Firme com o
Pitbulls on Crack, desde o início de 1992, o meu último trabalho avulso
fora uma apresentação da banda tributo ao Black Sabbath, "Electric
Funeral", em julho de 1992, realizado no Aeroanta de São Paulo.
Então, logo no
início de 1996, eu recebi o telefonema do Laert Sarrumor, que convidou-me a
participar de um show tributo a Janis Joplin, que ele estava a organizar,
e que seria realizado no mesmo Aeroanta, citado anteriormente.
Com o Pitbulls on Crack em
ritmo de gravações do primeiro CD, e poucos shows em vista nessa ocasião, eu aceitei pela
diversão, e oportunidade para rever amigos, principalmente o Laert, que eu
via pouco na época, e cuja última vez em que estivéramos sob um palco, juntos, fora em
julho de 1984, quando despedi-me do Língua de Trapo, pela última vez,
a encerrar a minha participação, na segunda e derradeira passagem
que tive por essa banda.
Então combinamos um encontro, onde ele deu-me a lista do
repertório que pretendia tocar.
Fiquei surpreso, pois haviam diversas
canções, incluso o blues, "Amor à Vista", pérola do repertório do Língua de Trapo,
por ocasião de minha segunda passagem pela banda entre 1983 & 1984.
Entretanto, pasmem, só havia uma canção da Janis Joplin inclusa nesse set
list, e tratava-se de um tema instrumental, ou seja, tal tributo haveria de se tornar bizarro por tal ausência completa de canções vocalizadas da homenageada que se notabilizara justamente pela sua voz privilegiada!
Ou seja, a grande
jogada irônica desse tributo, seria que homenagearíamos, Janis Joplin,
a tocar um repertório composto por Blues autorais e a contar com somente uma música do
repertório dela, verdadeiramente, e a revelar-se um tema instrumental!
Tratava-se da canção: "Buried Alive
In Blues", que está inserida no LP "Pearl", lançado logo após a morte de Janis Joplin, em outubro de 1970. Essa faixa ficou sem vocal, pois a Janis
falecera antes de gravar a sua voz nessa canção, e o produtor bancou a colocação do tema no álbum,
como uma homenagem à banda de apoio, e assim ficou contida no repertório do LP "Pearl". Mas nesse
tributo, tornou-se uma ironia incrível tocar só esse tema do repertório
dela, justamente uma canção instrumental, em meio ao trabalho de uma artista que ficara famosa justamente por conta da sua voz!
Marcamos apenas um ensaio, super improvisado na
minha residência, só para tirarmos dúvidas sobre a harmonia e mapa das músicas. Foi
bem superficial e ocorrido em um dia de semana, no período noturno, na minha sala de aulas.
Gilberto "Giba San" na primeira foto e Zé Miletto, na segunda
A
banda seria composta por Laert Sarrumor no vocal, Gilberto "Giba San" na
guitarra, e Zé Miletto no teclado, além de minha presença no baixo, e o baterista,
Nahame Casseb, popular Naminha, outro velho companheiro do Língua de Trapo, da formação, 1983 & 1984,
que eu também não via há anos.
Todavia,
o Naminha não foi ensaiar, pois ainda não
havia chegado de viagem. Ele morava em Tóquio há muitos anos, e estava
por desembarcar em São Paulo para visitar parentes e amigos, indo direto para o show,
e a saber tocar as músicas apenas por tê-las ouvido no Japão.
Foi um ensaio
divertido, com o prazer de estar com o Laert, novamente, após tantos
anos. O Zé Miletto também mostrou-se muito gentil, embora eu não tivesse
intimidade
alguma com ele na ocasião, e o Giba "San" eu conhecia vagamente, pois ele era/é figura
tarimbada no mundo das bandas cover da noite paulistana.
Trata-se de um
excelente guitarrista, muito requisitado como side-man de vários
artistas, e com participações em bandas cover. Sendo assim, com um ensaio
apenas, fomos para o show, que prometeu ser bastante divertido.
O show teve um esforço de divulgação razoável, pois
foram feitos cartazes, filipetas, e até os românticos "Lambe-Lambe", cartazes de
grande porte para muros, e tapumes urbanos para o apoio. Ocorreu no dia 19 de janeiro de 1996, mas
infelizmente, a despeito da divulgação, houve pouco público presente. Foram apenas sessenta pessoas que passaram pela
bilheteria, e além dessa banda tributo, haveria a apresentação de um
grupo autoral muito interessante que eu já havia ouvido falar, chamado:
"The Tea House Band" .
A vocalista/baixista da banda era amiga do Laert,
e pelo que eu apurei ao ouvir conversas no camarim, essa artista havia participado da
produção do Língua de Trapo, por ocasião da retomada das atividades da
banda em 1992. Assisti o show de abertura dessa banda pela coxia, e gostei
muito, pois o seu material foi 100% calcado em influências sessentistas.
