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domingo, 31 de janeiro de 2016

Pedra - Capítulo 14 - Uma Volta Estranha - Por Luiz Domingues

Eu, Luiz Domingues, a tocar com Os Kurandeiros, em show realizado em 2012. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap    

A vida havia seguido o seu curso, após o final declarado do Pedra, no início de 2011. Logo nos primeiros meses após a dissolução dessa banda, eu recebi vários convites para fazer parte de novos trabalhos musicais e um novo campo de atividade se abriu quando um Blog me convidou para escrever matérias periodicamente, a formalizar dessa maneira, que eu me tornasse o seu colunista fixo, doravante. 

Eu sempre gostei muito de escrever, mas por anos obscureci tal tendência e nesse instante, com quase cinquenta e um anos de idade, uma porta se abrira e eu finalmente assumi o que imaginei que seria, desde os meus oito anos de idade, mas que a música tratara por desviar do meu caminho, durante a minha adolescência. 

Sim, eu era um escritor, também, e a partir de 2011, antes tarde do que nunca, dei vazão a esse aspecto da minha criação. Daí vieram outros convites da parte de outros Blogs, a motivar a criação de meus Blogs próprios em paralelo e participação em revistas impressas, em paralelo.

Luiz Domingues a tocar com Kim Kehl & Os Kurandeiros em 2011, no Espaço Cultural Gambalaia, de Santo André-SP. Click, acervo e cortesia: Natália Eidt

Comecei a escrever esta autobiografia a partir de junho de 2011, sob uma outra ação da qual eu fora cobrado a empreender por amigos e fãs dos trabalhos realizados anteriormente, e diga-se de passagem, há muitos anos. 
Essa parte, a explicar como foi o período do hiato entre o fim do Pedra e o início da minha participação com a banda: "Kim Kehl & Os Kurandeiros", está contada mais detalhadamente nos capítulos iniciais desse grupo citado, pelo qual eu me tornei componente oficialmente, em agosto de 2011.  
Para resumir aqui, quando o mês de maio de 2012, chegou, eu estava oficialmente a trabalhar em duas bandas: Kim Kehl & Os Kurandeiros e a acumular o "Nudes" (Nu Descendo a Escada), banda de apoio do compositor/ cantor e escritor, Ciro Pessoa. 
Além de estar entretido como colaborador em mais de seis Blogs, uma revista e com dois Blogs próprios, aliás, a todo vapor, eu estava entretido também com a longa redação desta minha autobiografia, que então dava os seus passos iniciais no sentido da sua longa construção narrativa. 
Eu (Luiz Domingues) & Xando Zupo, no camarim da casa de espetáculos, Avenida Bar, de São Paulo, em agosto de 2007. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Foi quando eu recebi um E-mail da parte do Xando Zupo, em maio de 2012 e com direcionamento coletivo para Rodrigo Hid e Ivan Scartezini, com o intuito de se convocar uma reunião dos ex-componentes do Pedra para ser realizada em um dia útil, no período da tarde. 
Sem entrar em detalhes, o e-mail esclarecera se tratar de uma reunião para comunicar um fato a envolver o Pedra, e na hora que eu li, já imaginei que tratar-se-ia do compromisso pendente que deixáramos, em relação a um show compartilhado (na verdade, um micro festival), com apoio da Lei Rouanet e que finalmente tivera a sua confirmação, assim eu deduzira. 
Portanto, tal reunião provavelmente visaria entrar nesse mérito e motivar assim que nós tomássemos providências, ao nos mobilizarmos para tal. Não havia por que se imaginar uma outra hipótese. 
Pedra em ação na casa de espetáculos Avenida Bar em agosto de 2007. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Quando eu cheguei ao estúdio Overdrive, após a confraternização com os ex-colegas e dez minutos de conversa sobre as reminiscências do nosso passado em comum, o Xando Zupo tomou a palavra e falou que nós já havíamos tido a experiência de estarmos dentro da formação do Pedra, e nesse então novo momento, a de não estarmos mais. 
Dessa forma, mediante a aferição dessa balança que tivéramos com as duas faces dessa realidade a serem sentidas, ele chegara à conclusão que seria melhor estar dentro e baseado nessa expectativa pessoal sua, eis que ele desejou saber a posição de cada um a respeito, pois gostaria de reativar a banda, principalmente para finalizar o disco engavetado com o fim das atividades em 2011. 
Rodrigo Hid e Ivan Scartezini se mostraram bem propensos a aceitar tal ideia e mais uma vez, assim como já ocorrera por ocasião da decisão que fora tomada pelos três, em 2011, desta feita para encerrar a carreira banda, a minha impressão ali foi que eles já estavam acertados entre si sobre a "volta" e eu fora o último a saber. 
Eu, Luiz Domingues, no estúdio da emissora Brasil 2000 FM, em 2006. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
O Xando brincou, ao se recordar que eu fora de fato o único contra o final do trabalho em 2011, e agora, praticamente o que sinalizaram desejarem fazer, se mostrou como uma confirmação do que eu pregara naquela época, ou seja, nunca houve necessidade alguma de se anunciar publicamente o final da banda e assim, um período de férias, acordadas entre nós, secretamente, não teria criado nenhum mal-estar para o trabalho e tampouco para os fãs, naquela ocasião. 
Ter parado por um tempo, a denotar um período sabático, não teria sido muito diferente do que vivíamos normalmente, ao estarmos a viver aquela realidade que ostentávamos, com profunda escassez de oportunidades para realizarmos shows ao vivo, portanto, a opinião pública mal notaria a diferença entre estarmos no limbo por opção própria ou por falta de chances. 
Eu, Luiz Domingues, em ação com o Pedra no Sesc Vila Mariana, em maio de 2010. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
O tempo provou, portanto, que a minha concepção na época do final em 2011, não fora errônea. Não quero, no entanto, me arvorar como o “dono da verdade”, tampouco tripudiar dos colegas, mas entre um leque de atitudes que a banda poderia ter tomado naquela altura, creio que anunciar um final oficial, só nos trouxe prejuízo sob o ponto de vista artístico. 
Ao ponderar sobre tal colocação, em primeiro lugar, a ideia da "volta" não passara pela minha concepção. Eu não quis acabar em 2011 e fiquei chateado, conforme já descrevi no capítulo anterior, mas absorvi rapidamente a contrariedade. 
Nesses termos, a vida tratou por me abrir novas possibilidades e eu estava feliz com as novas possibilidades que haviam sido oferecidas, e eu entrado. Portanto, quando ouvi o Xando a propor e com a total concordância dos demais, tal proposta não me soou tão espetacular quanto deve ter sido para a percepção dos meus colegas.
Pedra em show no Teatro X de São Paulo, em 2008. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Não que eu não nutrisse apreço e consideração pela história construída dentro do Pedra, tampouco a sinalizar desprezo pela amizade e convívio com os companheiros. Ao contrário, o trabalho tem um quilate artístico indiscutível e do qual muito me orgulho. 
No entanto, o meu sentimento em maio de 2012, não haveria por me provocar uma euforia desmesurada pela possibilidade da banda voltar, por que eu estava a gostar de trabalhar com outras bandas, além de minhas atividades literárias. 
Dessa forma, a minha primeira reação, foi com estupefação, em contraste com a expressão luzidia com a qual eles trataram a hipótese. 
Eu, Luiz Domingues, com o Pedra em 2006, ao vivo no Café Aurora, de São Paulo. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Imaginara eu que a reunião fosse para tratar de um show pendente, e no entanto, eles queriam falar sobre uma retomada do trabalho. Então, se houve algo de positivo na minha percepção, ali naquele momento, foi a perspectiva para retomar o disco inacabado e ao lançá-lo, eliminar uma pendência que eu considerara desagradável pelo desfecho em que se desenvolvera, graças ao final abrupto da banda, em 2011. 
Isso foi falado pelos três colegas, naturalmente. Retomar a produção do disco engavetado pela metade, seria a meta número um e por esse aspecto, achei justo fazer parte desse esforço, mas daí a considerar uma volta oficial, não foi uma ideia que me agradou inteiramente. 
Ao ir além, o Xando Zupo afirmou que nós não repetiríamos os erros do passado e nesse novo instante, com o astral devidamente renovado, não haveria pressão por resultados, portanto, eliminar-se-ia o aspecto que mais contaminara a nossa relação entre 2004 e 2011, ou seja, certamente que fora a escassez de oportunidades, a gerar uma agenda pífia e que, por conseguinte, criou um clima ruim, marcado pelo desgaste psicológico e expresso em rusgas, através das inevitáveis sessões de "DR".  
Ao viver uma nova fase de sua vida, Xando Zupo havia parado de fumar, ao demonstrar estar a cuidar muito melhor de sua saúde e isso foi ótimo, pois estava a lhe fazer muito bem e claro que eu o apoiei e apreciei muito a sua iniciativa, ao saber disso. 
Foto promocional do Pedra nas dependências do estúdio Overdrive, em São Paulo, por volta de 2008. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Portanto, eu não teria por que não acreditar que a ansiedade que a inerente à sua personalidade forte gerara anteriormente, estivesse muito apaziguada e nesses termos, o Pedra poderia trabalhar na conclusão desse disco pendente com tranquilidade, sem pressões e a reviver assim, os bons tempos iniciais da banda, entre 2004 e 2006, quando a convivência interna foi serena, sem tensões. 
Mesmo assim, eu não estava mais com aquela vibração de outrora e dividido, nutri sérias dúvidas sobre essa "volta" dar certo, mesmo que aparentemente fosse forjada apenas pelo objetivo para concluir o terceiro álbum inacabado. 
Eu, Luiz Domingues, em ação com o Pedra, no Teatro Olido de São Paulo, em 2009. Click, acervo e cortesia de Fabiano Cruz

