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sábado, 14 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 36 - Edy Star: A Acompanhar o Marc Bolan Brasileiro - Por Luiz Domingues

Por volta de outubro de 2014, o guitarrista, Kim Kehl, formulou-me um convite. Com o impedimento de nosso amigo em comum, Marcião Gonçalves, que estaria a cumprir data com o famoso artista Folk, Renato Teixeira, surgiu a oportunidade para que eu o substituísse na banda de apoio do grande, Edy Star, a visar um show que seria realizado em novembro. 

A banda de apoio de Edy Star, chamava-se: "Easy Rider's Band" e tinha como baixista titular, o Marcião Gonçalves, desde muito tempo. Com a presença do Kim Kehl a pilotar a guitarra e o meu colega do "Pedra", Ivan Scartezini, na bateria, o convívio e entrosamento seriam automáticos, naturalmente.  

Como se não bastasse, haveria a presença das ótimas vocalistas, Ivani Venâncio e Renata "Tata" Martinelli, ambas minhas amigas, e no caso da Tata, com um convívio muito bom no início de minhas atividades com Os Kurandeiros, em 2011. Em suma, seria um prazer duplo, por acompanhar um artista histórico da MPB & Rock brasileiro setentista e também para atuar ao lado de tantos amigos com os quais eu estava habituado a tocar, em bandas e circunstâncias diferentes.

O Baixista & Guitarrista, Marcião Gonçalves, titular da Easy's Rider Band, de Edy Star, nessa época. Fonte: Internet

Claro que eu aceitei, e ainda mais para cobrir a lacuna de um velho e bom amigo, o talentoso baixista & guitarrista, Marcião Gonçalves,  era (é) sempre um prazer poder ajudá-lo (sei que a recíproca é verdadeira), e posso contar com ele em qualquer eventualidade que eu não possa estar presente.

A capa do LP "Sweet Edy" de Edy Star, lançado em 1974

Definido o Set List, eu preparei muitas músicas do repertório solo do Edy, muitas do Raul Seixas, o seu parceiro mais famoso e clássicos da Jovem Guarda e do mundo popularesco da música mainstream. Haveria também a participação de um jovem artista da cena "indie" em voga, chamado: Juliano Gauche e nós tocaríamos uma canção de seu repertório, igualmente.

                           Edy Star em foto promocional dos anos setenta

Seria um show de Rock, com sabor de diversão e a conter um óbvio apelo "Glitter-Rock", pois além do Edy Star ser um artista comprometido com tal estética da androginia setentista implícita, a apresentação ocuparia o posto de headliner de uma festa Gay, denominada: "Festa Odara", a ser realizada em um charmoso Centro Cultural localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.  

Em outras épocas, eu talvez constranger-me-ia com tal característica da festa, mas em pleno 2014, acho que não haveria mais nenhum tipo de margem de preocupação para tal e como sou heterossexual bem resolvido, não haveria como incomodar-me em tocar em uma festa "GLS", pois bastaria acionar o respeito à condição dos que professavam tais preferências e em suma, eu não tinha nada contra tais pessoas que assim escolhem ser e agir, sem julgamentos ou incômodo com o que as outras pessoas fazem de suas respectivas vidas.

Na segunda foto, direto do estúdio Curumim, de São Paulo, bastidores do ensaio ocorrido dois dias antes do espetáculo. Da esquerda para a direita: Marco "Pepito" Soledade, Renata "Tata" Martinelli, Edy Star, Ivani Venâncio, Ivan Scartezini, eu (Luiz Domingues) e Kim Kehl. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Foto: Lara Pap

E o lado artístico interessante, seria o de estar a acompanhar um artista que notabilizara-se em sua carreira pela opção pela estética "glam", portanto, a melhor prerrogativa seria aproveitar tocar com o "Marc Bolan brasileiro", e sentir-me assim a tocar no "T.Rex" em plenos anos setenta. 

Enfim, desprovido de preconceitos e temores tolos, fui para o ensaio com o repertório quase decorado, mas na sala de ensaio ganhei a confiança final, pois muitas músicas foram cortadas pelo Edy, que para a minha sorte, escolheu o set list baseado nas músicas em que eu estava mais seguro. 

O Kim pensou em chamar um outro guitarrista, ou um tecladista para encorpar o som, mas com o tempo curto, eis que mudou de ideia e perguntou-me se eu não importava-me em tocar somente com ele a suprir a harmonia da banda. Claro que não, estou acostumado a tocar em formação Power-Trio e se não houver um segundo harmonizador na banda, a vida segue, eu preencho a linha de baixo com maior agressividade, e dá tudo certo...   

O grande, Marco "Pepito" Soledade, um percussionista técnico e muito criativo. Fonte: Internet

Então, ele sugeriu convidarmos um percussionista e o nome de  Marco Soledade, o "Pepito", surgiu. Nós já o tínhamos visto em ação, ao acompanhar o guitarrista, Marcião Pignatari, por ocasião do show d'Os Kurandeiros no Ceu Jaguaré, recentemente (Festival "Hoje Tem Blues"). 

