Mas faço a ressalva que o nome da banda só foi definido cerca de dois meses depois e não nos primeiros ensaios. E claro, todas as considerações estéticas sobre isso, estiveram fora de discussão, eu só comento aqui como uma análise a posteriori. Ensaiávamos em um estúdio muito próximo à estação Santa Cruz do Metrô, na Rua Loefgreen, para ser preciso.
As primeiras músicas que eu conheci do Pitbulls on Crack, foram ensaiadas paulatinamente e eu notara que eles imprimiam sempre andamentos acelerados, para dar aquela vazão explícita ao padrão Punk-Rock. Então como um antídoto, eu amenizava, ao criar linhas mais elaboradas de baixo e dessa forma a tirar o ranço punk e assim aproximar a banda mais do Rock'n' Roll tradicional e do Glitter-Rock, estilo esse que sempre usou como influência clara, o Rock'n' Roll cinquentista, clássico.
Nessa primeira safra com músicas ensaiadas, logo no começo das atividades dessa banda, lembro-me de uma releitura da canção: "Ticket to Ride" dos Beatles, mas de tão acelerada que se mostrou, ficara descaracterizada. Para quebrar o ranço punk, eu preenchi com escalas típicas de Rock'n' Roll, cinquentista e depois que acostumei-me com o andamento muito ligeiro, parei de estranhar aquela versão.
Preparamos as primeiras fotos promocionais em um domingo de março de 1992, redigimos o primeiro release e marcamos o primeiro show para o dia 9 de abril de 1992, em uma casa noturna na Rua Augusta em São Paulo, chamada: "Armageddon" e a dividir o palco com outra banda na mesma noite, chamada, "Runa". Um bom público compareceu nesse show debut, com cerca de duzentas pessoas. E essa boa receptividade inicial, animou-nos.
Claro que engatinhávamos ainda, pois tratava-se de um novo trabalho. Mas na minha ótica, foi um começo promissor e portanto, esse conceito de se engatinhar é bem relativo.
Se considerarmos que em janeiro fizéramos o nosso primeiro ensaio e
em abril já tocávamos ao vivo, eu considero um processo bem acelerado,
pois montar um repertório com músicas próprias, demanda tempo.
E só tocávamos duas releituras: "Ticket to Ride", dos Beatles e "Cracked Actor", do David Bowie.
Para o Pitbulls on Crack, em apenas seis meses, o feito de haver se apresentado em um evento de porte para dez mil pessoas, foi algo espetacular. Neste caso, tudo é uma questão de proporcionalidade. Esse "engatinhar" tivera uma outra dimensão, em relação ao começo do "Boca de Céu", a minha primeira banda da carreira, por exemplo.
E ao ser sincero, acho que pelo fato de eu e o Chris já termos tido uma exposição midiática por conta de outros trabalhos anteriores, facilitou muito, mas sem dúvida que os contatos que o baterista Juan Pastor mantinha dentro da Rádio 89 FM, foram somados, os fatores preponderantes para a alavancada do Pitbulls on Crack.
Como eu já mencionei antes, ele (Pastor) era estagiário dessa emissora logo no início das atividades da nossa banda, mas cresceu rápido na instituição e em poucos meses tornou-se locutor, redator de textos e figura chave entre os programadores.
Já naquela época, tornar-se-ia assessor do Tatola, este, o principal locutor da casa, além de ficar
muito amigo do Fábio Massari, outro locutor, que por sua vez, apresentou-o ao VJ Gastão Moreira, da MTV e assim em diante, de contato em contato,
portas abriram-se bem rapidamente.
Ao vivo na casa "Cais", em 1992
E assim, mais ou menos em junho de 1992, gravamos uma Fita-Demo, sob espírito muito caseiro, no próprio estúdio em que ensaiávamos e no uso de uma máquina Fostex, com a qual o Chris costumava gravar as suas demos caseiras, em seu apartamento.
Gravamos todas as músicas que tínhamos disponíveis, com exceção das releituras dos Beatles e David Bowie, claro. E daí, escolhemos as cinco melhores para compor o material definitivo. Enquanto isso, sucediam-se shows pelo circuito indie da cidade e a começar a melhorar o nível, quando oportunidades para tocarmos em casas sob médio porte, começaram a surgir.
Após tocarmos novamente em casas como, "Der Tempel", "Cais", Armageddon", "Victoria Pub" (esta última não era uma espelunca, muito pelo contrário, todavia, estava decadente nos anos noventa), e fomos convidados a tocarmos no "Woodstock", uma casa noturna situada no bairro de Cerqueira Cesar, próximo à Avenida Paulista, que continha uma estrutura semelhante a de um pequeno teatro, com ótimo palco, iluminação e camarins bons.
Em uma segunda oportunidade, tocamos em setembro
de 1992 e posteriormente, realizamos dois shows em outubro no mesmo local, quando abrimos a banda
punk, "Não Religião".
Essa banda era liderada pelo Tatola, o principal locutor da 89 FM e obviamente aproveitava-se das benesses da Rádio para promovê-la. E nós, fomos juntos a aproveitarmos a "cauda desse cometa", pois o Juan Pastor era assessor direto do Tatola e este havia afeiçoado-se ao som do Pitbulls on Crack.
E por pura coincidência, o Tatola era (é) um palmeirense fanático e eu o encontrei diversas vezes em estádios, a assistir os jogos do Palmeiras, o que também ajudou a estreitar os nossos laços de amizade.
Nesses
dois shows no Woodstock, ocorreu um clima muito desagradável entre o Tatola e
o dono desse equipamento que também seria o técnico nos shows. Eis que o equipamento de
PA usado era de propriedade de um famoso músico do Rock brasileiro dos anos setenta e na passagem de som, ocorreu um incidente.