A minha estupefação inicial e ceticismo, contrastara com a alegria dos três em voltarem com a banda, e repetiu, portanto, o padrão da época do final da banda em 2011, apenas ao inverter as expectativas, mas novamente a realçar o fato de eu me sentir isolado em minha linha de pensamento, a perder sempre em votações para a tomada de resoluções, sob um placar de três a um para os amigos. Não por maldade da parte deles, deixo isso claro, mas a revelar uma diferença de mentalidade, certamente.
A formação clássica do Pedra a posar no andar do camarim do Sesc Vila Mariana, de São Paulo, em 2010. Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Xando Zupo, Ivan Scartezini e Rodrigo Hid. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Diante desse turbilhão, caberia de novo o Pedra na minha vida? Por respeito à obra e aos companheiros, aceitei o convite para fazer parte dessa volta das atividades, mas nitidamente não foi com a mesma expectativa de outrora em minha percepção, portanto, ao contrário da excitação dos companheiros, eu não tive o mesmo efeito de alegria que eles estavam a experimentar por tal resolução de retomada do trabalho.
Foto realizada no dia dessa reunião de proposta de volta do Pedra, ao visar finalizar o álbum interrompido de 2011. Em pé: Ivan Scartezini e Xando Zupo. Sentados: eu (Luiz Domingues) e Rodrigo Hid. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Quando a foto tirada no dia da reunião, foi publicada na rede social Facebook, naturalmente que suscitou muitas especulações. O Xando, que sempre adotou a postura mercadológica de estabelecer anúncios prévios ao público em nome da banda, esboçou intenção de usar a foto como motivo para tal, mas desta vez eu lhe pedi para não se precipitar, e assim, que não escrevesse nada. 
Daí ele apenas a postou, ao se posicionar de forma fortuita, a dar conta que nos encontráramos naquele dia para tomar um café, por conta de uma reunião de ex-colegas, meramente com intenção fraternal. 
Menos mal dessa forma, sem abordar a possibilidade de uma "volta", "gravação do disco a ser retomada" ou qualquer outra ação dessa monta. Todavia, como eu já alertei, a especulação foi grande (aliás, que bom, a provar que a nossa banda gerava tal expectativa), e dessa forma, muitos comentários postados deram conta da criação de um rumor. 
Pelo inbox do Facebook, muita gente me procurou para perguntar sobre tal possibilidade, inclusive jornalistas, mas eu não confirmei nada, apenas disse que talvez houvesse uma chance, mas que aquela reunião fora motivada para um café em meio a uma conversa entre colegas de uma banda extinta. 
Eu (Luiz Domingues) no dia do último show do Pedra em 2011, realizado no Melograno Bar, de São Paulo. Click, acervo e cortesia: Sandra Lozada
Um outro aspecto, ainda a falar sobre a reunião, eu tive que deixar bem claro aos colegas que aceitara fazer parte desse projeto, mas que não sairia de forma alguma das demais bandas onde estava a atuar. Não haveria nenhum cabimento para deixar a formação d'Os Kurandeiros, e o "Nudes" de Ciro Pessoa, supostamente pelo fato do Pedra estar de volta à cena, e nessa altura dos acontecimentos, com quase cinquenta e dois anos de idade e trinta e seis de carreira, a minha concepção romântica a respeito da fidelidade a uma só banda, fator que carreguei a vida toda com rigidez ferrenha, já não existia mais. Adaptado à realidade moderna e graças aos próprios, Kurandeiros, que se desdobravam no "Nudes", também, praticamente eu já não raciocinava nesse parâmetro ético antigo, nessa altura. 
Feitas tais considerações, os primeiros passos dessa volta das atividades do Pedra foram marcados pela análise do material que tínhamos a ser resgatado para a possível finalização do disco interrompido. 
E nesse caso, o Xando Zupo sinalizou que poderia aproveitar músicas que havia composto e gravado durante o hiato motivado pelo pós-fim do Pedra em 2011. 
De fato, nesse ínterim, ele havia criado um combo chamado: "Mulad Trem", com a presença do Ivan Scartezini, além de Marcião Gonçalves no baixo e o extraordinário, Diogo Oliveira na outra guitarra, além de dois músicos que eu também conhecia e havia interagido nos tempos iniciais de minha entrada n'Os Kurandeiros: a cantora Renata "Tata" Martinelli, e o saxofonista, André Knobl. Ambos eram (são) músicos super talentosos, com os quais eu interagi muito, em vários shows d'Os Kurandeiros em que participei, entre 2011 e o início de 2012.  
"I Was a Telling Lie", de James Taylor, na interpretação do Mulad Trem. Ensaio gravado no estúdio Overdrive, em 2012. 
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=aV6jeCO5flQ

Tal banda gravou algumas músicas e chegou a lançar um material bom para a internet, filmado ao vivo e com ótima qualidade no tocante ao áudio e imagem, a se mesclar com algumas releituras, inclusive da música internacional. Pelo que eu observei, me pareceu que os seus componentes aspiravam buscar mercado para tocar na noite paulistana, a arregimentar um repertório inspirado no Soft-Rock setentista e com qualidade, via James Taylor, Carly Simon & afins. 
Bem, desse trabalho, o Xando Zupo cogitou resgatar algum material que se encaixasse para o novo trabalho do Pedra. Rodrigo também tinha consigo algumas canções novas compostas e dessa maneira a banda haveria de arregimentar uma nova safra de músicas para dar início aos esforços. 
Assim, entre junho e outubro, passamos a resgatar a rotina dos anos anteriores, com o ensaio semanal às segundas, um dia estratégico para uma banda cujos membros tocavam em outras bandas e geralmente mantinham as quintas, sextas, e sábados, comprometidas com apresentações pela noite e a novidade de 2012, foi que nesse instante, eu também passei a fazer parte desse rol. 
Como primeira ação concreta a anunciar uma volta das atividades do Pedra, o Xando colocou-se no estúdio e resgatou o especial ao vivo que graváramos ao final de 2010. 
Foi uma boa ideia, pois essa gravação ficara interessante na época, tecnicamente a relembrar, e com o fim das atividades da banda, um mês depois dessa gravação, ficara engavetado desde então. 
Para aproveitar o embalo, Xando refez o contato com o amigo, Osmar "Osmi", e articulou o lançamento oficial desse material na Rádio Brasil 2000 FM, e claro, ao demarcar publicamente nesse instante, a volta da banda ao cenário artístico. Isso ocorreu em 3 de julho de 2012 e eis abaixo o vídeo desse especial:
O especial ao vivo, "Overdrive Sessions". Gravado em dezembro de 2010, no Overdrive Studio. Gravação e Mixagem: Xando Zupo & Renato Carneiro. Lançado em julho de 2012. 
 
Eis o Link para assistir e ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=QFoGy5qZQMU 
 
Eis o Link para assistir e ouvir no Vimeo:
https://vimeo.com/73821006

Outra novidade, o bom jornalista, Dum de Lucca, que escrevera em vários veículos mainstream anteriormente, e há anos mantinha o seu Blog (super acessado, por sinal), dentro do portal da Revista Dynamite, se mostrava um entusiasta da nossa banda, declaradamente. E assim que percebeu que estávamos a anunciar uma retomada dos trabalhos, se apressou e realizou uma entrevista, conosco.

Eis o link para ler tal entrevista na íntegra:
http://dynamite.com.br/jukebox/2012/07/o-pedra-continua-rolando/

Mas a contrariar a conversa inicial ocorrida em maio, quando se falou que a banda observaria uma postura "amena" nessa volta, quando a realidade se mostrou apenas com ensaios e a contar com poucas novidades positivas em termos de divulgação, o velho fantasma da escassez de perspectivas x irritação interna, começou a nos sondar.
 
Infelizmente, quando a reunião de maio se realizara e se afirmara que "daqui para frente, tudo vai ser diferente", tal afirmação não havia me convencido inteiramente. As pessoas não mudam assim tão radical e rapidamente, portanto, internamente eu sabia que se as oportunidades surgissem, esse novo "Pedra Peace & Love" poderia levar a carreira assim em ritmo de baixa expectativa, mas em caso contrário, as velhas tensões voltariam, fomentadas pela ansiedade e certamente intensificadas se a agenda construída fosse pífia.
 
Portanto, por volta de setembro/outubro de 2012, uma sinalização começou nesse sentido e a áspera tensão ocorrida em 2007 & 2010, pareceu estar a voltar, como um velho fantasma a nos assombrar. 
 
No entanto, eis que o fator sorte um dia sorriu para nós! Ocorreu que um telefonema veio inesperadamente da parte de um produtor responsável por uma unidade do Sesc em São Paulo e motivado por um fato quase inacreditável, pareceu estar a sinalizar que os ventos dessa volta soprariam de outra forma, ao nosso favor e assim a afastar a tenebrosa tensão interna. 
Eu disse anteriormente que uma notícia de cunho inacreditável ocorrera lá pelo final de outubro, ao nos fornecer um alento. No entanto, o fator que pareceu aleatório sob uma primeira visão, teve na verdade, um fundo de lógica, é claro. 
 
O fato foi o seguinte: quando lançamos o CD Pedra II, nos idos de 2008, muitos materiais foram enviados para diversas unidades do Sesc, ao se visar buscar oportunidades para shows.
 
Em alguns casos, mais de um material chegara na mesma unidade do Sesc, isso por que muitas pessoas se prontificaram a nos ajudar desde então, ao gerar a repetição de abordagem. Contudo, as únicas respostas concretas que tivemos naquela fase inicial da banda, ocorreram em duas oportunidades, uma da parte do Sesc Piracicaba, no interior do estado e outra no Sesc Vila Mariana, na capital. 
 
E como eu já expliquei anteriormente, os produtores do Sesc, criaram um paradigma (há muitos anos, aliás), ao dar conta que todos os artistas que se apresentavam em suas unidades, necessariamente deveriam ser enquadrados em "projetos temáticos", e raramente o show ocorreria somente pela força do nome do artista, e/ou de sua obra.
 
Dentro dessa lógica, um projeto que foi criado no Sesc Consolação, ao estabelecer uma ligação entre a música e as histórias em quadrinhos, nos favoreceu quando algum produtor viu o nosso material de 2008, em uma possível pilha de outros tantos materiais e ali prevaleceu para lhe impressionar, o formato "HQ" que o Diogo Oliveira criara para a capa desse disco. 
 
