Ao final de 1996, eu recebi de meu então aluno, Ricardo Schevano, um
convite irrecusável: ele queria que eu produzisse em estúdio, o som de
sua banda, chamada: "Essex". O som do Essex não era inteiramente do meu
agrado, pois tratava-se praticamente de um trabalho versado pela estética do Heavy-Metal.
Ricardo Schevano, em foto dos anos 2000, a atuar com o "Baranga"
No entanto, eu gostava de todos os membros da banda, que eram agregados de minhas aulas, e por afeiçoar-me à eles, torcia pelo seu desenvolvimento, e tinha muita vontade de ajudá-los.
No entanto, eu gostava de todos os membros da banda, que eram agregados de minhas aulas, e por afeiçoar-me à eles, torcia pelo seu desenvolvimento, e tinha muita vontade de ajudá-los.
A banda era formada pelo Ricardo Schevano no baixo, Marcello
Schevano, seu irmão, na guitarra solo, Tony Peres (irmão de Alexandre
Peres Rodrigues, este também meu aluno, e hoje líder do Klatu), na guitarra base e
voz e Marcelo Burani, sobrinho do baterista, Diógenes Burani (ex-Moto
Perpétuo), na bateria. Todos frequentavam as minhas aulas, constantemente.
O genial multi-instrumentista, Marcello Schevano
Éramos parceiros de futebol e companheiros de tantas idas a lojas de discos e shows de Rock, há muito tempo, portanto, ajudá-los nessa gravação, seria um prazer. E assim, no início de 1997, eles agendaram sessões de gravação no estúdio Spectrum, localizado no Ipiranga, zona sul de São Paulo. Eu conhecia bem o Spectrum, pois fora lá que o Pitbulls on Crack gravara o CD "Lift Off", em 1996.
Éramos parceiros de futebol e companheiros de tantas idas a lojas de discos e shows de Rock, há muito tempo, portanto, ajudá-los nessa gravação, seria um prazer. E assim, no início de 1997, eles agendaram sessões de gravação no estúdio Spectrum, localizado no Ipiranga, zona sul de São Paulo. Eu conhecia bem o Spectrum, pois fora lá que o Pitbulls on Crack gravara o CD "Lift Off", em 1996.
Portanto, eu conhecia os técnicos e o
equipamento da casa. Infelizmente, a mentalidade do estúdio era norteada pela interferência
na produção de seus clientes, o que gerava atritos, naturalmente.
O edifício Essex, onde os irmãos Schevano, e Marcelo Burani moravam, e daí, a razão pelo nome da banda
Isso desgastava, a relação, é claro, mas no momento crucial, havia uma margem mínima para uma negociação. Aliás, nem deveria haver, pois é óbvio que eu considero bastante invasivo interferir no som de um cliente.
Isso desgastava, a relação, é claro, mas no momento crucial, havia uma margem mínima para uma negociação. Aliás, nem deveria haver, pois é óbvio que eu considero bastante invasivo interferir no som de um cliente.
Se fosse eu a comandar a operação da mesa e tivesse uma eventual sugestão muito boa, ainda sim, pediria
licença e deixaria o artista e o seu produtor, livres para acatar ou
não. Mas no caso daquelas pessoas, a mentalidade era a de manter um
padrão de sonoridade linear para tudo o que saísse de lá, a pensar em seu interesse e não do cliente. E como esses rapazes
gostavam do Pop oitentista, queriam timbrar todo mundo a la "Tears for
Fears", "Oingo Boingo", "Men at Work", "Inxs", e outros artistas de seu gosto pessoal, ou seja... socorro! Todavia, uma tremenda atitude invasiva dessas tinha o lado
conveniente ali: o preço cobrado pelo estúdio, era muito bom, abaixo do praticado no mercado para estúdios daquele nível.
E dessa forma, artistas sem
recursos submetiam-se a esse estado de coisas. O Pitbulls on Crack sofreu
bastante nesse sentido, mas isso é assunto para o capítulo específico de tal banda. Aqui, o
assunto neste momento é a minha participação como produtor da demo-tape
do Essex, naturalmente.