E no caso, este famoso artista operava o equipamento, costumeiramente, apesar de haverem técnicos contratados ao seu dispor. Quem o conhece pessoalmente sabe que ele é um sujeito bom, mas normalmente tenso. Não é conveniente contrariá-lo, pois é temperamental e quando se sente aviltado, ele parte para a briga, decidido a não perder o embate.
Então, na passagem de som do "Não Religião", o Tatola pediu para que esse famoso artista a operar o áudio do PA e monitor, aumentasse a sua voz no retorno. Não satisfeito com o acréscimo concedido, ele pediu novamente e na terceira vez que reiterou tal pedido, gritou com o técnico.
Eu
estava na coxia a observar o soundcheck e vi o técnico a cortar o som e pendurar-se, literalmente, na casinha da operação de áudio, para iniciar uma violenta discussão,
com muitos xingamentos, incluso etc.
O Tatola também era temperamental, a responder na
mesma altura e após vários impropérios e ofensas à dignidade das
respectivas progenitoras de ambos, o clima serenou-se.
O técnico pôs-se a acalmar-se e ao entrar no nosso clima descontraído, a rir das piadas do Chris, que nunca parava um segundo de brincar.
Quando encerrou-se o nosso soundcheck, este famoso operador passou por perto e disse-me que tinha gostado de nós e que eu iria verificar como a nossa mixagem seria um "brinco" e a do Não Religião, um lixo.
Claro que eu desaprovo sabotagens em shows de Rock, mas isso foi entre eles e convenhamos, o que eu poderia fazer para dissuadi-lo dessa prática? E de fato, o nosso show foi muito bom, com uma monitoração muito caprichada, ao parecer um disco para nós e no show do "Não Religião", a monitoração assemelhou-se a uma maçaroca com frequências graves disformes, que arruinaram qualquer chance para se tentar entender a voz do Tatola.
Tudo bem que o som dos rapazes era no padrão "punk' 1977", com aquela pegada da anti-música proposital etc. e tal, mas as letras eram significativas, a bater nos dogmas das religiões e sem serem adequadamente compreendidas, tal sonoridade horrorosa reduziu o trabalho da banda a uma massa amorfa.
E no segundo show, houve uma promoção perpetrada pela bilheteria da
casa e as mulheres
entraram de graça, até um determinado horário prévio. Acho que eu nunca toquei para uma plateia feminina tão
grande (a não ser uma vez com A Chave do Sol, mas esse fato eu contei em detalhes no seu capítulo,
certamente).
Havia um músico bom a tocar com eles, que era o Walter "Alemão", baixista experiente e um sujeito com boa índole, que já tocara no "Santa Gang", banda de Rock'n' Roll, em que o guitarrista, Rubens Gióia, teve uma passagem antes de fundar comigo, A Chave do Sol, em 1982.
Então, ali no Woodstock, lidamos com um público híbrido, que não esteve ali para ver e ouvir
as bandas em específico, mas por ser um evento patrocinado pela Rádio 89
FM.
Demo-nos bem, então, pois o nosso som era mais melódico e
a nossa postura de palco mais agradável às pessoas que não eram aficionadas
do tosco punk.
Em suma, nada a ver mesmo, mas a conexão do "pauteiro" da revista certamente foi criada pelo fato dele se ater ao passado do Chris Skepis com o "Cock Sparrer", na Inglaterra, e aí a conexão entre o Punk-Rock e a cultura do Skate/streetwear ser estabelecida para motivar estarmos nas páginas dessa revista.
Tocamos a seguir no Aeroanta, uma casa de shows com médio porte a deter uma boa estrutura, ao participarmos da festa do programa, "Rock Report", do jornalista e locutor, Fábio Massari, da 89 FM e MTV.
Concorrida, apesar
de ser uma terça-feira, com cerca de quinhentas pessoas presentes no seu ambiente, assim foi a noite de 27 de outubro de 1992. E nos bastidores, Tatola nos confidenciou ventilara como certa a produção de uma coletânea, com cinco bandas emergentes, pelo selo Eldorado.
E sabíamos que o produtor de estúdio, seria um sujeito chamado: Carlos Eduardo Miranda, um gaúcho que tocara em uma banda punk e obscura do Rio Grande do Sul, chamada: "Atahualpa y os Punks".
Eu lembrava dessa banda e sabia bem de sua fragilidade musical. Mas o fato é que esse produtor cultural, Miranda, agora morava em São Paulo e estava muito bem enturmado no meio fonográfico e midiático, pois detinha uma coluna na Revista Bizz.
Toda a cena paulistana efervescente no início dos anos 1990, seguiu ou os ventos do grunge de Seattle ou o indie britânico, ainda sob inspiração oitentista do Pós-Punk. O Brit-Pop noventista (este com nítidos ares sessentistas), ainda não estava em voga, infelizmente.
Houve um bom lobby em torno do Pitbulls on Crack, graças aos contatos do baterista, Juan Pastor, é claro, mas nós possuíamos outros trunfos e entre os quais, a atração que o Chris Skepis exercia em certas pessoas (Miranda, incluso), por conta dele ter sido mmbro por alguns anos do "Cock Sparrer".
Para os fãs do Punk-Rock'1977, o Cock Sparrer mantém uma grande
relevância, por ser contemporâneo dos "Sex Pistols" e outros expoentes
dessa cena. E convenhamos, falo sempre desses fatores extra-musicais, mas as
nossas músicas eram boas. O Chris comunha (compõe) bem, e com a minha (Luiz) participação e Deca na banda, o nosso som mais
parecia-se com o Glitter-Rock setentista, do que qualquer outra coisa.
