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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 14 - Sonhos & Rosquinhas Postergados por uma Pandemia - Por Luiz Domingues

Incrível, chegamos ao ano de 2020. Tecnicamente a falar, não foi o primeiro ano da década de vinte, mas simbolicamente, o número "vinte" sugeriu a entrada em tal década. 

Eu que sou um admirador confesso da década de vinte (do século passado), sinto uma indisfarçável nostalgia por algo que na prática eu não vivi, pois, o meu natalício só veio a ocorrer no ano de 1960, no entanto, a minha admiração pelos anos 1920, existe na medida em que gosto da movimentação cultural ali desenvolvida nas artes em geral, incluso na música. 

É claro, a minha década preferida é a de 1960, por conta do desenvolvimento da contracultura e do Rock em sua linha de frente, mas eu nutro em alta estima a produção cultural vintista. 

Nesses termos, o que este preâmbulo deseja exatamente externar? Seria uma vã esperança que os anos vinte do século vinte e um, sejam iguais? 

É claro que não, o mundo anda para frente e não para trás, no entanto, a minha torcida é que a nova década que entrará em breve, assim que 2021 despontar no horizonte, contenha a sorte de saborear o mesmo élan dos loucos anos vinte do século passado, mas naturalmente em seus termos atuais, com novidades boas, incluso inovações, assim espero.

O novo logotipo d'Os Kurandeiros, repaginado e lançado nos primeiros dias de janeiro de 2020 

Na prática, o ano novo de 2020 começou para Kim Kehl & Os Kurandeiros, com perspectivas para uma gravação ao vivo, mas esta fora transferida para um momento mais adiante, a revelar-se em março. 

Portanto, as novidades iniciais ficaram por conta da produção de merchandising e no campo do repertório. Na questão dos novos produtos, uma nova safra com camisetas foi produzida a incluir doravante, a estampa de mais membros da banda.

As camisetas com as estampas das figuras de Carlinhos Machado e da minha persona (Luiz Domingues), produzidas em janeiro de 2020

E além das novas camisetas a contar com a estampa com as personas de Carlinhos Machado e da minha, Luiz Domingues, o lançamento de um novo logotipo estilizado para o ano novo, também foi providenciado. No campo do repertório, o Kim propôs a preparação de quatro novas canções e tratou por gravar uma demo-tape, já a conter uma boa base de arranjos seus para a guitarra em destaque e disponibilizou tal material para todos os membros poderem criar, cada um, os seus arranjos individuais. 

Com isso, abriu-se a perspectiva para uma futura gravação a ser realizada em breve, portanto, a animar à todos em relação a um novo álbum da nossa banda. Em suma: 2020 não poderia começar melhor com tal criação inédita, a lançar novas luzes. Que viesse sobre nós a loucura vintista do Charleston, devidamente adaptada ao Blues-Rock do século XXI!

Então, com algumas músicas novas fechadas, a ideia de uma demo-tape, como pré-produção para um eventual novo álbum, tornou-se plausível. Dessa forma, o Kim gravou as bases com guitarras dobradas e também solos e contra-solos, a antecipar bastante o trabalho. 

Eu fui visitar a residência de Kim, onde ele mantinha o "Mandioka Studios", em 29 de janeiro de 2020, e nessa ocasião, gravei o baixo da música: "Só Curto Covers", que depois fixou o seu nome oficial como "Bom Rock". 

Eu (Luiz Domingues) e Kim Kehl, em 29 de janeiro de 2020, nas dependências do Mandioka Studios, no bairro das Perdizes, na zona Oeste de São Paulo, com o objetivo de começarmos a gravar a minha participação na demo-tape d'Os Kurandeiros, em 2020. Click (selfie), acervo e cortesia de Kim Kehl

Canção muito próxima do estilo "Rockabilly" clássico, com alto teor cinquentista, contém uma letra satírica e que de certa forma, lembrou-me o estilo da sátira corrosiva, praticada pelo Língua de Trapo. 

E no caso d'Os Kurandeiros, além da minha própria pessoa, que sempre possuí essa seminal ligação com tal banda, por ter sido membro, houve também uma conexão do Kim Kehl com tal trabalho, ainda que bem mais indiretamente, por conta da amizade que ele nutria desde a sua adolescência com o jornalista/músico, Ayrton Mugnaini Junior, que além de ter sido membro do Língua de Trapo, também, ele (Ayrton), foi desde os primórdios, uma personalidade muito próxima da nossa banda. 

Portanto, eu sempre enxerguei tal influência humorística em tal letra, pelo fato de conhecer essa específica música, há tempos, pois ela estava incorporada ao repertório das apresentações d'Os Kurandeiros. Em suma, foi fácil gravar a minha participação com o baixo de tal canção, para compor essa música. 

Protótipos de novas estampas para camisetas a conter as imagens do tecladista, Nelson Ferraresso e do guitarrista, Phill Collins. Fevereiro de 2020

Alguns dias depois, nós tivemos a notícia de que a parte do merchandising da banda estava a preparar novidades, com a criação das artes a se exibirem as estampas com as figuras de Nelson Ferraresso e Phill Rendeiro e também novas estampas com o logotipo da banda.

Novas opções de camisetas com o logotipo mais atualizado d'Os Kurandeiros. Fevereiro de 2020

Em mais alguns dias, o companheiro, Nelson Ferraresso compareceu ao Mandioka Studios e gravou a sua participação, em 20 de fevereiro de 2020, para ser preciso. 
Nelson Ferraresso e Kim Kehl a trabalharem na gravação dos teclados para a nova Demo-Tape d'Os Kurandeiros, no Mandioka Studios, em 20 de fevereiro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Kim Kehl 

E finalmente, eu mesmo, Luiz Domingues, fechei a minha colaboração em 22 de fevereiro de 2020, ao gravar mais quatro faixas, a discriminarem-se: "Só o Terror", "Último Blues", "Sonhos & Rosquinhas" e uma vinheta sem nome definido, mas que em princípio poderia ser chamada como: "Overture".
Dia 21 de fevereiro de 2020, no estúdio Mandioka Studios. Eu (Luiz Domingues) e Kim Kehl a trabalharmos na conclusão da gravação do baixo das músicas que compuseram a demo-tape d'Os Kurandeiros em 2020. Click (selfie), acervo e cortesia de Kim Kehl

Com tal demo-tape em andamento, tivemos enfim um mapa de pré-produção concreto para pensarmos seriamente na criação de um novo álbum.

