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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Sidharta - Capítulo 4 - O Sonho não Acabou, apenas Voou em uma Nave Diferente - Por Luiz Domingues

No início de 1999, surgiu a oportunidade de nós passarmos a ensaiar em um estúdio bem perto da minha residência, chamado: "Alquimia", no bairro da Aclimação. Perdemos o clima da autêntica tenda Hippie do estúdio do PA, entretanto ganhamos no quesito da qualidade das instalações e equipamentos mais categorizados, ali oferecidos. 

No Alquimia, contudo, o clima nunca mais foi o mesmo dos primeiros tempos do Sidharta. O Zé Luiz realmente estava insatisfeito e não demorou muito para demonstrar-nos abertamente a sua discórdia, ao dizer-nos em um determinado ensaio ocorrido em janeiro de 1999, que estava determinado a simplificar as suas linhas de bateria, ao máximo, pois considerava os seus arranjos, todos "equivocados".

Ele chegou a dizer-nos que estava a considerar as músicas com pegada de "Heavy-Metal", certamente a exagerar ao cubo nessa colocação de sua parte, haja vista a obviedade que dessa escola eu jamais me aproximaria. 

Segundo ele, nós estávamos iludidos, ao criarmos e arranjarmos músicas longe do padrão Pop das FM's, e do que ele mesmo costumava ver na MTV etc. Ora, basta voltar ao início deste relato, para verificar que eu sempre deixei claro para ele (e para todo mundo que envolveu-se nesse projeto), sobre qual foi o propósito do Sidharta. Portanto, não caberia a alegação da surpresa nesse caso, da parte dele e de ninguém.

Certamente que ele forçou a barra ao entrar na banda, mesmo por ser bem avisado sobre qual meta nós queríamos atingir e suportou até exaurir-se, pois definitivamente, não era a sua intenção sob o ponto de vista artístico. 

Reconheço a vontade dele em desejar fazer parte, querer tocar com essa banda e particularmente comigo, novamente, pois sempre demo-nos muito bem como músicos e amigos. 

Fiquei chateado também com a sua manifestação de desagrado, mas por outro lado é claro que eu sabia desde o começo, por conhecer o seu temperamento e seu gosto musical, sobretudo, que ele não encaixar-se-ia ao projeto. 

Após essa afirmativa de sua parte, o clima ficou pesado. Fizemos mais um ou dois ensaios depois disso, e aí, quando chegou a época do carnaval de 1999, o clima ficou insustentável. Rodrigo e Marcello também queriam uma definição e antes que eu convocasse uma reunião para esclarecer a sua posição, o Zé Luiz ligou-me e marcou um encontro só comigo. 

Falarei disso a seguir, mas antes, abro parêntese para contar uma pitoresca história ocorrida em janeiro de 1999 e com o próprio, Zé Luiz, como protagonista.

Um dos últimos momentos engraçados com o Zé Luiz ainda na banda, rendeu uma história insólita, que não poderia deixar de ser contada. Aconteceu logo no início de 1999, quando fomos visitar um estúdio de ensaio no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

Se tratava de um bom estúdio, muito bem montado e situado próximo à Rua Butantã, perto de onde hoje em dia localiza-se o Sesc Pinheiros. Tal estúdio continha várias salas de ensaio, com equipamento de muita qualidade etc. 

Então, o filho da dona do estabelecimento, que era guitarrista de uma banda de Heavy-Metal (nessa banda tocava com ele o vocalista inglês radicado em São Paulo, chamado: Paul Di'Anno e quem acompanha o mundo do Heavy-Metal sabe de quem se trata), quis mostrar-nos a sala de gravações, onde costumavam gravar fitas demo de ensaios de muitas bandas. 

Essa sala estava ocupada naquele momento, mas ele insistiu e quis apresentar-nos assim mesmo as suas instalações. Eu fiquei constrangido, pois sei que visitas, quanto mais de estranhos, em meio a uma sessão de gravação, são super inoportunas. Contudo, por insistir nessa ideia, ele levou-nos para tal visitação. 

Quando entramos na sala (estávamos eu-Luiz, Zé Luiz e Rodrigo), vimos que tratava-se de uma sessão de gravação de vocais de uma banda de Heavy-Metal "melódico" e logo reconheci ao lado do técnico, a figura do guitarrista do "Angra", Rafael Bittencourt, que claramente estava ali a exercer o posto de produtor dessa banda.