O visual deles
remetia ao Pop "bubblegum" dos anos 1960, e aquilo impressionou-me muito
positivamente, pois eu vivia uma fase em que estava muito imbuído no afã para mergulhar em uma experiência retrô, nesses mesmos moldes, e assim foi, quando o Pitbulls on
Crack lançou o CD "Lift Off", e posteriormente com a formação do Sidharta, e
posterior fusão com a Patrulha do Espaço.
Conversei rapidamente com os membros do
"The Tea House Band", e apreciei saber que eles realmente eram 100%
influenciados pelos anos 1960. Foi um grande alento saber que eu não estava sozinho no
mundo, e que não fora apenas um turrão mergulhado sob uma idiossincrasia
nostálgica, e portanto avesso ao mundo dos "Rockers de bermuda, hiper tatuados e com
piercings", panorama recorrente dos anos noventa.
No camarim, foi
um festival de risadas, com tantas piadas que surgiram. Principalmente
quando o Laert vestiu a roupa que alugara, especialmente para usar durante o show.
Se tratou de
um terno de cetim cor-de-rosa, com camisa colorida e cheia de babados e
acessórios vintage, como um par de sapatos de salto carrapeta, e um
chapéu espalhafatoso, com plumas enormes.
Tudo bem, ele queria usar um
visual ao estilo "Hippie Chic", bem exagerado, mas que ficou mais parecido com o estilo de Sly Stone do
que Janis Joplin.
E quando nosso velho amigo, o ator, Paulo Elias, outro
ex-membro do Língua de Trapo, viu o Laert a usar tal traje, teve um ataque de riso e disse:
- "Laert, você está a se parecer com um cafetão de filme policial norte-americano... só
fica a faltar um Cadillac conversível, e algumas prostitutas em sua volta"...
Em
princípio, o Laert não gostou da piada, e respondeu-lhe: - "Pô Paulinho, não
precisa esculhambar"...
Aí, a reação foi ainda mais engraçada, com todo
mundo no camarim a cair na risada, pois mais esculhambada que a fantasia
que ele alugara, se tornou impossível! Ao final da história, ele, Laert, também caiu na risada e ficou
tudo bem, então. Subimos ao palco e o show foi bom, embora muito curto em sua duração.
Foram
oito ou dez músicas apenas. Confesso que gostei muito de tocar ao vivo
novamente a canção: "Amor à Vista", uma música que eu gostava muito de executar, durante minha
segunda passagem pelo Língua de Trapo. Trata-se de uma letra satírica, cheia de
nuances absurdas, mas na verdade é um belo blues, bem sessentista, com
carga freak intensa.
À medida que tocávamos, eu notava no semblante
daquelas sessenta e poucas pessoas da plateia, um ar de frustração e expectativa, pois
elas esperavam músicas da Janis Joplin e nós ali só a executarmos canções estranhas aos
seus ouvidos...
A última, foi: "Buried Alive in Blues" e o público soltou-se ao reconhecê-la, com alguns a dançar no imenso espaço vazio do Aeroanta, com pouca
gente presente. O Laert pôs-se a dançar pelo palco e foi um misto de algo bonito
pela homenagem aos anos sessenta, e engraçado também, pois a sua veia humorística
nunca ficava desativada.
Então encerramos o espetáculo e muitas pessoas da plateia protestaram com certa veemência! Eu ouvi um rapaz a falar que: -"queria o dinheiro de volta, pois fora enganado,
já que aquilo não fora um tributo à Janis Joplin, de jeito nenhum!"
Um grupo
de garotas também protestou, ao alegarem que haviam deslocado-se de Caieiras (um
município da Grande São Paulo, relativamente longe da capital)
etc.
Realmente, foi um tributo estranho, quiçá irônico, mas por outro
lado, não foi um show cover. E um fato eu posso confirmar: o Laert é
apaixonado pela Janis Joplin.
Desde que nos conhecemos em 1976, eu sei
disso. Portanto, a não inclusão de músicas da Janis Joplin, com exceção do
tema instrumental, não teve conotação de afronta, de forma alguma.
E assim
foi esse trabalho avulso, que valeu muito mais por reencontrar velhos
amigos como o Laert, Naminha e Paulo Elias, por exemplo.Além do prazer de tocar com Milleto e Giba "San" e assistir a "The Tea House Band" com a sua verve sessentista assumida.
Depois
de frustrar-me por não tocar as músicas dos grandes artistas que tanto admiro, David Bowie e Marc Bolan e ter feito
um bizarro show tributo à Janis Joplin, sem tocar nenhum clássico de seu
repertório sequer, o meu próximo trabalho avulso só ocorreria em 1997, e mais uma
vez a auxiliar uma banda de um aluno meu a gravar uma fita demo em estúdio.
Continua...
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