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domingo, 15 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 37 - Agradecimentos Finais do Capítulo e Espaço Aberto a Novas Histórias - Por Luiz Domingues

Encerro parcialmente, portanto, esta parte da minha autobiografia, a compreender o período de abril de 1976, a abril de 2016, e a deixar claro que é na verdade, um capítulo sempre pronto a ser reaberto, a qualquer instante.
Agradeço a todos os músicos, produtores, técnicos, empresários e jornalistas especializados, que estiveram envolvidos em todas as histórias, que eu aqui relatei. 
 
A minha carreira toda foi focada na busca pelo trabalho autoral, e na maior parte do tempo, a minha atenção foi dedicada às bandas autorais imbuídas da construção de uma carreira.

Todavia, neste longo capítulo, eis que relembrei muitos casos, muitas passagens e histórias, que acumulei no campo dos trabalhos avulsos.
Muito obrigado à todos que ajudaram-me nesse quesito, desde o longínquo ano de 1979, quando eu recebi o primeiro convite de minha carreira, para um trabalho dessa natureza.

Muito obrigado por ter lido, amigo leitor! 

Este capítulo fica em aberto, contudo, para dar vazão aos novos trabalhos avulsos que já surgiram, aliás, e que serão relatados a partir de outubro de 2017, quando eu começarei a publicar adendos ao texto autobiográfico do primeiro livro, com as devidas atualizações da minha carreira musical, no pós-abril de 2016 e que certamente irão compor o texto do segundo livro autobiográfico, a seguir.

Daqui em diante, o próximo tópico de meu primeiro livro neste blog é a minha história com a banda cover, "Terra no Asfalto". com a qual atuei entre 1979 e 1982.

sábado, 14 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 36 - Edy Star: A Acompanhar o Marc Bolan Brasileiro - Por Luiz Domingues

Por volta de outubro de 2014, o guitarrista, Kim Kehl, formulou-me um convite. Com o impedimento de nosso amigo em comum, Marcião Gonçalves, que estaria a cumprir data com o famoso artista Folk, Renato Teixeira, surgiu a oportunidade para que eu o substituísse na banda de apoio do grande, Edy Star, a visar um show que seria realizado em novembro. 

A banda de apoio de Edy Star, chamava-se: "Easy Rider's Band" e tinha como baixista titular, o Marcião Gonçalves, desde muito tempo. Com a presença do Kim Kehl a pilotar a guitarra e o meu colega do "Pedra", Ivan Scartezini, na bateria, o convívio e entrosamento seriam automáticos, naturalmente.  

Como se não bastasse, haveria a presença das ótimas vocalistas, Ivani Venâncio e Renata "Tata" Martinelli, ambas minhas amigas, e no caso da Tata, com um convívio muito bom no início de minhas atividades com Os Kurandeiros, em 2011. Em suma, seria um prazer duplo, por acompanhar um artista histórico da MPB & Rock brasileiro setentista e também para atuar ao lado de tantos amigos com os quais eu estava habituado a tocar, em bandas e circunstâncias diferentes.

O Baixista & Guitarrista, Marcião Gonçalves, titular da Easy's Rider Band, de Edy Star, nessa época. Fonte: Internet

Claro que eu aceitei, e ainda mais para cobrir a lacuna de um velho e bom amigo, o talentoso baixista & guitarrista, Marcião Gonçalves,  era (é) sempre um prazer poder ajudá-lo (sei que a recíproca é verdadeira), e posso contar com ele em qualquer eventualidade que eu não possa estar presente.

A capa do LP "Sweet Edy" de Edy Star, lançado em 1974

Definido o Set List, eu preparei muitas músicas do repertório solo do Edy, muitas do Raul Seixas, o seu parceiro mais famoso e clássicos da Jovem Guarda e do mundo popularesco da música mainstream. Haveria também a participação de um jovem artista da cena "indie" em voga, chamado: Juliano Gauche e nós tocaríamos uma canção de seu repertório, igualmente.

                           Edy Star em foto promocional dos anos setenta

Seria um show de Rock, com sabor de diversão e a conter um óbvio apelo "Glitter-Rock", pois além do Edy Star ser um artista comprometido com tal estética da androginia setentista implícita, a apresentação ocuparia o posto de headliner de uma festa Gay, denominada: "Festa Odara", a ser realizada em um charmoso Centro Cultural localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.  

