Que A Chave do Sol foi uma das mais significativas bandas da minha carreira, longeva por si só e marcada por participações em muitas bandas, dessa prerrogativa eu nunca duvidei e pelo contrário, sempre foi motivo de muito orgulho de minha parte.
A despeito do nosso guitarrista, Rubens Gióia, ter feito várias tentativas para reconstruí-la ao longo de décadas e muitas vezes ter me convidado para fazer parte desses esforços de reunião da nossa querida banda e jamais termos logrado êxito em tais tentativas.
Na realidade nunca fora por
conta de orgulho ou mágoa de minha parte que eu recusara tais ofertas
de sua parte. O fato, foi que todos os convites surgiram em momentos em
que eu estava muito comprometido com outros trabalhos e assim, tirante
uma ocasião em 2005, que chegou a promover um ensaio entre eu (Luiz),
ele (Rubens) e o nosso baterista, José Luiz Dinola, mas que não culminou
em show por um outro detalhe estrutural, essa ideia de uma reunião da
formação original, não prosperou jamais com o Power-Trio clássico
inteiramente reunido, embora em algumas ocasiões, Dinola & Gióia
houvessem promovido algumas apresentações a usarem o nome da nossa banda,
com outros baixistas e vocalistas diferentes (em 2000 e 2007, por
exemplo) e em 2012, o Rubens fez um show com três músicos convidados e
somente ele a representar a formação original do nosso grupo.
Anos depois, eu fui convidado para fazer parte da turnê de despedida da Patrulha do Espaço, com alguns shows realizados entre 2018 & 2019. Em 2019, foi a vez de eu participar de um show reunião do Pedra, ou seja, duas outras bandas importantes em minha trajetória pessoal.
E foi então que uma ideia germinou em minha imaginação: por que não seguir-se a mesma ideia e reunir a formação original d'A Chave do Sol, nem que fosse para um único espetáculo em caráter nostálgico?
Respaldado
pelo fato de que reviver a minha participação com a Patrulha do Espaço e
com o Pedra houvera sido tão prazeroso e produtivo para agregar
inúmeros valores, inclusive mais histórias para acrescentar à minha
autobiografia e com muita honra, tal ideia sobre A Chave do Sol, também
ter essa oportunidade e a considerar ser uma banda pela qual eu fui
cofundador e tive uma história tão linda, construída ao lado de
companheiros talentosos e valorosos, cresceu em minha imaginação, como
uma perspectiva concreta.
Concomitantemente, eu sempre tive a percepção de que a despeito da nossa banda ter tido um final abrupto ao final de 1987, que foi triste por gerar mágoas em todos nós, por conta de mal-entendidos, por outro lado, tais rancores indevidos já não existiam mais, há muitos anos.
E um outro fator, a nossa banda marcara profundamente uma geração de fãs, muito fiéis do nosso trabalho e por conseguinte, desde 1988, que eu ouvia manifestações efusivas da parte de pessoas que expressavam claramente que desejariam que nós voltássemos à ativa. Eu nunca duvidei desse potencial do nosso grupo e tampouco da sincera opinião desses fãs e nos últimos anos, tais demonstrações de carinho se tornaram ainda mais frequentes através das Redes Sociais existentes na Internet. Portanto, eu sempre levei em conta tal fator.
A questão então ganhou uma substância, quando o guitarrista, Geraldo Guimarães, o popular, Gegê, abordou-me por volta de agosto de 2019 e por ser um declarado fã de nossa banda, ele disse-me que estava envolvido com a produção de um teatro municipal, denominado: Cacilda Becker, localizado no bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo e que gostaria de produzir um show d'A Chave do Sol em dobradinha com Os Kurandeiros, a minha banda dessa atualidade.
Sobre Os Kurandeiros, que maravilha essa oferta, seria apenas definir a data, mas a respeito d'A Chave do Sol, uma banda inativa há anos, haveria de ser feita uma costura prévia, primeiro a consultar os companheiros Rubens e José Luiz, verificar se aceitariam, pensar em um vocalista convidado ou mesmo nos aventurarmos para executarmos o repertório mais instrumental, uma faceta que marcara uma fase da nossa própria banda, inclusive.
Bem, o
importante foi que a semente de um show a ser realizado em 2020, foi
lançada ao ar, eu a enterrei no solo com vívido interesse, reguei e pareceu-me a
grosso modo, que poderia germinar bem.
