar élan à nossa escalação no mesmo dia e o razoável conforto que
supostamente tivemos por não enfrentarmos a truculência típica, perpetrada pelos produtores subalternos do "Palco Rock",
não valeu a pena. Como consolo, deu para almoçar tranquilamente e ir para casa assistir a rodada do futebol, pela TV...
Uma última nota curiosa sobre esse dia, não tem nada a ver com a banda em si. Para aproveitar a Feira em curso, o Ivan foi dar um passeio com a família, visto que estava acompanhado de sua esposa e de seu casal de filhos.
O seu caçula, Lucas Scartezini, não tinha nem dois anos de idade ainda nessa ocasião e naquela semana havia levado um tombo caseiro e por conta disso, estava com o rosto a ostentar um pequeno hematoma. Contudo, nesse dia o menino estava alegre, bastante excitado pela agitação da Feira e logicamente por ter visto o pai tocar, portanto ele nem se lembrava do machucado.
Bem nessa época, um caso policial que repercutia nacionalmente, dava conta de um certo pai e de sua esposa, madrasta de uma menina de seis anos, que foram acusados de assassinarem a criança, por supostamente a lançarem pela janela de um apartamento, em um andar bem alto.
Pois o que é a junção entre a estupidez humana e o poder da mídia! Pois eis que o passeio da família foi encurtado na Feira, porque o Ivan e sua esposa, Beth, foram hostilizados verbalmente por alguns populares, que julgaram ser o hematoma no rosto do menino, uma agressão de seus pais, em suma: quanta ignorância.
Dali em diante, a nossa meta foi focar no lançamento do novo disco e sobre mais shows, somente os teríamos em julho.
Por outro lado, a tentativa para nos inserirmos no mundo dos festivais de música independente se tratara de uma estratégia que estávamos a adotar em 2008, paralelo aos esforços para finalizar e divulgar o novo álbum.
Já tínhamos logrado um pequeno êxito inicial ao termos sido escalados para participar do Festival "Grito Rock", ainda que tal festival fosse muito pulverizado e o local onde fomos nos apresentarmos, a se mostrar como extremamente modesto e portanto, incapaz para promover uma grande repercussão.
O lado bom
em específico nesse caso, foi que conhecemos pessoas bem-intencionadas e idealistas, que
gerenciavam o pequeno espaço que participou da organização geral do tal
festival, e em tal minúsculo centro cultural, as portas foram abertas ao
Pedra, para uma apresentação extra, portanto, apesar de ter sido uma
oportunidade sob pequena monta para os nossos esforços de expansão, foi
válido, é claro.
Rodrigo Hid no camarim do CCSP em 2006. Click: Grace Lagôa
No entanto, o Rodrigo, que havia tomado a dianteira para buscar espaço para o Pedra em meio a esses festivais independentes, continuou os seus esforços pela internet e com alegria, recebemos a notícia de que havíamos sido escalados para um tradicional festival realizado no interior de São Paulo, na cidade de Araraquara. Tratou-se do: "Araraquara Rock", que realizaria a sua sétima edição.
Promovido em uma arena ao ar livre, ao estilo concha acústica, se mostrava em tese, muito maior que o festival Grito Rock, pelo menos ao se comparar ao modesto espaço em que participáramos, em São Caetano do Sul-SP.
Animamo-nos, é claro, pois seria proveitoso mostrar o nosso trabalho em uma cidade
interiorana pujante como Araraquara-SP e inseridos sob um festival que já mantinha uma
tradição nesse mundo da música independente.
Mas haveria o lado ruim e coloque ruim nisso, pois a seguir o padrão de 99.9% dos festivais independentes, as condições logísticas para os artistas, foram ofertadas sob extrema aspereza. Sem cachê para início de conversa, o argumento que os seus organizadores mantinham como regra desses festivais era o de que estavam "a oferecer o suporte ao artista em um palco com a equipamentos bons, disponíveis para exibir o seu trabalho", portanto, na ótica dessa organização, isso por si só já seria uma chance de ouro para qualquer artista do underground a sonhar com a sua ascensão na carreira.
Essa mentalidade equivocada, se mostrava absurda, pois se partirmos do pressuposto de que os organizadores desses festivais captavam recursos de apoiadores, tirante as despesas operacionais e logísticas e uma justa parte dessa renda para ser dividida entre os seus gestores, por que achavam que o cachê dos artistas não deveria ser pago?
Fora os
recursos captados ao atrair dinheiro não tributável de empresas, havia
a cobrança de ingressos do público, como uma fonte extra. Isso tudo sem contar os pequenos patrocinadores por fora, a
movimentação pela comercialização de comida e bebida no espaço e o merchandising com
lojinha a todo vapor, a vender bugigangas referentes ao festival em si ou
relacionadas aos artistas que apresentar-se-iam.
Entretanto, não obstante o fato de não pagarem cachê aos artistas (e todo aquele circo armado só se justificava pela presença dos artistas, é bom frisar), não havia apoio para as despesas de traslado, hospedagem e alimentação, ou seja, o básico do básico do básico da relação contratado/contratante.
Em resumo,
dentro desse mundo de festivais independentes que se realizavam aos montes por todo o país nessa década, se institucionalizou uma
mentalidade ruim, semelhante ao padrão seguido por donos de casas noturnas de
pequeno porte, que se recusam a pagar cachês para bandas, sob a alegação torpe de
que o fato de deixarem que toquem em suas casas, já é o suficiente, como se isso fosse um
favor.
Em suma, além de não ganhar cachê, pequeno que fosse, não teríamos nenhuma verba para uma reles ajuda de custo.
Praxe desse tipo de festival, foi um "pegar ou largar", com a aquela mentira deslavada a ser usada como pano de fundo, ou seja, "show para investimento de carreira".
Nesses termos, uma situação
foi participar do "Grito Rock" em São Caetano do Sul-SP, uma cidade próxima de São Paulo, em que a nossa despesa operacional foi mínima com a
gasolina e o cachê de dois roadies, que bancamos do bolso.
Outra bem diferente, seria
irmos até Araraquara-SP, distante cerca de trezentos Km de São Paulo, e termos que arcar com a
despesa de viagem e eventualmente hotel, refeições e fora o nosso
operacional com roadies e talvez técnicos de som e iluminação.
Tirar uma banda de Rock de casa, custava dinheiro. Seria como entrar em um táxi e o motorista acionar o taxímetro, com uma tarifa mínima, mesmo antes de engatar a primeira marcha do carro.
Naquela
dúvida entre pegar ou largar e de nada adiantava argumentar com o
pessoal do festival pois essa era a sua norma em caráter irredutível, ponderamos que seria
bom participarmos para divulgar o novo disco no interior do estado e quem sabe ganhar
algum prestígio adicional, com mídia agregada etc.