Em suma, foi inacreditável que um material de 2008, tivesse ficado esquecido na mesa dos produtores dessa unidade e agora a sua cúpula nos ligasse, a coincidir com o fato da banda estar de novo na ativa, portanto ao ignorar completamente o fato de que ela acabara em 2011 e ficara mais de um ano inativa.
Foi um sinal? Bem, misticismo a parte, o contato da produção do Sesc Consolação chegou em ótima hora, quando a tensão começava a se instaurar nos bastidores da banda e assim abriu caminho para uma sucessão de outras boas novas que fizeram com que o final de 2012 e início de 2013, fosse animador para nós.
 
Fechada a negociação do show, além de ensaiar para uma apresentação, após tanto tempo, a única preocupação foi a de produzir um audiovisual com o tema da HQ para justificar a inclusão da nossa banda, no projeto temático proposto. 
Tal incumbência foi facilmente providenciada pelo grande, Diogo Oliveira, que produziu um “promo” a ser exibido durante o show, com imagens geradas a partir das próprias ilustrações que criou para a capa do CD, Pedra II.
 
Foi um verdadeiro golpe de Jefferson Messias, ou seja, um improviso meramente criado para cumprir uma obrigação burocrática, e mais uma vez a provar que os tais "projetos" que os produtores do Sesc tanto gostavam de inventar, sempre representaram uma pura balela, pois na maior parte dos casos, a conexão entre artista e tema, não batia. Em suma: não é preciso criar subterfúgios para atrair público. 
 
Fechado e sacramentado, o show do Sesc Consolação esteve marcado para o dia 19 de novembro de 2012. 
 
Por uma questão de sorte e azar ao mesmo tempo, uma produtora de rádio que eu conhecera na Rede Social Facebook, chamada: Silvana Castro, havia se encantado com o trabalho do Pedra, que não conhecera anteriormente, mesmo ao ser experiente no meio radiofônico, ao haver trabalhado em emissoras como a 97 FM (fora produtora do locutor, "Jota Erre", uma figura mítica ali para aquela emissora, e este que também trabalhara na 89 FM), e igualmente na rádio Brasil 2000 FM). 
 
Silvana nos abordou através da rede social Facebook e perguntou se nós aceitaríamos conceder uma entrevista para a Rádio CBN. Ora, é claro que sim, e isso foi a parte da sorte em questão. O azar, foi que a entrevista só pode ser agendada para depois do show do Sesc Consolação, portanto, não deu para ser utilizada como ferramenta de divulgação do show em si, mas eu falo sobre esse pormenor, depois.
Acima, uma foto com a minha presença, de 1978, e abaixo, um cartaz outdoor a anunciar uma temporada de shows do Gilberto Gil, na velha unidade do Sesc Vila Nova/Teatro Pixinguinha

A unidade do Sesc Consolação, para quem não conhece a cidade de São Paulo, é uma das mais antigas dessa instituição e contém muita história. Tal sede da Rua Dr. Vila Nova, localizada no bairro da Vila Buarque, centro de São Paulo, protagonizara shows históricos em suas dependências (quando era chamada como: Sesc Anchieta/Teatro Pixinguinha), e acrescento que nos anos setenta, eu mesmo assistira ali, inúmeros deles, absolutamente incríveis. Ali assisti: Zé Ramalho, A Cor do Som, Caetano Veloso, Hermeto Paschoal, Alceu Valença, Bendengó, Papa Poluição, Made in Brazil, Jackson do Pandeiro, Moraes Moreira, Jorge Mautner e muitos outros, entre 1977 e 1979, além do Festival Universitário de MPB de 1979, promovido pela TV Cultura, que revelou Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque e outros artistas que explodiriam logo a seguir na cena da dita "Vanguarda Paulistana". 
 
Portanto, eu estava honrado por me apresentar em um espaço que detinha tanta história e que significara muito para a minha formação cultural, construída nos idos dos anos setenta, quando inebriado estive em construir uma carreira artística, para seguir os passos de todos esses artistas que eu admirava e ali os assisti ao vivo. Os tempos mudaram, os shows não ocorriam mais no antigo Teatro Pixinguinha, como naquela década, e nesse nova instante, o espaço reservado para tal finalidade musical se revelara quase intimista, em um anexo perto da antiga quadra de esportes (onde eu também assisti vários shows). 
 
Tivemos um problema sério para estacionar os nossos respectivos automóveis, pois os dirigentes não permitiram que usássemos o estacionamento da instituição. Com os nossos carros particulares abarrotados com equipamentos e poucas vagas disponíveis na rua, em pleno dia útil naquela região super povoada de São Paulo, foi um pequeno sufoco para descarregar o backline da banda e assegurar vagas a posteriori para os respectivos automóveis de nós quatro, componentes.
 
Após esse pequeno aborrecimento, nós conseguimos finalmente colocar os nossos materiais para dentro da unidade e ali, mediante a clássica burocracia da instituição, até se poder chegar ao palco, foi uma sucessão de barreiras mediante elevadores obstruídos, corredores e funcionários irredutíveis, sempre a criarem empecilhos para a circulação rápida que necessitávamos empreender. 
Bem, quando o backline finalmente chegou ao local do show, vimos que os técnicos do equipamento de PA estavam ali a esperar pela nossa montagem pessoal. Equipe terceirizada, esta fora formada por sujeitos com um padrão de postura alheia, quase a denotar falta de foco no trabalho. 
 
Não faço ideia por qual motivo, mas esses rapazes pareciam contrariados por alguma questão interna gerada entre a sua empresa e o Sesc e claro que não teve nada a ver conosco, mas o fato foi que tais profissionais mal respondiam as nossas perguntas básicas e assim, nos preocupamos com o desenrolar de um soundcheck tenso, e pior ainda, a caracterizar uma operação que deixaria a desejar, na hora do show. 
Rodrigo Hid & Xando Zupo em ação com o Pedra, no Sesc Consolação. Novembro de 2012. Click, acervo e cortesia: Fabiano Cruz
 
Porém, aos poucos, a tensão entre eles se dissipou e o Xando que se portava sempre de uma forma expansiva com estranhos, se pôs a minar a resistência soturna desses tipos, ao inseri-los em piadas e "causos", e com tal disposição, colocou o gelo a derreter, paulatinamente. 
 
Não ocorreu, no entanto, ao ponto desses rapazes virem a se tornarem nossos "amigos", doravante, no entanto, foi o suficiente para estabelecer um clima ameno, que garantiu um melhor andamento ao trabalho.
 
Mesmo assim, o soundcheck foi muito lento e cansativo, por que o técnico estava nitidamente perdido sobre quais medidas tomar para coibir algumas microfonias das mais desagradáveis. Mesmo com o Xando a possuir uma boa noção sobre o assunto e lhes fornecer dicas técnicas e básicas, o rapaz parecia nervoso e não encontrou solução para as situações mais complicadas e com um PA de pequeno porte que ali se encontrava, alguém mais experiente teria resolvido tal impasse, muito rapidamente.
 
Um funcionário dessa empresa terceirizada, nos confidenciou que o rapaz que operava o som, se tratava de um novato, na verdade ele era um auxiliar e que aspirava ser técnico, mas estava ainda a receber aulas como aprendiz. 
 
Por azar nosso, o técnico titular não iria trabalhar e o novato fora designado para operar a mesa de mixagem. A nossa sorte, foi que o nosso técnico, Renato Sprada, que não iria trabalhar conosco naquela noite, por um compromisso que detinha anteriormente firmado, apareceu repentinamente para assistir o show e mesmo em cima da hora, com o público já a adentrar no local da apresentação, tratou por fazer algumas correções básicas, para inibir apitos insuportáveis e que destruiriam o show, certamente por conta da inoperância do rapaz novato.
Eu, Luiz Domingues, em ação com o Pedra, no Sesc Consolação, de São Paulo, em novembro de 2012. Click, acervo e cortesia: Fabiano Cruz

Soundcheck cansativo ao extremo, quando fomos ao camarim, já faltava pouco para o início do espetáculo. Não deu para ter aquele relaxamento adequado para o período pré-show, mas tudo bem.
 
Quando entramos em cena e a primeira música do show foi "Megalópole", eu havia me programado para iniciar o show a usar o baixo Rickenbacker. O nosso roadie, Daniel "Kid", era muito experiente e trabalhava comigo e Rodrigo, desde a nossa passagem em conjunto pela Patrulha do Espaço. Em suma, ele sempre preparava os meus baixos e equipamento, desde 2002.
 
Contudo, assim que eu iniciei a tocar o riff em uníssono com as guitarras de Xando Zupo e Rodrigo Hid, notei que o meu instrumento estava parcialmente desafinado. O que aconteceu? Ele, Daniel o afinara momentos antes, o ar condicionado do teatro estava ameno e as tarraxas do meu instrumento estavam em perfeitas condições de normalidade, sem nenhuma avaria. Nunca descobri, mas é patente que algum sabotador foi lá e o desafinou de propósito. 

A questão foi: teria sido por puro vandalismo? "Trollagem?" Bem, rapidamente eu sinalizei para o Daniel me auxiliar, a providenciar a troca de instrumentos com a música em curso e no segundo módulo do tema, eu já estava de volta à performance com a banda, desta feita a usar o Fender Jazz Bass.
 
