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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sidharta - Capítulo 1 - A Buscar o Sonho Sessenta-Setentista - Por Luiz Domingues

 
Cansado de interagir no mundo underground (mesmo ao ter feito anteriormente um trabalho versado com elementos "indie" e nem assim conseguir adentrar enfim no mainstream, bem recentemente com a minha banda anterior), eis que eu saturei-me e dessa forma, eu pedi as contas do Pitbulls on Crack, após um último show realizado com essa banda, em agosto de 1997.

Nada contra os colegas (muito pelo contrário, o relacionamento pessoal era ótimo nessa banda), mas a aposta na contramão da estética anticomercial também não lograra êxito para a minha trajetória pessoal e dessa forma, eis que eu decidi radicalizar, ao sair e partir assim para um projeto onde decidira tocar o som que gostava, sem nenhuma preocupação com o mercado, tampouco sobre a opinião dos críticos comprometidos com o niilismo de 1977 e sobretudo, sem preocupação financeira, visto que eu estava a manter-me pessoalmente, ao ministrar aulas. 

O meu plano foi criar uma banda onde eu pudesse planejar cada pequenino detalhe e não errar, ao basear-me na experiência adquirida ante os erros cometidos em trabalhos anteriores.

Eu (Luiz Domingues) e Rodrigo Hid, na minha sala de aulas, em 1996

E o primeiro quesito a ser observado, foi a escolha dos componentes. O primeiro músico em que eu pensei que poderia se adequar ao projeto, foi: Rodrigo Hid, mas cabe uma explicação anterior. 

Eu comecei a ministrar aulas em julho de 1987. No início dessa atividade, procuravam-me, garotos que eram fãs d'A Chave do Sol, a minha banda na década de oitenta, e o espectro de 99 % deles, fora o pelo Heavy-Metal e o Hard-Rock oitentista. 

Com o tempo, tal predisposição pôs-se a mudar e por volta de 1992, começou a aparecer uma nova safra de garotos na minha sala de aulas e para o meu espanto, muitos desses novos garotos se mostraram influenciados por bandas oriundas dos anos 1960 & 1970. 

Então, entre 1992 e 1999, a minha sala de aulas tornou-se um núcleo, onde bandas formaram-se e ideias borbulharam a fomentar uma célula contracultural em vias de se tornar uma pequena cena artística.

E não foram somente esses alunos, mas vários agregados que aproximaram-se com a mesma mentalidade, como por exemplo: companheiros de suas respectivas bandas de garagem, irmãos, amigos, primos, vizinhos, colegas de escola, namoradas etc. 

Já em 1994, estava formado um pequeno exército composto por autênticos "neo-hippies". Se tratava de uma garotada extremamente jovem e antenada nessas décadas pregressas e tão esfuziantes. 

Nesses termos, foi engraçado verificar a movimentação cotidiana em minha residência, mediante a presença de cabeludos a usarem batas indianas coloridas e calças ao estilo "boca-de-sino", anacrônicas, certamente para o momento noventista, mas significativas enquanto intenção da parte deles. 

E ante essa euforia em torno de uma estética retrô assumida a produzir empolgação generalizada, eu percebi o talento nato de vários meninos, entre eles: Rodrigo Hid e Marcello Schevano. Não pensei no Marcello sob um primeiro instante para fazer parte da banda que eu tencionei formar, por ele ser muito novo ainda, mas de uma forma quase contraditória, o Rodrigo, com 18 anos em 1997, pareceu-me um pouco mais preparado.

Então, ao saber que ele acabara de encerrar as atividades com sua banda adolescente, o "Eternal Diamonds" (cujo baixista era o meu aluno, Alexandre "Leco" Peres Rodrigues, e hoje em dia, este meu aluno é o baixista e líder do Klatu), formulei-lhe o convite e ele o aceitou prontamente. 

Conheci o Rodrigo em 1992, apresentado pelo Alexandre como seu colega de escola e guitarrista de sua banda. Apesar de ser um adolescente imberbe, logo impressionei-me quando o vi a tocar violão. Ele apresentava uma técnica muito acima do esperado para um adolescente e com ótimas influências em sua formação musical.

