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domingo, 1 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 18 - Pinha's Band: uma aposta no Folk-Rock - Por Luiz Domingues

Foi em agosto de 1990, que um novo projeto apareceu, através do meu aluno, amigo & roadie, José Reis. 
 
Ele frequentava um estúdio de ensaio, chamado "Coda", situado na Av. Brigadeiro Luiz Antonio, sentido Parque do Ibirapuera, e nessa sala de ensaios, trabalhavam os seus amigos, que formavam uma banda cover, denominada: "Velho é a Mãe", que obviamente era formada por rapazes de meia-idade, saudosistas do Rock das décadas de 1950/1960/1970. 
 
Contudo, como informalmente funcionava ali uma mini locadora de vídeos, e que possuía um acervo de fitas VHS piratas, com inúmeros artistas do Rock dessas décadas citadas acima em seu conteúdo, eis que tal oportunidade despertou a atenção do José Reis. 
 
Quando ele convidou-me a conhecer o estúdio & locadora, eu fui apresentado enfim, ao seu simpático proprietário, um rapaz chamado: Paolo Girardello.
                 Baterista; entrepreneur & gentil persona: Paolo Giradello

Como era músico, também (Paolo era baterista), ele contou-me sobre um projeto novo que estava a desenvolver com um guitarrista, amigo seu. Na verdade, o trabalho era do guitarrista, que tinha muitas músicas prontas, e queria formar uma banda para colocar o trabalho no mercado. 
 
Dessa forma, Paolo convidou-me, e eu aceitei, pois mesmo ao ensaiar na mesma época com o quarteto Hard-Rock de Flávio Gutok ("Lynx", cuja história descrevi no capítulo anterior), achei que seria interessante conhecer esse trabalho do tal guitarrista, apelidado como: "Pinha". 
 
Os primeiros ensaios começaram, e foi uma época, onde por ter aceitado dois trabalhos musicais a intercalar-se com as minhas aulas (e houve um momento quando eu aceitei mais um projeto em paralelo!), vivia a correr de um estúdio para outro, e ao ministrar aulas de terça a sábado, quase o dia inteiro. Foi bastante cansativo, mas estimulante estar a tocar em projetos diferentes, com sonoridades díspares entre si.
O som dele, Pinha, era baseado em canções que certamente eram formatadas como Rock, no entanto, com "pegada soft", e a verter para o Folk-Rock. De certa forma, ele era uma espécie de J.J. Cale/ Johnny Cash, da pauliceia...

Ele era um homem com cerca de 40 e poucos anos na ocasião, bem mais velho do que eu era nessa época (eu tinha trinta, em 1990), e o seu trabalho era bom, embora não tivesse peso, praticamente. 
 
Dessa forma, entre agosto e dezembro de 1990, nós ensaiamos com a regularidade de um ensaio semanal, inicialmente como trio: eu (Luiz Domingues), Paolo na bateria e Pinha na guitarra.

Ele tinha uma estranha guitarra da marca, Roland, com designer "futurista", bem baseada na mentalidade oitentista. Usava um rack com pedais sintetizados da Roland, que também conferiam-lhe timbres exóticos, mas o som que ele compunha, na prática, nada tinha de avantgarde, pois parecia-se mesmo um Folk-Rock a la Bob Dylan. 
 
As letras eram baseadas em crônicas do cotidiano. Não demonstravam ser, pelo que lembro-me, primorosas, longe disso, mas estavam também longe dos clichês habituais que permeiam a mentalidade dos Rockers do underground. Entretanto, o som parecia esvaziado pela maneira com a qual ele tocava e principalmente pela guitarra insípida que ele usava e assim surgiu a ideia de um novo guitarrista, para somar e encorpar o trabalho. 
 
Foi dessa forma, que por indicação minha, ocorreu a entrada do guitarrista, Raul "Zica" Müller, a tornar tal banda, um quarteto, e enriquecer o trabalho.
O grande guitarrista, Raul "Zica" Müller, que eu conhecera em fevereiro de 1983, quando ele tocava com o grupo: "Fickle Pickle", juntamente com Nelson Brito, Catalau e Paulo Zinner (estes três, futuros componentes do "Golpe de Estado"). Nesta foto acima, Raul está em ação com o "Lírio de Vidro", do guitarrista, Kim Kehl, ao final dos anos setenta

Após uma série de ensaios em trio, percebemos que agregar mais um componente seria estratégico para sofisticar  o som da banda. 