Mais para o meio do show, eu voltei a usar o Rickenbacker, novamente, e ele estava perfeito, portanto, o começo com duas cordas completamente desafinadas fora obra de uma sabotagem misteriosa, não tive dúvida. Só pode ter sido ser essa a explicação. Por quem? Para que? Enfim, eu nunca descobri a verdade.
Pedra em ação no Sesc Consolação, 19 de novembro de 2012. Primeira foto de Fabiano Cruz e as duas posteriores, de Grace Lagôa           

O show foi bastante emocionante pela carga de comoção que havia sido depositada em torno da expectativa do público ali presente. A lotação máxima fora diminuta naquele micro teatro de bolso, mas além de esgotada, muita gente ficou sem ingresso e de fato, quando anunciamos o show, houve uma reação de apoio e regozijo por parte de fãs que estavam contentes com a nossa volta à cena artística.
Um trecho muito curto, mas bastante significativo da música "Estrada", capturado pelo baixista superb, Norton Lagôa, que esteve presente na plateia. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=YvqOyJDRToY
"Filme de Terror" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=5pqZq4QAWhE

Muitos fãs antigos da banda estiveram presentes, em estado eufórico. Houve até um instante sob improviso e que foi muito bonito da parte do grande, Cezar de Mercês, nosso amigo e parceiro de composição, que ao aproveitar um hiato de silêncio durante o show, se levantou de seu assento e fez um discurso inflamado a enaltecer a nossa banda. Foi muito inspirador, emocionante e bonito para todos nós, isso eu asseguro.
"Longe do Chão" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Filmagem de Kico Stone. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=lhYyIUQxvUs
Aqui, a versão na íntegra de "Estrada". 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ivMlHWRgcLE 
"Sou mais Feliz" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=6qxfOwzMAXk
"Luz da Nova Canção" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=zim0mjtfEHE
"Só" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=TyJvBX-xzXE

As músicas foram executadas com bastante segurança, e a banda mostrou estar de volta à sua velha forma.
"Jefferson Messias" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=v4ErQdDf2ik 
"Projeções" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=S4v9VyJnq7g

Sobre o set list que ali executamos, este foi bem mesclado, com músicas oriundas dos dois discos anteriores, acrescido dos singles de 2010, e também por algumas novas peças que já estavam a se incorporarem, casos de: "Luz da Nova Canção" (curiosamente em parceria com o Cezar de Mercês, um grande artista que eu citei acima), e "Os Teus Olhos", uma delicada canção composta pelo Rodrigo.
 
Um amigo que eu conhecera, por ser apoiador d'Os Kurandeiros, chamado: Kico Stone, apareceu e por ser um film-maker de primeira linha (eu costumava brincar com ele, ao chamá-lo como: "D.A. Pennebaker do Rock Paulistano"), filmou o show e se tornou doravante um admirador do Pedra, também, sempre a filmar e postar trechos de nossos shows, no seu canal de YouTube.
"To Indo a Mil" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=xOIoMeKzCaw
"Nossos Dias" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=SZ1I7vF7e2k
"Letras Miúdas" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=h1mE2NWuf5E

Apesar de haver transcorrido em um pequeno espaço físico, esse show foi marcante para a banda e para o público que o assistiu. Isso forneceu uma injeção de ânimo para o grupo, sem dúvida e aliada a essa apresentação, outras boas novas se precipitaram em uma cascata, até o final do ano, ao nos dar um grande alívio, já que a velha tensão e o dilema clássico do Pedra, sobre tocar em qualquer lugar ou esperar para tocar em lugares com boas condições, apenas, esteve a nos ameaçar novamente! 
 
Todos os vídeos acima sugeridos, foram produzidos e editados por Michel Camporeze Téer e Fausto Oliveira (com exceção de vídeos de Kico Stone e Norton Lagôa, destacados no início), fãs e amigos abnegados da banda desde os primórdios do Pedra, por terem assistido quase todos os shows que fizéramos desde 2006, na primeira fase do trabalho. As câmeras da filmagem, foram feitas por eles, também e com apoio de Nazir Correa, Vera Mendes e Alessandra Oliveira. Sesc Consolação, 19 de novembro de 2011, segunda-feira e com sessenta pessoas na pequena arquibancada (lotação máxima, acreditem!), enfim, esse foi o show da "volta" do Pedra.

Leia também, uma resenha muito boa desse show, escrita pelo jornalista, Fabiano Cruz em seu Blog: Alquimia Rock Club. 

Eis o Link abaixo:
http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/3730/
No camarim do Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid, Xando Zupo e Ivan Scartezini. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa

No camarim, em meio ao momento do pós-show, a euforia foi geral entre os membros da banda e os fãs que nos abordaram. No entanto, particularmente, eu já não nutria o mesmo sentimento. Longe de minha intenção ser desagradável e cortar o prazer alheio, mas eu não consegui sentir o mesmo pela banda, ao me manter sob uma postura não tão esfuziante, porquanto muito mais comedida que a dos demais colegas. Um sintoma emblemático? Creio que sim, lamentavelmente...
Passado o bom show realizado no Sesc Consolação, nós tivemos, poucos dias depois, a oportunidade de uma entrevista em uma emissora de rádio centrada no jornalismo 24 horas por dia, mas com espaço para revistas culturais em sua programação.
 
Foi o caso do programa: "Sala de Música", no qual participamos na Rádio CBN de São Paulo, uma emissora pertencente à Rede Globo, portanto a operar em rede nacional. Fora um contato nos oferecido pela radialista, Silvana Castro, conforme eu já frisei anteriormente e que gentilmente trabalhou nos bastidores para nos garantir tal oportunidade para que pudéssemos divulgar o trabalho, sob um âmbito muito maior do que geralmente atingíamos, normalmente.
 
O apresentador desse programa, o radialista, João Carlos Santana, fez contato comigo via rede social Facebook e ali colheu informações prévias para preparar a sua pauta. Muito simpático na abordagem virtual, ele me deu a impressão de que a entrevista seria descontraída e positiva para nós. E o foi. 
 
Eu e Xando fomos ao estúdio da CBN, localizado no bairro de Santa Cecília, no centro de São Paulo e tal emissora usava as antigas instalações da Rádio Excelsior e também da Rádio Globo. Fomos muito bem recebidos pela equipe de produção da emissora e fizemos na verdade uma entrevista gravada, pois ela só iria ao ar, no sábado subsequente, com uma repetição no domingo, já no avançar da madrugada de segunda-feira. 
 
Mediante uma conversa muito boa, o radialista, João Carlos Santana foi muito simpático para conosco e assim foi possível darmos o recado, acredito, entretanto, na hora em que ouvimos o programa editado, tivemos uma pequena decepção, pois as músicas que tocaram, não foram executas na íntegra. 
 
Tudo bem, imagino que uma emissora desse porte, a operar em rede nacional e centrada no jornalismo, não poderia se dar ao luxo de executar muitas músicas, mesmo ao se tratar de uma revista cultural, mas daí a cortar quase pela metade, também... me faça o favor! 
 
Eis abaixo o vídeo dessa gravação da entrevista e que já se mostrara como uma tendência cada vez mais frequente no radialismo, o uso do recurso da internet e das redes sociais para fomentar a atração, e claro que isso foi bom para nós, igualmente.
Eis o Link da entrevista no programa "Sala de Música", na CBN, em novembro de 2012 (mais que foi ao ar no início de dezembro), para assistir no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=SSvYO4gYtc4

Outra boa novidade: o artista plástico, Diogo Oliveira, criara na mesma época, um clip institucional para divulgar a agência de publicidade onde trabalhava e neste caso, usou a nossa música, "Megalópole", como trilha sonora do material de divulgação. 
 
Absolutamente criativo, como é de seu feitio, neste vídeo o Diogo aparece a fazer uma pintura em uma parede, nas instalações da agência, a usar a nossa música, como “BG”. Incrível, como em tudo o que fazia normalmente, Diogo mais uma vez nos encaixara em uma ação artística, a nos dar força, pois o vídeo teve uma boa repercussão nas redes sociais.

Assista esse vídeo no Vimeo:
https://vimeo.com/user6199714 
O próximo passo para a banda, foi um show a ser cumprido dentro no projeto "Harmonizasom", no ambiente do Bar Melograno e com curadoria de meu velho amigo, Laert Sarrumor.
 
Foi muito curioso estar marcado para participar de mais uma edição do projeto "Harmonizasom", no Bar Melograno, por que cerca de um ano e meio antes, o Pedra houvera se apresentado no mesmo local e dentro do mesmo projeto, a encerrar a sua trajetória inicial de carreira e nesta nova investida, retornaria com carga total, aparentemente motivado por um bom astral.
 
Laert Sarrumor nos recebeu de uma forma radiante, pois ele sempre foi um entusiasta declarado da nossa banda, desde os seus primórdios e ficara nitidamente frustrado quando o Pedra fez o seu último show e justamente em meio a esse seu projeto, a anunciar o final de nossa trajetória. 
 
Dessa forma, quando ele soube através do Rodrigo, que a banda estava a voltar às suas atividades, ele nos encaixou novamente no projeto, cuja curadoria era sua e com parceria de sua esposa, Marcinha Oliveira, que era (é) a empresária do Língua de Trapo, a colocar assim o seu prestígio à nossa disposição. 
 
E dessa forma, obtivemos uma repercussão midiática muito interessante, ao considerar se tratar de uma apresentação intimista em um pequeno bar. 
Até uma nota na coluna da jornalista, Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, nós estivemos citados e convenhamos, ser mencionado ali por aquela badalada jornalista, não era nada fácil, primeiro por não se tratar de uma coluna eminentemente cultural, mas sim, híbrida entre esse campo e o espectro sociopolítico, portanto, tal jornalista costumava abordar mais eventos como vernissage, lançamento de livros e reuniões políticas, ao focar em socialites que prestigiavam tais eventos, centrados nas camadas mais elitistas da sociedade. 
 
