Muito bem, o Brasil era (é) assim, e dessa forma, acostumamo-nos a lidar com um mercado fechado em monopólios vergonhosos, a deixar as migalhas a serem compartilhadas por centenas de desafortunados (e dos anos 2000 em diante, creio que nem mesmo as migalhas mais são passíveis de serem encontradas por quem não tem dinheiro e influência).
Bem, dentro dessa realidade, o Pitbulls on Crack angariou números interessantes, apesar de ter formatado a sua carreira a cantar em inglês, ou seja, um erro estratégico, se a intenção fora buscar um mínimo de competitividade no mercado nacional.
Mesmo assim, o esforço empreendido ao longo desses cinco anos, nem foi tão sacrificante assim, visto por outro aspecto, porque o Pitbulls on Crack sempre foi uma banda a operar em um esquema de baixo esforço, a beirar o relaxo até, na forma que realizou a sua autogestão (no bom sentido do termo, que não se ofendam os demais membros da banda, por favor!). Dessa forma, por considerar o tipo de cuidado pessoal que a banda mantinha, esses números foram até surpreendentes.
O
"Canto do Cisne" passara para a banda, mas nós não tínhamos essa percepção e em
janeiro de 1997, a luta continuou como uma determinação de nossa parte, ao menos logo no começo.
As duas únicas
fotos disponíveis dessa entrevista/show ocorrido na emissora Brasil 2000 FM. Na primeira acima, eu (Luiz Domingues), Deca e Toni Peres Rodrigues, nosso roadie na ocasião. No canto direito, só em detalhe: Zé Reis. Na foto abaixo, entre Chris
Skepis e eu (Luiz Domingues), a presença da fotógrafa, Myrna Zapata, que assistiu-nos
no estúdio daquela simpática emissora. As fotos são do acervo pessoal de Myrna Zapata. Click: desconhecido
Desta vez, tocamos no dia 27 de
janeiro de 1997, com cerca de vinte pessoas a assistir-nos, sendo alguns amigos e
outras pessoas que foram sorteadas pela emissora, para assistir ao vivo a nossa performance e que ganharam discos como brinde.
Concedemos entrevistas também para algumas revistas do meio musical (Rock Brigade, Cover Guitarra), e jornais menores, incluso um da cidade de Jundiaí-SP, que deslocou um repórter para entrevistar-nos na sede da gravadora em São Paulo.
Ainda
em janeiro, houve uma outra grande oportunidade no campo da mídia, ao concedermos entrevista
para o ótimo programa cultural, "Metrópolis", da TV Cultura de São Paulo.
A equipe de reportagem marcou o apontamento conosco na sede da gravadora, e com a "montanha" de latas, como cenário, o repórter, Cunha Junior, foi muito simpático conosco.
O problema interno da banda, foi que eu tentava falar sério em entrevistas e os demais insistiam nas
brincadeiras e assim, muito do esforço que eu fiz para implementar um conceito com o
aparato, foi diluído completamente por tais pilhérias, sob uma espécie de auto-sabotagem.
O Deca insistira em demolir o conceito Hippie, ao brincar com clichês surrados e depreciativos como: -"eu sou Hippie, porque não tomo banho" e o Chris se portou sempre a alfinetar-me por eu não gostar da "revolução Punk de 1977"...
Claro que eram brincadeiras
da parte deles, mas tal atitude aniquilara a minha tentativa para fazer a
banda e sobretudo o conceito do resgate 1960 & 1970, ser levado a sério na
mídia. Eis abaixo a entrevista para o programa "Metrópolis" da TV Cultura de São Paulo:
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=q9SnbIBkmkY
Bem, ao se pensar por outros termos, aquilo fora tudo uma farsa de fato e o Pitbulls on Crack nunca teve nada a ver com tal conceito e só eu estive a delirar com esse sonho de promover um resgate estético. Tanto que meses depois, eu saí da banda para fundar o "Sidharta", farto por lutar em vão com uma banda onde tal conceito não tinha mesmo nada a ver com os meus propósitos.
E
a primeira apresentação do ano deu-se com um show coletivo, um daqueles
festivais sem sentido, típicos dos anos noventa, com muitas
bandas escaladas e mais músicos no camarim, do que público no recinto do auditório.
