Neste meu Blog 3, dedico todo o espaço para cuidar da minha carreira musical. Além do texto na íntegra, do meu livro autobiográfico : "Quatro Décadas de Rock", apresento também material em geral de todas as bandas por onde atuei e atuo, sob permanente construção.
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
Patrulha do Espaço - Capítulo 3 - Eu me Alimento do Tempo, Busco no Passado a Referência que Constrói o Presente e sou o Futuro. Viva a Chronophagia! - Por Luiz Domingues
As previsões de Nostradamus não se confirmaram,
não aconteceu o bug do milênio, os computadores não explodiram e George
Harrison sobreviveu às facadas do agressor em sua residência. Já o ano
2000, pareceu se iniciar promissor para a Patrulha do Espaço.
A
formação "Chronophágica" da Patrulha do Espaço, em seus primeiros
ensaios realizados em 1999. Click: Claudia Fernanda. Acervo de Rodrigo
Hid
Com os
cachês recebidos pelos shows que fizéramos em dezembro de 1999, no
Centro Cultural São Paulo e mais um show marcado para fora de São
Paulo, a ser cumprido na metade de janeiro, estivemos em condições para
iniciarmos as
gravações do novo CD da banda.
Foi um
marco para nós, certamente, pois rapidamente oferecer-se-ia um sentido
artístico à volta da banda, a tirar-lhe o ranço de um
prolongamento de carreira esticada a esmo, como se fosse um mero objeto caça-níquel
mediante a concretização de shows
nostálgicos.
Como
eu já afirmei anteriormente, uma volta só faz sentido, a grosso modo, se o
artista tenha algo a propor, ou mais incisivamente a afirmar, mediante a
apresentação de obras inéditas e mais que isso, com capacidade real
para
acrescentar, artisticamente.
Então, sob esse ponto de vista, foi
muito importante nós termos a perspectiva de um disco novo a mostrar essa nova formação e sobretudo,
em relação às canções novas, que levavam a Patrulha do Espaço de volta às suas raízes
sessenta-setentistas, pois desde 1985, com o lançamento do EP
"Patrulha'85", a banda havia perdido as suas características primevas, ao enveredar
pelo som pesado, quase no limiar do Heavy-Metal.
E no início dos anos noventa, culminara em
gravar um disco sob tais características e a cometer o equívoco
(trata-se da minha
opinião, que fique bem entendido, sei que há pessoas que gostam desses
trabalhos e discordam do meu ponto de vista), ao regravar o seu
próprio material.
Nesse disco, "Primus Inter Pares", há a presença de quatro canções
inéditas e as demais são regravações de músicas da própria Patrulha do Espaço,
no entanto, mediante arranjos pesados, praticamente dentro de uma estética Heavy-Metal. O time
de músicos formado pelo Júnior para gravar esse LP, foi excelente, eu devo salientar, apesar da minha discordância no sentido estético dessa obra em específico.
René Seabra no
baixo, Rubens Gióia na guitarra, Xando Zupo na outra guitarra e Percy
Weiss nos vocais. Mas, infelizmente, apesar da qualidade musical adquirida pela presença de ótimos músicos reunidos para tal
gravação, o resultado não
agrada-me, exatamente pelo ranço em prol do Heavy-Metal oitentista, ali
presente.
Interiormente a falar, eu não via a hora para poder
gravar o novo material e extirpar tal ranço pesado que a banda
carregara, enfim.
E assim, preparamo-nos nos primeiros dias de 2000, a praticarmos os nossos ensaios
ainda no estúdio do Paulo Antonio Pagni (o famoso, "PA", baterista do grupo Pop-Rock oitentista, "RPM"), com o objetivo de aprontarmo-nos para o estúdio.
Antes, porém, nós tivemos um show pela
frente. E não fora apenas mais uma data a ser cumprida, mas o nosso
primeiro show fora da cidade de São Paulo, portanto um grande marco para a banda,
que literalmente cairia na estrada, a partir daí.
Esse show
esteve marcado para
a cidade de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Nem seria uma
viagem
tão longa assim, pelo contrário, pois a Praia Grande-SP é um município
que
faz parte da chamada: "Baixada Santista", uma concentração formada por
várias cidades agrupadas no entorno da cidade de Santos-SP, a principal
cidade daquela região litorânea do estado de São
Paulo.
Para tanto, contratamos um micro-ônibus, que por acaso
pertencera a uma empresa de turismo, propriedade de quatro primos meus.
E que pelo fato desses rapazes
gostarem de Rock, eles a batizaram como: "Magic Bus".
Nada melhor para os
anseios da Patrulha do Espaço, naquele momento, do que cair na estrada dentro de um ônibus
com esse nome, evocado direto das tradições emanadas pelo The Who...
A grafia do nome da empresa de meus primos, teve que ser alterada, no entanto, por
motivos de direitos reservados, mas a intenção fora mesmo fazer alusão
ao The Who, acrescento como um dado.
Patrulha
do Espaço pronta para viajar ao litoral com o "Magic Bus". Na frente de
todos,
Carlos Fazano, então guitarrista do "Supernova", que viajou conosco para
atuar como roadie. Janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Click:
Claudia Fernanda
Esse
primeiro show fora de São Paulo, foi bastante excitante para nós nesse
sentido, pois
representou o coroamento de todo o esforço do projeto Sidharta para os
meninos, para eu mesmo, Luiz, e certamente além de representar para o Rolando
Castello Júnior, um
renascimento da Patrulha do Espaço pelos moldes que ele devia sonhar,
mas há anos não
conseguia colocar em prática.
Foi uma
viagem tranquila e bastante prazerosa, com a banda animada e sob
espírito de companheirismo, camaradagem e sobretudo, a demonstrar alegria por
estarmos a dar um passo importante, por iniciarmos uma fase com
apresentações em outras cidades, além de São Paulo.
Realizamos
a viagem inteira a assistirmos vídeos que eu providenciei direto do meu
acervo particular. Lembro-me de termos visto as biografias do "The Yardbirds" e
"The Animals", um especial
acústico do "Black Crowes" e um documentário sobre o "Jethro Tull".
Claudia Fernanda, a produtora da Patrulha do Espaço, à época. Click e acervo: Luiz Domingues
Praia
Grande-SP fica muito próxima da capital, São Paulo, portanto, em questão de
uma hora, nós já estávamos a rodar pela principal avenida daquele município, a
Avenida Kennedy, a procurar pelo endereço do local onde apresentar-nos-íamos. Na comitiva da nossa banda, levamos
conosco dois roadies: Toni Rodrigues Peres (ex-guitarrista da banda Essex,
irmão do meu ex-aluno Alexandre "Leco" Rodrigues Peres e também
ex-roadie do Pitbulls on Crack), daí eu tê-lo indicado sob um primeiro
instante.
Carlos Fazano, que acompanhou-nos nesse show na cidade de Praia Grande-SP. Click e acervo: Luiz Domingues E também a persona de
Carlos Fazano, guitarrista da banda, "Supernova", e que
eu conhecera logo no início de meu período como professor de baixo, em
1987, no Jardim
Bonfiglioli, zona sudoeste de São Paulo.
Eu sempre tentava ajudar os
dois da melhor maneira que eu pudesse, e assim, coloquei-os na equipe
para esse show.
Chegamos bem no local do show e o clima na viagem foi o melhor possível.
O ônibus mostrara-se muito confortável e nós nos divertimos a viagem toda, pois eu providenciara várias fitas VHS a conter shows e documentários bons, conforme eu já mencionei anteriormente.
Eu
observava o clima absorto pelo companheirismo visível entre todos e posso incluir
o meu
primo, Helder Pomaro, entre nós, este a atuar como motorista, por também estar
integrado na trupe e a apreciar muito a viagem, apesar de obviamente estar
focado em dirigir o micro-ônibus com
segurança. Chegamos
ao local do show, enfim e arrumamos tudo com rapidez.
Tratou-se de um salão
rústico, de propriedade de um moto clube local, cujo nome era: "Renegados
Bar". Lembro-me de termos recebido a visita de um produtor
fonográfico independente, que marcara encontro conosco previamente e esse rapaz chegou bem cedo para acompanhar toda a
preparação e soundcheck, ao alongar a sua permanência ali no salão, até a hora do show.
A Patrulha do Espaço a montar o palco e realizar o soundcheck, no período da tarde no Renegados Moto Clube de Praia Grande-SP
Ele sondava a banda para
talvez lançar o álbum que começaríamos a gravar ao final de janeiro de
2000, e de fato, a conversação avançou por semanas, mas o desfecho não
foi bom nesse aspecto e no momento oportuno eu repercuto o que ocorreu.
Estávamos também a estrear o nosso primeiro banner de
fundo de palco, que havíamos mandado preparar logo no início do ano, graças
aos cachês que angariamos em dezembro de 1999.
Palco montado e pronto para o show do Renegados Moto Clube, Acervo e clicks: Luiz Domingues
Fomos descansar
em um hotel próximo e quando voltamos para o show, verificamos que a casa
não estava inteiramente lotada, mas quem compareceu, realmente fazia parte de um público
bem antenado. Tratou-se de um contingente formado por Rockers que vieram principalmente de Santos e
assim que passamos por eles, para dirigirmo-nos ao palco, fomos
saudados com gritos de euforia a la anos setenta.
Mais flagrantes do show da Patrulha do Espaço em Praia Grande-SP no dia 14 de janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Carlos Fazano
Depois dessa ocasião, uma cantora que ali conhecemos e tornar-se-ia uma peça
importante como convidada para a gravação do CD "Chronophagia", contou-me que essa
euforia fora instantânea, só por essa turma nos observar a adentrarmos o ambiente a usarmos figurino ao estilo de Rockers setentistas.
Não só por essa boa expectativa gerada, mas pelo desenrolar da performance que impusemos, o show foi esplêndido.
Mais
flagrantes do show da Patrulha do Espaço em Praia Grande-SP no dia 14
de janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Carlos Fazano
Foi um público
pequeno, mas que enlouqueceu do começo ao final do espetáculo.
Quando
tocamos canções tais como: "Sendo o
Tudo e o Nada", "O Pote de Pokst" e "Sr. Barinsky" entre outras, houveram
momentos de comoção, que impressionaram-me profundamente, ao ponto de ir
além da emoção momentânea, mas a estimular-me a racionalizar a situação de
uma forma muito positiva.
Enquanto
tocava, e via aquela euforia, foi inevitável não imaginar, não como uma epifania, mas a racionalizar mesmo como uma projeção lógica, que aquela
emoção gerada multiplicar-se-ia doravante e o reconhecimento do
extraordinário talento de Rodrigo e Marcello, aliado ao alto nível técnico e bagagem do
Junior, reconhecidamente um baterista com nível internacional, mais a
qualidade das canções e sobretudo pela atmosfera de "boas vibrações aquarianas" que
estávamos a resgatar, enfim, tudo isso somado, levar-nos-ia ao sucesso, até a extrapolar os
limites do nicho do Rock underground, onde habitávamos, a exagerar no otimismo baseado na confiança em tantos fatores bons agregados.
Eu observava aquelas reações sob intensa euforia e aquilo pareceu-me uma
projeção do futuro próximo da Patrulha do Espaço, com essa guinada espetacular em favor da sua volta às próprias
raízes, além do reconhecimento do talento sem igual dos dois jovens
multi-instrumentistas. Aquilo que eu sabia desde os primórdios do
Sidharta, estava a materializar-se na minha frente.
O público
a enlouquecer com a polivalência de ambos, a trocarem de instrumentos durante o
show inteiro e a desempenharem com extrema destreza, todos eles, o que foi de fato,
impressionante.
Nesse show do "Renegados Moto Clube", eles arrancaram gritos de
euforia, e eu obtive a certeza que seria o começo de um sucesso enorme.
Mais
flagrantes do show da Patrulha do Espaço em Praia Grande-SP no dia 14
de janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Carlos Fazano
Encerrada
essa jornada Rocker, com toda a sua glória sessenta-setentista, nós voltamos
para São Paulo contentíssimos com o desempenho artístico, além de estarmos com um
cheque no bolso, que garantira o início das gravações do novo CD.
Tivemos
problemas com os dois roadies, mas não vale a pena esmiuçar aqui.
Infelizmente, o Rolando Castello Júnior aborreceu-se, e não quis mais a presença de ambos
na equipe, com razão, diga-se de passagem, pois eu também fiquei desapontado com os rapazes que indicara e não tentei de forma alguma intervir a favor de ambos, pois concordei com a decisão tomada.
Mais
flagrantes do show da Patrulha do Espaço em Praia Grande-SP no dia 14
de janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Carlos Fazano
Para encerrar esta etapa, resta dizer que a moça que
conhecemos foi a vocalista, Alexandra "Joplin", que era (é) uma das melhores
cantoras cover da Janis Joplin, no estado de São Paulo.
O Rolando Castello Júnior que
havia visto uma apresentação dela na baixada santista anteriormente, constatara o seu
potencial vocal e a convidou para participar da gravação do disco "Chronophagia", momento histórico do qual eu relatarei mais para a frente, a observar a cronologia dos fatos.
E assim foi o nosso primeiro
show com a formação chronophágica, fora da cidade de São Paulo! Ele ocorreu no dia 14 de janeiro de
2000, no Renegados Bar, de Praia Grande-SP. O público naquela noite
foi composto por cento e vinte pessoas.
Passada a data desse show no litoral, a concentração foi total no sentido da pré-produção para a
gravação do novo disco.