O guitarrista da banda de Heavy-Metal, Angra, Rafael Bittencourt, que produzia a banda em questão, naquele momento

Não lembro-me mesmo quem seria tal banda, pois como o leitor já sabe, eu ignoro o mundo do Heavy-Metal e se esses garotos ficaram famosos depois disso, perdoem-me pela gafe, mas eu não saberia dizer quem eles são. 

Mas o fato realmente surpreendente dessa história, não tem nada a ver com a tal banda, nem com o guitarrista do Angra. Ocorreu que havia um coprodutor envolvido nessa produção e a sua figura não poderia ser mais insólita: Clodovil Hernandes!

Foi bizarro, mas o estilista/político e apresentador de TV, Clodovil Hernandes, mandava parar a gravação do vocalista a todo instante, ao estabelecer observações subjetivas sobre a sua performance e com isso, para dar a entender que realmente estava a dirigi-lo! 

E houve mais um elemento a ser destacado: ele fazia isso longe da mesa de mixagem, deitado em um sofá ao fundo da sala, a gesticular com aquele frescor que fora típico de sua personalidade.

Então, eis que através de uma pausa, o filho da dona do estúdio (que por sinal era uma cantora veterana de Bossa Nova, mas cujo nome esqueci-me completamente, peço perdão pela minha falha), ele apresentou-nos àquelas pessoas. 

O Rafael fez menção de conhecer-me e eu cumprimentei a todos com acenos, discretamente. Mas o Zé Luiz teve o impulso de apertar a mão de todos e nessa circunstância, dirigiu-se também ao sofá e apertou a mão do Clodovil. Um certo constrangimento deve ter pairado no ar, pois o Rodrigo sentiu-se impelido ao mesmo impulso e fez o mesmo a seguir.

Feito isso, nós saímos rapidamente e depois que deixamos o estúdio, já a estarmos na rua, conversávamos sobre as impressões de cada um sobre o mesmo, quando demo-nos conta de que o Zé Luiz não havia percebido que o homem do sofá fora o Clodovil!

O Rodrigo falou-lhe: -"Zé, não é possível! Você não percebeu que cumprimentou o Clodovil?" Aí ele respondeu: -"Não, nem o reconheci... mas bem que eu vi que foi uma "bichona" deitada no sofá e depois que apertei a mão dele, vi que era mole, igual de mulher"...

Hilário! E garanto-lhe amigo leitor, essa distração do Zé Luiz era famosa. No tempo d'A Chave do Sol, aconteceu algumas vezes e no capítulo adequado, eu relatei uma outra confusão ótima perpetrada da parte dele, a envolver uma figura famosa do BR-Rock 80's, e que ocorreu em 1986 (tal aventura está contada no capítulo d'A Chave do Sol).

De volta aos fatos cronológicos, foi assim, antes do carnaval de 1999, que os dois garotos cobraram-me definições, pois o clima ficara insustentável. 

Tínhamos um ótimo baterista, cantor, compositor e arranjador, que também era um sujeito dono de um caráter 1000%, trabalhador e muito experiente na música. Contudo, insatisfeito e mediante um clima amplamente anunciado por eu mesmo, desde o começo, incompatível esteticamente com o trabalho.

E do lado dele, houve além da insatisfação com a estética da banda, certamente uma frustração. Não descarto a hipótese dele ter saído a considerar-me um "turrão", irredutível e manipulador (no bom sentido!), pois os garotos estavam fechados no mesmo ideal. 

Por outro lado, eu o avisei insistentemente, desde o começo e no fundo, sei que ele sabia disso muito bem e que forçou para entrar no projeto, mesmo ao saber que houvera uma meta muito bem definida, e da qual eu e os dois garotos, não pretendíamos mudar uma vírgula em nossa determinação. 

Por sugestão dos garotos, eu fiquei de ligar para ele e assim nós  conversarmos a sós, para esclarecermos as diferenças e assim tomarmos uma decisão. Mas ele antecipou-se e na noite da sexta-feira do pré-carnaval, ligou-me e veio à minha casa para estabelecer uma conversa franca.

Conversamos e amistosamente, ele anunciou a sua saída. Alegou o que sentia, lamentou, é claro, e assim, acabou o ciclo do Zé Luiz Dinola, no Sidharta. 

