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domingo, 2 de janeiro de 2022

Boca do Céu - Capítulo 10 - O Avançar do Resgate - Por Luiz Domingues

Após o ensaio bem desfalcado que provemos em dezembro de 2020, somente com a participação do Osvaldo Vicino e da minha parte, Luiz Domingues, nós observamos um longo período de hiato sem atividades marcadas, exatamente por conta da pandemia que se intensificara ainda mais nos primeiros meses do ano. No entanto foi por volta de junho de 2021, que devido à perspectiva ofertada pela nossa faixa etária, todos nós já havíamos enfim sido vacinados ao menos com a primeira dose da vacina contra a Covid-19, portanto, resolvemos combinar uma retomada dos trabalhos, desde que a observarmos todos os protocolos, seguramente.

Enquanto especulávamos sobre em qual estúdio marcaríamos tal ensaio, eu tive uma ideia, haja vista que os três membros que participariam dessa etapa inicial de ensaios preliminares, Osvaldo, Wilton e eu, Luiz, morávamos em bairros completamente distantes uns dos outros (Wilton em outra cidade, Guarulhos e o Laert a viver na cidade de São Vicente-SP, mas este só participaria de uma etapa mais avançada, com um grupo de músicas minimamente estruturadas para que ele pudesse interagir e opinar.

Por conta desta fase inicial, a ideia seria usarmos os pequenos trechos de canções que nós tínhamos guardados em mente e lhes dar um direcionamento para que pudessem se tornar músicas de fato.

Osvaldo Vicino e Wilton Rentero nas guitarras, com a minha presença (Luiz Domingues), encoberto. Ensaio do Boca do Céu em 23 de junho de 2021 no estúdio "Armazém" no bairro do Tatuapé em São Paulo. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

A minha ideia foi então para minimizarmos a distância com um rodízio, em que a cada ensaio, promoveríamos o encontro perto da residência de um de nós três músicos das cordas. Pois então eu lancei a proposta no grupo de "WhatsApp" da banda e todos gostaram dessa solução mais amena. 

Para o primeiro ensaio de 2021, eu pesquisei um estúdio no bairro do Tatuapé, a facilitar a vida do Wilton que morava no município de Guarulhos-SP, portanto próximo de alguns bairros da zona leste de São Paulo. Nem tão perto assim, mas seguramente mais próximo para ele, Wilton que aceitou e o Osvaldo que estava a morar no Jardim Bonfiglioli, na região sudoeste da cidade, haveria de sofrer desta vez, mas também aceitou e assim marcamos o ensaio.

Eu (Luiz Domingues), mascarado na frente e Wilton Rentero ao fundo. Ensaio do Boca do Céu em 23 de junho de 2021 no estúdio "Armazém" no bairro do Tatuapé em São Paulo. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Pesquisei via Google e descobri que haviam muitas salas de ensaio disponíveis no bairro e eu fiquei em dúvida entre duas, bem próximas da estação Tatuapé do metrô e culminei em fechar com um estúdio chamado: "Armazém", bem perto da Biblioteca Cassiano Ricardo, na avenida Celso Garcia, ou seja, próximo de onde eu morei em quatro endereços diferentes naquele bairro, em passagens distintas dos anos 1960 a 1980.

Ao final do trabalho, a confraternização final. Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, eu (Luiz Domingues) e Wilton Rentero. Ensaio do Boca do Céu em 23 de junho de 2021 no estúdio "Armazém" no bairro do Tatuapé em São Paulo. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Foi inevitável, é claro, pois eis que muitas lembranças sobre a própria trajetória do Boca do Céu, que teve aquele quadrante do bairro como um cenário muito forte da sua história, advieram e assim, eu fiquei muito feliz por saber que os companheiros tiveram a mesma impressão, quando me relataram a mesma sensação que tiveram ao visitarem o bairro naquela tarde.

Bem, o trabalho foi em torno da restauração de três músicas do nosso repertório de 1976/1977: "Serena", "O Mundo de Hoje" e "Mina de Escola" e ainda houve tempo para o Wilton nos mostrar uma ideia nova de sua parte, a abrir a possibilidade de se criarem músicas de uma safra 2021, ou seja, que perspectiva interessante para que a banda pudesse resgatar as suas velhas canções setentistas e ao mesmo tempo, vislumbrar uma produção a apontar para o presente, século XXI em curso.

