Eu não saberia dizer de onde tirávamos forças para prosseguir com aquele cenário pintado à nossa frente. Sem um empresário minimamente competente, sem suporte de uma gravadora, sem dinheiro, e o pior de tudo, rachados internamente pela perda irreparável do nosso baterista querido, essa sim, a se constituir da maior das perdas que poderíamos ter tido.
Mas ao analisar hoje em dia, acho que tenho a resposta para tal indagação que eu expus na primeira frase deste capítulo, ou seja: puro instinto de sobrevivência, foi o que moveu-nos, na ocasião.
Contudo, também
houve o sentimento que um término de atividades seria a coroação de uma
frustração enorme por termos fracassado, após tanto trabalharmos, e
pior que isso, dentro daquela sensação de perdermos tudo o que tínhamos
conquistado (e foi muita coisa), com a nossa heroica jornada marcada por tanta labuta.
Antes de seguir em frente na cronologia, eu preciso só registrar que uma última tentativa para uma abordagem em gravadora, fora feita, mas nessa altura, ninguém mais teve esperanças, após habituarmo-nos com o modus operandi em voga em todas as companhias.
Para resumir,
uma fã nossa do Rio de Janeiro, disse que conhecia um contato dentro da gravadora EMI-Odeon.
Claro que a sua gentil oferta para intermediar um encontro foi atendida e
assim, desta feita, Eliane Daic, ainda a exercer função como produtora da
nossa banda, encontrou-se com essa fã no Rio e levou consigo o nosso material para
tal contato, mas... nem resposta para marcar-se uma eventual reunião de audição com o diretor de
repertório, tivemos, o que foi algo para se esperar, convenhamos e a denotar que o contato propagado pela fá. não era tão influente quanto ela deduzira que seria.
De volta à cronologia, a nossa realidade foi permeada pela profunda aspereza nessa época, mas eu louvo muito a predisposição do Beto de haver assumido muitas frentes de trabalho simultaneamente, com muita energia e praticamente a suprir esse tipo de característica de uma profunda força de trabalho obstinada, que fora a marca registrada do Dinola em nossa banda, outrora.
Nesses
termos, como eu já mencionei antes, ele alinhavou o contato com o Estúdio
Guidon, ao conversar com seu gentil proprietário, um rapaz chamado Guto Guidon,
resgatou o artista que fizera um esboço de capa e foi atrás para fechar um
acordo para ele tocar a obra em frente e assim concluir o lay-out, contatou Ivan
Busic para tocar bateria em nosso disco e não parou por aí, pois ele foi
rápido em sua predisposição e começou a captar possíveis patrocinadores para auxiliar-nos nessa despesa insana com a qual não tínhamos a mínima
condição de arcarmos, sozinhos.
Tratou-se de um salão de cabeleireiro masculino ("Lazinho's"), que não ofereceu-nos dinheiro em espécie para ajudar nas despesas, mas dar-nos-ia o uso de seus serviços... bem, éramos "cabeludos" e artistas, portanto precisávamos de um serviço profissional com bom nível nesse quesito, mas convenhamos, eu não importava-me em acertar as pontas da minha cabeleira de Rocker setentista, em salões bem mais modestos e a pagar por isso. Porém, na penúria em que encontrávamo-nos naquele instante, qualquer ajuda ventilada teria sido válida, e se não empolgou-nos, fora melhor ter o patrocínio, do que não tê-lo.
Tirante isso, Beto não perdeu tempo e começou a cotar preços de fábricas de prensagem de vinis e gráficas para imprimir as capas.
De minha parte, o acordo com a Rock Brigade fora concretizado, mas a minha participação houvera sido pequena, pois a intervenção mais incisiva viera da parte do saudoso, Eduardo Russomano que elaborou toda a intermediação.
Eu também prontifiquei-me a manter o fã-clube em atividade, e ele seria vital para as nossas ações de marketing. Uma outra colaboração singela, foi ter conversado com o amigo, Carlos Muniz Ventura e garantirmos assim uma sessão de fotos, com custos minimizados, praticamente só a pagarmos pelo material, ao visarmos produzir as fotos oficiais do álbum e também as promocionais que precisaríamos para a divulgação.