Claro que lastimei, pelos motivos já descritos exaustivamente neste capítulo e também por ficar com essa frustração por não termos tocado ao vivo com essa banda. Ficamos mesmo só por esses meses e meses centrados em ensaios, de onde produzimos vinte duas músicas, gravamos diversas demos caseiras e um vídeo amador e curto de um ensaio. 

Comuniquei a decisão do Zé Luiz aos garotos, ainda durante o carnaval e logo após esses feriados, reunimo-nos para traçarmos novas metas. Obviamente a prioridade doravante, foi procurarmos por um novo baterista. 

Elaboramos uma nova lista com nomes e decidimos não errar mais no quesito do comprometimento com o ideal da banda. Poderia ser alguém até inferior tecnicamente ao Zé Luiz, mas teria que estar 100% coadunado com o espírito 1960 & 1970, como nós e dessa forma vibrar sob tais condições.

E diante dessa lista de nomes arrolados, pensamos novamente no Tibério Corrêa. Ele fora um músico egresso dos anos 1960, viveu intensamente os anos 1970, e mantinha consigo toda essa bagagem cultural Rocker que nós almejávamos. 

Contudo, pesara contra, o fato dele estar desde os anos 1980, envolvido com o Heavy-Metal. Portanto, apesar de deter em suas raízes, tudo o que esperaríamos de um possível novo membro, por outro lado, ele estava por demais envolvido sob uma egrégora que rejeitávamos. 

O outro nome pensado, foi o de Alex Soares. Eu não o conhecia pessoalmente e apenas sabia que ele fora um aluno do meu amigo, o baterista, Paulo Thomaz e que no meio dos anos 1990, tocara no Big Balls de Xando Zuppo e Paulo de Tharso.

Alex Soares está destacado de seus companheiros, na foto que ilustrou a capa do LP do "Big Balls", em 1996

Sabíamos que tratava-se de um baterista dotado de boa técnica, mas o Paulo Thomaz advertiu-nos que a mentalidade dele pendia mais por sons modernos, dos anos 1980 e 1990. Ironicamente, alguns anos depois eu iria tocar com ele no início do "Pedra", onde gravamos juntos o primeiro CD dessa banda. 

Foi então que surgiu o nome de Rolando Castello Júnior. 

Tecnicamente não haveria nenhuma dúvida, pois ele é um dos maiores bateristas da história do Rock brasileiro, sem questionamentos. Também a ser revelar como uma testemunha ocular dos anos setenta, nem precisava dizer que a sua cultura Rocker seria absolutamente tudo o que desejávamos como o perfil ideal de um novo componente. 

A grande questão, no entanto, foi: ele aceitaria entrar em um projeto da estaca zero, com dois garotos imberbes envolvidos e sem o apoio de produtor, empresário ou gravadora a dar-nos suporte e ainda por cima, sem dinheiro para custear-nos a autoprodução? 

E outras questões: aonde estava a Patrulha do Espaço naquele instante? Estava em atividade? Ou ele estaria em outros projetos, pessoalmente? A última vez que eu havia estado com ele, fora de passagem por São Paulo, pois ele morava em Curitiba, em meados dos anos noventa.

Nessa oportunidade, eu o encontrei na loja de CD's e instrumentos/equipamentos do baixista, Sergio Takara, em 1995, pela última vez. 

Descartamos a hipótese do Tibério Corrêa, por sentirmos que ideologicamente ele estava sob outra vibração. Pensamos um pouco mais no Alex Soares, apesar de ser uma completa incógnita e o Júnior era tratado entre nós como o nome ideal, porém muito inviável pelas circunstâncias. Seguimos assim por uns dias, até que surgiu uma luz!

A luz no final do túnel foi uma fortuita oportunidade. Haveria um show da banda: "Cheap Tequilla", do meu amigo, Paulo Thomaz, marcado para o Centro Cultural São Paulo.

    "Caveira", o guitarrista do Cheap Tequilla, naquela ocasião

Enfim, eu mobilizei toda a minha tropa Neo-Hippie e comparecemos em peso ao Centro Cultural São Paulo, onde prestigiamos o show do Cheap Tequilla. 

Quando eu já estava nas dependências do CCSP, avistei a presença do baterista, Rolando Castello Júnior, que chegara ao auditório acompanhado com Paulo Zinner, do Golpe de Estado e outras pessoas. Após o show, eu o abordei e o apresentei para vários de meus neo-hippies, que ficaram eufóricos por conhecê-lo e ao Paulo Zinner, também.

