Antes de retomarmos os nossos compromissos que estavam a serem agendados, uma proposta surgiu para tocarmos em uma casa noturna paulistana, que se caracterizava como um reduto Rocker, não vou dizer que não o fosse, mas esta observava uma orientação nada confortável ou para ser mesmo mais direto, inadequada para uma banda como a nossa.
Tradicional reduto para admiradores do Hard-Rock dos anos oitenta, o Manifesto Rock Bar, posso afirmar, tratava-se de uma casa temática, não só pela sua decoração direcionada para tal estética, quanto no visual dos seus próprios frequentadores e de quase toda banda que lá se apresentava regularmente.
Nenhuma
novidade para uma cidade como São Paulo, onde existem casas temáticas as
mais diversas, não foi para nos surpreendermos que encravada em um ponto do
bairro do Itaim-Bibi, na zona sul da cidade, houvesse tal casa voltada
para os saudosistas dessa escola estética professada na década de oitenta.
Bem, sobre o Hard-Rock oitentista, acho que ao longo da minha autobiografia, eu já expressei amplamente o que eu penso e neste caso, a minha contrariedade sobre tal estética tem o peso da minha experiência pessoal por nela ter militado, a contragosto.
Então, quando surgiu o convite para a Patrulha do Espaço tocar, opiniões em contrário surgiram, a minha incluso, naturalmente, mas ao mesmo tempo pesou o fato de que ficáramos dois meses sem shows desde a micro temporada realizada no Centro Cultural São Paulo, e que embora já tivéssemos perspectivas para novos shows a cumprir e para breve, todos esses seriam cumpridos em cidades interioranas de São Paulo e haveria uma nova incursão ao sul do país, desta feita para visitar cidades dos estados do Paraná e Santa Catarina.
Portanto, como ficaríamos meses sem tocar na cidade de São Paulo, aceitamos realizar o nosso show nessa referida casa.
A estrutura da casa nessa época ainda era precária (anos depois ela passou por reformas, quando passou a contar com um palco digno, PA e iluminação compatíveis com suas dimensões etc), portanto, mesmo ao possuir naquela época um palco reduzido e um sistema de PA com uma pequena dimensão, nos coube apenas providenciarmos o backline, divulgar e esperar por uma boa apresentação, mas não foi o que aconteceu.
Infelizmente, o nosso público não compareceu como deveria, pois tratara-se de um dia útil (quinta-feira), dia pouco convidativo para sair de casa e sob um ambiente que não mantinha tradição para o nosso específico fã.
Por outro lado, o habitue da casa também não nutria simpatia por nós, naturalmente. O típico frequentador daquela casa noturna, gostava de artistas oitentistas tais como: "Motley Crüe", "Ratt", "Poison" e outras tantas bandas dessa seara/época.
E não deu outra, assim que chegamos ao local para tocar a noite, os poucos presentes pareciam estarem paramentados para participar de um vídeoclip do "Dokken" ou do "Quiet Riot", ou seja, me senti em 1984.
Claro, mesmo nas condições mais inóspitas, como em todo o show, nunca deixávamos de contar com a presença de fãs da Patrulha do Espaço, ainda que em número bem reduzido.
Nesses termos, foi um show profissional, mas sem nenhuma comoção, com toda essa ambientação inadequada em torno de nós. Aconteceu em 3 de outubro de 2002, com cerca de trinta pessoas presentes na casa.
Doravante, teríamos de entrar em nosso ônibus e partirmos para Londrina, no norte do Paraná.
De volta ao "azulão", finalmente voltaríamos à estrada e desta feita o objetivo foi nos dirigirmos ao norte do Paraná, para uma nova apresentação em Londrina-PR, cidade em que já havíamos tocado duas vezes: em 2000 e no início de 2002.
Por falar nessa última apresentação, em janeiro de 2002, o produtor de tal espetáculo, um rapaz dinâmico, chamado: Marcelo Domingues (já disse e repito, ele não tem parentesco comigo), havia nos prometido uma oportunidade melhor, visto que nos apresentáramos em uma pequena casa noturna.
O show que fizemos no Valentino Bar, foi sensacional, como eu já narrei em capítulo anterior, todavia, por ser um espaço sob dimensões diminutas, apesar de ter abarrotado de gente para nos ver e ter sido um show ótimo sob o ponto de vista técnico e emocional, ele nos deixou frustrados, pois ficáramos com a sensação de que se houvesse ocorrido em um lugar maior, teria comportado muito mais público.
Todavia, a oportunidade surgiu e o produtor, Marcelo nos convidou a participar de um festival que estava a organizar, denominado: "Demo Sul".
A ideia foi boa: um palco sob grande dimensão montado em uma espécie de sítio afastado do centro da cidade, com infraestrutura boa para os artistas e para o público, e a apresentar diversas bandas autorais novas como as atrações do evento, oriundas de vários estados e a demarcar dois "headliners" consagrados, um em cada dia. Fomos o headliner em 12 de outubro de 2002, e no dia posterior, "Os Inocentes" fecharam a noite.
Chegamos cedo naquela bela cidade do norte do Paraná, visto que havíamos partido de São Paulo na noite do dia anterior.
Ficamos
hospedados em um hotel próximo da tal chácara e pudemos dormir a manhã
inteira com tranquilidade, a refazermos as forças perdidas em mais de quinhentos
Km que separam São Paulo de Londrina.
Fazia um calor muito forte, já a antecipar os dias de verão, embora estivéssemos no início da primavera, ainda. Após o almoço, fomos com toda a equipe vermos o processo da montagem do nosso backline e aguardar o soundcheck no local.
Enquanto esperávamos, havia um campo de futebol disponível e mediante uma bola que a produção nos proporcionou, fizemos um rápido "rachão" entre músicos e roadies.
Bem, o
soundcheck foi tranquilo, apesar de ser um palco grande e a contar com
um PA na proporção para show em estádio de futebol, pois o técnico foi
competente, objetivo e solícito. Voltamos ao hotel e aguardarmos a hora para retornar.
Deu para assistir o show da banda "Devacan", um pouco, ao vê-los de frente, com a potência do PA e iluminação forte, e a metade final da sua apresentação, já pela coxia, ao nos prepararmos para o nosso show.
Foi, portanto,
a única banda cuja performance eu posso comentar com uma certa lembrança, e pelo que vi,
gostei do trabalho deles, muito inspirado em Hard-Rock setentista,
notadamente o Led Zeppelin como espelho, a mesclar influências do Blues e
Folk-Music, tal como o grande Zepelim de chumbo, o fazia regularmente.
Também participaram: "A Cor da Onça", "Megafone", "Etnia", "Marquinhos Diet & Banda Boca de Caçapa", "Neteibatas" "Latuya" e o já citado, "Devacan". Quase todas eram de Londrina-PR, pelo que estava anunciado no programa, mas houve também uma banda de Brasília, e uma outra do Rio de Janeiro.
Impressionante como o mercado brasileiro era (é) cruel para bandas de Rock no underground. A analisar esses fatos em 2016, ou seja, quatorze anos depois do ocorrido, nenhuma dessas bandas citadas, conseguiu ao menos ter uma projeção no subterrâneo da música profissional, que eu saiba.
Claro, não posso
atestar as que eu não vi e escutei, mas o "Devacan" detinha muita qualidade
técnica e deveria ter construído uma carreira notada ao menos no mundo
underground, mas o fato é que desconheço que tenha alcançado alguma projeção.
Ouço falar sobre bandas paranaenses que chegaram muito além como o "Reles Pública",
"Feichecleres", "Trilho" e "Pão com Hamburguer", mas nunca notei nada sobre
o "Devacan" ter prosperado, infelizmente.
E muito menos das outras que participaram desse festival.
Bem, conjectura triste para a causa, a parte, volto aos fatos.
Quando entramos em cena, achávamos que o público que se mostrara grande, mas a se manter afastado do palco em demasia, longe até da grade de contenção e área de fotógrafos. Foi inexplicável a postura do publico nesse sentido, mas não nos intimidamos e fizemos o nosso show habitual.
Digno de
nota, um músico de uma das bandas que tocaria no dia seguinte, estava
alucinado ali no ambiente da plateia. Certamente que deve ter tomado algo com bastante anfetamina em sua composição, pois a sua
postura foi de loucura e eletricidade total. Tal sujeito apanhou um
enorme bambu que achou em alguma parte da chácara, e ficou a carregá-lo de uma forma vexatória, talvez a se imaginar na posse de uma enorme bandeira
que desfraldava como em estádios de futebol.
No entanto, no
auge da sua loucura, ele passou a adotar uma postura "quixotesca" e talvez
por imaginar ser o bambu que detinha, uma enorme lança, e a nossa banda, um dragão,
eis que ele passou a esticá-la em nossa direção de uma maneira patética, como se quisesse nos atingir.
Há pessoas que acham isso uma demonstração de "atitude", mas eu cheguei a ter pena do sujeito, por ele fazer aquele papel de palhaço, principalmente ao se levar em conta que ele já era bem crescidinho e até conhecido no meio Rocker de São Paulo.
Independente desse "Quixote do bambu", o nosso show foi muito bom, sob o ponto de vista técnico e arrancou muitos aplausos.
Estávamos
contentes por termos participado do Festival como atração principal e eu
contente por ver a iniciativa de um festival a fornecer chance para muitos
artistas com pequena expressão poderem mostrar os seus trabalhos e ter a
oportunidade de crescerem na carreira. Se não conseguiram dar passos
maiores, só lamento sobre a rudeza da realidade brasileira e neste caso, se trata de um objeto de
discussão para outro tipo de texto, embora a minha autobiografia esbarre nessa
questão muitas vezes, pelos inúmeros artistas bons que conheci ao longo da minha jornada e que
nunca tiveram uma chance, sequer.
Assim foi a nossa participação no Festival Demo Sul em Londrina, Paraná, no dia 12 de outubro de 2002. Cerca de duas mil pessoas estiveram presentes, o que não foi uma super multidão ao consideramos ter sido um show ao ar livre, mas também a levar-se em conta que as atrações elencadas foram bandas desconhecidas e o headliner continha a sua história e currículo forte, mas não aparecia em programas e novelas da Rede Globo, portanto, não foi decepcionante.