Uma última ação de minha parte, foi combinar com o Walcyr Chalas (Woodstock Records), uma tarde de autógrafos para o lançamento do disco, nas dependências de sua loja e mais para frente, eu darei detalhes sobre tal ação, que reputo ter sido um dos últimos suspiros de vida da banda, com enorme sucesso.
Infelizmente, o Rubens pareceu alheio a todo esse esforço e profundamente chateado pela somatória de acontecimentos ruins que ocorreram-nos nos últimos tempos, se manteve distante de nós e não demonstrou haver empolgado-se com a pré-produção do disco. Relevamos, ao compreendermos que o seu ânimo estava baixo e continuamos a esforçarmo-nos, apesar dessa discórdia que ainda minava a banda, internamente.
Os primeiros ensaios com Ivan Busic, foram tranquilos. Um músico com alto nível técnico, grande criatividade e a se tratar de uma excelente pessoa, claro que com sua simpatia e espírito brincalhão entre nós, o convívio foi fácil ao extremo, e para ir além, Ivan ajudou a minimizar o astral baixo com o qual estávamos a lidar na ocasião.
Lembro-me da rotina que estabelecemos ao dirigir-me à residência dos irmãos Busic, onde de lá, íamos eu e Ivan em seu carro, para o ensaio na casa do Beto, em uma rotina que perdurou por alguns dias.
Não foram
muitos ensaios, por que o repertório do disco foi pequeno, com apenas
oito canções e um músico do gabarito do Ivan, as preparou com extrema
facilidade e mesmo ao se colocar de uma forma muito respeitosa ao não mudar radicalmente os
arranjos originais criados pelo Zé Luiz, claro que ele colocou um pouco de
sua criatividade em algumas sutilezas.
O Beto insistiu em adicionar três músicas novas que não estavam originalmente no set list dos últimos shows, em detrimento de muitas que faziam sucesso ao vivo.
A ausência de uma música como "O que Será de Todas as Crianças?", que era super querida nos shows, desde 1986, culminou por ocorrer para dar espaço a tais músicas novas que foram propostas.
A
explicação para tais escolhas tão repentinas, foi o fato de que havíamos fechado com a
ideia de que seria bom termos músicas em inglês, também, para tornar o
disco híbrido.
Tal
decisão foi tomada por termos ouvido a opinião de muitas pessoas que convenceram-nos de que o momento seria propício para tentarmos uma expansão
internacional e nesses termos, tornara-se uma condição sine qua non que houvesse
material em inglês para esse disco.
E acrescento que as três novas canções são boas e poderiam de fato serem incorporadas no disco, ao manter um padrão de qualidade e aposta no potencial Pop, também.
Tratou-se no caso de: "A Woman Like You", "Sweet Caroline" e "Change my Evil Ways". As duas primeiras que eu citei, foram composições muito frescas, fechadas naquelas últimas semanas em meio à crise da banda e o Zé Luiz ainda as executou em seus últimos ensaios conosco, contudo, mal deu tempo dele estabelecer o seu arranjo pessoal para ambas. Portanto, quem de fato veio a estabelecer as linhas gerais e definitivas ao desenho rítmico delas, culminou em ser o Ivan Busic, mesmo.
Sobre "Change my Evil Ways", tratou-se de uma música engavetada do Beto, fruto de sua passagem pela banda de Hard-Rock interiorana, "Zenith". Ele teve a ideia de resgatá-la e de fato é uma boa canção com certos ecos "zeppelineanos" e dessa maneira, termos algo com possibilidades setentistas no repertório chegou a ser um alento.
Mas a
inclusão dessas músicas novas, ao referir-me a "A Woman Like You" e
"Sweet Caroline", trouxe também algumas divergências. O Rubens, que nos últimos
meses estava bastante contrariado com muitas nuances, simplesmente não
quis saber dessas canções e assim, adotou posição de neutralidade
desinteressada, ou seja, não opôs-se às suas inclusões no álbum, em
detrimento de outras músicas que deveriam ter entrado naturalmente, caso
de "Saudade" que nós tocávamos desde 1986, nos shows, a exaustão.
