Aconteceu no tempo da Patrulha do Espaço, em 2002
Viajamos muito com a Patrulha do Espaço. Foram turnês longas a ser
cumpridas, o que naturalmente representa em tese, a meta de qualquer artista
que sonha em possuir uma agenda lotada. Tanto foi assim, que motivou que nós comprássemos
um ônibus próprio para o nosso conforto e minimização de custos, algo incomum
para uma banda de Rock, a atuar sem nenhum esquema de produção mais avantajado,
a bordo das mordomias inerentes de quem frequentava o mainstream da música e portanto,
a contar com empresário, gravadora, algum mecenas a bancar a produção ou tudo isso
ao mesmo tempo, sorte adquirida por alguns poucos artistas.
Entretanto, mesmo os artistas mais celebrados, com alcance mundial,
sofrem em turnês exaustivas, sendo assim, sob condições muito mais modestas, é
claro que cansávamo-nos e tínhamos que enfrentar dificuldades no cotidiano
vivido na estrada.
Na contrapartida, além da obviedade em ficarmos gratificados
com os resultados artísticos obtidos e o carinho dos fãs em cada cidade (isso
parece discurso piegas, geralmente proferido por atores de novelas da TV, mas é
um fato, tal suporte popular e espontâneo traz prazer e ânimo para qualquer
artista), também colecionamos muitas histórias agradáveis e outras tantas,
engraçadas.
Por
exemplo, sempre algo pitoresco acontecia quando entrávamos ou
saíamos de alguma cidade e nesta crônica eu vou contar sobre algo
inusitado que
ocorreu e que nos dias atuais poderia ser classificado como algo
“politicamente
incorreto”, por insinuar ser objeto de uma piada de mau gosto.
Particularmente, eu
tendo a não gostar de humor sarcástico que possa ofender; humilhar ou
suscitar
o desdém como modus operandi, todavia, neste caso, sei que o autor da
colocação,
não o cometeu com má intenção deliberada em debochar de ninguém, mas
simplesmente
deu vazão ao que pensou sem nenhum freio moral naquele instante e a sua
fala tão
espontânea resultou em uma gargalhada coletiva que custou a cessar
dentro do
nosso ônibus. Isso ocorreu em novembro de 2002, na cidade de Ribeirão
Preto-SP.
Entramos no perímetro urbano e ao seguirmos as placas, chegamos
rapidamente ao
centro da cidade. Estávamos a procurar um endereço em específico, onde
ficava localizado
o hotel onde hospedar-nos-íamos. Sem GPS e com os poucos telefones
celulares disponíveis
entre nós, ainda com tecnologia arcaica, sem acessar a internet, a
solução foi
recorrer a transeuntes pelas ruas ou parar em estabelecimentos
comerciais, para
efetuar perguntas sobre como chegaríamos à rua que procurávamos.
Após
duas ou três consultas infrutíferas, eis que o clima passou a
ficar tenso dentro do nosso carro, com alguns membros da nossa comitiva a
não
demonstrar levar na brincadeira a falta de perspectiva imediata para
chegarmos
ao nosso destino.
Foi quando uma voz levantou-se e ao dirigir-se diretamente ao
nosso motorista, afirmou, categoricamente a apontar para um rapaz com aparência
simplória, que caminhava pela calçada :
-“pergunta para esse sujeito aí. Ele tem
cara de idiota, pois assim deve saber”...
A reação imediata serviu não apenas para apontar uma possível
solução para o nosso problema premente, mas como acréscimo, provocou a
substancial descontração do ambiente, visto que a gargalhada gerada foi total. Mesmo
em meio àquela balburdia, o nosso motorista acatou a sugestão, parou, abriu a
porta e abordou o rapaz para fazer-lhe a pergunta.
Porém, teve que esforçar-se
para não rir, também, enquanto formulava o questionamento. Nunca esqueço-me da
feição do sujeito, atônito ao deparar-se com aquele ônibus repleto por cabeludos
a gargalhar e ele ali no arroubo de seu bom mocismo a explicar o caminho
mediante uma gesticulação manual concomitante.
Bem, não sei se o rapaz era de fato um incauto, contudo, talvez o
membro da nossa comitiva que indicou-lhe, teve razão em um aspecto: ele
sinalizou-nos o caminho, absolutamente correto...
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