Fomos dormir tranquilos e satisfeitos, e no dia seguinte, partimos para São Paulo com a sensação de dever cumprido. Dali em diante, só teríamos show em Limeira, no interior de São Paulo, ao final de outubro.
Resta
lembrar, como eu já disse anteriormente, que o Bar da Montanha, apesar de
ser uma casa com frequência e ambientação Rocker, detinha também um público
habitue, sui generis, eu diria.
Eram
freaks em sua maioria, mas nem todos se interessavam pela banda em ação,
ao parecer ignorarem a ação do artista no palco, por preferirem se aterem às
conversas particulares nas mesas e claro, suas bebidas.
Bem, não
dava para cobrar atenção de todos e assim, a estratégia foi tocar
tranquilo, sabedores de que os nossos fãs compareceriam com a sua habitual
animação.
E assim
foi, em um show tranquilo com os nossos fãs a fazerem uma bela festa e a
viagem de ida e volta, sob tranquilidade com o nosso ônibus a funcionar corretamente, sem
aborrecimentos.
Foi no dia 27 de outubro de 2002, com cerca de duzentas pessoas na plateia.
O próximo compromisso foi em Santos, no litoral paulista, mas alguns dias depois.
Alguns dias antes dessa viagem à Santos, o Rolando Castello Junior comunicou à banda que havia convidado um rapaz para viajar conosco e que ele era um Rocker da "velha guarda", perfeitamente coadunado com nossos princípios etc. e tal.
O objetivo seria testá-lo como Roadie Manager, visto que a Claudia Fernanda se sentira sobrecarregada em suas funções e sob certas circunstâncias, talvez fosse mais útil que ela ficasse a trabalhar em São Paulo, no gerenciamento da logística das turnês, do que em campo, a viajar conosco e perder tempo.
Para ir além,
tal rapaz se caracterizava como um homem maduro, na faixa etária do Rolando Castello Junior, ali naquela altura a
beirar os cinquenta anos de idade, e além de ser um Rocker de coração e alma, embora não
músico, era poeta, escritor e web designer.
O seu nome, na verdade, se constituía em um apelido pelo qual tornara-se famoso e que era (é): "Barata". Luiz Carlos Cichetto, o popular "Barata", era um freak daqueles típicos "1960 & 1970", que vendiam livros mimeografados na porta de teatro e shows de Rock, mas que se modernizara e ao acompanhar os avanços da tecnologia, por ter se tornado webdesigner, mantinha no ar um site bastante festejado, com enfoque de revista cultural e com ênfase na música e poesia/literatura, chamado: "A Barata".
Nessa época, e ao se considerar que as Redes Sociais da Internet ainda não haviam explodido no Brasil, o seu site, "A Barata", mantinha uma média com dois mil acessos por dia, o que para o mundo underground poderia ser considerado um número excepcional.
Tudo muito bom em termos de currículo, mas o que eu não sabia, ao conhecê-lo finalmente no dia de irmos para Santos-SP, foi que apesar de não o conhecer pessoalmente, nós havíamos tido um contato via missivas, no remoto ano de 1977...
Quando o
o Rolando Castello Junior me revelou isso ao telefone, eu fiquei muito intrigado, porque eu tenho
uma boa memória em linhas gerais e lembrar-me-ia fatalmente de tal ocorrência, mas na verdade, fiquei atônito com essa
informação tão desconcertante! Quando eu cheguei na casa do Junior, ele mesmo, "Barata", ao cumprimentar-me, esclareceu tudo, enfim!
Assim que eu cheguei na residência do Rolando Castello Junior, eu logo vi a Claudia Fernanda, que ao me avistar se mostrou eufórica, ao me dizer que eu iria adorar contar com o "Barata" Cichetto na equipe, por que ele era muito simpático e que lhe dissera que me conhecia desde 1977, e para aumentar a minha estupefação, pois realmente não eu me recordei de haver conhecido ninguém com esse nome, nessa época.
Foi quando
finalmente o avistei a descer as escadas e descobri que também pela
fisionomia, não me recordara mesmo de quem ele tratar-se-ia. Feitas as devidas apresentações, finalmente o Barata esclareceu tudo, quando me contou o ocorrido.
Pois em 1977, paralelo às atividades da minha banda de então, o "Boca do Céu", o vocalista, Laert Sarrumor que editava uma revista em quadrinhos chamada: "Sarrumorjovem" (daí veio o apelido que se tornou o nome artístico dele, doravante, "Sarrumor"), resolveu montar um fã-clube da Janis Joplin, cantora que era e ainda é uma de suas maiores paixões na música.
Então, ele me pediu para que eu cedesse o meu endereço residencial na ocasião, para receber as correspondências vindas da parte dos futuros membros dessa associação e nessa época, a internet foi apenas um sonho futurista dentro do desenho animado da família "Jetson", portanto, a comunicação usual se pautava em torno das velhas cartas enviadas pelo correio.
Nesses termos, eu de fato recebi algumas cartas entre 1977 e 1978, e entre elas, as de um jovem freak, também apaixonado pela Janis Joplin, chamado: Luiz Carlos Cichetto.
A minha boa desculpa para o esquecimento foi óbvia, pois se possuo uma boa memória, reconhecidamente, esse fato fora efêmero ao extremo, pois o tal fã-clube não passou disso em termos de expansão, e além do mais, a despeito de eu também adorar a Janis Joplin, a ideia do fã-clube foi do Laert e não minha, portanto, eu lia e respondia as cartas, mas não dei muita vazão para a tal associação prosperar.
Enfim, o fato foi que ele se lembrara da minha pessoa, mas eu não, em relação a ele. Daí em
diante, desse dia em que nos dirigimos à Santos-SP, até a metade de 2004, ele viajou conosco
muitas vezes e culminou em se tornar o meu colega de banco de viagem no
ônibus, quando ali conversamos por milhares de Km percorridos, sobre assuntos
de nosso mútuo interesse e foram muitos, além da obviedade do Rock/Contracultura/1960 & 1970, para atingir o campo da literatura & cinema, as séries de TV e
desenhos animados, e Palmeiras... portanto, com tantos ícones em comum, do Jimi Hendrix a Ademir da Guia, Jack Kerouac a Dr. Smith/Jonathan Harris do "Lost
in Space", claro que a amizade se fortaleceu e foi positivo ter a sua
presença doravante, conosco.
Há
de se destacar a boa matéria assinada pelo jornalista, Lucas Tavares, em sua coluna "Tribu" do Jornal, "A
Tribuna", de Santos-SP, que ao fugir completamente do estereótipo do
vilipêndio, muito pelo contrário, tratou a banda com reverência,
a evocar a sua história e suas metas do então, presente. Avis rara no meio
jornalístico mainstream, tão contaminado e comprometido com a destruição
de tais valores eu o saúdo pelo respeito que teve com a nossa história.
De volta à narrativa do show desse dia, seria uma volta ao Praia Sport Bar, de Santos-SP, uma
casa onde já havíamos tocado várias vezes entre 2000 e 2001.
Chegamos na cidade e eu passei na banca mais próxima, ali mesmo na Praia do Gonzaga e fiquei contente ao verificar que o nosso show estava bem anunciado em dois periódicos santistas, sendo que na Tribuna, o maior jornal da cidade e região da Baixada Santista, a tratar-se de uma matéria grande, com fotos bonitas etc.
Enquanto os roadies arrumavam o palco, eu fui à padaria da esquina e enquanto esperava na fila para pagar o que comprara, vi que na minha frente estava o ex-jogador de futebol, Zito, famoso por ter atuado no Santos F.C. na Era Pelé e ter sido bicampeão mundial com a seleção brasileira, em 1958 e 1962. Quando o veterano fitou-me, eu tomei a iniciativa para cumprimentá-lo educadamente na base do:
-"Boa noite "seu" Zito", no qual ele me retribuiu no mesmo padrão de educação, mas
deve ter ficado estupefato, pois na sua concepção, um cabeludo com
visual de hippie, jamais deveria reconhecê-lo, mas o fato é que eu
acompanho futebol com vívido interesse desde os oito anos de idade e
nunca cortei esse, digamos, "vício", mesmo ao ter mergulhado em um campo cultural
tão diferente e de certa forma avesso ao mundo prosaico e popularesco
do futebol. Além do mais, eu nem sou torcedor santista e pelo contrário, o "seu" Zito mais
atrapalhou o meu time do coração, enquanto jogou.
Xandra
Joplin na frente, rodeada por Paulo Zinner (esquerda), e a banda
inteira, quando do dia de sua participação, a gravar Backing Vocals no
álbum Chronophagia, como nossa convidada, em 2000. Foto: Eduardo Donato
Enfim,
de volta ao bar, já anoitecia quando encerramos o soundcheck e eu notei que a
cantora, Xandra "Joplin" entrara no recinto e se encontrou com o Barata
Cichetto que fez uma grande festa por vê-la. Outra coincidência, Barata a conhecia de longa data, por ser um entusiasta de sua performance como
cantora cover da Janis Joplin, e fã da "JJ", inveterado que ele sempre foi,
aplaudia costumeiramente a fidedignidade interpretativa de Xandra, em seus shows-tributo.
O nosso show ocorreu com bastante entusiasmo, ao se levar os cento e poucos presentes ao delírio, com muitos fãs da banda presentes.
Bem, já no
meio da semana seguinte, nós voltaríamos à rotina das turnês, com uma ida à
Santa Catarina, para realizarmos três shows em três cidades, e que nos rendeu boas
histórias.
Foi a primeira viagem longa que fizemos com a presença do Barata, visto que a sua estreia como componente da nossa comitiva houvera sido na viagem a Santos-SP, que representa na verdade um percurso com apenas setenta e oito Km de distância de São Paulo, portanto, muito curto.
Como eu costumava viajar no primeiro banco, perto do "seu" Walter, porque era (sou) notívago e não conseguia dormir como a maioria dos outros membros da comitiva, eis que passava acordado por longos trechos percorridos ao longo das madrugadas, principalmente, a conversar com o nosso motorista e a tomar café com ele.
Mas desse ponto em diante, ganhara mais um companheiro de insônia e as conversas ficaram ainda
mais animadas, se bem que o "seu" Walter não participou de assuntos
que não lhe interessavam, naturalmente.