Providenciamos equipamentos e instrumentos
que gostaríamos de usarmos à nossa disposição, além dos nossos, como reforços para a gravação e assim fizemos
contatos para alinhavar os convidados especiais que tocariam no disco, além de
toda a parte burocrática.
E logo surgiu a ideia também para
fazermos um show no próprio espaço do estúdio, portanto a aproveitar todo o
equipamento para gravar igualmente o show e dessa forma, termos
opções para com a gravação de músicas ao vivo, visarmos um futuro lançamento de material ao vivo.
Claro, com
isso, dobrou o nosso trabalho, pois ao acumular-se com o trabalho da gravação do álbum, tivemos que preparar o show e sobretudo esmerarmo-nos para divulgá-lo,
convenientemente.
Cabe explicar que o estúdio Camerati funcionava
dentro de uma charmosa casa com arquitetura arrojada, e que houvera sido
residencial anteriormente, por isso, fora adaptada para servir como espaço de
shows e estúdio de gravação, doravante. Ficava localizada no elegante
Bairro Jardim, da cidade de Santo André-SP,
na região do ABC paulista.
Fora na verdade, nos anos noventa, um mini Centro Cultural, com
o estúdio a funcionar em uma construção erguida no quintal da casa, mediante a presença de um belo jardim de inverno, em anexo.
Na parte
da frente da casa, os vários cômodos foram adaptados
como salas de reunião e escritórios de trabalho, além de conter um amplo salão, aonde antes deve ter sido uma enorme sala de estar residencial, e que neste caso, forjara-se como um auditório
que poderia
abrigar cerca de duzentas pessoas, para se promover shows.
Contudo, o Camerati, que
fora um estúdio badalado e caro ao final dos anos oitenta e início dos
noventa,
passava por um processo marcado pela sua profunda decadência. Fazia
tempo que não
se promoviam shows em seu espaço e o aspecto ali, ficara o do abandono, com
muita sujeira,
mobília velha e mal-cuidada.
Na parte do estúdio, a limpeza
também já não mostrava-se exemplar, e o equipamento ainda que a
funcionar bem, estava
antiquado.
E convenhamos, no mundo da gravação profissional de áudio, estúdio que não se moderniza constantemente, perde a sua função de existir, bem rapidamente.
De forma paradoxal, no entanto, nós comemoramos o fato de gravarmos ainda sob o ultrapassado sistema
analógico, no uso da velha máquina, "Ampex" com 24 pistas, e a mixagem
a ser feita
no método antigo da "pilotagem", com várias mãos a trabalharem em
conjunto, para colaborar nos
momentos estratégicos de mudanças, etc. e tal. Isso se deu por conta das nossas convicções bem arraigadas em torno da busca pela sonoridade "vintage" que desejávamos garantir para o áudio do nosso álbum, portanto, esse maquinário veio a calhar, mediante os nossos propósitos
sobre o resgate sonoro das estéticas das décadas de 1960 & 1970, que sonhávamos resgatar.
O primeiro dia de gravação ocorreu em 26 de janeiro de 2000, mas no dia
25, fizemos toda a preparação do estúdio, visto que decadente, não haviam
clientes a usá-lo naqueles dias, além de nós.
Dessa forma, tivemos toda a liberdade para
arrumar o equipamento da maneira que queríamos, e ainda por cima,
a decorr o ambiente a vontade. Neste caso, eu mesmo providenciei inúmeras fotos de artistas do Rock dos
anos 1960 & 1970, ícones da contracultura, evocações dentro do esoterismo & afins.
As três fotos anteriores já mostram cenas dos bastidores da gravação do disco Chronophagia, no ambiente do estúdio Camerati de Santo-André-SP, em janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Eduardo Donato
Colocamos
essas figuras espalhadas pelo estúdio inteiro, além de diversos incensários,
sempre com incensos a queimarem intermitentemente.
Durante aqueles dias,
raramente ficávamos ali no estúdio sem que pelo menos um incenso estivesse aceso.
Por conta dessa montagem, tivemos ali uma autêntica "tenda Hippie", armada. Toda essa
atmosfera foi amplamente fotografada e filmada, e esse material ficou
com a posse do Rolando Castello Júnior e não sei se ele providenciou a sua digitalização.
Tomara
que sim!
Rodrigo Hid na primeira foto e Marcello Schevano na segunda, a testarem o órgão Hammond no ambiente do estúdio Camerati. Cenas
dos bastidores da gravação do disco Chronophagia, no ambiente do
estúdio Camerati de Santo-André-SP, em janeiro de 2000. Acervo: Luiz
Domingues. Clicks: Eduardo Donato
Levamos o
órgão Hammond do Rodrigo, que era um estorvo
para ser transportado, mas a se revelar obviamente vital para os nossos propósitos.
A nossa
aparelhagem foi reforçada por alguns equipamentos emprestados
gentilmente por amigos e o restante esteve a contento. Naquele
instante, estávamos 100 % afiados para gravar e a animação foi total
entre nós.
Na primeira foto: eu, Luiz Domingues, a posar na sala reservada para a gravação o baixo. Na segunda foto, Marcello, Rodrigo Hid com um porta-retrato a conter a foto do Dr Timothy Leary e eu, Luiz Domingues. Foto 3: a sala
da técnica do Estúdio Camerati em janeiro de 2000, durante a execução de trabalhos a visar a gravação do Cd Chronophagia. De costas, a usar
camisa colorida, Paulo Zinner, ao lado do técnico, Zoroastro Barany (de
costas e a usar camiseta branca). Em pé, atrás, Rolando Castello Junior.
Sentados: Luiz Domingues e Marcello Schevano (encoberto pela máquina
de gravação, "Ampex". Acervo: Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
Particularmente,
eu olhava aquele estúdio repleto por equipamentos, e aquelas fotos
pelas
paredes e tive um imenso orgulho por ter batalhado tanto para promover
esse sonho, desde muito tempo antes.
Mesmo antes da criação do projeto Sidharta nascer
oficialmente, aquilo remontara à lata psicodélica lançada pelo Pitbulls on Crack,
recuava aos anos 1980, com todas as frustrações decorrentes das
adversidades estéticas que eu enfrentara no decorrer daquela década, continuava a jornada retroativa e
levara-me a encontrar com o adolescente, Luiz Domingues, nos anos setenta,
envolto em seus
sonhos...
Foi um momento bonito para a minha trajetória pessoal, ver aquele "circo Hippie"
ali montado e diante do que expus acima, todo o esforço para se chegar à
concretização desse momento.
Eu adoraria ver as filmagens da
gravação desse disco, pois lembro-me bem, foram diversas fitas gastas
nessa operação e de fato, cada canto daquele estúdio foi enquadrado pela câmera.
Marcello
Schevano a gravar flauta na primeira foto e abaixo, a banda a posar com
Paulo Zinner, produtor do álbum, na técnica do Estúdio Camerati.
Janeiro de 2000. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Eduardo Donato
Então, ao deixarmos tudo arrumado na véspera, nós iniciamos os trabalhos
efetivamente no dia 26 de janeiro de 2000. Tradicionalmente,
iniciamos pela mixagem de captura do som da bateria, após o término da
fase
de microfonação.
Na primeira foto, Rolando Castello Junior posa com o seu Kit de bateria. Na segunda, Rodrigo Hid observa o gongo que foi usado para atuar na canção: "Sendo o Tudo e o Nada" ao seu final. Patrulha do Espaço a gravar o CD Chronophagia no estúdio Camerati de Santo André-SP. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Eduardo Donato
Apesar de estar decadente, o Camerati não tinha falhas
técnicas e para a nossa sorte, estava tudo a funcionar perfeitamente, ainda bem.
O
Júnior montou a sua bateria Pearl na parte mais ampla, com bastante possibilidade
para obter um reverber natural muito intenso, a la John Bonhan, como podemos observar nos discos
do Led Zeppelin.
O set de baixo foi montado em uma casinha fechada,
porém envidraçada. Ali eu pude tocar com um volume muito alto, mas a
questão da timbragem, foi muito prejudicada na gravação desse disco, por
um problema que relatarei logo mais.
Eu, Luiz Domingues a gravar os baixos do CD "Chronophagia", em janeiro de 2000.
A se pensar como expectativa de nossa parte, o áudio desse disco teria tudo para ficar incrível com
essa ambientação toda, mas não ficou como deveria, infelizmente, e isso eu explico no momento mais oportuno.
O
set dos teclados ficou instalado em uma lateral do amplo salão, escorado por biombos.
Colocamos o órgão Hammond em uma parede e o piano acústico, na outra.
Aliás,
esse piano pertencia ao estúdio e estava com teclas quebradas, e completamente desafinado,
naturalmente, pela falta de uso, mas
alguns dias antes de gravarmos, o Marcello bancou o seu reparo e um
senhor
idoso, afinador, trocou as teclas e cordas arrebentadas, para afinar
perfeitamente o instrumento.
E o som dele no disco, ficou bem razoável.
Finalmente, o set de guitarras foi montado na parte traseira do salão,
onde também mediante a presença de biombos, os dois guitarristas puderam gravar em meio a um
volume ensurdecedor,
a esquentar dessa forma as válvulas dos amplificadores ao máximo, para aproveitar a
sua respectiva saturação.
O objetivo foi ganhar tempo e gravar
pelo menos três, dos quatro instrumentos básicos, simultaneamente. A metodologia foi que
gravássemos somente as bases, a deixar os solos para sessões
especificas, os ditos "overdubbings".
Dessa forma, bateria, baixo e pelo menos um dos
instrumentos harmônicos, esteve sempre a atuar "a valer" nessas sessões iniciais. Particularmente
não gosto de gravar assim, por preferir o método tradicional de um por
vez, mas gravar ao vivo com a banda toda tem lá os seus encantos também, pelos
fatores da emoção gerada como se fosse um show ao vivo a conter empolgação, energia etc.
Na
primeira foto, infelizmente sem muita qualidade técnica, a banda reunida em
um desses dias de gravações do CD Chonophagia. Na segunda, Rolando
Castello Junior a preparar o gongo que usou na faixa: "Sendo o Tudo e o
Nada". Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Eduardo Donato
Foram três dias com gravações seguidas. Começávamos às 15:00 horas e
estendíamos a sessão à exaustão, ao vararmos as madrugadas. Enfim, conseguimos gravar
todas as bases. Neste caso, baixo, bateria e várias bases de guitarra e
teclados, foram finalizadas nesses dias iniciais de trabalho.
E a ideia de
se realizar um show no meio dessa produção toda a envolver a gravação do disco, no mesmo espaço do Camerati, esteve
confirmada. Para tanto, na semana anterior, fizemos um esforço com
divulgação, pois na semana de gravações isso seria impossível. Claro,
aproveitaríamos toda a estrutura do estúdio para gravar o show.
Zoroastro
Barany, o popular "Zôro", técnico de áudio que pilotou os botões na gravação do CD
Chronophagia e também na captura do show ao vivo. Acervo: Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
O
técnico, Zoroastro Barany ("Zôro"), teve um trabalho insano, pois teve
que preparar dúzias de cabos, mediante um multicabo enorme, para ligar o mini
palco do salão de shows, à sala da técnica do estúdio. Tratava-se de uma distância
razoável, pois, havia um quintal ajardinado no meio do caminho, com
árvores e bancos, a parecer-se com uma praça interiorana e bucólica.
E como o
estúdio estava em processo de desmanche, o Zôro trabalhava sozinho. Algumas
vezes aparecia um outro técnico lá, mas esse rapaz vinha em tese apenas como um visitante. Tratava-se de
um rapaz chamado:
Daniel "Lanchinho". Ele era solícito e quando aparecia, ajudava de uma
forma
altruísta, mas isso não foi uma constante.
Esse Daniel pareceu-nos ser mais
experiente como técnico que o "Zôro", e de fato, ele houvera sido técnico do Camerati,
anteriormente, portanto, conhecia bem o estúdio e o seu equipamento.
Naquele
momento, Daniel trabalhava em outro estúdio ("Space Blues", de São Paulo, este, de
propriedade do guitarrista, Alexandre Fontanetti), mas vez por outra
aparecia para
acompanhar a nossa gravação e dar a sua ajuda com algumas opiniões.
Ele detinha o apelido:
"Lanchinho", porque começara a sua carreira como técnico de áudio ali no Camerati, mas na
verdade, como "office-boy" do
estúdio e invariavelmente era designado para ir comprar lanche para os
técnicos e artistas que ali trabalhavam, durante os anos de bonança do
estúdio, com grandes artistas ali a gravarem.
No dia do
show/gravação ao vivo, ele compareceu, mas não chegou cedo, portanto, o
trabalho pesado ficou mesmo para o Zôro. Ter sido obrigado a microfonar tudo foi uma
loucura, ao imaginar que tudo estava montado para a gravação do disco, no estúdio. E tivemos todo o trabalho para tirar o nosso equipamento de
dentro do estúdio, também e o deslocarmos para o salão do show.
Transportar o órgão Hammond do Rodrigo, foi a tarefa mais penosa e
delicada, pois além de pesado, houve todo o cuidado com a questão de
balançá-lo o menos possível, devido ao seu motor, cheio de componentes
frágeis e principalmente o corpo externo, com teclas e botões do draw
bar, tudo vintage.
E uma surpresa foi armada por Paulo Zinner e a
Claudia Fernanda, então namorada do Júnior e produtora da nossa banda. Eles comunicaram-me
previamente a sua intenção, mas pediram-me sigilo. No dia do show, o
Rolando Castello Júnior chegou ao Camerati e teve uma surpresa incrível: a sua
ex-bateria Ludwig, com a qual tocou e gravou diversos álbuns da
Patrulhado Espaço, nos anos setenta e oitenta, esteve ali à sua inteira disposição para usar no show!
