Conto uma história agora, a respeito de um trabalho
avulso que realizei, desta feita, do meio para o final de 2003. Eu estava a atuar fixo com a Patrulha do
Espaço, e sob um esforço coletivo para gravarmos o segundo CD daquela
formação, eu e o Rodrigo Hid prestamos um serviço ao estúdio onde gravamos,
como forma de pagamento pelas horas em que a nossa banda utilizou por lá, para
gravar o CD ".ComPacto".
Assim, fomos incumbidos pelo dono do estúdio,
para atuarmos na gravação de um CD de uma jovem cantora, que lutava por
sua carreira, chamada: Regiane. Não consigo recordar-me de seu
sobrenome, infelizmente.
Era uma garota com muito potencial vocal, pois ela estudava canto
lírico, e havia tido a experiência de cantar em uma banda de Heavy-Metal
"melódico", no interior de São Paulo, onde morava (Vinhedo ou Valinhos, não recordo-me qual cidade, exatamente).
No entanto, inexperiente ao
extremo para lidar com a realidade de uma carreira artística, ela foi tentar a sorte naquele estúdio, com a promessa de que por um preço
único, sairia dali com CD pronto e também com indicações para divulgação na mídia,
contato com empresários para alavancar uma carreira, etc. Ledo engano, pois
saía, sim, com um CD pronto, prensado e com capa, um release impresso, e um
portfólio com fotos promocionais, mas sem contato algum.
Era um esquema semelhante ao
de agências de modelos, suspeitas, onde na
verdade, tais promotores só querem vender ensaios fotográficos para portfólios, e a garota
que lute sozinha com esse material.
E com a qualidade deficiente de um
estúdio antiquado, com sérios problemas de manutenção, não seria possível
esperar grande coisa mesmo, na parte do áudio. Então, o Rodrigo foi convocado a gravar
violão e guitarra, sob a supervisão de um tecladista veterano e
conhecido por ter tocado em uma famosa banda de bailes, e também conhecida por ter trabalho
autoral no meio musical paulistano nos anos setenta, mas cujo nome eu não revelarei, para não causar constrangimentos.
Ele foi o tecladista, produtor e arranjador dessa
empreitada. A seguir, eu fui chamado para gravar o baixo. Por um arranjo
político imprevisto, ao invés de se contratar um baterista profissional, o
responsável pelo instrumento, foi o filho de um investidor do
estúdio.
Resultado: o garoto era péssimo, e mesmo com o experiente tecladista & produtor na
condução dos trabalhos, esse rapazinho gravou uma bateria horrenda, com gravíssimos erros de
andamento. Dessa forma, foi impossível gravar o baixo, tampouco os
demais instrumentos, pelo motivo óbvio da gravação estar completamente arruinada com essa base não linear em termos rítmicos. Fui
orientado pelo dono do estúdio a não discutir isso, e para livrar-me de meu compromisso,
gravar assim mesmo.
O tecladista esteve com mãos atadas também, pois a
inclusão do garoto fora uma imposição do estúdio e dessa forma, eu gravei
o baixo, sob o esforço insuportável de ter que errar, propositalmente, para acompanhar aquele horror rítmico.
Alguns dias depois, eis que recebi o telefonema do técnico, "Kôlla" Galdez,
que era (é) meu amigo, e gravara a Patrulha do Espaço, ali mesmo. Segundo o Kôlla, o
tecladista havia vetado a minha participação, ao alegar que eu colocara
"molho" demais nas músicas, quando o correto teria sido fazer linhas
mais simples.
Bem mentalidade de produtor de música popularesca, mas realmente,
nesse tipo de produção, fazia sentido tal prerrogativa. Daí em diante, houve uma briga feia entre
ele e o dono do estúdio, a culminar com o seu abandono da produção.
Sendo assim, o proprietário do estúdio convocou o Rodrigo Hid para assumir como produtor, e
tocar teclados, violão e guitarra. Eu fiquei no baixo, mas o dono
insistiu para o garoto, filho de seu sócio, gravar a bateria.
A começar
tudo de novo, o Rodrigo sugeriu mudanças radicais no repertório. Saíram
os obscuros temas popularescos propostos pelo repertório anterior, e doravante gravaríamos
músicas dos Beatles, Roy Orbison, Creedence Clearwater Revival, enfim, um estofo artístico muito mais alto e agradável.
Mesmo com o
Rodrigo a tentar manobrar ao máximo, o garoto gravou uma bateria bem
equivocada, ao se considerar que ele não saberia usar o metrônomo, embora tenha melhorado, ou amenizado a situação, em relação à
primeira gravação. Eu coloquei o baixo com mais conforto, e com o Rodrigo a tocar guitarra, teclados e violão, o som ficou de alto nível, para agradar a
Regiane, que sentiu-se mais segura e respaldada para cantar e mostrar o seu talento.
Claro, eu cheguei a
perguntar ao dono do estúdio se eles pagariam os direitos autorais daquele repertório, mas
ele apenas falou-me que estavam acostumados a lançar discos sem pagar nada a
ninguém, a usarem quaisquer músicas que desejassem.
Durma-se com um barulho
desses!
A gravação ficou boa (para aqueles padrões, é lógico), mas o tempo passou, e eu
não recebi nenhuma cópia. Até gostaria de ter uma cópia, como material de
portfólio, e confesso que se não fossem covers muito óbvios, seria um bom
disco, mesmo por que, a Regiane cantava muito bem.
O Rodrigo atuou muito
bem, a escolher o repertório, arranjar, tocar três instrumentos, e
até apoiar com alguns backing vocals, além de dirigir passo a passo, a gravação da voz da
Regiane.
Foi somente em uma determinada ocasião, que ele não pôde comparecer, e eu fiz produção,
ao dirigir a gravação da voz da cantora. Confesso que fiquei bem impressionado com o
potencial dela. Era o tipo de cantora que passaria fácil na avaliação desses
programas de calouros da TV, e talvez construísse uma carreira forte no
mundo popularesco etc.
E tanto eu, quanto o Rodrigo, afeiçoamo-nos à pessoa dela, e também pelo seu
pai, que a acompanhava nas gravações.
Eram pessoas simples do interior,
a lutar com muitas dificuldades.
O pai dela era pedreiro, e não media esforços para bancar o sonho da filha, e isso comovia-nos muito. Ela também era uma batalhadora, não só pela luta em prol de seu sonho, mas por ser uma humilde professorinha em sua cidade, e com seus parcos recursos, e uma vida muito simples, ter a coragem para lutar nesse campo minado que é a carreira artística.
O pai dela era pedreiro, e não media esforços para bancar o sonho da filha, e isso comovia-nos muito. Ela também era uma batalhadora, não só pela luta em prol de seu sonho, mas por ser uma humilde professorinha em sua cidade, e com seus parcos recursos, e uma vida muito simples, ter a coragem para lutar nesse campo minado que é a carreira artística.
A despeito do que aconteceu com ela a posteriori, eu e
Rodrigo cumprimos nossa parte do acordo, aliás, com muito mais carga de
trabalho para ele, Rodrigo.
No próximo capítulo dos Trabalhos Avulsos, eu vou contar uma história que também envolveu a Patrulha do Espaço, a minha banda na ocasião, indiretamente.Continua...
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