Bem, se o leitor achou a história anterior, com a cantora, Cinthia,
engraçada, que aperte o cinto na cadeira, por que a que contarei a seguir é muito
melhor.
O grande Lizoel Costa, hoje saudoso e que certamente faz falta
Logo que eu conheci o guitarrista, Lizoel Costa, na Faculdade Cásper Líbero, nos últimos meses de 1979, ele falou-me que fazia diversos trabalhos musicais para sobreviver e perguntou-me se eu aceitaria fazê-los também, se ele precisasse de um baixista.
Logo que eu conheci o guitarrista, Lizoel Costa, na Faculdade Cásper Líbero, nos últimos meses de 1979, ele falou-me que fazia diversos trabalhos musicais para sobreviver e perguntou-me se eu aceitaria fazê-los também, se ele precisasse de um baixista.
A viver uma difícil fase
familiar, com o meu pai a pressionar-me para largar a música e seguir um rumo
tradicional na vida, eu disse-lhe que sim, estava disposto a aceitar tais
trabalhos. Ele alertou-me sobre a possibilidade desses trabalhos serem exóticos
e/ou até desagradáveis. Poderia ser a acompanhar cantores popularescos, tocar em
espetáculos circenses, bailes, enfim, qualquer tipo de oportunidade.
Nesse momento, eu estava
com o grupo Terra no Asfalto a iniciar uma fase difícil (essa conversa com o Lizoel aconteceu
mais ou menos em março de 1980), e o pré-Língua de Trapo a receber oportunidades, mas
ainda longe de firmar-se e gerar sustentabilidade. Dessa maneira, aceitei de
pronto a oferta, e fiquei a esperar um chamado dele para qualquer chance que
aparecesse.
Foi assim então que ele convidou-me para fazer parte de uma banda, um
trio de fato, que tocaria a acompanhar um cantor (na verdade, um imitador & humorista),
durante uma série de shows a serem realizados durante um desfile de moda. Claro
que aceitei, ainda mais ao saber que seriam shows matutinos e sob um ambiente
sofisticado, com gente bonita, tratamento cortês e outras benesses, visto que ele havia assustado-me
com aquela história de "shows exóticos".
Mas se por um lado essa série de shows
renderia um cachê fixo (e bom), e de fato seriam realizados sob um ambiente de
bom nível, o exotismo ficaria por conta do cantor que acompanharíamos. O nome do sujeito era "Zuraio" e
ele era um... travesti...
O show desse artista performático chamava-se: "Desabafo" e consistia de uma série de imitações que ele perpetrava de cantoras da MPB.
Ele usava um biombo no próprio palco e enquanto tocávamos, trocava de roupas e
perucas, a transformar-se em Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa, Alcione
etc.
Foram seis shows, realizados entre 20 e 30
de maio de 1980. E foi assim que funcionou esse trabalho: o desfile começava, havia um
intervalo. Depois fazíamos o show e o desfile prosseguia a seguir.
Foi realizado no espaço & atelier de uma
confecção chamada: "Chavon Modas", localizada na Av. Gabriel Monteiro
da Silva, no bairro elegante dos Jardins, zona sul de São Paulo. Evidentemente
que o público presente foi formado por socialites e aspirantes a.
O Zuraio usava a passarela como o seu palco,
por onde movimentava-se e a banda ficava alojada em um fosso, bem no meio da
passarela, onde durante os desfiles, os fotógrafos trabalhavam. Adorei isso,
pois ficar escondido ali fora a melhor solução que poderia acontecer para os
músicos, por motivos óbvios. Mas mesmo assim, o Zuraio inventou de nós sermos
apresentados individualmente ao público, sob uma vexatória caminhada pela passarela.
E na base da palhaçada, ele colocava-se a proferir
uma série de piadas popularescas que poucos achavam graça, pois ele era
prosaico demais para o ambiente fino do atelier.