Eles localizaram o então atual dono do instrumento e
alugaram-na com o intuito desse show ao vivo ser feito com ela. Foi uma
incrível surpresa para o Júnior que emocionou-se, claro, pois aquela Ludwig
cor de madeira continha muita história para contar sobre a nossa banda.
Foi com ela inclusive,
que a Patrulha do Espaço abrira o show do Van Halen em 1983, e particularmente, foi a
primeira visão que eu tive do palco, quando entrei no Ginásio do Ibirapuera, naquela
noite quente de janeiro de 1983. E não foi apenas esse trabalho duro de preparação do palco & gravação do show ao vivo que tivemos.
Com
o estúdio Camerati decadente, não houve nenhuma estrutura disponível para realizarmos o show, infelizmente. Tivemos
que alugar um PA para o show, iluminação para reforçar os poucos spots
de luz que ainda funcionavam no salão e providenciar os cuidados com a
bilheteria, bar (tivemos que providenciar tudo: das bebidas ao material
de limpeza), e principalmente pessoas para suprir todas as funções.
Da
esquerda para a direita: Paulo Zinner; Rolando Castello Junior, e o
dono da Ludwig que pertencera ao Junior nos anos 1970 & 1980. Esse rapaz em questão, chegou a tocar na banda Prog-Rock, "Devas", nos anos setenta. Acervo: Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
Isso
sem contar que nós tivemos que providenciar cortinas, pois o salão estava
desfalcado, sem cenário; estrutura cenográfica, coxias etc. Revelava-se um espaço
em processo de extinção, infelizmente e a Patrulha do Espaço proporcionou-lhe o seu
"Canto do Cisne", tanto em termos de gravação, como show ao vivo.
Foi no dia 29 de janeiro de 2000 que realizamos esse espetáculo que foi difícil em sua produção, mas prazeroso como performance artística.
Montamos toda a estrutura para o show &
gravação, e a organização toda do evento.
Contamos com o apoio de vários
amigos, é verdade.
Não compareceu muita gente ao evento.
Digamos que naquela correria,
falhamos na divulgação, mas mesmo assim, cento e vinte pagantes deram o ar de sua
graça e uma renda extra, ainda que pequena, certamente ajudou no esforço para
bancar a gravação do CD.
E o melhor de tudo: saímos dali com uma
gravação ao vivo com uma boa captura de áudio, com tudo microfonado devidamente, órgão Hammond e
piano acústico, fora a bateria Ludwig gigante, com a qual o Júnior tocou
como nos velhos tempos, ao empreender viradas bem ousadas.
Fotos do show da Patrulha do Espaço no Centro Cultural Camerati de Santo André-SP em 29 de janeiro de 2000. Acervo de Luiz Domingues. Clicks: Eduardo Donato.
Dessa
gravação ao vivo, algumas músicas foram incluídas na Coletânea, "Dossiê Volume 4",
que a banda lançou em 2001, como bônus e certamente que eu irei comentar sobre esse álbum na
cronologia correta.
Estávamos afiados por conta da sequência boa
com ensaios e shows, e principalmente por conta das sessões de gravação.
Por isso, a despeito da loucura toda, e do pouco público presente, foi
uma excelente apresentação, tal como houvera sido no show da Praia
Grande-SP, duas semanas antes.
Existe, portanto, como eu já disse, uma
gravação registrada em fita de 2 polegadas, mais vídeos amadores, mas com razoável
qualidade e muitas outras fotos desse show (sobre as fotos, disponíveis em álbum em específico, no meu Blog 3 da internet), que um dia o Júnior poderá lançar.
Além disso, contabilizam-se as músicas "ao vivo" extraídas da fita desse show, que entraram no disco coletânea: Dossiê Volume 4, lançado em 2001 e sobre o qual, eu evidentemente vou falar sobre a história da sua produção e análise do conteúdo.
Realmente o PA que contratamos mostrou-se insuficiente para conter a massa de
amplificadores, com direito ao órgão Hammond genuíno, e com seu peso
característico.
Em alguns momentos ficamos sem referência de
retorno, devido à pouca potência do equipamento simples que havíamos
contratado. Aliás, esse equipamento fora alugado do tecladista, Guina Martins, que atuara como convidado da patrulha do Espaço em muitos shows, no início da década de oitenta.
Contudo, foi assim que apresentamo-nos. O público, alheio aos nossos problemas sonoros, foi animado. O meu
exército Neo-Hippie compareceu em peso. Alguns fãs do ABC, lógico,
também.
Com pouca divulgação, lamentamos que não tivessem vindo mais.
Junior
e Paulo Zinner, com o atual dono da bateria Ludwig que pertencera-lhe
nos anos 1970 e 1980. Sentada ao lado de Zinner, a produtora musical, Sarah
Reishdan. Em pé, o empresário do Paulo Zinner à época (Wagner Silvestre), e a esposa do
dono da bateria. Acervo de Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
Cerca de
dois anos depois, eu estive a visitar uma loja da Galeria do Rock, em São Paulo e
o
lojista apresentou-me a um cidadão alemão que possuía um site sobre Hard-
Rock. O rapaz não entendia nenhuma palavra em português, mas ficou
entusiasmado
com a minha presença, pois assistira o nosso show do Camerati, in loco!
E
após fornecer-nos o endereço virtual, pudemos verificarmos que esse rapaz germânico houvera escrito uma resenha do show
publicada no seu site, com fotos e tudo.
Ele entusiasmara-se, pois escreveu vários elogios à nossa performance, que bom.
Contudo,
esse mesmo sujeito ficou a saber que eu tocara em uma banda pesada dos
anos oitenta e como seu foco era o Heavy-Metal, talvez ele tenha
pensado que minha ex-banda, A Chave do Sol, tivesse tais
características, ou mesmo construiu tal expectativa mediante informações dos lojistas que consultou, ao meu
respeito.
Eu só sei que
tempos depois fui informado que no site do rapaz, ele havia resenhado o
LP "The Key", daquela minha ex-banda e falou muito mal desse álbum, ao classificá-la como:
"entediante".
Até aí
tudo bem, não incomodar-me-ia com uma opinião desagradável sobre um
trabalho meu, mas o problema é que essa resenha foi usada como texto
base para descrever A Chave do Sol no "Wikipedia", e como eu demorei anos
para inserir-me no mundo virtual, só muito tempo depois, foi que eu pude mesmo
suprimir esse texto pobre e infame, e no seu lugar elaborar um histórico a altura da
carreira daquela banda.
Mas claro, aqui o assunto é Patrulha do Espaço e
isto foi só um parêntese motivado pela coincidência.
Terminado o show, combinamos de voltar no domingo pela tarde para ajudar o
"Zôro" a desmontar toda a parafernália e ouvirmos a gravação do
show ao vivo.
Nesse aspecto, nós ficamos entusiasmados, pois mesmo com alguns erros pontuais, muitas músicas
poderiam ser aproveitadas posteriormente, como de fato aconteceu, com
várias a entrarem como bonus tracks, na coletânea "Dossiê Volume 4", no ano
de 2001.
Patrulha do Espaço + Ricardo Schevano (a usar uma camiseta do Grand Funk) e Marcelo Bueno (primeiro a direita). Bastidores do show da Pat5rulha do Espaço no Centro Cultural Camerati de Santo André-SP, em 29 de janeiro de 2021. Acervo de Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
Como todas as bases do disco, Chronopahagia estavam prontas, iniciamos a
partir da semana subsequente, a gravação dos solos, vocais, participação
de convidados e por fim, a mixagem.
No
dia da sessão de gravação do grande, Manito (segundo, da esquerda para a
direita), que imortalizou um solo saxofone, sensacional, em "Sunshine".
Acervo: Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
E foi então iniciada a segunda etapa das gravações. Com baixo, bateria e
muitas bases de teclados e guitarra prontas, começamos as sessões de
gravação de solos.
Foram dias memoráveis de gravações.
Muitos momentos
mágicos de inspiração por parte do Rodrigo e do Marcello, ao gravarem solos
infernais de guitarra e teclados, ambos.
Lembro-me bem de uma
sessão
onde o Rodrigo gravou o solo da canção: "O Pote de Pokst", a utilizar uma câmera
de eco da marca, "Echo Sound", aquela bem típica dos anos setenta.
Ele a usou em
partes em que buscou os efeitos, quando a sua guitarra simulou ruídos de pássaros,
gaivotas para ser preciso, a deixar o final da música bem emocionante pelo bucolismo proposto e
à altura das melhores tradições melódicas do Rock sessenta-setentista.
E começaram
a gravar também, os convidados do disco.
Alexandra " Xandra Joplin" a atuar em seus shows tributo à Janis Joplin em foto de seu acervo. Nas fotos abaixo, a cantora reunida com a nossa banda e Paulo Zinner, no dia em que foi gravar a sua participação em nosso disco e a gravar, de fato. Acervo das duas últimas fotos: Luiz Domingues. Clicks: Eduardo Donato (fotos 2 e 3)
Lembro-me bem da presença da
vocalista, Alexandra "Xandra Joplin", que veio gentilmente de Santos-SP, no
litoral do estado, para colocar a sua voz nas músicas: "Sunshine" e "Terra
de Mutantes".
Sob uma sessão ocorrida em um domingo a tarde, Paulo Zinner e o
técnico de som, Daniel "Lanchinho", gravaram percussões na música:
"Ser".
Paulo gravou um micro solo nos Timbales, enquanto o Daniel tocou
uma Conga bem tensa, simultaneamente.
Mas o dia mais emocionante nas
sessões de convidados, certamente foi quando o Manito apareceu para
gravar um solo de saxofone, na música "Sunshine".
Realmente, foi muito bonita a
participação dele. Ele gravou em tomada única, sem ao menos ouvir a
música previamente.
Fez um solo de arrepiar e continuou a criar frases na parte
final, sob uma intervenção que não era prevista por nós, mas ficou tão lindo, que deixamos
assim na edição final da mixagem.
Eu, Luiz Domingues, Manito e a e sua esposa na ocasião, a ouvirmos o resultado da gravação de seu solo na música, "Sunshine"
Gravadas todas as partes
instrumentais, finalizamos os vocais com tranquilidade. Já na metade de
fevereiro de 2000, estávamos com o processo de mixagem em andamento.
A ideia dos convidados foi do Rolando Castello Júnior e os esforços de pré-produção para tal,
idem.
Sobre o Paulo Zinner foi fácil e lógico, pois ele estava a produzir o disco.
Já em relação ao Daniel
"Lanchinho", foi uma opção inesperada que deu certo, pois até então, nós nem
sabíamos que ele era músico e "pilotava" as Congas com desenvoltura.
Já no caso da
Alexandra, foi uma observação antiga da parte do Júnior que já a conhecia por vê-la a
atuar como Janis Joplin cover.
E quando fomos tocar na cidade de Praia
Grande-SP, no início de 2000, ela esteve presente no recinto e ali foi feito o convite e uma troca de
contatos. Já o Manito, foi um pouco mais trabalhoso, mas deu certo,
ainda bem.
Lembro-me bem que por uma certa imprudência de nossa parte, amigos
apareceram na sessão em que o Manito iria gravar a sua
participação e mediante tal constrangimento, nós ficamos melindrados para pedir-lhes que se retirassem.
Dessa forma, o estúdio lotou com a presença de curiosos, indevidamente.
Isso foi
desagradável, claro, mas o Manito, super experiente que era, nem
intimidou-se e gravou a sua participação com a exuberância de sua
condição
de virtuose, que sempre foi.
Manito a esquentar o seu sax nas fotos 1 e 2. E na foto 3,Ricardo Schevano, Rodrigo Hid e Manito a ouvirem o solo gravado. Patrulha do Espaço a gravar o álbum Chronophagia no estúdio Camerati de Santo André-SP em 2000. Acervo: Luiz Domingues. Clicks: Eduardo Donato
Todos os vídeos que cobrem as gravações do "Chronophagia'' estão de posse do Júnior e pelo que eu saiba, ele ainda não
providenciou a digitalização desse material. Se eu tiver novidades sobre
isso, reabro os capítulos concernentes a essa etapa do relato, e
acrescento-os, naturalmente.
Neste caso, as sessões de gravação
foram amplamente filmadas e daria para fazer um documentário só a
descrever esse disco. Isso inclui a participação do Manito e seu
saxofone inspirado.
Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Manito, Rodrigo Hid, Marcello Schevano, Rolando Castello Junior e Paulo Zinner. Acervo: Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
As sessões para gravar violões acústicos, flautas e backing vocals, também foram inspiradoras ao extremo.
Foram
tardes, noites e madrugadas quentes sob o calor de verão a trabalharmos
nessa fase, e regado a muita Coca-Cola, pizza, e lanches na padaria que
ficava em frente ao estúdio, aliás, muito boa e que desperta-me boas lembranças.
A
percussão da música: "Sr. Barinsky (Admirável Sonhador)", foi concebida
para ser executada bem ao estilo dos Beatles, totalmente, aliás. Foi concebida mediante uma boa dose de loucura implícita, mas também uma
porção de ingenuidade infantil, ao estilo da sonoridade lúdica ouvida em parque de diversão, de
antigamente.
Sinceramente, acho que há um certo exagero no arranjo da percussão, todavia.
O Rolando Castello Junior alertou-nos sobre tal abuso do elemento lúdico, exatamente na hora da gravação, mas nós insistimos,
por considerarmos bonito naquele instante e assim permaneceu tal predisposição na versão oficial presente no disco. Hoje, eu não tenho dúvida de que o Junior teve razão e eu teria diminuído aquele arranjo, com certeza.