Mas certamente houveram várias pessoas envolvidas como artífices dessa produção. Por parte do selo Eldorado, o produtor executivo, Vagner Garcia, com certeza.
Na ordem das fotos acima: Wagner Garcia, Tatola, Fábio Massari e Carlos Eduardo Miranda, os idealizadores da coletânea em que o Pitbulls on Crack debutaria no mundo fonográfico, no ano posterior, 1993, através da gravadora Eldorado
Mas
como seria uma produção em parceria com a emissora 89 FM, claro que o locutor Tatola teve um
peso nessa decisão, mais o bom jornalista/crítico, Fábio Massari, que ajudou a escolher as bandas e
talvez o produtor de estúdio, Carlos Eduardo Miranda.
Mas pode ser que tenham havido
outras pessoas que influenciaram e eu as desconheça nesse processo.
Em nosso caso, em termos de sonoridade que marcaria a nossa participação em tal álbum, o que em princípio delineara-se para se apresentar como algo meio punk/meio indie, pôs-se a ficar cada vez mais setentista, a encarnar o saudoso glitter-Rock, sobretudo.
Essa foto acima, em que eu, Luiz Domingues, sou o destaque, é de um ensaio do Pitbulls on Crack, aproximadamente de março de 1992
Tratou-se de uma comédia romântica e bem pueril, sem maiores atrativos maiores, se não fosse ambientada em Seattle (com o personagem principal, interpretado pelo ator, Matt Dillon), e este personagem não fosse guitarrista de uma banda grunge (no filme, a sua banda fora o Pearl Jam, verdadeiramente).
Ao conter tomadas com várias bandas daquela cena a tocarem em casas de médio porte, chamou a atenção dos músicos que seguiam aquele espectro artístico e proviam a cena paulistana.
Fui ao cinema assistir e achei o filme bem fraco, pois tratara-se na verdade de uma comédia romântica com padrão para ser exibida na "sessão da tarde" (embora eu aprecie o trabalho do diretor, Cameron Crowe, que depois dessa obra, produziu, "Almost Famous", este sim, um grande filme ambientado no mundo do Rock setentista).
Na sala de
cinema aonde eu fui assistir tal película, por uma absoluta coincidência, membros de bandas como: "Yo-Ho-Delic", "Mighty Sound Jungle" e "Anjos
dos Becos" estiveram presentes na sessão em que eu compareci. Estes colegas chegaram ao ponto de emitirem gritinhos de regozijo em alguns trechos onde apareceram as bandas de Seattle, a tocar ao vivo.
Em uma determinada cena, o personagem do ator, Matt Dillon, surge no cemitério em Seattle aonde o guitarrista sessentista, Jimi Hendrix, foi sepultado. Quando o close na placa de sua tumba preencheu a tela inteiramente sob um close up, mais gritinhos foram ouvidos no auditório do cinema. Nessa hora, eu fiquei até surpreendido, pois naquela altura dos acontecimentos, alguém a demonstrar reverência a um ícone sessentista, foi um alento e tanto.
Quanto ao movimento "grunge", isso evidentemente não dizia-me nada como estética. Tirante uma canção ou outra do "Soundgarden", "Alice in Chains", ou do "Pearl Jam", o grunge em seu bojo, não comoveu-me em nenhum aspecto.
Curiosamente,
o maior expoente do movimento, o tal do "Nirvana", na minha avaliação não passava
de um grupo fraco, comprometido com o senso de continuísmo do Punk-Rock oitentista e para corroborar a minha
impressão, claro que a "intelligentsia" estendeu o seu tapetinho vermelho
e indevido para esse grupo, ou seja, eu só lamentei, mas não surpreendi-me com essa superestimação e reverência inadequada, amplamente calejado que estivera, graças a ter passado pelos anos oitenta e a verificar a inversão de valores como uma tendência delineada de uma forma cristalina.
O único mérito que eu enxergara nesses artistas de Seattle, fora um certo resgate dos riffs setentistas, principalmente da escola do Hard-Rock e o resgate dos instrumentos vintage a garantir uma melhor sonoridade no tocante à produção de áudio desses artistas, embora isso não fosse algo proposital da parte desses rapazes, como eu já expliquei anteriormente, pois mesmo de uma forma involuntária, o fato é que esses músicos de Seattle provocaram no mercado a vontade de outros músicos usarem instrumentos dessa estirpe "vintage".
Em suma: após amargarmos aqueles dândis oitentistas a perturbarem-nos com a sua insipidez musical atroz e munidos pelos seus instrumentos de brinquedo, estigmatizados como típicos daquela mentalidade instaurada na década anterior, esses garotos de Seattle apareceram a empunhar guitarras e baixos das marcas tradicionais Fender e Gibson em profusão, isto é, foi um alento aos nossos ouvidos tão combalidos pela gosma de reverber que dominara a engenharia de áudio na década de oitenta.
Dessas bandas
paulistanas que eu citei, o Yo-Ho-Delic foi a mais cotada para entrar na
coletânea da Eldorado. Essa banda tocava em todas as espeluncas do circuito indie
da cidade, pelo menos desde 1991. Mas foi atropelada na reta final.
Depois eu analiso o motivo.
O Pitbulls on Crack, que teoricamente era uma banda "indie", correra sob uma terceira via, obscura. Mas houve um ponto de similaridade com o grunge de Seattle, em nosso trabalho, pode-se afirmar.
Isso se analisarmos o grunge como uma árvore com dois galhos. Em um deles, a orientação fora o Hard-Rock setentista britânico e nessa fonte, foram beber as bandas como o "Soundgarden", "Alice in Chains" e "Pearl Jam", predominantemente. E no outro galho, bandas como "Mudhoney", "Sonic Youth" e "Nirvana", seguiam a cartilha do punk '1977. Sei, no entanto, que alguns historiadores classificam tais bandas como uma vertente extra-grunge.