Uma
vista geral do Ginásio da Portuguesa de Desportos, no Canindé, em São
Paulo, em foto de outro evento, nada a ver com esta narrativa
Graças a um convite do pessoal do grupo "Velhas Virgens", um festival desses, realizado no Ginásio da Portuguesa de Desportos, seguiu essa cartilha noventista, pela qual o Pitbulls on Crack passara por tantas vezes.
Foi mais uma noite desoladora e com muita reverberação sonora, dentro de um ginásio vazio e com uma porção de bandas oriundas de vertentes agressivas tais como o Hard-Core, Punk-Rock, Heavy-Metal, e que tais (ou seja, uma turba formada por garotos trajados com bermudas e a repetir à exaustão o bordão típico da época: -"é ducaraio, véio"...). De fato, foi isso mesmo, mas com a conotação às avessas, em minha opinião, no pior sentido da metáfora.
Bem, desta vez, foi um show beneficente, que ocorreu em 22 de março de 1997, a movimentar duzentas pessoas, em um ginásio que abrigava de sete a oito mil pessoas, tranquilamente. O meu único prazer nessa noite, foi subir ao palco e ficar a mirar para aquelas arquibancadas vazias e relembrar os incríveis shows de Rock, MPB e Jazz que eu ali assistira nos anos setenta.
De Rick Wakeman a Joe Cocker,
de Mutantes a Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Novos Baianos, Chick
Corea, John Mclaughlin, O Terço, Jards Macalé e tantos e tantos
outros.
Bem, foi um momento muito particular meu ao relembrar tais fatos ocorridos entre 1975 e 1978 e em 1997 eu estava ali, em cima do palco a tocar, como sonhara naqueles anos setenta.
Porém, foi uma reminiscência fugaz, pois a realidade ali naquele momento, não foi a ideal. Gostaria de tocar no ginásio da Portuguesa de Desportos, em outras circunstâncias, e não em meio àquela deprimente companhia, daqueles garotos incautos e postura anti-Rocker.
Enfim, foi mais um prenúncio de que o ano de 1997 não traria
grandes avanços para o Pitbulls on Crack, e pelo contrário, apontaria a decadência do
que construíramos nos cinco anos de existência da banda. Fram os últimos estertores, o tal "canto do cisne"...
O próximo compromisso foi em um bar pequeno e de certa forma a trazer um pouco da atmosfera do começo da banda, em 1992. Mas houve uma diferença, gritante: o que fora algo normal e estimulante naquela fase primordial, agora, soara como um sinal decadente.
Entrevista concedida ao jornalista, Régis Tadeu, para a Revista "Cover Guitarra", no início de 1997
Uma situação foi tocar em diversas pocilgas bem no início das atividades da banda, sem disco, vídeoclip e portfólio e muito diferente foi a sensação de estarmos de novo a tocarmos em uma casa pequena, depois de tantas oportunidades perdidas e diante de um reduzido público.
Reduzido, aliás,
é um conceito relativo, pois nessa noite de 12 de abril de 1997, cerca
de cem pessoas estiveram presentes no Black Jack Bar. Para os padrões
daquela pequena casa, localizada no bairro do Alto da Boa Vista, na zona sul de São Paulo, fora
na verdade, um bom público. Mas nessa altura dos acontecimentos para o Pitbulls on Crack não representou nenhum alento.
O dado positivo desse evento, foi a presença de duas bandas de alunos meus, na abertura do show. Uma delas foi o "Eternal Diamonds", do meu aluno, Alexandre "Leco" Peres Rodrigues e de Rodrigo Hid e Fernando Minchillo, com o seu som que mesclava a psicodelia sessentista, mais toques de Prog-Rock setentista e uma dose generosa de Heavy-Metal noventista.
E o "Essex", banda do meu aluno, Ricardo Schevano, com o seu irmão Marcello, e também com Toni Peres Rodrigues (irmão do Alexandre, meu aluno, e baixista do Eternal Diamonds), e Marcelo Burani, sobrinho do baterista, Diógenes Burani, ex-baterista da Gal Costa e do Moto Perpétuo, banda onde Guilherme Arantes, fora tecladista.