As sessões de mixagem foram cumpridas à moda antiga, pois estávamos a gravar sob
uma forma analógica e assim, as mixagens ficaram sujeitas a um processo lento, a envolver horas e horas
com correções manuais e mais do que isso, no momento de se fazer a edição final, houve o caso de certas músicas
que requereram a presença de quatro ou cinco pessoas,
para se dar conta, humanamente a descrever, o emprego de tal operação de "pilotagem" com
tantos botões para acionarem-se, simultaneamente.
Por ser baterista, Paulo Zinner mostrara-se um perfeccionista nesse
quesito e
dessa forma, ele praticamente pilotou todas as viradas da bateria executadas pelo Júnior, em todas
as músicas.
Claro, isso foi um exercício de paciência, pois foram quinze faixas (só a
música instrumental com violão solo,"Epílogo", não conteve bateria).
O Daniel
"Lanchinho" acabou por envolver-se no processo da mixagem, mesmo que não tenha sido formalmente contratado. Como
ele fora um
ex-técnico do estúdio Camerati e praticamente o professor do Zoroastro
"Zôro" Barany, o fato é que ele conhecia bem o estúdio e o seu equipamento. Portanto foi
uma pessoa que somou nesse esforço final.
O técnico de áudio, Zoroastro "Zôro" Barany, na pilotagem do estúdio Camerati. Acervo: Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato
Como delegáramos a tarefa da produção ao Paulo
Zinner, deixamos, literalmente, que ele, Paulo, "Zôro" e "Lanchinho",
trabalhassem a vontade na mixagem do álbum.
Então, foram dias e dias com a nossa presença ociosa no estúdio. Ficávamos a andar pelas dependências do
estúdio, muitas vezes sentados por horas nos bancos do jardim de inverno a conversar etc.
Só
éramos chamados à técnica para ouvir o resultado final de cada faixa e
aí, fazíamos as nossas observações e em caso de algum desagrado, expúnhamos
as nossas reivindicações para eventuais mudanças a serem empregadas.
Como esse processo é sempre delicado (e muitas bandas brigam e dissolvem-se na hora de mixar um álbum, isso é um fato e não uma lenda urbana), o
Júnior teve essa ideia de chamar o Paulo Zinner e assim outorgar-lhe o papel de
produtor, com a sua decisão final a ser respeitada por nós como a definitiva, mesmo que houvessem
discordâncias.
A despeito do Camerati estar sob um processo de dissolução,
com um equipamento ultrapassado e sem muita manutenção, acredito que o
resultado final foi do razoável para o bom, no cômputo geral, tirante as ressalvas já elencadas sobre a questão dos timbres, principalmente do baixo.
Digo isso, sem medo de errar, pois
acredito que as músicas e os músicos eram muito bons (perdão pela falta
de modéstia ao incluir-me nesse rol), e pelo material humano e artístico
envolvido, portanto, creio que merecíamos algo muito melhor.
Outro ponto: o
grosso desse material foi composto com uma carga emocional tão grande e
tão bem-intencionada em seus propósitos artísticos, que eu realmente
estou convicto que merecia ter obtido um resultado de áudio melhor, na
mixagem e masterização.
Para falar do disco em si, não há dúvida que ele deveria ter ficado superior em termos de áudio. Contudo, foi a
melhor oportunidade que arrumamos à época e claro, a grande barreira que
impediu-nos por buscar um estúdio melhor, fora a financeira.
O Camerati
em seu auge, chegou a ser um estúdio sofisticado e bem frequentado por
artistas de médio porte. O problema é que estava em processo de
sucateamento e o seu dono nessa fase final, o cantor e compositor,
Belchior, não detinha nenhum outro interesse a não ser vender o
equipamento e devolver o imóvel ao proprietário.
Aliás, o proprietário
já estava com ele praticamente vendido. De fato, poucas semanas depois
que nós encerramos a mixagem do CD "Chronophagia", o imóvel foi remodelado e
tornou-se um restaurante de culinária japonesa.
Quanto à sonoridade do nosso disco,
apesar de estar em processo de desmanche, o Camerati poderia ter rendido um pouco
mais para nós, mas não o foi, muito por convicções teóricas dos
técnicos, Zôro e Lanchinho.
Eles eram competentes e solícitos, não é essa a minha
queixa. O grande problema foi a concepção de áudio que eles detinham enraizadas e a se mostrarem irredutíveis nesse sentido.
Para
ser específico e fazer-me claro, citarei o caso do meu som,
em particular.
Eu gravei esse CD com os mesmos baixos, mesmo
amplificador e caixas que usei nos demais discos da Patrulha do Espaço, e nos três do "Pedra", alguns anos depois.
Portanto,
amigo leitor, basta ouvir o CD "Chronophagia" e depois escutar os três
álbuns gravados pelo Pedra (e mais para a frente ainda, d'Os Kurandeiros) e mesmo ao se tratar do
mesmo baixista, com os mesmos baixos e o mesmo equipamento, a diferença
é brutal.
No caso do álbum Chronophagia, o técnico Zôro mantinha a concepção de
gravar a banda inteira em condição, "flat".
Isso significa que ele queria gravar
todos os instrumentos com a equalização achatada na região média e no momento da
mixagem, dizia que buscaria as correções para buscar os graves e agudos, a
alcançar os timbres
desejados para cada instrumento.
No meu caso, eu havia planejado desde o
tempo do Sidharta, praticamente, com qual baixo pretendia gravar cada
música.
Cada uma requeria uma característica sonora distinta e como eu possuía três
baixos com timbres distintos e marcantes (Fender Jazz Bass, Fender
Precision e Rickenbacker), pude dar-me tal luxo e o trabalho merecia
esse requinte, logicamente.
Em um Rock Progressivo como: "Sendo Tudo e o Nada", por exemplo, que
continha frases bastante agressivas ao estilo do Chris Squire, o Rickenbacker
bem agudo foi essencial. Nos shows ao vivo, determinados trechos mais
ousados dessa música, arrancavam uivos da plateia mais antenada nesses detalhes e foi exatamente essa atmosfera que eu queria registrar no disco.
Já em uma
música como, "Sr.
Barinsky", eu usei o Fender Jazz Bass, com um registro bem grave e
muito aveludado, para aproximar-me ao máximo do som de baixo do Paul
McCartney
nos primeiros discos dos Beatles, e assim por diante, cada música manteve uma característica
diferente (em
"Ser", o Fender Precision, com som metálico, e pesado, remetera ao som de Mel
Schacher, do Grand Funk).
Mas na mixagem, a realidade foi que o Zôro nada pôde fazer para
respeitar a característica de cada instrumento, pois com o sinal
achatado em todas as faixas, praticamente todas as músicas ficaram
opacas, sem distinções como eu desejava.
Nos discos do Pedra, o som de
baixo capturado pelo técnico, Renato Carneiro, foi tão magnífico, que
tornou-se referência para vários baixistas. Cada baixo, soa com seu
timbre
característico e o "Chronophagia" deveria ter tido isso também. O
segredo para tal:
o Renato permitiu que eu timbrasse os meus baixos exatamente como eu queria e
usou seus conhecimentos técnicos para angular os microfones da melhor
maneira possível, para capturar com fidedignidade, o som natural do
instrumento, amplificador e caixas.
E dessa forma, com três baixos bons e caixas
Ampeg, não há como errar, a não ser que se insista em deixar a
equalização do amplificador "flat", como o Zôro fez nas gravações do
álbum Chronophagia, infelizmente. Só
lamento, pois Chronophagia diz muito para a minha trajetória,
particularmente e nesses termos, precisava ter tido o som de baixo igual aos que eu tenho nos discos do Pedra,
no mínimo.
A questão
do Paulo Zinner ter sido o produtor do álbum deveria ter resolvido esse
impasse, mas na prática, não mudou nada nesse quesito das equalizações flat dos
baixos, na
resolução do áudio final, pois quanto ao aspecto técnico de áudio, ele
também não
tinha grandes conhecimentos teóricos sobre produção sonora e sendo assim, ele confiou na concepção em que
Zôro e "Lanchinho" haviam insistido para utilizar como metodologia.
Portanto, o papel dele, Zinner, foi mais como produtor artístico
e assim ele ateve-se focado aos detalhes musicais em si. A captura do som ficou a
cargo do Zôro, e do agregado, Daniel "Lanchinho", enfim.
Reafirmo, eles eram (são), bons técnicos, mas mantinham essa concepção de gravação, a se capturar o sinal
primordial de forma "flat", para corrigir as frequências a posteriori na
mixagem. Eu não entendo de áudio, nem 1% do que eles entendem, mas acho
essa metodologia equivocada para uma banda de Rock, principalmente se interessada em estética sessenta-setentista, o nosso caso em específico para essa produção.
Talvez
funcione com outros estilos musicais (o Zôro fazia muitas gravações para
artistas das searas populares doe pagode e axé music por exemplo e o "Lanchinho" era
um especialista em Blues e nesse caso, é curioso que pensasse dessa forma, visto ser o Blues, o pai do Rock).
Para uma banda com as nossas características,
a buscar timbres vintage como os usados por exemplo, por artistas como: Black Crowes e Lenny Kravitz assim os buscaram nos anos 1990, nós deveríamos ter tido um outro plano de gravação.
Em
relação a uma reclamação não generalizada, mas que existe da parte de
alguns ouvintes, ao dar conta de que o CD, quando ouvido sob um volume muito alto
sofre problemas com distorções, devo esclarecer de que se isso existe, é
variável de um aparelho para outro. Eu nunca reparei, e leve em consideração o leitor que eu já
cheguei a ouvi-lo a ser executado em PA de grande porte e não reparei
nesse detalhe.
O que incomoda-me nesse disco, são os timbres achatados dos instrumentos, com
excesso de médios, principalmente os meus baixos. Mas, tudo isso é preciosismo.
O que importa é que trata-se mesmo de um grande trabalho artístico, e significa muito para a minha carreira por todos
os valores inerentes pelos quais já expressei amplamente aqui e também no capítulo do
Sidharta, de onde veio a maioria das canções gravadas.
Certa vez (ao referir-me a um show realizado em 2011), toquei com os Kurandeiros no Centro Cultural
Gambalaia, em Santo André-SP (e curiosamente em um endereço daquela cidade,
muito próximo ao do antigo estúdio Camerati).
Nesta ocasião, uma plateia muito jovem e Rocker,
entusiasta de sonoridades, 1960 & 1970, compareceu em peso e apreciou o show.
Eram amigos do
Samuel Wagner (roadie da Patrulha do Espaço, que esteve presente, também, é claro), e ele, Samuel, disse-me que por serem
muito jovens, esses jovens lamentavam muito não ter acompanhado a Patrulha do Espaço da fase
do CD Chronophagia e que enlouqueciam nas histórias que ele contava-lhes sobre as nossas andanças nessa época.
Isso corrobora o que eu penso, ou seja, claro que orgulho-me muito
desse CD ter deixado marcas artísticas expressivas.
Resenha
sobre o nosso show realizado na Praia Grande-SP, (aliás, o resenhista insistiu na ideia
de que fora em Santos, mas foi na Praia Grande, uma outra cidade, portanto), que saiu publicado na edição de
fevereiro de 2000, da Revista "Rock Brigade"
Os meses de março e abril de 2000, foram marcados sob o compasso de espera. O
processo de mixagem, masterização, elaboração da capa e burocracia, arrastou-se, infelizmente.
Como o Camerarti era um estúdio analógico,
para masterizar e formatar o material para CD, nós precisamos procurar um
outro estúdio especializado nesse serviço.
Eu,
Luiz Domingues e Rodrigo Hid, representamos a banda em uma festa da
Revista "Dynamite", em dezembro de 1999 e na edição de fevereiro de 2000,
a nossa presença na festa foi registrada em nota, com foto.
Após checarmos alguns
lugares, fechamos com o estúdio, "Turbo". Este era propriedade de um
experiente técnico, chamado: Oswaldo Martins, este com muitos anos de trabalho como
responsável pelo processo de "corte", nos tempos do vinil.
Uma
das primeiras notas publicadas através da imprensa virtual, o Site Wiplash, mais
especializado no mundo do Heavy-Metal, falou sobre o nosso novo disco, quando ainda
estávamos a gravá-lo.
Ele "cortou" por
muitos anos e sabia que o processo era delicado. Masterizar é o último
processo técnico, onde imprime-se a última equalização geral, já sobre o
stereo configurado, para acrescentar uma camada geral a pender mais para o grave ou agudo.
O
chamado "corte" fazia o mesmo processo, quando o acetato de vinil ia ser
formatado definitivamente para servir como matriz para se efetuar o processo industrial da fabricação dos discos de vinil.
Fomos então ao estúdio Turbo, que ficava
(fica), próximo a Praça da República, no centro velho de São Paulo.
Outro
exemplo de mídia virtual que apoiou-nos na época, o Site "Casa do Rock"
soltou nota a mencionar sobre a volta da banda e a gravação do novo
álbum
com músicas inéditas. O curioso, é que não fazemos a menor ideia de como
conseguiram a foto da banda com Paulo Zinner, na técnica do Camerati!
Um
mistério até hoje não foi respondido!
Não
foi na primeira sessão de masterização, mas na segunda que finalmente consideramos a
definitiva e acompanhados pelo técnico do Camerati, Zôro, que gentilmente auxiliou-nos nessa decisão final.