A capa da encadernação que eu providenciei com os textos do "Diário de Bordo", escrito pelo poeta, Luiz "Barata" Cichetto
Tal texto
começou a ser publicado e a manter a periodicidade de ser disponibilizado alguns dias depois de cada show, através do seu site: "A
Barata" e como nessa época eu nem sonhava em ter acesso à Internet,
pedi para ele cópias do texto e as encadernei, a fim de guardá-las como
material memorabilia importante em meio ao meu acervo de lembranças com a Patrulha do Espaço.
A sua visão foi minuciosa dos bastidores e com texto coloquial e agradável para ler, o Barata nos legou um ótimo apanhado dos bastidores, ao trazer a sua visão dos acontecimentos vividos em meio a essas viagens, com o acréscimo da poesia, aspecto que lhe é peculiar, naturalmente.
Muitos anos depois, o Barata lançou um livro com a compilação dessas histórias por ele escritas como membro da nossa equipe técnica, e observador in loco dos acontecimentos, a agregar também histórias de sua percepção como fã da banda desde 1977, ao rememorar shows que assistiu etc.
Chegamos em Lajes-SC, já na manhã da quinta e fomos direto ao hotel, para repousarmos.
Foto que achei na Internet, da colina citada, e em época de inverno
Pelo
caminho, o rapaz foi a nos contar que no inverno, a visão dali era
magnífica a se destacarem as verdadeiras brumas geladas, e de fato, Lajes é tradicionalmente uma das
cidades mais frias de Santa Catarina, com o termômetro a marcar muitos graus
celsius abaixo de zero, com muita naturalidade.
Feita a
divulgação e a se executar uma música na programação da emissora, oriunda de nosso
CD Chronophagia, fomos levados ao estabelecimento noturno onde
tocaríamos naquela noite.
O seu nome era: Latvéria Bar.
Bem, consideramos super positiva a intenção do proprietário em manter um bar com tais características temáticas. A casa se mostrou bem montada, a demonstrar atender a jovem burguesia da cidade e já acostumados, nós presumimos que teríamos poucos Rockers na plateia, com a maioria ali presente composta por jovens burgueses, mas isso não nos desmotivara, em absoluto.
Visão noturna do centro da bela, Lajes-SC, e o estabelecimento em que tocamos, ficava bem perto dessa Praça da Matriz.
Deu tempo
para jantar tranquilamente no próprio hotel, desta feita, e quando
chegamos no estabelecimento para o show, ficamos contentes em vê-la abarrotada de
gente.
A contrariar
a nossa expectativa inicial, baseada em outras experiências pregressas, o
público foi formado por uma maioria Rocker e estava ali a saber exatamente quem
éramos e ansiava pela nossa performance.
Enfim, foi
um show com muita energia, que sabíamos que ofertar-nos-ia uma sinergia total, desde a
primeira virada de bateria da música, "Não Tenha Medo" ao arrancar uivos
da plateia, para denotar ser Rocker a valorizar cada detalhe, pois o
Rock é assim, para quem o possui na alma.
Várias músicas clássicas da Patrulha do Espaço, e mesmo as músicas novas da Era Chronophágica, levaram ao delírio aqueles jovens e quando deixamos a casa, por volta das quatro horas da manhã, a nossa sensação foi maior que a do dever cumprido, por que estivemos felizes pela performance, e pelo resultado da empatia estabelecida com o público.
Dia 14 de novembro de 2002, no Latveria Bar de Lajes-SC, com duzentas pessoas na plateia, aproximadamente.
Deu para
descansar bastante, acordar tarde e fazer a viagem para Concórdia-SC com
tranquilidade. Percorremos os duzentos e poucos kilometros a conversarmos animadamente, e esta etapa da turnê pareceu não nos reservar dissabores, mas somente alegrias.
Aconchegante ao extremo, estivemos felizes por estarmos ali novamente a ouvir o reconfortante som natural do riacho que passava aos fundos, de onde uma sacada confortável nos forneceu tal visão e audição paradisíaca. Após um rápido relaxamento, fomos ao "Tulipa Bar", onde fomos recebidos com festa pelas proprietárias do estabelecimento, sempre simpáticas e hospitaleiras.
Uma
rara foto desse show que fizemos no Tulipa Bar de Concórdia-SC, do acervo de Liza
Bueno, que aparece na foto à esquerda, e é componente da banda,
"Epopeia", de Chapecó-SC
O
soundcheck foi tranquilo e nós ficamos contentes por ouvirmos a notícia de que
a ultra animada turma de Rockers de Chapecó, reservara muitos
ingressos e chegaria em um ônibus fretado, com certeza. A noite seria quente e
emocionante, certamente.
Com a mesma emoção e entusiasmo que receberam-nos no show anterior, realizado em junho, subimos ao palco e realizamos um Concerto de Rock a moda antiga, em toda a sua pompa e circunstância. Super animada, a turma de Chapecó-SC delirou do começo ao fim e uma novidade boa a mais foi que houve a presença de um contingente bom formado por Rockers de Concórdia-SC, e outras cidades vizinhas, também.
Se da primeira vez a turma de Chapecó tornara o show
sensacional em meio a uma certa frieza da juventude burguesa de
Concórdia, que lotou o bar na primeira ocasião em que ali tocamos, desta
feita, houve um bom reforço local, e o show ficou ainda mais quente.
Uma novidade sob improviso, o Rodrigo Hid propôs que tocássemos "Trem", uma música do primeiro disco da Patrulha do Espaço com o Arnaldo Baptista e que havíamos tocado em algumas apresentações semi acústicas, inclusive já citadas. Não estava 100 % ensaiada nesse momento, mas foi executada corretamente e com uma novidade, o nosso roadie, Daniel "Kid" subiu ao palco para tocar violão, conosco.
Não fora uma novidade para nós, visto que nós sabíamos ele era um bom guitarrista e baixista, e que costumava fazer os testes preliminares no soundcheck, ao acertar timbres de baixo e guitarras. Portanto, sua participação foi muito boa e o público, principalmente o de Chapecó, que era fanático pela Patrulha do Espaço, ao reconhecer todos os discos, delirou com uma peça rara a ser executada ao vivo, e de uma forma muito inesperada por eles.
A casa
estava super lotada, com cerca de trezentas pessoas presentes, segundo nos informaram as
suas proprietárias. Foi o dia 15 de novembro de 2002, uma sexta-feira, e mais
uma página Rocker fora cumprida com galhardia pela tripulação dessa
nave.
O nosso próximo destino foi a cidade de Joaçaba-SC!
A distância entre Concórdia e Joaçaba é muito pequena, e assim, nos demos ao luxo de descansarmos até a hora do almoço no apart-hotel, e usufruir, por conseguinte, do seu riacho natural que lhe conferia uma aura de um "spa zen".
Quando
chegamos à Joaçaba-SC, no meio da tarde, constatamos que a cidade continha uma
beleza natural incrível por conta de um grande rio, a cortar o seu centro, e
pela presença de muitas montanhas íngremes, com mirantes que fatalmente
atraiam turistas.
Vista aérea da cidade de Joaçaba-SC
Efetuamos uma
parada no hotel para acomodarmos as nossas bagagens pessoais e rumamos
para o local do show, que se chamava: "Bar Ponto de Vista".
Assim que
começamos a subir uma montanha muito íngreme, já percebemos que o nome
do estabelecimento fazia jus à sua localização, pois ficava instalado no topo de
uma dessas montanhas que circundavam a cidade e cuja vista panorâmica, se revelou espetacular.
Um dos muitos mirantes da cidade de Joaçaba-SC e que certamente deve atrair muitos turistas
Fomos
muito bem recebidos pelo seu proprietário, um jovem empreendedor e logo
notamos que ele tinha apoio familiar na administração, com os seus parentes
ali presentes e todos a se mostrarem muito simpáticos e entusiasmados com a perspectiva do nosso show.
Eles
estavam eufóricos com a nossa presença, a demonstrar respeito pela nossa
história, e eu apreciei muito essa demonstração explícita e rara, eu
diria.
Segundo contaram-nos, a divulgação fora maciça com material gráfico, faixas espalhadas pela cidade e
como reforço, uma rádio local que só tocava Rock por 24 horas ao dia, estava a executar spots
com uma vinheta a conter uma música nossa, como chamariz.
Bem, pareceu tudo pronto para a Festa do Rock!
A casa em si era rústica, sem nenhum luxo, mas muito confortável e aconchegante. Com três patamares, continha muitos pontos de visão privilegiada para se avistar a cidade inteira lá embaixo e se à luz do dia já era para tirar o fôlego, a visão noturna devia ser incrível, também.
Voltamos para o hotel, nos fartamos com pizzas e quando voltamos para o local, o público presente já se mostrara muito bom, e claro, haviam muitos fãs da Patrulha do Espaço, incluso vindos de cidades vizinhas. Uma banda a conter história, mesmo ao estar alojada no underground, detinha essa vantagem, naturalmente e isso foi um grande incentivo para nós.
O show foi
quente ao extremo. Executamos o nosso set list tradicional e o público
respondeu de uma forma magnífica. Sim, havia também a presença de pessoas que não sabiam exatamente
quem nós éramos, uma praxe nesse circuito de casas noturnas e notadamente em
cidades interioranas, mas o contingente Rocker tratou de manter o clima
de um autêntico show de Rock a se impor e tudo funcionou.
Aconteceu no Bar Ponto de Vista, de Joaçaba-SC, com cerca de duzentas pessoas presentes, em 16 de novembro de 2002. Ao deixarmos a casa noturna já sob o silêncio da madrugada, a visão foi belíssima da cidade vazia.
Descansamos bastante e mais ou menos às 13 horas de
domingo, 17 de novembro, nos colocamos na estrada para voltarmos à São
Paulo.
Teríamos
cerca de oitocentos km para enfrentar, mas sem pressa, sem forçar o ônibus,
pois não tínhamos compromisso imediato em nossa cidade e a próxima
etapa da turnê dar-se-ia somente a partir de 21 de novembro, em cidades do interior
paulista.
Ao reduzir drasticamente a velocidade, motivado pelo perigo que foi viajar a noite e sem faróis, houve um segundo objetivo nessa estratégia, que foi o de ganhar tempo, a torcer para amanhecer logo, e assim tornar a viagem mais segura, além de não chamar a atenção de policiais rodoviários que se nos vissem naquelas condições, fatalmente parar-nos-iam e haveria a aplicação de multas e até a detenção do carro, sabe-se lá.