O Essex era bem Heavy-Metal, mesmo, apesar do meu aluno Ricardo, e seu irmão Marcello, gostarem bastante de sonoridades 1960 & 1970, também.
Não nego, muito do sucesso desse evento, veio do esforço conjunto e decorrente da presença das bandas de meus alunos e neste caso, do meu "exército Neo-Hippie" a prestigiar a noitada, naturalmente.
O Pitbulls on Crack tocou relaxado como sempre, sem reclamações entre os seus membros, sobre o momento que atravessava, aliás, como foi a praxe dessa banda, em seus bastidores.
Animou-nos um fato extraordinário que estava fechado como perspectiva e lembrou muito o começo da banda, mas por outro aspecto: oportunidades oriundas dos contatos do baterista, Juan Pastor, graças a sua posição dentro da Rádio 89 FM.
Nesse aspecto, estávamos
escalados para participarmos de um evento de médio para grande porte, com o
apoio daquela estação. Portanto, lembrou-me bastante o período 1992-1994,
quando tivemos muitas chances dessa monta.
Antes de prosseguir na cronologia dos fatos, abro um parêntese para falar do encarte do CD e do livro denominado, "Pitzine", que foi incorporado à lata correspondente ao lançamento do disco.
Sobre o encarte, as fotos dos membros da banda, foram obtidas em uma sessão realizada em um estúdio no bairro do Bexiga, zona central de São Paulo, chamado: Pugliesi Privato Comunicações e ocorreu em um domingo, de outubro de 1996.
O
fotógrafo em questão, foi uma indicação minha, ao tratar-se de um velho amigo
dos anos oitenta, chamado, Carlos Muniz Ventura, que acompanhou a
carreira d'A Chave do Sol e além da amizade pessoal conosco, fez muitas fotos
promocionais dessa banda, desde 1984, além de fotos dos encartes do EP
de 1985 e do LP The Key, em 1987.
Nessa sessão, quase nenhuma foto foi aproveitada posteriormente, porque os companheiros vetaram a maioria dos clicks, ao alegarem que havíamos ficado muito caricatos com o uso e abuso de uma suposta indumentária hippie sessentista.
Bem, houveram algumas que ficaram um pouco exageradas mesmo, e de fato, uma caracterização pesada assim requeria uma produção extra. Não foi port culpa nossa exatamente e muito menos do Carlão, fotógrafo.
Uma perspectiva
seria uma sessão de fotos de uma banda como o "Black Crowes",
com os seus componentes caracterizados como Rockers sessenta-setentistas, com uma naturalidade
incrível e bom gosto garantido, visto ser muito bem direcionada a sessão em termos de produção, mas outra, seria arrumarmos
roupas supostamente a ver com essa vibração e sem um olhar mais avalizado de uma
pessoa entendida de moda (e sob rígida compreensão da época, em
questão), ao irmos de peito aberto para uma sessão e a corrermos o risco da
caricatura, do mau gosto kistch, exagero etc.
Lembro-me que a própria arte-finalista da capa do disco, Marina Yoshie providenciou-nos o patrocínio de um brechó renomado na Vila Madalena e nessa loja, nós reforçamos o figurino ao apanharmos algumas peças para nós.
Mas não havia nada "100% hippie sessentista" disponível, portanto, abastecemo-nos com peças que lembravam vagamente tal intenção. A única peça marcante que achamos, ficou com o Chris e tratou-se de um colete de pele de carneiro, impossível para ser usado no calor tropical do Brasil, mas realmente chamativo. Quando o Chris o vestia, lembrava muito o Graham Nash em seus mais gloriosos tempos como freak das montanhas.
Nesses termos, eu também concordei que cometemos erros nessa sessão, por absoluta falta de noção estilística, sem portanto, capacidade de discernimento para distinguir o estilo "Hippie Chic" que ambicionávamos, em detrimento de uma caracterização infeliz que remeteu-nos ao uso de fantasias mal arrumadas para festas temáticas sem noção.
Infelizmente, não tenho nenhuma cópia sequer dessas fotos promocionais, para publicar aqui. Os negativos ficaram com a gravadora.