Concedemos
entrevista para esse Fanzine, o "Mega Rock", que era oriundo da cidade de Mauá-SP,
vizinha de Santo André-SP. A entrevista foi concedida nas dependências do estúdio Camerati, mesmo, em um daqueles
dias longos, onde não tivemos nada a fazer, a não ser esperar a
definição da mixagem de uma música isoladamente, para podermos opinar, mas éramos
aconselhados a não ficarmos a permanecermos na sala da técnica, enquanto trabalhavam, os dois técnicos e o produtor.
O processo da masterização é normalmente bem
técnico. São horas gastas a olhar-se para um monitor de computador, ao
verificar gráficos, análise de espectros de frequências e a ter pouco
contato com o
som, propriamente dito.
Realmente seria possível ficar muito melhor do
que ficou na edição final, que é o que todos escutam no CD, devido ao
sinal primordial, capturado no estúdio Camerati, não ter sido dos mais
felizes.
A seguir, falarei sobre do
processo da concepção e finalização da capa, que também demandou trabalho.
O processo da capa foi o seguinte: o Rolando Castello Júnior conhecia um desenhista
excelente, chamado: Johnny Adriani.
Ele já havia feito trabalhos
anteriores para a Patrulha do Espaço, quando confeccionara cartazes, filipetas e mesmo
um dos logotipos que a banda adotava, justamente aquele com a figura dos dois
dragões.
Particularmente, eu nunca gostei desse logotipo, não pela arte em
si, que é bem-feita, mas pelo seu conceito a remeter à estética do "Heavy-Metal". Preferia mil
vezes o logo anterior, com a nave estilizada, bem mais "Sci-Fi" e
condizente com as raízes da banda, que estávamos a resgatar, por sinal e a tentar
assim, sair daquele ranço Heavy-Metal que a banda adotara a partir da metade dos
anos oitenta, em diante.
O grande ilustrador, Johnny Adriani
O Johnny era, (pois na verdade, pois ele veio a falecer em 2016, infelizmente), um paulistano que radicara-se em Campinas-SP,
há muitos anos, e a trabalhar com arte final, foi autor de muitas capas,
encartes, cartazes e demais materiais gráficos para diversas bandas.
Ele
também fora o fundador e decorador da famosa casa de shows, "Delta Blues"
em Campinas, que por muitos anos foi referência no circuito do Blues
brasileiro, inclusive a contratar atrações internacionais importantes desse
universo, para ali apresentarem-se.
Bem, feitos os devidos contatos telefônicos, estabeleceu-se que iríamos a
Campinas, para conversar com ele. Fomos então em um sábado de fevereiro de 2000
e passamos algumas horas na casa dele ao verificarmos in loco as suas ideias, o seu portfólio
gigantesco e impressionante etc.
Poderíamos ter escolhido qualquer ilustração pronta que ele já
possuía, centenas delas, aliás. Sem exagero algum de minha parte, tratava-se de uma mais linda do que a outra, a viajar por múltiplos
conceitos temáticos.
Haviam inúmeras sob ambientação interplanetária, verdadeiras
paisagens de planetas imaginários, ao estilo do Roger Dean, absolutamente incríveis.
Outras
a evocar diversas nuances da mitologia de várias culturas diferentes, peças sobre o xamanismo indígena, lindas peças a evocar o surrealismo, enfim, foram múltiplos os
conceitos que ele abordava em sua obra.
Entretanto, como todo bom artista, ele
mesmo empolgou-se com a nossa proposta e quis criar algo exclusivo, personalizado e a seguir o nosso conceito proposto e daí,
mediante muitas conversas conosco e a ouvir nos dias posteriores as
músicas do álbum, chegou em um esboço ("raf"), que enviou-nos por e-mail e que
aprovamos sem reservas.
Ao fazer jus ao conceito da palavra
"Chronophagia", título do álbum, Johnny fez uma ilustração espetacular, quando uniu o
passado ao futuro.
Trata-se a priori de um rosto enigmático de um possível cyborg alienígena, vazado sob uma
superfície onde hieróglifos egípcios parecem trazer uma mensagem decodificada.
Fora
isso, há a presença de dois círculos sobrepostos e cravados por cristais reluzentes,
remetem a portais interdimensionais. Enfim, há as questões da cibernética, esoterismo
antigo e física quântica a caminharem juntos, simetricamente.
Era cibernético e
antigo ao mesmo tempo, tudo a ver com a proposta da banda, ao
estabelecer o
som aqui e agora, (refiro-me a 2000, claro).
No encarte, no tocante ao seu texto disponibilizado, incluimos muita
informação, como nos velhos tempos dos encartes de discos de vinil. Em
quatro páginas, há a inclusão também de uma foto de cada membro de banda, em preto e branco e banhadas
por uma espetacular camada grafite, com matiz azulada.
As fotos foram
clicadas em uma sessão de fotos que eu já descrevi, no estúdio do fotógrafo,
Moa Sitibaldi, no ano de 1999.
Um texto explicativo sobre o conceito da
"Chronophagia", foi elaborado pelo Marcello Schevano. Ele fora na
verdade, o criador do conceito e da consequente escolha do título do CD,
com o qual concordamos por unanimidade.
Certamente expressava com
fidedignidade o que fora aquele trabalho, ao unir passado e futuro sob um
instante presente pleno de energia. E mais uma curiosidade: desde o tempo do
Sidharta, ficávamos a brincar com as similaridades que cada música mantinha
com bandas icônicas dos anos 1960 & 1970.
A brincadeira divertia-nos e
quando chegou a parte da elaboração do encarte, nós resolvemos dedicar cada
música a um artista que admirávamos e cuja sonoridade da canção
remetia-nos como influência, em cada uma, em específico.
Eis a lista contida no encarte:
1) Sendo o Tudo e o Nada - Som Nosso
de Cada Dia
Realmente, havia muito da influência do "Som Nosso de Cada Dia", nessa canção "Progger", a
apresentar muitas evoluções e principalmente na sua parte final, com os
backing vocals, por conta deles serem cantados em falsete, em uma vocalização com elementos da Soul Music, em
pleno uso do Rock Progressivo. Ora, Rock Progressivo e Soul Music, estilos tão diferentes entre si, poderiam se amalgamarem? Quem fez melhor essa junção impensável
do que o Som Nosso de Cada Dia, nos anos setenta? Ouça abaixo:
Eis o Link para escutar o áudio oficial do CD "Chronophagia" de "Sendo o Tudo e o Nada" no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=XJRy6_KQgNw
Sobre a canção em si, ela fora
construída pelo Marcello com muitas partes e de uma forma minuciosa. Ao receber os
arranjos individuais de cada um, claro que sofisticou-se ainda mais. Foi
efetivamente a primeira canção composta e arranjada pela nossa formação da
Patrulha do Espaço, sem que tivesse sido herdada do projeto Sidharta e demandou
muitos ensaios realizados no estúdio freak do Paulo Antonio (o popular “P.A.”,
ex-baterista do RPM), para que ficasse pronta para ser gravada e executada ao
vivo.
O início com piano e órgão Hammond tocado pelo Marcello, a interagirem
juntos é belíssimo, e logo os acentos do baixo e bateria dão o devido peso como complemento. A
guitarra do Rodrigo inicia a entrecortar com um lindo contra-solo.
Chega-se em
uma fase “B” dessa introdução, ainda sob a mesma base harmônica, com o Junior a
imprimir uma batida clássica ao estilo do Hard-Rock setentista tradicional.
Advém então na parte
dois, com típica intervenção Prog-Rock, através de um fraseado rápido e instigante
do sintetizador, Mini-Moog, executado pelo Marcello em duo com a guitarra do
Rodrigo, e o baixo rasga a divisão, com um fraseado sob orientação “Squireana”
e apesar do achatamento infeliz do timbre do meu instrumento na mixagem final,
há lampejos do brilho típico do Rickenbacker, em algumas palhetadas. São sutis, pois o
correto deveria ter sido proeminente o tempo todo, mas dá para sentir.
O uso do
cowbell é brilhante da parte do Junior, fora as suas habituais viradas
inacreditáveis, a sua marca registrada oficial como baterista.
Entra finalmente a
primeira parte cantada e o Marcello imprimiu emoção em sua interpretação. E ele fez uso de um tipo de letra que faz citações
sob cunho profético/filosóficas e causa calafrios aos detratores do gênero
progressivo, mas convenhamos, não espera-se outra predisposição da parte de tais opositores
sistemáticos e históricos antagonistas, por pura birra paradigmática ou atroz
falta de inteligência, mesmo, levemos em conta tais fatores hipotéticos.
Uma terceira fase inicia-se com uma série de
intervenções em convenções e bases harmônicas interligadas, em regime de
“intermezzo”, em que diversos ícones do Rock Progressivo são evocados entre
frases convencionadas, além de quebras bruscas de compassos e andamento.
Micro solos de
guitarra e mini moog revezam-se em diversas dessas minúsculas passagens e
lembra muito o som de bandas italianas setentistas e clássicas do gênero
progressivo. Surge uma parte cantada pelo Rodrigo, na qual a sua interpretação é praticamente pautada pela “Soul Music”, outro ponto em comum com o velho, ”Som Nosso de Cada Dia”.
Após uma longa passagem instrumental, volta-se à parte “A” da canção, para mais
uma passagem pelo refrão, com o Marcello também a cantar de forma bem negra,
quase a incorporar o espírito do Tim Maia.
Mais uma passagem pelos solos de
Moog acontece, em dueto com a guitarra e uma parte final a estabelecer a junção entre o
Rock Progressivo e a Soul Music, sobrevém.
Em falsete, eu e Rodrigo cumprimos uma
melodia vocal em contraponto ao vocal solo do Marcello, quando cantamos
uma outra melodia. “Vou Sentindo o Som e o Sol a me Guiar” é um verso bastante
emblemático para quem tanto esforçara-se para imprimir uma atmosfera 1960 &
1970, nas canções, sem dúvida alguma, por ser um libelo Hippie e Rocker da mais
alta vibração.
Eu sentia emoção e um prazer imenso por cantar isso ao vivo, pois,
mais que uma peça artística bonita, é um verdadeiro manifesto, uma
bandeira fincada, que noite após noite em cada palco em que tocávamos, demarcara
a nossa vontade de estabelecer o “religare” no Rock.
Por fim, um solo
incrivelmente melódico e inspirado da parte do Rodrigo, é permeado por viradas de bateria
fantásticas do Rolando Castello Junior, como se Keith Moon estivesse a incorporar-se mediunicamente nele, em sua
glória Rocker e o falsete a ser entoado pelo Rodrigo e eu: “Tudo... nada...
tudo... nada”, enquanto o Marcello entrecorta-nos com sua interpretação solo
de voz, com uma potência Black, estupenda: “Sendo, Sendo o Tudo e o nada”...
Uma frase de guitarra incrível do
Rodrigo, a homenagear, Steve Howe e a inserção do gongo ao final, abre caminho para um
mantra de encerramento: “Om”. Ou seja, nada mais “Late Sixties/Early Seventies” que
se evocar espiritualidade sob viés oriental/indiana e o gongo a ser levado ao
infinito por um efeito da câmara de eco, "Echo Sound", praticamente tira o fôlego do ouvinte
Rocker mais antenado, mas... é apenas a primeira faixa e haviam mais quinze para
degustar-se nesse disco!
Aliás, quando fizemos
reunião para estabelecer a ordem das canções no álbum, eu não queria que essa
canção abrisse o disco, por ser de fato um tema progressivo e como de praxe,
longo e intrincado. Talvez a raciocinar como se eu fosse produtor de música Pop e/ou
radialistas em geral, a minha opinião na época não fora esdrúxula por pensar
nesses termos mais práticos, sob o ponto de vista da estratégia de divulgação
ortodoxa. Porém, o Rolando Castello Junior argumentou que seria proposital para radicalizarmos e
chocarmos com uma escolha assim tão anticomercial.
Eu perdi por três a um, tal
votação, pois os garotos foram persuadidos por ele a votarem nesse sentido. Hoje
em dia, ao analisar friamente, acho que os três tiveram razão.
O álbum Chronophagia não
tocaria em emissoras de FM de forma alguma pela obviedade de diversos fatores inerentes e conhecidos sobre os bastidores da mídia mainstream, não teria nenhuma das suas músicas inseridas como trilha em novelas de TV e nós não apareceríamos
em programas popularescos de televisão, portanto, como um álbum clássico orientado pela estética do
Rock sessenta/setentista, a melhor solução para o nosso caso, foi mesmo radicalizar e não pensar em
paradigmas inventados por marqueteiros em favor do mercantilismo da música e assim, impor-se como obra de arte e
ponto final. Hoje em dia, orgulho-me de saber que o nosso disco abra-se com um
tema progressivo dessa metragem longa e mediante sofisticação musical. É um
disco para Rockers antenados e para eles é que devemos nossa dedicação e a
ninguém mais...
2) Tudo Vai Mudar - Humble Pie/Steve
Marriott
De fato, todo o conceito do riff em que construiu-se o refrão,
foi muito baseado no estilo do Rock branco e inglês do "Humble Pie", e de
seu guitarrista Steve Marriott, cheio de influência do R'n'B negro e norte-americano... ouça abaixo:
Eis o Link para escutar o áudio oficial da música: "Tudo Vai Mudar", no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=D_6HswNG_lM Essa
música nasceu do seu refrão. Eu mesmo (Luiz) criei a frase que permeia a vocalização em
falsete, ao trazer aquela carga de R'n'B, super negra, com inspiração na "Motown" e
"Stax", em seus dias de glória. As partes mais Rock, foram criadas pelo Rodrigo e a
introdução a surgir em contratempo, foi criação do Marcello.
