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domingo, 1 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 2 - O Cerco a se Fechar com o meu Pai... - Por Luiz Domingues

De fato, o clima entre eu e meu pai estava péssimo desde meados de 1979. O fato de eu ter ido tocar em uma mini turnê com o cantor, Tato Fischer, não o animou nem um pouco e pelo contrário, ele ficou muito bravo, pois eu perdi praticamente duas semanas de aulas (eu cursava o terceiro ano do curso colegial, naquele ano de 1979). 
 
Não corri o risco de perder o ano, pois eu mantinha as minhas notas com médias muito boas, e por ser assíduo o ano inteiro, também não haveria o menor risco de estourar a minha cota de frequência. 
Porquanto, tudo era motivo para despertar a antipatia dele ante a minha determinação pela carreira musical & artística. Para a minha percepção, todavia, o fim do trabalho com o Tato Fischer não foi o fim do mundo. Além de surgir a oportunidade de participar da formação do grupo cover, "Terra no Asfalto", o trabalho autoral com Laert Sarrumor e o núcleo de música da Faculdade Cásper Líbero, começara a emitir sinais de prosperidade. 
 
E de fato, através do guitarrista, Lizoel Costa, que entrara para essa trupe logo a seguir, surgiram também outras possibilidades para trabalhos paralelos que eu realizei em 1980, e sobre os quais contarei logo mais nestes capítulos concernentes aos “trabalhos avulsos”. Portanto, aos trancos e barrancos eu esforcei-me em 1980, ao desdobrar-me entre o pré-Língua de Trapo, o Terra no Asfalto, e uma série de trabalhos avulsos.

O meu pai não notava os sinais. Ele achava que seria apenas uma fase esse negócio de participar de uma banda, cultivar os cabelos compridos e usar o visual hippie nas vestimentas do cotidiano. O sonho dele era que eu me formasse advogado, entrasse para o serviço público concursado e militasse na política. 
Ele era funcionário da Câmara Municipal de São Paulo e desde muito pequeno, eu fui acostumado por ele a frequentar as sessões no plenário, para assistir os vereadores a discursar e votar. Conheci muitos políticos em seus gabinetes e participei de campanhas ao acompanhar o meu pai, que muitas vezes chefiou comitês eleitorais. 
Vi de perto também, muitas apurações, no tempo dos votos manuscritos e jogados em urnas. Ele era apaixonado pela política e varamos madrugadas juntos a acompanhar apurações, pois ele também ajudava como fiscal do partido em que foi militante nas décadas de sessenta e setenta. 
 
Era estimulante ver a contagem da chamada “marcha das apurações”, comparecer aos ginásios do Ibirapuera, Pacaembu, Palestra Itália, Parque São Jorge, Juventus, CA Ipiranga, Portuguesa de Desportos, Pinheiros, Paulistano, Sirio-Libanês, Paineiras e outros tantos locais de apuração na cidade de São Paulo. 
 
Eu gostava e muito dessa movimentação em torno da política e ainda gosto, mas no meio do caminho, tornei-me hippie e Rocker... e de certa forma, apesar de gostar do jogo político, eu tornei-me um contestador desse modelo, como pacifista e simpatizante da postura anti-establishment, ou seja, como dizia o Lennon: "contra todos os ismos"...

Então, foi isso. O conflito chegou ao clímax, quando ele se convenceu que eu não mantinha nenhuma intenção de desistir dos meus esforços para tornar-me um artista.

Em relação à escola, eu nunca fui um aluno rebelde, contestador ou bagunceiro. A minha estratégia sempre foi a de não criar nenhum caso para piorar ainda mais o que eu achava horrível, ou seja, estar ali aprisionado naquela estrutura arcaica e opressora. A minha maior alegria era o sinal da saída, quando podia deixar aquela prisão entediante e voltar ao meu Lar.

Eu não faltava, não tumultuava, não desrespeitava ninguém e tirava a média suficiente para me aprovarem e eu poder sair dali o mais rápido possível. 

Portanto, não tive nenhuma crise existencial. Eu estava convicto do que queria, desde 1975. Comecei a tocar efetivamente em 1976, mas em 1975, isso já estava definido na minha concepção, mesmo sem nunca ter chegado perto de um instrumento musical, a não ser como um elemento do público, ao assistir shows de Rock pelos teatros e ginásios de esportes da cidade de São Paulo. 

E a minha mãe me apoiou, apesar de desejar que eu estudasse, e que por conseguinte tivesse uma outra profissão mais segura, social e financeiramente a falar, de uma forma paralela.

O meu próximo trabalho avulso foi acompanhar uma cantora com um trabalho altamente comprometido com o espectro popularesco no âmbito midiático, em um show a ser realizado em um salão suburbano, mas que tornou-se um show de Rock, pelas circunstâncias!

Continua...

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