Com a demo-tape em mãos, foi uma questão de tempo para surgir um novo panorama mais ousado, logo a seguir. Eis que a ideia de gravarmos um novo álbum com tal material, ganhou um contorno maior. Não apenas por animarmo-nos pelo material disponibilizado, mas sobretudo pela perspectiva de uma oportunidade, sob o ponto de vista gerencial que adveio em questão de dias. 

Feitos os contatos necessários, eis que a viabilidade da banda entrar em estúdio tornou-se real e nesses termos, nós rapidamente marcamos ensaios para apressar essa pré-produção de uma forma bem concreta. E assim, reunimo-nos inicialmente nos dias 5 e 12 de março de 2020, no simpático "Sound City Estúdio", localizado no bairro do Sumaré, zona oeste de São Paulo e iniciamos essa preparação.

A banda perfilada para uma foto obtida em um momento após o ensaio realizado no Estúdio Sound City de São Paulo, no dia 5 de março de 2020. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A trabalhar com as canções: "Sonhos & Rosquinhas", "Bom Rock", "Último Blues", "Só o Terror" e a vinheta de abertura, eis que o material para um EP esteve configurado e a julgar pela prévia obtida com a demo-tape anteriormente gravada, de fato tivemos motivos para nutrir tal animação.

A banda perfilada para uma foto logo após a concretização do ensaio realizado no Estúdio Sound City de São Paulo, no dia 12 de março de 2020. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Obviamente que com a banda toda reunida, a tocar ao vivo, o som cresceu ainda mais e modificações pontuais foram estabelecidas a enriquecer ainda mais o trabalho.
 

Veja abaixo, um pequeno vídeo a mostrar trechos do ensaio realizado em 5 de março de 2020, no Estúdio Sound City de São Paulo. Filmagem: Lara Pap

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=5WXk3KqBBlI

Após um animado ensaio realizado no dia 12 de março, fomos então para o compromisso do dia 15, no estúdio V8, quando o objetivo foi gravarmos algumas músicas e filmarmos um vídeoclip. 

Como eu já havia participado dessa programação anteriormente por conta de ter atuado com o simpático combo de Lincoln Baraccat, "Uncle & Friends", em setembro de 2019, nesse mesmo estúdio e sob a mesma circunstância e o nosso baterista, Carlinhos Machado,  idem, ao ter participado a bordo da banda de apoio do tecladista, Lee Recorda, em outra ocasião, eis que nós dois já sabíamos que havia uma excelência nessa produção, com o capricho do técnico da casa, Denis Gomes, além do bom trabalho do film-maker, Fausto Lopes, isso sem deixar de mencionar a hospitalidade da parte de Juliana Parra, uma das proprietárias do estabelecimento, que também funcionava como um mini centro cultural e um estúdio de tatuagem. 

Bem, no ensaio de 12 de março, nós informamos aos companheiros, Nelson, Kim e Phil, sobre todas essas nuances a envolverem o evento, naturalmente. E assim, finalizamos o apronto e marcamos encontro no estúdio V8, para o domingo.

Phil Rendeiro e Kim Kehl na primeira foto e Kim Kehl na segunda foto. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8, de São Paulo, em 15 de março de 2020. Clicks, acervo e cortesia: Dalam Junior

Uma particularidade absolutamente sui generis não foi, no entanto, a primeira vez que ocorrera comigo, ou seja, uma apresentação de uma banda oficial minha em um festival coletivo ou ação similar, em que houvesse também a minha atuação com uma banda em caráter de trabalho avulso. 

Portanto, nessa mesma tarde, eu havia comprometido-me a tocar com o simpático combo de Lincoln Baraccat, fato que ocorrera em 2019, com a mesma configuração a ocorrer em uma feira realizada nas ruas da Vila Pompeia. Sobre a minha atuação com Carlinhos em favor da banda de Lincoln nesse mesmo dia, os detalhes já constam em seu capítulo em específico no tópico dos Trabalhos Avulsos. 

Eu (Luiz Domingues) e Carlinhos Machado na primeira foto. Eu (Luiz Domingues), Carlinhos Machado e Kim Kehl, na segunda foto. Nelson Ferraresso na terceira foto. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8, de São Paulo, em 15 de março de 2020. Clicks, acervo e cortesia: Dalam Junior 

Em nosso caso, a meta estabelecida em ensaio, foi gravarmos as músicas novas em que estávamos a trabalhar. Dessa forma, além da demo-tape caseira que havíamos recém gravado, teríamos mais uma gravação interessante, ao vivo e com ótima captura e mixagem proporcionada pelos técnicos da casa e foi exatamente o que ocorreu, conforme eu e Carlinhos já sabíamos e havíamos alertado aos companheiros.
Na primeira foto, eu (Luiz Domingues) e o baixista/agitador cultural, Dalam Junior. Na segunda foto: eu (Luiz Domingues), Samuel Wagner (roadie da Patrulha do Espaço e Pedra), Phil Rendeiro, Dalam Junior, Kim Kehl, Nelson Ferraresso, o guitarrista/radialista, Adilson Oliveira e Carlinhos Machado. Foto 1, Acervo e cortesia: Dalam Junior. Click: autor não anotado. Foto 2, acervo e cortesia: estúdio V8. Click: Fausto Lopes

Sobre o evento em si, foi igualmente muito gratificante, pois reunimo-nos com grandes amigos e além da nossa participação e de Uncle & Friends, houve também a emblemática apresentação de Caio Durazzo em sua performance quase em tom circense, pois a bordo da sua "Caio Durazzo One Man Band" ele tocou guitarra, bateria e cantou, tudo ao mesmo tempo e também da boa banda com teor Pop-Rock, Le Royale, com a presença de Roy Carlini, Dmitri Medeiros & Cia Ltda.

Eu (Luiz Domingues) e Nelson Ferraresso na primeira foto. A seguir, Kim Kehl em detalhe de suas mãos à guitarra com ele em performance. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8 de São Paulo, em 15 de março de 2020. Clicks, acervo e cortesia: Lincoln Baraccat

Sobre a nossa performance, apesar de só tocarmos músicas novas e não termos ensaiado muito, creio que a atuação foi bastante satisfatória, com poucas falhas, talvez tenha havido uma certa falta de sincronia nos backing vocals, mas a questão da monitoração em estúdio para tocar-se ao vivo foi sempre complicada, portanto, dou o devido desconto. 