Eles (Rolando e Paulo), relataram-me que fariam um show-tributo ao baterista do "The Who", Keith Moon, a ser realizado dali a alguns dias no salão de Rock, "Fofinho Rock Club" e ambos convidaram-me a prestigiar a apresentação, ao estender o convite à minha garotada. 

Ao sairmos dali eu conversei com Rodrigo e Marcello sobre essa oportunidade surgida e nós ponderamos durante alguns dias sobre tal possibilidade. Resolvemos não tomarmos nenhuma decisão precipitada e a seguir, a observarmos os próximos acontecimentos. 

Então, resolvemos comparecer ao show-tributo que ele faria ao lado de Paulo Zinner.

Chegamos ao Fofinho Rock Club e foi de nossa parte um bom reforço à bilheteria do espetáculo, pois na minha "comitiva", haviam seguramente mais de quarenta pessoas, entre os meus alunos, amigos, os familiares deles e suas namoradas. Estiveram comigo também, Roberto Garcia Morrone e Carlos Fazano, amigos de outras épocas, mas que estavam engajados ao meu ambiente Neo-Hippie, forjado em minha sala de aulas. 

Assistimos o show e quando eu fui abordá-lo (Rolando) após o espetáculo, vi que ele estava mais "alegre" que o habitual e portanto, não houve clima para falar-lhe de nossos planos e principalmente sobre a nossa pretensão para incluí-lo neles. Fomos embora e ainda tivemos alguns dias para ponderar e enfim tomarmos uma decisão.

Ele seria o membro certo para o projeto, pelo aspecto contracultural e pela técnica como músico de altíssimo gabarito, contudo, será que ele aceitaria? 

Interessar-se-ia por um projeto autoral tão fechado, centrado em uma ideia fixa assim tão radical e a sinalizar algo anticomercial, por conseguinte? Aceitaria iniciar uma trajetória difícil conosco, no alto de seus trinta anos de carreira, nessa ocasião?

Dessa forma, passados alguns dias, em uma última reunião feita entre eu (Luiz), Rodrigo e Marcello, nós fechamos com a ideia de que deveríamos convidar o Júnior, por realmente estarmos convictos de que ele seria o componente ideal para o nosso projeto. 

Então, através do baterista Paulo Thomaz, eu obtive o telefone de seu contato e fiz a ligação. Ele não estava presente, mas retornou a ligação, cerca de duas horas depois, ao mostrar-se atônito com a minha ligação. 

Eu sabia que não poderia abordá-lo com uma proposta explícita e para seguir a estratégia traçada com os dois meninos, disse-lhe que estava a ligar-lhe para fazer-lhe um convite. 

Convidei-o então para uma Jam-Session, pela qual nós tocaríamos com dois músicos jovens, porém talentosos e o objetivo de tal atividade seria apenas pelo lazer. Ele ainda esboçou sondar mais, mas eu insisti na ideia de que seria apenas uma Jam descompromissada e com o mero intuito de uma recreação entre amigos Rockers.

Mesmo assim, deu para notar que ele ficou levemente intrigado e ainda perguntou-me sobre o que tocaríamos, quando respondi-lhe laconicamente, que seriam clássicos do Rock internacional 1960 & 1970, predominantemente. 

Então eu disse-lhe que ligaria novamente para confirmar data e horário em breve. Nesta altura, eu e os meninos já estávamos preparados e havíamos preparado um repertório com alguns clássicos, pois havíamos planejado essa Jam, astutamente.

Escolhemos as músicas a dedo, para exaltar toda a multiplicidade da banda que seria revelada para impressioná-lo propositalmente. Dessa forma, músicas com duas guitarras, e guitarra & teclados, foram escolhidas para impressionar o Júnior com a versatilidade a ser ressaltada da parte dos meninos, a trocarem de instrumentos freneticamente e demonstrar-se assim, todo o seu virtuosismo como multi-instrumentistas que já desempenhavam, com louvor.

Até uma música do "Jethro Tull" nós incluímos no set list da Jam, para o Marcello também poder usar a flauta. 

E claro, escolhemos cinco músicas da Patrulha do Espaço, para que vislumbrasse-se o potencial daquele time, que era enorme. Fizemos alguns ensaios entre nós três para reforçar as músicas da Patrulha do Espaço e marcamos a data da Jam, para o estúdio Alquimia.