E assim foi, comigo (Luiz Domingues), Luiz "Barata" Cichetto e Rolando Castello Junior ao lado do "Seu" Walter, a ajudá-lo com mais três pares de olhos para seguir naquela estrada perigosíssima que é a BR 116/"Régis Bittencourt".
Começou a amanhecer, enfim, e respiramos aliviados ao vermos os raios de sol no horizonte. Ao chegarmos em São Paulo, descarregamos o equipamento na minha residência da Aclimação, com o carro ligado e só o desligamos na garagem que alugávamos, no Cambuci, bairro vizinho.
Esta foi uma etapa da turnê muito vitoriosa da turnê, e esse problema com o ônibus nos deu um certo receio, mas não tirou o mérito da empreitada toda.
Próximo destino: São José do Rio Preto-SP ...
Alguns dias depois da última turnê por Santa Catarina, estivemos novamente a bordo do intrépido "azulão", mas desta feita a nos dirigirmos para o interior de São Paulo.
Calor tórrido de final de novembro e com a perspectiva de ficar ainda mais quente pelo fato de irmos ao sempre abafado interior paulista, ao menos tivemos a certeza de que seria fervoroso em termos de animação, igualmente, pois seriam quatro shows, com ótimas perspectivas.
Mediante a formação da nossa
comitiva habitual, mas reforçados por Claudia Fernanda, e por um dos
filhos do Junior, o James Castello, tivemos mais uma vez a simpática presença
do poeta, Luiz "Barata" Cichetto, a nos auxiliar.
Para minimizar o calor, saímos um dia antes, durante a noite, quase madrugada de quarta feira, 20 de novembro. De fato, na calada da noite existem os perigos inerentes da estrada, é dobrada a atenção e tudo mais, mas o frescor da madrugada, ao evitarmos o sol a pino, de fato tal escolha fez bem para todos, principalmente para o nosso ônibus, que se desgastou muito menos.
O nosso
primeiro destino foi São José do Rio Preto-SP, cidade natal dos nossos
amigos do "Hare", banda que conhecêramos ao final de 2001, e cujos
membros haviam se tornado nossos amigos.
E boa
nova, eles fariam a abertura do nosso show e isso seria a garantia de uma
ótima apresentação e sobretudo, 100 % coadunada com os nossos ideais.
Chegamos
pela manhã na cidade, bem cedo, e deu para aproveitar algumas horas
de descanso no hotel. Tudo sob controle, foi possível almoçarmos em um
restaurante bom do centro da cidade, acompanhado de nosso amigo, Junior
Muelas e tranquilamente fazermos a montagem do equipamento no local da
apresentação.
Tal
estabelecimento era novo na cidade e prometia ser um polo de cultura
para o povo riopretense, por isso estivemos contentes em estarmos ali
naquele momento em que se iniciara as suas atividades.
Tal nova casa se chamava:
"Cultural Bar", mas ia além de um bar tradicional enquanto casa noturna
nesses moldes, pois a despeito de possuir de fato um bar em seu complexo, a
pretensão de seus proprietários fora a de fazer do local um mini centro
cultural multiuso, não focado apenas em apresentações musicais, mas
ao abrir para outras manifestações artísticas e culturais, ainda que os
shows de Rock fossem o carro chefe das atividades ali produzidas.
Não seria a inauguração da casa em si, visto que tal celebração ocorrera uma semana antes, mediante show da banda paulistana, "Velhas Virgens", mas haveria de ser ainda sob o clima de novidade, ainda, certamente.
Não se mostrava como uma instalação luxuosa, mas os seus proprietários haviam se esforçado para arrumar e decorar a casa de uma forma muito agradável. Tratava-se de uma construção antiga, bem no centro da cidade, situada em plena Avenida Voluntários de São Paulo, famosa e importante via da cidade de São José de Rio Preto-SP.
O único senão para esse simpático estabelecimento, foi pela questão da enorme escadaria que havia da rua para o seu mezanino e dessa forma, os nossos roadies sofreram uma barbaridade para carregarem o equipamento da banda para dentro da casa.
Soundcheck
feito com enorme tranquilidade e confraternização total com os amigos
do "Hare", só nos restou então esperarmos a hora do show.
Voltamos ao hotel, descansamos e nos arrumamos com tranquilidade.
O fã, André Galão, a nos entrevistar para o seu fanzine, nas dependências do Cultural Bar de São José do Rio Preto-SP, em novembro de 2002. Tal momento foi registrado nas páginas do Jornal, "Realidade
Regional"
Quando
chegamos novamente nessa casa, um fã que havia se deslocado de uma pequena cidade vizinha
(Guaraci-SP), nos esperava com vários discos da banda em mãos e nos entrevistou
para o seu fanzine.
Esse rapaz se chamava: André Galão e estava tão entusiasmado em nos assistir, que a sua animação nos contagiou, e claro que foi sensacional ter uma demonstração de carinho desse porte.
O show do "Hare" foi ótimo, exatamente como eu esperava e ali, mais uma vez eu me nutri de esperança quanto ao futuro do Rock brasileiro, embora, ao analisar hoje em dia, 2016, não é por falta de talentos que lastimamos a fase péssima em que vivemos, mas exatamente pelos espaços culturais serem blindados para artistas desse quilate.
Chegou a nossa vez e o público Rocker de São José do Rio Preto-SP, respondeu como prevíramos, com um calor humano total. Foi um show muito animado, a honrar as tradições da banda e dos Rockers locais.
Foi o dia 21 de novembro de 2015, uma quinta-feira, e cerca de cem pessoas nos viram nessa noite. Ossos do ofício, o show do dia seguinte seria em uma cidade muito próxima, mas a nos obrigar a retroagir cerca de cinquenta Km para trás, sendo que no dia seguinte teríamos que voltar a S. J. do Rio Preto para seguir adiante e irmos para outra cidade, além.
Nem sempre a turnê ficava alinhada com a logística que interessar-nos-ia e
quando aconteciam tais anomalias operacionais, nós brincávamos, ao dizer que
seria uma "turnê da barata tonta"...
Duas fotos a mostrar a cidade de Catanduva-SP
Paciência,
por não ser possível ter agendado ao contrário em relação ao show da
noite anterior, lá fomos nós para Catanduva-SP, cidade localizada cerca de cinquenta Km adiante de Rio
Preto, mas no sentido inverso do que teríamos que cumprir ainda.
Catanduva
também é uma cidade bem quente e quando chegamos ali, o sol estava
abrasador. Lembro-me que o Luiz Barata estava contente por estar ali,
pois esta cidade era a terra natal de sua mãe.
A casa em que tocaríamos chamava-se: "Ópera Pub". Tratava-se de uma casa dotada de muros baixos, a se observar uma ampla área a céu aberto e o palco ficava instalado em um local mais reservado, mas não exatamente fechado, com as laterais abertas e a nos dar a visão parcial do enorme pátio ao ar livre.
Lembrou-me vagamente o estilo arquitetônico do The Doors Pub, de Monte Alto-SP, aonde tocáramos quase um ano antes, mas este era mais rústico e o palco e equipamento disponibilizados, bem piores. No quesito estrutura, esteve mais próximo do padrão do V8, de São Roque-SP, local em que tocáramos no início do ano.
Empreendi a minha
caminhada habitual para comprar os jornais locais e no meio do caminho me arrependi, pois ali não era o centro da cidade e após caminhar por vários
quarteirões sem achar uma banca de jornais sequer, eu estive a desidratar de tanto
calor, quando finalmente avistei um posto de gasolina com uma loja de
conveniência em anexo. E o pior de tudo, o meu sacrifício fora em vão, pois nem uma
mísera nota houvera sido publicada nos jornais locais.
Passado esse sufoco com o calor local, de volta ao estabelecimento, o soundcheck foi feito e nos deixou claro que não seria um show confortável para nós.
As deficiências de um equipamento de PA inadequado, atrapalhar-nos-iam, certamente. Resignados, demos o nosso máximo ali, e encerradas as possibilidades para melhorar a qualidade sonora, nos contentamos com o melhor possível.
Fomos
levados ao hotel por uma pessoa da produção local e quando chegamos,
vimos que este era simples pela fachada, mas não houve problema, ali em nossa comitiva ninguém
era uma "diva temperamental" a dar chiliques diante desse fato.
No entanto, quando entramos no estabelecimento...
Bem, para início de conversa, a fachada enganava, pois lá dentro, o que nos pareceu mesmo, foi que se assemelhava a uma penitenciária. Cheio de corredores labirínticos, fomos guiados pelo funcionário do hotel para os quartos e quando achávamos que seria uma estadia ruim, tudo piorou, pois percebemos que os nossos quartos ficariam em uma ala rebaixada, como se fosse um porão da construção e que para acessá-la, tivemos que curvar as nossas cabeças para adentrar um corredor sob um nível abaixo.
Entramos
nos quartos em duplas e o interior de cada um, se mostrava um horror. O aspecto
das paredes, com a pintura descascada, vários pontos de mofo, baratas
a passearem alegremente pelo ambiente e o pior de tudo, um calor
horripilante que não seria vencido pelo ventilador draconiano ali disponibilizado, que deve ter sido fabricado nos anos 1920, pelo seu design e aspecto mal-conservado.
Alguns chuveiros simplesmente não funcionavam e assim, de forma solidária, nos organizamos para usar os poucos disponíveis, a atrasar o processo da preparação da comitiva. De comum acordo, resolvemos não nos hospedarmos ali e após o show, colocarmos o equipamento no carro e partirmos imediatamente para Jales-SP, o nosso destino para o sábado subsequente.
Voltamos
para a casa noturna e quando chegamos, vimos que ela estava lotada. Seria mais
uma casa em que apresentar-nos-íamos na qual a maioria das pessoas presentes nem tinha ideia sobre quem éramos, formada pela
jovem burguesia local.
Clima de balada, com muita menina bonita e garotões bem aprumados a descerem de carrões caros, como clientela básica etc.
No entanto, como em todo show, houve a presença sempre emocionante dos abnegados fãs locais e alguns vindos de cidades vizinhas. Com discos de vinil e CD's da banda em mãos, foi muito agradável para nós verificarmos nos seus semblantes a emoção por nos verem a adentrarmos ali em tal ambiente, com alguns a nos abordarem antes mesmo do espetáculo, e a pedirem desculpas por não serem a maioria ali a nos prestigiarem.