Lembro-me que ele
apresentava o Lizoel como: "Hermeto Pascoal", o baterista,
como "Ivan Lins" e eu, por estar com os meus cabelos pela cintura naquela época,
ele chamava como: "Alceu Valença"...
O bom dessa galhofa constrangedora foi que acabava logo
e nós corríamos para o fosso.
Não houveram ensaios. O Lizoel forneceu-me
anotações com a harmonia das músicas e fomos nos apresentar assim, na base do improviso e
sinceramente, não faria diferença, pois o que importou ali foram as imitações
do Zuraio.
E assim, ele imitava Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Alcione,
Clementina de Jesus, Zizi Possi etc. As músicas não eram tocadas inteiras, mas
sim no formato de um pout-pourri (pequenos trechos de várias músicas
emendadas), de cada cantora. Enquanto ele trocava de roupas e perucas, fazíamos
um som improvisado, proposto pelo Lizoel, que já acompanhava o Zuraio desde 1978
ou 1979, não sei ao certo.
O baterista era um rapaz crente, que tocava em uma
banda evangélica. Chamava-se, Jeribal, e não sei o que passava na sua percepção por
estar ali em contrapartida às suas convicções religiosas no tocante à moralidade na sociedade, mas certamente precisava muito do dinheiro.
O Zuraio não parava de falar entre as
músicas, a emendar piadas sujas... mas ao fazer uso da voz das cantoras e improvisar algumas vezes, vozes masculinas, também, por exemplo a do Chacrinha a anunciar a "próxima
atração". Devo admitir, ele não deixava a sua apresentação no vácuo nem enquanto vestia-se, pois não parava, como se estivesse em uma
espécie de incorporação mediúnica e isso, é claro, denotava uma verve para o “timing”
teatral do humor, devo reconhecer.
Mesmo sendo uma apresentação grotesca para
o tipo de evento em que estávamos e mais adequada para o humor do “povão”, ele
realmente imitava bem as cantoras, ao mudar bastante a sua voz e trazer dessa maneira, registros vocais semelhantes aos delas, o que tornava a sua performance,
engraçada.
Nicolle Puzzi e John Herbert, duas personalidades que assistiram essa performance na qual participei na banda de apoio
Nos bastidores, víamos as modelos, garotas realmente muito bonitas. E várias pessoas famosas a circularem e aproveitarem o cocktail. Fomos instruídos a ficarmos expostos o menos possível, para não causar constrangimentos aos convidados. Mesmo por que os homens usavam "Black Tie" e as mulheres, jovens ou não, estavam trajadas elegantemente para um ambiente bastante esnobe, e dessa forma, destoávamos, ao causar mal-estar social, ali.
Nos bastidores, víamos as modelos, garotas realmente muito bonitas. E várias pessoas famosas a circularem e aproveitarem o cocktail. Fomos instruídos a ficarmos expostos o menos possível, para não causar constrangimentos aos convidados. Mesmo por que os homens usavam "Black Tie" e as mulheres, jovens ou não, estavam trajadas elegantemente para um ambiente bastante esnobe, e dessa forma, destoávamos, ao causar mal-estar social, ali.
Lembro-me
de ver ali, a circular os atores, John Herbert, Mário Benvenutti e Nicolle
Puzzi, a jornalista Marília Gabriela e o empresário da noite e dono da boite
"Gallery", José Victor Oliva.
No convívio de bastidores, o Zuraio mostrava-se engraçado. Na verdade, ele era um humorista em potencial, tanto que anos depois eu o vi a fazer parte do elenco de programas humorísticos da TV, como: "A Praça é
Nossa" e correlatos desse gênero de humor popularesco.
Certa vez ele contou-nos que nos anos setenta, fazia shows de transformismo no Rio de Janeiro
(ele era mineiro, mas morou muito tempo no Rio), e que ele e outras travestis
saíam da boite e iam para o Maracanã, diretamente, sem tirar maquiagem e perucas para
assistirem os jogos do Flamengo.