Daqui em diante, todo o episódio sobre essa Jam e como isso se desenvolveu como o estopim para a volta oficial da Patrulha do Espaço à cena artística brasileira, já foi contado no respectivo capítulo dessa banda. 

Vou abordar mais alguns detalhes aqui, ainda sob o viés do Sidharta, naturalmente. Dessa forma, apenas realço que embora ainda a esforçar-nos para cumprir uma estratégia sob abordagem sutil, ao desejarmos despertar no Júnior a curiosidade espontânea etc. e tal, o nosso foco seria o Sidharta em princípio.

Não passava pela nossa imaginação a ideia de enterrarmos o projeto para usar o repertório criado como matéria prima apenas para alimentar a volta da Patrulha do Espaço à cena. 

Uma eventual fusão dos trabalhos, nem fora cogitada, nesse momento. Isso por que não tratava-se apenas de um balaio com vinte e duas músicas compostas, arranjadas e ensaiadas, mas certamente a conter todo um conceito que envolvia uma série de ideias correlatas, e assim, revelava-se na verdade, como um manifesto artístico em correlato.

Tudo mudou, no entanto, quando o nosso sonho utópico chocou-se com a realidade do mundo da produção musical em si e a dura situação do underground, sobretudo, pois sobreviver no subterrâneo da música, longe dos holofotes do mainstream, é extremamente difícil, e nesses termos, começar do zero teria sido ainda muito pior. 

Entretanto, nesses dias que antecederam a Jam e em mais alguns que sucederam-na, ainda não ponderávamos essa questão, talvez inebriados pela utopia artística do bonito trabalho que construímos, em detrimento da aspereza do mundo dos negócios e sobretudo, o da sobrevivência. 

Aproximo-me do final deste relato sobre o Sidharta.

Realmente o trabalho não encerrou-se, mas ao fundir-se com a Patrulha do Espaço, mudou um pouco em alguns aspectos, ao deixar de possuir a sua pureza individualizada e preservada. 

Não que houvessem sido promovidas mudanças estruturais que descaracterizaram o âmago do projeto. Pelo contrário, o Júnior comprou a ideia do resgate retrô, pois também acalentara o desejo de trazer as suas raízes pessoais e da própria Patrulha do Espaço, à tona, visto que há pelo menos quinze anos, a banda havia saído de seus trilhos naturais, para enveredar pela seara do som pesado, quase a transformar-se em uma banda de Heavy-Metal. 

Mas a essência do projeto manteve as suas características próprias e nesse sentido, o Sidharta morreu para renascer como Patrulha do Espaço, e por ter sido dessa forma, vestiu necessariamente algumas peças de roupas diferentes, pois assumira um passado construído por outrem. 

Em suma, deixamos a pureza do trabalho original mesclar-se com a construção antiga de um outro trabalho, para trazer por extensão, aspectos bons e ruins.

O "karma" da Patrulha do Espaço acomodou-se sob os nossos ombros: no meu, Luiz, do Rodrigo e do Marcello, mas foi inevitável que isso acontecesse. 

Tudo isso que eu observo é fruto de uma análise feita friamente, a posteriori (em 2016, momento em que escrevo este trecho de minha narrativa), e sob a óbvia inerência do distanciamento histórico.

Portanto, no calor dos acontecimentos, em 1999, não tivemos a dimensão das consequências, boas e más que essa fusão de trabalhos e currículos, acarretar-nos-ia. 

Para ser muito justo, creio que no cômputo final, não há motivos para aborrecimentos, pois mesmo que a Patrulha do Espaço, tenha enfrentado inúmeros percalços doravante no campo artístico, o Sidharta dificilmente teria uma repercussão no patamar de médio e grande porte, mesmo ao contar com dois veteranos razoavelmente conhecidos no meio musical/Rocker (refiro-me ao Zé Luiz, e eu mesmo, Luiz, no caso), além do talento absurdo dos então muito jovens, Rodrigo e Marcello, esse panorama muito provavelmente não seria alterado. 

Para encerrar a história do Sidharta, digo que tenho um orgulho imenso por ter criado esse trabalho como elemento responsável pelo estopim inicial, em torno de meus ideais primordiais.

O Sidharta, apesar de nunca haver se concretizado como uma banda de fato, pois nunca gravou ou apresentou-se ao vivo, foi a banda em que eu mais perto estive de meu sonho (claro, considero a Patrulha do Espaço, extensão disso, graças à fusão das bandas/trabalhos). 