No geral, creio que a sonoridade ficou maravilhosa pela circunstância de uma gravação ao vivo em tomada única, portanto, saímos do estúdio satisfeitos pela nossa performance e a parabenizar o técnico, Denis Gomes, que realmente trabalhou muito bem e sobretudo tal êxito apresentado, deu-se pelo conhecimento do seu equipamento e a possibilidade acústica da sua sala.

Trechos da preparação e apresentação. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8 de São Paulo. 15 de março de 2020. Filmagem: Lara Pap

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=k0rC23prqSg 

O aspecto ruim dessa ocasião, não teve nenhuma relação com o evento em si, que foi extremamente prazeroso, devo salientar. Ocorre que já há alguns dias, a imprensa noticiava que a terrível pandemia que acometera a China, desde o final de dezembro de 2019, chegara à Europa e havia causado uma devastação em países como a Itália, Espanha e França, e já a alastrar-se para Portugal, Alemanha e Inglaterra. 

Pior ainda, houvera a notificação de um caso já confirmado em São Paulo e dada a dramática proliferação incontrolável da doença, o sinal de alerta fora acionado e o governo estadual e também o municipal, já estava a movimentar-se para decretar uma quarentena severa em suas respectivas esferas. Dessa forma, já havia o alerta extraoficial para evitarem-se as aglomerações, mas a partir da semana posterior, a proibição seria oficializada. Enfim, foi de fato o último evento em que participamos antes da quarentena ter sido decretada. 

Mais flagrantes da apresentação d'Os Kurandeiros no Estúdio V8. Respectivamente em cada foto, de cima para baixo: Kim Kehl, Carlinhos Machado, Phil Rendeiro, Nelson Ferraresso e eu (Luiz Domingues). Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8, de São Paulo, em 15 de março de 2020. Click, acervo e cortesia: Fausto Lopes           

Certamente que o caráter médico/sanitário gerado por uma pandemia terrível de ordem mundial, deveria ser seguido à risca e o foi, doravante. 

Uma pena, portanto, pois atrasou bastante os planos da banda que se revelaram nessa altura, auspiciosos, visto que havíamos fechado com um outro estúdio, o Prismathias (onde graváramos em 2018, o single: "Andando na Praia"), para gravarmos o novo álbum que planejávamos e assim, a nossa planificação fora estabelecida em promovermos mais um ou dois ensaios e marcarmos as sessões. 

Não foi o que ocorreu de imediato, pois os meses de março e abril foram vivenciados sob austera clausura, com cada um de nós a permanecermos em nossas respectivas residências, a resguardar-nos. 

Paciência, foi melhor adiarmos os nossos planos de gravação do que expormo-nos a uma doença terrível que, fato concreto, marcou na história por conter um grau de letalidade em alta proporção. Em suma, foi a hora de cada Kurandeiro parar, literalmente, para cuidar de sua própria saúde.

A banda a posar para uma foto, após a gravação. Da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl, Nelson Ferraresso e Phil Rendeiro. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8, de São Paulo, em 15 de março de 2020. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Introdução/abertura Monumental. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8, de São Paulo, em 15 de março de 2020. Filmagem: Lara Pap


Eis o Link para assistir no YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=k5ojT9iUpKg

"Só o Terror". Kim Kehl & Os Kurandeiros no Estúdio V8, de São Paulo, em 15 de março de 2020. Filmagem: Lara Pap

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=H4RXFA-4MXs

Então a pandemia ficou realmente assustadora e respeitar a quarentena, tornou-se a única medida cabível para lidar com a proliferação vertiginosa da doença, ou seja, em uma época onde a ciência ainda estudava a mutação do coronavírus, Covid-19, portanto ainda longe de descobrir um remédio eficaz para eliminá-lo e tampouco uma vacina para preveni-lo, não contrair a doença foi a medida mais segura. 

Com toda a vida social paralisada e sem perspectiva de retomada dos shows ao vivo e nem mesmo chance para consolidar o início das gravações do novo disco, que já estavam acertadas para o final de março, eis que tivemos um bom alento para comemorar: o clip que fizéramos ao vivo, no Estúdio V8, ao início de março.         

"Último Blues" (Kim Kehl) - Kim Kehl & Os Kurandeiros ao vivo no estúdio V8 de São Paulo, em 15 de março de 2020. Filmagem: Captura e edição final: Fausto Lopes. Captura: Vanderlei Bávaro, João Bueno e Dalam Junior. Áudio: captura e mixagem: Denis Gomes

Eis o Link para assistir no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=sAI3m_3KKE4

Versão do Facebook: https://www.facebook.com/estudiov8/videos/167727777888047/     

Com uma captura de áudio e vídeo, excelente, ficamos contentes em contarmos com esse material, ainda mais com uma música nova em voga. E tal peça ajudou-nos bastante a manter a banda em evidência no mundo virtual, enquanto a pandemia não deu sinal de arrefecimento ou mesmo perspectivas de médio prazo para que sinalizasse com uma retomada sustentável da vida social normal, ou seja, foram tempos bem difíceis para todos.

A pandemia decorrente do coronavírus, obrigou-nos a observar a reclusão, mas em tempos de Internet, a banda não deixou de gerar novidades. 

Nesse ínterim, lembro-me bem, o nosso guitarrista, Kim Kehl, fez diversas apresentações ao vivo, via Redes Sociais, diretamente de seu QG, o estúdio "Mandioka", que todo arrumado, como se fosse um mini Café Teatro, ficou charmoso, como ambientação. 

E além disso, matérias em sites e blogs, assim como a ocorrência de execuções de nossas músicas em webradios, movimentaram as atenções em nosso favor, para gerar muitos comentários, através das Redes Sociais.

