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domingo, 1 de março de 2015

Trabalhos Avulsos - Capítulo 12 - Jam Session com Jamaica Band: Una Noche Porteña! - Por Luiz Domingues

O "Terra no Asfalto", a minha banda cover, havia fechado as suas portas em maio de 1982, todavia, ainda houve uma última tentativa para uma possível reformulação. Em princípio, eu (Luiz Domingues), Paulo Eugênio Lima, e Geraldo "Gereba", tentamos uma maneira bem insípida para continuar, com a missão de arrumarmos um novo baterista, e mais um guitarrista.  

Através da Dona Sabine, uma senhora de origem franco-judaica, que era proprietária do Café Teatro Deixa Falar, nós fomos apresentados ao noivo de sua filha, um guitarrista chamado: Rubens Gióia. O Paulo Eugênio deixou tal tentativa de reformulação logo a seguir, e após duas ou três reuniões para definição de repertório, com o Gereba, este também desistiu.  

Foi então que eu e o Rubens decidimos deixar para lá o projeto de uma banda cover e fundamos A Chave do Sol, com o objetivo de fazer música autoral, e batalhar por uma carreira. Mas nesse ínterim, enquanto A Chave do Sol fazia os seus primeiros movimentos (ainda nem tínhamos chamado o baterista, Edmundo para ser nosso possível colega, e ele não o foi, de fato), a Dona Sabine me fez uma oferta: convidou-me a tocar com dois músicos argentinos, em uma noitada de sábado, ao oferecer-nos a bilheteria integral da noite, para dividir com los hermanos.

Eu questionei sobre quem eram tais músicos, o que tocaríamos e se haveria ensaios, mas ela disse que não sabia de nada. À medida que a data aproximara-se, caí na realidade de que não haveriam ensaios, e seria uma Jam-Session livre, e não adiantava preocupar-me. 

Sem recursos e portanto a precisar de dinheiro de forma urgente, não pude recusar a oferta, e assim, no dia 9 de julho de 1982, toquei com a "Jamaica Band", duo formado pelos argentinos, Rudy (não recordo-me de seu sobrenome), e Nacho Smilari. 

Os hermanos eram falantes, chegaram simpáticos ao Café Teatro Deixa Falar e logo a dizer-me que faríamos vários temas entre Rock, Blues, Funk, Reggae etc. E só fui descobrir que o Nacho tinha fama, e uma carreira bem significativa no Rock argentino setentista, bem depois (Nacho tocara em bandas importantes como "La Pesada Del Rock" e "Cuero", por exemplo).

Bem, montamos o equipamento, e começamos a tocar.
Ambos tocavam muito bem, e de improviso em improviso, fomos a cumprir a meta, sem grandes sustos ou constrangimentos, mesmo por que, haviam poucas pessoas a assistir-nos, e em sua maioria, formada por casais de namorados interessados em obter outro tipo de emoções, que não a auditiva, gerada pela nossa música de improviso. Então, o baterista, Rudy, perguntou-me se eu tocava um pouco de bateria...

Eu tinha desenvolvido um pouco de técnica à bateria nessa época, pois costumava tocar em título de recreação nos ensaios, ou passagem de som das apresentações do Terra no Asfalto, e sempre gostei muito de tocar bateria. 

Para falar friamente, se tivesse a oportunidade de voltar no tempo e mudar o passado, talvez tivesse optado pela bateria, e não pelo baixo, para você ver, caro leitor, como eu tenho simpatia por esse instrumento.

Então, ele propôs trocar comigo, e passou para o baixo, enquanto eu atuei em muitas músicas a tocar bateria. Claro, ao fazer ritmos simples e viradas muito discretas, pois eu não arriscaria nenhuma frase mais ousada, acima da minha pouca capacidade, principalmente por estar a me apresentar ao vivo, e com ingressos que foram cobrados, ainda que as pessoas não estivessem nem um pouco preocupadas conosco. 