Eis que após a proposta feita pelo amigo, Geraldo "Gegê" Guimarães, a ideia passou por um processo forte de amadurecimento. Então, diante dessa prerrogativa, eu fui impelido a materializar tal sentimento.
Por uma feliz coincidência, ao final de julho de 2019, eu recebi o recado do José Luiz Dinola, que ele houvera sido convidado por um velho amigo nosso em comum, o ex-roadie d'A Chave do Sol, Edgard Puccinelli Filho, para comparecer a um evento, a tratar-se do lançamento de um vídeoclip da banda, "Power Blues", cujos membros eu conhecia de longa data, inclusive.
Ora, rapidamente eu também recebi o mesmo convite da parte do
Edgard e assim, ficou certo de que nós dois, eu e Dinola, nos veríamos
no ambiente da casa de shows, Madame Satã, onde realizar-se-ia o show do
Power Blues, para lançar o seu vídeoclip da música: "Mentes
Criminosas", a ser realizado em 17 de agosto de 2019.
Então, nesse referido dia de agosto, eis que eu encontrei o Dinola nas dependências do Madame Satã, e em meio a uma série de reencontros muito prazerosos, pois a casa estava abarrotada com músicos amigos nossos em comum, inclusive, muitos egressos da cena oitentista, portanto, contemporâneos d'A Chave do Sol.
Mais
uma foto de bastidores, do evento no Madame Satã, onde eu estive
cercado por muitos amigos. Da esquerda para a direita: José Luiz Dinola,
Kim Kehl, eu (Luiz Domingues) e o extraordinário guitarrista, Milton
Medusa. Click, acervo e cortesia: Jani Santana Morales
Então, eu
pude passar a ideia para o Dinola, que aceitou e surpreendeu-me muito
positivamente, visto que além de concordar, ele demonstrou um grau de
entusiasmo muito além do que eu imaginaria, pois ficou nas entrelinhas
que ele interpretara a proposta de um show comemorativo de reunião da
nossa banda, como uma oportunidade de resgate do trabalho.
Ora, não foi
essa a intenção primordial, mas se ele interpretou dessa forma e tal
perspectiva o animara, por que não usar tal fagulha como um fator
motivacional para o projeto, mesmo que no calor dos acontecimentos, não
se tratasse exatamente do caso, mas assim como houvera ocorrido comigo,
pessoalmente em relação aos trabalhos recentes que eu fizera com a
Patrulha do Espaço e o Pedra, em termos de reunião comemorativa, como algo
apenas a ser demarcado pela nostalgia, sem intenção de retomada das atividades.
No entanto, eu considerei a animação dele com a ideia, muito positiva.
Dinola perguntou-me o que tocaríamos e sinceramente, eu não havia pensado em nada até então, pois do momento em que o Gegê lançara a proposta, até ali, a minha determinação foi apenas consultar os amigos, para depois pensarmos em repertório.
Na minha ideia preliminar, eu adoraria tocar apenas o
repertório mais antigo, de nossos primórdios de 1982 & 1983 e a
privilegiar a fase do nosso Power-Trio clássico. Entretanto, ao ponderar
melhor, um show comemorativo, com a reunião da formação clássica da
nossa banda, não poderia ficar sem executar músicas tais como: "Um
Minuto Além e "Sun City", por exemplo e aliás, de forma alguma, por uma questão
de lógica e respeito à nossa própria história.
Ora, esse houvera sido um ponto nevrálgico em nossa organização como banda nos anos oitenta. Por considerarmos que sempre precisávamos de um vocalista, ficamos errantes a buscar essa resolução durante toda a carreira da banda, quando na realidade, o Rubens cantava afinado, ainda que não tivesse uma grande emissão e o Zé Luiz apresentava um grande potencial e de fato, ele melhorou muito com o decorrer do tempo e eu também melhorei muito nesse quesito, no meu momento pós-Sidharta e ao longo da minha longa estada na formação da Patrulha do Espaço, quando eu pude aprimorar ao menos o backing vocals, afinado.
Portanto, a nossa busca incessante por um vocalista, nos anos oitenta, foi de certa forma precipitada e certamente obsessiva, hoje em dia eu tenho essa convicção. Por outro lado, ao buscarmos e termos tido tantos vocalistas de ofício na formação, eis que o material criado com tal perspectiva, ficou difícil para ser vocalizado por nós três do Power-Trio original, e assim, uma reunião da nossa banda, teria que contar com um convidado especial, isso tornou-se patente, para ocupar tal lacuna.