Ora, esses fãs não tiveram culpa alguma nesse aspecto e de certa forma também foram vítimas das circunstâncias, por todos nós, Rockers estarmos todos a vivenciar uma época difícil para o Rock.
Alheios a essas constatações, os jovens burgueses se divertiam, bem dentro daquela prerrogativa clássica da noite: estavam ali para se embebedarem, arrumarem parceiros sexuais e nada mais.
O som mecânico da casa nos massacrara os ouvidos. Música eletrônica maçante, sem sentido artístico algum, mas tão somente a se constituir de um ruído contínuo, onomatopaico e monocórdico para entorpecer a mente e justificar a a sanha pela bebedeira.
Foi quando o dono da casa anunciou uma banda de abertura. Bem, fomos verificar se na ausência do som mecânico e monocórdico, quem sabe o público tão blasé, interessar-se-ia por Seres humanos a tocarem canções conhecidas que supostamente pudessem cantar junto, pensamos.
Mas ledo
engano de nossa parte, o estranho combo formado por um trio a se exibir mediante violão, voz, baixo & bateria e
a tocarem como se fosse um show intimista de barzinho, não chamou a
atenção de ninguém, embora fossem bons músicos e estivessem a executar
clássicos do Rock sob arranjos minimalistas.
Achávamos que seria um show tradicional de abertura, com trinta ou trinta e cinco minutos, no máximo, mas a apresentação desses rapazes se alongou de uma forma absurda.
Reclamamos com o gerente da casa e este nos comunicou que desejava que nós começássemos por volta da uma hora da manhã, portanto, a abertura desse combo, foi com quase duas horas, ao passar muito do limite suportável e assim causar tédio generalizado, inclusive em nós, que nos aborrecemos com uma espera tão longa.
Para piorar a situação, não havia camarim, portanto, o resguardo ocorreu ali com o nosso pessoal a aguardar sentados em uma mesa, em meio a balbúrdia da clientela, e daí o cansaço se multiplicou.
Quando entramos em cena, os fãs da banda se agitaram e isso nos forneceu a energia para fazermos o nosso show com entusiasmo, apesar da canseira, sobretudo mental, pela qual estivemos submetidos.
E assim foi, com aqueles vinte e poucos freaks a agitarem o espaço como se estivessem a nos ver a atuarmos no palco do "Marquee" de Londres, mas o restante co contingente presente na casa, cerca de trezentas e trinta pessoas, aproximadamente, completamente alheias e nem preocupadas em aplaudir educadamente, mas a nos ignorar, retumbantemente.
Isso não nos incomodou
em nada e os vinte e poucos verdadeiros fãs fizeram a sua parte a vibrarem e a apreciarem a nossa performance, e além do mais, não fora a primeira vez em que nos deparávamos com um tipo de
público blasé, assim.
Quando demos o último acorde, o DJ da casa não aguardou nem um segundo de pausa e soltou novamente no PA do ambiente, um bombardeio com "música" eletrônica.
A jovem burguesia teve uma reação quase bovina ao comando, que me fez lembrar do filme: "A Máquina do Tempo" ("The Time Machine"), de 1964, e baseado na obra de H.G. Wells... quem viu esse filme, há de se recordar do sinal da sirene, que hipnotizava as pessoas.
Bem, os
poucos freaks presentes, se fartaram com a nossa música e assim, artisticamente
a falar, foi a nossa motivação maior ali, certamente. Resolutos
em viajarmos imediatamente para Jales-SP, apesar do cansaço, foi uma escolha muito melhor
do que tentar dormir e não conseguir, certamente, em meio àquele hotel
insalubre!
Já estava a clarear quando chegamos a cidade de Jales-SP, distante quase seiscentos Km de São Paulo. Bem perto da divisa com Mato Grosso do Sul, Jales é mais uma cidade muito quente do interior paulista e que já havíamos visitado antes, na primeira vez que fizéramos uma etapa de turnê com muitos shows contínuos, em dezembro de 2001.
Naquela
ocasião, caso o leitor não se recorde, nós havíamos desapontado o público local, ao
não executarmos uma música que eles ansiavam e pediram em coro: "Olho
Animal". Desta vez,
a tínhamos ensaiada no set list e não haveríamos por frustá-los, embora essa canção não fosse querida por pelo menos três quartos da banda: eu (Luiz),
Marcello e Rodrigo.
Ficamos alojados em um hotel muito confortável e razoavelmente próximo de tal salão e pelo fato em termos chegado muitas horas antes do previsto, por não termos dormido em Catanduva-SP, conforme se planejara o cronograma da turnê, pudemos dormir até a hora do almoço, para recarregar a nossa energia.
Almoçamos em um bom restaurante perto do hotel e com muita tranquilidade fomos ao salão no período da tarde, para montarmos o nosso equipamento e realizarmos o soundcheck.
Tivemos
sorte e azar ao mesmo tempo, quando uma súbita nuvem negra surgiu no céu
e uma tempestade caiu sobre a cidade. Sorte por que foi providencial
para refrescar a temperatura que era altíssima até então, mas azar
por que nos atrasou em demasia para descarregarmos o equipamento do ônibus.
Bem, quando a chuva se amenizou, os roadies aceleraram o processo e na base da pressa desmesurada, montaram tudo a compensar o atraso. O rapaz da produção local não havia economizado somente com o salão mais modesto, mas desta feita, contratara um equipamento de PA muito simples e com um técnico completamente despreparado para sonorizar um show de Rock.
Esse senhor, dono de tal equipamento, devia
estar acostumado a sonorizar festas prosaicas, quermesse de igreja, comícios
políticos e outros eventos desse nível, mas show musical e ainda por cima, Rock, foi algo muito
fora de sua realidade, notamos de imediato.
A contar como assistente com o seu filho, um garoto na faixa dos treze ou quatorze anos de idade, no máximo, e tão incauto quanto ele, foi um soundcheck bastante sofrido pela total inoperância de ambos e que irritou a todos. Paciência, foi o que tivemos e assim, a solução foi amenizar um pouco na dinâmica, fator que não era o forte da Patrulha do Espaço, por sinal.
Voltamos para o hotel e após o jantar muito bom, naquele mesmo restaurante do almoço, e desta feita lotado por famílias e estas com seus componentes com um olho no garfo e outro nos monitores de TV, a exibir as novelas da Rede Globo, nos arrumamos e por volta da meia noite, o organizador veio nos buscar.
O salão estava bem cheio quando chegamos e a banda de abertura, quase pronta para iniciar o seu show. Tratava-se da mesma banda que abrira o nosso show em dezembro de 2001, chamada: "O Velho Lobo".
Os rapazes dessa banda estavam em estado de comoção, pois um de seus componentes havia falecido recentemente, mediante um acidente náutico ocorrido em uma represa ou lago local, infelizmente, é claro.
Por volta de quase uma
hora da manhã, começamos o nosso show. Os fãs urraram e vibraram como se
comemorassem um gol dentro de um estádio de futebol. Apesar das más condições
sonoras e uma iluminação muito deficiente, foi muito mais animado que o show
anterior de 2001, não houve dúvida.
Contudo, estávamos a apanhar muito do PA ruim, e sobretudo ao ser operado pessimamente pelo fraco técnico e assim, tivemos até algumas interrupções do show para o sujeito poder detectar microfonias insuportáveis e coibi-las, mas nem assim, sob silêncio, ele se mostrara-se ágil o suficiente para detectar a frequência e apertar um simples botão de "mute", no mixer que operava.
Aos trancos e barrancos fomos a tocar, e brigar com as microfonias desagradáveis que perturbavam o show, mas a despeito disso, o espetáculo teve picos de euforia, como na inevitável execução de: "Olho Animal", que causou comoção no salão, ao provocar com que as pessoas cantassem com a banda, em plenos pulmões. Bem, nese aspecto, nós resgatamos a nossa dívida com os fãs de Jales-SP, enfim.
Missão cumprida, fora um show difícil para nós, pelas más condições técnicas, no entanto, eu acho que satisfizemos o público. Assim foi no dia 23 de novembro de 2002, um sábado, em um evento batizado como "TNT Rock", em Jales-SP.
Dormimos e após o almoço, carregamos o equipamento e entramos na estrada rumo a São Paulo. Não tínhamos mais compromissos, mas houveram dois convites informais formulados, que não recusamos e isso fez com que realizássemos duas paradas, ao atrasar bastante a volta para a capital.
O primeiro,
se tratou um prêmio que queríamos dar para o nosso motorista, o "seu" Walter.
Quando ele soube que iríamos para essa região do estado, nos pedira-nos para
pararmos por meia hora em um posto de gasolina às margens da cidade de
Votuporanga-SP, no meio do caminho entre São José do Rio Preto e Jales, para que ele pudesse rever os seus familiares, que não encontrava, há anos.
Claro que aceitamos lhe fazer esse agrado e estendemos tal parada em mais de uma hora do previsto, para que ele pudesse se confraternizar com os seus parentes, que foram muitos, pois apareceu ali no posto uma pequena multidão para revê-lo.
Ficamos contentes em lhe ofertar esse presente, visto que ele esteve conosco em todas as viagens, desde fevereiro daquele ano, e tirante a sua direção segura, nos ajudara muito em relação aos inúmeros problemas que tivemos, além das ações voluntárias em prol da manutenção periódica que empreendia em nosso ônibus, muitas vezes ao ir à garagem onde ele ficava estacionado e assim a fazer um trabalho pesado, por levantar sozinho a sua carroceria e trabalhar no sistema de freios, embreagem e suspensão, para trocar peças etc.
Muito feliz e até comovido ao ponto de chorar, "seu" Walter ficou muito emocionado por rever os seus parentes e na situação pessoal em que vivia, com poucos recursos, foi natural que não tivesse meios para revê-los com constância e só assim mesmo, sob um arranjo oportuno, proporcionado pelo seu trabalho ocasional.
Se dirigisse um ônibus de linha ou caminhão de carga de uma empresa, jamais teria essa regalia, mas sob o nosso trato que se pautava pela absolutamente informalidade, claro que poderíamos concretizar tal momento feliz para ele.
Pessoas
simples, mas com aquele senso de hospitalidade e bondade tipicamente
interiorano, os seus familiares nos presentearam com uma caixa de laranjas,
e que aliás, estiveram dulcíssimas.