Nesse caso, essas três bandas citadas detinham a admiração do Chris, Pastor e Deca. Eu sempre achei o Nirvana, um embuste. Um dos casos mais gritantes de superestimação da história e um mero continuísmo do Punk-Rock, a se mostrar sofrível pela sua sonoridade tosca. Infelizmente, tornou-se o maior expoente do movimento, muito pela ação midiática que a incensou, tenho isso como um fato.
Ao chegarmos ao final de 1992, os boatos se tornaram mais fortes sobre estarmos
entre as bandas escolhidas para constar na coletânea da gravadora
Eldorado.
Enquanto isso, fizemos os dois últimos shows do ano: no dia 9 de dezembro de 1992, em uma casa chamada: "Cadeira Elétrica", para um surpreendente público com cem pessoas e por considerar-se o fato de ter sido marcado para um dia útil.
E o gran
finale de 1992, foi um show de choque, em um festival com várias bandas,
promovido pela rádio 89 FM.
Esse convite veio a calhar, pois selara o ano de 1992, com um show para grande uma multidão e certamente pela exposição midiática em profusão.
Esse show de fim de ano da Rádio 89 FM, era na verdade bem tradicional da emissora (a sua concorrente, Brasil 2000 FM também produzia um show de final de ano com várias bandas autorais e curiosamente produzido na mesma casa de shows), e costumava reunir uma multidão em uma casa noturna no bairro da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, chamada: "Broadway".
E não foi diferente nessa edição de 1992. Nós fomos a banda de abertura do show e por conta disso, o público estava muito agitado. Haviam cerca de três mil pessoas a acotovelarem-se dentro da casa, quando subimos ao palco e no primeiro acorde da primeira música, elas ficaram ensandecidas.
Claro que não se tratou de nenhuma comoção especial para o Pitbulls on Crack, mas a excitação para ver começar logo o show em conluio com o forte calor que fazia em dezembro, além daquela aglomeração humana.
Nesse show, tocaram bandas da nova e velha cena paulistana, tais como: "Golpe de Estado", "Os Inocentes", "Não Religião", "Rip Monsters", "Viper", "Yo-Ho-Delic", "Volkana" e nós, Pitbulls on Crack.
Eu não tive a ilusão sobre tal comoção ser referente à nossa presença, pois éramos uma banda a empreender os seus primeiros passos ainda, mas certamente pelo fato de estarem tais pessoas da plateia ansiosas pelo show, ao primeiro sinal de som emitido no sistema de PA da casa, eis que explodiram sob um frenesi incontrolável!
Lamento muito, mas as fotos desse show foram perdidas, portanto, fico a dever ilustrações, para corroborar a minha narrativa.
Uma história engraçada: um garoto tentava escalar o palco para mexer nos pedais do Deca. Ele chegou bem perto disso, duas vezes.
Na terceira tentativa, o meu amigo, José Reis, que trabalhava como roadie do Pitbulls on Crack, desferiu um murro no queixo do infeliz, que voou (literalmente), e foi amparado pelo público.
O soco foi tão forte que eu ouvi o ruído desse impacto, embora o
som no palco estivesse altíssimo. Temi por uma confusão generalizada,
mas nada ocorreu. Não paramos de tocar e o Chris teve uma crise de riso
ao ver essa cena bizarra ao até parar de cantar para gargalhar. Esse sujeito deve ter aprendido a lição e nunca mais
tentou azucrinar um artista no palco, assim espero.
Outra
história engraçada desse show, deu-se quando um punk surgiu de uma forma completamente inesperada,
quando veio a correr da coxia e convenhamos, o que poder-se-ia esperar de um
sujeito com aquela mentalidade truculenta e cheio de preconceitos contra
tudo e todos.
Mas surpreendentemente, o seu objetivo fora pacífico e
prosaico até, eu diria, pois ele abraçou o Chris, dentro daquela
prerrogativa de que ele era adorado pelos admiradores do Punk-Rock,
graças à sua experiência pregressa como componente da banda britânica,
Cock Sparrer. Claro que o
Chris assustou-se, mas desta vez o propósito de um invasor de palco foi
amistoso e o José Reis não precisou exercer os seus dotes, como pugilista.
Certamente que foi engraçada a história do soco (menos para o infeliz do rapaz), mas convenhamos, teve o que mereceu o aspirante a vândalo, que saiu de sua casa não para ver um show de Rock, mas para tentar sabotá-lo de alguma forma.
Quanto à expectativa em torno da gravadora
Eldorado, claro que foi grande. Muitas bandas, não só as de São Paulo,
cobiçavam essa oportunidade e cada uma detinha o seu lobby. Nessa hora,
quem tem tal suporte sai na frente, pois qualidade artística é o que menos
conta para atender a mentalidade da parte de executivos de gravadora. Aliás, esse tipo de gente
raramente entende de música. E se entende, cala-se quando adentra o sistema, ao aprender a
obedecer a cartilha imposta pela corporação.
As especulações falavam sobre várias bandas. Nessa altura, dávamos como certa a contratação do "Yo-Ho-Delic", mas isso não ocorreu, porque a influência do produtor musical, Miranda, driblou o favoritismo dessa banda paulistana, e assim, escalou o "Graforréia Xilarmônica", de Porto Alegre.
Sobre essa banda gaúcha, era liderada pelo Frank Jorge, um artista famoso na cena underground, porto-alegrense.
O som do Graforréia
Xilarmônica era de certa forma muito parecido com o que tornou-se o "Pato
Fu", anos depois. Ou seja, os seus componentes misturavam diversas tendências, sob uma salada
musical que atirava para todos os lados.
