Após o show realizado no Centro Cultural São Paulo, nós contabilizamos mais matérias em jornais e revistas, a conterem resenhas sobre o novo disco, ".ComPacto", além de entrevistas com a banda, e também individualizadas com os componentes, principalmente transcritas através de fanzines e revistas especializadas para músicos.
Uma longa
brecha na agenda nos deixou fora de combate entre agosto e novembro,
portanto, a se tratar como um hiato raro e incômodo, mas além das matérias a surgirem na
imprensa escrita tradicional, outros fatos ocorreram em termos de exposição midiática.
O primeiro e que achamos até estranho pela deferência pouco usual, veio da MTV...
Falo isso pela constatação óbvia, ou seja, a MTV Brasil, que nascera em 1990, e nunca fora simpática ao Rock vintage, a não ser em manifestações isoladas perpetradas por fatos não usuais e graças ao empenho de poucos abnegados Rockers genuínos ali infiltrados, (casos de Gastão Moreira e Fabio Massari e de certa forma, Kid Vinil, Luiz "Thunderbird").
Os demais "DJ's" eram absolutamente desconectados com a música, principalmente as garotas, que eram selecionadas por serem bonitas, e/ou por conterem vida profissional pregressa como modelos e atrizes, ou aspirantes a.
Portanto,
nunca esperávamos obter alguma exposição ali naquela emissora, que se dizia "especializada" em música, mas que na prática, mantinha uma linha de
atuação bem equivocada, sob muitos aspectos.
Principalmente se levarmos em conta que se nos seus primeiros anos poder-se-ia dizer que a MTV priorizou a música, ainda que com mentalidade decepcionante, a realidade apontou que a partir da metade dos anos noventa, a situação piorou ainda mais, pois a emissora começou a adotar a postura popularesca, ao abrir caminho para o mundo super comercial da música e paralelamente a trazer elementos alienantes em termos de entretenimento, mediante programas baseados em "games", gincanas infantojuvenis e programas eróticos, ao reduzir a pouca inteligência que ali existia, e era pouca, ao se colocar praticamente no patamar zero e muitas vezes, abaixo desse parâmetro.
Dessa
forma, não esperávamos nada daquela emissora e nunca nos preocupávamos
em lhes enviar releases sobre a nossa agenda de shows, tampouco a anunciarmos lançamentos de
discos.
Contudo, tínhamos um aliado na redação da Revista da MTV, ao tratar-se de um abnegado jornalista chamado, Daniel Vaughan, que era aficionado de Classic Rock, e reconhecia em nós, o valor pelo resgate estético que estávamos a promover a partir do lançamento do CD "Chronophagia".
Portanto,
mesmo que esse jornalista não fosse uma voz forte naquela redação, que continha a mentalidade
parecida com redações de órgãos mainstream com Folha de São Paulo e Revista
Bizz, ou seja, com um comprometimento, ainda que velado, com o manifesto Punk de 1977, como modelo editorial a ser seguido, é fato que o Daniel Vaughan se esforçar muito para nos inserir naquele universo.
E graças aos seus esforços, o nosso material promocional do CD ".ComPacto", foi parar na redação do "Jornal da MTV", um dos últimos programas da emissora nessa época que ainda falava sobre de música, o que chegava a ser irônico se considerarmos que a MTV nascera para ser a "Music Television".
E quem
apresentava o jornal diário, que tratava de notícias do mundo da música,
era o "DJ", Edgard Piccoli, um radialista que eu já conhecia desde os
anos noventa, quando este fora locutor da emissora 89 FM, e estação essa na qual a minha
banda nessa década, o Pitbulls on Crack, tanto interagiu. Aliás,
lembro-me do Edgard até a apresentar um show do Pitbulls on Crack ao vivo, como
mestre de cerimônia de um festival em que participamos no Ginásio do
Ibirapuera, em São Paulo, no ano de 1994.
VJ da MTV nos anos noventa e início dos 2000, Edgard Piccoli
Bem, claro
que ficamos muito contentes ao notarmos a capa do nosso disco exposta no
"Jornal da MTV", com o Edgard a falar bem do lançamento e com direito até
a colocar no ar e ouvir com atenção certos trechos do disco, ali ao vivo e a tecer breves comentários sobre cada faixa.