Wilton Rentero, eu (Luiz Domingues) e Osvaldo Vicino. Ensaio do Boca do Céu em 23 de junho de 2021 no estúdio "Armazém" no bairro do Tatuapé em São Paulo. Click (selfie), acervo e cortesia: Osvaldo Vicino

Bem, ficamos todos felizes com o primeiro trabalho preliminar e já deixamos determinado que o próximo encontro dar-se-ia em alguma sala de estúdio localizada nos bairros do Jardim Bonfliglioli, Butantã ou adjacências na zona sudoeste de São Paulo, para facilitar a vida do Osvaldo, desta feita.

No dia seguinte, ao postarmos fotos no grupo de Whatsapp da nossa banda, o Laert se emocionou, ao salientar que achava inacreditável que após longos quarenta e quatro anos, estivéssemos imbuídos daquela energia incrível que tivemos nos anos setenta e a trabalharmos com a restauração das nossas músicas daquela época. Perfeito, se coadunou com o mesmo sentimento que nós três tivemos ali no estúdio "Armazém", ou seja, eu adorei essa vibração natural que geramos em 23 de junho de 2021.

Na mesma configuração anterior. Ensaio do Boca do Céu em 23 de junho de 2021 no estúdio "Armazém" no bairro do Tatuapé em São Paulo. Click (selfie), acervo e cortesia: Osvaldo Vicino

Com uma maior proximidade, marcamos um novo ensaio para o dia 11 de julho de 2021, um domingo, no estúdio Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. A ideia inicial fora ter marcado em algum estúdio localizado nos bairros do Jardim Bonfiglioli, Butantã, Caxingui ou até na Vila Sonia, para ficar mais confortável ao Osvaldo desta feita, porém, todos os espaços que foram tentados demoraram para nos assegurar uma vaga e assim, o Osvaldo fechou com o Espaço Som de Pinheiros e alegou que não se importava em rodar um pouco a mais para atingi-lo. 

Dessa maneira, nos encontramos ali ao final da tarde de um dia marcado pela final ao vivo pela TV da final da Eurocopa (Inglaterra x Itália) e trabalhamos novamente em trio, eu (Luiz), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino, quando pudemos reforçar bem as três músicas com as quais trabalhamos no ensaio anterior. 

Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), encoberto. Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click e acervo: Luiz Domingues

Dessa forma, "Serena", "Mina de Escola" e "Serena" ganharam ideias boas, inclusive um belo riff feito em dueto pelas guitarras para ornar a introdução de "Mina de Escola" e ao final do trabalho, nós praticamente conseguimos estabelecer um mapa para cada uma.

Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), encoberto. Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click e acervo: Luiz Domingues

O ensaio rendeu bem, e tanto foi assim que pela primeira vez nós conseguimos iniciar o resgate de uma música emblemática da nossa banda, o xaxado/Rock'n'Roll: "Revirada", que nos outorgou o segundo lugar no Festival "Femoc" de 1977. Faltavam dez minutos para finalizarmos o ensaio, mas pelo esboço que fizemos, ficou claro que relembraríamos o mote básico da canção e a reconstruiríamos com melhoramentos ao sabor da nossa infinita melhor condição musical no século XXI.

Wilton Rentero e Osvaldo Vicino em confraternização logo após o término do trabalho! Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click e acervo: Luiz Domingues

Combinamos o próximo ensaio para o domingo subsequente, desta feita em algum estúdio da Vila Mariana, o meu bairro, para seguir o rodízio acordado entre nós. Nesse ínterim, dias depois, o Osvaldo me comunicou via rede social WhatasaApp, que trabalhara com o prolongamento das letras de "Mina de Escola" e "O Mundo De hoje" e o Wilton também mandou-me um áudio pela mesma rede social a mostrar ideias de arranjo para "Serena".

Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues), "oldies but goldies" ao final do ensaio. Ensaio do Boca do Céu em 11 de julho de 2021 no Espaço Som de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Estávamos bem motivados, a cumprir essa missão do resgate da nossa antiga banda e ao vermos a reconstrução das canções a ganhar materialidade visível, foi óbvio que tal sentimento se intensificou!