Rapidamente eu soube que o seu pai (o meu grande amigo, Tufi Hid), fora guitarrista igualmente, desde os anos sessenta, quando teve uma banda, que apresentou-se no circuito de bailes, domingueiras e matinês de clubes paulistanos significativos, como o Clube Atlético Ypiranga, por exemplo, o glorioso "CAY", localizado no Ipiranga, bairro da zona sudeste de São Paulo, onde ele e os demais membros da sua banda, viviam. 

Tufi estudou no Colégio São Francisco e os outros membros da banda, no Colégio Alexandre de Gusmão (ambos famosos no bairro), e eu gostei muito de saber, através dele mesmo, que nos anos sessenta não existira um quarteirão do Ipiranga que não houvesse ao menos uma banda a ensaiar aos sábados e isso foi a mesma lembrança pessoal que eu tinha da Vila Pompeia, do outro lado da cidade, onde eu vivi em 1966 e 1967, paralelamente. Tempo mágico, aliás.

         Rodrigo e Tufi Hid, filho & pai, em foto bem mais atual

Tal banda chamava-se: "D'Bicols", um trocadilho engraçado com o fato de seus componentes se considerarem como "bicos" (uma gíria de época que designava pessoas inconvenientes, que costumavam penetrarem em festas alheias, sem serem convidadas), com a óbvia menção à banda máxima dos anos sessenta, The Beatles. 

Tal banda fora fundada em 1966 e Tufi Hid foi o seu guitarrista até 1969, quando saiu e a banda continuou em atividade musical por mais um tempo. Como um dado muito interessante é bom assinalar que na sua formação, passaram músicos que fariam carreira na música, posteriormente, como por exemplo, Gal Oppido (futuro baterista do Grupo "Rumo", nos anos 1970 & 1980), Zé Gaspar (este atua até hoje, com uma big band de R'n'B/Soul e Blues pela noite paulistana), e Irineu Gasparetto (irmão de Luiz Gasparetto e filho de Zíbia Gasparetto, famosos médiuns espíritas e escritores), além de Xandão, e Ricardinho Correia (filho do famoso repórter, "Tico-Tico", que foi muito famoso na Rádio e TV Bandeirantes, por muitos anos).

Tufi contou-nos que existe uma filmagem em formato Super-8 de uma apresentação do "D'Bicols", feita pelo próprio repórter "Tico-Tico", mas infelizmente ele não possui uma cópia. 

Outra reminiscência que narrou-nos, foi que certa vez, em um show realizado na cidade de Praia Grande-SP, por volta de 1967, ele chegou a tocar com uma guitarra que pertencia ao Roberto Carlos, oferecida como empréstimo, por Mariozinho Rocha, pois o D'Bicols fez o show de abertura para o Roberto e a sua famosa banda o RC7. 

Tufi ensinara violão e guitarra ao Rodrigo, desde a tenra idade, além de ter contratado uma professora de piano para o seu filho se desenvolver igualmente nesse instrumento. 

E aos 8 anos de idade, Rodrigo venceu um desafio de execução de músicas dos Beatles, ao concorrer com adultos. Isso ocorreu em uma festa do fã-clube "Revolution" dos Beatles (não foi na sua sede localizada na Avenida Faria Lima, pois isso ocorreu em uma casa noturna chamada: "Espaço Retrô"), ocasião em que o Rodrigo tocou com adultos, membros de bandas cover dos Beatles (a sua memória não foi precisa, mas ele contou-me sobre terem sido membros de bandas cover famosas da noite paulistana, como "Comitatus" e "Beatles Forever"), e com o seu desempenho impressionante para um menino de apenas oito anos de idade na ocasião, ele ganhou um disco pirata dos Beatles, por conta de seu desempenho nesse desafio. 

Esse feito foi registrado pelo jornalismo do SBT e o Rodrigo tem guardada essa reportagem armazenada em uma fita VHS, mas não sei se já providenciou a sua digitalização. 

Além disso tudo, eu sabia que ele tinha talento vocal, também, pois diversas vezes o vi a imitar o Greg Lake, ao cantar trechos de músicas do "King Crimson" e "ELP", com um timbre absolutamente parecido e muito alcance, sustentação, afinação e emissão potente.