Tal posição de sua parte, denotara o seu esgotamento emocional com a banda e isso entristecera-me muito, é claro. Claro que chateei-me bastante nessa época com tal posição dele, mas hoje, eu entendo que as suas forças haviam esgotado-se.
Nesses termos, ele deixou claro que não tocaria nessas duas canções novas e que a responsabilidade para suprir a base e solos de guitarra, ficaria a cargo exclusivamente do Beto. Tudo bem, o Beto não era nenhum virtuose na guitarra, mas poderia e de fato o fez, gravar sozinho, ao fazer a base da harmonia e solos para ambas.
Nesse sentido, o Beto era mais ou menos como o norte-americano, Sammy Hagar no "Montrose", e mesmo no "Van Halen", ao tocar esporadicamente e cumprir bem a função. As outras canções escolhidas seriam, aí sim, conhecidas do público que acompanhava-nos, por estar a serem tocadas nos shows, com regularidade.
Foi o caso de: "Profecia", "Sun City", "Lírio de um Pantanal" e "A Chave é o Show".
Sobre "Keep me Warm Tonight", esta também era uma velha conhecida do nosso público, mas repaginada, ganhara letra em inglês doravante, pois anteriormente fora conhecida do nosso público, como "Que Falta me faz, Baby".
No caso de "A Chave é o Show", cabe destacar que a letra de tal canção fala sobre a própria banda e a emoção que a nossa música, de uma maneira geral e a performance ao vivo da nossa banda, causava aos seus fãs. Achava e ainda acho, uma bela ideia do Beto e na época, tal canção gerava uma comoção a parte nos shows.
Mas também há o seu lado duvidoso, pois ficara sujeita a se tornar marcada como envelhecida, rapidamente, tal como "Sun City" e também personalista em demasia.
E não deu
outra... ao olharmos os comentários de jovens hoje em dia (2016), na
postagem de uma versão ao vivo, dessa canção no YouTube, muitos ironizam
e debocham da letra, pelo fato da banda não ter alcançado o mainstream e
dessa forma, na sua concepção moldada por paradigmas imediatistas, a
letra soa ridícula na atualidade, pelo fato da banda não ter alcançado o sucesso que
justificasse tal autoelogio. É um argumento legítimo de certa forma, não posso negar.
Ainda sobre o repertório, no cômputo geral tratou-se de uma boa compilação a retratar de forma sucinta a mudança de direcionamento no trabalho da banda, após o EP de 1985. Mas com a ressalva de que outras canções que tínhamos à disposição, poderiam tranquilamente ter feito parte do álbum, e em alguns casos, como já citei, acho que deveriam ter feito mesmo, pois eram queridas do público, ao vivo. Sob poucos ensaios, portanto, consideramos que estávamos prontos para entrar no estúdio.
Mas antes dessa tarefa, um novo compromisso na TV, apresentou-se para nós, e não tivemos condições para recusá-lo, apesar do clima pesado que a banda vivia, internamente.
Falamos então com o Ivan Busic e ele aceitou a ideia de tocar ao vivo no tal programa e assim nós confirmamos a nossa presença.
Tratou-se
de um então programa novo da TV Cultura, que era apresentado pelo radialista, Kid Vinil,
chamado: "Boca Livre". Era filmado nas dependências do Teatro Franco
Zampari, um teatro de propriedade da própria Fundação Padre Anchieta,
mantenedora da TV Cultura e auditório esse onde há anos eram produzidos programas
dessa emissora.
Fomos
tranquilos, pois sabíamos que o Ivan, apesar de poucos ensaios, detinha
uma competência absurda, e não haveria motivo para preocupações,
naturalmente.