Em outras épocas, eu talvez constranger-me-ia com tal característica da festa, mas em pleno 2014, acho que não haveria mais nenhum tipo de margem de preocupação para tal e como sou heterossexual bem resolvido, não haveria como incomodar-me em tocar em uma festa "GLS", pois bastaria acionar o respeito à condição dos que professavam tais preferências e em suma, eu não tinha nada contra tais pessoas que assim escolhem ser e agir, sem julgamentos ou incômodo com o que as outras pessoas fazem de suas respectivas vidas.

Na segunda foto, direto do estúdio Curumim, de São Paulo, bastidores do ensaio ocorrido dois dias antes do espetáculo. Da esquerda para a direita: Marco "Pepito" Soledade, Renata "Tata" Martinelli, Edy Star, Ivani Venâncio, Ivan Scartezini, eu (Luiz Domingues) e Kim Kehl. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Foto: Lara Pap

E o lado artístico interessante, seria o de estar a acompanhar um artista que notabilizara-se em sua carreira pela opção pela estética "glam", portanto, a melhor prerrogativa seria aproveitar tocar com o "Marc Bolan brasileiro", e sentir-me assim a tocar no "T.Rex" em plenos anos setenta. 

Enfim, desprovido de preconceitos e temores tolos, fui para o ensaio com o repertório quase decorado, mas na sala de ensaio ganhei a confiança final, pois muitas músicas foram cortadas pelo Edy, que para a minha sorte, escolheu o set list baseado nas músicas em que eu estava mais seguro. 

O Kim pensou em chamar um outro guitarrista, ou um tecladista para encorpar o som, mas com o tempo curto, eis que mudou de ideia e perguntou-me se eu não importava-me em tocar somente com ele a suprir a harmonia da banda. Claro que não, estou acostumado a tocar em formação Power-Trio e se não houver um segundo harmonizador na banda, a vida segue, eu preencho a linha de baixo com maior agressividade, e dá tudo certo...   

O grande, Marco "Pepito" Soledade, um percussionista técnico e muito criativo. Fonte: Internet

Então, ele sugeriu convidarmos um percussionista e o nome de  Marco Soledade, o "Pepito", surgiu. Nós já o tínhamos visto em ação, ao acompanhar o guitarrista, Marcião Pignatari, por ocasião do show d'Os Kurandeiros no Ceu Jaguaré, recentemente (Festival "Hoje Tem Blues"). 

De fato, a minha impressão sobre a sua performance fora a melhor possível, pois eu fiquei com o conceito de que ele era (é) um percussionista muito técnico, criativo e versátil. Feito o convite, contamos com ele no ensaio, com extremo profissionalismo, o que só nos fez aumentar o bom conceito a seu respeito: pontual ao máximo, com as músicas decoradas em mente e preenchidas com um "swing" incrível.

 

 Ivan Scartezini e eu (Luiz Domingues) nos tempos do Pedra (click de Grace Lagôa) e abaixo, Kim Kehl ao vivo (click de Lara Pap)

No ensaio, o clima foi amistoso e não poderia ser de outra forma. Eu tocava com o Kim desde 2011, e com o Ivan, desde 2006.

No dia do show, cheguei bem cedo, por temer haver problemas para achar uma vaga de estacionamento, e naquela região do entorno do Centro Cultural Rio Verde, achar uma vaga, é quase um milagre.

Quando entrei nas dependências dessa instituição, fiquei muito impressionado com as instalações. Apresentava-se como um espaço amplo e detinha várias opções além do salão de shows. Com restaurante, lanchonete interna, várias salas onde ministravam-se diversas aulas e estúdios que serviam como sala de ensaios para bandas, impressionou-me.  

Fora a decoração muito caprichada, com ambientação rústica, mas muito criativa. Já no salão, pareceu-me ali um teatro dos anos vinte, ricamente ornado na art-déco, com vitrais incríveis, mezanino, escadarias e que tais.  

E quando eu cheguei perto do palco, tive uma surpresa agradável: todo o aparato de instrumentos de percussão do Marco "Pepito" já estava montado e microfonado devidamente, ou seja, ele chegara ainda mais cedo do que eu...

Fui bem recebido pelo técnico de som que me disse ser baixista, igualmente e por conta dessa simpatia para comigo, capricharia na equalização do meu baixo. Maravilha, com esse entusiasmo, de fato, passamos o som do baixo por alguns minutos, e nesse instante eu fiquei com a impressão de que haveria uma pressão sonora de PA sob um padrão de show de Rock bem equalizado. 