Eu sempre soube e desde muito tempo, que ele comprovara ser um tremendo vocalista. E para completar, eu tinha consciência do seu talento como compositor, pois ele mostrava-me sempre as suas canções e apesar da sua suposta imaturidade à época, o material que mostrava-me continha muita qualidade. Uma vez, ele chegou a mostrar-me uma canção que compusera, com um arranjo de cordas sofisticado, que elaborara em um sintetizador. 

Na época, setembro de 1997, eu tinha trinta e sete anos de idade e ele, quase dezenove. Sob um primeiro instante, eu tive a convicção sobre o seu talento, mas confesso que internamente fiquei sob um conflito, pois estava a formar uma banda com alguém muito inexperiente e isso gerou-me dúvidas. Mas enfim eu relevei essa insegurança e mantive o convite de pé.

O Sidharta, na verdade, começou na minha imaginação, bem antes.
Foi uma conjugação de vários fatores, insights, ânsia de libertação de várias amarras acumuladas e esperança, principalmente em uma surpreendente juventude que borbulhava em meio a ideias antenadas na égide sessentista e que eu recebia costumeiramente na minha sala de aulas de baixo. 

Esse sentimento que começara timidamente ao final dos anos 1980, na minha mente, pôs-se a crescer com o avançar da década de 1990, e refletiu-se no aparato que cercou o lançamento do CD "Lift Off", do Pitbulls on Crack. Evidentemente que eu já falei sobre isso no capítulo sobre a minha trajetória com tal banda.

Então, sob tal sentimento forte no sentido de desejar resgatar as minhas raízes sessenta-setentistas, eu resolvi enfim romper com toda forma de subserviência e resignação em torno desse fio-da-meada inconvenientemente rompido e decidi assim sair do Pitbulls on Crack, para formar uma nova banda da estaca zero, sem importar-me com questões mercadológicas, estética comprometida com a tendência contemporânea, ou fatores correlatos.
A ideia foi curta e grossa: teria que ser uma banda inspirada na estética daquelas duas décadas, aberta à todas as suas vertentes e a resgatar signos paralelos e inerentes.

Rodrigo Hid em 1997, a parecer-se com um gnomo, que teve uma boa ideia.

Quando essa ideia amadureceu, finalmente, a primeira persona que eu convidei foi o Rodrigo Hid, um jovem talento que conhecera desde o início da década e além do talento musical enorme que ele já demonstrava, Hid continha em sua bagagem pessoal, uma formação cultural sólida no tocante ao apreço pelas décadas de 1960 & 1970. 

Como já comentei, eu nutria uma insegurança apenas por ele ser muito jovem e inexperiente, mas por outro lado, nunca tive nenhuma apreensão em relação à sua musicalidade, pelo contrário, isso foi um fator a alimentar uma grande esperança que eu tive, na questão da qualidade que essa nova banda teria com um músico desse alto gabarito na formação.

Ele crescera a aprender guitarra e violão com seu pai e por ouvir música com qualidade, graças ao suporte oferecido por uma enorme quantidade de vinis, oriunda da coleção do Tufi Hid, como uma herança cultural riquíssima e absolutamente natural. 

Rodrigo aceitou de pronto o convite e mostrou-se animado com o projeto. Começamos a mostrar riffs que tínhamos, um ao outro e o segundo músico foi convidado para reforçar a nossa iniciante banda: Luciano Curvello, o Deca, guitarrista do Pitbulls On Crack.

Apesar de certas desconfianças análogas, como eu já relatei anteriormente, não tive receio algum da minha busca, pois eu estava a romper com uma série de amarras e sendo assim, estive cônscio e convicto do que desejava. 

Além do mais, eu estava cansado por buscar brechas para entrar no mainstream por um lado (após inúmeras tentativas com bandas como: A Chave do Sol, A Chave/The Key e Língua de Trapo), ou pelo outro lado, da formação de opinião em prol do Indie-Rock (Pitbulls on Crack). 