Confirmamos a nossa participação e ficamos contentes por sabermos que duas bandas amigas estariam conosco nesse festival, além de outras tantas desconhecidas. Uma delas foi o Baranga e a outra foi na verdade um combo montado de última hora para acompanhar o baixista, Marcelo "Pepe" Bueno, que estava a fomentar uma aventura solo, a divulgar seu recém-lançado disco solo na praça, em paralelo à sua banda, o Tomada.
E nessa
banda, a contar com grandes amigos nossos, como Denny Caldeira e Marcião Gonçalves
nas guitarras e o espetacular, Roby Pontes, na bateria. Foi uma banda
improvisada e com poucos ensaios para acompanhá-lo nessa tarefa, mas de
antemão eu sabia que daria tudo certo, tamanha a qualidade dos músicos
que escolheu para formar tal grupo de apoio.
Com muito esforço, paciência e talento como vendedor nato, o Rodrigo Hid conseguiu dobrar a resistência ferrenha dos organizadores e estes aceitaram pagar parte da despesa da van que contratamos, ao caracterizar uma quebra de paradigma sem precedentes nesse tipo de norma seguida por tais festivais, menos mal, portanto.
Viajamos então, no dia do show e tivemos uma logística diferente, pois Xando e Ivan estiveram em São Carlos-SP na noite anterior onde cumpriram um compromisso particular e por ter sido assim, assim, a se mostrar absolutamente dentro na rota e apenas a trinta Km antes de Araraquara, combinamos de apanhá-los nessa simpática cidade.
De São Paulo, eu me lembro que partimos com a sempre ótima companhia de Roby Pontes e Marcião Gonçalves, que iriam tocar com Marcelo Bueno.
Viagem tranquila, o motorista foi muito gentil e em grande parte do percurso eu me pus a conversar com ele e apreciei muito a sua condução segura, sem nenhuma loucura no volante, pelo contrário, a se mostrar muito prudente e responsável.
Quando entramos no perímetro urbano de São Carlos-SP, foi extremamente fácil nos encontrarmos com Xando e Ivan, que nos aguardavam em uma mesa de bar, em frente ao hotel onde muitas vezes eu e Rodrigo havíamos nos hospedado ao viajarmos com a Patrulha do Espaço em tempos de outrora.
Foi quando um hippie velho nos abordou na mesa, a oferecer os seus trabalhos de artesanato e por nos ver cabeludos e com a van abarrotada por instrumentos, deduziu que seríamos uma banda. Até aí nada de mais, esse tipo de contato efêmero é costumeiro pelas ruas, quando um bando de cabeludos chama a atenção, naturalmente.
Acontece que o
rapaz nos disse que era músico, também, e que havia tocado com Sérgio
Sampaio nos anos setenta. Não se tratou do Renato Piau, guitarrista que gravou o disco do Sampaio de 1972 ("Eu
quero Botar meu Bloco na Rua"), é bom esclarecer. Não me recordo do seu
nome, mas me lembro que usava o codinome: "Bahia".
Inacreditável, não foi mentira e quando lhe falamos que havíamos gravado a música: "Filme de Terror" do mestre Sampaio, ele se emocionou. Claro que o músico veterano ganhou um disco de presente e nos proporcionou a sua vez para nos emocionar, quando o Xando apanhou uma guitarra na van e lhe emprestou para que ele tocasse e mesmo com a guitarra desligada, ele executou várias músicas do disco do Sampaio, com desenvoltura.
Que momento bonito e ao mesmo tempo triste, pois ele não aparentava estar bem, sob o aspecto sociofinanceiro a falar, por estar a sobreviver sob dificuldades com a venda de artesanato e nesse momento, perambulava pelo interior de São Paulo, de cidade em cidade, a juntar dinheiro para realizar seu sonho de voltar à sua cidade natal no nordeste, provavelmente no estado da Bahia.
Então,
mesmo ao vivermos esse momento inusitado ali em São Carlos-SP, os ponteiros do
relógio teimavam em não parar e assim, apesar de estarmos perto,
tínhamos que voltar à estrada e completar o percurso até Araraquara-SP...
Chegamos na cidade de Araraquara, ao final da tarde.
A bela
cidade mostrava o seu entardecer, e justificara o seu apelido em ser a
"Morada do Sol", cidade pujante por conter uma forte indústria, comércio, e
tradição longeva em sua agricultura baseada no cultivo da laranja,
ao alimentar grande parte da produção nacional e a exportar muito,
principalmente para o mercado norte-americano.
Dirigimo-nos imediatamente ao local do show e chegamos um pouco antes do horário pré-determinado para o soundcheck. Ali nos
bastidores do local, foi muito prazeroso ter uma longa conversa com o
guitarrista do Baranga, Deca, com o qual toquei por cinco anos no
Pitbulls on Crack. Fazia tempo que não conversávamos e ali nós colocávamos as
novidades em dia, quando eu soube que ele havia sido papai de novo, por
exemplo.
Ficamos contentes por verificarmos que o equipamento locado se mostrava com qualidade, tanto no PA, quanto na monitoração, além do backline munido por amplificadores de gabarito e uma carcaça de bateria de boa qualidade e em condições para não deixar nenhum baterista em apuros.
Fizemos o soundcheck e sob um gentil oferecimento de Marcelo Bueno, fomos ao hotel onde ele estava hospedado e usamos as dependências para um repouso, banho e arrumação geral. Além das bandas amigas que eu citei, haveriam várias atrações antes de nós, a maioria delas, formada por bandas a transitar entre o Heavy-Metal e o Indie Rock, estes com a sua típica raiz Punk.
Que eu me lembre, havia apenas uma banda com um certo nome nesse mundo do Indie Rock, e que se chamava: "Charme Chulo". Acho que eram do Paraná e pelo pouco que me recordo, não se tratou de uma banda ruim, como é praxe no mundo "indie", e até soou agradável, ao me fazer lembrar vagamente o som de bandas britânicas de estilo "bubblegum", dos anos sessenta.
E a atração principal da noite seria uma banda ultra incensada na mídia, desde os anos noventa e na minha opinião, tal reverência era exagerada ao cubo, a superestimar um trabalho que não se justificava dessa forma em minha avaliação. O "Nação Zumbi" e o seu indie que chegou ao mainstream, não me convencia de forma alguma com aquela fórmula indigesta em misturar Punk-Rock/Heavy Metal com folclore, mas tudo bem, sem preconceitos ou nenhuma menção em haver qualquer animosidade, mesmo por que, eu nem mesmo conhecia os seus componentes, portanto, eu não tinha absolutamente nada contra os seus componentes, pessoalmente. Apenas não gostava de sua estética, ideias sonoridade e ideais na música.
A noite avançou e os shows já estavam a todo vapor. Da coxia, vi uma banda a atuar, um Power-Trio com um som pesado, algo no limiar do Heavy-Metal. Garotos novos, tocavam bem e apesar de eu não gostar dessa sonoridade, vi no semblante e no gestual deles que estavam a tocar com uma garra incrível e foi nítido que queriam aproveitar a chance de estarem a tocar no sudeste, ainda que não fosse em um grande centro como São Paulo ou Rio, mas em uma cidade interiorana paulista, com porte.