No palco, a monitoração estava com peso e timbre, ou seja, o rapaz deu o seu melhor para tirarmos um som de baixo, bem interessante. Esqueci o seu nome para citá-lo devidamente, mas agradeço pelo trabalho bem executado e simpatia, muito bem-vindo, embora raro, devo dizer.

Durante o soundcheck, da esquerda para a direita: Kim Kehl, Ivan Scartezini, Marco Soledade "Pepito", e eu, Luiz Domingues. Acervo e cortesia: Kim Kehl Click: Lara Pap

Com a chegada dos outros componentes, fomos buscar a equalização individual de cada um e com a banda completa, passamos várias músicas, quando ficamos satisfeitos com a monitoração alcançada.
Kim Kehl & Juliano Gauche, no Camarim do Centro Cultural Rio Verde. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Como o camarim era extremamente confortável, e a conversa agradável, isso tratou de deixar a longa espera pela hora do show, bem mais amena. Claro, quando a casa abriu para a entrada do público, um DJ animou a pista com discotecagem. Aconteceu então uma longa sessão com muita Disco Music, MPB e até Rock'n' Roll  para embalar o público.

Kim Kehl & Renata "Tata Martinelli" em ação no show. Click de Felipe Prado

Quando chegou a hora do espetáculo, entramos no palco e a adrenalina estava a mil, com o público muito aquecido e melhor ainda, muito a fim de aproveitar o show do Edy. 

Nesse caso, inclusive, apesar de ter sido um público extremamente jovem, ficou nítido que adoravam a figura do Edy. E não deu outra!  

Começamos com uma versão de "Satisfaction", dos Rolling Stones, e se havia alguma dúvida que a pegada seria de Rock, aos primeiros sinais do Riff, iniciados pelo Kim, a casa veio abaixo, com clima de show de Rock da velha guarda.

Marco Soledade "Pepito" ao fundo, eu, Luiz Domingues, na frente. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Senti-me a tocar no Rainbow Theater em 1972, com aquela ebulição toda, sob um público enorme e a pular do começo ao fim da canção.
Edy Star, a se parecer muito com Gary Glitter, nesse click de Felipe Prado

Edy entrou em cena de uma forma triunfal. Um artista muito experiente, e que sabe colocar-se no palco com maestria. 
Luiz Domingues no destaque, com o percussionista, Marco Soledade "Pepito" ao fundo. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A tocar, me divertir, mas também a observar tudo com atenção, percebi claramente que o Edy era (é) um dos últimos remanescentes do "desbunde setentista da MPB". Aquela performance rara hoje em dia, e não estou a referir-me sobre trejeitos homossexuais, mas a realçar um élan, que hoje em dia, só ele e Ney Matogrosso ainda possuem. Lembrei-me também do Lenny Dale, que não foi um Rocker, mas possuía esse sentido do "desbunde", como dançarino, e certamente que Edy era (é) dessa mesma linhagem artística.
Um pouco de delírio provocado naquela noite. Click de Felipe Prado

Os Rocks do Raul Seixas causaram delírio generalizado, e em "Metamorfose Ambulante", eu cheguei a arrepiar-me, pois gerou-se uma comoção no ambiente.
Na linha de frente das vozes, da esquerda para a direita: Tata, Ivani e Edy. Foto de Felipe Prado    

Muitas canções ingênuas da Jovem Guarda, e até da Pré-Jovem Guarda (várias da Celly Campelo, por exemplo), foram cantadas aos berros pela multidão, e ao considerar-se que estes jovens ali presentes não eram nem nascidos na época do lançamento delas, fez-me pensar que nem tudo estava perdido e muitos jovens tinham uma percepção diferente em relação ao péssimo momento cultural que enfrentávamos em 2014, com a subcultura & anticultura de massa a esmagar-nos impiedosamente. Será que isso poderia ser atribuído ao fato da maioria ali presente, rapazes e moças serem homossexuais? Nem quero entrar nesse mérito.
Juliano Gauche encarnou Sérgio Sampaio, e botou o bloco na rua... foto de Felipe Prado  

A intervenção do Juliano Gauche surpreendeu-me. Tanto a sua canção, o Rock: "Amor do Capeta", quanto a música do Sérgio Sampaio que interpretou, foram muito intensas.

Da esquerda para a direita: Ivani Venâncio, Pepito ao fundo, eu (Luiz Domingues), e Tata Martinelli. Foto de Felipe Prado

As meninas cantaram muito. Tata e Ivani conhecem-se há muitos anos, e estão acostumadas a cantarem juntas. De orquestras de baile a bandas de Rock como o Made in Brazil, por exemplo. 

