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domingo, 1 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 10 - Quinteto Jazz: Ao Sentir-me um Estranho no Ninho - Por Luiz Domingues

O próximo trabalho avulso só foi aparecer em janeiro de 1982. O Terra no Asfalto havia encerrado atividades em outubro de 1981, e após uma inócua tentativa para se recriar como banda autoral (isso está contado nos capítulos dessa banda, naturalmente), ainda houve uma última volta em março de 1982.  

Mas nesse hiato o vocalista desse banda, Paulo Eugênio Lima, que eu admito, era um sujeito dinâmico, conheceu um baterista veterano que o apresentou a um tecladista amigo, também de meia-idade. O objetivo dos três seria formar uma banda com características jazzísticas, e sob inserções no Blues. O Paulo levou-me a essa banda, que nos consumiu pelo menos um mês de muita conversa inócua, mas só fez um mísero ensaio e implodiu.

O tal baterista chamava-se: Edson. Ele trabalhara com uma banda nos anos 1970, chamada "Blue Gang", que tocava Jazz & Blues pela noite paulistana, mediante covers e standards versados por esses gêneros musicais. Era um músico diletante, pois o seu meio para ganhar a vida era uma oficina de chaveiro, dentro de um supermercado, localizado no bairro Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo.

O tecladista, igualmente amador, era um dentista chamado: Lino, que falava pelos cotovelos e mesmo ao não nos conhecer, alardeava perspectivas mirabolantes, pois dizia-se detentor de contatos para promover uma "turnê pela Europa", em um circuito de bares, pubs & cabarés. Segundo ele, nós começaríamos pela Áustria. 

Até hoje eu não sei dizer se estava a debochar, ou realmente acreditava em uma tolice dessas. A ideia inicial foi convidar o ex-guitarrista do Terra no Asfalto, Geraldo "Gereba", para essa banda, o que seria bizarro, devido à completa falta de sincronicidade dele, para com os dois jazzistas. Eles não iriam querer tocar o som dos Novos Baianos, e nem ele aceitaria tocar a obra de Charles Mingus, certamente.

Entretanto, além dessa movimentação, esse Edson tratou por encaixar-me em uma suposta "oportunidade", que revelou-se uma completa perda de tempo. Através dele, eu fui indicado para participar de uma Jam-Session com músicos desconhecidos do meu rol de amizades, na casa de Jazz, "Opus 2004", tradicional reduto de jazzistas, situado na Rua da Consolação, no bairro de mesmo nome, em São Paulo. Isso não animara-me em nada, pois além de ser uma noitada sem remuneração, o Jazz...


Enfim, o Jazz nunca esteve entre as minhas principais predileções. O meu contato com o gênero hoje em dia é bem mais amplo, mas naquela época, eu conhecia os nomes de vários artistas dessa escola, mas sem nenhuma profundidade mínima, que fornecesse-me conhecimento de causa para dedicar-me com segurança nesse campo da música. Contudo, para não indispor-me com o baterista Edson, que esboçara achar importante que eu realmente enturmasse-me com esses músicos, eu aceitei a empreitada.

Fui ao "Opus 2004" em uma noite de segunda-feira, e só por chegar na casa a ostentar a minha longa cabeleira Rocker, eu já percebi um desconforto nos rapazes com os quais eu tocaria. Não lembro-me do nome de ninguém. Só que havia um pianista, um trombonista e um trompetista, além de um ou dois saxofonistas e um guitarrista.
A conversa deles era esnobe, e vez por outra, ao perceber o meu jeito deslocado ali, soltavam umas alfinetadas irônicas etc. e tal.

Por sorte, o baterista faltou, e eles resolveram cancelar a jam-session. Agradeci aos Deuses do Rock, pois não iria ganhar nada, financeiramente a falar, e teria que tocar com uma série de músicos pedantes e incrivelmente desagradáveis pela conversa. 

Quando revi o tal Edson, ele mostrou-se melindrado, pois os músicos disseram-lhe que eu portei-me como alguém deslocado no Opus 2004. Ora, agradeço a lembrança por indicar-me, mas realmente eu senti-me fora daquele ambiente naquela casa, e com aqueles músicos, o que eu poderia fazer? Fingir estar a vontade por me colocar em uma situação desconfortável, e ainda mais sob caráter gratuito?

Após esse episódio, e o fraco ensaio realizado, esse projeto de banda dissolveu-se, ainda bem. Essa frustrada banda nunca teve um nome. 

"Quinteto Jazz", eu inventei só para nomear o episódio no capítulo. O Terra no Asfalto ainda teria uma nova volta a partir de março de 1982, para encerrar atividades definitivamente, em maio de 1982. Mas logo a seguir, surgiu um novo trabalho paralelo.

No próximo capítulo, eu falo sobre a minha participação na banda de apoio de Lily Alcalay, uma cantora, compositora e violonista muito talentosa e batalhadora.

Continua...

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