A letra é bem
“bicho-grilo” no bom uso do termo. Com o super astral de São Tomé das Letras-MG, digamos
assim. A conversão em dueto que antecede os solos é ultra Humble Pie em seu estilo Blues-Rock, não resta
dúvida.
A condução do Junior é tão clássica que remete aos primeiros discos da
própria Patrulha do Espaço, o que é sensacional se pensarmos nesse resgate da banda com os seus
próprios primórdios. Os solos são incríveis de Rodrigo e Marcello, e o peso do baixo
remete ao Mel Schacher, do Grand Funk em seus momentos mais inspirados e claro
que eu fui buscar tal fonte, fã dele que eu sou, desde sempre. Fender Precision e nessa pegada mezzo
Blues-Rock/mezzo R’n’B, nasceram um para o outro, acredito.
Apesar de
toda essa fúria Rocker, eu achava e ainda acho que a canção tem um potencial
Pop muito proeminente. Se fôssemos norte-americanos, essa canção seria um sucesso
radiofônico sem dúvida alguma, principalmente pela inserção do vocalise do refrão que tem
apelo “bubblegum”, óbvio.
Aqui no Brasil é fora de cogitação pela mentalidade
reinante, portanto só lastimo que tais pessoas que dominam os meandros da
indústria musical, raciocinem assim de forma tão tacanha a privilegiar somente a massificação do que lhes convêm como material meramente distribuído para a comercialização descartável. 3) O
Ritual - Blind Faith
Essa música tinha um mapa muito semelhante ao da
canção "Presence of the Lord", do LP único do Blind Faith, lançado em 1969.
Eis o Link para escutar "O Ritual" no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=ygZJdnhpOLA Convido o
leitor a ouvir as duas canções, a nossa e a do Blind Faith e estabelecer a comparação. A frase inicial
da canção já tem um sabor Gospel muito interessante, que confere-lhe um apelo
bluesy, irresistível. O baixo dobra com o piano, enquanto uma guitarra suja e
plena de efeitos, traz uma gosma muito bonita como proposta de arranjo para conter uma camada abaixo da harmonia.
Marcello a canta
com aquele vozeirão grave e a letra é cheia de imagens instigantes em mais um
poema hermético, criação do amigo, Julio Revoredo.
Os contra-solos de guitarra do Marcello
são belíssimos, a evocar o estilo de Eric Clapton, sem dúvida alguma e o Rodrigo intercala
intervenções ao piano, muito bonitas, também, para apoiar a harmonia. Percebe-se um
violão batido ao fundo em alguns trechos e o timbre de suas cordas de aço é
muito belo.
A parte do solo é a que levou-nos mais a estabelecer a comparação
com a canção do "Blind Faith", que eu citei acima e o apoio do órgão Hammond com o devido uso
da caixa Leslie em velocidade rápida, foi fundamental para dar base ao belo solo de
guitarra do Marcello.
Gosto muito da batida criada pelo Rolando Castello Junior. A linha de
bumbo e caixa é ultra setentista e dá um molho incrível à canção. E apesar dos
desacertos no timbre do baixo na mixagem final do disco, a escolha de um Fender Jazz Bass
para essa canção foi perfeita, modéstia a parte. E para ir além, casa-se com a
batida perfeita que o Junior criou em sua bateria.
4) Ser - Grand Funk Railroad
A
energia desse Hard-Rock é tanta, que caberia no "disco vermelho" do "Grand Funk", acredito em tal premissa. Eu incorporei tanto essa ideia, que o "glissando" (efeito
estilístico no qual o músico passa o dedo pela corda, a escorregar pelos
trastes, sem preocupar-se em definir nota alguma, mas apenas a deslizar sobre
várias ao mesmo tempo), violento que
gravei no disco (e sempre reproduzi ao vivo), remete ao baixo do Mel
Schacher, diretamente. Ouça e pense sob tal visão.
Eis o Link para escutar o áudio oficial da música, "Ser", no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=wb02hOGOzPI A
ideia da percussão inserida na parte do solo de guitarra, foi ótima, da parte do
Junior. As Congas executadas pelo Daniel "Lanchinho", são muito rápidas em seu desenho rítmico, ao fazer uso de notas ligeiras (colcheias), e assim lembra o estilo
agressivo do percussionista, Jose "Chepito" Areas, nos seus melhores
anos a serviço da banda de Carlos Santana.
E o amigo, Paulo Zinner,
intercalou frases de Timbales, muito boas a reforçar esse conceito de
latinidade agregada a um Hard-Rock setentista clássico.
A atuação do
Junior é maravilhosa e ao vivo, as suas viradas arrancavam uivos da
plateia, a empolgar-nos, sempre. O refrão também tem muita energia.
Aquele coro com as palavras: "Agora, Agora", com o Marcello e eu, Luiz a fazermos, mais a voz solo do Rodrigo a rasgar, tem uma força incrível.
E ao final, o acréscimo da frase: "eu, eu e você", afirmo que eu sempre gostei muito de cantar. Adoro também o piano que dá apoio ao final que foi gravado pelo Rodrigo. 5) O Novo
Sim - Luiz Carlini
Achávamos que essa canção assemelhava-se ao estilo do Tutti-Frutti. Até a
parte da flauta que remetia ao Jethro Tull, em uma primeira leitura, na
verdade fazia menção ao velho Tutti-Frutti, do ótimo, Luiz Carlini.
Essa
música nasceu ao violão, mesmo a ressaltar que mesmo que eu não detivesse um domínio bom sobre o instrumento,
porém, mesmo assim consegui criar uma batida e uma harmonia interessante, com bastante
influência do Pop setentista, acredito (pensem em Peter Frampton, por exemplo,
pois foi no estilo desse grande artista em quem espelhei-me, também, quando a criei).
Com o acréscimo do arranjo e
participação dos companheiros, foi óbvio que a música cresceu demais e ficou
sofisticada, eu diria. Com o Rodrigo a tocar e desenhar com desenvoltura ao
violão, a canção ficou maravilhosa e como se não bastasse, o piano que o
Marcello criou, a deixou com aquela irresistível feição do Tutti Frutti dos
bons tempos. O Junior trouxe a ideia de uma percussão pontual com “egg” e guiro
(em português, o “reco-reco”), e isso foi genial, porque imprimiu swing à
canção.
O solo de guitarra é belíssimo. Apesar dos problemas que tivemos em
relação a timbres nesse disco, a guitarra Gibson Les Paul do Rodrigo falou bonito, e emociona-me. Adoro
a parte “B”, com aquela cadência harmônica que lembra-me o estilo dos “Secos
& Molhados” em algum aspecto.
E claro que a batida que o Junior criou
contribui muito para ter-se tal impressão, aliás, muito positiva. E por fim, a
parte “Jethro Tull”, para dar vazão ao solo de flauta do Marcello, tem um riff
que eu criei também e gosto muito, mas na contrapartida, guardo uma crítica sobre a gravação: acho
que a flauta ficou deslocada pela ambientação, pelo excesso de reverber colocado a posteriori, na mixagem. Parece
que o Marcello não está inserido na banda, ao fazer o solo. E também poderia conter um
pouco mais de peso das guitarras no stereo, em apoio ao baixo.
Por fim, a
curiosidade de uma letra escrita por um outro baterista, caso do meu amigo, José
Luiz Dinola, fazer parte de um disco da Patrulha do Espaço, não deixa de ser
exótica, visto ser o Rolando Castello Junior, baterista, fundador e único membro original em
toda a história e discografia da banda. Eis o Link para escutar "O Novo Sim", no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=g1EuPacOttQ 6) Sunshine - Arnaldo
Baptista
O que dizer sobre essa canção a não ser o óbvio? Ora, essa parecia-se mesmo a Patrulha do Espaço com o
Arnaldo Baptista em sua formação!
Nesses termos, o arranjo
é praticamente o mesmo da versão original gravada pela própria Patrulha do Espaço, em seu
primeiro disco de 1977, no entanto, a nossa versão contém muitos adendos livres, que a enriqueceu,
acintosamente, posso afirmar.
O acréscimo de vocais de apoio que eu e Rodrigo
reproduzíamos ao vivo e no disco teve o acréscimo da cantora superb, Xandra
“Joplin”, por exemplo. Além disso, a participação histórica do genial e
saudoso, Manito (ex-"Os Incríveis" e ex-"Som Nosso de Cada Dia"), ao ter gravado um solo de
saxofone de arrepiar, que a tornou muito mais bonita.
De resto, destaca-se a sempre
brilhante bateria do Junior, o piano e órgão Hammond pilotados pelo Marcello,
além de sua voz solo que ao vivo, que encantava as plateias com as quais
deparamo-nos.
Gosto muito da guitarra do Rodrigo nessa canção. De certa forma,
ele resgatou o som de John Flavin e Dudu Chermont, guitarristas dos primórdios da
banda, pelo timbre e inspiração nas frases, solos e contra-solos. Aliás, gosto
muito dos desenhos que ele criou.
“Como vai você? Tudo bem? Assistiu o
futebol?” Somente o
Arnaldo Baptista mesmo, para ser tão genial ao explorar ideias tão
aparentemente desconexas dentro do contexto, mas que revelam-se na verdade,
sacadas inacreditáveis. Xandra apoia muito bem com intervenções vocais soladas
ao final e ficamos muito contentes com a sua participação em nosso disco.
Eis o Link para escutar "Sunshine" no YouTube:https://www.youtube.com/watch?v=gdpYNPx6u8M
7) Retomada - Keith Richards
Pensávamos sempre nos Rolling
Stones quando tocávamos essa canção. Foi justa, portanto, essa homenagem ao
mestre, Keith Richards.
Mas é nítida também a influência de uma MPB ultra
hippie e setentista, pelo aspecto da letra e melodia, que remonta ao trabalho do excelente trio Folk-Rock: "Sá;
Rodrix & Guarabyra", sem dúvida. A música é do Rodrigo, que criou um
riff sensacional e em cima disso ele construiu um belo Rock.
A letra é minha e é
explícita, a refletir toda a euforia que eu senti naqueles anos em que expressei
as minhas raízes sessenta-setentistas com todas as forças, para resgatar os
meus sonhos e ideais.
Mais abaixo eu arrolo algumas frases dessa letra, que
considero emblemáticas. Quando som e cor tornam-se uma linguagem só e nesse
lampejo esotérico/lisérgico, os hippies da década de sessenta perceberam uma
outra realidade através das portas da percepção e eu escrevi a pensar nessa
junção louca que causa estranheza em um mundo cartesiano e certamente “careta”,
todavia, que sob ditames livres, e essa foi a razão de ser do "Drop out"
sessentista, faz todo o sentido:
“Cores incríveis avisto em frente, som sabor de
morango e cereja, uma transação diferente, quero que você mesmo veja”... / O
Brilho dos sons é intenso, o som das cores, goiabada / pro yuppie neurótico e
tenso, deixo a minha fé na retomada... / cabelos ao vento, crianças unidas em
torno da mãe terra, chuva de luzes refletidas / em paz e amor se encerra”... O cowbell que apoia a bateria é sensacional.
A batida que o Junior criou é espetacular, ao proporcionar toda a sustentação
da canção. A pandeirola que apoia na parte B, é extraordinária, também.
Lembra-me o som dos Beatles.
Gosto muito do piano base do Marcello, igualmente.
Já o solo de guitarra com slide é incrível, de arrepiar. E a interpretação
vocal do Rodrigo é ótima. O grito de nós três proferido ao final: “Rá”, despertava-nos
sempre risadas, por fazer-nos lembrar do paranormal, Thomas Green Morton. 8) Céu Elétrico - Procol Harum
Poderia lembrar
o som de diversas bandas Prog-Folk, mas acredito que o som do Hammond levou-nos
à delicadeza sublime do grande Procol Harum. Ouça abaixo:
Eis o link para se ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0LiAh7tmOuE Eis o Link de um promo da música "Céu Elétrico", sob a produção de Caio Scarano Forte: https://www.youtube.com/watch?v=sVMgJyCP3qo
Essa canção tem muitos atributos, ao
meu ver. Com uma identidade Folk-Prog acentuada, apresenta harmonia e melodia
muito bonitas e mediante o uso do compasso em 6/8, deu possibilidade para criarmos muitos
arranjos suplementares, interessantes. Em seus primórdios, a canção fora
concebida para soar mais folk, com arranjo acústico, mas quando o Junior sugeriu
a participação de baixo e bateria, mudou um pouco a sua característica, todavia,
o resultado ficou belo, em minha opinião.
A introdução toda desenhada sob uma frase
complexa entre o baixo, violão, órgão e flauta e com acréscimo da caixa da bateria com
batida militar, já impressiona positivamente pela sua beleza. Acho que a
bateria e o baixo ficaram estupendos.
Aquilo deu-lhe um sabor "Procol
Harum", quem sabe também tenha a ver com a sonoridade do “Moody Blues”, muito interessante. Adoro o órgão
Hammond a desenhar com o apoio da caixa Leslie, mediante ondas curtas, na velocidade baixa.
As
intervenções de flauta são muito boas e eu gosto muito delas. Acertei na escolha
do baixo, sem falsa modéstia (de novo, não interprete-me mal, por favor, amigo,
leitor). O Fender Jazz Bass ornou perfeitamente no arranjo geral. Ficou lindo
com a bateria e o órgão Hammond. E na frase final, dá para sentir o ronco dele,
típico.
Eu adorava cantar o backing vocals em contraponto, com o Rodrigo na
frente, eu em segundo e o Marcello a entrar em terceiro lugar, para depois
juntarmo-nos no trecho final:“elé...tri..co”.