Em 7 de maio de 2020, o ativista cultural/blogger/radialista e músico, Cesar Gavin, lançou o trailer/teaser da minha entrevista para o seu programa: Vitrola Verde. Em sete episódios. eu falei naturalmente sobre a minha carreira inteira e no último episódio, justamente o de número sete, o assunto foi a minha história construída com Os Kurandeiros, desde 2011 e também houve um espaço para eu falar sobre a Magnólia Blues Band, banda paralela e derivada dos próprios Kurandeiros, que a despeito de ter criado a sua própria história, teve tudo a ver com a nossa banda.


Eis o link para assistir o "teaser" das minhas entrevistas ao programa "Vitrola Verde", no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=b7HzOBs6gIc

Na semana entre 11 e 16 de maio de 2020, um depoimento pré-gravado de minha parte, Luiz Domingues, foi veiculado em sinal de apoio à emissora, webradio A.S.Brazil, sob um convite do poeta, escritor, radialista e ativista cultural, Luiz "Barata" Cichetto e quatro músicas d'Os Kurandeiros tocaram durante a programação: "Seja Feliz", 'Último Blues", "Faz Frio" e "Andando na Praia".

Em 17 de maio de 2020, eu fui convidado pelo mesmo Luiz "Barata" Cichetto, para elaborar uma lista com vinte músicas de artistas brasileiros diversos e nesse bojo, a incluir duas músicas d'Os Kurandeiros: "Seja Feliz" e "Andando na Praia", especialmente para o programa: "Música dos Músicos", veiculado pela webradio A.S.Brazil.

Eis o link do podcasting, para escutar o programa: 

https://www.asbrazil.com/podcasts/?fbclid=IwAR3RhfAluPrqjAO384tAE01zVPhHfhI62vTCssnaV0mBFHrt4Z3cEyp1hd0

Uma execução foi programada para a música: "Hey, Gringo", na emissora Logo FM, de Manaus-AM, em 23 de maio de 2020.

Eis o Link para ouvir tal participação no podcasting da emissora: 

https://soundcloud.com/marco-ant-nio-ribeiro-2/mib_230520_parte3?fbclid=IwAR2Zked2_Daoam2WfhMX6BabQfEZEGzMLRKcJrIhDZt8jx4xSat2dJF9mKc
 
Após o lançamento oficial do nosso clip filmado pelo estúdio, V8, em março último, eis que a repercussão muito boa que ele obteve, gerou a indicação para figurar em uma seção denominada: "Drops" do portal "Dica  do Rock", em 28 de maio de 2020.

Eis o link para acessar a matéria:

Uma outra grande novidade no campo do marketing, foi em torno do protótipo que eu recebi de uma capa (ou fronha, como queira), para travesseiro, com a capa e contracapa do CD "Seja Feliz", como estampa. Tal experimento foi projetado pela artista plástica, Amanda Fuccia, que também trouxe-me a a máscara anti-pandemia com o logotipo d'Os Kurandeiros, no mesmo dia. Aprovado, tornou-se uma opção para a venda aos fãs, como um artefato de segurança a ser usado em meio à quarentena.

Em 25 de maio de 2020, o sexto episódio de minha longa entrevista ao programa Vitrola Verde foi lançado e através dele, eu falei sobre a minha atuação com a banda: "Nu Descendo a Escada", que acompanhava o compositor/cantor e escritor/poeta, Ciro Pessoa e logicamente que esse trabalho também pode ser considerado um derivado direto da minha atuação com Os Kurandeiros, juntamente com Kim Kehl e Carlinhos Machado, como partícipes dessa formação.
Eis o link para assistir no YouTube:
http://www.youtube.comwatch?v=zd6FaA9bXew

Em 26 de maio de 2020, eu fui entrevistado no programa "Hipomania", do comunicador, Ibryss, através da Mutante Rádio. 

Nessa ocasião, falei sobre a minha carreira inteira, a incluir Os Kurandeiros e logicamente a ressaltar o momento atual da nossa banda, incluso com a perspectiva de um novo disco. E também interagi com as perguntas formuladas por diversos internautas. 

Alguns dias depois, já em 6 de junho, o podcasting dessa entrevista foi anunciado para ser escutado a qualquer momento. 

Eis o link para escutar essa entrevista na íntegra:

https://www.mixcloud.com/mutant…/hipomania-27-mutante-radio/
Após, o lançamento oficial do nosso clip filmado pelo estúdio V8, em março último, eis que a repercussão muito boa que ele obteve, gerou a indicação para figurar em uma seção denominada: "Drops", do portal "Dica do Rock, em 28 de maio de 2020.

Eis o link para acessar a matéria:
https://dicadorock.wordpress.com/2020/05/28/drops28dica-do-rock-28-05-20/

E para fechar o mês de maio em pleno transcorrer de quarentena, com mais uma notícia positiva, uma música d'Os Kurandeiros ("Hey, Mãe"), foi programada para fazer parte do programa: "Só Brasuca", da webradio Crazy Rock, a ser exibida entre 30 de maio e 6 de junho de 2020. 

Ou seja, estávamos a nos resguardar da pandemia, mas a banda seguiu a gerar novidades nesses dias tão difíceis que vivemos em pleno isolamento sanitário.

Continua...

quarta-feira, 24 de março de 2021

A Chave do Sol - Capítulo 21 - A Mais Rara Joia do Tesouro Resgatado - Por Luiz Domingues

Eis que o quinto bootleg de 2020, ficou pronto e este eu enfatizo ser, com muito orgulho um dos mais preciosos desse projeto, por conta do material raro, nele contido. E neste caso, as atrações são múltiplas. Por exemplo, este álbum, denominado: "Teatro Lira Paulistana 1985", traz como matéria prima, o show completo que marcou a estreia do vocalista, Fran Alves, em nossa banda, no dia 31 de janeiro de 1985, portanto, que maravilha poder resgatar um material tão raro. 

Para quem leu a minha autobiografia desde o começo da minha história com A Chave do Sol, já sabe que quando eu abordei esse show, dentro da cronologia do texto, também lastimei que a fita K7 que serviu para gravá-lo, houvesse sido perdida, pois alguns anos depois do show ocorrido em 1985, por volta de 1989, eu a emprestara de boa fé para um rapaz que houvera trabalhado como roadie da nossa banda (em parcas ocasiões entre 1984 e 1985), e este sujeito simplesmente desapareceu e jamais devolveu-me tal artefato. 