São José do Rio Preto-SP
E a
segunda parada foi em São José do Rio Preto-SP, por volta das três da tarde quando o
nosso amigo, Junior Muelas, nos aguardou na beira da estrada, e assim nos conduziu à
sua residência, que ostentava ares de uma chácara rural.
Lá, a sua família nos recepcionou com um farto almoço interiorano, e muitos Rockers locais e amigos dele estiveram presentes, também. Em clima de comunidade Hippie, a tarde foi agradabilíssima, com comida boa e farta, suco de frutas colhidos no pomar da casa e tudo ao som da ótima coleção de vinis de Junior Muelas.
Foi um relaxamento tão bom, que já começava a anoitecer quando nos demos conta que teríamos ainda, quatrocentos e cinquenta Km para enfrentar, rumo a São Paulo.
Passara um pouco das duas da manhã, quando começamos a avistar a impressionante selva de pedra da capital. Chegamos em casa com segurança e com mais uma etapa da turnê, cumprida.
Na próxima semana, haveria uma nova incursão ao interior paulista, mas em outro quadrante de nosso estado.
Mais uma semana chegou e nós estivemos de novo na estrada, desta feita para visitarmos um outro quadrante do estado de São Paulo. Fomos novamente para Ribeirão Preto-SP, mas também a passar pelas cidades de Jaboticabal-SP e Indaiatuba-SP.
Sobre Ribeirão Preto, a nossa última lembrança não fora boa, não pelo show em si que cumprimos, mas pela tragédia do dia seguinte, com a tempestade e o verdadeiro "tsunami" que devastara a cidade e nos causou muitos problemas. Desta vez, nem cogitávamos que esse raio caísse novamente sobre as nossas cabeças e a motivação foi outra, ao desejarmos um bom show e nenhum problema externo no decorrer dessa etapa da turnê.
Mas na
verdade, Ribeirão Preto foi o nosso segundo destino. Fomos primeiro para
Jaboticabal-SP, uma pequena cidade, localizada na mesma região.
Aprazível ao extremo, a cidade estava ensolarada assim que a vimos, mediante o seu típico calor tórrido, mas logo nos refrescamos no hotel que ficava situado em uma praça enorme e muito bonita, bem cuidada e tipicamente interiorana, com direito a um coreto e a se mostrar super ajardinada e arborizada.
Entrada principal do Hotel Municipal de Jaboticabal, com a sua arquitetura vintista, que nos encantou
Sobre o hotel, este cabe destaque também por conta da sua arquitetura dos anos 1920, ao denotar estar parado no tempo, de tão bonito e conservado que aparentava estar. Marcello e Rodrigo o filmara amplamente e um dia, essas imagens de bastidores irão parar no YouTube, assim espero.
A típica "Praça da Matriz" de Jaboticabal-SP, aonde ficava o hotel em que nos hospedamos e do outro lado, a casa de espetáculos na qual fizemos o show
A casa na qual tocaríamos ficava no outro lado da praça e era muito bonita,
exatamente por ser um casarão daqueles típicos do interior, dotado de um pé
direito muito alto, com janelas imensas na fachada, e amplos cômodos. Ficara
claro se tratar de uma antiga residência de família, mas que naquele momento estava
adaptada para servir os anseios de uma casa noturna, embora o proprietário tenha sido
feliz ao preservar ao máximo a originalidade da sua construção.
No almoço ali servido, eu senti que a refeição não me assentou bem. Fiquei então com dores estomacais no período da tarde, e abstive-me de supervisionar a montagem do equipamento, para descansar no hotel, para ver se conseguiria ao menos estar presente no soundcheck.
Daniel "Kid", nosso roadie, ficou de prontidão para equalizar o som do baixo, caso eu não conseguisse e ele tinha habilidade para tal, por ser um bom baixista e guitarrista, também.
Enquanto isso, o "seu" Walter e Luiz Barata se prontificaram a percorrer a cidade, com o objetivo de acharem uma oficina mecânica, pois na viagem, o nosso motorista já havia detectado problemas na embreagem do ônibus.
Tratar-se-ia de uma
peça relativamente barata, mas teria que necessariamente extrair o motor
fora da carcaça do carro, para fazer a troca e remontá-la, ao se gastar horas nessa operação e com a certeza
das roupas a se emporcalharem-se em meio a graxa, na falta de uniformes adequados para se cumprir tal função.
Nada mais interiorano que a fonte luminosa de uma praça bem em frente à matriz da cidade... Eis a bucólica praça central de Jaboticabal-SP
Chegou o fim da
tarde e vieram me chamar no hotel. O meu estômago havia se acalmado, mas
ainda não estava 100%, todavia, eu pude ir até a casa onde tocaríamos e
realizei pessoalmente o soundcheck.
Anoitecia e
a temperatura se tornou muito mais agradável. O dono do estabelecimento nos ofereceu um jantar muito bem servido na área externa da casa,
local onde antes houvera sido um amplo quintal residencial.
O nosso
amigo de São José do Rio Preto-SP, Junior Muelas veio assistir o show e
trouxe consigo alguns amigos como acompanhantes, rapazes e moças a formar uma pequena comitiva com Rockers entusiasmados. A noite
prometera.
O baixista Superb, Gabriel Costa, do "Homem com Asas" na ocasião, e hoje em dia (2016), no Violeta de Outono e com outras bandas (Kaoll, Dialeto etc)
A banda de
abertura nessa noite foi o "Homem com Asas", uma outra banda amiga da nossa e que já
havia aberto os nossos shows pelo interior de São Paulo, em outras ocasiões e cujos componentes eram
nossos amigos de ideias & ideais. Foi muito bom e animador ter Gustavo
"Gus", Gabriel Costa & Cia. conosco nessa noitada.
Quando voltamos ao hotel para o relaxamento, verificamos que a praça estava com mais contingente a circular no seu espaço, mas a frequência estava estranha, com muitas travestis seminuas de forma indecente a desafiar o pudor e também um séquito de malandros, ao estilo da periferia das grandes cidades. Nessa altura, já estávamos convencidos de que o interior estava contaminado por tais hordas urbanas e isso não era mais exclusividade das grandes cidades, infelizmente.
Quando retornamos à casa, que chamava-se, "Otello", vimos que o "Homem com Asas" já estava a tocar a todo vapor. Sobre a banda, nada a comentar, a não ser o que já sabíamos: era ótima e se não tocavam músicas autorais, normalmente, os covers que faziam eram destinados aos ouvidos privilegiados, pois os seus componentes escolhiam muitas músicas do "lado B" de bandas clássicas, e até de bandas obscuras do Rock das décadas de 1960 & 1970, predisposição de, e para experts.
A casa continha um ótimo público nesse instante, com muitos freaks locais, mas a seguir o padrão de casas noturnas interioranas, a maioria do público foi formada por jovens bem-nascidos, financeiramente a se observar, da sociedade local.
O dono do estabelecimento se mostrara gentil, todavia estava contrariado com o volume com o qual o "Homem com Asas" estava a se apresentar e assim mandou insistentes recados para que o seu ímpeto fosse diminuído. A sua preocupação teve uma razão justa, visto que o casarão estava cercado por residências e certamente que seria muito improvável que a vizinhança fosse formada por admiradores das canções do "Led Zeppelin", "Cactus" e "Budgie", entre outras pérolas, que estavam a serem executadas com maestria pelos componentes do "Homem com Asas"...
Por outro lado, cabe também a clássica observação, não só para essa casa, mas para quase todas as que se propõem a realizar shows de Rock, ou seja, a sua direção não investe um centavo na estrutura de isolamento e prefere atazanar os artistas com pedidos de volume inaceitáveis para a prática corriqueira do Rock'n' Roll.
Bem, já
ficamos avisados subliminarmente que ele perturbar-nos-ia com tal reivindicação e no caso
da Patrulha do Espaço, seria difícil conter a volúpia sonora tradicional da
banda. E foi o
que ocorreu, embora eu deva salientar que o rapaz se mostrara cortês e
se nos pressionou, foi por estar a ser violentamente pressionado,
também.
Lembro-me até de ter acontecido uma interrupção abrupta de nosso show, quando nos foi informado que uma viatura da Polícia Militar houvera estacionado na porta, devidamente acionada pelos vizinhos e logo após a execução da música, "Robot", nós tivemos que estabelecer uma parada estratégica do espetáculo e dessa forma, só voltamos para concluir o show, após alguns minutos com um clima um tanto quanto estranho por conta do nervosismo ali instaurado.
No entanto, nós o concluímos, sim, e apesar dos pesares tal interrupção forçada não chegou a estragar a noite, pois a impressão causada no cômputo geral fora a melhor possível e nós apreciamos muito a reação calorosa da plateia.
Aconteceu no dia 29 de novembro de 2002, no "Otello", de Jaboticabal-SP, e com cerca de trezentas e cinquenta pessoas na plateia.
Voltamos para o hotel, satisfeitos com o show de Jaboticabal e só houve um problema a ser resolvido: o "seu" Walter achara a peça que o ônibus necessitava, mas o conserto demorado ficara para a manhã seguinte. Ele e Luiz Barata se prontificaram a cuidar disso e os demais, incluso eu, pudemos descansar, enfim.
Por volta das duas da tarde do dia seguinte, foi quando eles sinalizaram que estava tudo certo para partirmos, e
por sorte, o trajeto entre Jaboticabal e Ribeirão Preto é mínimo.
Despedimo-nos do charmoso hotel vintista, com o sentimento bom do dever cumprido.
Com a
embreagem do ônibus a funcionar a contento, graças à peça nova que "seu"
Walter instalara com a providencial ajuda do Luiz Barata, a viagem até o
próximo destino foi muito tranquila.
Chegamos
rapidamente em Ribeirão Preto-SP e o nosso objetivo seria novamente nos apresentarmos no Bar
Paulistânia, mas desta feita, com a abertura da ótima banda local,
"Senhor X", da nossa já amiga e bela cantora, Carla Viana.
Ela em pessoa estava empenhada na produção local e ao se esmerar para fazer o melhor que poderia, certamente que lograria êxito, pensamos, e claro, isso nos animou.