Letra escrita pelo guitarrista, Luciano “Deca”, ainda quando
este fez parte do Sidharta, é absolutamente lisérgica. O Deca nunca demonstrou
apreço pela lisergia sessentista, como eu. Pelo contrário, ele gostava normalmente de
letras coloquiais e a abordar o universo Rocker pelo prisma das ideias do
"AC/DC", predominantemente em sua banda, o "Baranga", mas
neste caso, creio que ele acertou a mão nessa sua composição, por escrever uma letra que o Ciro Pessoa
também escreveria, normalmente.
“Me sinto girando
numa piscina de águas multicores. Tocando o céu circular, beijando borboletas
de aço. Pinte de azul anil sobre o que você viu. Você está assistindo aos meus
pensamentos, céu elétrico, céu elétrico"...
Essa homenagem foi uma sugestão irônica da parte do Rodrigo e que da qual eu nunca gostei.
Tudo bem, acho os filmes e o personagem, Austin Power, divertidos, mas não
creio que tenha sido uma grande escolha, pois deixou uma indicação
dúbia. Pareceu indicar uma ironia, e eu preferia que tivesse seguido a
linha das demais. Se fosse dedicada ao "Iron Butterfly", "Young Rascals" ou "Vanilla Fudge", eria sido mais conveniente ao meu ver. Ouça abaixo:
Eis Link para ouvir o áudio oficial do CD "Chronophagia", da música "Eu Nunca Existi", no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=1zj1KTR8Amk
Adoro essa canção que compus em
parceria com o Rodrigo e com letra ultra instigante do poeta, Julio Revoredo. A
evocação sessentista psicodélica, nela expressa, é total.
Ao tocá-la, sentia-me um
componente do "Iron Butterfly" em 1968, a tocar no palco do auditório
Fillmore West, e podia até imaginar a figura de Bill Graham na coxia, a sorrir
para nós, enquanto tocávamos!
Gosto de tudo nessa canção, da harmonia à melodia,
letra e arranjo geral, tudo nela emociona-me pela óbvia inspiração sessentista
que tanto amo e nela é explícita. O solo de slide à guitarra do Marcello é
sensacional. Gosto muito do órgão Hammond e da interpretação vocal do Rodrigo.
O início, aliás, com efeito na voz a sugerir um certo ar fantasmagórico é espetacular
pela psicodelia inerente. A linha do baixo com um looping de frase rápida e
aquele timbre de Rickenbacker, também é psicodelia pura. Que os Deuses do Rock
abençoem o grande, Lee Dorman, a minha inspiração nessa música, lá no Olimpo dos Rockers!
“Perdoe meu estranho rosto, pois eu
exalto o espírito / desculpe-me, eu acredito em mim, na encruzilhada da vida eu
não sofro / Notívago a procura de várias mortes e vidas pois há entre nós um
universo e não um verso só.../ Eu sou um estranho, um estranho projeto, eu
nunca existi"...
Julio Revoredo, sempre genial ao evocar uma
atmosfera sob estranheza digna de um "Twilight Zone" e que faria Stephen
King sorrir ao ler suas frases, lá no Maine.
Como de praxe, Rolando Castello Junior arrebenta na bateria, pois a sua capacidade para criar
linhas de bateria sempre foi extraordinária. Aqui, ele desenha junto com a linha do baixo,
ao alongar as frases. Gosto muito das frases precisas que ele criou sob um
intermezzo, onde eu eu fiz bicordes para realçar as acentuações ritmicas.
10) Alma Mutante - Yes
De fato, esta peça possui também
elementos do Prog-Rock, próximos da sonoridade do "Yes", mas contém também uma
convenção criada pelo Rodrigo, que pelo fato dele haver usado uma escala cromática, igualmente
remetera ao som do "Wings". Tire as suas conclusões, portanto, amigo leitor! Ouça abaixo:
Na
verdade, essa canção mescla elementos Hard-Rock, Prog-Rock, e Pop-Rock. Gosto muito das
guitarras (tanto base, quanto solo), nessa canção, que são extremamente
bem executadas. A
intervenção ao sintetizador Mini Moog é rápida, mas estratégica. Gosto
demais
do riff primordial que tem uma energia fantástica e o peso de baixo e
bateria
que essa música ganhou por conta disso, ficou incrível.
A letra é minha e
também evoca valores
sessenta-setentistas, como um ato de fé, quase messiânico em seu ardor
pela
vibração positiva de outrora. E a ideia do uso da palavra, “mutante” não
foi
exatamente referência aos Mutantes enquanto banda, mas sim no sentido literal
da
palavra: "mutação".
“De agora em
diante minha alma mutante, leva de encontro ao sonho de Aquarius/não deixe
escapar pelos seus dedos como água fugidia, seus sonhos de vida, seus sonhos de
vida”...
Pois
é, a ideia é não perder a próxima oportunidade e não deixar o sonho ser
destruído e sim, tornar-se concreto!
11) Nave Ave -
Mutantes
Neste caso também houveram divergências na questão da escolha sobre o homenageado a ser agraciado. O Rolando Castello Júnior achava a parte "A",
super a ver com o trabalho do Elton John. Em vários shows, ele mesmo, ao anunciá-la, chegou a brincar,
a dizer que tocaríamos "uma do Elton, a seguir".
Eu por minha vez, achava
que havia uma similaridade com o "Traffic". Na minha concepção, esta canção poderia estar presente em qualquer álbum
daquela magnífica banda, principalmente na fase pós-LP "John Barleycorn Must Die".
Mas de
certa forma, existe certamente algo do trabalho dos Mutantes em sua fase Prog-Rock, também. Ouça abaixo:
Eis o Link para ouvir o áudio oficial oriundo do CD "Chronophagia", da música "Nave Ave", no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=WwLatBT92HA
E por conta desse detalhe culminou em ser dedicada à banda dos irmãos, Dias Baptista. Canção belíssima, composta pelo
Marcello, com uma introdução toda climática ao piano elétrico e interpretação
vocal eletrizante do Rodrigo, foi uma das mais queridas e pedidas nos nossos
shows e costumava arrancar berros sob regozijo do público, pelo seu final apoteótico.
Tudo é muito
bonito nessa canção, sob uma inspiração das mais felizes, em relação ao disco inteiro. Adoro a
sua harmonia e melodia, as intervenções dos backing vocals e a parte final dos
solos onde o revezamento entre órgão e guitarra é lindo.
O Junior arrebenta
com uma condução de ritmo à bateria, absolutamente incrível e ao vivo ele empolgava-se ainda
mais e fazia-me ir junto nos seus improvisos esfuziantes, com a música a ficar
inacreditável, com tal clima de euforia gerado em todos os shows.
A usar uma letra forte do
poeta, Julio Revoredo, mais uma vez, e com uso de palavras não coloquiais, tal efeito
conferiu à melodia, um verniz poético e sofisticado ao extremo.
“Então no fluxo da ordem ergue-se a desordem e o caos
e uma pergunta no ar aflige o sem face ígneo ser/quem deterá o voo da nave
que perscruta a névoa sem ser ave"?
12 ) O Pote de
Pokst - Led Zeppelin
Aqui não houve dúvida. Uma balada
épica com elementos folk, mesclados a um acento bluesy, com direito a
improvisos e com letra repleta por misticismo, magia etc.
E nos shows, os
improvisos geralmente arrancavam suspiros do público, com climas "Zeppelineanos"
fantásticos. Os meninos só não usavam o arco de violino nas guitarras, mas o
clima era o mesmo. Adoro essa atmosfera de brumas místicas que essa música
propõe de maneira subliminar e diretamente, eu acredito. Tiramos o nosso chapéu para
Roy Harper e o Led Zeppelin, é claro...
O riff é belo ao extremo. Gosto muito
da levada da bateria e baixo e mesmo ao admitir que o Fender Precision cairia
bem, igualmente, o Fender Jazz Bass timbrou de forma adequada e fez a sua
devida conexão com uma referência minha desde sempre, o som do senhor, John
Paul Jones.
Gosto muito dos backing vocals e confesso, emocionava-me ao fazê-lo
ao vivo, junto ao Marcello, a sentir-me sob um momento mágico, por vários
motivos, mas neste caso em específico, por saber internamente que estávamos a
exercer a magia e como magos, a encantar o nosso público.
De fato, essa canção
gerava sempre a euforia e emoção pura, nos shows. Os solos e bases de guitarra
são lindíssimos, e os climas que o Junior criou nas quebradas da bateria, ao
propor diversas mudanças de ritmo e andamento, são históricos, eu diria, e sem
falsa modéstia, estão no panteão de suas melhores criações na carreira inteira
da Patrulha do Espaço, em termos discográficos.
Essa faixa é na realidade um
micro solo de bateria que a partir daí, tornou-se uma praxe nos discos
da
Patrulha do Espaço, em nossa formação.
Sempre que a sessão de bateria
encerrava-se, o Rolando Castello Junior pedia
para o técnico gravar mais uma tomada, com ele sozinho a criar um solo. A
ideia foi boa de fato e neste caso, a escolha do nome da canção, ao remeter à
loucura,
e também dubiamente, ao caráter espacial da origem da nossa banda,
também foi ótima.
Quanto à homenagem em si, diante de tanta loucura, ninguém
melhor que o velho, Dr. Tim Leary para ser lembrado e evocado!
Bem,
aqui a técnica, criatividade e energia Rocker da parte do Rolando Castello Junior, expressa-se sob uma rápida
intervenção solo, de sua parte.
Acima, "Spaced". Eis o link para acessar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LMA39qdeQiA
14) Terra de
Mutantes - Leon Russell
Aqui neste caso, a impressão foi unânime: Leon Russell,
fase Mad Dogs and The Englishmen sem dúvida alguma e não se discute mais isso!
Eis o Link do áudio oficial do CD "Chronophagia", da música "Terra de Mutantes", no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=iII9EwftjAE
Eis outra canção que eu adorava tocar
por conta dessa deliciosa atmosfera centrada em torno do estilo R’n’B, clássico. Adoro o piano
dessa canção e a interpretação vocal do Marcello, com sua rouquidão, a lembrar
o Tim Maia (mais uma vez neste disco, certamente).
A mudança para uma parte mais Rock, com a voz do Rodrigo, é
igualmente bela e as intervenções da nossa convidada, Xandra Joplin, rasgam em
vários momentos, apoiadas pelo órgão Hammond, de uma maneira muito emocionante.
Adoro o acento de guitarra a acompanhar a subida de uma escala, nessa parte.
Gosto muito da batida do Junior e o casamento dessa levada rítmica com a estratégica
pandeirola, a conferir balanço.
Fui gravar com Fender Precision para essa música, mas sem
virulência, mais comedido, a evocar o Blues. Por falar nisso, ótimo solo do
Rodrigo, super bluesy e muito bonito.
Mais uma letra instigante do poeta,
Julio Revoredo, desta feita bem psicodélica:
“O Sol violeta aflou de seus olhos azuis/O seu
corpo dourado deu voltas em meus pensamentos / trazendo sonhos de paz e
amor”...
15 ) Sr. Barinsky (Admirável Sonhador) - Paul McCartney
Bem, se trata de uma típica canção
Beatle, não é mesmo?
É fácil neste caso, para se imaginar
o Paul McCartney a tocar piano no estúdio Abbey Road, em 1968, nas
sessões de gravação do
LP “White Album”, dos Beatles...
Porém fui eu quem a compôs e apesar de não
saber tocar piano, eu sei montar meia dúzia de acordes e sustentar um
ritmo
simplório em staccato 4/4... e foi assim, que ao usar um teclado, compus
essa
canção ao final de 1997, para o projeto, Sidharta e fiquei muito
contente por
tê-la gravado com a Patrulha do Espaço, posteriormente.
Claro que já falei sobre
as motivações dela, que
são explicitamente baseadas na influência dos Beatles e cabe
acrescentar que o personagem temático dessa
canção, um senhor possivelmente de origem polonesa, tratou-se de uma
imagem de
um homem recluso e amargurado, que simplesmente não tinha forças para
interagir
com o mundo e assistia a vida a passar pela sua janela, embora soubesse
que sua
melancolia o oprimia e no fundo, ele não queria desperdiçar a vida, mas
simplesmente não reunia forças para mudar tal estado de coisas.
Certamente que a minha
pobre condução ao piano melhorou muito quando a função passou para o
Rodrigo no
disco e nos shows.
Adoro o som ao estilo de um “saloon do velho
oeste”, que ele
imprimiu em certos trechos. O solo do Marcello à guitarra é magnífico e o
Junior simplesmente arrebenta com o seu arranjo ultra inspirado, permeado
por
ousadia, praticamente a empreender um solo, com a música em curso.
De
certa forma, é
como se o Ringo Starr tocasse um trecho da canção, e o Ginger Baker
aparecesse
para atuar também, em outro e além disso, a sua sugestão para colocar a bateria no
modo, mono, foi
também um achado e isso tornou-a ainda mais uma “Beatle song”, em
essência.
A
ideia do baixo a realizar uma condução bem no estilo do Paul McCartney, a
observar o astral da música popular dos
anos trinta, com tônica e quinta acima/tônica e quarta abaixo, é
obviamente
proposital. Adoro essas evocações do passado que os Beatles e outras
bandas
britânicas faziam nos anos sessenta, geralmente com inspiração no
cancioneiro
popular britânico e europeu em geral, dos anos vinte e trinta do século
vinte.