Em alguns momentos, o swing da banda surpreendeu-me. Estou acostumado com o Kim e o Ivan, em bandas diferentes, mas foi ótimo tocar com ambos pela primeira vez, juntos. E o Pepito destruiu tudo, com a sua percussão muitíssimo bem executada. Como diria o Wilson Simonal, Pepito foi o sujeito que acrescentou o "Champignon"...

Renata "Tata" Martinelli em destaque, com Kim Kehl no canto esquerdo do palco. Foto: Felipe Prado

O público delirou o show inteiro, mas ao tratar-se de um público "GLS", creio que eu só reparei que a maioria ali presente era homossexual, quando tocamos o hino gay: "I Wil Survive", da Gloria Gaynor, com o delírio instaurado e onde a Tata deu um show de vocalização. 

De fato, tocamos essa canção sob o critério da Disco Music, mas com a devida pegada de Rockers que somos, a música cresceu em peso e tratou de provocar a ebulição final naquele caldeirão em que transformou-se o Centro Cultural Rio Verde.

                  Mais flagrantes do show. Fotos de Felipe Prado

Missão cumprida, encerramos o show e com o sentimento bom por termos ido além das expectativas, inclusive a gerar uma euforia rara, como se houvesse sido um show de Rock de outrora...

                                  Edy Star em destaque. Foto: Felipe Prado

Claro, a vaga de baixista do Easy Rider's Band, é do amigo, Marcião Gonçalves, mas se precisar, eu vou de novo, e com a certeza de que é diversão pura. 

Esse show ocorreu no Centro Cultural Rio Verde, localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, no dia 14 de novembro de de 2014, com cerca de trezentas pessoas na plateia.

Festa Odara com Edy Star & Easy Rider's Band. Eu, Luiz Domingues em destaque na foto acima. 14 de novembro de 2014, Centro Cultural Rio Verde, bairro de Pinheiros - São Paulo-SP. Foto: Felipe Prado 

Bem, esse foi o último trabalho avulso que realizei no período entre abril de 1976/abril de 2016, objeto de foco do meu texto autobiográfico. 

Eu já gerei novas histórias nesse campo, mas que não constam do texto do primeiro livro impresso ("Quatro Décadas de Rock"), porém, serão publicadas neste Blog, além do meu Blog 2, também, quando iniciar esse processo dos textos suplementares a conter os adendos com atualizações, a partir de outubro de 2017 (esta nova fase de histórias, fará parte do segundo livro: "Mais Rock Depois dos Quarenta"). 

Para seguir a ordem do meu livro autobiográfico, daqui em diante, siga a ler sobre a minha trajetória com o "Terra no Asfalto", banda fundada em dezembro de 1979, e que gerou muitas histórias interessantes.

Mas antes de iniciar a minha história com o "Terra no Asfalto", há  um capítulo adicional sobre os trabalhos avulsos, para dar vazão aos agradecimentos gerais nesse campo de minha atuação na música.

Portanto, continua...

sexta-feira, 13 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 35 - Big Chico: Uma Noite de Blues de Chicago no Jaguaré - Por Luiz Domingues

A nossa querida banda, "Kim Kehl & Os Kurandeiros" havia feito o seu show regular no Festival: "Hoje Tem Blues", mas havia uma missão a mais nessa noite a ser cumprida, no palco do teatro Ceu Jaguaré, localizado no bairro homônimo da zona oeste de São Paulo. 

Estávamos convocados a acompanhar o cantor, gaitista e guitarrista, Big Chico, um dos maiores expoentes da cena do Blues brasileiro naquela atualidade dos anos 10, do século XXI. Acostumados a acompanhar artistas desse espectro, graças ao desdobramento em Magnólia Blues Band, no qual estávamos a atuar desde janeiro de 2014, não houve nenhum empecilho para a banda nesse sentido e ao subir o palco, bastou o artista em questão nos dizer o tom e o andamento de cada canção a ser tocada, e a banda saiu a tocar e acompanhar a performance de Big Chico, sem problemas.

Nessa específica noite, estivemos reforçados pelo tecladista, Nelson Ferraresso, membro original d'Os Kurandeiros, mas nos últimos tempos, presença apenas sazonal, devido aos seus impedimentos pessoais.  

Mas com ele na banda, claro que o som encorpava e muito. Um mestre na escolha dos timbres setentistas interessantes, Nelson preenchia o som com o órgão Hammond em suas diversas matizes, ao ir do "draw bar" adocicado ao estilo de Jimmy Smith, à distorção clássica proposta por de Jon Lord em seus melhores dias com o Deep Purple, e assim ao escolher com precisão os momentos certos para timbres díspares entre si. 