Em
setembro, fomos surpreendidos novamente, quando recebemos um telefonema
da MTV, ao nos solicitar desta feita, uma entrevista. Ora, será que a mentalidade instaurada dentro da mídia mainstream estaria a mudar, finalmente?
Isso foi um indício? A MTV pertencia a esse mundo maior da mídia, realmente, ou fora apenas uma emissora apenas intermediária entre esse patamar e o limbo do underground?
Eis abaixo a reportagem/entrevista com a Patrulha do Espaço, no Jornal da MTV:
https://www.youtube.com/watch?v=ZLufcw1lzD8
Entre julho e setembro de 2003, matérias, entrevistas e resenhas do novo álbum e sobre shows, foram publicadas em várias publicações.
Eis algumas delas com os meus comentários em adendo:
2) MTV - Nº 28 - Agosto 2003
"Nos anos 70, a banda acompanhou o
mestre Arnaldo Baptista e depois alçou um brilhante voo solo. Aqui, eles
continuam com uma nova formação comandada pelo batera Junior".
Neste caso, não está
assinado, mas eu tenho a quase certeza de que foi obra do jornalista,
Daniel Vaughan, o único profissional dentro daquela redação que dignar-se-ia a
escrever sobre uma banda não comprometida com a estética do Pós-Punk e
seus bisnetos dos anos 2000, os indefectíveis "indies".
Bem, sem
espaço para uma análise mais profunda, como ele certamente gostaria de escrever, nesta manifestação ele
fez uma breve nota, ao estilo "twitter", com poucos caracteres. Todavia, eu louvo a sua extrema boa vontade de sempre cavar espaços para nós, tanto
na revista, quanto na MTV, propriamente dita, enquanto emissora de TV.
3) Comando Rock - N° 1 - Agosto 2003
Nessa
entrevista com o Rolando Castello Junior, nenhuma pergunta fora do esperado foi feita
pela jornalista, Luiza de Carvalho em favor da revista Comando Rock, mas eu não posso deixar de achar curioso
que seja uma rara entrevista a falar sobre a nossa banda nessa ocasião, na qual a minha pessoa em específico, tenha
sido ignorada.
Não se trata de uma reclamação, tal fato nem me aborreceu na
época e muito menos hoje em dia, 2016,
porém, eu considerei inusitado esse fato, pois a moça simplesmente não me citou,
ao conversar diretamente com o Rolando Castello Junior e mencionar os outros componentes, Rodrigo Hid e Marcello Schevano, apenas.
4) Roadie Crew - Nº 5 - Julho 2003
"Se você quer saber um pouco sobre o
desenvolvimento do Rock no Brasil, pode começar escutando as bandas
Patrulha do Espaço e Made in Brazil.
Como aqui se trata de um novo lançamento do Patrulha, vamos ao que interessa.
A banda foi fundada em meados de 1977
por Arnaldo Dias Baptista (Mutantes) e além de outros fatos
marcantes, fez abertura para o Van Halen no Brasil, em 1983.
Após a saída de Arnaldo Baptista, o
Patrulha do Espaço teve como figura central o mestre e baterista Rolando
Castello Junior (Made in Brazil; Aeroblues; Inox, e El Tri), e
atualmente com Junior, Luiz Domingues no baixo e vocal (Ex-A Chave do
Sol; Pitbulls on Crack e Língua de Trapo); e os jovens Rodrigo Hid
(guitarra; vocal, piano; Hammond e Moog) e Marcello Schevano (guitarra;
vocal, Hammond;piano e flauta).
.ComPacto mostra um Rock and Roll bem forte (a la Jimi Hendrix, Cream, The Who, James Gang, Grand Funk), com guitarras distorcidas, toques do Rock Progressivo e uma série de improvisos de Jazz, notadamente pelas partes criativas de mini solos de bateria do mestre Junior. Mas não é só.
O som ainda traz guitarras suingadas, solos com muito feeling, um baixo pra lá de preciso e versátil, e vocais bem encaixados, cheios de dobras e coros. Outra coisa bem interessante na produção do material, é que a capa e o encarte apresentam um trabalho gráfico que reproduz com fidelidade um compacto de vinil como era costumeiro nos anos 70.
Faixas em destaque: Sendas Astrais, São
Paulo City, Terra de Minerais e Tooginger (solo de bateria do Junior,
em homenagem ao inglês, Edward Baker, "Ginger Baker"). Se quer ter a chance de ter em mãos mais um mais um registro da histórica Patrulha do Espaço, confira!"