O Pinha harmonizava bem, mas os seus solos não eram nada inspirados, e dessa forma, ao conversar conosco, ele resolveu agregar um segundo guitarrista. Eu estava a saber que o guitarrista, Raul "Zica" Müller, estava disponível e a procurar um trabalho, e dessa forma, fui rápido, e o indiquei. 
Eu conhecera o Raul em 1983, quando eu estava com A Chave do Sol, e nós fomos contratados para tocar no Victoria Pub, em fevereiro desse ano citado. Ele tocava com o "Fickle Pickle" (conheça com detalhes essa história no capítulo correspondente da Chave do Sol). O seu estilo pessoal como guitarrista, era sólido no Rock'n' Roll, Hard-Rock e Blues-Rock, principalmente.
Ele também tocara, ao final dos anos setenta, com o "Lírio de Vidro", onde também foi componente e cofundador, o Kim Kehl, com quem eu fui tocar, muitos anos depois, a partir de 2011. Logo que eu o apresentei para o Pinha e Paolo, ambos simpatizaram com ele, e assim, passamos a ensaiar em quarteto.
De fato o som engrandeceu e com solos melhores, contra-solos e desenhos rítmicos criativos e bem engendrados pelo seu repertório natural de recursos estilísticos, o som coloriu. 
 
Apesar dessa melhora acentuada, o Raul não participou de uma apresentação que o Paolo agendou para o final do ano, quando nos  apresentamo como trio, em um pocket-show. Isso aconteceu no dia 21 de dezembro de 1990, em um bar chamado: "Anima". 
 
Foi uma festa de confraternização das bandas que ensaiavam regularmente no estúdio "Coda", do Paolo, e a nossa banda também tocou, com apenas três presentes musicas no set list. 
 
Depois da virada de ano para 1991, um outro show foi agendado, a parecer que a banda engrenaria, mas uma surpresa desagradável mudaria esses planos, conforme relatarei a seguir. 
 
E foi assim que programamo-nos para uma apresentação, quando tocaríamos o repertório todo das composições do Pinha, e a inclusão de um único cover sugerido de última hora: "Born to be Wild", do grupo de Rock norte-americano, "Steppenwolf". 
Essa apresentação ocorreu em um bar bem montado, mas obscuro, e situado em um local sem nenhuma tradição noturna, em plena Av. Santo Amaro, chamado: "Aonde Bar".
 
Chamara a atenção inicialmente o nome do estabelecimento, que soou praticamente como uma piada pronta, pois "aonde" foi uma grande questão nesse caso. Curiosamente, apesar de estar deslocado em uma avenida de forte movimento, e cercado por lojas comerciais com características diurnas, a casa era bem montada e mantinha uma decoração aconchegante, com várias motivações a versar sobre a MPB sessenta-setentista, predominantemente centrada na figura da cantora superb, Elis Regina, com vários posters e capas de discos da sua discografia. 
 
Um surpreendente público com sessenta pessoas compareceu à apresentação, em 24 de janeiro de 1991, e ao se considerar tratar-se de um bar escondido, definitivamente. 
 
Contudo, a apresentação foi marcada por problemas. Apesar de estarmos bem ensaiados, muitos erros estruturais ocorreram, por exemplo na contagem inicial da música: "Born to Be Wild", a causar-nos constrangimento.
Lembro-me do Raul Müller que estupefato pelo erro, chegou perto de minha audição e cochichou com franqueza desconcertante: -"estou a sentir-me no jardim da infância"...  em referência aos erros infantis que a banda cometia. 
 
E com essa apresentação cheia de erros tolos, o ânimo caiu bastante. O Pinha pediu um tempo para repensar o projeto, mas na verdade o tempo tornou-se definitivo. A banda encerrou atividades, e nunca mais eu tive notícias desse artista. Se ele fez algo na música, doravante, eu ignorei em minha percepção, dali em diante. 
 
O Paolo continuou mais um pouco como proprietário do estúdio Coda. Em 1991, eu o convidaria para um projeto de uma banda cover, que chegou a ensaiar bastante, mas não vingou ao vivo. Falarei disso, mais adiante. 
Por volta da metade dos anos 1990, ele vendeu o estúdio Coda, e tornou-se gerente de uma famosa loja de instrumentos e equipamentos, da Rua Teodoro Sampaio em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. 
 
Quanto ao Raul, anos depois ele se tornou técnico de som. Trabalhou anos como técnico de PA da Rita Lee, após estudar engenharia de áudio e vir a se tornar um grande profissional dessa área. E assim foi a minha meteórica passagem pela: "Pinha's Band"...
E ainda em 1990, eis que mais um convite para participar de um projeto, surgiu. Mas desta feita, a ideia não seria ser componente de uma banda, mas side-man de um guitarrista que planejava lançar um disco solo, com as suas canções. Esse é o assunto no próximo capítulo dos "Trabalhos Avulsos". 
 
Continua...

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