O mesmo raciocínio deu-se na escolha de timbres de pianos acústicos os mais diversos, também para os elétricos e sintetizadores em geral, ao fazer dele, um músico completo, que qualquer banda sonha ter em seu time.

O ótimo guitarrista, Marcião Pignatari, ao ser entrevistado pelo comunicador, Jesse Navarro

Um reforço de última hora, o guitarrista, Marcião Pignatari, também subiu ao palco. Muito versado na arte do Blues e do Rock'n' Roll, claro que a sua guitarra estilosa ajudou a encorpar mais o som, ainda mais ao se considerar que ele atuou com uma guitarra Fender Stratocaster, assim a proporcionar um contraste colorido à Gibson SG que o Kim Kehl usou nesse dia. 

No meio da apresentação, os gaitistas, Edu Dias, e Michael Navarro, entraram no palco e fizeram as suas intervenções, a agregarem, naturalmente. Ao tocarem, ambos, perto de minha presença no lado esquerdo do palco, eu pude interagir com os dois em improvisações muito felizes que fizemos juntos, duas gaitas e o baixo. Em alguns momentos, apesar de tudo ter saído no improviso, pareceu que naipes estavam ensaiados por nós três, pois nós conseguimos estabelecer uma sincronia de frases, muito impactantes.

Big Chico + Os Kurandeiros+ Marcios Pignatari+Michael Navarro+ Edu Dias. Festival "Hoje Tem Blues". Teatro do Céu Jaguaré, em São Paulo, no dia 18 de outubro de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

O show do Big Chico foi muito bom, mesmo porque ele era (é) um artista versátil e carismático, e o público apreciou muito as suas interpretações para clássicos dos blues, a cantar, tocar gaita, agitar a plateia como um entertainer e tocar a sua guitarra, também.  

Missão cumprida, com público a aplaudir de pé e com direito a pedido de bis, aconteceu no dia 18 de outubro de 2014, no teatro do Ceu Jaguaré, no bairro do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo.

A lamentar-se, somente a baixa presença de público! Show gratuito com um micro festival e cinco atrações boas da cena blues, teatro todo arrumado com som e iluminação super dignas, enfim, qual a desculpa para o teatro não ter lotado em um sábado a tarde, longe do horário das novelas televisivas, futebol ou das baladas de rua?

Acima, assista Big Chico + Os Kurandeiros + Convidados, a interpretar: "Everyday I Have the Blues" (Pinetope Sparks / Henry Townsend)

O link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=XxXWkG89Ty4

Reclamamos que o poder público pouco faz pela educação & cultura e aí cria-se uma escola nos padrões de uma High-School norte-americana, com estrutura maravilhosa a conter teatro, biblioteca, piscinas e quadras esportivas, tudo grátis para a criançada carente de um bairro simples, produzem atrações culturais gratuitas, e não comparece ninguém?
Acima, assista Big Chico + Os Kurandeiros + Convidados, interpretando "Hootchie Cootchie Man" (Willie Dixon)

O link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=qNCtp6T3Wbw

Confesso que fiquei chateado e convencido de que a contrapartida do desinteresse é enorme nesse processo de baixo estímulo à Educação & Cultura, mas enfim...
Ainda em 2014, um novo trabalho avulso surgir-me-ia, e novamente dentro do espectro d'Os Kurandeiros de Kim Kehl!

Continua...

Trabalhos Avulsos - Capítulo 34 - Koveiros em Missões Secretas e Nada Glamorosas - Por Luiz Domingues

Os Kurandeiros de Kim Kehl mostravam-se ecléticos já há algum tempo, quando de suas fileiras, saiu a base da banda de apoio de Ciro Pessoa, "Nu Descendo a Escada".  

Isso houvera se reforçado quando em abril de 2014, o baterista d'Os Kurandeiros, Carlinhos Machado, também passou a fazer parte dos "Nudes", a convite de Ciro Pessoa. Mas antes até, em janeiro, Os Kurandeiros também haviam assumido um segundo desdobramento, ao juntarem-se com o tecladista, Alexandre Rioli, e daí se formar a Magnólia Blues Band, um combo de Blues pronto a acompanhar grandes personalidades da cena do Blues brasileiro, em um evento fixo e denominado: "Quarta Blues", realizado na casa de espetáculos, Magnólia Villa Bar, de São Paulo. 

