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domingo, 1 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 17 - Lynx: o Excepcional Flávio Gutok! - Por Luiz Domingues

Mais ou menos na mesma época em que eu me recusara a prosseguir a ensaiar com uma banda cuja sonoridade eu não apreciava (e ainda por cima, por ter sido uma banda muito fraca, tecnicamente a falar, e cuja história eu já narrei anteriormente, neste capítulo dos "Trabalhos Avulsos"), eis que surgiu um convite bem mais interessante, que veio da parte do guitarrista, Flávio Gutok, ex componente da banda de Heavy-Metal, "Harppia". 
 
Ele estava por formar um quarteto ao estilo do Hard-Rock oitentista, com o objetivo sério de transitar pelo trabalho autoral e a se expressar em português. Nessa altura ele já anunciara ter em mãos algumas músicas inteiramente compostas, arranjadas e a contar com outros dois bons músicos na sua formação.
Por volta de junho de 1990, eu comecei a ensaiar com eles em um estúdio localizado na Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo, pertencente a um guitarrista uruguaio, chamado: Jorge. Tratava-se de um estúdio caseiro, porém bem montado na antiga adega da sua residência/estúdio, aliás, um belo sobrado, próximo à Praça Tupã.

Em meio a essa rotina estabelecida, nós descíamos em um subsolo muito instigante da casa, que se assemelhava a um bunker. Era meio assustador chegar lá, pela profundidade bem acentuada do tal porão, todavia, o estúdio era bem montado e detinha uma acústica muito boa. 
Os outros músicos eram o Fábio Xepa, ex-baterista de uma boa banda da cena oitentista, chamada: "Anarca", e o vocalista, um rapaz chamado, Joari F. Coimbra, que havia tido uma boa passagem por outra boa banda oitentista, chamada: "Cavalo Vapor". 
 
O Fábio era um baterista firme, econômico nas viradas, mas seguro na condução rítmica & andamento, e o Joari detinha uma voz privilegiada, com muito "sustain", afinação e emissão típica de vocalista de Hard-Rock. 
 
A proposta desse trabalho era boa, sem dúvida. Claro, não era o som dos meus sonhos, porquanto se assemelhava ao trabalho d'A Chave do Sol, na sua "fase Beto Cruz" (formação do quarteto clássico de 1985/1987), portanto mantinha um potencial Pop, entretanto com muita qualidade nos riffs e melodias. E as letras eram interessantes, longe do lugar-comum de bandas oitentistas similares.
 
E óbvio, o Flávio Gutok era (é) um excelente guitarrista, com ótimos recursos técnicos, bom criador de riffs etc. Gentilmente, ele se dispôs a comparecer à minha residência, por duas ou três vezes, previamente para me ensinar a harmonia das músicas, e assim facilitar os ensaios elétricos com a banda toda presente.

Ensaiei com eles, até setembro de 1990, mais ou menos, quando tive que fazer uma opção, pois simultaneamente, eu havia aceitado dois outros projetos de formação de bandas, e o meu tempo também era bastante comprometido pelas aulas que eu ministrava, a se revelar então o meu principal meio de sustento àquela época, e neste caso, em franca ascensão, pois nessa altura, eu mantinha um quadro de alunos na média com trinta a trinta e cinco alunos por semana.
Recordo-me que o Joari não gostou da minha decisão, mas eu realmente não estava a dar conta de ensaiar com três bandas autorais simultaneamente, a driblar meus horários de aulas, e a precisar me deslocar para bairros distantes uns dos outros, e a se considerar que o Joari e o Flávio me forneceram várias caronas, é verdade. 
 
O Flávio lamentou, mas entendeu a minha dificuldade e aceitou resignadamente a minha decisão, o mesmo a ocorrer com o baterista, Fábio.  
 
Depois disso, eu tive notícias do Joari, cerca de quatro anos depois. Parece que houve uma volta do "Cavalo Vapor", e ele esteve presente nessa formação. 
 
Já sobre o Flávio Gutok, ele foi trabalhar como "side-man" de duplas sertanejas do patamar mainstream e assim permaneceu por muitos anos, onde deve ter feito seu pé-de-meia, e quanto ao baterista, Fábio, nunca mais tive notícias ao seu respeito. 
 
Dessa forma, a julgar ter mais esperanças nos dois outros projetos que eu me inseri simultaneamente (que eu relatarei a seguir), tive que deixar esse projeto, que era bom pelo aspecto musical, mas certamente lutaria com dificuldades por um lugar ao sol, pelo lado gerencial & estético. 
 
Muitos anos se passaram, e quando eu fui manter uma maior convivência com o guitarrista, Kim Kehl, soube que este tocou junto com Flávio Gutok, na condição de guitarristas de uma dupla famosa desse meio sertanejo mainstream (a dupla: Rick & Renner).
O Kim me contou que o Flávio, que já era um excelente guitarrista de Rock, doravante se especializou no universo da Country Music norte-americana, e, veio a ser tornar, um virtuose nesse quesito. 
 
De fato, eu já o achava excelente na época em que ele tocava Heavy-Metal, com o grupo: "Harppia", ao final dos anos oitenta. E nesses meses em que ensaiamos juntos nesse projeto de banda Hard-Rock, atestei com meus olhos e ouvidos, a sua qualidade técnica, excepcional.
O grupo de Heavy-Metal, "Harppia", em show durante os anos oitenta, com Flavio Gutok (no canto esquerdo) e Xando Zupo (canto direito do enquadramento 
 
O Xando Zupo, guitarrista do "Pedra", sempre o elogiou muito também, pelo fato de terem tocado juntos, no grupo Heavy-Metal, "Harppia".
Recentemente (2016), eu soube (através do guitarrista, Milton Medusa), que essa banda em que ensaiei e dava os seus primeiros passos em 1990, se tornou o "Lynx", uma banda que prosseguiu então, sem a minha presença, e lançou um disco em 1994, pelo selo Dynamo. Em meu lugar, o baixista presente na formação do disco se chamava: Fredi e o cantor, Joari adotou um novo nome artístico dali em diante ao passar a ser conhecido como: "Jota C".
Nessa época aproximadamente em que eu estava a tocar com o Pedra, eu assisti um vídeo de um outro projeto mais moderno de Flávio Gutok, a tocar em uma banda orientada pela Country-Music. Curiosamente o vocalista Joari (Jota C), também esteve presente nesse combo Country, e eu fiquei boquiaberto com a técnica de Gutok, nesse quesito. 
 
A pilotar uma Fender Telecaster (diga-se de passagem, uma guitarra ideal para esse estilo), ele se mostrara a fazer solos inacreditáveis, sob uma técnica que deixaria guitarristas norte-americanos e especialistas nesse estilo, impressionados. 
 
Senti um tremendo orgulho por vê-lo a ostentar essa forma espetacular e assim, eu apenas reforcei o meu conceito de que ele é um excelente guitarrista, como também dessa forma o consideram os meus amigos em comum: Xando Zupo e Kim Kehl. 
 
E vale registrar, o Flávio Gutok é um tremendo amigo do bem. Todos que o conhecem pessoalmente, pensam o mesmo.
O próximo trabalho avulso que eu relatarei, narra sobre mais um convite para ingressar em uma banda autoral. Seria uma incursão infrutífera em termos de continuidade, mas foi interessante por se tratar de um pitoresco trabalho influenciado pelo Folk-Rock. 

Continua...

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