O link para assistir tal performance da banda, nesse referido programa de TV, em uma postagem de melhor qualidade, lançada por Will Dissidente, em 2015:
https://www.youtube.com/watch?v=QcVOUJKxNJE
O solo
vocal que era típico da música e evocava ídolos do Beto, tais como: Robert
Plant, David Coverdale, Paul Rodgers e Glenn Hughes, sobretudo, causou uma estranheza
normal para um público popular e não familiarizado com os signos do Rock e
do Blues, nesse caso em específico, mas não chegou a ser constrangedor
como seria para esperar-se em uma circunstância adversa dessas.
Foi o
nosso último programa de TV em 1987 e também o derradeiro como A Chave
do Sol, ao encerrar o nosso ciclo de aparições na TV.
Mas claro que não dimensionamos isso a época.
Nesse ínterim, o Beto conseguiu conquistar mais dois patrocínios para o disco, entretanto, apesar dessa ação bem-sucedida em nosso favor, assim como houvera ocorrido com a adesão do salão de cabeleireiro, "Lazinho's", desta feita ele anunciou o apoio de uma loja de artigos de couro, localizada na Rua Augusta, chamada: "Francis Couros", e um patrocínio de uma Luthieria que aspirava entrar no mercado, chamada: "Vintage".
No caso da loja de artigos de couro, foi um fato que na época, usávamos bastante figurinos de couro para compor o nosso visual de palco, mas a perspectiva para ganharmos uma peça, cada um, não representou exatamente o que mais precisávamos naquele instante.
Portanto, foi o segundo patrocínio apenas relativo,
contabilizado, visto que termos direito a cortes de cabelo e uma peça de
roupa de couro para cada um, não ajudara-nos muito a enfrentarmos a despesa
assustadora que estávamos a assumir, ao bancar sem recursos, um novo LP.
E no caso dessa loja em específico, ainda houve a agravante de que só uma peça foi disponibilizada, no caso a jaqueta de couro que o Beto usou na foto da contracapa do LP, e quanto às outras peças prometidas para os demais, jamais foram entregues.
Bem, pelo menos o Beto saiu bem na foto, no pleno uso da tal jaqueta.
No caso da
Luthieria "Vintage", cabe explicação. A ação do Beto foi ótima, sem
dúvida, aliás nos três patrocínios que trouxe-nos e louvo isso com muito
entusiasmo e gratidão, que fique muito claro.
Contudo, assim como no caso dos dois outros patrocinadores aos quais eu comentei anteriormente, tal luthieria também não acenou com apoio financeiro direto, mas sim com vantagens subliminares aos membros da banda, no caso, com a montagem de duas guitarras e um baixo.
Se no caso
das roupas de couro e do salão de cortes de cabelo, pelo menos na
promessa, os quatro membros seriam beneficiados, neste caso, o baterista
não levaria vantagem alguma com tal apoio. Ficou menos constrangedor
para nós, pelo fato do Ivan Busic não ser componente oficial da nossa
banda, mas um convidado, contudo, caso o Zé Luiz estivesse normalmente
a ocupar seu lugar na banda, teria sido constrangedor.
No meu caso em específico, fora uma oportunidade de ouro para finalmente ter um segundo baixo e sair da incômoda posição de desenvolver uma carreira profissional, com o número alto de dificuldades que a logística do ofício submete um instrumentista normalmente, com um único instrumento à disposição, portanto, ao estar sujeito a ficar desprevenido em qualquer eventualidade.
Contudo, tratou-se da
minha situação pessoal nessa época e apesar de saber que foi arriscado
ao extremo ter apenas um instrumento para cumprir os compromissos todos
que tivemos, eu não reunia meios para melhorar tal situação, mesmo nos
momentos de pico da banda, em que uma compensação financeira avistou-se,
fruto de nossas melhores conquistas.
Então, claro que pelo ponto de vista estritamente pessoal, foi uma grande conquista pessoal, naquele instante.
Neste caso eu nem tenho como lamentar o fato de que esse patrocínio não tivesse sido na forma de dinheiro vivo, dada a nossa necessidade premente para saldarmos despesas.