Foi positivo também que estivéssemos inseridos em um rol de artistas mais próximos da MPB alternativa e essa sempre fora uma pretensão do Pedra desde o seu início de atividades, portanto, considerávamos salutar abrirmos novas portas e nos expandirmos além do mundo do Rock underground, em que habitávamos, normalmente. 
Eu e a minha clássica implicância com a mídia... ora, quem é "Xandoo?" Se pronuncia, "Xandu", tipo "Xanadu", ou seria com sotaque anglo-americano, "Quizánduu?" São hilários esses estagiários de jornalismo

Houveram dois dilemas técnicos sobre essa apresentação no Melograno: o espaço exíguo e o PA minúsculo. A casa era muito bonita em suas instalações e decoração, mas a infraestrutura para apresentações musicais ali, era adequada apenas para shows intimistas ao padrão voz & violão e não queríamos fazer uma apresentação acústica a priori. 
Portanto, nós reduzimos o equipamento ao mínimo, ao providenciarmos menos da metade do backline e ao assumir que não microfonaríamos a bateria e os amplificadores para soar in natura, no padrão da sonoridade de ensaio. 
E sobre a questão do espaço, quando chegamos ao local com o nosso equipamento, ainda no período da tarde, o gerente da casa colocou a mão na cabeça (literalmente), ao imaginar em que colocaríamos toda aquela aparelhagem e o que ele não sabia, tal equipamento representava menos da metade do nosso backline regular. 
Com paciência e senso minimalista, fomos a arrumar o equipamento e claro que mesmo a ocupar muito mais espaço do que os artistas que ali se apresentavam normalmente (creio que pelo menos quatro mesas para clientes foram desmontadas para ocuparmos o ambiente), nós conseguimos enfim um resultado razoável. 
Sobre o equipamento da casa, o Rodrigo conhecia bem o seu técnico fixo e tudo ficou acertado para usarmos o parco PA ali disponível, apenas para alimentar as vozes, ao adotarmos uma sonoridade de ensaio, com a bateria a soar in natura e com os instrumentos elétricos sob amplificação comedida.
Bem, apesar de todo esse caráter parcimonioso, conseguimos preservar os timbres e a pegada da banda, aliás para corroborar a tese de que seria possível dar o recado com qualidade, sem necessariamente ter a pressão forte de som, um pecado que o Pedra cometeu em sua carreira como um todo, infelizmente. 
Quando o Laert chegou ao ambiente, além da festa natural por nos encontrar e comemorar que a banda voltara à ativa e finalmente sob uma situação muito diferente da anterior (que fora melancólica), ele também ficou pasmo por termos acomodado a banda para uma apresentação elétrica, dentro daquele espaço que ele conhecia bem como curador do projeto, mas também como artista, tamanha a quantidade de vezes em que ali se apresentara com o combo reduzido do Língua de Trapo, chamado: "Os Três do Língua".
Cenas do nosso show no Melograno Bar em dezembro de 2012. Clicks de Grace Lagôa 
As pessoas foram paulatinamente a se acomodarem pelas mesas e eu fiquei contente por verificar que haviam muitas que ali compareceram por interesse declarado pelo Pedra, e não habitues da casa ou do projeto do Laert, tão somente. 
Mais que isso, a apresentação foi ótima, ao manter um padrão sob dinâmica muito disciplinada, por conta do PA muito fraco que ali existia, e nessa economia sonora, quem ganhou foi o público, que recebeu uma apresentação fina, com extrema qualidade sonora e mesmo que tenhamos sido uma banda aberta para transitar entre a MPB, Black Music e Folk, a nossa amálgama primordial sempre fora o Rock, portanto, foi a nossa predisposição habitual.
Ao final do show, o Pedra a posar com o meu velho amigo e companheiro de duas jornadas (Boca do Céu e Língua de Trapo): Laert Sarrumor
Ficamos muito contentes com a sonoridade alcançada e o resultado final, com o público a apreciar muito a noitada. A minha presença ali me deixou muito feliz, pois fez com que naquela noite eu estivesse reunido com companheiros de muitas jornadas distintas da minha carreira, simultaneamente. 
Pois além do fato natural de estar junto com Rodrigo Hid na formação do Pedra e este colega ter sido um companheiro de Sidharta e Patrulha do Espaço, houve a presença do baterista, Carlinhos Machado, que esteve na plateia a nos prestigiar (tocávamos juntos desde 2011, n'Os Kurandeiros). 
Foi um prazer também ver o guitarrista, Aru Junior, adentrar o ambiente para prestigiar o show, acompanhado de sua esposa, Rosane e com o grande, Gerson Conrad, eterno "Secos & Molhados" em sua comitiva. Aru, nessa época, já era guitarrista da "Trupi", banda de apoio de Gerson Conrad, cujo baterista era também, Carlinhos Machado. 
Portanto, lá estava eu com o Pedra, mas a conviver com Laert Sarrumor, com quem trabalhei através do Boca do Céu e Língua de Trapo, Serginho Gama & Paulo Elias Zaidan, do Língua de Trapo, Aru Junior (Terra no Asfalto), e Carlinhos Machado (Kim Kehl & Os Kurandeiros).
"Cuide-se Bem" (Guilherme Arantes), ao vivo no Bar Melograno, em 17 de dezembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=zO6WdsJKhLs

Noite agradável, portanto, ocorreu no dia 17 de dezembro de 2012, com cerca de cem pessoas no local e absolutamente lotado pelo tamanho diminuto da casa. 
Para comprovar que o final de 2012 sinalizara bons ventos, nós tivemos a perspectiva de um novo show em São Paulo dali a quatro dias, e assim a representar para o Pedra, um avanço, dada a constatação de que essa banda ostentava uma dificuldade histórica para manter uma agenda sustentável, portanto, foi mesmo um grande indício. 
A próxima apresentação foi um show compartilhado com outras duas bandas e neste caso, fora um convite que veio da parte do baixista do Tomada, Marcelo "Pepe" Bueno.
A ideia se constituiu de um show triplo, a ser realizado na casa de espetáculos: Gillan's Inn, naquela época localizada na Rua Caio Prado, bem perto do cruzamento com a Rua da Consolação, portanto, para quem não conhece São Paulo, digo que se trata de um local muito boêmio, perto de uma infinidade de teatros e casas noturnas, na região da Praça Roosevelt, centro da cidade. 
Além de nós e do Tomada, tocaria também o “Balls”, uma boa banda paulistana centrada no Hard-Rock, cuja sonoridade me lembrava vagamente o trabalho de bandas como o “Knock-Out”, dos anos oitenta e o “Blues Riders”, então em plena atividade nos anos dois mil. 
As instalações da casa eram bem interessantes, com decoração muito próxima de pubs britânicos e o proprietário, era um rapaz chamado, Luiz e ele sabia exatamente o potencial do que tinha em mãos e desejava para a sua casa. 
Com cultura Rocker, a sua ideia fora louvável ao abrir espaço para bandas autorais, mas claro que também ali se abrigavam bandas cover em sua programação. 
A casa continha uma estrutura com som e iluminação digna, mas houve um problema estrutural ali e que não fora culpa de seu proprietário: no palco, haviam duas vigas que faziam parte da sustentação daquela edificação, portanto, aquela questão arquitetônica limitava tremendamente o palco, ao fazer com que qualquer banda ficasse com espaço cênico muito prejudicado. 
Hoje em dia, e acho que desde 2014, salvo engano de minha parte, a casa se mudou para um outro espaço e ostenta agora um palco grande, no padrão de um teatro, com infraestrutura muito melhor. 
Pedra ao vivo no minúsculo palco da antiga sede da casa noturna, "Gillan's Inn. 21 de dezembro de 2012. Clicks, acervo e cortesia: Naty Farfan
Entretanto, nesse dia, não houve outro meio e realmente a banda sofreu com o espaço limitado com aquelas inconvenientes vigas para atrapalhar. Aliás, todos os artistas e não somente a nossa banda
 
O show foi marcado para a véspera de uma data que estava a ser comentada na mídia com relativa força, por marcar teoricamente o fim do calendário da civilização pré-colombiana, Maya, ao sinalizar que o mundo, supostamente “acabaria”. Ao brincar com o fato, toda a nossa divulgação foi baseada nessa premissa catastrofista e o mote: "venha passar o seu último segundo de vida a ouvir Rock", foi usado sob várias maneiras. A brincadeira se espalhou pela internet e o chamado, "último show de Rock de nossas vidas", atraiu bastante gente para as dependências do estabelecimento. 
 
Gostei muito da presença de queridos amigos ali presentes. Os meus amigos, o poeta Julio Revoredo e a sua esposa, Regina Célia, Edil & Marilu Postól, Fernando Minchillo, enfim, foi também uma confraternização da minha velha sala de aulas, dos anos noventa, que ali ocorreu. 
 
Sobre os shows, gostei bastante dos riffs executados pelo "Balls", uma banda que eu conhecia apenas pelo nome, mas ali constatei o seu potencial, do qual apreciei muito. Quanto ao "Tomada", tal banda vivia uma fase fantástica em sua carreira nessa época e a sua apresentação foi bem azeitada, portanto eu gostei bastante, também. 
 
E o Pedra vivia um momento ótimo, sem nenhuma pressão interna, com astral leve, e praticamente a repetir o padrão da apresentação anterior, com a diferença de que tocamos de uma forma mais Rock, com maior pressão do que o show intimista feito no ambiente do Melograno Bar. 
 
O único inconveniente foi que por conta do palco muito limitado, nós resolvêramos suprimir o uso dos teclados, a privilegiar um set list somente se a executar músicas com a utilização de duas guitarras. Tudo bem, isso tecnicamente não nos atrapalhava, mas artisticamente se revelava um prejuízo, pois mostrava mediante tal expediente limitador, apenas uma faceta da nossa banda e na realidade, nós tínhamos outras.
"To Indo a Mil" no Gillan's Inn, 21 de dezembro de 2012.  

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0G2TB_plKNw  
"O Galo Já Cantou" no Gillan's Inn, dia 21 de dezembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=422T3e4V5v8

Sob um set list mais curto que o normal, mas não necessariamente caracterizado como de choque, demos um ótimo recado naquela noite.
"Se Você For a Fim", no Gillan's Inn, dia 21 de dezembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=X9xp5zW16fc  

"Estrada" no Gillan's Inn, no dia 21 de dezembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=QADVZVD8GhU

Ao final, Oswaldo Vecchione, o baixista e histórico líder do Made in Brazil, apareceu no ambiente e assistiu um pedaço do nosso show.  
"Pra não Voltar", no Gillan's Inn, no dia 21 de dezembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=nio8kz1mc4A  
"Os Teus Olhos", no Gillan's Inn, no dia 21 de dezembro de 2012. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=b6gcDZhT5HY

O mundo não acabou... nenhum cataclisma ocorreu na virada do dia 21 para o 22 e particularmente, eu nunca considerei que ocorresse algo tão radical motivado pela questão do fim do calendário Maya. Acredito, sim, que uma mudança pode ter começado ali, mas de uma forma sutil, mais a pensar em questões energéticas.
 
O show foi bom, viramos bem o ano de 2012 para 2013 e no embalo, o ano de 2013 começou com boas novas. Para completar o assunto do Gillan's Inn: esta apresentação ocorreu no dia 21 de dezembro de 2012, com cento e cinquenta pessoas presentes no estabelecimento. 
 
O Rock aconteceu ali e nenhum mega meteoro se chocou com o planeta Terra... somente as vigas do estabelecimento atrapalharam o espetáculo, com certeza. 
 