Ficamos
hospedados em um hotel na mesma Avenida Junqueira, onde ficáramos na
ocasião anterior e de onde vimos a tragédia da enchente, já relatada em
capítulo anterior. Mas desta vez, em um outro hotel que era melhor
categorizado, e assim, o conforto sempre foi bem-vindo, logicamente.
Eu ainda não estava 100 % refeito de meu desconforto estomacal sentido no dia anterior e diante desse enjoo que me incomodava, mais uma vez eu fui poupado pelos companheiros e não supervisionei a montagem do equipamento. Nesses termos, eu compareci ao Paulistânia somente para o soundcheck.
O equipamento estava melhor, realmente, em relação a ocasião anterior, e após o soundcheck nós voltamos tranquilamente ao hotel, com a sensação de que o show seria melhor pelo ponto de vista técnico.
Ao me sentir um pouco melhor em relação ao meu problema estomacal, eu não abusei no jantar, ao ingerir uma refeição mais leve que os demais que pegaram pesado, na boa comida servida no restaurante do hotel.
Com sobra
de tempo, alguns se recolheram para efetuarem um repouso breve, mas eu notei que
Rodrigo e Luiz Barata estavam com vontade de conhecer o "Pinguim", uma
famosa chopperia da cidade e que possui fama nacional pela qualidade de seu
produto principal.
Como eles não conheciam a cidade, mas eu sim e desde a infância, pelo fato de ser a terra natal de minha mãe e onde sempre mantive muitos parentes ali a morarem, me coloquei à disposição de ambos para levá-los ao estabelecimento.
Sob uma
caminhada rápida, com cerca de quinze minutos de duração, apenas, estivemos enfim presentes na famosa Praça XV de
Novembro, e ao lado do belo, Teatro Municipal de Ribeirão Preto, entramos
no badalado, Pinguim.
Enquanto os meus amigos testavam a qualidade do seu famoso chopp e eu ficava no meu tradicional refrigerante, nós admiramos a arquitetura do estabelecimento e sobretudo o fato dele estar absolutamente lotado e ainda não havíamos chegado nem às nove horas da noite, a denotar que o estabelecimento manter-se-ia no seu pico, por muitas horas.
No entanto, teríamos trabalho pela frente e dessa forma nós rapidamente deixamos tal ambiente e voltamos ao hotel para efetuarmos os preparativos pessoais e a providenciar a ida da comitiva até a casa de shows onde apresentar-nos-íamos.
Assistimos o show da banda, "Senhor X", com prazer, e logo veio a nossa vez de atuar.
Foi um
show muito mais energético que o da última vez e o público chegou a
urrar de euforia em alguns momentos de pico da nossa apresentação. Carla Viana participou conosco em uma canção, chamada ao palco pelo Rolando Castello Junior, e com seu vozeirão e beleza física óbvia, somou, sem
dúvida.
Chegamos ao final
do show, com a música: "Columbia" e no uso da sua clássica introdução que foi uma marca registrada
de nossa formação, a apresentar um arranjo diferente em relação ao contido no disco original, a vibração fora garantida. E sempre mediante um riff a
la Jethro Tull a dar vazão para que que o Marcello Schevano arrancasse urros dos fãs ao fazer a melodia da
música na flauta, antes de iniciarmos o vocal em coro... -"o Céu Azul, o
Céu Azul"...
Gustavo "Gus", do "Homem com Asas", que estava presente na plateia, subiu para cantar conosco e a festa do Rock, se consumou enfim...
Saímos
muito felizes do palco e o assédio pós-show foi efusivo, com muitas
capas de discos a surgirem para que nós lhes inscrevêssemos autógrafos etc. e tal, em um bom termômetro que
apontara para o sucesso ali obtido, certamente.
Dia 30 de novembro de 2002, sábado, no Paulistânia Bar de Ribeirão Preto-SP, com cento e cinquenta pessoas no local, e que pareceu ser pela reverberação positiva, mil e quinhentas dado o calor ruidoso que produziram em sincronicidade conosco.
Chegamos tranquilos no hotel e após as seis da manhã, eu cumpri o meu ritual habitual e que tinha normalmente como companhia certa os roadies: Samuel e Daniel, e agora o Luiz Barata, também, quando esperávamos o café da manhã ser servido para depois irmos dormir. E que café bem servido, por sinal...
No dia
seguinte, teríamos um show de choque para fazer, em um festival
beneficente, produzido na cidade de Indaiatuba-SP, que visou angariar fundos para ajudar no
tratamento de doentes acometidos pela HIV/Aids, em uma instituição local.
Por sorte, seria conveniente ao coincidir com o nosso caminho para São Paulo, por se localizar na região de Campinas-SP.
A se tratar de uma causa nobre, claro que aceitamos participar sem cachê e a única exigência que lhes fizemos foi a de nos colocar em um horário mais cedo para atuarmos, a evitar assim que fôssemos tratados como "headliner" do festival, pois nós estávamos na última etapa de uma turnê e cansados pelo acúmulo de dias vividos na estrada, gostaríamos de poder viajarmos logo para São Paulo.
Pedido aceito, chegamos à cidade de Indaiatuba-SP ainda no meio da tarde do domingo. O local aonde ocorreu o evento, se tratou de um grande ginásio de esportes e como é sabido e nem precisa ser engenheiro acústico para entender tal questão, é o pior lugar do mundo para se produzir shows musicais, devido à sua acústica prejudicada não só pela arquitetura abaulada, mas principalmente pelo material geralmente usado nesse tipo de construção, que usa teto de zinco e outros materiais inadequados para tal prática.
Em suma, se faz um eco infernal dentro de tais construções, mesmo com os eventos esportivos e as pessoas a berrarem nas arquibancadas como torcedores, portanto, qualquer sonorização elétrica ali se torna um show de horrores com a incidência da reverberação absoluta e sob microfonias incontroláveis.
O PA
contratado para o evento foi compatível ao tamanho do ginásio, mas seria a certeza que mesmo que estivesse ali a operar o técnico mais competente possível, não haveria milagre da engenharia acústica que tornasse o
áudio inteligível, mesmo com a banda a manter uma dinâmica digna das tradições observadas pelos monges
trapistas, no palco.
Enfim, resignados, a nossa intenção foi só colaborar com a causa e dar o recado aos Rockers locais, e entre eles houveram muitos fãs da Patrulha do Espaço, atraídos pela publicidade e claro que estes abnegados Rockers teriam de nós, a melhor performance possível.
O produtor
estava muito agradecido com a nossa presença e convenhamos, não é todo
artista que se dispõe a fazer shows beneficentes, totalmente gratuitos.
No meio
artístico/show business, existe até uma praxe que é a do "cachê
beneficente", dispositivo pelo qual o artista se coloca à disposição para ajudar causas
nobres, porém a cobrar um cachê com um valor muito aquém de seu patamar
habitual, mas nunca a deixar de cobrar, pois em altas esferas do Show Business, não cobrar é
um sinal de amadorismo.
Não foi o nosso caso, pois sabedores das dificuldades enfrentadas pela produção local para fazer o evento acontecer, qualquer dinheiro que pedíssemos, ainda que fosse uma ajuda de custo, pesaria no orçamento apertado que ostentavam.
Muito sensibilizado pela nossa postura, o rapaz em questão, que também era músico (e apresentar-se-ia com a sua banda, esta chamada: "Laranja Mecânica"), não mediu esforços para nos agradar no que pôde, e dessa forma, após o soundcheck, nos colocou em um hotel somente para que pudéssemos usar os chuveiros, e a prover um rápido relaxamento aos membros da nossa comitiva, e fez questão de pagar o nosso jantar.
Ele até exagerou, pois quando soube que eu era o único vegetariano entre os meus pares, e a sua ideia inicial seria nos conduzir a uma churrascaria, me deu a opção de eu ir a uma pizzaria e quando surgiu a ideia paralela, outros também preferiram, me acompanhar.
Com duas
turmas distintas, eis que a minha comitiva rumou para uma ótima pizzaria no centro
da cidade e o rapaz exagerou pois ao se antecipar fez um pedido absurdo de oito pizzas grandes, com o argumento de que nós levássemos a enorme sobra
para comermos na estrada, a caminho de São Paulo, depois.
Jantamos muito bem, até nos satisfazermos inteiramente e levamos vários discos intactos de pizza em nossa viagem para dividirmos com o restante dos companheiros.
O show foi de choque, como é de praxe desse tipo de apresentação inserida em festivais com muitos artistas a se apresentarem. Tocamos por cerca de quarenta minutos, ou seja, um pouco menos que a metade habitual do nosso show, mas com bastante energia e os Rockers locais gostaram muito, apesar de não ter havido um grande contingente no ginásio.
Sob um ambiente daquele tamanho, que comportaria cinco mil pessoas, tranquilamente, deve ter havido ali cerca de trezentas presentes, aproximadamente. Mas a animação do público que ali compareceu, contagiou-nos e apesar das dificuldades sonoras inevitáveis em um ginásio de esportes, com teto de zinco, gostamos muito de tocar ali, e pelo fato do palco possuir uma extensão grande pelo seu comprimento, nos esbaldamos com a possibilidade de empreendermos um padrão de movimentação cênica que geralmente não fazíamos, pelo fato de mais tocarmos em pequenas casas noturnas, a conter estrutura de palco muito tímida.
Desde sexta-feira com problemas estomacais, e ao exagerar na pizza, não teve jeito, nós tivemos que parar em um posto na estrada, para eu poder comprar antiácido, pois o meu estômago esteve a gritar por socorro. Fora esse desconforto pessoal, a viagem de volta foi absolutamente tranquila e ao passar um pouco da meia noite, encostamos o ônibus na porta da minha garagem, quando descarregamos o equipamento.
Mais uma etapa da turnê cumprida, e com três bons shows na bagagem. Próxima
parada: de volta àquele mesmo quadrante do estado, desta feita em São
Carlos-SP, cidade onde já tínhamos estabelecido vínculos, certamente...
Antes de falar dos próximos shows e viagens, conto uma história curiosa, ocorrida nessa época mais ou menos, novembro e dezembro de 2002.
Geralmente
sabíamos que alguma reportagem, entrevista ou resenha seria publicada
através de veículos da imprensa escrita, pois a abordagem dos jornalistas pressupunha isso,
logicamente, ou em época de divulgação de disco, resenhas eram publicadas quase simultaneamente em diversas publicações, e nós as aguardávamos.