Eram de alguma cidade pequena de
Pernambuco, acho, e haviam se deslocado de lá, mediante o uso de ônibus comerciais regulares, com instrumentos na mão e um
sonho. Claro que admirei isso e mesmo que não tenha sido uma sonoridade que eu
apreciasse e apoiasse, lhes desejei toda a sorte do mundo na sua carreira. Nem me lembro do nome da banda, mas tomara que tenham atingido muitos degraus acima,
no seu nicho de atuação, nos anos seguintes.
Tocou a seguir, Marcelo Bueno e a sua banda de apoio. São boas canções desse seu disco solo ("Nariz de Porco não é Tomada", uma clara brincadeira com a sua própria banda), e valorizadas pela categoria dos músicos que o acompanharam, pareceu uma banda de carreira a tocar, com entrosamento e brilho.
Foi bem interessante o show, mas claro, completamente desconhecido do público ali presente, ele não causou comoção para a audiência. Entretanto, eu gostei muito, ao assistir da coxia.
Chegou a vez do "Charme Chulo" e o som deles também soou bem. Da coxia, a ouvir o som emitido do sistema de monitoração "side fill", achei que o peso e os timbres estavam bons para a banda se ouvir no palco.
Quando
fomos chamados a tocar, o público presente estava bem grande e assim que começamos,
eu avistei a figura ímpar de Gustavo Arruda, na plateia, mas bem perto do fosso
dos fotógrafos. Vocalista da banda, "Homem com Asas", de São Carlos-SP,
cidade vizinha, nós éramos amigos desde o tempo em que eu e Rodrigo fomos
componentes da Patrulha do Espaço e nossas respectivas bandas
interagiram bastante entre os anos de 2001 e 2004.
Começamos a tocar e a monitoração estava ótima. Pelo "side fill", eu ouvia com nitidez até o tilintar da minha palhetada nas cordas de meu baixo. O bumbo da bateria do Ivan estava absolutamente encorpado e aveludado por uma bela frequência e as guitarras de Xando e Rodrigo, estavam com muito brilho etc.
Como é bom tocar sob condições sonoras ideais e como isso é raro na vida de quem milita no underground da música, infelizmente!
Começamos a nossa apresentação com "Megalópole", um tema instrumental a transitar entre o Acid-Rock sessentista e o Jazz-Rock setentista. Intrincado e a exigir precisão de todos os instrumentistas, este tema saiu magnificamente bem, pois estávamos bem ensaiados.
Sob uma análise fria, alguém poderia criticar a escolha de tal música para abrir um set de show de choque. Compreendo que talvez gerasse estranheza generalizada, mas eu acho que foi uma boa escolha, pois trouxe um diferencial para nós, em meio a tantas bandas com um som uniforme, a usarem e abusarem dos clichês do Heavy-Metal, e pior ainda, no caso do punk sofrível apresentado pelas bandas "indie", e por ter sido assim, acho que abrir o show com aquela complexidade sonora, no mínimo causou um impacto aos ouvidos habituados a ouvirem serras elétricas dos headbangers, ou a massa amorfa dos indies.
Tocamos
também: "Se Você for a Fim", "Letras Miúdas" e "Filme de Terror", todas oriundas do disco
inédito, além de "Estrada" e "O Galo Já Cantou", estas do primeiro disco. Foi um
set curto, ao estilo de show de choque, naturalmente.
Eis acima, "Letras Miúdas" ao vivo no Araraquara Rock de 2008
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Z9etj5cOGTI
Lembro-me
do Gustavo Arruda a gritar entre os intervalos das músicas. Ele elogiava a
banda aos berros, e isso foi bem esfuziante da parte dele e depois nos bastidores, ele me confidenciou que além de querer nos apoiar, estava a considerar a mixagem do
nosso show, excelente e de fato, estávamos a soar muito bem no PA,
segundo ele.
Claro que ficamos contentes com essa informação. O nosso show não causou comoção igual à que o Gustavo relatou ter experimentado para o restante do público, mas isso esteve dentro da normalidade para um artista desconhecido das pessoas ali presentes.
O Baranga assumiu o palco e me lembro do Deca a enlouquecer, ao jogar para o alto (e bem alto), a sua guitarra Fender Stratocaster, sem receio. Eu o conhecia de longa data, dos tempos do Pitbulls on Crack, e sabia de sua performance ensandecida no palco, portanto, não me surpreendi nem um pouco, mas achei bonita a sua performance, logicamente.
No camarim, a empresária do "Charme Chulo", nos abordou e expressou desejar trocar contatos conosco, ao se dizer impressionada com a nossa performance e que talvez ela conseguisse nos encaixar em alguma oportunidade futura.
Nunca aconteceu nada da sua parte, mas
foi válido dar vazão ao contato, é claro. E ela se mostrara como uma uma moça linda, bastante
sensual e que monopolizou todas as atenções dos bastidores do festival.
As piadas inevitáveis sobre a presença provocante da bela moça, avançou
madrugada adiante, certamente.
Eis acima "Se Você for a Fim", ao vivo no Araraquara Rock de 2008
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=EG0Tft6t0pY
Bem, o
ambiente estava agradável entre tantos amigos presentes, mas o nosso plano
não foi dormir naquela cidade, e assim, deveríamos termos entrado na van e partirmos
para São Paulo, imediatamente. No entanto, nesse ponto começou a minha longa agonia para
agrupar todo mundo, pois a dispersão foi enorme.
Ao cumprir a função de
um "road manager", eu enlouqueci completamente, pois cada vez que eu localizava
um membro da nossa comitiva e o conduzia à van, outros que ali estavam a aguardar,
haviam sumido de novo.
O
motorista levou na brincadeira, ao me informar que os rapazes relatavam estarem
cansados de esperar dentro do carro e saíam sob a alegação de que
procurariam os demais e claro que o objetivo deles fora outro...
Enfim,
foram duas horas em que enlouqueci completamente, pois fui o único
sóbrio ali e quanto mais eu tentava estabelecer a ordem, os demais achavam engraçado me verem agoniado com a situação. Enfim, eu daria tudo para ter um road
manager profissional ali e com pulso firme naquele instante, pois definitivamente, não tenho paciência para ser monitor de
acampamento escolar...
Outra
ocorrência, veio através do Gustavo Arruda, que levara um amigo, ex-colega seu da
Universidade Federal de São Carlos, e que era natural de Juiz de Fora-MG.
Esse rapaz era muito articulado, como todos os amigos do Gus, por sinal, Rockers
intelectualizados.
E ao ir além, se mostrou fanático pelo guitarrista irlandês, Rory Gallagher e portanto, ficou animadamente a me relatar as suas andanças pela Irlanda, a participar de festivais em memória do saudoso guitarrista e também nos disse ter ficado impressionado com a nossa performance.
