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domingo, 1 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 16 - Quarteto... Que Banda Esquisita! - Por Luiz Domingues

O próximo convite para um trabalho avulso que surgiu, foi logo após o formulado pelo Viúva Negra, narrado no capítulo anterior. Desta feita, tratou-se de um quarteto influenciado pelo Hard-Rock oitentista, e a se mostrar muito estranho por vários aspectos. Nem lembro-me o nome da banda, infelizmente (ou felizmente!). 
 
O que posso dizer sobre essa rapaziada, é que se tratava de um grupo formado por três músicos muito jovens e bem fracos, tecnicamente. A sua escola musical era o Hard-Rock/Heavy-Metal oitentista, naturalmente, e a mentalidade operacional dos rapazes também era bem inadequada, com sonhos fora da realidade a ditar planos estapafúrdios, metas traçadas em torno de estratégias muito mal elaboradas etc. 
Mas para não dizer que tive má vontade com os rapazes, eu prontifiquei-me a ensaiar por duas ou três vezes, com eles. Em dada ocasião, culminei também em acompanhá-los a um escritório de um empresário, onde supostamente estariam a fechar um acordo de trabalho. 
 
Essa visita foi a gota d´água em minha dose de paciência para com eles, pois o escritório mostrava-se como uma espelunca localizada no centro velho de São Paulo, onde foi nítido tratar-se de um empresário que atuava costumeiramente com artistas popularescos e desconhecidos. Em suma, a realidade ali apresentada girara em torno do abismo obscuro do underground do mundo popular, e ante o disparate estrutural esses meninos queriam fazer "turnês" organizadas por esse sujeito? 
Aquilo bastou-me, pedi licença e deixei o "projeto". Contudo, duas situações desagradáveis ocorreram, posteriormente. 
 
Algum tempo depois de eu ter anunciado a minha desistência, fui visitado repentinamente pelo guitarrista e pelo vocalista da banda. Recebi-os com educação, mas mantive-me irredutível em minha decisão final. Contudo, eles insistiram muito na determinação de que eu não deveria "perder" a oportunidade de participar de uma turnê que fariam pelo Rio Grande do Sul, em breve e produzida pelo empresário que eu conhecera. 

Gato escaldado que eu já era na ocasião, sabia de antemão que a "tentadora" oferta não passava de um embuste e mantive-me firme. Foi aí que o vocalista, ao ver-me inflexível em minha decisão, começou a mudar o tom da conversa, ao obrigar-me a tomar a atitude deselegante em pedir-lhes "por favor" para encerrar a visita, e desejar-lhes boa sorte na sua turnê. 
 
Nessa época, eu havia recém mudado-me para um apartamento muito próximo ao Parque da Aclimação, no bairro de mesmo nome, e por ser um edifício de pequeno porte, a distância da minha janela para a rua, era relativamente pequena.
Algum tempo decorrido após a saída deles, eu senti o ruído de uma possível pedra a chocar-se com a minha janela. Fui verificar o que fora aquilo, quando constatei que o vocalista da tal banda, a havia arremessado propositalmente para chamar-me a atenção, e depois que viu-me, passou a gesticular, xingar-me e jogar-me pragas que devem ter sido extraídas de algum manual prático de "Voodoo!"
 
Foi tão patético, que eu nem cheguei a perturbar-me, apenas ri da situação, e fechei a janela ao vê-lo gesticular e praguejar.
 
E uma segunda ocorrência surpreendeu-me em relação a esses garotos. Cerca de dois meses após o ocorrido em minha residência, eu recebi um telefonema a cobrar, oriundo de uma cidade interiorana do Rio Grande do Sul.

O telefonema veio da parte do guitarrista dessa banda, que sob uma atitude desesperada, queria que eu fosse imediatamente socorrer a sua banda lá no Rio Grande do Sul, pois o baixista que acompanhara-os, os havia abandonado sumariamente. 
 
Descontrolado, esse rapaz queria que eu fosse ao encontro da banda para ajudá-los a terminar a turnê e dizia-me, que eles pagariam todas as minhas despesas do bolso deles mesmos, visto que a turnê estava por ser um desastre, e que o baixista os abandonara, justamente pelas péssimas condições que enfrentavam. Admirei a franqueza do rapaz em admitir que estava caracterizado como um desastre aquilo, mas o que eu poderia fazer? 
Ir até ao Rio Grande do Sul mediante o uso de um ônibus de linha, a carregar baixo, amplificador e bagagem, com a "garantia" verbal dele em ter as minhas despesas operacionais ressarcidas, tocar em condições inóspitas, e pior, em uma banda com a qual eu não tinha nenhuma identificação musical e artística (tirante a fragilidade técnica deles, infelizmente)? 
 
Senti comiseração pela situação dos meninos, mas realmente, seria um total absurdo. Recusei, certamente. Após desligar o telefone, senti compaixão pelos rapazes, mas foi o tal negócio: só tem um jeito de adquirir experiência na vida, e é entrar na sua senda e enfrentar os seus desafios.Tomara que esses garotos tenham aprendido tal lição em meio a essa aventura desastrosa.

E como um dado curioso, só realço que durante os ensaios que fiz com eles, no estúdio da redação da Revista Dynamite, toda a equipe da mesma, organizou um bolsão de apostas. A pergunta foi: quanto tempo eu aguentaria em ensaiar com aqueles garotos? Isso me foi revelado algum tempo depois, por pessoas da produção da Dynamite, mas evidentemente em tom de brincadeira.
 
Nunca mais eu tive notícias desses rapazes. Que eu saiba, ao menos no métier do Rock pesado paulistano, nenhum deles fez nada significativo. Eram dois irmãos, baterista e guitarrista e o vocalista, destemperado e praguejador.
Depois dessa aventura bizarra, o meu próximo trabalho avulso foi um outro convite, desta vez vindo da parte de um grande guitarrista. A banda era boa, mas novamente a proposta artística não era exatamente o que eu desejava e convenhamos, ainda não foi a época para eu extravasar o que realmente buscava em termos de resgate de minhas influências primordiais.

Continua...

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