De fato, a minha impressão sobre a sua performance fora a melhor possível, pois eu fiquei com o conceito de que ele era (é) um percussionista muito técnico, criativo e versátil. Feito o convite, contamos com ele no ensaio, com extremo profissionalismo, o que só nos fez aumentar o bom conceito a seu respeito: pontual ao máximo, com as músicas decoradas em mente e preenchidas com um "swing" incrível.

 

 Ivan Scartezini e eu (Luiz Domingues) nos tempos do Pedra (click de Grace Lagôa) e abaixo, Kim Kehl ao vivo (click de Lara Pap)

No ensaio, o clima foi amistoso e não poderia ser de outra forma. Eu tocava com o Kim desde 2011, e com o Ivan, desde 2006.

No dia do show, cheguei bem cedo, por temer haver problemas para achar uma vaga de estacionamento, e naquela região do entorno do Centro Cultural Rio Verde, achar uma vaga, é quase um milagre.

Quando entrei nas dependências dessa instituição, fiquei muito impressionado com as instalações. Apresentava-se como um espaço amplo e detinha várias opções além do salão de shows. Com restaurante, lanchonete interna, várias salas onde ministravam-se diversas aulas e estúdios que serviam como sala de ensaios para bandas, impressionou-me.  

Fora a decoração muito caprichada, com ambientação rústica, mas muito criativa. Já no salão, pareceu-me ali um teatro dos anos vinte, ricamente ornado na art-déco, com vitrais incríveis, mezanino, escadarias e que tais.  

E quando eu cheguei perto do palco, tive uma surpresa agradável: todo o aparato de instrumentos de percussão do Marco "Pepito" já estava montado e microfonado devidamente, ou seja, ele chegara ainda mais cedo do que eu...

Fui bem recebido pelo técnico de som que me disse ser baixista, igualmente e por conta dessa simpatia para comigo, capricharia na equalização do meu baixo. Maravilha, com esse entusiasmo, de fato, passamos o som do baixo por alguns minutos, e nesse instante eu fiquei com a impressão de que haveria uma pressão sonora de PA sob um padrão de show de Rock bem equalizado. 

No palco, a monitoração estava com peso e timbre, ou seja, o rapaz deu o seu melhor para tirarmos um som de baixo, bem interessante. Esqueci o seu nome para citá-lo devidamente, mas agradeço pelo trabalho bem executado e simpatia, muito bem-vindo, embora raro, devo dizer.

Durante o soundcheck, da esquerda para a direita: Kim Kehl, Ivan Scartezini, Marco Soledade "Pepito", e eu, Luiz Domingues. Acervo e cortesia: Kim Kehl Click: Lara Pap

Com a chegada dos outros componentes, fomos buscar a equalização individual de cada um e com a banda completa, passamos várias músicas, quando ficamos satisfeitos com a monitoração alcançada.
Kim Kehl & Juliano Gauche, no Camarim do Centro Cultural Rio Verde. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Como o camarim era extremamente confortável, e a conversa agradável, isso tratou de deixar a longa espera pela hora do show, bem mais amena. Claro, quando a casa abriu para a entrada do público, um DJ animou a pista com discotecagem. Aconteceu então uma longa sessão com muita Disco Music, MPB e até Rock'n' Roll  para embalar o público.

Kim Kehl & Renata "Tata Martinelli" em ação no show. Click de Felipe Prado

Quando chegou a hora do espetáculo, entramos no palco e a adrenalina estava a mil, com o público muito aquecido e melhor ainda, muito a fim de aproveitar o show do Edy. 

Nesse caso, inclusive, apesar de ter sido um público extremamente jovem, ficou nítido que adoravam a figura do Edy. E não deu outra!  

Começamos com uma versão de "Satisfaction", dos Rolling Stones, e se havia alguma dúvida que a pegada seria de Rock, aos primeiros sinais do Riff, iniciados pelo Kim, a casa veio abaixo, com clima de show de Rock da velha guarda.

Marco Soledade "Pepito" ao fundo, eu, Luiz Domingues, na frente. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Senti-me a tocar no Rainbow Theater em 1972, com aquela ebulição toda, sob um público enorme e a pular do começo ao fim da canção.
Edy Star, a se parecer muito com Gary Glitter, nesse click de Felipe Prado

Edy entrou em cena de uma forma triunfal. Um artista muito experiente, e que sabe colocar-se no palco com maestria. 
Luiz Domingues no destaque, com o percussionista, Marco Soledade "Pepito" ao fundo. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A tocar, me divertir, mas também a observar tudo com atenção, percebi claramente que o Edy era (é) um dos últimos remanescentes do "desbunde setentista da MPB". Aquela performance rara hoje em dia, e não estou a referir-me sobre trejeitos homossexuais, mas a realçar um élan, que hoje em dia, só ele e Ney Matogrosso ainda possuem. Lembrei-me também do Lenny Dale, que não foi um Rocker, mas possuía esse sentido do "desbunde", como dançarino, e certamente que Edy era (é) dessa mesma linhagem artística.
Um pouco de delírio provocado naquela noite. Click de Felipe Prado