Portanto, eu chegara à conclusão em 1997, que se não agradara nem gregos, nem troianos, eu deveria despreocupar-me e buscar o som pelo prazer e não pela oportunidade ou adequação ao mercado.

Ao falar das bandas que eu tive nos anos oitenta, Língua de Trapo e A Chave do Sol, ambas não foram "oitentistas", propriamente ditas.

O Língua de Trapo produzia música satírica e, portanto, necessariamente a se mostrar como uma banda atemporal e desvinculada de compromisso com estéticas quaisquer que fossem e A Chave do Sol só aproximou-se de algo mais oitentista em dois momentos: em 1985, por imprimir peso próximo da sonoridade Heavy através do EP lançado naquele ano e após 1986, quando reformulou-se, ao buscar a seara do Hard-Rock mais sob o caráter Pop. 

E mesmo assim, no caso do EP, os arranjos inspirados pela escola do Jazz-Rock, foram mais setentistas do que qualquer outro fator, apesar do peso Heavy, e na fase Hard-Pop, em que houve um pouco de elemento oitentista, mas a conter cargas setentistas via "Led Zeppelin", "Bad Company" "Free", e outros artistas como influência, foram bem mais marcantes. 

Oitentista mesmo, foi a banda dissidente que eu formei emergencialmente, A Chave/The Key, atuante após 1988, com aquela nova formação e a sua mentalidade mergulhada no virtuosismo a la Malmsteen, por tal escolha ter vindo da parte das escolhas pessoais dos seus novos componentes, Edu Ardanuy e Fábio Ribeiro, sobretudo. 

E quanto ao Pitbulls on Crack, esta fora uma banda bem "indie" noventista em sua essência primordial, mas com o Deca a realizar solos ao estilo do "AC/DC" e eu a estabelecer linhas de baixo trabalhadas (por que não eu aguentava tocar sob uma nota só), culminou-se em fornecer ares setentistas às músicas, mais ao torná-la próxima do Glitter-Rock daquela década.

O grande "Mott the Hoople", na primeira foto, um dos maiores baluartes do movimento Glitter-Rock britânico, nos anos setenta. Na segunda foto, o guitarrista Deca, em foto bem mais atual, dos anos 2000

Pensei no Deca, por conhecê-lo como guitarrista e pessoa, visto que trabalhamos cinco anos juntos com o Pitbulls on Crack e ele também mostrara-se cansado com a falta de maiores perspectivas para tal banda, visto que alcançara uma grande exposição na mídia, mas simplesmente não alavancara-se para um sucesso maior. 

Em nossas conversas, além de mostrar essa certa frustração com o rumo do Pitbulls on Crack, ele dizia-me ter vontade de montar uma banda com características setentistas explícitas.

Diante dessa afirmativa da parte dele, eu considerei uma escolha natural ter a sua presença na nova banda, para encorpar o som e garantir mais experiência para contrabalançar-se com a extrema juventude do Rodrigo Hid. 

Feito isso e após ter desligado-me do Pitbulls on Crack, começamos a reunirmo-nos para mostrarmos riffs e iniciarmo-nos a compor o material da nova banda. 

Pensamos em alguns nomes para a bateria. Eu estava obcecado pela ideia de formar uma banda radicalmente retrô, para resgatar a sonoridade das décadas de 1960 & 1970, sem subterfúgios e eu sabia que não poderia errar na escolha dos componentes. Teria que ser uma pessoa que coadunasse-se perfeitamente com esses princípios.

José Luiz Rappoli, quando trabalhou em uma loja de instrumentos, ao mostrar uma guitarra, mas não enganem-se, ele é baterista.

Fizemos uma lista e o primeiro nome que surgiu foi o de José Luiz Rapolli, baterista que tocou n'A Chave/The Key, ao ter gravado o álbum, chamado: "A New Revolution", de 1989 e lançado apenas em 1990. E por que não pensei no outro José Luiz, o Dinola, que tocou cinco anos comigo n'A Chave do Sol, se era mais técnico e muito mais amigo meu pela convivência maior?

Exatamente pela razão que eu expus acima, ou seja, por conhecer muito bem o Dinola e saber que nesse projeto, ele não encaixar-se-ia direito, pois não possuía nem de longe essa ligação forte, seminal e "umbilical", eu diria, com essas décadas pelas quais eu queria promover um verdadeiro "religare".