Mas como loucura é bobagem, como diziam os Mutantes, um terceiro e muito inusitado desdobramento poderia ocorrer a qualquer momento, e no meio do ano de 2014, tal oportunidade apareceu.

Através do tecladista, gaitista e vocalista, Claudio "Cazão" Veiga, duas datas para cobrir duas festas, surgiram, e nesse caso, o objetivo fora reunir um combo sem nenhum comprometimento artístico, que prontificasse-se a tocar um repertório baseado no material dos Rolling Stones, e do Creedence Clearwater Revival, predominantemente, sem escrúpulos, simples assim. 

Mediante consulta prévia, o Kim lançou essa proposta para que eu e Carlinhos Machado a avaliássemos. Fazia anos que eu não participava de algo tão fora do propósito artístico que permeou a minha carreira inteira, portanto, remeteu-me aos tempos primordiais do "Terra no Asfalto", a única banda cover em que atuei na minha vida, porém, lá nos longínquos anos de 1979 a 1982, ou seja, época em que iniciava a minha trajetória, e fora válido aventurar-se a participar desse tipo de banda com tal propósito não autoral. Ao ponderar por outro lado, seriam datas a serem cumpridas em festas obscuras, que nada poderiam ferir minha imagem ou autoestima (e claro que a estender o mesmo raciocínio, também ao mencionar as personas de Kim e Carlinhos).

Outros pontos a serem relatados: seriam realizados em datas onde não teríamos compromissos com os outros trabalhos, e o cachê oferecido, fora bom, portanto, se tratado como algo avulso, e que nada teria a ver com as atividades d'Os Kurandeiros, Nudes, Pedra ou Magnólia Blues Band, "que mal haveria?"

Dessa forma, computado como um combo secreto, recebeu o nome de: "Koveiros", uma invenção maluca do Kim Kehl, a denotar o caráter nada nobre, mas necessário em se tocar "covers'... fora o fato de que a letra K, ao invés do C, deu uma maliciosa conotação com o "KK & K"...

Já o tecladista, Claudio "Cazão" Veiga, era um músico bem comprometido com esse circuito obscuro até para o padrão do underground, e acostumado a lidar com contratantes desse patamar, portanto, com bastante opções em mãos. 

Claro, é preciso ter muito estômago para encarar tal circuito. Ao considerar-se que não é o nosso métier, não é fácil enfrentar, mas para quem está acostumado, e não tem preocupação em forjar carreira autoral séria, não molesta em nada a dignidade de ninguém. 

No caso dessa atuação dos "Koveiros", em 2014, foram duas oportunidades que o Claudio aventou, em junho desse ano e portanto, a coincidir com o andamento da Copa do Mundo.

No primeiro caso, foi uma aventura tresloucada, ocorrida em uma festa particular, em uma residência localizada em Embu das Artes, município da Grande São Paulo. Cidade relativamente distante da capital, ainda que unida pela grande mancha metropolitana da capital e suas trinta e nove cidades "coladas" em volta, lá fomos nós.  

E o endereço a ser encontrado não foi exatamente dentro dessa cidade citada, mas em um bairro de periferia de tal município e localizada dentro de um condomínio fechado e fora do seu perímetro urbano.

Portanto, foi difícil achar o local, já a denotar que seria um dia longo. Quando chegamos, vimos tratar-se de uma residência muito ampla e confortável, onde o proprietário parecia estar seriamente comprometido com a ideia de dar o máximo de sua hospitalidade para os seus convidados, e tanto foi assim que logo que nos viu a estacionar e descer com instrumentos à mão, não soube o que fazer para recepcionar-nos da melhor maneira possível.

Tratou-se de uma reunião marcada para assistir a abertura da Copa do Mundo e consequentemente, o jogo Brasil x Croácia, inaugural do torneio. O rapaz havia contratado um surpreendente equipamento de PA, e um trio tipicamente nordestino para tocar forró antes de nós. Quando chegamos, o bom trio estava a tocar e a entreter as pessoas que dançavam e divertiam-se. 

Havia uma mesa fartíssima, na qual fomos convidados a servirmo-nos, com comida e bebida a vontade, portanto, o lado bom da hospitalidade fraternal, também sinalizou-nos o lado mau que estava a caminho, com a bebedeira inevitável e conflitos inerentes entre os convidados, principalmente se o time do Brasil perdesse o jogo. Fomos orientados a assistir a partida, e a nossa atuação seria no pós-jogo, durante a reta final da festa.