Os Rocks do Raul Seixas causaram delírio generalizado, e em "Metamorfose Ambulante", eu cheguei a arrepiar-me, pois gerou-se uma comoção no ambiente.
Na linha de frente das vozes, da esquerda para a direita: Tata, Ivani e Edy. Foto de Felipe Prado    

Muitas canções ingênuas da Jovem Guarda, e até da Pré-Jovem Guarda (várias da Celly Campelo, por exemplo), foram cantadas aos berros pela multidão, e ao considerar-se que estes jovens ali presentes não eram nem nascidos na época do lançamento delas, fez-me pensar que nem tudo estava perdido e muitos jovens tinham uma percepção diferente em relação ao péssimo momento cultural que enfrentávamos em 2014, com a subcultura & anticultura de massa a esmagar-nos impiedosamente. Será que isso poderia ser atribuído ao fato da maioria ali presente, rapazes e moças serem homossexuais? Nem quero entrar nesse mérito.
Juliano Gauche encarnou Sérgio Sampaio, e botou o bloco na rua... foto de Felipe Prado  

A intervenção do Juliano Gauche surpreendeu-me. Tanto a sua canção, o Rock: "Amor do Capeta", quanto a música do Sérgio Sampaio que interpretou, foram muito intensas.

Da esquerda para a direita: Ivani Venâncio, Pepito ao fundo, eu (Luiz Domingues), e Tata Martinelli. Foto de Felipe Prado

As meninas cantaram muito. Tata e Ivani conhecem-se há muitos anos, e estão acostumadas a cantarem juntas. De orquestras de baile a bandas de Rock como o Made in Brazil, por exemplo. 

Em alguns momentos, o swing da banda surpreendeu-me. Estou acostumado com o Kim e o Ivan, em bandas diferentes, mas foi ótimo tocar com ambos pela primeira vez, juntos. E o Pepito destruiu tudo, com a sua percussão muitíssimo bem executada. Como diria o Wilson Simonal, Pepito foi o sujeito que acrescentou o "Champignon"...

Renata "Tata" Martinelli em destaque, com Kim Kehl no canto esquerdo do palco. Foto: Felipe Prado

O público delirou o show inteiro, mas ao tratar-se de um público "GLS", creio que eu só reparei que a maioria ali presente era homossexual, quando tocamos o hino gay: "I Wil Survive", da Gloria Gaynor, com o delírio instaurado e onde a Tata deu um show de vocalização. 

De fato, tocamos essa canção sob o critério da Disco Music, mas com a devida pegada de Rockers que somos, a música cresceu em peso e tratou de provocar a ebulição final naquele caldeirão em que transformou-se o Centro Cultural Rio Verde.

                  Mais flagrantes do show. Fotos de Felipe Prado

Missão cumprida, encerramos o show e com o sentimento bom por termos ido além das expectativas, inclusive a gerar uma euforia rara, como se houvesse sido um show de Rock de outrora...

                                  Edy Star em destaque. Foto: Felipe Prado

Claro, a vaga de baixista do Easy Rider's Band, é do amigo, Marcião Gonçalves, mas se precisar, eu vou de novo, e com a certeza de que é diversão pura. 

Esse show ocorreu no Centro Cultural Rio Verde, localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, no dia 14 de novembro de de 2014, com cerca de trezentas pessoas na plateia.

Festa Odara com Edy Star & Easy Rider's Band. Eu, Luiz Domingues em destaque na foto acima. 14 de novembro de 2014, Centro Cultural Rio Verde, bairro de Pinheiros - São Paulo-SP. Foto: Felipe Prado 

Bem, esse foi o último trabalho avulso que realizei no período entre abril de 1976/abril de 2016, objeto de foco do meu texto autobiográfico. 

Eu já gerei novas histórias nesse campo, mas que não constam do texto do primeiro livro impresso ("Quatro Décadas de Rock"), porém, serão publicadas neste Blog, além do meu Blog 2, também, quando iniciar esse processo dos textos suplementares a conter os adendos com atualizações, a partir de outubro de 2017 (esta nova fase de histórias, fará parte do segundo livro: "Mais Rock Depois dos Quarenta"). 

Para seguir a ordem do meu livro autobiográfico, daqui em diante, siga a ler sobre a minha trajetória com o "Terra no Asfalto", banda fundada em dezembro de 1979, e que gerou muitas histórias interessantes.

Mas antes de iniciar a minha história com o "Terra no Asfalto", há  um capítulo adicional sobre os trabalhos avulsos, para dar vazão aos agradecimentos gerais nesse campo de minha atuação na música.

Portanto, continua...

2 comentários:

  1. Curti de montão a festa e o show que só tenho a acrescentar que foi espetacular!

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  2. Mas que legal que curtiu a apresentação, amiga Jani.

    Sua observação assistindo, foi a mesma que tive, tocando.

    Grato por comentar !

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