Pintura de parede a conter a inspiradora lembrança do guitarrista Jimi Hendrix, na recepção do estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, em que o Boca do Céu ensaiou nos dias 18 e 25 de julho de 2021. Acervo: Luiz Domingues

Eis que conseguimos manter uma regularidade bastante saudável de ensaios, algo que de certa forma nos levou de volta aos anos setenta, quando a nossa banda manteve uma periodicidade sustentável em seus esforços primordiais.

Dessa forma, visitamos no dia 18 de julho de 2021, o estúdio Lumen, localizado na Avenida Lins de Vasconcelos, bem na parte mais alta, perto da estação Vila Mariana do Metrô, a mantermos a ideia do revezamento que havíamos estabelecido como uma meta a privilegiar endereços próximos de cada um de nós, a cada vez.

No primeiro plano, encoberto, eu mesmo (Luiz Domingues) a comandar a "selfie" e ao fundo, Wilton Rentero na preparação da sua guitarra. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo em 18 de julho de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues 

Avançamos com músicas diferentes e ficamos felizes com tal perspectiva, ao reforçarmos as músicas que já estávamos a trabalhar em ensaios anteriores. 

No caso, o Osvaldo sugeriu um riff interessante para ser incorporado à canção: "Centro de Loucos", com uma abordagem ao estilo Blues-Rock que possibilitou ao Wilton, ter tido a ideia de criar uma intervenção com slide, que ficou bem interessante e valorizou a nossa velha música. E eu pude sugerir uma parte B, com uma estrutura harmônica adicional, dentro de um quadrado bem tradicional, mas o suficiente para que incrementássemos a parte B, visto que a nossa memória recuava apenas no sentido de nos lembramos da parte A, composta em 1976.

Confraternização após o final do ensaio, na porta do estúdio. Da esquerda para a direita: Wilton Rentero, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues). Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo em 18 de julho de 2021. Click (selfie) e acervo: Wilton Rentero

De comum acordo, resolvemos desrespeitar o rodízio anteriormente proposto e dessa forma, marcamos mais um ensaio no mesmo estúdio Lumen da Vila Mariana, na semana subsequente. Portanto, no dia 25 de julho de 2021, nos encontramos no mesmo espaço e avançamos, desta feita a reforçarmos as músicas que já estávamos a trabalhar, no caso: "Serena", "O Mundo de Hoje", "Mina de Escola" e "Centro de Loucos". 

No primeiro plano, a minha presença, ainda que encoberto, a comandar a "selfie", e ao fundo, Osvaldo Vicino (à esquerda) e Wilton Rentero (à direita). Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo em 25 de julho de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

E também pudemos nesse dia começar a trabalhar em mais uma canção, neste caso, a balada, "E o que Resta é a Canção", portanto, a ideia do avanço foi muito comemorada por nós três (eu, Luiz, Osvaldo e Wilton), que estivemos empenhados nesse momento inicial do resgate do material, pois ficou nítida a ideia do progresso, ao restabelecermos os esforços de 1976 & 1977.

Fachada do estúdio Lumen. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo em 25 de julho de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues

Ficamos então felizes pela produtividade alcançada e animados com a perspectiva de mais canções resgatadas nos próximos ensaios.

Tivemos um hiato de ensaios por algumas semanas, decorrente do conflito de agendas que os membros do trio das cordas da nossa banda tiveram entre si, mas eis que nos reencontramos em 22 de agosto de 2021, para um ensaio realizado no estúdio "Mecanix", com este espaço a estar localizado no bairro da Vila Sônia, na zona sudoeste de São Paulo. 

Nessa altura, já tínhamos um número de músicas resgatadas com uma estrutura de mapa, a caracterizar o esqueleto para seguirmos em frente com uma eventual fase de arranjos mais delineados no sentido do acabamento de fina sintonia. 

Algumas letras foram acrescidas de novas estrofes, principalmente pelo Osvaldo Vicino, exatamente para completarem os poucos fragmentos dos quais nos lembrávamos vagamente e assim a viabilizar o fechamento das canções, 45 ou 44 anos depois de escritas originariamente, a depender de cada peça.