Então, ao expor esses fatos ao Rodrigo e ao Deca, eu expliquei os meus motivos e eles entenderam essa escolha. E claro, fiquei com a incumbência de procurar o Rapolli e formular-lhe o convite. 

Eu sabia nessa época que ele estava com dois empregos, a trabalhar em uma loja de instrumentos na Rua Teodoro Sampaio no bairro de Pinheiros e a tocar com uma banda cover pela noite paulistana.

Sabia, portanto, que o Rapolli estava há anos mergulhado sob tal dinâmica de tocar em bandas cover da noite e que isso geralmente tendia a viciar muito mal o músico, mas eu não tive a dimensão da permissividade com a qual tal dinâmica já houvera comprometido a sua descrença no trabalho autoral. 

Sem essa informação concreta em mãos, fui atrás do seu contato e descobri a loja em que ele estava a trabalhar. Liguei para ele, que mostrou-se muito receptivo e disse-lhe que estava a formar uma nova banda sob tais características marcadas pela estética retrô explícita e que gostaria de conversar com ele pessoalmente, para explicar-lhe melhor as ideias e apresentar-lhe os outros membros, Deca e Rodrigo.

O Rapolli e sua banda, Pink Floyd Cover. Ele é o segundo da esquerda para a direita

Marcamos o apontamento para o sábado subsequente e assim que cheguei no horário combinado, entrei na loja e ao saber que ele não estava ali no momento, recebi um recado por outro funcionário, de que ele atender-me-ia após o fechamento da loja. 

Disse ao rapaz que me atendera que eu estaria ao lado, na loja de CD's do meu amigo, Sergio Takara e que às 17:00 horas em ponto, eu voltaria. 

Ao faltar dez minutos para as cinco da tarde, eu voltei e qual foi a minha surpresa ao ser informado que o Rapolli já havia ido embora, e não deixou nenhuma justificativa, nenhum recado.  

Quero crer que tudo não tenha passado de um enorme mal-entendido, pois sempre tive o Rapolli como um tremendo sujeito do bem. 

 Partimos então para a segunda opção, um baterista chamado: Marquinhos Almada, que trabalhava no estúdio Spectrum, no bairro do Ipiranga, onde o Pitbulls on Crack ensaiava desde 1994.

Marquinhos ofereceu-nos os seus serviços, ao saber de nossa intenção, já que ouvira conversas nossas no estúdio. Marcamos então uma conversa com ele, em sua residência no bairro do Ipiranga. Lembro-me que ocorreu em um dia de feriado, 12 de outubro de 1997.

                            O bom baterista e pessoa do bem, Marcos Almada

Então fomos conversar com o baterista, Marquinhos Almada. 
Ele mostrou-se receptivo no primeiro instante, mas depois a conversa afunilou-se em torno do Hard-Rock e aí percebemos mutuamente que entraríamos fatalmente em um conflito mais para a frente, por que o Sidharta pretendia ser uma usina de sons abertas a várias tendências, e não apenas para o Hard-Rock. 

Continuamos então a nossa busca a pensarmos em outros nomes. O nosso amigo, o baterista, Paulo Thomaz, então a atuar no Cheap Tequilla (e hoje no Kamboja), sugeriu o nome de Alex Soares.

Na capa do CD do Big Balls, lançado em 1996, Alex Soares é o rapaz careca e afastado dos outros membros da banda, na ilustração

Ele houvera sido baterista do "Big Balls", do Xando Zupo e fora ex-aluno do Paulo Thomaz. Contudo, estava ausente naqueles tempos e o Paulo ficou incumbido por nós, de descobrir o seu paradeiro. O fato foi que o Paulo não conseguiu achá-lo nessa época, mas quase sete anos depois, por pura coincidência eu estaria a ensaiar nos primeiros momentos do "Pedra", com ele, Alex Soares. 