Nota 8.0
Ricardo Batalha
Bem,
Ricardo Batalha escreveu uma boa resenha, a observar vários detalhes
interessantes e pertinentes, eu não tenho dúvida e isso foi louvável, pois
a sua predileção pessoal, e da revista que representava (representa) é o Heavy-Metal,
portanto, ele foi bem cordial ao manter essa deferência para conosco.
Discordo da sua percepção, no entanto, no sentido de supostamente haver o elemento "jazz" em nosso som, pois realmente ele não existia, mas foi o tal negócio: a se tratar de uma questão de referência pessoal do resenhista e aonde ele define como "jazz", talvez na minha percepção, ou de outra pessoa, soe como uma outra intenção sonora.
Achei que
ele linhas na lauda ao acrescentar dados sobre a história da banda nos
primeiros parágrafos e poderia ter usado tal espaço disponível na diagramação para falar
mais sobre o disco, no entanto, por esse aspecto também o entendo, pois ele deve ter julgado importante
situar o leitor padrão daquela publicação, visto ser um público em 99%
formado por adolescentes e apreciadores de Heavy-Metal, portanto, sem
muita noção sobre a história do Rock.
5) Revista Poeira Zine - Nº 2 - Agosto/Setembro 2003
"Qual será o segredo do bom gosto? Por que será que tantos buscam, mas só alguns conseguem colocá-lo em prática?
Bom, a Patrulha do Espaço com certeza possui essa genial receita de se executar o bom gosto, e exemplos não faltam nesse novo CD da banda. A surpresa já começa pela embalagem, uma autêntica réplica daqueles maravilhosos dos anos 60 e 70.
Os timbres são um oásis sonoro em pleno ano de 2003, mostrando que a galera estudou muito a sonoridade setentista. Outro ponto favorável é a curta duração do CD (27 minutos), o que com certeza acaba fazendo com que o ouvinte ouça o disco repetidamente, assimilando de forma muito mais prazerosa todas as faixas.
Para sentir o drama, o disco abre com "São Paulo City", uma espécie de "Mississipi Queen", moderna, com riffs mastodônticos e bateria avassaladora, cortesia do mestra Rolando Castello Junior. Em "Sendas Astrais", a bateria parece que dita a melodia da música, e de quebra, a faixa ainda traz um órgão Hammond e um Moog, criando um clima todo especial.
"Nem Tudo é Razão" tem como destaque a grande atuação de Rodrigo Hid. "Terra de Minerais" (a minha preferida), mescla distintas influências, que vão de "Yes" até "Allman Brothers", com o mérito de soar Patrulha pra caramba!
Também são muito dignas de notas as
atuações de Luiz Domingues no baixo, e de Marcello Schevano na guitarra,
teclados e também vocal.
Mesclando essas maravilhosas influências
e ainda por cima demonstrando muita personalidade, a Patrulha lança
mais um de seus melhores trabalhos".
Bento Araújo
Bom, neste caso é
difícil até comentar uma resenha feita por um dos jornalistas mais
preparados e especialista em Rock vintage. Bento Araújo é conhecedor da
matéria e não tenho nada para acrescentar, a não ser duas observações
preciosistas de minha parte, mas que em nada desabona a qualidade da
resenha excelente que ele publicou na sua revista.
Primeiro, acho que ele falou em tom de brincadeira e com a mais bela intenção de nos enaltecer, é claro, mas os timbres em questão, não foram objeto de estudo, mas foram obtidos apenas como um fruto da nossa sonoridade natural. E que se recorde o leitor, que pelo que eu já descrevi dessa produção em si, foi um milagre intercedido pelos "Deuses do Rock" e do Kôlla Galdez, que tenhamos chegado nesse resultado, diante das adversidades que tivemos e foram múltiplas, nessa gravação em específico.
Segundo
ponto: em "Terra de Minerais", ele enxergou influência do "Yes" e
"Allman Brothers". Duas bandas maravilhosas que exercem enorme
influência sobre todos nós da banda, mas nesse caso em específico, creio que o
"Focus" e o "The Who" tiveram mais a ver como fonte de inspiração.
