De fato, o clima entre eu e meu pai estava
péssimo desde meados de 1979. O fato de eu ter ido tocar em uma mini turnê com o cantor,
Tato Fischer, não o animou nem um pouco e pelo contrário, ele ficou muito bravo,
pois eu perdi praticamente duas semanas de aulas (eu cursava o terceiro ano do
curso colegial, naquele ano de 1979).
Não corri o risco de perder o ano, pois
eu mantinha as minhas notas com médias muito boas, e por ser assíduo o ano inteiro, também não haveria o menor risco de estourar a minha cota de frequência.
Porquanto, tudo era motivo
para despertar a antipatia dele ante a minha determinação pela carreira musical
& artística. Para a minha percepção, todavia, o fim do trabalho com o Tato Fischer não
foi o fim do mundo. Além de surgir a oportunidade de participar da formação do grupo cover, "Terra no Asfalto",
o trabalho autoral com Laert Sarrumor e o núcleo de música da Faculdade Cásper
Líbero, começara a emitir sinais de prosperidade.
E de fato, através do
guitarrista, Lizoel Costa, que entrara para essa trupe logo a seguir, surgiram
também outras possibilidades para trabalhos paralelos que eu realizei em 1980, e sobre os quais contarei logo mais nestes capítulos concernentes aos “trabalhos avulsos”. Portanto,
aos trancos e barrancos eu esforcei-me em 1980, ao desdobrar-me entre o pré-Língua
de Trapo, o Terra no Asfalto, e uma série de trabalhos avulsos.
O meu pai não notava os sinais. Ele
achava que seria apenas uma fase esse negócio de participar de uma banda, cultivar os cabelos compridos e usar o visual hippie nas vestimentas do cotidiano. O sonho dele era que eu me formasse advogado, entrasse para o
serviço público concursado e militasse na política.
Ele era funcionário da Câmara
Municipal de São Paulo e desde muito pequeno, eu fui acostumado por ele a frequentar
as sessões no plenário, para assistir os vereadores a discursar e votar. Conheci muitos
políticos em seus gabinetes e participei de campanhas ao acompanhar o meu pai, que
muitas vezes chefiou comitês eleitorais.
Vi de perto também, muitas apurações, no tempo
dos votos manuscritos e jogados em urnas. Ele era apaixonado pela política e
varamos madrugadas juntos a acompanhar apurações, pois ele também ajudava como
fiscal do partido em que foi militante nas décadas de sessenta e setenta.
Era estimulante ver a contagem da chamada “marcha das apurações”, comparecer aos
ginásios do Ibirapuera, Pacaembu, Palestra Itália, Parque São Jorge, Juventus, CA Ipiranga, Portuguesa
de Desportos, Pinheiros, Paulistano, Sirio-Libanês, Paineiras e outros tantos locais de apuração na cidade de São Paulo.
Eu gostava e
muito dessa movimentação em torno da política e ainda gosto, mas no meio do
caminho, tornei-me hippie e Rocker... e de certa forma, apesar de gostar do jogo
político, eu tornei-me um contestador desse modelo, como pacifista e simpatizante
da postura anti-establishment, ou seja, como dizia o Lennon: "contra todos
os ismos"...
Então, foi isso. O conflito chegou ao clímax,
quando ele se convenceu que eu não mantinha nenhuma intenção de desistir dos meus esforços para
tornar-me um artista.
Em relação à escola, eu nunca fui um aluno
rebelde, contestador ou bagunceiro. A minha estratégia sempre foi a de não criar
nenhum caso para piorar ainda mais o que eu achava horrível, ou seja, estar ali
aprisionado naquela estrutura arcaica e opressora. A minha maior alegria era o
sinal da saída, quando podia deixar aquela prisão entediante e voltar ao meu Lar.
Eu não faltava, não
tumultuava, não desrespeitava ninguém e tirava a média suficiente para
me aprovarem e eu poder sair dali o mais rápido possível.
Portanto, não tive
nenhuma crise existencial. Eu estava convicto do que queria, desde 1975.
Comecei a tocar efetivamente em 1976, mas em 1975, isso já estava definido na
minha concepção, mesmo sem nunca ter chegado perto de um instrumento musical, a
não ser como um elemento do público, ao assistir shows de Rock pelos teatros e ginásios de
esportes da cidade de São Paulo.
E a minha mãe me apoiou, apesar de desejar que eu
estudasse, e que por conseguinte tivesse uma outra profissão mais segura, social e financeiramente
a falar, de uma forma paralela.
O meu próximo trabalho avulso foi acompanhar uma cantora com um trabalho altamente comprometido com o espectro popularesco no âmbito midiático, em um show a ser realizado em um salão suburbano, mas que tornou-se um show de Rock, pelas circunstâncias!
Continua...
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