Bem, depois das
manifestações aos berros do Gus durante o nosso show, creio que ganhamos outro apoiador sincero ali em Araraquara, enfim.
O local onde realizava-se tal Festival, em Araraquara / SP. Uma arena ao estilo concha acústica
Bem,
finalmente eu consegui reunir todos os membros da nossa comitiva na van e
partimos, com quase três horas de atraso em relação à nossa previsão
inicial e a firmar uma constatação: ser um abstêmio em meio aos etílicos, não é
fácil! É preciso ter um saco escrotal muito elástico, com o perdão da
expressão deselegante.
Festival Araraquara Rock, dia 12 de julho de 2008, mediante a presença de cerca de mil pessoas na plateia. Com o novo disco quase a ser lançado, a próxima parada foi de novo no interior de São Paulo!
Já com o segundo álbum em mãos, o nosso próximo compromisso ocorreu novamente no interior de São Paulo e sob uma ação pouco usual na vida do Pedra, infelizmente.
No dia seguinte a este show no interior, faríamos o show de lançamento em São Paulo, capital. Digo que foi uma grande pena mesmo que uma banda com um trabalho pautado pela excelência artística que possuía, tivesse tão poucas oportunidades para estabelecer uma agenda sustentável e dessa forma, manter dois shows seguidos em cidades diferentes foi uma exceção e jamais a regra, como merecíamos e desejávamos, certamente.
Bem,
conjecturas em forma de lamentos a parte, lá fomos nós para Piracicaba-SP,
em 17 de julho de 2008, para nos apresentarmos na unidade do Sesc
daquela cidade, super pujante e bem aprumada.
Eu preciso retroagir um pouco na cronologia, no entanto, pois existe uma pequena história pregressa para explicar o porquê de termos conseguido um show no Sesc de Piracicaba, se ainda não havíamos tocado em nenhuma unidade dessa rede sociocultural, em nossa própria cidade, São Paulo.
Ocorreu que o meu primo, Emmanuel Barreto, havia morado uns tempos nessa cidade, desde 2007, até o o início de 2008, quando esteve empregado em um estúdio de gravação e ensaios, ali recentemente estabelecido. Tal estúdio foi propriedade de um amigo dele, que eu conhecia também e que fora dono de um estúdio em São Paulo, ao final dos anos noventa, aliás, onde a minha banda, Sidharta, chegou a ensaiar, e posteriormente, a Patrulha do Espaço, também fez seus primeiros ensaios, por volta de abril de 1999.
O estúdio se chamava: "Alquimia" e ficava localizado no
bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo e o nome do rapaz era
Claudio, apelidado como "Formiga", e que aliás, também era um bom guitarrista.
Enfim, ao fazer contatos com a cena musical da cidade, Emmanuel conheceu muita gente e logo foi apresentado a uma produtora do Sesc Piracicaba, e então começou a se esforçar por uma data para o Pedra. Esse trâmite não foi nada fácil, pois não éramos famosos no mainstream e de nada adiantava argumentar que "éramos bons", "éramos uma banda de Rock com elementos de MPB e Black Music, e não Heavy Metal" (como geralmente os leigos enxergam o Rock, ao generalizá-lo como um barulho perpetrado por e para pessoas da faixa infantojuvenil) etc.
Irredutível na negociação, finalmente a senhora nos agendou, mas não colocou a menor esperança de que arregimentaríamos um público mínimo, e assim, não nos escalou para atuar no teatro, como queríamos, mas em um palco lounge, da lanchonete da instalação.
Não é
nenhum demérito tocar em um ambiente secundário assim nas unidades do Sesc em geral,
pois a infraestrutura de palco e equipamento é de primeira qualidade,
haja vista os shows que ocorrem normalmente na Chopperia do Sesc Pompeia
ou na "Comedoria" do Sesc Belenzinho, na capital e ambas com estrutura melhor que
muito teatro por aí.
Fomos para Piracicaba-SP no dia do show e com bastante tranquilidade. Viagem rápida (cento e oitenta e oito Km de São Paulo, apenas), estrada excelente e astral positivo, por que teríamos dois shows para fazermos nessa semana, portanto, a motivação foi total.
A unidade
do Sesc era (é) muito bonita, localizada em um belo bairro residencial daquela
cidade e próxima ao seu charmoso e famoso rio. O rio Piracicaba, cantado
em prosa e verso, e cenário para a prática de vários esportes ligados à canoagem, pela
sua característica em torno de ostentar uma forte correnteza estava ali bem perto do Sesc a nos inspirar.
Passamos
por uma banca de jornais a caminho e ficamos contentes por constatarmos
que havíamos sido enfocados em vários jornais impressos locais, com boas
matérias.
A tal produtora do Sesc se mostrou surpresa com tal reverência da parte da imprensa local e nessa altura já devia estar a compreender a realidade de que não éramos uma banda iniciante e praticante do Pop-Rock iniciante, mas que tínhamos substância, história e resultados já registrados para contar e assim, claro que o nosso show deveria ter transcorrido nas dependências do bom teatro da unidade, mas, paciência não foi assim que ela nos agendou.
Montamos o backline e ficamos contentes por verificarmos que o técnico de som foi extremamente simpático e competente. Rápido e eficiente, ele nos deixou com um ótimo som de monitor no palco e um confortável padrão de som para o PA, ao se considerar que fora uma situação diferente ao tocarmos em um lounge de lanchonete ao invés de um teatro.
O rapaz nos contou
várias histórias sobre artistas que ele havia sonorizado no teatro e no lounge daquela unidade.
Soundcheck feito com muita tranquilidade, fomos descansar e esperar a hora para tocarmos.
Havia um horário demarcado é claro, mas pelas circunstâncias, não necessariamente as pessoas apareceriam ali para nos ver. Por se tratar de uma lanchonete o entra e sai foi frenético no ambiente e dessa forma, nós tivemos a total consciência de que poderíamos enfrentar todo tipo de situação adversa ali.
Entretanto, o rapaz (que se chamava, Danilo), nos disse para ficarmos tranquilos, pois a possibilidade de haver hostilidade ali, era impossível. O máximo que poderia acontecer seria uma debandada, se o som não agradasse e outro ponto, palmas e manifestações positivas como gritos e assovios seriam raros. A cada término de música, a tendência seria o silêncio absoluto. Tudo bem, ficamos avisados.
Quando
chegou a hora para tocarmos, o ambiente continha aproximadamente, cem pessoas
presentes. Começamos a tocar e a cada final de canção, ouvimos poucas palmas e a
maioria ali presente, ao contrário, a se manter em silêncio. Muitos nem olhavam para nós, a nos ignorarem
retumbantemente.