Na revista Modern Drummer, nº 9, de setembro de 2003, o jornalista, Felipe Cirelli, entrevistou o Rolando Castello Junior e a conversa girou mais em torno dos timbres e concepção de gravação da bateria no novo álbum, e sobre alguns aspectos gerais sobre a sonoridade e estética adotada pela banda.
Um outro caso se deu a seguir. Foi muito boa a reportagem (e sem assinatura do autor), mas pelo teor e estilo, parece ser obra de Marcos Cruz, colaborador do Portal "Wiplash" e editor das revistas: "Rock Made in Brazil" e dessa em específico: "Metal Massacre".
Neste caso, ele observou tudo, da capa inusitada ao conteúdo do álbum, sobre a dubiedade existente no título do disco, estética & ideais e até a qualidade do áudio, que realmente deixava a desejar.
Enfim,
franco e honesto para tecer críticas construtivas, mas ao mesmo tempo
ao tecer elogios retumbantes à parte artística, a envolver composições,
arranjos e performances, ele certamente elaborou uma ótima reportagem.
E também publicado no meu Blog 3, e basta ao ao leitor procurar por "Trabalhos Avulsos - Capítulo 30 - Tributo à Keith Moon, quatro bateristas alucinados, publicado em março de 2015
http://luizdomingues3.blogspot.com.br/2015/03/trabalhos-avulsos-capitulo-30-tributo.html
De volta à cronologia deste relato para a Patrulha do Espaço, uma nova viagem para Santa Catarina nos ocorreu em novembro.
Resenha sobre o show Tributo ao Keith Moon, publicada na revista Rock Brigade, nº 208, de novembro de 2003
Uma nova viagem ao sul se confirmara. Estávamos em novembro de 2003 e mais uma vez teríamos como destino o belo estado de Santa Catarina.
Na viagem de ida, tudo correra bem, até quase na divisa entre os estados de São Paulo e Paraná. Chegamos próximo ao município de Registro-SP, ainda em território paulista (local onde é obrigatório passar pela ponte sobre o rio Ribeira e de fato, aquela região do estado de São Paulo é denominada como: "Vale do Ribeira", ao caracterizar as cidades que se beneficiam desse rio).
Ninguém
notou, a não ser eu (Luiz Domingues) e Luiz Cichetto "Barata", que viajávamos próximos ao nosso
motorista, quando um barulho estranho irrompeu na parte da frente do
ônibus e o "seu" Walter soltou um grito fortuito, decorrente dessa avaria.
O ônibus diminuiu a sua velocidade e quando a ponte, que era relativamente longa, foi ultrapassada, o carro saiu lentamente pela direita, e pasmem, se pôs a deslizar até tocar em uma árvore, às margens de um posto de gasolina.
Atônitos, não entendemos por que ele não houvera manobrado o carro para adentrar o posto e ao contrário, a deixá-lo bater levemente em uma árvore frondosa, quando finalmente, este parou.
Foi quando os demais colegas se espantaram com o ocorrido e também sem entender a manobra nada usual e aparentemente sem sentido, quiseram saber o que ocorrera.
Ora, a barra de direção havia quebrado e a solução encontrada para que não sofrêssemos um acidente grave, fora deixar o carro perder velocidade e manter a direção reta, até que chegasse um acostamento posterior à ponte e mediante o esforço braçal, ele tentasse levá-lo para a direita para pararmos em segurança. Se houvesse a presença de algum buraco ou desvio de qualquer natureza à nossa frente, o acidente teria sido inevitável, pois sob aquela velocidade e sem possibilidade para manobrar, teríamos colidido, fatalmente.
Isso sem contar que poderíamos ter caído no rio e neste caso, "guardrail" algum seguraria aquele bólido enorme. O "seu" Walter era normalmente prático ao extremo em seu modo de se comportar e sem tempo para se recompor do susto, foi buscar uma solução e por sorte, naquele posto havia uma oficina mecânica, com peças disponíveis etc.
Claro, ficou dispendioso pelas circunstâncias da estrada e a sempre clássica exploração desses sujeitos que agem como uma aranha a esperar pela mosca que se adere em sua teia, e foi o que ocorreu conosco. Contudo, o intrépido, "seu" Walter, a estar por perto, tudo sempre se amenizava, pois na base da conversação, mediante o mesmo uso de linguagem que estabelecia com esses tipos, o preço extorsivo caia absurdamente e ele mesmo se punha a ajudar a instalar a peça em questão, e assim, tudo se ajeitava.