O ano de 2013 entrou e o embalo de fim de ano em 2012, nos fornecera uma tranquilidade para que pudéssemos pensar nas gravações, e assim finalizarmos o disco inacabado de 2010, enfim. 
Mas os ventos positivos pareceram estar a abrirem novas frentes. Logo que o ano virou, recebemos o convite do Sesc Belenzinho para uma apresentação em seu belo teatro. Mediante um cachê muito digno, sob um patamar que considerávamos ideal pela nossa qualidade artística, é claro que interpretamos tal convite como uma comprovação de que uma nova fase estava enfim a chegar para nós, pois uma meta gerencial nossa, desde os primórdios da banda, em 2004, foi a de entrarmos de forma definitiva no circuito do Sesc, para que pudéssemos nos apresentar em suas unidades periodicamente de uma forma sustentável, como muitos artistas médios que conhecíamos, estavam a viver sob tal rotina segura, há anos.
 
Por termos tocado na unidade do Sesc Consolação há bem pouco tempo atrás, e nesse instante posterior, recebermos o convite para nos apresentarmos no Sesc Belenzinho, claro que essa impressão criada pela dedução lógica, nos contaminou positivamente. Todavia e como sempre, apesar do convite espontâneo, houvera um mote, como se apresentava em forma de uma praxe velada entre os produtores do Sesc, na sua maneira de trabalhar.
 
Falo sobre a insistência paradigmática da parte dos produtores dessa instituição em se aterem aos famigerados “projetos temáticos”. E nesse caso, foi uma espécie de festival nostálgico sobre os anos setenta e nesse contexto, haveriam shows de bandas oriundas dessa época ainda em atividade e também da parte de bandas novas que vibrassem pela mesma estética. 
 
Por sorte, o programador do Sesc Belenzinho, foi o mesmo que nos agendara em 2010, através da unidade do Sesc Vila Mariana e este rapaz enxergava em nosso trabalho, a similaridade com a estética setentista.
 
Entretanto, honra seja feita, o curador do festival foi o Zé Brasil, líder do histórico grupo de Rock Progressivo, Apokalypsis, banda setentista que estava de volta à cena com todo o vapor desde a metade dos anos 2000.
 
Com a confirmação da data, Cida Cunha, uma pessoa amiga da banda e que muito se esforçara para nos ajudar no ano de 2010, entrou em ação. Aliás, ela já voltara a nos auxiliar em relação ao show do Sesc Consolação, ao haver sinalizado que retomaria a sua função como produtora e com pretensões a se tornar uma empresária, um dia, e por ser assim, ela providenciou os esforços para sanar a tradicional burocracia massacrante que o Sesc exigia para ali se poder trabalhar. 
 
Animado com a perspectiva de um show a ser feito em um teatro com grande estrutura, o Xando contratou uma equipe de filmagem, para produzir um DVD do show e com o intuito de postar tal show na íntegra no YouTube, a seguir. 
 
Trataram-se de amigos, no caso o film-maker, Capo Neto, e que teria como assistente, um velho amigo nosso e Rocker histórico, o vocalista, Nando Fernandes, muito famoso no mundo do Heavy-Metal, principalmente e certamente a se tratar de uma das grandes vozes do Brasil, nesse segmento. Nando era (é) um tremendo amigo gentil, que eu conhecia desde os anos oitenta e até o relacionei em uma história paralela de minha autobiografia, no capítulo dos meus "trabalhos avulsos", a envolver uma gravação que fizemos juntos no estúdio Mosh, em 1997.
 
Preparamo-nos para realizar um bom show, também a pensarmos nessa filmagem, mas sem grandes novidades no set list, apenas a seguir o padrão dos shows anteriores, ou seja, ao estabelecermos uma mescla dos dois discos lançados, mais os singles de 2010 e algumas músicas novas que estavam a surgirem e haviam sido incorporadas ao repertório, caso de: "Os Teus Olhos", aliás, esta a se revelar como uma bela canção de autoria do Rodrigo Hid.
"Longe do Chão" no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Filmagem de Kico Stone. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fkiHcip0jvw 
"Cuide-se Bem" no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fBoRlqkAwT4 
"Luz da Nova Canção", no Sesc Belenzinho, no dia 9 de fevereiro de 2013. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=zKfgKL8ZFbk

O único senão para esse show do Sesc Belenzinho, foi o fato dele ter sido arrolado para o sábado de carnaval. Tudo bem, para esse tipo de circunstância sempre alguém se apressava para argumentar que o público de uma banda de Rock não gosta de carnaval e pelo contrário, tocar em um feriado assim, tornar-se-ia um trunfo para nós, ao invés de um empecilho. Mas também houve a questão de que muita gente que não aprecia o carnaval, geralmente aproveita o feriado para viajar, ou seja, um argumento forte e plausível, igualmente. Paciência, absorvemos o fato sem problemas e em nada diminuiu a nossa animação para fazermos o melhor show possível. 
Chegamos ao Sesc Belenzinho um pouco antes do horário estabelecido, mas apesar daquela unidade ter sido recém-inaugurada na ocasião e gigantesca em sua constituição física, mais uma vez os engenheiros pensaram em tudo e de fato se tratava de uma unidade deslumbrante a atender os moradores do bairro com muitas atrações sensacionais, mas infelizmente pouco se preocuparam em cuidar da estrutura para receber artistas em suas dependências. 
O fato de não haver um estacionamento reservado, com acesso fácil aos dois teatros ali presentes, foi (é) para se lamentar e isso acontece em quase todas as unidades dessa instituição, eu devo observar com pesar. 
Então, quando tentamos parar no estacionamento aberto ao público em geral e ao sermos cobrados monetariamente por isso, outro absurdo, fomos informados que o mesmo estava lotado e que deveríamos aguardar em fila, como qualquer usuário.
Pedra em ação no Sesc Belenzinho, de São Paulo, em 9 de fevereiro de 2013. Clicks; acervo e cortesia: Grace Lagôa
Claro que isso já foi estressante ao extremo, pois estávamos com quatro carros particulares abarrotados por equipamentos e isso se mostrara surreal pelo incômodo gerado, sem contar o fator da segurança e a perda de tempo logística que nos prejudicava tremendamente sob uma situação assim. 
Por fim, abriram uma “exceção” e nos indicaram uma entrada de serviço, mas que era exígua por natureza e não dava para estacionar permanentemente nesse pequeno pátio que servia apenas para a retirada de lixo da unidade. 
Tal espaço detinha um elevador de serviço enorme, desses de padrão de elevador de carga para aeroportos, do tamanho de um container e ali descarregamos com certa pressão da parte de funcionários, por não ser uma prática usual em seu protocolo. 
Nenhum funcionário nos tratou mal, mas foi impressionante como algo que deveria ser a rotina da unidade, foi tratado como uma prática extraordinária, fora do padrão de serviço deles e gerou, por conseguinte, uma tensão desconfortável e que respingara sobre nós. 
Por fim, quando eu já retirava o meu carro desse espaço, um funcionário me "aconselhou" a não deixá-lo naquela face da unidade, situada na Rua Tobias Barreto, que dá em frente ao cemitério da Quarta Parada. Segundo ele, havia muita ocorrência de roubo de automóveis ali. Ora, sei que o rapaz era só um funcionário e no afã de ser gentil, proferira tal conselho na sua máxima boa vontade para me alertar sobre um perigo iminente, mas por outro lado, como não ficar chateado em ir trabalhar em um lugar daquele tamanho e não haver uma mísera vaga de estacionamento assegurada para o artista fazer o seu show despreocupado dessa questão pueril? 
E claro que eu sabia, há muitos anos por sinal, que em frente ao cemitério da Quarta Parada, havia uma bandidagem básica a montar plantão naquele quarteirão, pronta a atacar pessoas que visitavam, tanto o Sesc, quanto o próprio cemitério. Enfim, eis que me resignei, e estacionei ali mesmo a confiar que horas depois eu sairia à rua e veria o meu bólido intacto, a me esperar para ser usado.
Pedra em ação no Sesc Belenzinho, de São Paulo, em 9 de fevereiro de 2013. Clicks, acervo e cortesia de Grace Lagôa
Já preocupado para chegar ao palco e começar a supervisionar a montagem do mesmo, nesse dia tivemos uma equipe de apoio ligeiramente modificada. Daniel "Kid" não pode trabalhar conosco e assim, contamos somente com Samuel Wagner, da equipe de roadies tradicionais e dois novos componentes: Ivan Pieri e Jurandir "Jura". 
No caso do Ivan Pieri, se tratou de um amigo de longa data e que também era músico (baixista), e que se especializara na profissão de roadie, e naquela altura, trabalhava com artistas do patamar mainstream, ligados ao Pop-Rock midiático, como Sandy & Junior e também com a banda do filho de Fábio Junior, o Fiuk. 
No caso do "Jura", este era ainda mais experiente. "Jura" era (é) roadie e braço direito de Guilherme Arantes desde os anos setenta e fora roadie dos Secos & Molhados no seu auge de 1973 & 1974 e recuava até antes a sua bagagem, por ter sido roadie nas montagens teatrais de "Hair" e "Jesus Christ Superstar". 
Ele, Jura, foi comigo no carro, a narrar histórias incríveis de sua vivência com esses trabalhos e claro que eu gostei muito de ouvir as suas reminiscências espetaculares. 
Teríamos o reforço do "mago da luz", Wagner Molina, para cuidar de nossa iluminação, e a operação do som, ficaria a cargo de Renato Sprada, um técnico que admiro muito e cujas histórias eram tão espetaculares quanto as do "Jura", em termos de lembranças dos anos setenta. 
O técnico do Sesc, estava a se portar extremamente simpático e solícito, até que em um dado instante, cravou uma pergunta insólita dirigida à minha pessoa: -"cara, você não é o "Tigueis" que tocava n'A Chave do Sol, nos anos oitenta?" 
Eu lhe respondi que sim (esse apelido que me persegue), e nesse instante eu já deduzi que deveria tê-lo reconhecido também, mas infelizmente, não consegui me lembrar com clareza da sua fisionomia. Foi quando ele falou: -"sou o Lito, fui o guitarrista do "Máscara de Ferro"...
Pedra em ação no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 9 de fevereiro de 2013. Clicks, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Lembrava-me dessa banda, que militara no mundo do Heavy-Metal brasileiro oitentista e se notabilizara por caprichar no visual, com os seus componentes a se apresentarem vestidos como cavaleiros medievais e a usarem cenários com tais motivações, como um belo castelo cênico, inclusive. 
Que bom, se o clima de cooperação já estava ótimo antes, depois dessa revelação, a camaradagem se intensificou ainda mais. O soundcheck e a afinação da iluminação foram muito boas. Com a dupla Molina & Sprada a trabalharem juntos e em sintonia, a garantia de que o show seria bonito, foi enorme. Ainda mais por termos a cooperação dos técnicos do Sesc, e no caso, do amigo, Lito em perfeita sintonia com o bom andamento do trabalho. 
Recebemos a informação por parte da Cida Cunha, que já havia uma boa fila de espectadores formada na entrada do teatro, o que nos animou, naturalmente. 
No camarim, o clima foi ótimo. Com a certeza de que o show seria bom, apenas relaxamos e aguardamos a chamada. Só houve um pequeno momento com um certo nervosismo, quando o Lucas, filho caçula do Ivan Scartezini, sumiu por alguns instantes pelos bastidores. Ele tinha cinco para seis anos de idade nessa época, e claro que em meio àquela cenotécnica enorme, tal ambientação se mostrara um espaço muito perigoso para um menino tão pequeno, inclusive com a presença de uma enorme escada íngreme, que dava acesso aos camarins. Mas o garoto apareceu, para alívio de seus pais, Ivan e Beth Scartezini, e por estar excitado pelo glamour de um bastidor de teatro, claro que o seu ímpeto infantil o impeliu a explorar livremente tudo ali, naturalmente. 
Público já acomodado no auditório, os três sinais clássicos do teatro soaram, as luzes se apagaram e nós subimos ao palco.
Pedra no Sesc Belenzinho de São Paulo, em 9 de fevereiro de 2013. Clicks, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Iniciamos com o tema: "Megalópole", sob uma pegada bem intensa, a arrancar palmas entusiasmadas da plateia. O show evoluiu e a recepção do público foi bastante calorosa. Renato Sprada colocou pressão sonora ao nível de show de Rock da velha guarda no PA. Aliás, esta sempre fora uma marca registrada dele, por ser um técnico com orientação Rocker que era (é). 
A filmagem de Capo Neto e Nando Fernandes ficou ótima e mostra a banda sob uma forma muito boa, ao dar o recado com ênfase e convenhamos, com um palco bem estruturado, iluminação e som de primeira, tudo ajudou, inclusive o bom astral que a banda estava a atravessar naquele momento. 
Após o show, tivemos uma receptividade excelente no saguão de entrada, visto que o Sesc não permitiu visitas ao camarim. Laert Sarrumor & Marcinha Oliveira, Zé Brasil & Silvia Helena, Tony Babalu & Suzi Medeiros, o poeta, Julio Revoredo & Regina Célia, além de muitos outros amigos. 
Contávamos que esse sucesso todo nos abrisse de vez as portas do Sesc, mas não foi o que ocorreu, quando no decorrer do tempo, ficou claro que assim como no Sesc Consolação, em 2012, o fato de tocarmos no Sesc Belenzinho em 2013, não caracterizou uma sequência cativa dentro dessa instituição, mas que essa e as demais anteriores, foram apenas meras oportunidades sazonais. 
Sesc Belenzinho, 9 de fevereiro de 2013, com cerca de duzentas pessoas na plateia (não lotou, mas consideramos um bom público pelo fato de ter sido o sábado de carnaval e ter caído uma tempestade na cidade, nesse dia).
O show completo do Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Produção de Capo Neto e Nando Fernandes.
 