Como no release deles contido na
coletânea deixou claro, ao assinalar que iam de Roberto Carlos/fase Jovem
Guarda, a King Crimson... todavia,
apesar de parecer uma mistura improvável, a banda era boa, com músicos
com qualidade, tanto na execução, quanto composição, e capacidade para
arranjar o seu material.
Os rumores em torno de uma banda punk de
Brasília, foram fortes.
Tratava-se de um tal de: "Os Raimundos".
E de fato, essa banda
era a paixão do Miranda, naquele momento, atração tão forte, que no último
momento, esse produtor resolveu tirá-la da coletânea, para assumir direto, um álbum
solo, graças ao novo selo chamado, "Banguela", que os Titãs acabavam de
lançar dentro da multinacional, Warner.
O Pitbulls on Crack continuou bem
cotado, mas o acerto mesmo só veio mesmo por volta de abril de 1993. Enquanto isso,
prosseguimos a nossa rotina com shows no circuito underground. E assim entramos no ano de 1993, com esperanças renovadas e ao soarmos melhor ao vivo, pois estávamos a completar um ano de banda, na ativa.
O Pitbulls on Crack esteve posicionado forte na disputa para constar na coletânea da gravadora Eldorado, pois o Tatola gostava de nós. A sua admiração não era apenas pelo som que produzíamos, mas pelo fato do nosso baterista, Juan Pastor, ser o seu assessor direto na rádio e principalmente por admirar o fato do Chris Skepis ter tocado em uma banda da cena do Punk-Rock britânica e histórica da cena de 1977.
Muita gente bajula o Chris até hoje por isso e a maioria
não sabe que ele tem uma coleção incrível com discos de Rock Progressivo,
dentro de casa.
Ficar a saber dos rumores sobre os bastidores foi fácil. Haviam jornalistas e radialistas como o Tatola, Fábio Massari e Gastão Moreira sempre a comentarem fatos de bastidores para o Juan Pastor.
E no caso do Gastão, ele foi parte interessada também, pois a sua banda, o Rip Monsters, esteve no páreo, também.
Definitivamente, acho que se "Os Raimundos" tivessem sido escalados para a coletânea, não seria o Pitbulls on Crack que seria descartado. Tanto é verdade, que o Graforréia Xilarmônica e Little Quail and the Mad Birds, chegaram de súbito para compor a lista final de bandas, por serem ambas, escolhas do produtor, Carlos Eduardo Miranda, a desbancarem favoritos como "Yo-Ho-Delic", "Virna Lisi" e "Anjos dos Becos", sem contar o "Jazzumbi" e o "Might Sound Jungle".
No cômputo
final, creio que o Pitbulls on Crack se garantira, assim como o "Rip Monsters" e
o "Neanderthal", bem antes da resolução final da parte da gravadora.
O fato dos Raimundos terem sido catapultados para um disco solo,
abriu caminho para o "Little Quail" e o "Graforréia Xilarmônica", em minha visão.
Iniciamos o ano de 1993, com um show no Black Jack Bar. Tratava-se de uma casa pequena, com equipamento de PA precário, mas assim mesmo, muito tradicional no circuito Rocker de São Paulo, desde os anos oitenta, com tradição no meio do Hard-Rock e Heavy-Metal, principalmente.
Nos anos noventa, tal estabelecimento abriu mais o seu leque, ao atrair também artistas da seara do Punk-Rock, Grunge e o Indie-Rock.
Por considerar-se que foi em janeiro, um mês tradicionalmente
fraco por causa das férias escolares, nós movimentamos um bom público para esse
show, com cem pagantes aproximadamente (em 8 de janeiro de 1993).
Foi um show satisfatório, apesar do áudio prejudicado pela má qualidade do PA precário da casa.
O próximo show demorou para acontecer. Só conseguimos marcar uma nova data em 18 de março de 1993, para ser realizado em uma exótica casa noturna chamada: "Circular Paulista", no bairro do Bom Retiro, próximo ao centro de São Paulo e na verdade, tratara-se de um galpão rústico, onde a atração principal era um ônibus estilizado, estacionado dentro da casa. Nesse show, dividimos a noite com a banda, "Maldades de Pandhora", do meu aluno, Marcos Martines.
O Marcos, que era meu aluno e amigo, ficou constrangido pelo fato da filipeta dar destaque à sua banda e a nos colocar como "abertura". O fato, é que obviamente eu sabia que isso não fora ideia dele e para nós do Pitbulls on Crack, não importava tal referência em tom de inferioridade, na menção ao nosso nome.
Tal colocação foi na verdade uma imposição da vocalista da banda, que detinha uma postura altiva e certamente descortês. Mesmo que a
banda dela tivesse esse status de superioridade, e não o tinha, pois o
Pitbulls on Crack já se colocava no mercado como uma banda emergente, mediante um portfólio de mídia mainstream,
fator que a banda dela não possuía na ocasião, tal atitude de sua parte foi tresloucada, pois
estávamos na prática, no mesmo barco do underground. Falo isso como dado histórico, deixo claro, pois se não incomodou-me na época, imagine hoje em dia...
Em seguida, nos apresentamos uma outra casa exótica, chamada: "Phoenix Rock Theater", no bairro da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Aconteceu no dia 25 de março de 1993.
Nessa altura, já estávamos quase confirmados como partícipes da coletânea da Eldorado e providenciávamos documentação para assinar o contrato de gravação.
Por considerar-se que todos os discos que eu gravei com A Chave do Sol foram independentes, ou sob regime de parceria com um pequeno selo (Baratos Afins), foi portanto, a primeira vez na minha carreira, que eu assinei um contrato formal com uma gravadora, apesar de já estar com trinta e dois (quase trinta e três anos de idade, na verdade) e dezesseis anos de carreira. Coisas da vida.