Entretanto, também não posso deixar de registrar que o patrocínio ficou falho no cômputo final, pois só eu tomei posse desse baixo, e as duas guitarras prometidas jamais foram entregues. É preciso registrar também que o acordo cobriu apenas a despesa da madeira de corpo & braço, montagem do instrumento & pintura, com a obrigação da compra dos componentes, as peças mais caras, por nossa conta.
Além do mais, no meu caso, a canseira que eu tive para ter esse instrumento em minha posse, finalizado enfim, foi imensa. Esse acordo foi fechado em 1987, mas somente ao final de 1989, eu pude contar com ele, e isso não obstante o fato de que só ocorreu mediante inúmeras visitas na longínqua oficina onde ele esteve a ser montado.
Em muitos
momentos, sinceramente eu pensei que eu jamais o pegaria, pois em um dado instante, o luthier
patrocinador chegou a anunciar dificuldades para cumprir a sua promessa, mas
mediante a minha pressão, ele recorreu a outro luthier, que culminou em finalizá-lo e aí, uma situação bizarra desenhou-se, pois se o
propósito inicial fora fazer propaganda de uma luthieria, no caso a
"Vintage", o baixo finalizou-se ao receber o selo da "Tajima", ou seja, uma outra marca.
Usei-o pouco ao vivo e em estúdio, pois quando ele foi entregue, finalmente, A Chave do Sol simplesmente já não existia mais e o que ocorria naquele momento foi a minha participação com uma banda diferente, nascida de sua dissidência, portanto, o patrocínio não justificara-se por vários motivos, sendo o pior de todos, o fato bizarro do instrumento ter sido entregue com uma marca completamente diferente, que em nada contribuiria como exposição, ao seu patrocinador original.
Ao falar sobre o instrumento em si, quando o recebi, aliviou-me pessoalmente como eu já disse, visto que há muito tempo eu sofria por só possuir um único instrumento para enfrentar a carreira e as suas necessidades técnicas, prementes.
Mas por ironia do destino, poucas semanas depois de tê-lo enfim em minhas mãos, a minha situação financeira mostrara-se outra, bem melhor e uma oportunidade para adquirir um terceiro baixo, desta feita importado e de uma marca renomada, surgiu, e assim, a minha situação em termos de disponibilidade de ferramentas, ficou muito mais confortável, doravante.
Então, por esses fatores expostos, tal baixo "Vintage", mas que no "headstock" do instrumento saiu marcado como "Tajima", não foi muito usado ao vivo e em gravações.
Porém, tal baixo marcaria de uma forma absurda a minha sala de aulas, pois foi com ele que eu mais contei para ministrar aulas, durante o período de 1989 até 1999, quando executei a minha última aula.
Recentemente (2015), ele foi submetido a uma reforma geral, inclusive com troca de componentes e agora está a tinir, por assemelhar-se visualmente e soar como um autêntico, Fender Precision, o seu projeto inicial.
De volta a falar dentro da cronologia: tivemos três patrocínios mambembes em que nada contribuíram diretamente no custeio do LP que iríamos gravar, mas que foram em tese, melhores que nada, e nesse aspecto, agradeço-os, apesar dos pesares, e louvo a iniciativa e esforço do Beto, que esforçou-se muito para arregimentá-los.
Para fugir completamente do padrão d'A Chave do Sol, as circunstâncias geradas por todos os fatos que eu já expus anteriormente, levou-nos a realizarmos um baixíssimo número de ensaios.
A nossa sorte, foi que no caso da maioria das músicas, nós já as havíamos tocado muito, ao vivo, e naturalmente elas estavam sem indícios de ferrugem decorrente dessa nova fase em que encontrávamo-nos, com a ausência completa de empenho, ao contrastar com o esmero, do qual orgulhávamo-nos durante todos os anos anteriores de nossa existência.
Outro
fator de sorte, foi que se havíamos perdido o nosso grande baterista, José
Luiz Dinola, o convidado para suprir tal gravação, foi ninguém menos
que, Ivan Busic, ou seja, um baterista dotado de uma grande técnica e que apesar de
poucos ensaios, inspirara-nos total confiança de que no estúdio
desempenharia com enorme categoria a sua função, e de fato, foi o que
ocorreu.