Lastimei demais tal conduta do rapaz, mas sobretudo a perda de um registro tão raro. De fato, em minha percepção, fora o único registro ao vivo do Fran Alves em nossa formação e claro que essa frustração se tornou enorme para a nossa banda e minha em particular, como arquivista do material do nosso grupo, portanto, responsável pela sua integridade.

Por outro lado, eu guardava comigo uma fita de rolo, que eu sabia que continha a segunda demo-tape que graváramos em dezembro de 1984, e sempre quis digitalizar tal material, naturalmente e a alimentar a esperança de quem sabe um dia, pudesse lançar tal material em disco com esse registro. 

No entanto, com o passar dos anos, se tornou óbvio que a cada dia ficaria mais difícil achar um estúdio que ainda contivesse o maquinário analógico para que eu pudesse digitalizar tal fita. Consultei diversos amigos, tive indicações de alguns poucos estúdios que ainda mantinham tais máquinas em suas dependências em São Paulo e no Rio de Janeiro e até um dos Estados Unidos, que seria por intermédio do Beto Cruz, que lá morava desde 1991 e que todos sabem, foi um membro da nossa banda entre 1985 e 1987.

Mas foi apenas no decorrer do ano de 2018, que através dos meus amigos, Ricardo e Marcello Schevano, proprietários do estúdio "Orra Meu" de São Paulo, um contato foi feito com um técnico de áudio & gravação veterano no ramo e que mantinha uma máquina analógica em sua residência e melhor ainda, poderia digitalizar o meu material. 

Quem fez o contato e levou efetivamente a fita para esse profissional, foi o prestativo roadie, Diogo Barreto, que nessa época trabalhava como assistente no Estúdio Orra Meu. Mediante uma negociação rápida, fechamos por um preço que eu considerei muito abaixo da minha expectativa e isso já animou-me bastante. 

Demorou em demasia, é bem verdade, mas eis que um dia de 2019, o Diogo ligou-me e checou se eu poderia dirigir-me imediatamente ao Estúdio Orra Meu, pois o senhor em questão passaria por lá para entregar-me o CD-R com o resultado da minha fita digitalizada.

Ora, que notícia boa, após trinta e quatro anos, eu mal pude esperar para ouvir a demo-tape de 1984, e da qual eu mantinha a pálida lembrança de conter músicas como: "Crisis (Maya"), "Átila", "Intenções" e "Reflexões Desconexas", além de possivelmente, pois eu não me lembrava com propriedade, as canções inéditas: "Vestido Branco" e "Superstar". 

Cheguei ao Estúdio Orra Meu e o senhor em questão atrasou bastante para aparecer, embora houvesse avisado sobre estar com problemas com o seu automóvel. Isso só potencializou a minha ansiedade, certamente. Enquanto esperava pelo rapaz chegar, eu não parava de pensar nas boas surpresas que eu teria na audição que faríamos ali mesmo em uma sala em anexo do complexo.

Bem, o rapaz chegou, se tratou de um senhor já no avançar da terceira idade, certamente, mas completamente jovial, e a conversa foi agradabilíssima no sentido de que a sua bagagem como técnico de gravação e também de shows ao vivo, remontava aos anos sessenta e eu fiquei bastante impressionado com o seu currículo, quando ele enumerou-me os discos que havia gravado desde então, nos melhores estúdios de São Paulo e Rio de Janeiro e acredite, leitor, a contabilizar obras clássicas de grandes artistas. Um exemplo, a obra seminal de Tim Maia, o LP "Racional", em três volumes, muito cultuado entre os seus fãs, eu incluso. 

Esse senhor era conhecido por um apelido sui generis: "Pato" e a se mostrar muito simpático e bem comunicativo, ele contou-me mil histórias sobre a sua carreira, todas fascinantes, incluso a sua produção mais atual ao gravar orquestras sinfônicas de alto quilate no âmbito nacional e ele revelou-me boas histórias a envolver maestros famosos do mundo erudito brasileiro, algumas bem escabrosas por sinal.

Bem, a conversa foi agradabilíssima, mas eu estava completamente ansioso para ouvir o material e então, Ricardo Schevano nos conduziu a uma sala de audição e ali, enquanto o senhor "Pato" ainda falava de uma maneira empolgada das suas reminiscências, eu notei que o som parecia ser ao vivo e as canções, algumas bem conhecidas, ou seja, aonde estava a Demo-Tape de 1984? 

Foi aí que eu recordei-me enfim de um fato que ficara obscurecido em minha mente, por quase quarenta anos: de forma fortuita, nós usamos a mesma fita com a qual graváramos a Demo-Tape de 1984, para gravar um show por cima, pois na ocasião, nós julgáramos que a Demo-Tape defasara, visto que decidíramos mudar completamente a orientação do repertório assim que o vocalista, Fran Alves, anunciou que aceitara o nosso convite para ingressar em nossa banda. 

Na falta de recursos para comprar uma reles fita virgem, cometemos o sacrilégio de usarmos a fita usada anteriormente para registrar a Demo-Tape. Ora, nós jamais deveríamos termos feito isso, mesmo por que, nós também gravamos o show de estreia do Fran mediante uma fita K7.

O lado bom dessa sandice, foi que ao perder a fita K7 por um ato de imprudência de minha parte, ao emprestar este artefato para um rapaz irresponsável, a conter um material que era valioso ao extremo, eis que eu fui salvo por um ato improvável do destino, pois o show de 1985, se materializou ali na minha frente, ao fazer a audição, em pleno ano de 2019, ou seja, que surpresa redentora!

Com uma qualidade de áudio incrível, visto que foi gravado com uma máquina Ampex, espetada diretamente na mesa de PA pelo técnico do teatro Lira Paulistana, o ótimo, Canrobert Marques, eis que o show quase completo estava ali preservado e com duas surpresas a mais: duas músicas que sobraram da Demo-Tape de 1984, uma com um ligeiro corte no seu início e outra, na íntegra, ou seja, eu poderia incorporar tais faixas como bônus track no disco que pretendi produzir com a Demo-Tape anterior, de 1983.

Muito bem, esse é o preâmbulo da história desse achado arqueológico para a nossa banda. A seguir, eu falarei sobre a produção do disco bootleg, em si.