Eis o Link para assistir no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=58rCSpin0cY  
Passado o ótimo show do Sesc Belenzinho, tivemos logo a seguir uma entrevista para um Blog com muitos acessos, mas completamente fora da nossa realidade. 
Foi o seguinte: em uma rede social chamada: "LinkedIn", eu fui abordado por uma garota bem jovem que ao notar as minhas postagens regulares por ali, se apresentou como proprietária de um Blog sobre música, centrado mais no universo do Pop-Rock juvenil daquela atualidade, a enfocar as bandas jovens e algumas, muito jovens, por sinal e assim, dentro do espectro natural da percepção dessa moça. 
Portanto, sob uma primeira avaliação, eu não considerei que fosse ideal para nós, mas ela foi muito simpática na abordagem e propôs inicialmente uma entrevista individual comigo. Como essa entrevista repercutiu bem, a render muito mais comentários do que as postagens regulares sobre bandas adolescentes que ela costumava enfocar, ficou mais confortável para o Pedra ser retratado em seu espaço.
Quando eu abordei os meus colegas, eles demonstraram um nítido ceticismo, por verificarem que o Blog, apesar de possuir um bonito lay-out, era conduzido por uma menina tão jovem. Tive que pressioná-los para que respondessem o questionário, pois ficara clara a desmotivação deles (honra seja feita, com exceção do Rodrigo Hid, que foi rápido e solícito em suas respostas). 
Isso me aborreceu, pois desde os primórdios da minha carreira, eu sempre atendi bem qualquer interlocutor, e nunca me importei se fosse um jornalista a representar um órgão mainstream de primeira grandeza, ou um garoto imberbe e responsável por um fanzine com lay-out manuscrito e reproduzido em cópias xerox com má qualidade de impressão, reproduzidas na papelaria da esquina. 
Mas não é todo mundo que pensa sim, e talvez isso explique o motivo pelo qual eu representei o Pedra em entrevistas concedidas para órgãos pequenos, inclusive programas muito precários da TV de Internet, e nestas ocasiões a minha postura foi sempre igual, como se estivesse a ser entrevistado para um talk-show transmitido pela Rede Globo, e a ser assistido por cem milhões de pessoas. 
Por fim, consegui reunir as respostas dos rapazes e a entrevista foi publicada no Blog Maah Music, um Blog jovem, sim, mas bem-intencionado e conduzido pela Marina, uma garota bem nova, que adorava música e mantinha os seus leitores & seguidores, fiéis em seu favor.

Eis o Link para ler tal entrevista:
http://estilloetendencias.blogspot.com.br/2013/02/entrevista-exclusividade-com-banda-pedra.html#comment-form 