No caso do
encarte, as fotos foram aproveitadas, justamente porque foram closes
dos rostos, com alto contraste de luz e sombra, sob uma proposta do Carlão,
ao visar buscar inspiração explícita no álbum, "With the Beatles", um
clássico referencial nessa concepção de rostos obscurecidos por sombras.
Todo o texto do encarte foi escrito por eu mesmo e traduzido para o inglês, pelo Deca. Eu também tive crédito por ter sido o responsável pela inspiração toda da atmosfera sessentista que norteou o lay-out e por ter acompanhado a sessão de masterização do álbum.
O meu "exército Neo-Hippie" também ganhou menção na lista de agradecimentos, creditados como: "time de adolescentes do Luiz".
Sobre a masterização, eu realmente fui o único representante da banda, no estúdio do Egídio Conde, em uma manhã de outubro de 1996.
Mas em nada contribuí para o processo, pois por ser um procedimento técnico e cujo caráter digital era inteiramente novo para a minha compreensão na ocasião, a minha ajuda foi a de manter-me quieto o máximo que pude, para não atrapalha-lo.
Nos poucos momentos em que conversamos, disse-lhe que o acompanhara nos anos setenta, ao prestigia-lo a tocar com bandas de alto calibre artístico como o "Moto Perpétuo" e "Som Nosso de Cada Dia", e de fato, o Egídio fora um ótimo guitarrista para essas duas bandas.
Ele ficou muito surpreendido por eu saber dessas particularidades de sua carreira e respeitá-lo por isso. Ora, certamente que ele não conhecia-me e não poderia supor que eu mantivesse essa minha vivência Rocker setentista, mas chega a ser irônico de certa forma, para quem está a ler a minha autobiografia, pela obviedade da informação.
Outra
ideia que eu tive e foi aprovada por todos, foi a da inclusão de uma
citação a um "guru" indiano. A minha intenção não foi fazer pilhéria, mas
sim homenagear as bandas sessenta-setentistas, das quais muitas, detinham
um "guru" indiano que seguiam, admiravam etc.
Mas claro, foi o ambiente padrão do Pitbulls on Crack e o Chris Skepis sugeriu de imediato um nome indiano com duplo sentido, que foi aprovado pelos demais em aclamação!
Teve que vencer a opção pela galhofa, como marca registrada da verve humorística dos três e assim, foi grafado (em inglês): "Toda a glória para o nosso Guru Indiano, Batumahapa Grandhi". Acho que explicar o sentido malicioso desse nome fantasia, não é necessário.
E também
concordamos em dedicar o disco ao Arnaldo Baptista e por sugestão do
Chris, o designamos pela grafia brincalhona com a qual, ele mesmo,
Arnaldo, costumava usar, para ser lida com a fonética em inglês: "R Now
Do".
Cabe acrescentar que o Arnaldo foi convidado para participar da festa de lançamento do CD, mas recusou o convite por motivos particulares.
Mesmo assim, ele foi simpático ao receber um Kit da lata, como um presente de nossa parte e retribuiu, ao dar-nos quatro camisetas com pinturas suas, feitas a mão. Usei a minha no show e em muitos outros shows de outras bandas por onde passei, doravante.
Ao finalizar,
todo o lay-out seguiu o padrão do aparato de lançamento (na verdade, o
contrário), com bastante motivação psicodélica, citações à Pop-Art e
foguetes espaciais ao estilo Apolo 11, além é claro, da presença da
cadelinha pitbull.
Crédito total e mérito de Marina Yoshie, por isso tudo.
É discutível, portanto, nesse sentido a inclusão de um pacote de sopa, e um chaveirinho da Coca-Cola, supostamente a insinuar a Pop-Art sessentista. Bolinhas de gude, poderiam remeter à infância vivida naquela década, com a sugestão desse tipo de brincadeira prosaica, mas foi algo muito vago e certamente sem conexão com a contracultura, flower power, ou movimentos correlatos de ordem estéticos ou sociopolíticos daquela década.