Sobre a concepção do álbum: "Teatro Lira Paulistana 1985", em si, a ordem das músicas seguiu praticamente o que apresentamos no show como set list, mas algumas pequenas adaptações tiveram que ser feitas. Por exemplo, por uma questão de falhas ocorridas na fita de rolo original, há cortes de trechos em algumas músicas, com o seu início ou final suprimidos, por uma questão de falta de traquejo de quem operou ao tentar estabelecer pausas para economizar tempo e assim gravar o máximo de canções, mas infelizmente com tal prática tão aleatória, quem operou os botões de "play e rec" da máquina, simplesmente cometeu os seus enganos e assim, a perder trechos. 

Não critico de forma alguma, e pelo contrário, louvo a boa intenção de quem se propôs a operar a máquina e assim dar o seu melhor. Tenho quase a certeza de que foi o Carlos Muniz Ventura, o popular, "Carlão", músico e fotógrafo, nosso grande amigo e que era o proprietário da máquina Ampex que captou o áudio desse espetáculo.

Sobre o repertório, esse se mostra com a banda em grande forma, muito bem ensaiada e a executar uma música cerebral sob forte influência do Jazz-Rock e do Rock Progressivo da década de setenta. O fato de ter sido a estreia do Fran, mas ele não ter cantado todas as músicas e por conta disso, ter havido uma forte incidência de longos temas instrumentais, deu-se pelo motivo de que estávamos a reformular o repertório da banda de uma forma radical e ainda compúnhamos músicas novas que não se mostraram em grande número para ele poder cantar em seu show de estreia. Revela-se como algo curioso, portanto, mas na realidade foi uma necessidade premente da ocasião.

Na prática, ele só cantou: "Intenções", "Luz" e Anjo Rebelde" do repertório vocalizado anterior e "Segredos e "Ufos" como canções novas que haviam sido compostas e arranjadas há bem pouco tempo na ocasião. Então, "Reflexões Desconexas" foi cantada pelo Rubens e as demais, foram as instrumentais: "A Dança das Sombras", "Crisys (Maya)", "No Reino do Absurdo" (com direito à balada "Dama da Noite" inserida no meio do solo do Rubens e esta, a se revelar uma música com letra e no caso, vocalizada por ele mesmo), "18 Horas" e "Átila".

Sobre as canções, eis uma análise faixa a faixa de minha parte:

1) "A Dança das Sombras" - Esta faixa veio cortada na fita, portanto, já se inicia na parte mais acelerada, com o seu início todo cheio de balanço a la Soul Music, suprimido, infelizmente. A despeito dessa falha técnica, a energia é enorme e o andamento está bem acima do normal, basta o leitor/ouvinte comparar com a versão contida no disco Bootleg "Demo-Tape" 1983, também disponível como "promo" no YouTube. 

Os timbres de baixo e guitarra estão bem encorpados e escutam-se todas as peças da bateria, inclusive as sutilezas, como as campanas dos pratos, aro e esteira da caixa. Nas partes mais empolgantes, nós desafiamos as leis da divisão rítmica algumas vezes, mas não foi algo aleatório, mas sim calculado, portanto, parece que vamos cruzar a qualquer instante, no entanto, foi uma intenção proposital do arranjo. O final dessa canção se emendava a um etéreo clima com acordes soltos, para se dar o início de "Anjo Rebelde" no decorrer do show, mas eu e Kim decidimos estabelecer um "fade out" e separar as faixas para se manter a prática discográfica da separação das faixas. 

2) "Anjo Rebelde" - Nós já tocávamos essa música desde junho de 1984, nos shows, mas essa primeira versão com a voz do Fran em seu comando, tornou-se a partir desse lançamento, doravante um marco, pois foi dessa forma que ela veio a ser gravada meses depois de forma oficial no EP que gravamos em 1985. A música soa com muita energia, já a demonstrar que mediante a presença do Fran Alves a comandar a vocalização, atingíramos um grau de dramaticidade bem grande, certamente.

3) "Intenções" - Essa música soa de uma forma excelente, com a banda bem afiada. A voz do Fran engrandeceu a música, embora a sua melodia, um tanto quanto monocórdica, não lhe tenha dado muita chance para explorar a sua potência vocal, que era enorme. 

Para lhe dar mais protagonismo, nós suprimos o contraponto no refrão, que fazíamos mediante o arranjo original e eu acho que foi um erro, pois em versões anteriores tal recurso melódico se mostrara bem interessante (ouça as versões dessa canção nos bootlegs: "Teatro Piratininga/SP 1983" e "Ao Vivo em Limeira/SP 1983"). 

Na parte final, como se não bastassem as inúmeras convenções que a música possui, nós criamos mais duas para incrementar o final da canção e ficaram muito boas. E para dar um efeito especial, o Kim Kehl imprimiu um delay com efeito inverso e eu acho que ofertou um acabamento inusitado para a versão do disco. 

Essa canção soa como um Hard-Rock que se mistura ao Prog-Rock, mais ou menos na linha de bandas como o "Armaggedon", "Captain Beyond" e talvez até o "Flash", mas a tendência natural para as pessoas mais novas, será atribuir à influência do "Rush", que nós nunca tivemos, mas eu entendo a percepção de quem enxerga dessa forma. 

4) "Reflexões Desconexas" - Essa peça complexa é outra que nunca gravamos (infelizmente), mas que soa muito bem, com um grau de complexidade bem na linha do Jazz-Rock setentista. 

No arranjo original, havia um vocalise onomatopaico no refrão, com sentido de contraponto, mas nós o retiramos, pois consideramos que apesar de ser interessante, melodicamente, atrapalhava a inteligibilidade das palavras cantadas pela voz principal feita pelo Rubens.

Nesta específica versão, há um solo de baixo, a estabelecer a atmosfera daqueles momentos ultra setentistas que propúnhamos, ao deixar cada um de nós sozinho no palco em um momento diferente do show para dar esse recado individual e mediante deixas estratégicas, voltarmos ao cerne do tema com a banda novamente reunida para encerrar em grande estilo ao provocar a comoção no público e conforme tal dispositivo, neste caso soou muito bem para esta versão apresentada no disco. 

Apesar de nessa época eu usar o estilo "pizzicato", mesmo assim o som do meu Fender Jazz Bass soa bonito, com um grave encorpado, mediante o uso de um bom e velho amplificador "Duovox 150" que mesmo acoplado a uma caixa "handmade", soa muito bem. 