Nessa época, os irmãos Schevano usavam o
sobrenome materno, Rangel, como nome artístico, mas logo a seguir adotaram o
Schevano, paterno, de uma forma definitiva.
Então, a produção foi prazerosa, pois eu conhecia bem todos
os membros da banda, e tínhamos um clima de amizade muito bom entre nós.
Todavia, como o som
deles era pesado, praticamente no campo do Heavy-Metal, eu decidi dobrar as
guitarras base, para encorpar bem o som e respeitar a proposta que eles tinham para a sua sonoridade. No entanto, em meio a essa operação, infelizmente
perdemos tempo, e esse tempo faltou no final, com a mixagem não sendo
realizada com o capricho maior que eu desejaria.
O baterista Marcelo "Always" Burani
O orçamento foi pequeno e faltou-me percepção na hora em que gravava o dobro da guitarra base, em abortar esse plano "A", e partir para o "B", mas enfim, foi o melhor que pude fazer à época.
O orçamento foi pequeno e faltou-me percepção na hora em que gravava o dobro da guitarra base, em abortar esse plano "A", e partir para o "B", mas enfim, foi o melhor que pude fazer à época.
Um fato curioso aconteceu nessa gravação. Eles queriam o
reforço de um teclado, e por incrível que pareça, ninguém da banda sabia
nem como achar as notas musicais no teclado, sendo assim, eu mesmo
gravei um pequeno trecho, ao executar um ataque com um acorde cheio, sem
desenhar, pois não possuía técnica alguma aos teclados.
O engraçado disso, é
que bem pouco tempo depois, o Marcello comprou um sintetizador, e menos
de um ano depois, ele faria solos complexos do Keith Emerson e também tocava piano
Honky-Tonk igual ao Elton John etc...
Algum tempo atrás, ao referir-me a 2012, mais ou menos, o Ricardo contou-me que ele e o irmão planejavam resgatar esse material,
para lançá-lo em CD, mediante uma pequena tiragem para as vendas.
Realmente foi uma demo de luxo
que poderia mesmo ser lançada em formato CD. Certamente na época, o Essex era uma banda
obscura, e só conhecida entre os amigos, parentes dos componentes etc. Mas hoje em dia, com os
irmãos Schevano após terem feito tantos trabalhos significativos, certamente despertaria a atenção da mídia especializada, e o interesse de fãs e colecionadores. O Essex teve vida curta
após a gravação desta demo.
Depois entraria no
"Sidharta", o meu projeto com Rodrigo Hid e Zé Luiz Dinola (história contada integralmente em seu capítulo exclusivo, é claro). O "Sidharta"
fundiu-se com a "Patrulha do Espaço", e depois ele (Marcello), formou o "Carro Bomba",
além de tocar com o "Som Nosso de Cada Dia", e hoje em dia (2016), atua também com o "Casa das Máquinas" e "Golpe de Estado".
Ricardo Schevano substitui-me no "Pitbulls on Crack", onde ficou
pouco tempo.
Ao tornar-se amigo do Deca (guitarrista do Pitbulls on Crack), formou com Paulo Thomaz e o
Xande Saraiva, o "Baranga". Hoje em dia, está no "Carro Bomba", também.
Marcelo Burani formou o "Quarteto Hermeto", no início dos
anos 2000, e toca pela noite até hoje. Antonio "Tony" Peres Rodrigues, trabalhou na
gravadora Primal/Velas, foi roadie do Pitbulls on Crack, e formou bandas sob orientação Heavy-Metal, ao longo dos anos 2000.
Foi assim a minha participação na
gravação da demo-tape do Essex, em 1997.
O meu próximo trabalho avulso foi feito mediante um outro convite para produzir uma demo-tape de estúdio, para a banda de um aluno meu. E curiosamente, ao lidar, assim como no caso do Essex/Marcello Schevano, com um outro futuro parceiro de trabalho!
Continua...
Continua...
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