"Saiu de Férias" no Sesc Piracicaba, em 17 de julho de 2008
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=3rjmyu-dM_o
Um rapaz,
que se sentou bem na frente, na primeira mesa, tomava café e lia um
jornal, enquanto tocávamos. Tratava-se de um jornal local e deu para ver nitidamente quando ele estava
a ler a página do caderno cultural, aonde havia sido publicada uma longa reportagem sobre
nós, com direito a uma grande foto da banda.
Pois nem assim
ele levantou a cabeça por um minuto sequer, por curiosidade tola que
fosse, para checar se os sujeitos retratados na foto publicada no jornal, seríamos nós em cima do palco, a tocar, ou seja, foi hilária tal cena para nós!
Finalmente após acabar de ler o jornal inteiro, esse rapaz desinteressado em nossa performance, se levantou e partiu, sem olhar para nós, por um segundo sequer!
Pusemo-nos a tocar, sem nos importarmos com essas reações estranhas e quando o show acabou, o técnico nos disse que fora um sucesso, pois apesar do quase silêncio nas mesas, o público havia gostado, pois em caso contrário, teria ocorrido uma debandada em massa, logo na primeira música e que tal procedimento era costumeiro ali.
Em uma outra mesa próxima ao palco, havia um casal e uma moça, que foram uns dos poucos que aplaudiram e sorriram para nós, ao assistirem o show, com atenção. Eis que esse trio nos abordou a posteriori e compraram os dois discos da banda. Haviam gostado e acho que se tornaram nossos fãs, doravante.
Na van, de volta para a casa, o motorista do veículo, que fora uma indicação do Rodrigo Hid, e que havia se se comportado de uma maneira séria, como um senhor reservado, na viagem de ida, mudara o seu modo de agir. Pois na volta, mais ambientado conosco, ele começou a nos contar "causos", a envolver clientes exóticos que atendera em ocasiões passadas.
Uma das histórias que ele nos contou é totalmente impublicável aqui neste relato, mas digo que foi uma das mais hilárias que eu já ouvi e que gerou uma epidemia de gargalhadas, ao nos deixar com os nossos respectivos abdomens a doerem, por tanto que rimos. Aos membros da banda que estiverem a ler este trecho e a equipe técnica que nos acompanhou nessa viagem, também (principalmente o Samuel Wagner, roadie, que quase teve um colapso por tanto que riu), eu deixo apenas uma dica com teor interno para que se lembrem: foi a história da "cumbuca"...
No dia seguinte, o compromisso foi nobre: o show de lançamento do álbum, Pedra II, no Centro Cultural São Paulo.
Em
Piracicaba-SP, nós tocamos no dia 17 de julho de 2008, na unidade do Sesc
local, com cem pessoas a compor essa estranha plateia, e pelo visto, só com
três a prestarem atenção, efetivamente em nossa música.
Contudo, ficara claro o nosso amadurecimento como banda, ao cometermos um disco cheio de coloridos memoráveis, tanto na qualidade das composições, quanto na excelência dos arranjos apresentados. Havia sempre a questão do apuro nas letras, um ponto de honra para a banda e com a mão de ferro do Xando Zupo, nesse quesito, que chegava a exagerar em sua expectativa, nesse aspecto.
Bem ensaiados e com uma surpreendente sequência de shows, próximos, algo atípico para a história da banda, lamentavelmente, nós chegamos ao Centro Cultural São Paulo para preparar o nosso palco bem cedo, logo no início da tarde.
Flagrantes do nosso show no CCSP de São Paulo a lançarmos o álbum Pedra II, em 18 de julho de 2008. Clicks de Grace Lagôa
Montamos
todo o equipamento com rapidez e tivemos o apoio sempre bem-vindo do iluminador, Wagner
Molina, que foi a garantia para tornar o nosso espetáculo, algo muito mais
valorizado, graças a sua capacidade e criatividade para conceber um mapa
de iluminação, verdadeiramente espetacular.
Mais flagrantes do nosso show no CCSP de São Paulo a lançarmos o álbum Pedra II, em 18 de julho de 2008. Clicks de Grace Lagôa
Sem banda
de abertura, tampouco outras intervenções como havíamos feito com uma
trupe de teatro e a performance ao vivo do artista plástico, Diogo
Oliveira, em duas ocasiões anteriores nesse mesmo teatro, a ideia desta feita foi empreender um show de
Rock tradicional e mais longo, a aproveitar para tocarmos o máximo de músicas do novo
álbum, mescladas com algumas do primeiro disco, logicamente.
Outros momentos do nosso show no CCSP de São Paulo a lançarmos o álbum Pedra II, em 18 de julho de 2008. Clicks de Grace Lagôa
Estávamos
em um momento muito bom, tecnicamente a falar, e apesar de algum revés
ocorrido recentemente, o nosso astral estava bom, animados pela sequência
de shows e lançamento do disco, a se refletir de maneira fluida no palco, com uma energia
boa, que se transpassou ao público.
Mais alguns flagrantes do nosso show no CCSP de São Paulo a lançarmos o álbum Pedra II, em 18 de julho de 2008. Clicks de Grace Lagôa
Portanto, a lembrança que eu tenho sobre esse show ocorrido no Centro Cultural São Paulo, em 2008, é da banda estar a soar muito bem.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_JhlxQOhQOY
De fato, foi um ótimo show e acredito que fizemos um belo espetáculo de lançamento, a altura do grande disco que estávamos a apresentarmos aos fãs, críticos e sem soar piegas e presunçoso, mas ao ser realista, para o mundo.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=I07o8Rxj0J8
O único ponto negativo nessa equação, foi o público tímido que compareceu ao Centro Cultural São Paulo, mas houve uma desculpa imediata para tal resultado pífio: o fato de haver caído em uma sexta-feira e naquele horário padrão das 19 horas desse teatro, ou seja, uma hora com trânsito engarrafado em São Paulo, apesar do mês de julho ser mais ameno, por conta das férias escolares.
Então, talvez isso fosse um consolo, mas claro que apesar disso, a nossa banda a lançar um disco dessa qualidade merecia a casa lotada, e quiçá, em meio a uma mini temporada formada por cinco dias seguidos, com casa cheia em todas as noites.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=U6Z-o3IOL-Y
Então, foi assim, um show ótimo, apresentado por uma banda afiada e motivada, a lançar um disco excelente, mas só com oitenta pessoas na plateia, paciência! Dia 18 de julho de 2008, no Centro Cultural São Paulo.
Mais momentos do Pedra ao vivo no Centro Cultural São Paulo, em 18 de julho de 2008. Clicks: Grace Lagôa
Depois que
lançamos o disco novo no Centro Cultural São Paulo, em julho de 2008,
comemoramos os elogios que o disco recebeu por parte da imprensa e
nas Redes Sociais da Internet, notadamente o Orkut, que ainda era a
rede mais usada nessa época, embora começasse a apresentar os seus primeiros
sinais de desgaste.