Havia cerca de vinte pessoas presentes, mas mesmo assim, quando sentei-me ao banquinho e apanhei as baquetas, eu olhei para as mesas e tive uma estranha sensação. Senti-me estranho a tocar ao vivo para um público, com um instrumento que não dominava direito.

Eu tinha passado por uma experiência semelhante em 1981, quando toquei violão em algumas apresentações do Terra no Asfalto, ao fazer uma parte imprescindível da música: "Two of us" dos Beatles, onde os guitarristas Wilson Canalonga Jr. e Aru Júnior não conseguiriam executar tal detalhe, por terem outros arranjos a cumprir na canção. Mas foi diferente, pois nesse caso eu ensaiei bastante e o violão era ao menos um instrumento mais familiar, por ser da família dos instrumentos de cordas, com os mesmos princípios básicos. Mas daí a tocar bateria, houve uma boa diferença. Tudo correu bem, apesar do cachê não ter sido uma maravilha, e ao final, houve uma surpresa extra.

Cerca de cinquenta argentinos, rapazes e moças, que moravam em São Paulo, apareceram quando já desmontávamos o equipamento. Aí eles se esqueceram da minha presença, e passaram a falar muito rápido entre eles, e assim a quebrar toda a minha ilusão que o "portunhol" seria meio caminho para entender o idioma castellaño...

Um dos amigos deles, tocava baixo. Emprestei o meu baixo para ele tocar com seus compatriotas, mas ao final, ele que estava bêbado, quis provocar-me com uma dose de escárnio em sua intenção.
Esse rapaz impetuoso, perguntou-me se eu tocava violão, e eu disse-lhe que não, pois o meu desenvolvimento era mínimo nesse instrumento.

Então ele pegou um violão, e passou a tocar diversas músicas da Bossa Nova, com uma destreza incrível, ao desferir aqueles malabarismos todos, típicos da Bossa Nova, para reproduzir acordes difíceis e sofisticados etc. Ao final, ironizou-me por eu ser "brasileño", e não tocar Bossa Nova, isso em meio aos gritos de regozijo de seus compatriotas.

Confesso que fiquei chateado, não por não saber tocar Bossa Nova ou ser tecnicamente fraco ao violão, mas por essa demonstração deselegante de desdém. Para que? 

O relógio apontara para a marca de quase cinco da manhã, quando eu saí com o meu baixo na Av. Santo Amaro, a pé e a recear, pois o meu Fender Jazz Bass era um "filho único" naquela época.

A minha sorte foi que não havia nenhum meliante no ponto do ônibus, e logo os comerciantes começaram a abrir os seus estabelecimentos, e o trânsito a aumentar, para tirar um pouco do perigo iminente das madrugadas. E assim foi a minha apresentação única com a Jamaica Band de Rudy e Nacho Smilari.

Abaixo, algumas informações sobre Nacho Smilari:
http://www.taringa.net/comunidades/losmismosdesiempre73/1304401/Nacho-Smilari-(el-violero-de-Equot;PoderEquot;).html


Achei esse site argentino, acima, onde há um release da carreira do Nacho Smilari. Ele começou com a banda: "La Barra de Chocolate", com a qual tocou em 1969, na Argentina.


Em seguida, tocou com Billy Bond em "Billy Bond y La Pesada del Rock'n' Roll". Uma banda muito famosa na Argentina, no início dos anos setenta.
Passou para o "Cuero" e depois formou a Jamaica Band.
Recentemente, em meio a um show tributo ao "Aeroblues" (banda muito famosa na Argentina dos anos setenta), realizado em Buenos Aires (refiro-me a um evento ocorrido em Buenos Aires, em 2011, e com a presença do Rolando Castello Júnior, baterista original do "Aeroblues"), ele participou, conforme vídeos em anexos nesse link, acima.


O próximo trabalho avulso que eu realizei, ocorreu muitos anos depois, em um show tributo a duas bandas do Rock internacional, ao misturarmos componentes da minha banda, A Chave (na sua fase, "sem sol"), com componentes do Golpe de Estado, ao final de 1988...

Continua...

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