Não foi a primeira vez que tal tipo de ocorrência ocorreu-me em meio à atuação dentro de uma banda de Rock, pois no tempo d'A Chave do Sol, isso já houvera acontecido em 1986 (narrei com detalhes tal situação, no capítulo nº 13 da minha história com A Chave do Sol, contido em meu livro autobiográfico: "Quatro Décadas de Rock"), mas o fato reincidiu, muitos anos depois, quando eu estava a atuar com o Pitbulls on Crack e para ser específico, tal acontecimento aconteceu em 1995.
O
baterista do Pitbulls on Crack, Juan Pastor, tendo ao fundo, Chris
Skepis e Deca. Camarim da casa de shows Olympia, de São Paulo, em
outubro de 1996. Foto: Marcelo Rossi
Bem, o que
ocorreu foi que o nosso baterista, Juan Pastor, era radialista e por
conta das muitas conexões que detinha entre os seus contatos, ele
recebeu o convite para encaixar a nossa banda em um teste de elenco, para
eventualmente efetuar-se uma possível participação em um comercial de
TV.
Assim como ocorrera em 1986, eu detestei a ideia, a adotar os mesmos argumentos que eu usei em tal ocasião e de fato, naquela época eu recusei-me a participar e somente os três companheiros desse outro trabalho, foram fazer parte de tal peça publicitária.
Para resumir ao leitor que não
teve acesso ao meu texto autobiográfico, a minha justificativa para não
participar de um comercial de TV, levou em conta que a nossa banda (no
caso, ao referir-me sobre A Chave do Sol), não seria citada em nenhum
momento da peça publicitária e nós somente participaríamos por conta de usarmos
individualmente, o estilo de aparência "Rocker" e nesses termos, eu não
desejei fazer parte, exatamente por não enxergar em tal atitude, algo
positivo para fomentar a divulgação do nosso trabalho e muito pelo
contrário, a expor-nos como anônimos, somente pelo fato de sermos
"cabeludos".
No caso do
Pitbulls on Crack, a situação seria igual, mas na prática, ganhou uma
conotação diferente por duas questões, e uma delas, muito particular que
essa específica banda continha.
Primeiro, por ser uma banda pautada pelo bom humor em seu ambiente interno, quase o tempo todo, por conta da personalidade humorística dos outros três membros (no entanto, não em meu caso certamente), portanto, a galhofa pautara o ambiente interno da banda e se eu não tinha (tenho) tal característica por natureza, por outro lado, admirava o senso espirituoso de meus colegas e sim, ria muito das piadas que eles criavam instantaneamente aos borbotões, durante os cinco anos em que convivemos.
E o segundo aspecto, foi que ao contrário do que fora ventilado (erroneamente), pelos meus colegas d'A Chave do Sol, em 1986, o pessoal do Pitbulls on Crack jamais cogitou que fazer parte do comercial seria uma alavanca promocional boa para a banda e pelo contrário, nenhum deles sequer esboçou considerar que seríamos "aprovados" pelos diretores do teste de elenco para a figuração e nesse caso, a única motivação seria uma taxa monetária oferecida como uma espécie de ajuda de custo para participar do teste.
Ou seja, bem na base
da pilhéria que norteou tal grupo em sua carreira, a ideia foi: "ir
lá ganhar um dinheiro e divertir-se sem compromisso". Ora, bem no
espírito do tom de humorismo que sempre norteou a condução dessa banda,
fomos ao estúdio televisivo, localizado no bairro do Brooklin, na zona
sul de São Paulo.
Entre os membros da banda, o espírito foi esse, portanto, ao considerar ser uma grande brincadeira debochada e que eventualmente render-nos-ia um cachê simbólico.
Dessa forma, confesso que mesmo a estar ali apenas para
colaborar, visto que tudo foi ajeitado em cima da hora, e na
impossibilidade de arrumar um outro simulador de baixista, se eu não
fosse, eles seriam vetados para o teste, eu mantive-me incomodado em
participar. Sem outra alternativa, participamos da ação, enfim.
Os meus
colegas mergulharam na brincadeira, ao melhor estilo "Spinal Tap", sem
nenhum pudor e aliás, a divertirem-se muito com a pantomima, mas eu...
bem, eu não era (sou), um humorista em potencial como eles e acometido
por um sentimento de contrariedade absoluta em estar a fazer parte
daquela ação, não esforcei-me nem um pouco, por senti-me muito mal em
estar ali a ser usado como um anônimo, somente por usar cabelos longos e
saber segurar um instrumento musical com fidedignidade.
Foi então, quando o diretor que conduzia a filmagem, parou tudo e cobrou-me mais "empenho". A filmagem reiniciou-se e o sujeito que ficou visivelmente irritado com o meu desânimo, passou a soltar gritos atrás da câmera, a exortar-me a "melhorar" a minha performance.
Bem, é claro que eu não
segui a sua orientação e certamente que em sua visão, nós já estávamos
"desclassificados", mesmo com o "teste" ainda em pleno curso. O ponto,
na verdade, foi que a banda não pleiteou participar de forma alguma e
eu, ainda mais, não participaria nem que fôssemos "aprovados", por conta
das minhas convicções pessoais em torno do que representa esse tipo de
ação publicitária.
E ao diretor que chamava-me com desdém a denominar-me como: -"ô, baixista", genericamente, quando ele gritava: -"melhora aí rapaz, se mexe"... eu só posso responder que eu fui (sou) um artista genuíno e mexia-me, sim, em uma apresentação verdadeira, ao sentir a vibração da notas que eu tocava, emanadas pelo meu amplificador, vibrava por ouvir a emanação dos instrumentos e das vozes dos meus companheiros, vindos dos monitores e de seus respectivos amplificadores, mas sobretudo, pela sincronia estabelecida com o público.
Somente tal sintonia estabelecida espontaneamente cria a magia para a energia fluir a contento e o resto é falsidade em nome do "business", senhor diretor!
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