Aconteceu nos últimos momentos d'A Chave do Sol, ao final de 1987...
Nos
últimos meses de vida d'A Chave do Sol, infelizmente o clima interno da
banda não foi nada bom e assim, revelou-se um tempo marcado pela luta
desesperada pela sobrevivência do nosso grupo, a gerar angústia
generalizada e lastimavelmente, por nutrirmos medo pelo final inevitável
do nosso trabalho.
Sob tal clima caótico, em meio aos esforços frenéticos para evitar o mal maior, eis que uma revista renomada no meio cultural, sinalizou apoio e lá fui eu à sua redação, para entregar-lhe o material de divulgação da banda e realizar a dita, visita social.
E
ali eu fui bem-recebido, certamente, pois tratava-se de uma equipe
formada por pessoas educadas, mas algo muito atípico ocorreu, mesmo com o
clima amistoso instaurado, a denotar uma estranha contradição, digamos
assim.
Pois desde que eu entrei no pequeno escritório, cumprimentei efusivamente a todos e fui muito bem correspondido na gentileza, mas assim que os cumprimentos cessaram e um silêncio generalizado adveio, eis que um membro dessa equipe, pediu-me com delicadeza para que eu afastasse-me um passo da mesa onde ele trabalhava.
Ora, tudo, bem, nem achei que estivesse tão perto, mas obviamente esteve longe de minha intenção ser inconveniente e assim gerar algum incômodo ali, visto que eu sabia muito bem que a visita deveria ser rápida e objetiva, pela lógica implícita de não ser de bom tom atrapalhar o expediente de trabalho.
Dei um passo atrás e logo a seguir, um outro funcionário solicitou que eu não ficasse ali entre as duas mesas, pois haveria por atrapalhar o caminho para os rápidos deslocamentos que os jornalistas ali costumavam empreender.
Claro,
perdão... assim pronunciei-me e rapidamente alojei-me em um outro
canto, mas que inevitavelmente pela arquitetura do pequeno escritório,
obrigara-me a permanecer de costas para uma parede e assim, logo depois,
outro funcionário advertiu-me que não era permitido encostar ali, por
gerar a possibilidade de sujar a pintura.
Ora, justo, nem eu gostaria de manchar a minha roupa. Desloquei-me conforme o solicitado e ao avistar um banco que não estava ocupado por ninguém, rapidamente fiz menção de sentar-me, todavia, eis que veio a gota d'água, quando fui avisado que o banco pertencia a um determinado membro da equipe e mesmo com ele ausente, não era permitido usá-lo.
E o mais bizarro nessa história, foi que todas as solicitações foram concluídas com bom humor e educação, ao denotar a maior normalidade, como se tal comportamento irritante, despendido a uma visita, fosse algo absolutamente normal e eu é que seria o brucutu antissocial ali, ao não entender as regras básicas de civilidade.
E descarto completamente a ideia de que tratou-se de uma coleção de atos premeditados com a intenção deliberada de manter um território hostil, para que eu evadisse-me imediatamente do local, visto que muito pelo contrário, eu estive ali a atender um convite formulado da parte deles mesmos.
Portanto,
a conclusão que tenho sob tal episódio, revela um maneirismo
particular da parte daquelas pessoas, ao construir normas próprias de
convívio em seu ambiente de trabalho e realmente quem não fizesse parte
daquela equipe e conhecesse os seus códigos secretos de conduta interna,
realmente tendia a estranhar. E foi o meu caso e quiçá de outros que
ali passaram pela mesma experiência bizarra.