Seguimos
viagem e quando passamos um pouco da altura de Balneário Camboriú-SC, havia
um posto da polícia rodoviária federal e o guarda de plantão nos mandou
parar.
Com a documentação em ordem e itens básicos de segurança, também sob controle, não tememos por nada. Todavia, se tratou de um sujeito muito mal-humorado e ele estava particularmente bastante contrariado naquele dia.
Por querer examinar minúcias, a denotar que procurava por uma irregularidade com avidez, ele ameaçou prender o carro, ao considerar os nossos pneus irregulares. De fato, eles estavam velhos, mas todos ainda se mantinham com as suas devidas riscas e a estarem a se mostrarem na chamada "meia vida", segundo o "seu" Walter nos dizia e dessa maneira, não seria esse o motivo para provocar uma multa e muito menos a ameaça de apreensão.
Todavia, o sujeito estava imbuído da vontade de nos prejudicar pela sua atitude intempestiva e custou para o "seu" Walter convencê-lo a nos liberar.
Entretanto,
em tom ameaçador, o guarda foi enfático ao afirmar que se nos visse a passar de novo por ali, ele prenderia o
ônibus, pouco a se importar se éramos uma banda que apresentava compromissos a cumprir e
que transportávamos instrumentos e equipamentos caros.
E falou em
tom de escárnio, pois nessa altura, ele já sabia que íamos para Florianópolis naquele instante
e no dia seguinte teríamos compromisso em Balneário Camboriú-SC, portanto,
passaríamos no outro lado da pista, e curiosamente, ainda mais perto da
sua cabine policial...
Com pelo menos três horas de atraso devido ao acontecido em Registro-SP, e mais a parada policial em Balneário Camboriú-SC, quando chegamos na porta do estabelecimento aonde tocaríamos em Florianópolis, nos encontramos com Helena T., vocalista do Tutti-Frutti, nessa época, e que nos aguardava no local.
Preocupada com o nosso atraso a demarcar quase quatro horas, nós lhe contamos o que havia nos ocorrido na estrada e ela teve uma crise de choro.
Acredito que só nesse instante nos demos conta realmente da dimensão do que havíamos passado, a se revelar como um grande perigo, de fato.
Ao corroborar
a tese, Daniel "Kid", o nosso roadie, veio apressadamente nos comunicar que o
"seu" Walter estava a sofrer uma crise de choro, dentro do ônibus.
Ficamos consternados com essa cena e ao mesmo tempo agradecidos pela sua ação heroica, em que preservou a nossa integridade física e a de nosso patrimônio, por segurar firmemente as suas emoções e apenas extravasou o seu sofrimento quando sentiu ter cumprido o seu dever, ao nos entregar são e salvos em nosso destino final. Foi uma lição de vida impressionante, sem dúvida alguma.
O primeiro show dessa micro turnê foi marcado para o Drakkar, um bar bem ao estilo "Rock'n' Roll", aonde já havíamos nos apresentado anteriormente.
O show foi sensacional e sinceramente, já esperávamos por isso, baseado na experiência ali vivida meses antes. A estrutura não era das melhores, mas o público respondia com entusiasmo e isso compensava tudo.
A viajar pelo sul do país, a bordo do intrépido "azulão"... da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Rolando Castello Junior, Samuel Wagner e o nosso grande amigo, Junior Muelas, que viajou conosco nessa turnê. Atrás, encoberto, Rodrigo Hid. Acervo e cortesia de Junior Muelas
Aconteceu no dia 13 de novembro de 2003, com cerca de setenta pessoas nas dependências da casa e mais uma vez, tivemos a participação especial de Luiz Carlini e Helena T, para abrilhantar a noite, como convidados muito especiais.
Seria para termos dormido na cidade, mas ao pensarmos no guarda rodoviário mal-humorado que fora ameaçador na viagem ida à Florianópolis, nós mudamos a nossa estratégia, ao visar não dar margem ao azar, e assim resolvemos dar baixa no hotel no qual nos hospedáramos e a viajarmos ainda com a escuridão da madrugada proeminente, no afã de o evitarmos.
Um último
episódio a ser relatado em Florianópolis nesse dia, se deu quando fomos
dar baixa no hotel e o funcionário de plantão nos abriu a porta, mas
depois sumiu da recepção do mesmo, misteriosamente.