Começamos a discutir internamente quais seriam as nossas duas músicas escolhidas. "Under the Light of the Moon", "Answer Machine" e "You've Got Me on The Run", foram as mais cotadas. Tínhamos que eliminar uma.
Já tínhamos também aparições na TV. Em um programa obscuro da TV Gazeta, um pedaço pequeno de nosso show ocorrido na Broadway em 1992 e uma mini entrevista foram ao ar.
E em março de 1993, fizemos uma boa entrevista para o programa
do Gastão Moreira, na MTV. Aliás, conheci o Gastão Moreira pessoalmente no show da Broadway em dezembro de 1992 e
ele contou-me um fato inusitado, naquela noite no camarim...
O caso do Gastão, que eu mencionei anteriormente, foi que no show que fizemos na casa Broadway, em 1992, na festa da Rádio 89 FM, o "Rip Monsters", sua banda, também tocou.
No camarim, ele só conhecia até então o Juan Pastor e ao ser apresentado
aos demais membros, cumprimentou-me com ênfase ao dizer ser meu fã, do tempo d'A Chave
do Sol e que assistira alguns shows de tal banda no Teatro Lira Paulistana. Falou-me portanto, com grande entusiasmo sobre tais lembranças e claro que eu fiquei surpreendido e honrado, naturalmente.
Na questão da escolha das músicas, ao visar a gravação do disco/coletânea, tudo foi decidido sob um consenso entre os quatro componentes da banda, apenas. Não houve interferência da gravadora, ou do produtor de estúdio.
Aliás, só fomos ter contato com ele, no estúdio. Sim, o Gastão já era uma estrela da MTV, em 1992, pois fazia parte do primeiro time de VJ's, desde a inauguração da emissora, em 1990. A sua atitude foi de muita humildade ao contar-me essa passagem, no camarim da Broadway. E dali em diante tornamo-nos amigos e em um futuro bem próximo, dividimos muitos camarins por conta de shows e compromissos de mídia que tivemos em conjunto, por conta da coletânea da Eldorado em que participamos com as nossas respectivas bandas.
A votação para a escolha das duas
músicas que iríamos gravar, foi tranquila mesmo. Ao final, chegamos à
conclusão, sem maiores conflitos. A
documentação foi a da praxe, de qualquer gravadora.
Documentos pessoais, carteira da ordem dos músicos, papelada do GRA para o ECAD etc.
E dados bancários, é claro.
Eu sou membro da Ordem dos Músicos do Brasil, desde 1982. Os demais precisaram adequarem-se em tal burocracia.
Para aproveitar o parêntese, vou contar um caso engraçado:
Uma delas foi o Viper. Eu conhecia os rapazes dessa banda desde 1984 e muitas vezes nós dividimos o palco em shows coletivos, quando eu estava a atuar com A Chave do Sol.
Nesta ocasião, lembro-me de estar presente juntamente com o Pit Passarel, e o Felipe Machado, na sala de maquiagem. Da minha banda naquele instante, estavam o Deca e o Juan Pastor, comigo e também o meu amigo, José Reis, roadie do Pitbulls na época.
Foi quando subitamente, entrou na sala uma VJ famosa da casa, que era considerada bonita pela audiência da emissora, e ela teve a mesma intenção de passar pela maquiagem.
Essa moça sentou-se na cadeira e a maquiadora começou a trabalhar em seu rosto etc. Depois que encerrou e ela passou por nós, alguém do Viper (não revelarei quem, mas recordo-me bem, certamente), disse: -"essa é que a fulana? Parece bonita na TV, mas não é nada disso"... e claro que não foi exatamente com essas palavras, é bom registrar, e diante da pilhéria, ainda que maldosa, nós todos ali presentes caímos na risada automática.
E
no mesmo dia, aguardávamos em uma roda formada por pessoas no corredor,
quando entediados pela demora sepulcral e típica de programas de TV,
cansamos e sentamo-nos nos degraus da escada. Estávamos também com os membros do Viper,
juntos conosco, e eu conversava com o César Cardoso, que naquela época trabalhava na MTV, e
houvera sido meu aluno em 1988/1989.
Aí apareceu subitamente a VJ, Astrid Fontenelle a descer a escada e ela estava vestida com uma saia, curtíssima. A conversa parou, ela constrangeu-se por um segundo, mas aí descontraiu ao dizer-nos: -"vocês já viram tudo, mesmo" e todo mundo caiu na risada, incluso ela mesma, que desceu a brincar, e a quebrar o constrangimento.
O programa em que fomos entrevistados, foi o: "Fúria Metal".
Claro que o
Pitbulls on Crack não tinha nada a ver com a cena do Heavy Metal, mas comparecemos, sem
preconceito algum. O astral com o Gastão foi ótimo e a entrevista foi
com a banda inteira.
Em relação aos funcionários dessa emissora, a recepção costumava ser fria, blasé. Se fôssemos famosos, certamente seria diferente, mas no caso do Pitbulls on Crack, éramos somente mais uma banda desconhecida a andar por aqueles corredores.
A questão não fora sermos uma banda iniciante. Pois todos tínhamos
semblantes maduros.
A questão foi não sermos "hypados" no meio.
Principalmente
no âmbito onde a MTV inseria-se, também, isso fora uma causa preponderante na
relação entre artistas e pessoal de mídia, ao determinar o tipo de tratamento despendido nos bastidores.
Essa loja era (é), muito tradicional em São Paulo e nos anos oitenta, era predominantemente frequentada por admiradores do Heavy-Metal e durante anos, foi um ponto de encontro aos sábados para tal "tribo", quando costumava reunir centenas de pessoas na calçada próxima a uma das saídas da estação Anhangabaú, do Metrô.