5) "Crisis" ("Maya") - Esta versão é muito boa dessa peça que sempre foi um número muito requisitado em nossos shows desde 1983. Empolgante também, é a reação da plateia ao urrar de euforia quando da queda brusca de dinâmica ao final da canção, ao fazermos os acordes finais.

6) "No Reino do Absurdo" - Que surpresa maravilhosa ao termos obtido essa versão ao vivo de uma música que tocamos bastante em 1984, e que só executamos neste show por conta do Fran ainda não contar com muitas músicas para cantar. 

Peça complexa, mais uma vez influenciada pelo Jazz-Rock e Prog-Rock setentistas, tem um sem número de convenções, partes com mudanças bruscas de andamento e dinâmica. Soa bastante progressiva ao lembrar-me o som do "Wishbone Ash", principalmente em certos trechos mais amenos. E em outros mais nervosos, lembra-me o trabalho de "Frank Zappa and The Mothers of Invention" e "Captain Beefheart" pelo inusitado das suas formulações mais complexas e próximas do Jazz ou mais especificamente do Free-Jazz, mais experimental.

Mais ou menos na minutagem 4:30, o Rubens teve o seu momento solo, ao ficar isolado no palco, e poder evocar Jimi Hendrix, ou seja, a usar e abusar de efeitos (muito bem, por sinal), e inserir uma balada de sua autoria que nunca gravamos, chamada: "Dama da Noite", na mesma performance. Ele encerra esse momento ameno da sua interpretação da balada, volta para a carga mais virulenta do solo e reintroduz o tema original da canção em grande estilo.  

7) "18 Horas" - Versão muito boa, com muita energia. O primeiro solo da música é meu, porém, pelo fato de eu ter feito um longo solo anteriormente (em "Reflexões Desconexas"), eu fiz uma versão reduzida desta vez. O solo do Zé Luiz, sim, foi feito dentro do espírito de sua participação sozinho no palco, portanto com um solo mais alongado. Os urros da plateia ao final, demonstram bem a energia que emanamos.

8) "Atila" - Infelizmente essa versão veio mutilada na fita e a solução foi efetuar um "fade out" para encerrar assim que a música é cortada bruscamente. Portanto, é só uma amostra com 1.53' de duração, e mal chega aos acordes iniciais do riff principal.

9) "Luz" - Essa música também entra cortada, já da metade para o seu final, mas é interessante ouvir a voz do Fran Alves a interpretá-la, algo certamente raro nos registros de áudio da nossa banda. Nota-se um improviso criado pelo Fran Alves ao final, ao emitir um vocalise inusitado.

10) "Segredos" - Como já trabalhávamos com essa canção um pouco antes do Fran Alves ingressar na banda, ela soa nesta versão ao vivo praticamente como seria gravada oficialmente alguns meses depois e com o Fran a interpretá-la com muito vigor.

11) "Ufos" - Essa música ainda estava em fase de construção de sua melodia na ocasião. A parte instrumental soa bem, pois o arranjo já estava bem definido, mas o Fran ainda estava a burilar a sua melodia. Portanto, nesta versão, nota-se um pouco de insegurança de sua parte para interpretar e algumas frases que não soam melodicamente tão bem, pois ele ainda experimentava alguns desenhos rítmicos na elaboração da sua linha vocal. Ela na verdade foi tocada como "bis", portanto, foi uma opção usada por conta do clamor do público.

12) "Anjo Rebelde" - Outra versão que fizemos como "bis", pois o público queria mais e nós não tínhamos mais músicas para apresentar, daí a repetição. Nesta versão, no entanto, demos margem a um improviso bem setentista, não previsto no arranjo original da música e que eu reputo ter ficado muito bom.

Sobre a capa, contracapa e label, o Kim Kehl usou o mesmo critério para a elaboração dos álbuns anteriores, ou seja, a recortar algumas fotos que lhe enviei, exatamente desse mesmo show e ainda bem que eu as possuía em meu arquivo. Portanto, ambas as fotos, da capa e contracapa, foram montagens, visto que nenhuma original nos enquadra por completo, mediante a presença dos quatro componentes em visão panorâmica. Na capa, predomina o tom preto com detalhes em marrom e roxo e na contracapa, o marrom predomina, com a foto da banda a mostrar detalhes de tons diferentes, provenientes da iluminação do teatro.

Na operação do áudio original de 1985, a boa equalização ouvida por quem nos assistiu nas arquibancadas do Teatro Lira Paulistana veio da parte do ótimo, Canrobert Marques. A operação do gravador Ampex ficou a cargo de Carlos Muniz Ventura (provavelmente, pois não tenho essa lembrança confirmada). Fotos de Rodolpho Tedeschi ("Barba"). A digitação de 2018/2019, ficou por conta do técnico: "Pato". Apoio de Diogo Barreto e Ricardo Schevano, pelo estúdio Orra Meu. Apoio para a prensagem: Crossover Records. Na produção de áudio e Lay-out de capa em 2020: Kim Kehl. Supervisão geral: Luiz Domingues.

Bem, ainda tivemos mais um lançamento para animar os fãs d'A Chave do Sol em 2020, e eu falo a respeito dessa novidade a mais, no próximo capítulo. 

Eis que ao final de dezembro de 2020, eu fui avisado que o último lançamento do projeto dos Bootlegs d'A Chave do Sol, estava finalmente pronto, a se constituir do CD "Dose Dupla/1986". Que bom, o sexteto de bootlegs anunciados estava disponível e pronto para chegar às mãos dos fãs do nosso trabalho.

Neste caso, esse disco trouxe a junção pura e simples das duas demo-tapes que nós gravamos no decorrer de 1986. Uma em abril e a outra, em outubro. No bojo do repertório, há a presença de quatro canções que foram gravadas para as duas versões e claro que observam-se sutis diferenças na concepção dos arranjos e interpretação entre as duas versões. Em alguns casos, inclusive, as diferenças vão além das sutilezas, visto que ao analisarmos a demo produzida em abril, nós promovemos mudanças significativas para as respectivas versões gravadas para a demo de outubro, no sentido de apararmos arestas na ocasião.