Tiramos as nossas bagagens dos quartos, levamos tudo para o ônibus e quando voltamos para fazer o check out e lhe entregar as chaves, ele ainda não estava no balcão. Paciência, deixamos as chaves dos quartos ali e um bilhete a avisar sobre a nossa partida. Acho que eu nunca houvera visto algo parecido e claro, com a conta a ser paga pelo contratante e na ausência de frigobar nos quartos, não houve nenhuma pendência financeira a ser saldada, portanto, nada nos desabonou nesse sentido, no entanto, que foi esquisita a nossa saída e pior ainda o sumiço do funcionário...
Chegamos na
estrada ainda sob a escuridão e a corrida foi em favor da escuridão a nos proteger dos olhos de lince do nosso algoz neurastênico do dia anterior. Se
sobrepujássemos esse perigo iminente, chegaríamos tranquilamente ao nosso próximo
destino, que foi a cidade do Balneário Camboriú-SC.
Quando nos aproximamos mais do posto, vimos nitidamente o mesmo guarda, que estava sentado na mesa, a ler um livro, com a luz da guarita acesa e mediante o auxílio de um abatjour para reforçar o seu foco na leitura.
Incrível, o sujeito estava acordado naquela hora da madrugada e supostamente devia estar a dobrar o seu plantão.
À medida
que o ônibus se aproximava, mais nós ficávamos apreensivos, pois
estávamos sozinhos na pista, naquele instante e claro que quando ouvisse
o barulho do nosso carro, ele levantaria a cabeça para olhar e lembrar-se-ia de
nós.
Mas quando emparelhamos com o posto, ele não esboçou nem levantar a cabeça e permaneceu a ler o seu livro. Assim que passamos, gritamos como crianças a comemorar a nossa "proeza", e o "seu" Walter passou a gritar, igualmente e no pleno uso de seus jargões característicos:
-"sai da frente do Azulão, seu FDP!"
-"ninguém pode com o azulão!"
O que será
que o guarda rodoviário estava a ler que o entretinha tanto, ao ponto de nem se dignar a
olhar o único ônibus que passara naquele instante, na pista da estrada? Teria sido: " O Mágico de Oz?" "Ulysses?" "Morte e Vida Severina?" ou o "Mein Kampf?"
Vista aérea da bela cidade de Balneário Camboriú-SC
Chegamos muito cedo em Balneário Camboriú-SC e fomos direto para o hotel. Fizemos o check-in e fomos dormir, fatigados.
Não passou
nem meia hora e o telefone tocou diretamente da portaria, com o gerente a chamar
alguém da banda para explicar a nossa presença ali.
O combinado pela produção do show com o hotel seria
darmos entrada na virada da diária, após o almoço, é bem verdade, mas devido os
acontecimentos de Florianópolis, mais detidamente o receio de enfrentarmos
a ameaça do guarda rodoviário que ansiava em nos prejudicar, havia motivado a nossa mudança de
planos, portanto, o sujeito estranhou a nossa chegada antecipada e quis
saber quem pagaria pela diária extra...
Ora, havíamos deixado claro ao funcionário da recepção, que a diária extra seria por nossa conta, e além do mais, mesmo que não tivéssemos deixado isso claro no momento do check in, nos acordar para buscar tal esclarecimento foi de uma grosseria ímpar da parte do gerente, que certamente deve ter faltado na aula de ética do curso de hotelaria que deduzimos que ele tenha feito para se capacitar para a função.
Ficamos bastante irritados, pois na hora do check in, havíamos deixado bem clara com o atendente, sobre toda a situação e lógico que havíamos nos prontificado a pagarmos a diária extra do nosso bolso, sem onerar o contratante do show e acima de tudo, queríamos dormir.
Esclarecido,
voltamos para os quartos e finalmente iríamos dormir. Passava das seis
da manhã e estava a amanhecer, quando achamos que teríamos descanso, no entanto...
Uma excursão com estudantes acabara de chegar e neste caso, a balbúrdia que fizeram na sua entrada no hotel, foi gigantesca. Foram quatro ou cinco ônibus repletos de adolescentes e absolutamente excitados pela aventura de estarem em grupo e sem a presença dos seus respectivos pais, o que transformou o seu check in, em um inferno.