O mesmo
raciocínio para a mola, que foi chamada como "psicodélica" na
propaganda, mas na verdade, mesmo sendo bem colorida, não caracterizava
tal atributo, por ser apenas um brinquedo infantil sem apelo algum com o mote.
Deu para
entender a inclusão de um pacote de ração para cães, por conta do nome
da banda citar a raça canina, Pitbull, mas outros itens, nada tiveram
ver com o conceito sessentista, necessariamente.
Diante dessa panaceia e tirante a inclusão de um pacote de incensos indianos e uma vela, onde sugerir-se-ia que fosse acendida durante o show de lançamento, acredito que o livro, pelo seu teor das temáticas abordadas, foi mesmo o item incisivo nesse aspecto.
A tal "carteirinha de Hippie-Mor" não agradou-me, pois eu sabia de antemão que tornar-se-ia um alvo fácil para os detratores de plantão, sendo possivelmente alvo para piadas prontas. A inclusão de um ingresso para o show de lançamento do CD, nas latas vendidas até a data, foi uma boa medida de marketing, mas em termos de conceito, foi neutro, acredito.
Portanto, na força do texto desse livro, residira o único elo de seriedade para tratar a temática e mais uma vez, eu contribuí bastante, tanto no direcionamento editorial, quanto através da elaboração de textos, propriamente ditos.
O
editorial oficial, no entanto, foi escrito pelo diretor do selo Primal,
subordinado da gravadora Velas. Foi ideia de Rodrigo P. Martins, filho
de um dos donos da Velas, o poeta/letrista, Victor Martins, parceiro de
Ivan Lins em muitas composições famosas na MPB, e Ivan era um dos
sócios da Velas, também.
Eis a transcrição literal do que ele escreveu:
A comentar as colocações feitas em forma de editorial por parte do Rodrigo Martins, digo que gostei de seu raciocínio. A síntese do que achei mais significativo em sua explanação, veio no final do texto, quando ele afirmou que tínhamos uma transição de milênio alvissareira, justificada pela própria capacidade da Pop-Art para recriar-se, portanto, ele afirmou enxergar nesse projeto, algo além da homenagem, saudosismo retrô, ou lágrimas derramadas por um passado que não volta mais.
Era exatamente o que eu pensava e buscava, pessoalmente, mas que só fui aproximar-me mesmo, através do projeto Sidharta, que aconteceu depois que saí do Pitbulls on Crack em 1997 e posteriormente alcancei através da fusão do Sidharta com a Patrulha do Espaço (leia tudo a respeito, detalhadamente, nos respectivos capítulos dessas duas bandas por onde atuei).
Curioso apenas, o fato de que ele, Rodrigo, nunca verbalizou-me tal pensamento seu. Só ao ler seu editorial, tomei conhecimento de sua visão sobre o conceito todo.
Por outro lado, as suas atitudes no cotidiano ao contratar bandas orientadas por estéticas antagônicas, demonstrara que o ideal não foi algo vital para ele, artisticamente a falar e que o lado comercial em ter que gerir um selo com pressões por resultados financeiros imediatos, norteara os seus esforços. Não cabe nenhuma crítica pessoal nisto que afirmei acima, mas apenas uma constatação concreta.
O segundo
item do livro, foi a descrição sumária dos produtos que constavam na
lata. Tal elaboração do texto foi feita pelo marqueteiro da gravadora e justiça
a ser feita, o grande viabilizador do aparato ter materializado-se, o senhor, Alexandre Madeira.
Neste caso eu não tenho nada a comentar, pois foi uma descrição meramente em formato de bula, como sugeriu o subtítulo.
A seguir, eis que um micro histórico da banda foi sugerido-me para ser publicado, e eu senti-me muito incomodado, eticamente a falar, em ter que assinar tal texto.
Portanto, o assinei sob o pseudônimo de: "Zeca Flocos", para homenagear
um dos jornalistas/críticos de Rock mais divertidos que eu conheci,
chamado: Ezequiel Neves, que também usava a alcunha de: "Zeca Jagger".
A despeito do pseudônimo engraçado, a citar Ezequiel Neves de uma forma subliminar, esse super resumo da carreira da banda até então, cumpriu a sua função, sem nenhuma intenção de fazer graça, como certamente, Zeca Jagger o faria.