O que eu dimensionara na adolescência, lá atrás, nos anos setenta, foi ipsis litteris, o que o Sidharta deveria ter sido se tivesse consolidado-se como uma banda ativa. 

Um verdadeiro manifesto de fé nos valores do Rock sessenta-setentista, a passear por diversas vertentes musicais dessas décadas, proposta coadunada nas letras das canções, no visual dos seus componentes, nas posturas, nos ícones, nas referências e até no campo subliminar a dar margem aos aspectos mais sutis e até inusitados a avançar pelo campo metafísico ou esotérico. 

Acredito que 100% desse conceito foi levado e implementado na volta da Patrulha do Espaço a partir daí, mas a pureza inicial do projeto, mudou, por força dos acontecimentos. 


Das vinte e duas músicas compostas, uma não foi fechada, portanto, ficou sem título e arranjo definitivo. Sete ficaram inéditas, e as restantes, formaram o bojo do CD "Chronophagia", da Patrulha do Espaço, lançado em 2000.  

Duas foram regravadas com modificações pelo "Pedra" ("Estar Feliz Consigo", transformou-se em: "To Indo a Mil", no CD Pedra II, de 2008 e "Abstrato Concreto", que está gravada com arranjo bem diferente da versão do Sidharta, e foi lançada no álbum "Fuzuê", de 2015). 

A canção chamada, "Do Começo ao Final", foi gravada pelo Marcelo Schevano, para um possível disco solo dele, mas que não foi lançado, pelo menos até agora, 2016, quando publico este trecho final deste capítulo.

Tenho vontade de resgatar músicas não aproveitadas, como: "O Futuro é Já", "Sonhos Siderais" e "Fogueira das Vaidades", mas acho que não encaixam-se no trabalho d'Os Kurandeiros, ou do "Nudes" de Ciro Pessoa, bandas em que atuo neste instante, simultaneamente. Vejamos se no futuro, surjam oportunidades para que eu possa promover tais resgates desse porte. 

Como eu já disse anteriormente, só existe um vídeo amador a registrar um ensaio do Sidharta realizado no estúdio do Paulo Antonio Pagni (P.A.), no segundo semestre de 1998, mas sem data definida. 

Rodrigo e Marcello já disseram-me que não possuem nenhuma foto ou vídeo que eu não tenha, também e que já estejam publicados para ilustrar os capítulos da minha autobiografia nos Blogs. Talvez algum amigo surja um dia com algo inesperado, fruto de uma visita a um ensaio na época, e cuja ocasião, eu nem lembre-me.

De minha parte, pretendo lançar algum material do Sidharta na internet, seja esse vídeo que já citei, sejam promos das músicas, mediante edições a resgatar-se o áudio de fitas K7 que tenho de diversos ensaios promovidos, entre 1998 e 1999. Se tudo der certo, lançarei tais novidades no YouTube, ao priorizar as sete músicas inéditas que nunca foram gravadas. 

Para encerrar este relato, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte do projeto, direta ou indiretamente. Rodrigo Hid; Marcello Schevano, e José Luiz Dinola, em primeira instância. Como é sabido por todos, Rodrigo e Marcello seguiram comigo, quando o Sidharta fundiu-se à Patrulha do Espaço. 

Através de seis anos que ficamos juntos com a Patrulha do Espaço, foram cinco álbuns gravados, mais de cento e vinte shows, várias aparições na TV, execuções no rádio; um portfólio volumoso ao extremo com matérias provenientes de jornais e revistas e muitas histórias que o leitor pode acompanhar no capítulo dessa banda, à sua disposição em minha narrativa.

Hora de falar sobre os amigos e colaboradores desse trabalho:
        A atuar pela noite, o baterista e gentleman, Marcos Almada

Marcos Almada: agradeço-lhe por quase ter feito parte da banda. Marcos seguiu a tocar pela noite paulistana, ao atuar em bandas especializadas em tributos. Ultimamente (2016), tocava em um "Rainbow" Cover, e também em um "Scorpions" Cover. 

José Luiz Rapolli, grande baterista e amigo que tenho em alta estima e tenho certeza, tudo não passou de um mal-entendido sobre a conversa que nunca aconteceu sobre essa banda

O baterista do "RPM"; vocalista do "Neanderthal", e dono do estúdio mais "freak" da Vila Mariana, Paulo P.A. Pagni

Sobre os estúdios por onde ensaiamos, ao destacar-se a caverna Hippie do Paulo "P.A". Antonio Pagni, que teve tudo a ver com a atmosfera que queríamos resgatar. Saudade desses ensaios perfumados por dúzias de incensos que tanto queimamos por lá. 