Eu (Luiz Domingues), em uma "selfie involuntária", quando preparava a câmera do telefone para filmar uma execução de música durante o ensaio, mas que culminou em foto, mesmo. Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Mecanix" da Vila Sônia, zona sudoeste de São Paulo. 22 de agosto de 2021. Click (Selfie) e acervo: Luiz Domingues

Nesse sentido, já tínhamos as seguintes músicas bem encaminhadas dentro do resgate: "Serena", "O Mundo de Hoje", "Centro de Loucos", "Diva" e "Mina de Escola".

Na primeira foto, Wilton Rentero se prepara para iniciar o ensaio. Na segunda, Wilton Rentero e Osvaldo Vicino na preparação das guitarras e eu (Luiz Domingues), a comandar a "selfie". Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Armazém", do bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, em 5 de setembro de 2021. Clicks e acervo: Luiz Domingues 

O próximo ensaio ocorreu novamente no estúdio "Armazém", localizado no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, a demarcar a volta do rodízio bem estruturado para beneficiar um membro a cada vez e assim, em 5 de setembro de 2021, avançamos mais um pouco.

Na primeira foto, Wilton Rentero a mexer no seu amplificador. Na segunda, Osvaldo Vicino a se preparar para o ensaio e na terceira, a confraternização final pós-ensaio, com a minha presença (Luiz Domingues, com camisa azul), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino. Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Mecanix" do bairro da Vila Sônia, na zona sudoeste de São Paulo. 12 de setembro de 2021. Fotos 1 e 2 com clicks e acervo de Luiz Domingues. Foto 3: Acervo e cortesia de Wilton Rentero e click de Leandro, proprietário do estúdio

E na semana subsequente, em 12 de setembro de 2021, voltamos ao estúdio "Mecanix" da Vila Sônia e além das canções anteriormente citadas, trabalhamos e avançamos também com a balada, "E o Que Resta é a Canção", que de fato, ganhou um contorno muito interessante, que certamente nós não conseguiríamos elaborar em 1977, mas dada a nossa condição bem mais avantajada de 2021, ficou absolutamente viável e eu, Luiz, fiquei impressionado com a feição que a canção alcançou, com ares setentistas com os quais sonhávamos executar, mas que devido às parcas condições técnicas que tínhamos naquela década, não conseguimos empreender na ocasião. Portanto, foi mais uma alegria para todos nós que, 44 anos depois, pudemos nos reunir para colocar em prática tal resgate.

O esforço para promovermos o grande resgate do nosso velho material de 1976/1977, prosseguiu com entusiasmo. E nessa altura dos acontecimentos, Wilton Rentero e Osvaldo Vicino já haviam me mostrado algumas boas ideias de riffs para músicas novas, ou seja, a possibilidade de que tal trabalho ultrapassasse as fronteiras do resgate, apenas, já se mostrava muito plausível, porquanto, eu gostara bastante do material que me apresentaram a conter uma clara identidade sessenta-setentista, ou seja, seriam músicas novas, mas com total sincronia com o espírito vintage da nossa banda

Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino, nas dependências do estúdio Lumen, localizado no bairro da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. 3 de outubro de 2021. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Mara

Dessa forma, a minha percepção pessoal sobre essa questão certamente assumira um duplo viés e em ambas as circunstâncias, com satisfação da minha parte, pois além de resgatarmos as raízes da nossa banda, ficara claro que o material inédito criado em 2021, haveria de ter o mesmo comprometimento estético e por conseguinte a demarcar o que todo leitor da minha autobiografia já tomou conhecimento amplamente a respeito da minha formação artística pessoal, anseios e comprometimento com a causa. 