O próximo texto também foi de minha autoria, e o pseudônimo que usei, diferente do anterior citado, foi o de Tony Bauducco. Ao contrário de "Zeca Flocos", que eu usei somente para esse trabalho, Tony Bauducco já existia como uma opção de pseudônimo, desde 1994, quando o criei para assinar três resenhas em um fanzine chamado: "In Rock Signo Vinces", como convidado de seu editor.
Existe uma
longa explicação sobre a criação desse pseudônimo e que encontra-se
disponível nesta autobiografia, no capítulo: "Sala de Aulas". Vale a pena
ler, pois Tony Bauducco teve uma razão de existir.
Confesso, fui bastante incisivo nesse texto, mas modéstia a parte, muito coerente com a questão da temática que queria implementar para a banda. A alfinetada explícita na mentalidade pós-1977 deu-se no trecho: ..."tantas correntes, tantas influências e uma só amálgama: a música melodiosa, legado máximo dos anos 1960 & 1970, que há muito tempo foi deixada de lado no Rock".
A frase
final também é significativa: "talvez esteja aí a grande homenagem que a
banda presta aos seus grandes ídolos dos anos 1960, ao resgatar a melodia
para o Rock" Ou seja, a opção pela música tosca como uma bandeira estética proposital, gerou um estrago ao meu ver.
O próximo texto, falou sobre a questão da Era Espacial, ao tentar estabelecer um elo entre a corrida espacial, pelo lado do avanço científico, a guerra fria, que impulsionou tal esforço da parte das duas super potências para tal e o lado lúdico do sonho, que sempre move a imaginação, portanto leva o mundo para o avanço.
E como um membro da geração, "Baby Bloomer", que sou, claro que essa faceta da década de sessenta também soa-me simpática. Usei outro pseudônimo lúdico de minha infância: Louis Smith Robinson". Estabeleci, neste caso uma livre expressão "anglo-americanizada" para o meu nome, Luiz, ao traduzi-lo para "Louis" e acrescentei o sobrenome duplo: "Smith Robinson".
Com isso,
a minha homenagem ficou prestada aos personagens do Dr. Zachary Smith, e Will
Robinson, de "Lost in Space" ("Perdidos no Espaço"), uma das séries de TV
que mais influenciou-me na década de sessenta pelo aspecto lúdico, certamente.
O próximo assunto extrapolou o conceito de arte simplesmente e foi além do item cotidiano. Sendo fundamental para entender-se toda a magia sessentista, a questão da contracultura, de onde mil ramificações das mais variadas motivações descende, fez-se mister para ser entendida, a dar substância ao mote geral deste conceito do disco e de seu aparato.
Claro, ao elaborar um texto conciso e coloquial, estabeleci um apanhado geral sobre a contracultura como um todo e ao final lancei uma pergunta emblemática: "por que não sonharmos novamente?"
Tal indagação teve a força da indignação de quem nunca conformou-se com o surrado conceito de detratores da Era Aquariana e que usaram a frase: "O sonho acabou", para referir-se ao movimento hippie, com desdém.
Depois de anos, esteve patente que se o sonho morrera como tanto queriam (e trabalharam incisivamente para concretizar, pela formação de opinião a desgastá-lo), o pesadelo advindo, jamais valeu a pena e que voltar a sonhar seria, portanto, uma mera questão de se querer sonhar novamente, como uma expressão livre.
Como uma semente, tal conceito ficou registrado no livrinho.
Tal texto
foi assinado por um último pseudônimo que criei, chamado: "Tim Lee" e
que foi uma evidente referência ao Dr. Timothy Leary, o chamado "guru"
da contracultura sessentista.
Gosto do texto todo, e em especial da frase final, onde ele diz: "o Pop influenciou a massa, e Warhol deu à mesmice, a visão e o sentido erudito de quem aprecia árvores em um bosque".
Ainda
a constar do encarte, há quatro fichas individuais dos membros da banda.