Vez por outra, éramos surpreendidos com alguma nota a sair sem aviso, e que descobríamos por acaso ou geralmente avisados por terceiros que haviam visto e nós não havíamos percebido. Muitas peças do meu portfólio pessoal vieram da parte de parentes e amigos que as viram a esmo e doaram-me tais recortes, sem que eu desconfiasse que haviam sido publicadas.
Isso por que éramos artistas a militar no underground da música profissional, pois artistas que estão no alojados no patamar mainstream, gozam de mordomias múltiplas que não tínhamos, como por exemplo, o apoio de uma assessoria de imprensa pessoal, e com serviço de "clipagem".
Para quem não sabe do que se trata, digo resumidamente que "clipagem" é um serviço de investigação jornalística, onde se investiga tudo o que sai publicado ao seu respeito na mídia impressa e nos dias atuais, a se estender às plataformas virtuais da internet.
Depende do bolso de cada um traçar meta de alcance e neste caso, existe clipagem com padrão internacional e implacável, que vai achar qualquer nota que saia a te mencionar, em qualquer lugar do mundo, mas claro, isso é caríssimo e somente os grandes astros conseguem bancar um serviço com tal abrangência tão grande.
Todavia, uma clipagem bem mais modesta e
mais barata, garante o básico que se espera na esfera mais próxima do artista.
Não foi o
nosso caso, pois só tivemos assessoria pontual (mas sem clipagem), por
alguns momentos, quando contamos com o apoio de dois jornalistas de peso
a escrever releases para nós, casos de: Luiz Chagas da revista "Isto é", que
assinou o release oficial do CD Chronophagia, e Dum de Lucca, da Revista
"Dynamite", que assinaria o release do álbum ".ComPacto", que lançaríamos
em 2003, enfim.
Fora disso, contávamos com os esforços do Rodrigo Hid, que muitas vezes usou um pseudônimo para agir como assessor de imprensa da banda, e graças à tais ações, ele cavou muitas notas em jornais, certamente.
Portanto, sem uma assessoria profissional e muito menos serviço de "clipagem", algumas vezes éramos surpreendidos positivamente e foi o que ocorreu quando ao examinar a banca de jornais perto de minha casa, eu me confrontei com uma revista nova recém lançada no mercado, chamada: "Rock Made In Brazil" e que continha uma matéria gigante a abordar a carreira da Patrulha do Espaço, ao narrar a sua história, do seu início, até os então, dias atuais (2002), recheada com fotos, inclusive algumas inéditas de nossa formação.
Eu a comprei, naturalmente, espalhei a notícia para os demais companheiros, imediatamente, e claro que gostamos muito dessa reportagem inesperada e bem escrita, por sinal.
Por ter sido longa e tão completa em termos de informações precisas, portanto, só poderia ter sido escrita por um jornalista que tinha esse costume de redigir longas resenhas de discos e shows, um Rocker muito preparado a exercer o jornalismo especializado, chamado: Marcos Cruz, que era colaborador do Site/Portal Wiplash, um dos maiores do país em termos de Rock, ainda que eu ache que o carro chefe desse veículo, sempre tenha sido o Heavy-Metal.
Marcos Cruz escrevera duas resenhas maravilhosas sobre a Patrulha do Espaço, em 2000, uma delas em forma de resenha sobre o álbum, Chronophagia, e a outra, foi a resenha de um show que ele assistira em Avaré-SP, a sua cidade, onde inclusive conversamos muito, pessoalmente, e eu pude lhe expor todo o conceito com o qual essa formação da Patrulha do Espaço havia sido construída.
E não deu
outra, a tal revista "Rock Made in Brazil" detinha como editor, ele em
pessoa, e assim esteve explicado tamanho capricho na sua redação e diagramação. Eis abaixo, as páginas de tal publicação:
O local em que nos apresentarmos foi um galpão pertencente ao Centro Acadêmico de estudantes da USP/Campus São Carlos-SP, chamado: "CAASO", ou seja, possivelmente uma sigla a designar o nome de um emérito acadêmico, homenageado.
No Caaso (Campus da USP de São Carlos-SP), com muitos amigos, músicos das bandas: "Homem com Asas" e "Tarja Preta", na hora do soundcheck
A montagem do som após o almoço, foi extremamente tranquila e amigável, com tantos amigos dessas bandas citadas, ali presentes e solícitos ao extremo para nos auxiliar.
Danilo Zanite, atual guitarrista da Patrulha do Espaço, em 2016
Como foi um show marcado por uma produção caseira, digamos assim, o Luiz Barata foi designado a ser o bilheteiro do evento, e apesar de cumprir tal função com muita boa vontade, ele lamentou que assim se tornou inevitável que ele perdesse o show da banda de abertura, "Homem com Asas" e boa parte da segunda banda da noite, a também boa: "Tarja Preta".
Um painel de fotos da Carla Viana, publicado no Blog do Juma, este a ser meu amigo de Campo Mourão-PR, e que me abriu as primeiras portas na internet para eu começar a escrever, em 2011
Carla Viana, a vocalista ribeirão-pretana com timbre grave e beleza incrível, apareceu e participou conosco, e na última música uma verdadeira "esbórnia" se instaurou, com músicos das três bandas a se misturarem no palco para uma versão kilométrica e repleta de solos para a canção: "Columbia".
O que não mudara, fora o espectro da casa, mais afeita as apresentações das bandas covers, e a atrair uma juventude não Rocker, em essência. Tudo bem, foram os ossos do ofício, estávamos vacinados a respeito de shows assim não tão confortáveis aos nossos anseios artísticos e houve também nessa ocasião, o cumprimento da velha praxe: sempre apareciam Rockers e fãs da banda, ainda que em menor contingente, em casas assim, frequentadas normalmente por jovens não comprometidos com os ideais.
A famosa praça central de Rio Claro-SP, que é imensa em sua dimensão
Dessa forma, após o soundcheck, quase todos os membros da nossa comitiva resolveram passear pela cidade e eu fiz o mesmo, ao me dirigir até a enorme Praça Central, super arborizada e localizada bem perto da casa noturna em questão.
Os garotos partiram e a bicicleta ficou ali escorada na parede, sem que suspeitássemos que algo estava por acontecer. Foi quando subitamente, uma outra horda formada por garotos, se aproximou, e estes estavam também montados em bicicletas e o que pareceu ser o líder da turba, bem mais impetuoso, nos abordou com uma petulância incrível, ao usar daquela verborragia incompreensível e até engraçada por ostentar aquelas gírias popularescas, mas com uma agravante ao apresentar o forte sotaque interiorano.
Demorou um pouco para entendermos o que o energúmeno realmente expressava e sobretudo, desejava, mas enfim nós entendemos que a sua fala versara sobre a tal bicicleta que o outro rapaz deixara, no sentido de que ela seria supostamente "roubada" e que assim, ele clamava por justiça, ao reivindica-la.
Bem, passado o aborrecimento, foi a hora do Rock, naturalmente...
Apesar da casa estar completamente abarrotada por um público aparentemente não Rocker, o show foi bem quente e ao final, houve um assédio forte da parte de fãs a caçarem autógrafos, o que nos fez acreditarmos que a sensação de havermos tocado naquela casa presumivelmente não adequada, fora ilusório.
A não ser que algum encaixe de última hora ocorresse, este seria o último show do ano de 2002 e assim nós fomos para Santo André-SP, na região do ABC paulista, já em clima de fim de turnê e a sentirmos a expectativa sobre os novos ventos que o ano de 2003, trariam para a banda.
O local do evento foi o Parque da Juventude, uma gigantesca área livre, com um palco fixo montado em alvenaria e enorme, preparado para abrigar shows, comícios políticos, concentrações religiosas e festas em geral.
Chegamos cedo ao local da nossa apresentação e havíamos combinado que pelo menos um carro particular acompanhasse o nosso ônibus, para que voltássemos para São Paulo, visto que no local não havia estrutura para um repouso no longo período de espera, com os camarins muito simples, apenas adequados para se aguardar nos poucos minutos nos instantes dos períodos antes e pós show, mas sem conforto para uma longa jornada.
Ainda no momento do soundcheck, eu notei a presença do produtor cultural da Secretaria Municipal de Cultura de Santo André, um rapaz apelidado como: Lela.
Assim que me avistou circular no palco do Parque da Juventude, ele me abordou a usar dessa clássica afirmação de sua parte em tom de bordão, algo quase humorístico, mas ele não falava para fazer graça, mas sim com um certo pesar por se sentir em dívida comigo, há quase trinta anos, por incrível que pareça.
E quanto ao "Caça Níqueis", eu conhecia o trabalho desses músicos há anos, e sabia que era uma banda ligada em Rock'n' Roll visceral e sem maiores devaneios instrumentais, portanto muito adequada para o ambiente dos Moto Clubes e de fato, era considerada uma banda "oficial" dos "Abutres", escalada sempre em seus eventos, como nesse caso.
Quando voltamos de São Paulo, o "Montanha" já tocava e eu gostei do som deles, que se mostrar como um adepto do Hard-Rock bem setentista e mais do que isso a se mostrar competente, ao produzir um som bem tocado, com volúpia e técnica.
Capa de um CD do trabalho autoral do Caça Níqueis
Finalmente o "Caça Níqueis" entrou no palco e fez o seu show cheio de energia Rocker e com a extroversão do seu vocalista, apelidado como: "Beleza", que sabia se comunicar com o público, principalmente essa tribo de moto clube, o seu principal nicho de atuação.
O ano de 2012, fora bom para a banda, não resta dúvida. O advento da aquisição do ônibus próprio, nos possibilitou a realização das mini turnês, ao fazer com que a nossa agenda fosse muito farta em alguns momentos do ano, e claro que a despeito de estarmos a excursionar sob um padrão underground, portanto, bastante sofrido e não como gostaríamos e merecíamos, o fato é que nos forjamos como uma banda de Rock na estrada, a driblar adversidades.
Ainda tivemos muitas matérias publicadas pela mídia impressa tradicional, a retratar o álbum, Chronophagia, que repercutia vivamente, dois anos depois de lançado, ao nos dar a impressão de que fora uma prova viva de sua força expressiva, artisticamente a falar.
Tal fatos nos forneceu fôlego para que se amenizasse o atraso que tivemos para lançar o segundo álbum de nossa formação e isso não nos oprimisse.
Continua...
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