E sim, há também a diferença de padrão de áudio entre uma demo e outra, e por incrível que pareça, a segunda, que foi feita em um estúdio muito superior, com um técnico solícito e com tempo a vontade para trabalharmos, ficou aquém da primeira, concebida em um estúdio bem mais simples e com a extrema parcimônia financeira a se refletir em pouquíssimas horas para se trabalhar.

Como eu já concebi uma detalhada análise técnica e estética sobre as canções contidas nas duas demo-tapes ao longo do texto autobiográfico, a ser lido ou relido pelo leitor em capítulos anteriores sobre a minha história com A Chave do Sol, eu não repetirei aqui tais considerações. Vou acrescentar apenas alguns comentários pontuais, e claro, com o viés deste disco bootleg, sob os parâmetros de seu lançamento em 2020.  

Bem, cabe antes disso, comentar sobre a capa. Tal trabalho, seguiu o padrão criado pelo meu amigo, Kim Kehl, que foi o responsável pela concepção artística e lay-out da arte de capa, contracapa e label do disco. 

A foto usada para ilustrar a capa, foi fruto da primeira sessão de fotos que realizamos, assim que o vocalista, Beto Cruz, ingressou em nossa banda, em outubro de 1985. O padrão de título e logotipos, seguiu o dos álbuns bootlegs anteriormente lançados em 2020, incluso com a chamativa tarja a deixar claro se tratar de um "bootleg", substituída pela palavra: "pirata" como é mais popularmente conhecido um disco dessas características no imaginário do colecionador brasileiro.

Já na contracapa, há uma outra foto da mesma sessão que foi utilizada, para seguir o mesmo conceito. O título do álbum faz referência ao fato dele conter duas demo-tapes, no caso, as de 1986, que gravamos.

Como variante em relação aos discos anteriores, o Kim utilizou como cores básicas de fundo, matizes de verde e cinza escuro (grafite) e no texto, apresenta uma ficha técnica super sucinta, dada a falta de espaço mais significativo para se contar com um texto mais robusto, como eu gostaria, mas claro que eu aceitei o fato da limitação com resignação.

Sobre o label, trata-se do mesmo padrão, com a cor verde predominante, logotipos da banda, título e o logotipo da Crossover Records que deu o apoio artesanal à produção.

Sobre as canções, eis os meus comentários pontuais, a seguir.

1) Saudade - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Esta versão não contém o rico desenho construído através de um duo de guitarras, arranjo criado para segunda versão, mas em compensação, tem muito mais ganho de áudio e brilho. O som do baixo impressiona pelo timbre.

2) Sun City - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Nesta versão há um excesso de repetições do refrão, fator contraproducente que corrigimos para a versão da segunda demo e que prevaleceu para a gravação do disco oficial, "The Key", a posteriori, em 1987.

3) O Cometa

Gosto muito dessa canção e lastimo que não a tenhamos gravado oficialmente no álbum, "The Key". Há uma sutil diferenciação de andamento entre as partes, o que prejudicou um pouco o balanço do refrão. Do jeito que ficou, mais rápido, indevidamente, deixou o refrão duro, sem atrativo.

4) Solange - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Muito boa versão, inclusive a se ressaltar o solo bem melódico feito pelo Beto Cruz, bem desenhado e obviamente todo planejado, previamente.

5) O Que Será de Todas as Crianças? - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Versão boa, embora o andamento acelerado em demasia tenha sido uma má escolha de nossa parte, sem dúvida.

6) Forças do Bem

Bem, essa música não deveria ter sido gravada, já falei sobre isso anteriormente, pela obviedade de ser uma peça anti-comercial ao extremo. Mas ela tem alguns atrativos, principalmente em algumas resoluções do seu riff secundário e na concepção do arranjo do solo e a sua inerente base.

7) Saudade - Versão Demo-Tape de outubro de 1986

Aqui, o brilhantismo do arranjo em torno do duo de guitarras logo na introdução da canção (e que se repete ao seu término), foi um nítido sinal de enriquecimento que acrescentamos. Lastimo, no entanto, que o áudio-master dessa gravação esteja inferior ao da demo-tape anterior e mesmo que curiosamente tenha sido gravado em um estúdio melhor e com tempo a vontade para tal efetuarmos produção.

8) Sun City - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Bem, esta versão eliminou o excesso de repetições do refrão, observado na versão anterior e demarcou como a gravaríamos oficialmente no LP The Key, em 1987.

9) Trago Você em Meu Coração

Boa canção Hard-Rock, com alto teor Pop. Talvez a sua melodia pudesse ter sido melhor burilada para se evitar certos excessos e dessa forma ficasse mais coadunada com a sua intenção radiofônica.

10) O Que Será de Todas as Crianças? - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Esta versão é praticamente igual à da demo-tape anterior. Por que não gravamos essa canção que causava tanta comoção em nossos shows, no período, 1986/1987? Boa pergunta que eu não sei mesmo justificar à luz do tempo passado.  

11) Desilusões

Trata-se de uma balada Hard-Rock, com ótimo potencial Pop. Ficou fora do disco The Key, mas esta versão da demo-tape chegou a tocar em emissoras de rádio em 1987.

12) Solange - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Praticamente igual à versão ouvida na demo-tape anterior, de abril.

CD Bootleg Dose Dupla/1986 d'A Chave do Sol. Faixas 1 a 6 gravadas no Nosso Estúdio em abril de 1986. Faixas 7 a 12 gravadas no Estúdio V em outubro de 1986 com operação de áudio de Clóvis Roberto da Silva. Preparação de áudio, mixagem, capa e lay-out em 2020: Kim Kehl. Apoio fonográfico: Crossover Records. Supervisão geral: Luiz Domingues.

Muito bem, ao final de 2020, a pandemia mundial intensificou-se com a crueldade de uma dita "segunda onda" em muitos países e no Brasil, creio que a primeira jamais foi controlada, portanto, a perspectiva para a concretização daquele show-reunião poder ocorrer logo no início de 2021, para compensar a postergação do que deveria ter ocorrido em julho de 2020, tornou-se bastante improvável.

No entanto, o gradual lançamento dos bootlegs, já a partir de outubro de 2020, suscitou uma série de manifestações da parte de antigos fãs da nossa banda, além de jornalistas e dessa forma, independente desse show realmente se concretizar, abriu caminho para a construção de mais acontecimentos e assim, eu já tenho mais histórias para narrar, certamente.

Continua...