Sendo assim, o fato dele ter sido colocado debaixo da mesa, a posteriori, só pode ter sido perpetrado por alguém que o viu ali, visível e ao preocupar-se, tratou por camufla-lo até que o seu proprietário, no caso, eu mesmo, pudesse vir resgatá-lo.
Neste meu Blog 3, dedico todo o espaço para cuidar da minha carreira musical. Além de publicar os textos na íntegra, dos meus livros autobiográficos, apresento também material em geral de todas as bandas pelas quais atuei e atuo, sob permanente construção.
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sexta-feira, 23 de agosto de 2019
Crônicas da Autobiografia - O Camarim Esvaziou. Aonde Está o Meu Instrumento? - Por Luiz Domingues
Sendo assim, o fato dele ter sido colocado debaixo da mesa, a posteriori, só pode ter sido perpetrado por alguém que o viu ali, visível e ao preocupar-se, tratou por camufla-lo até que o seu proprietário, no caso, eu mesmo, pudesse vir resgatá-lo.
sexta-feira, 16 de agosto de 2019
Crônicas da Autobiografia - Foi em Uma Noite de 1967, que o Violão Arrebentou-se - Por Luiz Domingues
sexta-feira, 9 de agosto de 2019
Crônicas da Autobiografia - Ironizado Dentro do Ônibus - Por Luiz Domingues
Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em 1986...
Os anos 1980, não foram nada agradáveis para quem não comungou do revanchismo paradigmático proposto pela formação de opinião agressiva, oriunda das ideias que moveram o movimento Punk em 1977, e que, por conseguinte, abriu as portas para ramificações múltiplas, onde a estética blasé do Pós-Punk criou os seus monstrengos.
Pior ainda, para quem levou a sua bandeira aos píncaros do fanatismo, ao ponto de formar bandos truculentos, tais como verdadeiras hordas, bem semelhantes em termos de beligerância e ignorância, as torcidas uniformizadas dos clubes de futebol, ou seja, se no futebol os times e os resultados no campo de jogo, representam a parte menos importante no cotidiano desses brucutus, nessa época, as gangues formadas supostamente para defender estéticas dentro do movimento em torno do Rock oitentista, importavam-se apenas em sair às ruas para hostilizar supostos oponentes que não compactuavam com as suas escolhas estéticas, de acordo com as suas preferências em prol do pseudo-Rock que seguiam na ocasião.
Em resumo: para tais
sujeitos, a música foi o que menos importou-lhes e o objetivo fora
apenas hostilizar pessoas que visualmente aparentavam seguir outras
tendências opostas.
Foram muitos os relatos policiais ao longo dessa década, a contabilizar brigas de ruas e muitas emboscadas em estações de metrô; terminais de ônibus; trens de subúrbio, igualmente em portas de estabelecimentos a apresentar shows e nas suas imediações. Passei por algumas situações dessa monta, algumas vezes, assim como tenho o relato de amigos e conhecidos que igualmente tiveram tal dissabor, uma lástima.
Mas a história que tenho a
narrar aqui é mais amena, embora não seja agradável, pois se não
envolveu violência física, propriamente dita, caracterizou uma situação
de humilhação; intimidação; escárnio; desdém e falta de respeito, muito
grande para com a minha pessoa.
Tal história ocorreu em uma noite de sexta-feira, de 1986, e que antecedeu uma viagem que a minha banda na ocasião, A Chave do Sol, faria na manhã seguinte. Por tratar-se de uma viagem a ser realizada sob um horário matutino, recebi o convite do nosso baterista, José Luiz Dinola, para pernoitar em sua residência, a fim de minimizar o meu sacrifício em ter que acordar muito mais cedo, para deslocar-me do bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, onde eu morava na ocasião.
Dinola morava com a sua namorada nessa época, Eliane Daic, vulgo, "Lili", em um apartamento na Alameda Santos, quase na esquina com a Rua Bela Cintra, no bairro de Cerqueira Cesar, região próxima à Avenida Paulista. Convite aceito de pronto, lá estava eu sossegado com a minha bagagem em mãos, a bordo de um ônibus a trafegar pela Avenida Paulista, quando senti a aproximação de um grupinho formado por rapazes e moças com visual Post-Punker, no uso de figurinos e maquiagem pesada, típica para quem seguia uma das várias vertentes daquela estética.
Permaneci em silêncio e com
relativa tranquilidade, pois se ao mesmo tempo eu sabia que seria
molestado verbalmente, não temi por agressões físicas, pois entre tantas
tribos oitentistas hostis, essa turma não possuía a fama em procurar as
vias de fato, mas claro, em um momento desses, não dava para confiar em
estatísticas e assim, mantive-me atento e pronto a evadir-me do ônibus,
se a iminência de algum ataque ficasse proeminente.