Flagrantes do ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen, de São Paulo em 3 de outubro de 2021. Na primeira foto, eu (Luiz Domingues) a comandar a "selfie" e Wilton Rentero ao fundo, a tocar guitarra. Na segunda, Osvaldo Vicino se prepara para ensaiar. Clicks e acervo: Luiz Domingues 

Sobre as músicas "clássicas" do Boca do Céu, nós trabalhamos para dar corpo à maioria, visto que só nos lembrávamos de meros fragmentos das canções originais. Nesse sentido, nos esforçarmos para manter o espírito da época em que as concebemos inicialmente e no quesito das letras, em alguns casos, tirante a genialidade que o Laert já possuía naquela época, as letras que escrevemos guardavam uma dose de ingenuidade infantojuvenil natural bem grande, certamente. Portanto, o Osvaldo criou complementos para podermos fechar as canções em 2021, com essa preocupação de manter esse caráter pueril observado nos poucos trechos originais dos quais nos lembramos, quarenta e quatro anos depois. No entanto, tais complementos foram feitos para conferirmos um corpo às canções, mas totalmente passíveis de modificações, principalmente da parte do Laert, a posteriori, essa foi a intenção.  

Na primeira foto, Osvaldo Vicino toca enquanto aguarda o início do trabalho. Na segunda, Wilton Rentero nos leva de volta aos anos setenta, ao evocar a simbologia que nos norteara naquela ocasião e na terceira, eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino nos confraternizamos no instante pós-ensaio. Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Mecanix", localizado no bairro da Vila Sonia, na zona sudoeste de São Paulo, no dia 10 de outubro de 2021. Click e acervo (Luiz Domingues (Fotos 1 e 2). Acervo e cortesia: Wilton Rentero Click: Leandro (3)

E assim, ensaiamos no dia 3 de outubro no estúdio "Lumen", localizado no bairro da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo. Na semana seguinte, dia 10 de outubro de 2021, visitamos o estúdio "Mecanix", este localizado na Vila Sonia, zona sudoeste da cidade e no dia 17 de outubro, voltamos ao estúdio "Armazém", localizado no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

Wilton Rentero prepara a sua guitarra antes do início do trabalho. Osvaldo Vicino a tocar durante o ensaio. Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Armazém", localizado no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. 17 de outubro de 2021. Clicks e acervo: Luiz Domingues

Nessa altura, já tínhamos seis músicas com um corpo e mapa definidos, linhas melódicas e letras provisórias a conter os fragmentos setentistas com complementos, alguns solos já encaminhados, linhas de baixo em construção e nesse bom embalo, iniciamos o trabalho de resgate da sétima canção, no caso, a emblemática "Revirada", que nos rendera um prêmio em 1977, conforme eu já narrei através dos capítulos iniciais dessa minha história com o Boca do Céu.

Foi quando eu tive a ideia, dada a oportunidade de estarmos geograficamente a poucos quarteirões da minha antiga residência nesse mesmo bairro, de visitarmos a rua em que ela se localiza e tirarmos algumas fotos na fachada dessa casa em que ali tanto ensaiamos juntos no ano de 1977. Ótima ideia, os colegas aceitaram de imediato a proposta. Saímos do estúdio "Armazém" e em menos de cinco minutos, estacionamos os nossos respectivos carros na porta da habitação.

Na primeira foto, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues). Na segunda, eu e Wilton Rentero e na terceira, Wilton Rentero, eu (Luiz Domingues e Osvaldo Vicino. Reunião pós-ensaio do Boca do Céu na fachada da minha antiga residência localizada no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo na qual o Boca do Céu, mediante o trio retratado acima e mais Laert Sarrumor e Fran Sérpico, ensaiou muito nos idos de 1977. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Clicks: Wilton Rentero (1e 3) e Osvaldo Vicino (2)

Incrível, a aparência do imóvel se apresentava inalterada, a não ser por uma grade de proteção que foi colocada sobre o portão da entrada lateral que direciona à edícula e na qual usávamos como um estúdio improvisado em 1977. Tirante tal modificação naturalmente decorrente da parte do atual morador e de seu vizinho, com o fator da segurança, estava tudo absolutamente igual, tal qual nos anos últimos anos da década de setenta em que ali vivi e que servira de base de ensaios para o Boca do Céu. 

Assim que postamos as fotos no grupo de WhatsApp, Laert Sarrumor se manifestou com muita emoção pelo ocorrido e a lastimar não ter estado conosco para estar registrado conosco nas fotos e claro que eu lhe disse que outras oportunidades ocorreriam nesse sentido.