O dono da festa/residência, senhor Ari (a usar camiseta da seleção brasileira), e a apresentar as duas bandas, Os Koveiros e o trio nordestino especialista nos ritmos do baião, xote e maxixe, em meio aos seus convidados, na segunda foto

Contudo, o dono da casa surpreendeu-nos em um instante antes do jogo começar, quando convocou-nos a perfilarmo-nos diante do imenso telão onde o jogo seria exibido para que seus convidados nos vissem e então, ele fez um discurso inflamado sobre estar orgulhoso por ter contratado duas bandas de alto gabarito para abrilhantar a sua festa, e que éramos "artistas de verdade" etc. Foi o tal negócio: o rapaz não era do meio, não fazia a menor ideia sobre quem éramos no espectro artístico, ou a respeito do currículo pessoal de cada músico ali presente, mas o seu respeito foi absoluto.  
Carlinhos Machado & Luiz Domingues no dia do evento, na imensa área livre de uma residência particular. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Mesmo sendo um leigo total nesse mundo, contratou um equipamento muito digno (e surpreendente, até), pagou-nos régia e antecipadamente com dinheiro vivo, tratou-nos com o máximo de simpatia, ao abrir sua casa e ofertar-nos sua mesa farta, a vontade. Em contrapartida, essa manifestação dele remeteu-me ao contraponto, ou seja, quantos pilantras do meio musical que não agem assim com artistas, e nesse caso, a resposta é óbvia : falta-lhes a hombridade. Homem simples, mediante raciocínio prosaico, mas com um caráter a toda prova, fez-me refletir em torno de suas atitudes, o quanto surpreendemo-nos na vida, pois se aquilo fora uma atuação secreta para nós, portanto sem relevância artística, para ele tratou-se de um acontecimento, e de sua parte, todo o esforço para fazer dar certo, foi notável, sem contar a lisura em dar-nos todo o suporte e cumprir sua palavra, ipsis litteris.
Ora, o contraste com o glamour da música de outros patamares mais elevados, e sua quantidade de pilantras e sanguessugas inerentes, tornou-se uma comparação inevitável.

Na primeira foto, o vergonhoso "pênalti" marcado a favor do Brasil. Na foto abaixo, os Koveiros a tocarem na festa, com Kim Kehl à esquerda, Carlinhos Machado à bateria, Claudio "Cazão" Veiga, com seu costumeiro teclado portátil e eu (Luiz Domingues, encoberto), atrás. Evento realizado em festa particular em uma residência situada em Embu das Artes-SP, no dia 14 de junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click:Lara Pap 

Bem, o Brasil venceu o jogo, com uma boa ajuda do árbitro, nós tocamos e divertimo-nos como se estivéssemos a brincar em um ensaio, e as pessoas ficaram muito bêbadas, muito mesmo, com direito a alguns vexames para causar-nos vergonha alheia, mas c'est la vie... a raça humana é etílica em predominância, infelizmente.

Saímos da residência do rapaz, por volta das dez da noite e após um pouco de confusão para achar o caminho para o centro de Embu das Artes, finalmente encontramos o caminho e retornamos à Pauliceia.  Alguns dias depois, uma outra data para os Koveiros, avistou-se.

Desta feita, tratar-se-ia de uma festa organizada por um moto clube, em um bairro periférico de São Bernardo do Campo-SP, no ABC paulista. Mais condizente com nosso temperamento, por ser mais Rocker e não tão insólito como uma festa em casa de família, pareceu-nos mais confortável.
Coincidiu com uma nova partida do Brasil na Copa do Mundo, desta feita, nas oitavas de final do torneio, contra a seleção do Chile. Portanto, deslocar-se em dia de jogo não seria a estratégia mais adequada a fazer-se e a depender do resultado, uma tarefa até perigosa, enfim. Quando partimos, o jogo estava na prorrogação e ao aproximamo-nos da cidade de São Bernardo do Campo, pelas reações das pessoas nas ruas e pela explosão pirotécnica, deduzimos que o Brasil havia triunfado na disputa em pênaltis.
À medida que afastamo-nos do centro de São Bernardo, e entramos na sua periferia, vimos cenas estarrecedoras de euforia desmesurada. Adolescentes faziam manobras arriscadíssimas em motos, a demonstrar estado de embriagues absoluta, ou ação química por uso de drogas com alto teor de anfetaminas, ou ambas... pior que isso, rapazes a portar armas de fogo, desferiam tiros a esmo para o céu, com o intuito de extravasar sua "alegria" pela vitória da seleção brasileira...