Naquele momento noventista, havia perdido muito de sua força, mas ainda continha fôlego como loja, e a maior prova disso, é que existe (e muito bem, obrigado), até os dias atuais (2014).
O festival conteve algumas bandas da cena indie noventista e alguns expoentes do Heavy-Metal. Sinceramente só recordo-me da presença do "Anjo dos Becos" e do "Viper", ao nosso lado. O equipamento disponibilizado para o evento não foi dos melhores, mas para o Pitbulls on Crack, que fora uma banda de Rock'n' Roll visceral e bem básico, tal falta de maior refinamento no áudio não culminou em nos atrapalhar decisivamente enquanto execução da performance. Mas claro que sempre foi incômodo tocar nessas condições ruins. Duas lembranças extra show, vem-me à cabeça:
1) No camarim improvisado (foi no escritório reservado da loja), uma roda formada com músicos, conversava tranquilamente enquanto aguardava-se a hora dos shows iniciarem-se, quando surgiu uma conversa a falar sobre o comportamento do público de Rock nos anos 1960 e 1970, muito diferente da postura agressiva e alheia, adotada a partir da "revolução punk" de 1977, com o público quase que a expressar repúdio ao artista no palco, ao ponto de cogitar-se até a agressão física, de fato.
Claro que
eu argumentei sobre isso e expus minha visão, a denunciar o estrago causado
nessa mentalidade anti-musical e iconoclástica.
É óbvio
que nunca simpatizei com "rodas de pogo" (é show de Rock ou rebelião na
penitenciária?), "Stage Dive"/"Mosh" e outras práticas que mais pareciam
denotar que a música não importava para essa gente, e diante de tais
fatos, como eu poderia concordar com tal predisposição?
No entanto, um componente da banda, "Anjo dos Becos" exaltou-se com a minha opinião e simpatizante assumido de tal filosofia, passou a falar que as minhas ideias eram ultrapassadas e que estavam lá atrás no Festival de Woodstock em 1969, coisa de "hippies e bichos grilos" etc.
Disse em seu discurso raivoso, que eu "não entendia", que o público "moderno" de Rock, fazia essas coisas, por que queria "divertir-se"...
Ora,
ora... que comprasse um par de luvas de boxe e esmurrasse as paredes de sua casa
a ouvir discos de suas bandas prediletas, então, pois o efeito seria o
mesmo enquanto diversão e dispêndio de energia infantojuvenil, não é
mesmo?
O que ele "não entendera", foi que a magia do Rock correra para o ralo, quando instituiu-se que o artista em si não teria mais importância e entre outros fatores, saber tocar um instrumento seria "coisa do passado", pois o ideal doravante foi formarem-se bandas com pessoas que não sabiam tocar e por não saberem tocar, ninguém interessava-se mais por sua música malfeita e esta só serviria em tese, como pano de fundo para estripulias juvenis truculentas, como as que eu citei acima.
Esse rapaz
na verdade era gentil, mas a sua mentalidade fora arraigada sob um paradigma errôneo, cuja formulação não fora culpa dele. Na verdade, fora mais uma vítima dessa desgraça perpetrada pelos famigerados "formadores
de opinião". Nesses
termos, o melhor foi encerrar a conversa, pois essa turma que pensava
dessa forma, era adepta da máxima sintetizada sob uma gíria em forma de
palavrão e que denotara o absoluto nivelamento por baixo nos parâmetros
culturais. Para eles, tudo, absolutamente tudo, era definido da
seguinte maneira: "É ducaraio, véio". Triste constatação de um tempo perdido.
2) É fato
consumado que muitos Rockers brasileiros ligam-se em futebol e nos
bastidores de shows, é muito comum que sempre haja uma movimentação
extra, com muita gente a buscar um monitor de TV, ou no mínimo um
radinho de pilha para saber dos resultados da rodada, em dias de
jogos (hoje em dia tem internet, eu sei, muito melhor)...
Dessa maneira, havia sempre um murmúrio da parte de alguns e claro que eu incluo-me nesse rol, ao tentar buscar informações sobre o jogo que acontecia naquele momento, válido pelo campeonato paulista de 1993: Palmeiras x Santos, no Morumbi. Muitos palmeirenses presentes entre os músicos comemoraram a virada do nosso time e o resultado final de 2 x 1, quando já começava a anoitecer e aproximava-se a hora do Pitbulls on Crack, subir ao palco.
Foi quando um ônibus lotado com torcedores do Santos, passou, e claro que um palco com bandas de Rock a tocar ao ar livre e uma multidão de cabeludos, tornou-se um prato cheio para o bullying inevitável dos sujeitos, ao gritarem impropérios pelas janelas do veículo. Foi quando sob uma reação imediata, vários que ali estavam presentes e sabiam do resultado da partida, retrucaram a ironizar os santistas, ao fazer menção ao resultado do jogo com a derrota do time deles.
Os torcedores santistas enlouqueceram e ameaçaram precipitar a parada do ônibus para descerem e procurarem as vias de fato, e nesse caso, não seria nada surpreendente por vir deles, que eram membros de uma das mais tradicionais torcidas uniformizadas daquele clube, e com longo histórico de truculência no seu currículo.
Não pararam, mas se viessem, não teriam moleza, pois houvera no local, também, um bom contingente de adeptos do Heavy-Metal, os tais headbangers e esses sujeitos também não gostavam de levar desaforo para a casa.
A seguir,
no dia 10 de abril de 1993, tocamos no "Garage Rock", uma casa de shows
que localizava-se em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
Tocamos
junto com bandas como: "Anjos dos Becos", "Jazzumbi" e "X-Rated".