O
Fender Jazz Bass foi a melhor solução que achei para timbrar, pois
gostaria mesmo seria haver gravado com um baixo "Hofner" e com aquele timbre
característico
com pouco ou nenhum "sustain". Poderia ter usado o Rickenbacker com a
chave seletora posicionada no meio, a buscar o médio anasalado, que
também é bem no estilo de McCartney, em essência, mas o
Fender Jazz Bass roncou muito bonito.
Já falei em outro trecho da
narrativa
sobre os excessos cometidos na percussão e hoje dou razão ao Rolando Castello Junior, que
na hora
da gravação, advertiu-nos e ele teve razão, pois menos é mais.
Eu adorava
cantar os
backing vocals ao vivo dessa canção. Tal arranjo vocal foi uma criação
minha, mas essa predileção não
foi por esse motivo, todavia pelo significado das palavras a apoiar o
texto, que eu
achava (acho) que tinha (tem) força interpretativa.
Gosto muito do
timbre
saturado da guitarra base, oriunda da Gibson SG, do Marcello. Aquela
"sujeirinha" a mais da distorção que ele escolheu é um espetáculo, em
minha opinião, fora os desenhos que ele criou, que são lindos.
16) Epílogo - Cosmos
Ao pensar na homenagem, o Marcello quis algo diferente para essa música
instrumental conduzida só por um violão. Pensamos em Steve Howe, e certamente que haveria tantos outros nomes
plausíveis nesse caso, mas a decisão dele foi respeitada, e ficou mesmo
para o "Cosmos" (não o do Pelé, tampouco o do Carl Sagan...).
Eis o Link para escutar "Epílogo", no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=fgEJ82IV3DE Acho
essa peça instrumental de violão, muito bonita. A ideia em si,
trouxe um élan ao disco, que muito orgulha-me, pois como detalhe
requintado, trouxe mais uma evocação setentista, ao relembrar
guitarristas da década de
setenta que gravaram faixas acústicas e instrumentais em meio a discos
ultra
elétricos de suas bandas, principalmente no espectro do Rock
Progressivo.
Portanto, ao contar com mais um ícone “vintage” no álbum, foi de uma felicidade
ímpar. Eu só
acho, pelo ponto de vista do áudio, que merecia uma captação e timbragem melhor, pela beleza da peça e a
boa
execução do Marcello. Não é o melhor timbre de violão, longe disso, e
sem
dúvida deveria ter ficado bem melhor, no quesito do áudio. E eu acrescento o dado de que o instrumento em si foi muito bom, a se tratar de um violão de concertista erudito, cedido por um amigo.
Fechada a capa e o encarte, e com o áudio masterizado, tomamos as
providências burocráticas cabíveis para enviar a cópia "master" para a
fábrica. Em compasso de espera para a chegada da remessa, voltamos nosso
foco à divulgação e shows.
E nesse quesito, o mês de maio foi muito
bom, pois tivemos quatro eventos muito significativos em termos de divulgação,
praticamente a preparar o terreno para o lançamento do disco que estava
a chegar. A primeira ação positiva, na verdade, foi agendada para o final de
abril, mas o resultado impresso, saiu publicado no dia 3 de maio de 2000.
Fomos
procurados pela reportagem do jornal, "O Estado de São Paulo",
interessado
em entrevistar-nos. Já havíamos tido uma reportagem boa no caderno,
"Ilustrada" da "Folha de São Paulo", em dezembro de 1999, e agora
sairíamos nas páginas do
"Estadão", ou seja, dos três maiores jornais do Brasil, só faltaria, "O
Globo", do Rio de Janeiro, para que nós fechássemos essa trilogia de
imprensa mainstream total a dar-nos esse super espaço.
E assim, foi sob um dia de
semana por volta das 11:00 horas da manhã, que a equipe de reportagem do "Estadão"
aportou na residência do Rodrigo, para realizar a entrevista e prover a sua
devida cobertura fotográfica.
A repórter foi
bastante gentil e demonstrou conhecer o assunto, por formular-nos
perguntas
pertinentes. Tiramos várias fotos e a chapa que ilustrou a matéria,
foi uma
tirada em torno de uma mesa de bilhar no salão de jogos da habitação da
família Hid.
A
matéria saiu publicada no mesmo dia em que faríamos a nossa primeira
aparição em um programa de TV, ao vivo com a nossa formação e que
render-nos-ia bastante
visibilidade.
Chamava-se: "Turma da Cultura", realizado pela TV Cultura
de São Paulo. A produção da TV chegou ao endereço que lhes fornecemos no meio da tarde com um
micro-ônibus, com o qual nós transportamos o nosso equipamento de palco (backline), inclusive a incluir o órgão
Hammond, do Rodrigo.
Levamos também adereços e muito incenso, para simular a atmosfera de
nossos shows ao vivo e assim criar na TV, a melhor ambientação
possível.
Chegamos aos estúdios da TV Cultura (localizado no bairro da Barra
Funda, zona oeste de São Paulo), realizamos o soundcheck e arrumamos todos os
detalhes cênicos possíveis, auxiliados pela Sarah Reishdan, uma produtora musical
experiente em shows internacionais (ela fora tradutora/cicerone para artistas internacionais como: "Deep
Purple", "Jethro Tull" e "Robert Plant & Jimmy Page", em diversas vindas desses artistas
ao Brasil), e que trabalhara com diversas bandas de Rock,
independentes.
Ela estava a fornecer uma ajuda à Patrulha do Espaço e nos próximos dois
anos, seria produtora de alguns shows para a banda. O programa, "Turma
da Cultura" era uma espécie de revista cultural, só que apresentado por
adolescentes.
Tratava-se de um casal de adolescentes neste caso, atores de produções da
própria Cultura, como, "Castelo Ra-Tim-Bum" e similares. Eles
entrevistavam duas ou três pessoas a falarem sobre um tema que variava
a cada dia, e isso intercalava-se com uma atração musical, que também interagia nas
conversas. Continha um público adolescente presente, geralmente a se tratar de uma turma de escola ali conduzida como uma excursão e
na base do embalo, também interagiam a dançar e aplaudir etc.
Claro, em um pequeno estúdio
televisivo, não deu para tocar com a pressão sonora de um show de Rock,
mas esteve bem ajeitado para nós, com um som confortável nos
monitores.
Caprichamos no visual e aparatos e isso despertou a atenção
dos apresentadores e de telespectadores que manifestaram-se via "chat" de
internet, com tal apelo moderno já a começar a ficar popular, em 2000.
O assunto em pauta na
discussão com convidados em nossa aparição, foi "Política", e a banda interagiu com o
Júnior a ser convidado a dar seu depoimento sobre a juventude nos anos
1960 e 1970, em relação ao momento político daquela época etc. e tal.
Tocamos:
"Tudo Vai Mudar", inicialmente, com grande desenvoltura. Estávamos super
afiados, por tocarmos regularmente, desde março de 1999 e acabáramos de
gravar o CD "Chronophagia", portanto, em grande forma artística.
Abaixo, a performance de "Tudo Vai Mudar":
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=BqhIC7KUdAs&feature=youtu.be
Foi uma
excelente performance, com o trabalho a soar coeso, ao apresentarmos uma desenvoltura
musical ótima e sobretudo, com a firmeza típica que espera-se para uma apresentação
de TV, onde o recado tem que ser muito contundente.
A intercalar-se com a
entrevista dos outros convidados, também fomos entrevistados.
Claro, o
assunto "origens da Patrulha + Arnaldo Baptista" veio à tona, com o Rolando Castello
Júnior a ter que lidar com essa pergunta inevitável e muitas vezes
enfadonha, pois o foco deveria ser o trabalho então atual, a sair do forno, mas os
pauteiros do jornalismo em geral só enxergavam a Patrulha do Espaço, basicamente
pelo viés do Arnaldo Baptista, em meio à sua curta participação na banda, com apenas oito meses decorridos entre 1977 e 1978.
Paciência... esse foi um ônus que o Rolando Castello Júnior
sempre teve ao longo da carreira toda da Patrulha do Espaço e era (é) um estigma difícil
de se livrar. Abaixo, assista a nossa performance para interpretarmos a canção "Sunshine":
"Sunshine", ao vivo, no programa: "Turma da Cultura", da TV Cultura de São Paulo, em 3 de maio de 2000
A segunda música que tocamos, foi: " Sunshine", com outra
ótima performance. Destaco os bonitos desenhos que o Rodrigo criou em sua guitarra,
a ornar muito bem a canção.
Depois tocamos: "Ser", com
um peso incrível e uma novidade especial para essa apresentação, por
sugestão do Júnior, o Rodrigo fez uma intervenção nos timbales, durante o
solo do Marcello, ao chamar a atenção dos câmeras, que enquadraram-no bem
nesse momento.
"Ser", nessa aparição na TV Cultura de São Paulo. Eis o Link para assistir no YouTube:
Sob uma abordagem direta comigo, os apresentadores perguntaram-me sobre o nosso visual em termos de uso do figurino, os adereços sobre os amplificadores e
principalmente a enigmática foto do Dr. Timothy Leary, em um porta-retrato
colocado sobre o órgão Hammond.
Mesmo com pouco tempo, em um programa
direcionado para um público adolescente e que evidentemente não entenderia as
minhas explicações, eu prestei o meu depoimento da melhor forma que pude, naquela
circunstância marcada pelo tempo escasso.
A quarta canção foi "O Ritual", o nosso
"momento Blind Faith"...
Abaixo, a nossa performance para a canção: "O Ritual".
"O Ritual", em versão ao vivo no mesmo programa citado.
O Link para assistir no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=1sHLbrKA4rE
Com a ida de Rodrigo aos teclados e Marcello à
guitarra, essa troca dos instrumentistas sempre impressionava e tínhamos a
certeza de que isso haveria de multiplicar-se em termos de público telespectador.
Acima, o programa na íntegra, a conter as entrevistas com a banda e a música, "Nave Ave" (cortada), ao final da atração.
De
fato, algumas manifestações vieram pelo "chat", e uma chamou-nos a
atenção, por vir de um rapaz morador da cidade de Avaré, interior de São
Paulo.
Tratou-se de um rapaz
chamado, Dárcio, e ele era presidente de um dos maiores fã-clubes dos
Mutantes do país. Segundo as suas próprias palavras, ele havia ligado a TV a
esmo, e tomou um susto com a presença da Patrulha do Espaço no
programa, pois nem imaginava que a banda havia voltado às suas atividades e com essa
proposta marcada pelo resgate total das raízes 1960 & 1970, até no
visual.
Versão on line da entrevista para o "Estadão" - 3 de maio de 2000
Esse rapaz ficou tão
entusiasmado que passou a acompanhar-nos com vivo interesse dali em
diante, e até shows (no plural, mesmo), ele intermediou para nós, graças aos seus contatos na cidade
de Avaré-SP. Falarei sobre isso, oportunamente.
A encerrar, tocamos a canção, "Nave
Ave", mas o programa acabou, e mal tivemos tempo para chegarmos na parte "B" da
música, pois os caracteres começaram a subir e assim que saiu do ar, os
técnicos sinalizaram para pararmos a execução da canção.
Foi uma ótima
performance no cômputo geral e no interior do ônibus da TV Cultura, ao voltarmos para a residência do Rodrigo,
onde guardaríamos todo o equipamento, fomos a conversar sobre o grande dia
que tivéramos, com matéria publicada no "Caderno 2", do Jornal, "O Estado de São
Paulo", e exibição ao vivo no programa: "Turma da Cultura", da TV Cultura de São Paulo e com transmissão em rede nacional.
Foto clicada por Marcelo Santarosa, no estúdio da Rádio Brasil 2000 FM, em 23 de maio de 2000
Contentes com essa repercussão, ainda assistimos a nossa aparição na
TV, na mesma noite, visto que a família do Rodrigo havia gravado a nossa
participação televisiva, mediante o uso do velho videocassete.
Estávamos em um momento importante de expansão por esses acontecimentos
amontoados e transcorridos nesse mês de maio de 2000 e ainda haveria
mais coisas boas para
acontecer.
A primeira, foi o convite formulado pela Rádio Brasil 2000
FM, quando participaríamos de um programa ao vivo, para tocarmos no estúdio da
emissora e responder perguntas de ouvintes.
Eu já havia participado desse
programa com o Pitbulls on Crack, em 1993 e 1997 e portanto conhecia o seu formato. Dessa
maneira, comparecemos ao estúdio dessa emissora de rádio, em 23 de maio de 2000, onde
tocamos diversas canções e respondemos várias perguntas.
Foi uma
excelente performance, com a banda muito afiada e a gravação feita com uma
simples fita K7, ficou tão bem mixada que o Rolando Castello Júnior aproveitou o material
dessa noite para colocar como "bonus tracks", algumas canções dessa apresentação, na coletânea: "Dossiê Volume
4", que lançaria no ano seguinte, em 2001.
E a última boa novidade de maio, foi o
convite da Revista da 89 FM para entrevistar-nos. Essa entrevista foi
realizada no estúdio de ensaio/gravação do tecladista, De Boni, então componente d'O Terço.
Resenha do CD, assinada por Marcos Cruz, para o Site Wiplash
O jornalista que entrevistou-nos era uma avis rara
dentro daquele universo da 89 FM, um ótimo profissional chamado: Daniel Vaughan, que
tornou-se amigo e aliado, doravante, por admirar e respeitar a Patrulha do Espaço,
principalmente pelo tipo de resgate sonoro que propúnhamo-nos a fazer
com aquela volta, ao evocarmos os anos 1960 & 1970.
Maio de 2000, foi um mês com
oportunidades muito boas no campo da divulgação, em suma.
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