Sobre a balada, "O Que Resta é a Canção", a roupagem que ela estava a adquirir no padrão de 2021, evidentemente que se tornou muitíssimo mais requintada do que jamais poderíamos concebê-la em 1976, sem no entanto recorrer à modernizações estéticas que lhe extraíssem o seu sabor sessenta-setentista original de sua estética e intenção. 

Simplesmente amadurecidos, tocamos como sonhávamos naquela época, porém de uma forma mais do que natural e assim, a canção ficou rica em ornamentos e também na sua melodia, pois pelo pouco que eu me recordo da sua versão primordial, ela não tinha uma linha nesse sentido tão bem delineada na ocasião em que fora concebida.

Wilton Rentero a tocar na primeira foto e ele mesmo, novamente, acompanhado de Osvaldo Vicino, desta feita. Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Lumen", localizado no bairro da Vila Mariana, na zona leste de São Paulo, em 31 de outubro de 2021. Clicks e acervo: Luiz Domingues

E foi assim então, não apenas em relação à balada, "E o Que Resta é a Canção", mas também com as outras seis músicas com as quais estávamos a trabalhar, evidentemente que o mesmo resultado estava a ser notado por todos nós. 

E nesta altura, mesmo ainda a trabalharmos de uma forma bastante preliminar na preparação de mapas, estes a serem considerados provisórios das músicas em questão, eu particularmente já estava convencido de que o material de 1976-1977, se mostrava muito promissor, mesmo com as letras bem ingênuas em sua maioria, exatamente para preservamos ao máximo a essência do trabalho que fizemos ou tentamos fazer nos anos setenta mediante os nossos parcos recursos daquela ocasião.

Osvaldo Vicino e Wilton Rentero ao fundo, com a minha presença (Luiz Domingues) a comandar o click. Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Armazém", localizado no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo em 21 de novembro de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Nesta altura, estávamos resolutos em realizar mais um ensaio com o trio das cordas e a seguir, marcarmos um ensaio com o baterista, Nelson Laranjeira, cunhado do nosso baterista original, Fran Sérpico e que gentilmente participara da nossa reunião nostálgica de 2020, pouco tempo antes de estourar a notícia da pandemia decorrente do Coronavírus no Brasil. 

Osvaldo Vicino e Wilton Rentero, a confabularem durante o ensaio. Boca do Céu no estúdio "Armazém", localizado na zona leste de São Paulo, em 21 de novembro de 2021. Click e acervo: Luiz Domingues

Portanto, pelo laço de parentesco com o Fran, ele haveria de representar bem o nosso baterista dos anos setenta e assim, a seguir, gravaríamos um segundo ensaio com ele na bateria para termos um material com um áudio razoável para finalmente enviarmos ao Laert, para que ele pudesse começar a interagir conosco. 

E sob uma segunda fase, iniciaríamos um novo esforço para resgatarmos mais quatro ou cinco músicas dos anos setenta e abrir caminho para composições novas, uma safra de 2021, inteiramente inédita. 

Eu (Luiz Domingues) a comandar o click da máquina, com Osvaldo Vicino e Wilton Rentero ao fundo, ambos entretidos com alguma imagem do celular do Wilton. Ensaio do Boca do Céu no estúdio "Armazém" de São Paulo em 21 de novembro de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Todavia, nós sentimos a necessidade de marcarmos mais um ensaio, antes de convidarmos o baterista Nelson Laranjeira para nos auxiliar em tal tarefa de registrar as canções.

Estávamos felizes por chegarmos ao final de 2021, com pandemia e tudo, mediante o resultado de seis músicas da safra de 1976-1977, resgatadas com corpo e mapa a delinear a existência de começo, meio e fim para cada uma delas. Planejávamos preparar mais uma canção, no caso, "Revirada", mas dadas as circunstâncias da logística, resolvemos fechar o ano com seis músicas recuperadas, a registrar: "Serena", "Centro de loucos", "O Mundo de Hoje", "Mina de Escola", "E o que Resta é a Canção" e "Serena".