E para piorar a situação, o micro embalo que tivemos ao final de 2012, e parecia estar a se confirmar no início de 2013, após o show do Sesc Belenzinho, se esvaiu rapidamente na realidade, quando novamente nos deparamos com a falta de perspectivas imediatas a seguir. 
Foi mais um período tenso a se iniciar no campo interno da nossa banda, infelizmente, até que uma luz apareceu ao final do túnel, quando um produtor chamado, Helton Ribeiro, tradicionalmente focado no mundo do Blues & Jazz, nos enviou um convite para que nos apresentássemos em uma das mais tradicionais casas de shows voltadas para esse universo, em São Paulo, chamada: "Bourbon Street". 
Tal casa costumava, há muitos anos, apresentar artistas internacionais dessa seara, mais do Blues, é bem verdade e ali, até o mítico, B.B. King já havia se apresentado e se não me engano, mais de uma vez.
O Helton era editor de uma revista chamada: “Blues'n Jazz” e uma vez por mês, realizava uma festa da sua revista nessa casa, geralmente a convidar duas atrações para demarcar uma jornada dupla. 
Contudo, nos últimos tempos ele estava a adotar uma estratégia diferente, ao abrir espaço também para bandas de Rock, pois segundo ele mesmo afirmou, o seu projeto estava desgastado, mesmo dentro de uma casa focada nesse universo e dessa forma, a expansão para outros espectros artísticos se mostrara em sua avaliação, uma tentativa para oxigenar a sua celebração mensal. 
Muito bem, já que foi assim, aceitamos tocar, mesmo ao sabermos que o Bourbon Street não era exatamente uma casa adequada para uma apresentação nossa, em tese. 
Ficamos contentes por saber que teríamos uma ótima companhia na jornada dupla, com os amigos do "The Suman Brothers Band", uma banda sensacional e formada por pessoas da melhor qualidade. E ainda por cima, o grande Diogo Oliveira havia recém ingressado nessa banda, para torná-la ainda mais encorpada e criativa. Portanto, tocar com essa banda amiga e excelente, musicalmente a falar, seria ótimo, é claro. 
                     A fachada do Bourbon Street em São Paulo
No dia do show, transportamos o nosso backline quase completo e não havia essa necessidade toda, pois havia um bom equipamento de palco disponibilizado pela casa. Essa foi uma outra questão que estava a me cansar na postura da banda, pois não obstante o fato de achar corretíssimo qualquer artista se apresentar sempre da melhor maneira possível, por outro lado, não se mensurava na prática o quanto os sacrifícios inúteis em certas circunstâncias, que essa predisposição no causavam. 
Portanto, na minha ótica, a política firmada em sempre mobilizar um exército para cada apresentação, a envolver movimentar um backline exagerado e a se convocar uma equipe técnica com profissionais a serem pagos, independente do quanto a banda ganharia, nos sufocava, diante da escassez de oportunidades de agenda e sobretudo pelos cachês tímidos, geralmente, que não suportavam a carga de uma despesa que não cabia para uma banda não alojada no mainstream e que assim gerasse proporcionalmente a sua auto sustentação mínima. 
Mesmo ao se considerar que profissionais de alto gabarito como Wagner Molina e Renato Sprada, acostumados a ganharem cachês sob um patamar de produções para artistas mainstream, não se importavam de trabalhar com cachês reduzidos e eventualmente até sob forma gratuita simplesmente por gostarem do nosso trabalho, nós não nos sentíamos bem por não lhes oferecer pouco ou mesmo nada, contudo, mesmo ao se pensar em porções modestas, para nós pesava bastante em detrimento do nosso parco orçamento. 
Bem, análise gerencial a parte, chegamos ao Bourbon Street e o problema recorrente de se arrumar estacionamento já nos causou o aborrecimento gerado por termos que transportar o backline pesado através de carros particulares. Uma vez lá dentro da casa, fomos bem recebidos pelos dois técnicos do estabelecimento, mas o restante dos funcionários não me pareceu terem muita predisposição para serem solícitos conosco. 
Arrumamos o palco e quando Renato Sprada e Wagner Molina chegaram, ambos tiveram algumas dificuldades para lidarem com os respectivos técnicos da casa, que não estavam muito acostumados a tratarem com artistas que levavam os seus técnicos próprios para operar o PA e a iluminação. Todavia, ultra experientes, ambos relevaram o clima não favorável e assim fizemos o soundcheck. 
Eu era amigo do gerente geral da casa, um rapaz muito gentil chamado: Pietro Buccaran, que eu conhecera em uma situação não musical, pois nós dois interagíamos juntos em uma ação de voluntariado exercida dentro de uma instituição e lá, como havia a presença de pessoas oriundas de diversas camadas sociais e profissões diferentes, quando ele viu cabeludo, logo deduziu que eu mantinha alguma relação com a música e então ele se apresentou ao me dizer ser o gerente do Bourbon Street e que portanto, estava acostumado a lidar com shows de Blues e Jazz, mas também Rock'n' Roll, eventualmente. 
Nesse ínterim, eu já havia falado sobre o trabalho do Pedra e d'Os Kurandeiros para ele e até lhe ofertado material, mas ele me explicara que não cuidava da parte artística, mas sim da gerência geral e que poderia apenas falar com o diretor artístico da casa. 
O tempo passou, e através de um terceiro, Helton, foi que conseguimos uma colocação, mas o Pietro me disse que seria importante participarmos e que fatalmente essa apresentação abriria a porta para outras oportunidades na casa, fora da festa da Revista Blues’n Jazz. 
Após o soundcheck, Pietro e a sua esposa, Claudyana, que também era funcionária da casa (e eu a conhecia do Instituto que frequentávamos, também), chegaram e me convidaram para jantar. A casa se pôs a lotar e nós ficamos a observar tal movimentação. Muitos fãs do Pedra, além de parentes e amigos dos componentes do nosso grupo, estavam a chegar, mas o grande grosso desse público, foi formado pelo público habitue da casa e a faixa etária se mostrou bem alta ali no salão da casa. 
Particularmente eu fiquei em dúvida se esse tipo de público bem maduro, mais centrado na terceira idade e notadamente formado por apreciadores de Jazz & Blues, interessar-se-ia pela nossa música autoral e longe de seu espectro natural de predileções. 
Eu já havia enfrentado plateias inadequadas na minha carreira, muitas vezes através de trabalhos anteriores, portanto isso não me assustava, mas por outro lado, eu fiquei com esse questionamento interno, sobre a eficácia de se realizar tal show, como estratégia em prol de uma suposta captação de simpatia de um público novo e normalmente desinteressado no universo artístico em que vivíamos, e como agravante, ao ter a questão do sacrifício logístico e monetário de se montar um palco com backline pessoal, além de contar com uma equipe técnica, própria. 
Chegou a hora enfim e a casa estava bem cheia, algo surpreendente para uma quarta-feira, mas segundo apuramos, dentro da normalidade do estabelecimento. Saímos à rua para vermos esse movimento e quando tentamos voltar pela entrada de serviço, pela via da cozinha da casa e que dava acesso direto ao camarim, fomos impedidos pelo segurança e daí, tivemos que enfrentar a fila da entrada principal para retornar-nos ao camarim. 
Ali, pudemos constatar que a casa adotava um procedimento antipático no sentido de cadastrar os seus clientes, mediante um maçante questionário imposto no balcão de entrada. Sei que tal metodologia adotada por algumas casas noturnas minimiza eventuais calotes pelos quais são submetidas e vitimadas eventualmente, mas convenhamos: enfrentar um interrogatório e ser obrigado a fornecer dados pessoais, realmente irrita quem deseja apenas entrar em uma casa noturna para assistir um show musical, jantar e conversar com os amigos, portanto, não sei dimensionar o que seria pior: a longa espera para se chegar até a atendente que coletava os dados de cada pessoa, ou o interrogatório em si, incisivo e certamente deselegante. Acredito que o conjunto da obra foi abominável para aborrecer a todos.
Começou o show do The Suman Brothers Band e o Victor Suman pediu para usar o meu baixo Rickenbacker, que lhe emprestei na hora, naturalmente, amigo que ele é. 
Já tinha visto a banda em ação como trio, quando interagiram com Os Kurandeiros em um show realizado em 2012, e havia ficado impressionado com a sua categoria. Versados no Blues, Rock'n' Roll, R'n'B, Soul Music, Folk-Music e mais uma série de influências ótimas, a banda era muito azeitada ao vivo. Agora como quarteto, e por ter o Diogo Oliveira agregado como segundo guitarrista da banda, portanto a se tratar de um super reforço, a banda ficara ainda melhor, mais encorpada e com uma pegada incrível. Gostei muito do show deles, por ter assistido pela coxia minúscula que dava acesso ao camarim. 
Pedra em ação no Bourbon Street, de São Paulo, no dia 17 de abril de 2013. Clicks, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Chegou a nossa vez de atuarmos e assim começamos o nosso show com muita energia, ao parecer estarmos na mesma forma dos shows anteriores. Mas logo nas primeiras músicas, começamos a receber recados do produtor do show, para abaixarmos o volume no palco, pois o gerente da casa, estava incomodado com tal suposta volúpia sonora da nossa parte. 
Não refiro-me ao Pietro Buccaran, pois este por ser conhecido meu, tenho certeza de que ele mesmo teria aparecido na coxia para fazer a solicitação, pessoalmente. Deve ter sido uma reclamação da parte do diretor artístico da casa. 
Os recados continuaram, mesmo depois de termos abaixado os amplificadores e pedido pelo microfone ao Renato Sprada, para amenizar a pressão do PA. 
Apesar de reduzirmos drasticamente o volume, os pedidos prosseguiram e se puseram a intensificar no seu tom agressivo, e nessa escalada, ganhou aura de irritação, como se nós estivéssemos a estabelecer uma espécie de pirraça infantojuvenil para não atender os seus apelos, mas pelo contrário, eu atesto que nós havíamos reduzido o volume para um patamar que já estava quase desagradável para nós podermos atuar no palco, a prejudicar a nossa performance.  
Pedra no Bourbon Street de São Paulo, em 2013. Foto 1: Click, acervo e cortesia de Grace Lagôa. Foto 2: Click, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia 
E ficaram ainda mais tensas as solicitações, pois se chegara em um ponto em que houveram ameaças explícitas do tipo: -"vocês nunca mais tocarão aqui" e outras bravatas destemperadas ali proferidas. Quanto a "nunca mais tocar ali", isso não me preocupou nem um pouco, pois desde o início eu projetara como algo inadequado o Pedra se apresentar em uma casa noturna com orientação temática longe da nossa realidade. Eu só ficaria chateado pelo amigo, Pietro que era (é) extremamente gentil e certamente ficaria constrangido pela confusão e animosidade gerada a me envolver. 
Contudo, isso culminou em não ocorrer na prática, pois um ano depois, nós fomos convidados novamente para atuarmos na mesma festa da citada revista e desta feita o show aconteceria de uma forma muito mais amena. 
Enfim, após o término do espetáculo e mesmo com essa tensão gerada nos bastidores, houve um bom contingente de pessoas que estiveram ali para ver o Pedra, pois aplausos e gritos de pedido de bis ocorreram e até um coro a entoar: "Pedra, Pedra” foi ouvido com bastante proeminência, talvez a irritar o neurastênico senhor que pressionara o Helton a nos atormentar, por conseguinte...                    
Pedra, no Bourbon Street de São Paulo, 17 de abril de 2013. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa
Como última ocorrência dessa noite, houve uma desavença terrível com os seguranças e funcionários da limpeza e copa & cozinha que nos pressionaram com muita truculência para que desmontássemos logo o nosso equipamento e o levássemos para os nossos carros. Nesses termos, essa turma formada por pessoas mal-educadas, destratou o Ivan Scaterzini, que por sua vez, reagiu verbalmente e um clima de quase briga pelas vias de fato, se instaurou ali. 
Tentei localizar o Pietro para intervir, mas os ânimos se acalmaram antes que eu o encontrasse e assim conseguimos retirar os nossos instrumentos e equipamentos e nos evadirmos do estabelecimento. 
Uma senhora, funcionária da casa que cuidava do camarim, se portara de uma forma extremamente arrogante, também e assim nos desrespeitou com falas grosseiras e descabidas. 
Ao realizar um "Raio X" da situação e por possuir um razoável conhecimento de como funcionam as casas noturnas em geral, esteve claro ali que tais funcionários estavam nervosos e apreensivos para que saíssemos o quanto antes do estabelecimento, a fim de que se encerrasse o período do expediente e dessa forma, desejavam serem dispensados para voltarem o quanto antes para as suas respectivas residências. Entendo a questão de estarem cansados e sobretudo pelo fato de serem trabalhadores humildes e que fatalmente por morarem em bairros distantes da periferia, ficavam desesperados pela perspectiva de perderem a última condução da madrugada. 
Solidarizo-me com eles, pela vida dura que possuem, porém em contrapartida, nada, eu disse nada, justificou terem nos destratado daquela forma. Se houvessem sido mais perspicazes e não a raciocinarem como trogloditas, teriam oferecido ajuda para agilizar o processo. No caso dos seguranças, homens fortes que eram, eles teriam ajudado muito para agilizar o processo, mas a musculatura dessas pessoas era inversamente proporcional à sua massa encefálica, portanto, preferiram nos intimidarem pela força, a nos causar medo e não a usá-la em regime de solidariedade, o que teria sido mais lógico para que atingissem o seu intento. 
Enfim, foi o ato final para uma noite com muitos aborrecimentos acumulados. Dia 17 de abril de 2013, no Bourbon Street em São Paulo, com cerca de duzentas pessoas na plateia.
Aqui, um vídeo com a apresentação no Bourbon Street, que eu descrevi. Filmado pelo famoso casal: Bolívia (Edgar Franz) & Cátia, dois fotógrafos e film-makers famosos por retratarem inúmeros shows em São Paulo. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=b0KOkn-G4uM 

Tal acontecimento nos conduziu de volta ao clássico questionamento: valia a pena tocar em lugares inadequados para a nossa proposta artística?


Continua...

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