Os bons
comentários nos animavam, mas isso não se refletira exatamente em
oportunidades para serem marcados outros shows e assim, nós novamente entramos em uma fase difícil, marcada pela escassez de chances e nesse caso, o clima interno da banda se deteriorou,
como acontece com toda banda que fica sem perspectivas imediatas.
Rodrigo Hid em ação, com Ivan Scartezini ao fundo na bateria. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Uma reaproximação do agente, Marco Carvalhanas, aconteceu e desta vez ele sinalizou com uma possibilidade para um intercâmbio com uma emissora de rádio AM, de uma cidade localizada na região da Grande São Paulo, chamada, Franco da Rocha-SP. Seria uma permuta ao estilo das habituais negociações que ocorrem em emissoras de grande porte, com o "jabá" velado a ser cobrado em formato de shows ao vivo, promovidos pela emissora.
Nesse caso, por ter sido uma emissora pequena
de uma cidade carente, é óbvio que os shows seriam sem um padrão de infraestrutura grande e pelo contrário, realizados em pequenos palcos de
madeira, improvisados e sem chance alguma de serem realizados ao vivo, por serem
regidos pela precariedade da famigerada dublagem.
A linha de frente do Pedra em ação! Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Nunca o Pedra havia passado por uma situação assim (a não ser uma dublagem feita em um programa de TV, em 2005, fato já relatado), e eu contava nos dedos de uma só mão, a quantidade de vezes que eu mesmo passara por situações parecidas com trabalhos anteriores que realizei.
A priori, só me lembro das ridículas
dublagens feitas no Teatro "Pimpão", que eu cumpri com A Chave do Sol e o
Língua de Trapo para o programa de Rádio, Balancê, da Rádio Globo/Excelsior, nos anos 1980, alguns programas de TV e uma dublagem ao vivo no Palácio das
Convenções do Anhembi, para um programa da TV Record, com A Chave do
Sol, também na década de oitenta.
Uma panorâmica da banda no palco. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Quando eu passei a proposta para os companheiros, claro que eles ficaram divididos entre a indignação e o escárnio pelo caráter popularesco e ridículo de tal situação. Eu também sentira o ranço forte nessa situação e duvidava da eficácia para o nosso anseio artístico, de uma empreitada desse tipo.
Uma questão seria fazermos
shows nos salões suburbanos da baixada Fluminense para reverter em
aparições no programa do Chacrinha, nos anos oitenta, mas outra bem diferente seria
enfrentarmos shows em bairros periféricos de uma cidade localizada na Grande São Paulo,
para termos execução de uma música nossa na programação de uma rádio
popularesca com baixa audiência e com o espectro de ouvintes alvo, muito distante
do nosso nicho cultural.
A banda a atuar pela perspectiva do contraplano e com Ivan Scartezini em destaque. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
A trocar em miúdos, a expressão certa foi: para que? Exatamente a mesma impressão foi unânime entre os quatro membros e até para o Carvalhanas, que fizera a intermediação com a proposta pela emissora, também teve essa consciência, é claro.
No
entanto, a questão foi: nós poderíamos nos dar ao luxo de recusarmos
sumariamente uma proposta de divulgação, mesmo que não fosse algo
estritamente fundamental para nós?
Naquele pico de escassez por oportunidades que o
Pedra enfrentava costumeira e infelizmente, quando um fato novo
acontecia, diante desse panorama, seria quase uma obrigação agarrar a
oportunidade, mesmo que acarretasse em posterior arrependimento.
Rodrigo Hid em destaque, com a minha presença (Luiz Domingues) ao lado e Ivan Scartezini ao fundo, na bateria. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Nesse caso, éramos como andarilhos no deserto e quando aparecia um pequeno oásis à nossa frente, não seria possível questionar se a água disponibilizada seria dotada de uma boa qualidade ou não.
Nesses termos, mesmo a contragosto porque não seria a melhor das oportunidades, aceitamos participar e teoricamente a música: "Nossos Dias", proveniente do nosso novo disco, Pedra II, entrou na programação da tal emissora, seria trabalhada até se popularizar na região e então, no primeiro "show" promovido pela emissora na cidade, compareceríamos e faríamos uma dublagem da canção, ao ar livre.
Alguns dias depois, já confirmado tal acordo, uma entrevista ao vivo com um locutor dessa emissora, foi agendada. Eu falei em um domingo a tarde com o rapaz, por telefone e realmente isso aconteceu.
Não me lembro do seu nome (aliás, nem mesmo da
emissora), mas eu me recordo no entanto, que o rapaz se mostrou bem comunicativo
e simpático e apesar de realizar perguntas óbvias, a denotar não possuir a
mínima noção do tipo de artistas que éramos e para tanto, usar dos clichês
habituais que são comuns no mundo brega para entrevistar artistas
populares, e mesmo assim, a intervenção foi boa.
Rodrigo Hid a atuar com o violão. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
De fato, "Nossos Dias" começou a tocar e por ser possivelmente a canção com o teor mais Pop do disco, poderia ser executada mesmo em emissoras populares e acho que mediante chances para vir a se tornar um sucesso nessa camada da população.
Entretanto, apesar
do Marco Carvalhanas falar com o rapaz da rádio, constantemente, e eu mesmo
ter falado algumas vezes, os tais shows de permuta nunca ocorreram. Se
por um lado fora um alívio não participar de eventos tão fora do nosso
espectro artístico, por outro, nunca ficamos a saber qual teria sido a real
receptividade de uma música como, "Nossos Dias", perante a avaliação de uma camada de ouvintes tão popular.
Poderia ter sido um balão de ensaio e tanto para aferirmos algo que se mostrava
incompreensível para nós, normalmente.
Um flagrante lateral da banda no palco. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Outro evento ocorrido em 2008 e também a envolver emissoras de rádio, veio da parte do nosso amigo, Osmar "Osmi" Santos Junior e coincidentemente, um dos autores da canção que eu mencionei acima.
Muito experiente no meio radiofônico, "Osmi" tentou nos ajudar mais uma vez, a intermediar um contato na rádio Eldorado FM, aí sim, uma emissora com muito respeito no mundo radiofônico paulistano e brasileiro.
Enviamos o nosso material para tal emissora, ao selecionarmos músicas como: "Nossos Dias", "Meu Mundo é Seu" e "Projeções", mas na ótica de seus mandatários, tais canções seriam "pesadas" para os padrões deles e pior ainda, consideradas como "juvenis".
Tais avaliadores mandaram nos dizer que o espectro da emissora se pautava pelo padrão: "adulto". Foi rir para não chorar, pois na idade que nós tínhamos, ao ouvirmos uma asneira tão despropositada dessas, realmente gerou estupefação, como se o nosso som fosse um Pop-Rock adolescente.