Osvaldo Vicino na primeira foto e Wilton Rentero na segunda em um momento de aguardo pelo início do ensaio. Boca do Céu no estúdio Lumen, localizado na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, em 5 de outubro de 2021. Clicks e acervo: Luiz Domingues  

O próximo ensaio que promovemos foi no estúdio Lumen da Vila Mariana, no dia 5 de dezembro de 2021, quando filmamos para uso interno a versão das três músicas citadas acima, para que somadas às filmagens das três anteriores, pudéssemos enviá-las ao baterista Nelson Laranjeira, a fim de que ele as escutasse e consequentemente se preparasse para participar de um ensaio no formato de quarteto.

Particularmente eu fiquei bastante contente por verificar que mesmo com a pandemia e mediante espaçados ensaios, nós tenhamos construído esse alicerce primordial e neste momento tivéssemos enfim essa constatação clara sobre o desenvolvimento do grande resgate proposto em 2020.

No momento do pós-ensaio, da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), a comandar a selfie, Osvaldo Vicino e Wilton Rentero.  Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo em 5 de dezembro de 2021. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

Outra boa novidade foi no campo da preservação do material, quando através de um material salvo pelo Wilton Rentero, nós conseguimos resgatar alguns vídeos feitos durante o primeiro e festivo reencontro de 2020, com a formação original da banda, completa, presente no estúdio Espaço Som do bairro de Pinheiros em São Paulo, no dia 15 de fevereiro de 2020. 

Tal preservação do material coincidiu com uma fase em que eu começara a organizar o meu canal de YouTube, portanto, veio muito a calhar para que fizessem companhia ao histórico vídeo da rara aparição do Boca do Céu filmada em junho de 1977, para compor o início de uma playlist dedicada exclusivamente à banda em meu canal.

Boca do Céu - Reencontro de ex-componentes - 15 de fevereiro de 2020 - Estúdio Espaço Som/SP - Música: Trecho de "Boeing 723897" (Allan Terpins/Dudi Guper/Tico Terpins). Filmagem e cortesia: Fran Sérpico. Apoio e cortesia na produção: Wilton Rentero. Fotos do reencontro: Marcos Kishi. Boca do Céu: Osvaldo Vicino: Guitarra e Voz, Laert Sarrumor: Voz, Wilton Rentero: Guitarra, Luiz Domingues: Baixo. Músico convidado: Nelson Laranjeira: Bateria

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=XA6G4EPGpww 

Boca do Céu - Reencontro de ex-componentes - 15 de fevereiro de 2020 - Estúdio Espaço Som/SP - Música: trecho de "Mexico Lindo" (Tico Terpins). Filmagem e cortesia: Fran Sérpico. Apoio e cortesia na produção: Wilton Rentero. Fotos do reencontro: Marcos Kishi. Boca do Céu: Osvaldo Vicino: Guitarra e Voz, Laert Sarrumor: Voz. Wilton Rentero: Guitarra, Luiz Domingues: Baixo. Músico convidado: Nelson Laranjeira: Bateria

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=u2MXLe7nMYI

Boca do Céu - Reencontro de ex-componentes - 15 de fevereiro de 2020 - Estúdio Espaço Som/SP - Música: outro trecho de "Mexico Lindo" (Tico Terpins). Filmagem e cortesia: Fran Sérpico. Apoio e cortesia na produção: Wilton Rentero. Fotos do reencontro: Marcos Kishi. Boca do Céu: Osvaldo Vicino: Guitarra e Voz, Laert Sarrumor: Voz, Wilton Rentero: Guitarra, Luiz Domingues: Baixo. Músico convidado: Nelson Laranjeira: Bateria

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=fVkA5q2sNLg

Boca do Céu - Reencontro de ex-componentes - 15 de fevereiro de 2020 - Estúdio Espaço Som/SP - Música: Trecho de "São Paulo By Day" (Tico Terpins). Filmagem e cortesia: Fran Sérpico. Apoio e cortesia na produção: Wilton Rentero. Fotos do reencontro: Marcos Kishi Boca do Céu: Osvaldo Vicino: Guitarra e Voz, Laert Sarrumor: Voz, Wilton Rentero: Guitarra, Luiz Domingues: Baixo. Músico convidado: Nelson Laranjeira: Bateria

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=ixKQb6h8SJ4

Da esquerda para a direita: Wilton Rentero, Nelson Laranjeira, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues). Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo em 12 de dezembro de 2021. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Mara

O próximo ensaio que realizamos foi importante para demarcar uma nova fase dentro do resgate que planejamos. Isso por que nós marcarmos mais um apontamento para o estúdio Lumen da Vila Mariana, mas desta feita a contar com a presença do baterista Nelson Laranjeira para atuar conosco. 

