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quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Cronicas da Autobiografia - Os Palermas Sabem Indicar Caminhos - Por Luiz Domingues

           Aconteceu no tempo da Patrulha do Espaço, em 2002

Viajamos muito com a Patrulha do Espaço. Foram turnês longas a ser cumpridas, o que naturalmente representa em tese, a meta de qualquer artista que sonha em possuir uma agenda lotada. Tanto foi assim, que motivou que nós comprássemos um ônibus próprio para o nosso conforto e minimização de custos, algo incomum para uma banda de Rock, a atuar sem nenhum esquema de produção mais avantajado, a bordo das mordomias inerentes de quem frequentava o mainstream da música e portanto, a contar com empresário, gravadora, algum mecenas a bancar a produção ou tudo isso ao mesmo tempo, sorte adquirida por alguns poucos artistas.

Entretanto, mesmo os artistas mais celebrados, com alcance mundial, sofrem em turnês exaustivas, sendo assim, sob condições muito mais modestas, é claro que cansávamo-nos e tínhamos que enfrentar dificuldades no cotidiano vivido na estrada. 
 
Na contrapartida, além da obviedade em ficarmos gratificados com os resultados artísticos obtidos e o carinho dos fãs em cada cidade (isso parece discurso piegas, geralmente proferido por atores de novelas da TV, mas é um fato, tal suporte popular e espontâneo traz prazer e ânimo para qualquer artista), também colecionamos muitas histórias agradáveis e outras tantas, engraçadas.

Por exemplo, sempre algo pitoresco acontecia quando entrávamos ou saíamos de alguma cidade e nesta crônica eu vou contar sobre algo inusitado que ocorreu e que nos dias atuais poderia ser classificado como algo “politicamente incorreto”, por insinuar ser objeto de uma piada de mau gosto. Particularmente, eu tendo a não gostar de humor sarcástico que possa ofender; humilhar ou suscitar o desdém como modus operandi, todavia, neste caso, sei que o autor da colocação, não o cometeu com má intenção deliberada em debochar de ninguém, mas simplesmente deu vazão ao que pensou sem nenhum freio moral naquele instante e a sua fala tão espontânea resultou em uma gargalhada coletiva que custou a cessar dentro do nosso ônibus. Isso ocorreu em novembro de 2002, na cidade de Ribeirão Preto-SP.

Entramos no perímetro urbano e ao seguirmos as placas, chegamos rapidamente ao centro da cidade. Estávamos a procurar um endereço em específico, onde ficava localizado o hotel onde hospedar-nos-íamos. Sem GPS e com os poucos telefones celulares disponíveis entre nós, ainda com tecnologia arcaica, sem acessar a internet, a solução foi recorrer a transeuntes pelas ruas ou parar em estabelecimentos comerciais, para efetuar perguntas sobre como chegaríamos à rua que procurávamos. 

Após duas ou três consultas infrutíferas, eis que o clima passou a ficar tenso dentro do nosso carro, com alguns membros da nossa comitiva a não demonstrar levar na brincadeira a falta de perspectiva imediata para chegarmos ao nosso destino. 


Foi quando uma voz levantou-se e ao dirigir-se diretamente ao nosso motorista, afirmou, categoricamente a apontar para um rapaz com aparência simplória, que caminhava pela calçada : 
-“pergunta para esse sujeito aí. Ele tem cara de idiota, pois assim deve saber”...
 
A reação imediata serviu não apenas para apontar uma possível solução para o nosso problema premente, mas como acréscimo, provocou a substancial descontração do ambiente, visto que a gargalhada gerada foi total. Mesmo em meio àquela balburdia, o nosso motorista acatou a sugestão, parou, abriu a porta e abordou o rapaz para fazer-lhe a pergunta. 
 
Porém, teve que esforçar-se para não rir, também, enquanto formulava o questionamento. Nunca esqueço-me da feição do sujeito, atônito ao deparar-se com aquele ônibus repleto por cabeludos a gargalhar e ele ali no arroubo de seu bom mocismo a explicar o caminho mediante uma gesticulação manual concomitante. 

Bem, não sei se o rapaz era de fato um incauto, contudo, talvez o membro da nossa comitiva que indicou-lhe, teve razão em um aspecto: ele sinalizou-nos o caminho, absolutamente correto...

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