Eis que o mais impetuoso dos rapazes dessa turma, passou a cantarolar uma canção do Roberto Carlos, em claro sinal de deboche, a provocar-me, para fazer alusão à minha proibitiva longa cabeleira sessenta-setentista, para aqueles dias.
Enquanto destilava o seu deboche para diminuir-me, gratuitamente, as meninas do grupinho, sentaram-se ao meu redor e passaram a tocar em meus cabelos. Não houve dúvida sobre a intenção em desdenhar de minha pessoa e bem naquele espírito tipicamente oitentista em usar e abusar do paradigma de repúdio ao passado.
O sujeito
regozijava-se em cantarolar com claro sinal de desprezo: -"Jesus
Cristo... Jesus Cristo... Jesus Cristo, eu estou aqui"... enquanto as
meninas reforçavam o circo ali instaurado para humilhar-me, ao dizer
frases provocativas tais como: -"hei, Roberto Carlos"... ou: -"os Hippies já morreram,
volte para Woodstock"...
Bem, é
claro que o meu sangue ferveu para deixar-me bastante indignado na hora,
por todos os motivos óbvios, inclusive a estupefação em verificar que
além da extrema gratuidade do ato perpetrado por tais jovens, ficara a
constatação que aquela patuleia não tinha horizontes na vida, pois
francamente, abraçar tal tipo de manifestação em abordar e hostilizar
pessoas que supostamente não seguiam os seus ideais, revelara a extrema
fragilidade emocional de cada um ali, enquanto indivíduo e certamente
sobre a estética pela qual diziam acreditar.
Não reagi, certamente, pois
não teria chances em enfrentar fisicamente cerca de dez pessoas que
formavam tal grupinho, e pelo menos seis ou sete ali, eram homens. Mas
de uma forma ingênua e bastante imprudente, eu diria (ao analisar hoje
em dia), não contive-me e soltei uma frase em sinal de desagrado pela
situação aviltante pela qual fora submetido naquele instante: -"sou
hippie sim, mas quero ver se vocês serão o que são, daqui a alguns
anos". Para a minha sorte, eles apenas riram e regozijaram-se da minha
atitude intempestiva e certamente com uma carga melodramática que para
eles deve ter soado como a uma apelação patética de minha parte.
Certo,
1986 em curso, eles estavam na crista da onda e hippies do passado como
eu, seriam aos seus olhos, figuras quixotescas e desprezíveis. O seu
ideário fora formado por paradigmas muito equivocados, não tinham culpa,
em tese, por ter acreditado na formação de opinião maledicente, mas
aquela arrogância pela qual trataram-me de uma forma completamente
despropositada, fora um acinte, e dura para digerir naquele momento.
Entretanto, nada como um dia após o outro, não é mesmo?
Aonde estarão
essas pessoas? Ainda seriam entusiastas daquela estética? Saem pelas
ruas à cata de pessoas antagônicas aos seus ideais para hostilizá-las?
Aliás, o que eles seguiam mesmo como ideal de vida? Aquela estética
pela qual tanto mostravam-se encantados, levou-os aonde, exatamente?
Enquanto isso, a contrapartida é que trinta e três anos depois (1986-2019, quando escrevi esta crônica), eis que agora encontro-me: firme e forte a acreditar na contracultura; no Rock; a observar os mesmos ideais aquarianos, e com o cabelo ainda pela cintura, como uma marca indelével da minha obstinação em seguir os meus princípios. Esta crônica é uma mera revanche, então, ou uma prova de força?
Não foi a minha
intenção, acredite, leitor. Contudo, que sirva como uma reflexão sobre o
quanto devemos respeitar o próximo e as suas escolhas. Escrevo esta
crônica em 2019, trinta e três anos depois do ocorrido e chegou a minha
hora para cantarolar, mas se permite-me o leitor, com uma pequena
modificação na letra escrita pelo Roberto Carlos : -"Jimi Hendrix...
Janis Joplin... Brian Jones, eu ainda estou (e estarei), sempre, aqui!"
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
Crônicas da Autobiografia - Flatus no Estúdio - Por Luiz Domingues
Aconteceu no tempo da Patrulha do Espaço, em 2002
Fomos
convidados a participar de um programa de TV, certa vez e não seria em uma emissora
aberta sob imensa audiência, mas em um modesto canal comunitário,
mediante parcos recursos técnicos e infelizmente, a arregimentar uma
audiência desprezível.