No entanto, o "Osmi", por ser um profundo conhecedor dos bastidores do mundo do Rádio, nos explicou que não convinha nos ofendermos, pois tal prerrogativa era tratada como algo normal na visão deles, radialistas.
sob tal ótica, eles tendiam a considerar qualquer canção que soasse, minimamente
"pesada" como "Rock", e mediante tal rótulo, estigmatizavam o artista em
questão, com o seu trabalho a ser dirigido exclusivamente para adolescentes e crianças. Ou seja, se tratara de uma
classificação tão imbecilizante e obtusa, que chegava a ser risível.
Ivan Scartezini em destaque! Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Ao tentar nos ajudar e não nos deixar esmorecer em relação a tentarmos uma adequação para podermos tocar a nossa música em rádios de porte, (e ainda não contaminadas inteiramente com a vergonha do "jabá"), "Osmi" nos contou que um expediente usado por artistas contratados de gravadoras majors, seria no intuito de suprimir guitarras em versões especialmente concebidas para serem tocadas nas emissoras de rádio, e assim a se driblar o paradigma imbecilizante de que no espectro radiofônico não se pode tocar música mais pesada.
Segundo nos contou, muitos artistas usavam tal expediente e assim asseguravam execução a maciça nas emissoras, ao fazer a sua popularidade aumentar.
Na sua
opinião, tal barreira paradigmática era uma imbecilidade tremenda e ele mesmo, por ser um Rocker inveterado, odiava essa "Lei" velada que existia dentro das emissoras,
com exceção das rádios Rock, logicamente e neste caso, consideradas no meio como emissoras a atenderem o público infantojuvenil.
Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
A sua explicação para o caso, foi claríssima e nos chocou pela sua simplicidade prosaica: tudo começou quando algum idiota que militara em uma emissora de rádio, décadas atrás, devia odiar o Rock e passou a boicotar bandas que apresentavam um padrão sonoro no tocante ao peso, acima do que o seu gosto pessoal permitia.
Nessa
predisposição, ele rejeitava músicas nesse parâmetro e tal prática se espalhara em
outras emissoras. Em suma, se tratou de um paradigma imbecil e que ninguém sabia
exatamente de onde veio e qual a razão da rejeição, mas tradição criada,
todo mundo se sentiu obrigado a perpetuar essa estupidez e tal regra velada está aí em voga, até os dias
atuais.
Xando Zupo em destaque, com, a minha presença (Luiz Domingues) e Ivan Scatezini ao fundo. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Com a sugestão lançada e ao se levar em conta que o Xando possuía o estúdio Overdrive à disposição, seria uma questão de poucas horas para se reabrir o "track" bruto da música, "Sou Mais Feliz", suprimir a guitarra e acrescentar um violão "batido", sem muitos desenhos rítmicos, abaixar teclados e o baixo um pouco mais, e por fim, remixar uma nova versão mais "light" da canção.
Apesar de estarmos a lançar um disco novo e termos três músicas com potencial Pop excepcional, como eu já citei acima, o "Osmi" insistiu nessa estratégia para trabalharmos a música: "Sou Mais Feliz", porque ela era bem tocada na sua emissora, a Brasil 2000 FM, até aqueles dias de 2008, e portanto, seria mais fácil obter um efeito "cascata" se entrasse também na programação da Eldorado FM, segundo a sua avaliação como estrategista radiofônico.
Segundo ele, quando uma cascata se formava no mundo das emissoras de rádio, tal
precipitação tendia a obrigar outras emissoras a viralizar a música,
mesmo não se não houvesse a maldita cobrança do jabá, portanto, seria uma chance.
Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Perdeu-se tempo nessa operação, mas claro que valeria a pena a tentativa e assim que uma nova versão de: "Sou Mais Feliz" ficou pronta, o "Osmi" a pôs para tocar na Brasil 2000 FM, já na estratégia de aguardar que a Eldorado aderisse, e assim a tal cascata radiofônica teria tudo para prosperar.
No entanto, esta versão ultra light de "Sou Mais Feliz" foi rejeitada igualmente na Eldorado FM e o programador mais uma vez insistiu na tese de que o Pedra não fazia uma música "adulta" e que buscasse execução em rádios "jovens".
Dessa maneira, sem rancor algum com a Rádio Eldorado FM e a sua equipe, a minha conjectura neste instante é a seguinte: se uma canção como "Sou mais Feliz", na sua versão normal do disco, já se mostrava plenamente adequada para tocar, na minha opinião como músico, imagine então essa versão que seria aprovada até pelos monges do Tibet, em seus momentos de meditação, mais ainda!
Então foi isso, quem sabe um dia o Xando lance essa curiosa versão ainda mais amena de "Sou
Mais Feliz" como uma peça insólita da discografia não oficial da banda e seria bem interessante
por esse aspecto.
Uma panorâmica da banda no palco. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Outro fato novo que aconteceu nesses meses finais de 2008, se deu também no campo do jornalismo. Um jornalista de primeira linha, crítico musical de uma revista com circulação nacional e ouso dizer, a maior do país na ocasião, nos abordou, via e-mail.
Ele disse que havia achado o nosso trabalho interessante, ao nos pesquisar pela Internet e gostaria de obter os nossos discos para uma análise mais aprofundada. Particularmente, achei inacreditável que um jornalista do mundo mainstream nos abordasse espontaneamente e dessa forma simpática, solícita.
Desde os anos
oitenta, eu me acostumara a ser hostilizado nesse mundo da superfície da mídia
mainstream e o que eu sempre esperava desse tipo de jornalista da camada
superior, seria o desdém ou algo ainda pior.
Eu, Luiz Domigues, em destaque. Pedra ao vivo no lançamento do álbum Pedra II no CCSP de São Paulo, em 18 de julho de 2008. Click: Grace Lagôa
Mas esse rapaz, se mostrara alheio a essa cartilha predisposição hostil, portanto estava a ser sincero, o que foi extraordinário, não só para o trabalho do Pedra, mas ao enxergar muito além, eu diria que foi um fato inédito para a minha carreira toda, até aquele ponto.
Ao longo de toda a minha trajetória, e o leitor atento há por se recordar dos capítulos anteriores sobre bandas pregressas que tive, eis que eu citei muitos nomes de jornalistas que considero verdadeiras feras desse ofício, com o poder da caneta forte e a manter um caráter ilibado, porém em sua maioria a atuarem em órgãos pequenos e médios do jornalismo cultural.
Sendo
assim, creio que tirante a minha estada na formação do Língua de Trapo, que foi uma
banda bem relacionada nas esferas maiores do jornalismo, um crítico
musical alojado em um patamar superior, a atuar em um órgão de primeira grandeza e que abordasse
com simpatia sincera um trabalho meu, foi algo inédito na minha carreira
e naquela altura já a ostentar mais de trinta e dois anos sob labuta.
Xando Zupo em algum momento de 2007. Click: Grace Lagôa
Respondemos o e-mail do jornalista em questão e entregamos os discos no endereço residencial desse profissional e dias depois, ele respondeu que havia gostado muito do som, mas não muito das letras.