Como eu já expliquei anteriormente dentro deste relato autobiográfico, quando surgiu a ideia de resgatarmos as músicas do nosso repertório de 1976-1977, sabíamos que o nosso baterista original, Fran Sérpico não atuaria conosco, mas ele mesmo indicara o seu cunhado que foi durante décadas, baterista atuante em bandas cover a se apresentarem pelo circuito da noite paulistana. Portanto, seria um elo familiar que ele, Fran Sérpico, manteria para a formação ficar ao máximo perto da original, dos anos setenta.

Da esquerda para a direita: Osvaldo Vicino, Nelson Laranjeira, Wilton Rentero e eu (Luiz Domingues). Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo em 12 de dezembro de 2021. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Mara

Dessa forma, eis que no dia 12 de dezembro de 2021, recebemos a gentil persona de Nelson Laranjeira que se prontificou a ensaiar, aprender a tocar as músicas que já havíamos fechado um corpo inicial e participar de mais um ensaio para que nos colocássemos preparados para gravar um ensaio com uma melhor qualidade sonora a fim de mostrarmos o material ao Laert Sarrumor, para que ele iniciasse a sua interação conosco.

Ensaiamos e conseguimos passar quatro músicas e filmá-las
com a atuação do baterista Nelson Laranjeira, ainda que tais filmagens ficassem expostas apenas no âmbito interno para a nossa consulta, sob uma primeira etapa e quem sabe, no futuro servissem para serem usadas em um possível documentário sobre o resgate do trabalho da nossa banda dentro desse longo hiato entre os anos setenta e o ano de 2020 quando resolvemos de fato empreender tal esforço.

Da esquerda para a direita: Wilton Rentero, Osvaldo Vicino, Nelson Laranjeira, e eu (Luiz Domingues). Ensaio do Boca do Céu no estúdio Lumen de São Paulo em 12 de dezembro de 2021. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Mara 

Dessa forma, conseguimos filmar "Serena", "Centro de Loucos", "O Mundo de Hoje" e "E o que Resta é a Canção" e com a bateria atuante, o sentido do pulso nos deu muito maior segurança e por conseguinte, oportunidade para que o trio das cordas atuasse com maior desenvoltura. E mais que isso, nos deu uma visão boa de que os nossos esforços ao longo dos seis meses em que trabalhamos no ano de 2021 e alguns esforços pontuais feitos em 2020, com pandemia e tudo, houvessem valido a pena. Estávamos no bom caminho, essa foi a conclusão nesse ponto do final de 2021.   

E por motivos pessoais em torno de um impedimento, eu mesmo tive que desmarcar o ensaio que faríamos no dia 19 de dezembro de 2021, e assim, a ideia de gravarmos as seis músicas iniciais do projeto de resgate que gravaríamos com o formato de ensaio no estúdio Mecanix, ficou postergada para a primeira data possível de 2022. 

Diante dessa realidade, foi um prejuízo pequeno em face ao que havíamos construído durante o ano de 2021 e claro, a se levar em conta todas as dificuldades decorrentes da pandemia de 2020-2021 e também pelos impedimentos pessoais de cada um para manter uma logística bem estruturada, a manter a periodicidade dos ensaios.

Portanto, assim fechamos o ano de 2021, com um avanço significativo do projeto de resgate do nosso material de 1976-1977 e a elevar a esperança de que em 2022, haveríamos de chegar ao ponto de ser possível cogitar uma gravação efetivamente e assim, finalmente concretizarmos o sonho que não alcançáramos nos anos setenta, para registrar o material autoral do Boca do Céu com um disco da nossa banda, até que enfim.

Sob a lente da fotógrafa Ana Fuccia, aí estou eu (Luiz Domingues), a usar a camiseta do Boca do Céu e a segurar em mãos a almofada com a foto da nossa banda em um momento de 1977. Almofada confeccionada por Amanda Fuccia

Continua...