Em um cruzamento onde paramos no semáforo, vimos algo terrível. Uma mulher usava um telefone público, quando dois adolescentes  aproximaram-se e pela movimentação, deu-nos a impressão de que estavam a molestá-la, pois a vimos sair a correr e sob uma fração de segundo, o orelhão explodiu! Naturalmente, ela saíra a correr quando percebeu que os dois marginais haviam colocado uma bomba, com a real intenção de explodir o equipamento telefônico. A questão foi: se ela não tivesse percebido a tempo, teria morrido ou ferido-se com muita gravidade, no mínimo.

Por todos os lados, carros com sistema de som ensurdecedor, a tocar o tal do "Funk", com letras absurdas, marcadas por um baixíssimo teor, a evocar sexo explícito e/ou apologia ao crime. Claro que eu sabia que o Funk que tocava à exaustão na mídia mainstream era "Beethoven", perto do lixo do lixo do underground desse mesmo patamar (se é que existissem divisões inferiores para o subsolo mais profundo da subcultura/anticultura de massa), mas confesso, fiquei muito triste ao constatar que sim, abaixo da mais baixa camada abissal, ainda havia um subsolo mais degradante.

Esse choque de realidade deprimiu-me, é claro. Mas, de nada adiantava ficar a lamuriar, e a vida seguiu.

Chegamos enfim ao local da sede do Moto Clube em questão, e o lado bom foi evidente. Moto Clube, por menor e mais simples que seja, tem uma característica padrão: segue um código de ética interna, que é exemplar. O nível de educação e respeito que tais associações professam como regimento interno para seus associados, é notável. Encravado em um bairro muito simples de periferia, ali, entre seus domínios, pode-se deixar o vidro de seu carro aberto, pois não há a menor possibilidade de nada desaparecer de seu interior.  

O tratamento de extrema simpatia que nos foi ofertado, seguiu tal fama dessas agremiações, sem dúvida alguma. O único senão, é que houve uma longa espera pela apresentação, pois o evento atrasou seu início, devido a problemas técnicos com o equipamento.

Haveriam várias bandas cover no programa e o palco estava montado em uma praça pública em forma de um largo natural e sem saída, cercado por montanhas verdejantes. Mesmo com a presença de habitações simples e típicas de periferia, ao atribuir aspecto sombrio da carência social, a proximidade com a vegetação, amenizara tal impressão e o ar tinha o frescor de uma região serrana, e de fato, aquela natureza faz parte da serra do mar, pois São Bernardo fica nesse limite do caminho para o litoral do estado.  

Foi desgastante esperar pelas apresentações e entre elas, uma longa de um "Ramones Cover", e que perdoem-me os leitores que apreciam tal banda norte-americana, mas ninguém merece duas horas de música pobre desse nível, nem do artista original, quanto mais um xerox... 

Koveiros em ação, no evento produzido pelo Moto Clube "Parceiros do Raul, em 28 de junho de 2014, na cidade de São Bernardo do Campo-SP. Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Claudio "Cazão" Veiga, Carlinhos Machado (na bateria) e Kim Kehl. Foto: Lara Pap

Tocamos e nossas interpretações de canções dos Rolling Stones e Creedence Clearwater Revival, que agradaram em cheio aos presentes no evento, em sua maioria, motociclistas que tendem a apreciar Classic Rock, sem firulas. Gente simples, mas hospitaleira, sincera e muito honesta...

Artisticamente nada acrescentou-nos tais apresentações, tanto que o combo dos Koveiros foi uma iniciativa secreta, e com o único objetivo de se ganhar dinheiro, todavia, fiz questão de mencionar as duas ocorrências, e assim abrir um capítulo específico, pois foram lições importantes que computei, ao meu ver. Não aconteceram mais apresentações dos Koveiros doravante, mas a qualquer momento, podem ocorrer, e agora eu sei, sempre existirá a possibilidade de eu surpreender-me em algum aspecto.

A festa na residência particular, ocorreu em 12 de junho de 2014, com aproximadamente oitenta pessoas presentes. Já a apresentação no "Moto Clube Parceiros do Raul", foi em 28 de junho de 2014, com trezentas pessoas mais ou menos na audiência.

O próximo trabalho avulso foi inusitado, pois apesar de apresentar a formação d'Os Kurandeiros como protagonista, na verdade acompanhamos um artista do mundo do Blues e gerou uma boa história. Para aumentar a estranheza, ocorreu em um festival onde no mesmo dia, Os Kurandeiros apresentaram-se, também...

Continua...