Foi então que eu sugeri um nome que supriria com bastante naturalidade a nossa necessidade de uma voz principal potente e com um potencial gigantesco para atuar como guitarrista e tecladista, igualmente, ou seja, quem mais a não ser, Rodrigo Hid?
Preciso explicar ao leitor da minha autobiografia quem ele é, ou sobre a ligação que nós temos como amigos e parceiros na música? Pois é, ao citar a minha ligação de amizade com ele que remonta ao meu tempo como professor e expresso no capítulo "Sala de Aulas" da minha autobiografia, ele nessa época como um adolescente e agregado das minhas aulas por tocar em uma banda de um aluno meu, o Alexandre Peres "Leco" Rodrigues.
Depois com o o Rodrigo já a tornar-se
colega de banda no Sidharta, e o desdobramento desse projeto que nos levou
juntos a tocarmos com Patrulha do Espaço por quase seis anos e como se não bastasse tudo
isso, o fato de termos tocado por quase dez anos em uma outra banda, o
Pedra, fez dele, um personagem recorrente em meu texto autobiográfico.
Rodrigo
Hid durante as sessões de gravação do CD Chronophagia da Patrulha do
Espaço. Estúdio Camerati de Santo André-SP, em janeiro de 2000. Acervo:
Luiz Domingues. Click: Eduardo Donato. Revelação e digitalização em
2020: Vinicius Troyan
E houve
mais, pois, o Zé Luiz Dinola também esteve junto conosco no Sidharta e
ambos tiveram uma banda que tocou na noite por um tempo a tocar covers
de Classic Rock, o "Tarantula", Em paralelo, e eu e Dinola tocamos algumas vezes com o
"Hid Trio" outra banda cover a atuar pela noite, com membros flutuantes
e mais um dado: graváramos duas músicas em 2017, para compor o seu ainda não lançado
disco solo, portanto, Dinola conhecia muito o Hid e claro que adorou a
ideia.
Rubens
também aprovou a sugestão, pois mesmo sendo o único entre nós do
Power-Trio clássico d'A Chave do Sol que nunca tocara com o Rodrigo Hid em alguma
banda, por outro lado, conhecia bem a sua carreira e portanto, soube de
imediato que fora uma boa escolha.
Rodrigo
Hid em destaque (com Ivan Scartezini ao fundo), durante o show
"Reunion" do Pedra em 5 de abril de 2019, no Teatro do Sesc Belenzinho,
em São Paulo. Click, acervo e cortesia: Cesar Gavin
Feito o
convite, Rodrigo Hid mostrou-se feliz pela lembrança e aceitou o convite
para participar do nosso show "reunion", marcado para 15 de julho de
2020, a ser realizado no Teatro Cacilda Becker, no bairro da Lapa, na
zona oeste de São Paulo.
A ideia inicial foi formular então um repertório base para os quatro músicos se concentrarem em trabalhar e assim marcarem-se ensaios entre maio e junho de 2020. No caso do Rodrigo, seria vital definir o quanto antes o que tocaríamos, pois ele precisava mais dos que os membros originais da banda, familiarizar-se com as canções e fazer as suas escolhas sobre qual instrumento tocar em cada, uma, se a guitarra ou a suprir com teclados.
Eu antecipei-me e lhe disse que gostaria que ele tocasse mais teclados nessa missão, justamente para encorpar o som da nossa banda com uma orientação mais setentista e assim a resgatar a raiz mais primordial d'A Chave do Sol que nasceu assim em 1982, sob forte orientação setentista em seu rol de influências, então, eu mal poderia esperar para ensaiar e ter em músicas como "18 Horas" e "Átila", por exemplo, um som vigoroso de órgão Hammond com a caixa Leslie a rodar rápida, o piano ao estilo Honk Tonk em "Luz" etc.
Então, sob
uma votação simples, entre eu (Luiz), José Luiz Dinola e Rubens Gióia,
fechamos com as seguintes músicas para compor o set list do show:
1) Luz
2) 18 Horas
3) Anjo Rebelde
4) Crisis (Maya)
5) Intenções
6) Um Minuto Além
7) Átila
8) Sun City
9) Saudade
Dessa
forma a revelar-se como um set curto, definimos que a canção: "Luz"
seria cantada pelo Rubens para demarcar bem a sua gravação original do
Compacto de 1984 e tirante as instrumentais (18 Horas, Crisis/Maya e
Átila), as demais ficariam sob a responsabilidade vocal do Rodrigo.