Veterano no circuito Rocker de São Paulo, o baterista, Tibério Corrêa

Enquanto esperávamos o contato do Alex Soares, que na verdade, nunca chegou, pensamos também em Tibério Corrêa, por este ser um músico que era egresso dos anos 1960 & 1970 e certamente ele entenderia a nossa proposta.  

Mas também ponderamos que ele estava envolvido demais com o Heavy-Metal oitentista do Harppia, a sua banda e talvez tivesse perdido o contato com as raízes.

Prosseguimos a ensaiar e a compormos entre os três membros já presentes na formação. A primeira música que nós trabalhamos juntos, foi uma ideia original minha, que eu havia composto ao violão e na qual o Rodrigo empreendera alguns melhoramentos em sua estrutura básica. 

Ainda sem nome definido (nem letra, aliás), se tratara de um tema versado pelo estilo da Soul Music, bem setentista, com estilo "Blaxpoitation" assegurado. Informalmente, nós a apelidáramos como: "Jackson Five".  

A segunda a ser composta, fora uma ideia do Rodrigo. Tratou-se de um Rock e eu colaborei ao escrever a sua letra, chamada como: "Retomada", que evocava aquele momento bonito de religação com o ideal "Woodstockeano". Lembrava bem o Rock brasileiro setentista, talvez no estilo do "Bixo da Seda", ou "O Peso". 

Uma terceira canção foi composta pelo Rodrigo e lembrara demais o som do "Led Zeppelin". Similar ao espectro de canções como: "The Rain Song" ou "Ten Years Gone", por exemplo.  

O Rodrigo a batizou com um nome com certa conotação esotérica, talvez lisérgica: "O Pote de Pokst". Essas foram as primeiras, mas logo surgiram outras composições, ainda em 1997.

Então, findou-se o ano de 1997 com o Rodrigo a preparar uma nova música, que seria batizada como: "Alma Mutante" (a letra é minha, neste caso), e nós dois a trabalharmos juntos em um riff, que transformar-se-ia em: "Tudo Vai Mudar". 

Eu não tenho nem 1% da habilidade aos teclados que o Rodrigo Hid e o Marcello Schevano possuem. Mas sei montar meia dúzia de acordes e sustentar um ritmo 4/4 em stacatto, portanto, ao brincar em um piano, ao final de 1997, eu pude compor: "Sr. Barinsky (Admirável Sonhador)". 

Claro, meses depois essa peça ganhou corpo nos ensaios, com a colaboração da banda inteira nos arranjos. A letra, trata de um homem idoso que vê a vida passar pela sua janela, de uma forma incólume.

Confesso que inspirei-me em "Dear Prudence" dos Beatles para compor essa "Beatle Song" e "Eleanor Rigby", também dos Beatles, para escrever a letra na terceira pessoa, ao narrar essa história. 

Na época, não percebíamos, mas o Deca estava a trazer poucas ideias às composições. E ele é bastante criativo normalmente, vide os riffs típicos de Rock'n' Roll que cria para formatar o trabalho do "Baranga", a sua banda desde 1999, mais ou menos. Mas isso só ficou claro, a partir de março de 1998, conforme eu esclarecerei posteriormente.

        José Luiz Dinola, ao vivo com A Chave do Sol, em 1986

Prosseguimos a pensar em um baterista ideal, em janeiro de 1998, quando eu recebi o inesperado telefonema de um velho amigo: José Luiz Dinola, o meu ex-colega d'A Chave do Sol. O Dinola ligou para saber o que eu estava a fazer, pois pensara em convidar-me para fazer parte de um combo orientado pelo blues, que estava a desenvolver com o guitarrista, Marcelo Watanabe. 

Então, ao interpretar esse telefonema dele quase como um "sinal", eu resolvi contar-lhe sobre o Sidharta, as nossas pretensões, também a respeito do talento incrível do Rodrigo Hid, como multi-instrumentista, cantor e compositor, o ótimo guitarrista que o Deca era e a existência de algumas músicas já compostas. 

O Dinola quis saber mais e assim marcamos uma reunião na casa dele, em Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo, onde morava. Eu conhecia bem a sua mentalidade e sabia que muito provavelmente não encaixar-se-ia sob tal proposta retrô, mas... era um amigo nota mil e um músico espetacular.

Continua...

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