O
público foi muito bom, com cerca de mil pagantes e como o local era
enorme (literalmente uma garagem imensa), nós organizamos um futebol improvisado entre
bandas para espantar o tédio da demora entre o soundcheck e a hora do
show.
Começou com uma tampinha de garrafa, mas logo improvisaram a clássica bola de meia, ao conferir mais "qualidade" à disputa...
Como eu salientei acima, acho que desde os Novos Baianos, o futebol tem papel importante entre Rockers brasileiros.
Outra curiosidade engraçada foi que um membro de uma das
bandas foi surpreendido pelos seguranças da casa, a vontade com uma
groupie, embrenhados na parte abaixo do palco, entre as estruturas metálicas de
sustentação.
Não vou revelar quem foi, mas digo que era um conhecido nosso.
E o próximo compromisso, foi participarmos do tradicional programa ao vivo da Rádio Brasil 2000 FM, que era muito cobiçado pelas bandas, não só de São Paulo, devido à sua boa audiência e sobretudo pelo formato. Isso por que foi um programa que permitira às bandas, tocarem por uma hora, com entrevista intercalada.
E assim, apresentamo-nos no dia
3 de junho de 1993, com a presença de cerca de dez pessoas convidadas apenas, pela
dimensão diminuta do estúdio e fomos entrevistados pelo radialista/jornalista/locutor
Osmar "Osmi" Santos Junior, idealizador do programa.
Eis abaixo uma versão de "The Shadow of the Light", dessa apresentação na Brasil 2000 FM, sob um promo criado em 2015, com a ajuda dos produtores, Fernando Ceah e Jani Santana Morales, especialmente para o YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=R1RQ7CGKEOg&feature=youtu.be
Abaixo, a versão de "Cracked Actor", do David Bowie e que adorávamos tocar, principalmente eu e Chris, por que gostamos muito do mestre camaleão, dos "Spiders From Mars" e toda a cena do Glitter Rock britânico e setentista.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=nA1oAjzFB6Y
Foi uma apresentação muito divertida com muitas piadas no ar, é claro, ao serem proferidas pelos humoristas natos do "Pitbulls on Crack". Tocamos oito músicas nessa apresentação no programa, "Clip Independente": "Under the Light of the Moon", "The Shadow of the Light", "Cracked Actor", "Answer Machine", "Back in the Junkyard", "Killers", "Never Mind", "Candle Light" e "Ticket to Ride".
"Cracked Actor" e "Ticket to Ride" foram releituras, do David Bowie e Beatles, respectivamente.
Dali em diante,
começariam as gravações da nossa participação na coletânea: "A Vez do
Brasil", nome do programa da 89 FM, que ironizava a famigerada, "A Voz do
Brasil", e só tocava bandas nacionais (uma atitude nobre, sem dúvida).
E nesta
avaliação dos "melhores" de 1992, da Revista Bizz (que era a "Bíblia" dos
formadores de opinião, infelizmente), o Pitbulls on Crack teve menção
espetacular, ao meu ver.
Sobre a enquete que avaliou os "melhores de 1992" na cotação da revista "Bizz", nota-se
que o "Skank" ainda era um ilustre desconhecido fora do mainstream e eu recordo-me de que os seus membros autoclassificavam-na como uma banda de
reggae nessa época, mas já despontavam, e questão de dois anos depois,
passariam a visitar a parada de sucessos do mainstream. O mesmo caso de Daniela Mercury, que estouraria como cantora de "axé music", logo a seguir, nos holofotes do mundo mainstream.
Quanto aos demais, foram nomes que insinuavam-se pelo underground, como "Mickey Junkies", "Virna Lisi", "Yo-Ho-Delic", e "Gothic Vox".
É curiosa a presença do "Second Come", em primeiro lugar, pois ao que consta-me, e corrijam-me se eu estiver errado, essa banda não aconteceu, simplesmente.
"Justa Causa" é outro exemplo que não deu em nada e convenhamos, nem no âmbito underground eu sabia de sua existência à época.
"Exhort" foi uma banda de Heavy Metal formada ainda nos anos oitenta, cujo baixista, Nando Machado, fora meu aluno e ele é irmão do Felipe Machado, este, guitarrista do "Viper" e jornalista.
O "Gangrena Gasosa" fora uma banda de heavy-metal extremo, mas mantinha como mote uma curiosa temática, pois todos os seus membros usavam vestimentas ritualísticas do candomblé e as músicas giravam em torno da terminologia usada entre os membros de tal religião afro-brasileira. Por esse detalhe, reputo ser bastante criativa tal ideia pois investira no surrado espectro do satanismo/ocultismo/demonologia, exaustivamente usado por bandas internacionais desse gênero, mas sob criatividade, ao fazer uso do folclore genuinamente afro-brasileiro para impressionar os seus fãs.
Finalmente, o tal de "Xicotinho e Salto Alto" (escrito com X, errado, eu sei), foi uma incógnita na minha percepção. O que foi aquilo, uma dupla sertaneja, ou uma banda de rock satírica?
Para efeito de autobiografia, chama-me a atenção que no virar de 1992 para 1993, nós tenhamos suplantado o "Yo-Ho-Delic", que vinha de uma labuta mais antiga que a nossa, desde 1991, pelo menos. Além de ter maior longevidade, tal banda quando começamos a dar nossos primeiros passos, era a mais "hypada" nas conversas de bastidores pelas casas noturnas do circuito indie de São Paulo e também nas rodinhas de conversas frequentadas por jornalistas, músicos e produtores musicais.
O fato de
nós a termos superado na reta final, mesmo por entrarmos na corrida depois,
foi algo extraordinário sob o nosso prisma (eu sei que essa banda lançou um disco solo logo a seguir) e explica um pouco a razão dessa banda ter sido
preterida pela gravadora, a constar da coletânea e nós confirmados.
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