Paulo "P.A" Antonio Pagni, fechou o seu estúdio ainda no início dos anos 2000 ao vender a sua casa localizada na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo e foi morar em um sítio, no interior do estado. 

Voltou ao "RPM" a seguir e tem feito parte dessa banda em suas várias idas e vindas, desde então. 

Estendo o agradecimento às figuras simpáticas de Nobuga e Hélcio Aguirra, que sempre estiveram no estúdio/residência do "PA" e acompanharam de perto o desenvolvimento desse nosso trabalho.

Roberto Garcia Morrone e Carlos Alberto Fazano pelo apoio e entusiasmo por esta banda/projeto.

Os amigos colaboradores e incentivadores, minha tropa de Neo-Hippies que lotava os ensaios, ao fazer deles, verdadeiras apresentações ao vivo. 

E aos Deuses do Rock... 

 Colaborador parceiro

Julio Revoredo

Meu amigo, colunista do meu Blog 2 e colaborador brilhante através de mais de três décadas, o poeta: Julio Revoredo

Julio Revoredo colaborou no meu Blog 2, como colunista fixo, durante cinco anos (2012/2017), ao publicar os seus poemas, sempre brilhantes, desde que coloquei o blog no ar, em abril de 2012.


Ex-membro:

Deca

  Deca, em meio à sua performance sempre ensandecida, a serviço do "Baranga"

Luciano "Deca" Cardoso (guitarrista dos momentos iniciais do Sidharta e parceiro de composição da música: "Céu Elétrico"). Deca formou o "Baranga", logo que deixou o Sidharta e segue firme nessa banda que acumula uma longa discografia nos dias atuais, além de possuir muitos admiradores.

E por fim, ao falar sobre os companheiros dessa fantástica jornada que teve a força de um "sonho que se sonha junto e se torna realidade", como diria o Raul Seixas...

Rodrigo Hid

Rodrigo Hid a atuar com o "Pedra", em um show de 2006. Click de Grace Lagôa

Após a fusão do Sidharta com a Patrulha do Espaço, Rodrigo Hid, seguiu comigo no "Pedra" (a gerar mais histórias e a gerar capítulo específico, naturalmente), além de engatar muitos trabalhos como side-man de artistas famosos (Renato e Chico Teixeira entre eles), muitas participações em estúdio, ao gravar muitos discos de outros artistas, e realizar trabalhos solo. 


Marcello Schevano

             Marcello Schevano, em ação com o Carro Bomba

Marcello Schevano, após deixar a Patrulha do Espaço onde atuou comigo, Luiz, Rodrigo e Rolando, montou o "Carro Bomba", uma banda que angariou um bom público no mundo do Hard Rock/Heavy-Metal e tocou também com expoentes do Rock setentista em atividade na atualidade, tais como: "Casa das Máquinas" e "Som Nosso de Cada Dia". Prossegue com o Carro Bomba e o "Golpe de Estado", nos dias atuais. 


José Luiz Dinola
Foto promocional do Violeta de Outono, com Dinola na formação

José Luiz Dinola, seguiu a tocar pela noite, até ingressar no Violeta de Outono em 2012 e vive uma grande fase com essa excelente banda psicodélica/progressiva, ao ter gravado discos e a excursionar por todo o Brasil com tal banda.

Está encerrado este capítulo importante de minha trajetória musical e Rocker. 

Tenha uma certeza, amigo leitor: o Sidharta não tocou ao vivo, tampouco gravou, mas mesmo por ter sido mais um projeto do que uma banda consumada, de fato, teve (tem) valor inestimável para a minha carreira, pois fez-me sonhar de novo, fator que houvera ficado obscurecida, há anos, por vários motivos expostos ao longo dos diversos capítulos que cobrem a minha cronologia, em diversas bandas e circunstâncias pelas quais passei.

 

Obrigado por ter lido, amigo leitor e aguarde eventuais novidades sobre resgates deste trabalho em termos de materiais que eu tentarei promover, em qualquer momento. 

Daqui em diante, siga a ler a narrativa sobre a minha trajetória com a Patrulha do Espaço!

Desejo-lhe, paz e amor, bicho... e tenha uma convicção: o sonho nunca acaba para quem nele acredita.