E lastimamos tal fator, não apenas por haver uma baixa possibilidade em capitalizarmos uma melhor exposição para a nossa banda, mas sobretudo por tratar-se de um ótimo programa, a revelar-se uma espetacular revista cultural televisiva, conduzida por dois apresentadores bem preparados, cultos e com ligação direta com o mundo das artes & espetáculos (o rapaz era um ator com trabalhos realizados e significativos no meio teatral e a moça, uma estudante de cinema).
Em suma, foi uma pena que tal atração não estivesse alojada na grade de uma emissora aberta, com massacrante apelo popular, dado o seu caráter cultural nobre.
Bem, apresentamo-nos ao vivo sob uma adaptação semi acústica para adequarmo-nos às condições modestas do pequeno estúdio ali montado e realizamos uma entrevista em tom de conversa descontraída com o casal de apresentadores e foi tudo muito agradável, mesmo com o pesar em saber que na prática, a capitalização de resultado prático de divulgação para o nosso trabalho, fosse nula.
Todavia, um fato bizarro ocorreu nos
bastidores, e ainda que não houvesse acarretado nenhum prejuízo direto à
nossa banda, certamente que gerou um constrangimento.
Foi o seguinte: assim que chegamos ao estúdio dessa pequena emissora, a nossa comitiva procurou pela produção para saber do cronograma a ser cumprido, visto que seria uma apresentação ao vivo.
Então, rapidamente os nossos roadies descarregaram o equipamento e o montaram. Foi pouca coisa, é bem verdade, visto que faríamos uma apresentação semi acústica, com simplicidade. Rapidamente, os apresentadores vieram cumprimentar-nos e a simpatia total de ambos, cativou-nos antes mesmo do programa começar.
Após tudo estar preparado, restavam alguns minutos para o programa entrar no ar e então, a nossa comitiva dispersou momentaneamente, com alguns a visitar a copa & cozinha do estabelecimento para um café pontual e outros a manter-se perto do estúdio, a conversar com membros da produção e técnicos da emissora.
Eu estava dentro do estúdio com mais dois membros da nossa comitiva, quando em tom de pilhéria, um dos membros da comitiva (e não fui eu, asseguro ao leitor), cometeu um deliberado ato de flatulência, ao melhor estilo: "molecagem da quinta série".
Pois eis que concomitantemente ao ocorrido, a nossa reação
imediata foi a de uma explosão de riso pela abominação (pois é engraçado
em via de regra, tanto que os romanos costumavam afirmar que: "a
flatulência é a prova cabal de que os Deuses tem bom humor"), mas
simultaneamente, tivemos uma reação sob profundo desagravo, pelo fétido
material gasoso ali expelido, a contaminar completamente o ambiente e
deixar-nos em dúvida se aquilo teria sido o resultado de um desajuste
intestinal da parte de um Ser Humano, ou simplesmente um pouco da bruma
advinda do enxofre concentrado, que viera diretamente dos portais do
inferno?
Mas o pior ocorreu, quando nessa fração de segundos em que tal situação consolidara-se, pois a simpática apresentadora do programa, adentrou o estúdio e veio a sorrir em nossa direção, a fim de conversar conosco.
Pois diante dessa constrangedora perspectiva, de uma forma sorrateira, saímos rapidamente do ambiente a fingir uma súbita necessidade de resolver algum assunto pendente, reação coletiva e instintiva, inclusive com a participação do autor da proeza, mas um dos nossos colegas, vacilou nessa retirada estratégica e ficou para conversar com a amável mocinha.
Na rua, a explosão de gargalhadas demorou para cessar, intensificada pela bizarra lembrança de que um colega ficara no ambiente a carregar o ônus gerado pelo ânus alheio (com o perdão pelo trocadilho infame). O que teria pensado aquela meiga nissei?
E como teria sido o constrangimento do colega que ficara no ambiente infestado, e sem poder rir; evadir-se e nem mesmo justificar que aquela contaminação sofrível do ar, não fora por sua culpa?
E mais uma pergunta: pela rapidez entre o ocorrido e a chegada da moça ao estúdio, teria sido impossível que ela não tivesse escutado o estrondo causado pela ventania fecal, portanto, como disfarçou tão bem ao chegar sorridente e a aparentar não ter percebido nada? Enfim, quanto mais perguntas pertinentes ao episódio fizemos na calçada, em frente ao estúdio, mais provocamos risadas.
E no fim, foi uma apresentação ótima da nossa banda,
com o casal a tratar-nos com imensa camaradagem e ao que tudo indicou,
ou a moça foi muito discreta ou estava com algum problema de ordem
otorrinolaringológico, pois não ouviu nenhum estrondo, tampouco sentiu
nenhum aroma desagradável.