Cada um de nós, da comitiva da Patrulha do Espaço, teve uma reação diferente nesse instante e no meu caso, eu desisti de abafar o barulho infernal que faziam mediante o meu travesseiro devidamente prensado nas orelhas e então, me levantei, me vesti e fui para o refeitório tomar o café da manhã e a seguir, fui dar um passeio nos arredores do hotel, que ficava a um quarteirão apenas da Avenida da praia.
Então, a partir disso, a perspectiva foi esperar as longas horas que nos separaram da abertura vespertina da casa, e a consequente realização do soundcheck.
Cidade muito bonita e com forte apelo turístico por conta da praia, Balneário Camboriú-SC mantinha uma filial da casa, Drakkar, onde nos apresentáramos na noite anterior, em Florianópolis.
A nossa esperança foi de que a filial do Drakkar contivesse o mesmo astral da sua matriz, na capital catarinense.
Entretanto, verificamos que a casa se mostrara bem diferente, estruturalmente a falar. Todavia, ela era bem arrumada, aliás, continha
uma aparência até mais sofisticada, o que nos despertou a impressão de que
deveria ser mais "burguesa" em termos de clientela padrão e não Rocker.
Tudo bem, estávamos acostumados a lidar com casas não exatamente ideais para a realização de um show de Rock. O soundcheck foi tranquilo, com um equipamento compatível para o tamanho da casa e razoável para as nossas necessidades.
O gerente da casa estava animado, a nos dizer que recebera muitos telefonemas e lhe perguntar sobre o show e que, portanto, teríamos a perspectiva de casa lotada. Ótimo, melhor que isso, só se fosse um público inteiramente Rocker e a fim de nos assistir, sem reservas.
Jantamos no hotel e fomos para o show. A casa estava vazia quando chegamos e poucas pessoas chegavam ao ambiente, de uma forma paulatina, quando resolvemos não atrasar mais o início do show e soltamos assim os primeiros acordes da noite.
Chega-se em um
ponto da vida de qualquer artista, que é perceptível facilmente quando um
show não vai atrair o público esperado e aquela situação ali foi um típico caso
desses.
O ponto bom, foi que os vinte e poucos presentes estiveram ali para nos ver & ouvir.
Haviam fãs com os velhos discos de vinil da banda debaixo do braço e claro que mesmo em pouco número, tal visão despertava em nós a animação vital que precisávamos para tocarmos com o entusiasmo, além do sentido meramente profissional.
Portanto, a despeito da baixa frequência, reputo essa apresentação em Balneário Camboriú-SC, ter sido boa.
Foi no dia 14 de novembro de 2003.
Finalmente
pudemos dormir, pois os adolescentes da tal excursão escolar deviam
estarem entretidos em alguma balada noturna pela cidade e assim nós acordamos no dia seguinte
com a energia refeita e prontos para uma curta viagem para a cidade
seguinte, Joinville-SC.
Gostávamos de nos apresentarmos ali pois o contratante era muito gentil, ao nos receber sempre com muita hospitalidade, havia sempre um bom público e com o contingente de Rockers, significativo e também porque já tínhamos amigos na cidade, que sempre nos proporcionavam momentos prazerosos mediante conversas sobre assuntos de interesse mútuo.
Desta feita, a banda escalada para fazer a abertura do show, foi uma chamada: "Ferro Velho". Foi o dia 15 de novembro de 2003, feriado, e por ter caído em uma sexta-feira, não foi estratégico para o show em si, mas mesmo assim, atraiu um bom público para a casa.
Cerca de trezentas e cinquenta pessoas estiveram nas dependências do
"Cais 90".
Foi um
show bastante animado, com o público a responder bem à nossa
performance. Mas o PA da casa continuava a ser operado sob o padrão mono.
Não dormimos na cidade desta feita, pois resolvemos voltar a São Paulo, imediatamente após o show. Tínhamos descansado bastante em Camboriú e julgamos que enfrentar os seiscentos e cinquenta Km até São Paulo, seria tranquilo e com o frescor da madrugada, muito mais ameno do que o calor que sentiríamos ao viajarmos no período da tarde, do dia seguinte.
Além do mais, a perspectiva de estarmos em casa no sábado, nos animou.
E assim foi, encerramos essa etapa da turnê por Santa Catarina.
Só
teríamos novos shows em dezembro, desta feita no interior de São Paulo,
mas o restante do mês de novembro exigir-nos-ia um outro tipo de esforço.
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