Mediante informações que eles forneceram-me, e eu mesmo escrevi a ficha de
cada um, incluso a minha, mas sem assinar nada, ao assumir a
característica institucional do encarte. Sem nada muito significativo a
comentar, tais fichas seguiram o padrão de press-release de gravadoras
para alimentar os órgãos de imprensa.
Para fechar, duas páginas foram reservadas para a ficha técnica específica do livro, em que a Marina Yoshie foi creditada pela produção gráfica, a banda e a gravadora pelo conceito, Alexandre Madeira pela supervisão de produção e toda a equipe da Primal foi citada.
Também foram publicados os logotipos dos patrocinadores do aparato da lata e uma página inteira foi dedicada à Coca-Cola, que foi a patrocinadora master do projeto.
Essa foi a
concepção e execução do livro que acompanhou a lata e posso
afirmar, foi o item mais robusto, artisticamente a falar, que deu amparo ao
CD, dentro desse aparato de divulgação do produto.
Ao ir além,
a se tratar de um dos poucos itens dessa ideia tresloucada toda, no qual houve uma
seriedade e profundidade para tratar do conceito todo que eu sonhara
imprimir.
"Winding Moon" ( Chris Skepis)
https://www.youtube.com/watch?v=Ak3wmq2e3QM
A primeira música, Winding Moon, tem uma feição Glitter-Rock setentista bem acentuada, mas acredito que graças aos fraseados de baixo que eu criei, bem em cima da escola clássica cinquentista. Talvez não tivesse tal característica se um outro baixista com mentalidade diferente a tivesse gravado. Dessa forma, parece uma canção “outtake” de algum álbum do David Bowie ou “Mott the Hoople”, dos anos setenta.
https://www.youtube.com/watch?v=IKjqQ9per_0
“Dead News”, a segunda faixa, é baseada em um riff orientado pelo “Acid-Rock” sessentista, explícito. Parece super sessentista em essência, mas eis que um maldito reverber, ultra exagerado na caixa da bateria faz com que fiquemos amarrados aos anos oitenta, lastimavelmente. Que mania desses produtores que gostavam dessa pasta oitentista horrenda e nesse caso, foi o ônus que levamos pela mão de ferro exercida pelos responsáveis pela mixagem e da qual não conseguimos dobrar, na queda de braço.
https://www.youtube.com/watch?v=Fq7QB4_0D2E
"The Dying Day" (Chris Skepis)
https://www.youtube.com/watch?v=sxymmOZxeQc
https://www.youtube.com/watch?v=eOXv-TaExHk
https://www.youtube.com/watch?v=LurbhaDzdwI
“Nevermind” foi uma canção emblemática para o Pitbulls on Crack e reveladora também. Ao mesmo tempo em que a banda ganhou uma aura sessenta-setentista ao longo do desenrolar de sua carreira, tal canção marcava território para nos fazer lembrar que a despeito de qualquer devaneio nosso e principalmente de minha parte, o que a banda foi na verdade, revestira-se de um cunho indie noventista.
https://www.youtube.com/watch?v=ogxsAuZJjBY
“Down at the “Hellhole”, parece um Hard-Rock a La “Aerosmith”. Contém um robusto riff de guitarra, órgão Hammond proeminente e uma melodia bem clássica, nesse sentido.
https://www.youtube.com/watch?v=SwbBAHfuy3s
https://www.youtube.com/watch?v=ML9ZfTnFey4
https://www.youtube.com/watch?v=4qO-aCYPyYs
“Death on The X-Mas Day” é um Rock bem vigoroso, novamente versado´pelo estilo do “Aerosmith”. Mediante o uso de slide guitar rasgada e andamento rápido, conta com um piano super Rock’n' Roll com o sabor cinquentista, nas melhores tradições de Jerry Lee Lewis, executado da parte do ótimo Johnny Boy, nosso convidado.
https://www.youtube.com/watch?v=n1jkQBlr3xU
“You’ve Got on the Run” foi uma outra canção surgida nos primórdios da banda. Ela detém um potencial Pop, sem dúvida, e acertadamente ao meu ver, a gravamos sob um andamento bem mais lento do que a tocávamos ao vivo.
https://www.youtube.com/watch?v=VW8sZgkXu0s
Volto à cronologia dos fatos, no próximo capítulo.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário