Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em 1985
Quando
nós fomos preparar as fotos de cada componente da banda, para compor o
lay-out da contracapa do EP homônimo que lançamos em 1985 (no imaginário
dos fãs, esse álbum foi apelidado como: "Anjo Rebelde"), a certeza de
que a minha foto em específico, já estaria previamente definida,
descartou praticamente a necessidade de marcarmos uma sessão oficial
para obtermos fotos posadas.
A minha foto não detinha uma grande
qualidade técnica, no entanto, mostrou-se como uma peça extremamente
expressiva, no sentido de que fora capturada ao vivo, em um momento de
alta performance de minha parte, durante um show que realizáramos no
Circo Voador, do Rio de Janeiro, meses antes, em outubro de 1984.
Então,
eu exerci a minha dita, "mão-de-ferro", nesse sentido e ao mesmo tempo,
conclamei os companheiros a pesquisarmos por fotos igualmente
significativas dos demais. E assim empreendemos uma busca nesse sentido,
através do nosso acervo, no entanto, apesar de termos achado fotos bem
estilosas dos outros três em ação ao vivo, por um motivo ou por outro,
nenhuma ficou tão expressiva ao ponto de ser aprovada com entusiasmo, a
conclamar a unanimidade e nesses termos, uma sessão foi marcada para que
os companheiros, Rubens Gióia, Zé Luiz Dinola e Fran Alves, fossem
clicados, na esperança de que nós conseguíssemos extrair de tal sessão,
uma boa foto de cada um, a compor então o painel para fechar o lay-out
da contracapa do nosso álbum.
Entretanto, um fator absolutamente
inusitado ocorreu para complicar sobremaneira tal missão, no sentido de
que por conta da minha foto ter sido capturada ao vivo, as demais
deveriam simular tal situação, para que houvesse um equilíbrio temático à
proposta. E se não fosse dentro dessa prerrogativa, não haveria sentido
em manter a minha foto com tal característica e as demais, posadas,
pois nesse caso, a minha foto deveria ter sido cancelada e uma sessão
normal com os quatro componentes, a ser realizada com a predisposição de
compor fotos posadas e quiçá, da banda reunida no mesmo quadro, e não
individualmente.
Enfim, por gostarmos da minha foto em específico e mantermos a ideia de fotos com a expressividade de uma performance ao vivo, resolvemos simular um ambiente de performance de palco para fotografar os companheiros a tocar e cantar.
Para o Rubens e também para o Zé Luiz, pela força de buscarmos simular que eles tocavam os seus respectivos instrumentos, tal resultado foi até facilitado pela postura de ambos a portar-se em seus instrumentos com bastante fidedignidade, mas o Fran a simular cantar, para ele se soltar na sessão de fotos, foi um pouco mais difícil, mesmo com o nosso som a tocar alto no estúdio, mediante o uso de uma cópia em fita K7 do trabalho ainda inacabado, a apontar para a conclusão da mixagem final do nosso novo álbum.
Então, eis que surgiu uma ideia inusitada, mas que, apesar de assustar o fotógrafo e certamente a gerar furor na vizinhança, surtiu lá o seu efeito.
Resolvemos usar o recurso pirotécnico de provocar explosões, mediante o uso de caixas com pólvora estratégicas para tal função, como usávamos nos shows ao vivo e assim proporcionar ao Fran, uma certa eloquência visual mais próxima de uma situação real de show, mesmo por que, não havia iluminação de teatro no estúdio do rapaz, obviamente, mas apenas a iluminação normal de um estúdio fotográfico, ou seja, adequada para tal função, mas nós queríamos a simulação de um espetáculo no palco.
Em suma, o rapaz foi solícito em aceitar a nossa planificação e mediante o uso de lentes e filtros, tentou burlar a luz branca e assim imitar o efeito de uma iluminação para um espetáculo musical, com diferentes tipos de spots e as suas respectivas "gelatinas" a condicionar o uso de diferentes cores.
Bem, no caso do Fran Alves, é claro que houve uma tratativa prévia para que o rapaz aceitasse a ideia de se promover explosões dentro de seu estúdio e de fato, tal expediente seria e o foi, extremamente perigoso.
Isso sem
deixar de mencionar a repercussão inevitável a ser gerada na vizinhança,
pois o resultado sonoro de um efeito pirotécnico, em nada divergia de
uma explosão provocada pela intenção beligerante, portanto, além de
convencer o dono do estúdio, teria sido prudente avisar a vizinhança, para
tranquilizá-los, se é que isso fosse possível, visto que inevitavelmente
a polícia seria acionada de pronto para gerar uma confusão difícil de
explicar para o delegado, a posteriori.
Tudo pela arte! Fran Alves a levar susto com as explosões pirotécnicas geradas dentro de um estúdio fotográfico, em 1985.
E
assim se procedeu, com a nossa produtora, Eliane "Lili" Daic a comandar
o painel das explosões e o Fran a levar muitos sustos em meio à fumaça
gerada. Ironia do destino, tais fotos dele em específico, não ficaram
tão boas e assim, e nós voltamos a cogitar usar uma dele, genuinamente ao
vivo, portanto, escolhemos a chapa em que ele está absorto em um momento
dramático de sua performance, a sua marca registrada no palco, mas não
individualmente como desejávamos.
Eu mesmo, Luiz, faço parte do
enquadramento, embora ele, Fran, tenha sido o destaque do fotógrafo
(tudo bem, na minha foto da contracapa, o Zé Luiz Dinola aparece ao
fundo, igualmente).
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