Uma segunda frente foi iniciada, pois se iríamos fazer esse show, a oportunidade de estarmos ensaiados novamente abriu essa chance e uma tratativa de bastidores foi feita de imediato, mas eis que em meados de fevereiro a pandemia chegou com força devastadora ao Brasil e a quarentena foi imposta como medida sanitária acertada e mesmo que tudo tenha sido assustador, nessa época e até meados de março, houve a vã esperança de que se atingisse o platô da doença por volta de maio e assim, em julho a nossa data já agendada não sofresse nenhum dano. Mas à medida que o tempo avançou, percebemos que essa possibilidade não seria plausível.
Rubens
Gióia em um dos shows de lançamento feitos no Teatro Lira Paulistana,
de São Paulo, em 30 e 31 de julho de 1984. Acervo: Luiz Domingues.
Click: Carlos Muniz Ventura
Tudo bem, a
pandemia atrapalhou os nossos planos, no entanto, não arrefeceu a nossa
animação. Montamos o grupo de Whatsapp interno para falarmos sobre os nossos
planos e eu fiquei contente por saber que o nosso convidado especial,
Rodrigo Hid se integrou com muita alegria, ali também.
Então, mesmo sem perspectivas concretas para se pensar em remarcar oficialmente a data prevista anteriormente para o Teatro Cacilda Becker e muito menos seguir nas tratativas para um segundo show em um outro teatro famoso da cidade, ao menos a nossa banda seguiu a gerar novidades sensacionais no campo do marketing e melhor ainda, com lançamentos há muito tempo sonhados e somente nesse momento a se concretizarem efetivamente!
Eis que já a visar contar com novidades para oferecermos aos fãs como objetos de merchandising durante o show que faríamos em julho de 2020, uma boa perspectiva abriu-se quando eu tomei ciência de que uma velha amiga estava a produzir uma linha de produtos de decoração com as capas de discos de diversos artistas e que por ter feito almofadas com toda a discografia de um ex-aluno meu, Marcelo "Pepe" Bueno, motivou-me inicialmente a produzir tais peças como promoção para os três volumes do meu livro recém-lançado.
E por terem ficado tão bons os produtos, passou algum tempo, eu
encomendei também a feitura de mais produtos, desde feita a conter as
capas de todos os discos que eu lancei na minha carreira, até este
momento de 2020.
Feitas com um ótimo tecido, com costura caprichada e a presença de zíper para facilitar as lavagens periódicas, se apresentavam sob o tamanho padrão em torno da medida 40x40.
Com bonita impressão, eu gostei muito do
resultado e certamente que animei-me muito com a perspectiva de que tais
produtos haveriam por agradar muito os fãs do nosso trabalho e que
seria um prêmio a mais para quem se dispusesse a ir nos ver tocar ao
vivo, após longos trinta e três anos de hiato gerado pelo final das
atividades oficiais da nossa banda, desde o longínquo ano de 1987.
Foi sensacional contar com o apoio de Amanda Fuccia, uma artista que eu conheço há muitos anos, pelo fato dela ser filha de Ana Fuccia, e esta, a revelar-se como uma grande fotógrafa, que fez fotos promocionais e para capas de discos, além de cobrir fotograficamente muitos shows ao vivo da Patrulha do Espaço, quando eu fui componente dessa banda.
Mas a surpresa aos fãs, programada para ser divulgada a partir do show, apenas, não ficaria concentrada nas almofadas. Pelo contrário, uma outra novidade, que na verdade foi um sonho acalentado por muito anos, também entrou em franca produção logo no início de 2020, portanto antes da pandemia chegar oficialmente ao Brasil e curiosamente demarcada pelo breve instante de 2020, onde nem cogitávamos que a vida social seria duramente prejudicada e a cultural, praticamente circunscrita ao mundo virtual.
Falo sobre
essa outra novidade a seguir e mesmo que o plano inicial para tornar
pública a sua produção, houvesse sido planejado para ser uma surpresa a
ser revelada apenas por ocasião do show de julho, foi óbvio que a
quarentena apenas mudou a planificação inicial, mas não coibiu a sua
preparação durante esses meses em que só trabalhamos de forma virtual.
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