Ainda a relembrar as histórias engraçadas
de bastidores dessa micro temporada inserido em tal desfile de moda, em um outro dia, o Lizoel,
que adorava provocá-lo, lhe fez uma pergunta: -"Zuraio, e se alguém chama-lhe
de bicha na rua, você reage?"
O Zuraio ficou exaltado e respondeu: -"eu
brigo, por que não sou bicha, eu sou veado"...
Mas a pior aconteceu uma vez, quando ele
chegou com semblante de choro e o Lizoel perguntou-lhe o que significava
aquilo, ao que o Zuraio respondeu-lhe: -"estou muito triste hoje, pois
descobri que não posso ter um filho". O Lizoel, apesar de conhecer as suas
pilhérias, desta vez caiu na armadilha do fanfarrão, pois o Zuraio
completou: -"eu não tenho útero"...
Foram seis apresentações, ocorridas nos dias 20, 26,
27, 28, 29 e 30 de maio de 1980. A primeira apresentação que fora a estreia do
desfile, foi muito concorrida, com cerca de quatrocentas pessoas presente,
equipes de TV, muitos fotógrafos etc.
Mas nos dias posteriores o movimento caiu
bastante, com o público a oscilar entre cinquenta a oitenta pessoas por dia. No
último dia, eu e Lizoel tivemos que fazer um esforço muito grande, pois no
mesmo dia iríamos tocar com o grupo a se constituir do pré-Língua de Trapo em uma eliminatória de um Festival estudantil de
MPB na cidade de Bauru, interior de São Paulo. Saímos apressadamente do show do Zuraio
para a rodoviária e ingressamos no ônibus para Bauru, ao enfrentarmos cinco horas de
viagem. Essa história da apresentação nesse festival, já está devidamente
contada no capítulo sobre o Língua de Trapo.
E foi assim essa aventura bizarra em
acompanhar o ator/humorista/cantor e transformista: Zuraio. Algumas considerações finais são cabíveis
no encerramento deste capítulo:
1) Claro que foi constrangedor em diversos
aspectos. Nada contra o trabalho do Zuraio. Até acho que ele era criativo e
versátil como humorista. Mas aquele seu humor ultrajante, mostrou-se muito deslocado
para aquele ambiente esnobe do atelier de moda.
2) Outro fator de constrangimento foi a
questão musical, feita improvisadamente, sem ensaios etc.
3) O fato daquele ambiente ser bastante
antagônico aos três músicos, naturalmente. O baterista Jeribal era evangélico e
muito simples, Lizoel com aspecto de beatnick e eu, um autêntico hippie recém-chegado de Woodstock.
4) O cachê oferecido foi de um valor bom para os
padrões da época. Algo entre cento e vinte ou cento e cinquenta cruzeiros, por
show.
5) A convivência com o Zuraio foi respeitosa,
apesar de suas brincadeiras grotescas sob baixo nível. Ele era um sujeito muito
simples, sem estrelismo algum e a sua homossexualidade não nos incomodava. E
como era comediante, ele sempre nos proporcionava boas
risadas com as suas histórias hilárias.
6) Nunca mais toquei com ele e o Lizoel
também ficou só mais um pouco a acompanhá-lo em boites, que eu saiba. Nessa
época o Lizoel também estava fixo na formação do pré-Língua de Trapo e mantinha outros trabalhos
musicais.
Em um deles, culminou também em encaixar-me, como contarei logo mais, neste
capítulo dos trabalhos avulsos.
7) Tocar no fosso foi bem esquisito, mas
também providencial, pois deixara-nos mais preservados em relação aos climas
constrangedores com as madames ali presentes a demonstrar contrariedade para as imitações debochadas e
as piadas sujas e deslocadas do Zuraio.
O meu próximo trabalho foi com um cantor de MPB, chamado: Leandro, que desejava lançar-se no mercado com um LP e do qual eu participei a gravar uma faixa. E rendeu história!Continua...
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