O Xando, que tinha verdadeira obsessão por tal quesito em si, ficou chateado e estupefato, pois em sua ótica, as letras haveriam de ser um dos grandes trunfos da nossa banda.
Eu também achava (acho) isso também, ainda que com maior cautela. Dias depois, em outra conversa por e-mail, tal jornalista estreitou relações conosco e quis nos conhecer pessoalmente.
Após ser quebrado esse gelo inicial no qual o tratávamos com um cuidado especial, devido à sua posição dentro de um órgão de imprensa gigante no mercado, eis que nos tornamos amigos e... maravilha, o rapaz era (é) gentil ao extremo.
Ex-aluno de jornalismo da... claro... Cásper Líbero, a faculdade de jornalismo que caminhou em paralelo à minha carreira musical desde os primórdios do Língua de Trapo e lá estive eu novamente a estreitar amizade com outro jornalista, "casperiano!"
Pedra ao vivo no Avenida bar de São Paulo em agosto de 2007. Click: Grace Lagôa
Inconformado pelo fato de uma banda como a nossa ser ignorada no mundo mainstream, ele afirmou certas considerações que foram incisivas na minha percepção, porém de uma forma positiva, eu diria, pois as suas afirmações sobre a falta de oportunidades e reconhecimento para trabalhos como o do Pedra, também poderiam serem atribuídas para os trabalhos anteriores que eu fiz, notadamente com A Chave do Sol e a Patrulha do Espaço, portanto, ao ouvir isso vindo da parte de um jornalista mainstream, foi um bálsamo para a minha alma.
A sua
afeição pela banda foi total, mas daí a abrir o seu computador e escrever
resenhas para os nossos discos, houve uma dificuldade gerencial.
Eu, Luiz Domingues, a atuar com o Pera no Blackmore Rock Bar de São Paulo em junho de 2006. Click: Grace Lagôa
Claro que ele teria que respeitar a hierarquia de sua redação e não dependera apenas da sua vontade pessoal, contudo, ficara óbvio que esse jornalista enxergara estofo artístico em nós e se dependesse dele, na primeira oportunidade, dar-nos-ia uma ajuda.
E só para
constar: depois que nos tornamos amigos e tivemos uma maior liberdade, o Xando lhe perguntou sobre ele não ter apreciado as nossas letras na primeira avaliação que
fizera e ele retrucou que confundira com outra banda, e isso seria algo normal
por se considerar que ouvia materiais o dia inteiro e escrevia
diversas resenhas. O seu nome era (é): Sérgio Martins, e ele era o crítico musical da revista: "Veja".
Ao fazer um balanço final sobre o
ano de 2008, este ano começara marcado pelo acúmulo de frustradas tentativas
para recuperamos o embalo de 2006, perdido ao longo de um 2007, ou seja, foi um período muito
difícil para a banda.
A estratégia proposta pelo Rodrigo Hid, a buscarmos espaço no mundo dos festivais independentes, foi muito válida e só no decorrer do tempo nós fomos perceber que esse mundo era corroído.
Entretanto, tudo bem, embarcamos na máxima que diz: "viver e aprender" e assim fizemos dois shows em tais festivais, para se abrir a porta para um terceiro, graças a esse esforço dele, Rodrigo.
Tivemos um momento sob intensa motivação quando fomos surpreendidos pela viralização do vídeoclip da música: "Longe do Chão" e nos pareceu que retomaríamos o embalo de 2006 e o superaríamos até, mas tudo redundou em pó, da noite para o dia e por conta de uma mal-entendido tremendo.
O nosso
maior orgulho em 2008, foi o lançamento do álbum "Pedra II", o segundo
trabalho oficial da banda, pleno em atrativos musicais e visuais.
Vídeo promocional do CD Pedra II, produzido em 2008
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=r3782u2SXzk
Emendamos uma sequência com shows interessantes, inclusive fora de São Paulo. Outra grande surpresa foi ganhar o apoio sincero de um jornalista mainstream, do porte de Sérgio Martins. Bem, e após o show de lançamento, caímos de novo em um momento sob ostracismo...
O ano de 2008, terminou com o Xando muito incomodado com esses altos e baixos na trajetória da banda e a obter uma ideia para ver se o panorama de 2009, mudaria.
E tal ideia só ganhou corpo mesmo, quando um fato novo apareceu e nos animou mais uma vez.
Sérgio Martins, esse grande jornalista musical do mundo mainstream, nos ligou e disse estar com uma pauta já em andamento, para a sua revista mega famosa com circulação nacional, a "Veja". Ele queria acompanhar os bastidores das respectivas turnês de alguns artistas.
Para cumprir essa missão, ele viajaria com artistas do patamar mainstream, em meio às suas turnês milionárias e recheadas por mordomias e conforto, viajaria com um artista médio, em condições boas, mas bem abaixo do luxo das mega estrelas, e por fim, enfrentaria a dura realidade de um artista do underground, a viajar e a ver tal artista atuar com parcos recursos.
Estivemos
convidados, portanto, a termos um jornalista de primeira linha, e devidamente acompanhado de um repórter
fotográfico dessa grande revista, a viajarem conosco e a cobrirem por vinte e quatro horas por
dia, as nossas dificuldades e virtudes, os nossos esforços para vencer
adversidades e também a conferirem a determinação que teríamos para levarmos a nossa música aonde
quer que fosse, a angariar público e sobretudo, a simpatia das pessoas.
Xando Zupo em ação com o Pedra no CCSP de São Paulo em julho de 2006. Click: Grace Lagôa
Só houve um detalhe a depor contra tal oportunidade oferecida pelo jornalista, de nossa parte: o Pedra foi uma banda sem agenda, com uma dificuldade gerencial terrível nesse sentido, e não havia perspectiva alguma para shows, nem mesmo para São Paulo, nessa ocasião em que recebemos tal convite.
No entanto, esse
jornalista fora taxativo: o seu editor queria que ele viajasse para
cobrir turnês e para figurarmos nessa reportagem, no mínimo deveríamos
apresentar duas datas em cidades interioranas para chamar tal agendamento precário como uma turnê
e assim justificar a nossa participação na reportagem.
Eu, Luiz Domingues, a atuar com o Pedra no Café Aurora de São Paulo em 2006. Click: Grace Lagôa
Seria possível dispensar tal chance para ser retratado em uma mega reportagem recheada com fotos, na Revista "Veja?"
Portanto, o Xando elucubrou uma ideia alternativa e assim se materializaram dois shows no interior de São Paulo para janeiro de 2009, a garantir dessa forma ao jornalista, Sérgio Martins, que estaríamos prontos e ele poderia fechar conosco para essa etapa de sua reportagem de campo.
Foi assim, 2009, tal oportunidade teria tudo para nos garantir uma guinada, portanto e assim nos animamos mais uma vez para enfrentarmos tal desafio.
O Pedra a posar no palco do Teatro X de São Paulo, em março de 2008. Click: Grace Lagôa
Continua...
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