Outra ação muito positiva da parte do Beto, foi a de contatar o produtor, Edy Bianchi, que havia produzido o LP do "Inox", anteriormente.
Edy
Bianchi era (é) um grande Rocker, com formação pessoal inteiramente
calcada no som vintage das décadas de sessenta e setenta.
Não foi
nossa intenção deliberada trazer tais influências para a sonoridade do
disco. Não fora a nossa preocupação na época, soar vintage, e pelo
contrário, a intenção foi ser atual para os padrões da época, ao buscar-se o
Pop possível dentro das características de uma banda de Hard-Rock
oitentista.
Mas no meu caso, em que tais influências sessenta-setentistas sempre foram queridas ao extremo, trabalhar com um produtor como Bianchi, que entendia a mesma linguagem, seria no mínimo, um tremendo prazer. E de fato, o foi.
Ressalto, não buscávamos tais signos 1960 & 1970, nesse trabalho. Se eles existem, e eu acho que sim, existem, são por fatores absolutamente sutis e não deliberados para o propósito do álbum, nessa época.
Todavia, se Bianchi tivesse participado das gravações dos discos da Patrulha do Espaço, quando eu fiz parte da formação, muitos anos depois, e aí sim, com a intenção de soar retrô a se mostrar como algo explícito, aí sim, teria sido perfeito!
Bem, fora dessas considerações estéticas, Edy Bianchi aceitou o convite do Beto e ciente de nossa penúria, foi além e predispôs-se a trabalhar sem cobrar cachê, por puro prazer e esforço colaborativo com o projeto da banda.
Creio ter sido esse, um patrocínio que deu certo para a banda, sem
reservas, e um grande feito do Beto para o nosso grupo, sem dúvida.
Então, sob um cenário que mostrara-se tétrico para a banda, pelo seu profundo momento de baixa motivação interna, com direito a uma perda que reputo irreparável, caso da saída de Zé Luiz Dinola, a arregimentação de recursos para materializar o que viria a ser o LP "The Key", foi notável, e sem dúvida, revelou-se como o último alento para salvar a banda.
Nessa circunstância, o grande artífice dessa tentativa de manter a chama acesa, foi o Beto, não tenho dúvida, que sempre teve espírito empreendedor por natureza e ao perceber o grande perigo que corríamos, tratou de lutar com todas as forçar para reverter o quadro negativo.
Enfim, ele não mediu esforços para extirpar o fogo interno que consumia-nos e assim, a tentar salvar-nos.
Com
estúdio marcado, baterista substituto pronto para gravar, selo garantido, capa a ser
preparada, produtor de estúdio a postos e três patrocínios acertados,
fomos para o estúdio Guidon, nos primeiros dias de outubro de 1987, para
a nossa cartada final: seria ganhar a rodada desse jogo de poker, ou
perder tudo.
Ao chegarmos ao estúdio Guidon, em uma primeira inspeção prévia de pré-produção, verificamos que a bateria que havia disponível no estúdio, não estava em condições ideais para a gravação de um álbum.
Nem mesmo se fossem trocadas todas as peles, isso seria minimizado, pois algumas "canoas" (pequenas peças que tem função de presilhas para fixar a pele no instrumento e feitas de latão, geralmente, mas muitas vezes por outros materiais como plástico, ferro etc), não estavam em boas condições.
Dessa
forma, com canoas em mau estado de conservação, a possibilidade de
ruídos estranhos somarem-se ao som do instrumento na sua captura básica
de gravação, seria grande. Por outro lado, o Ivan não tinha uma bateria
importada de alto padrão nessa época e aí, nós resolvemos tentar um
empréstimo, muito inusitado!
Sem pudor algum, fomos à residência do Dinola e de forma direta, sem rodeios, pedimos-lhe seu instrumento emprestado para a gravação do disco. Situação absolutamente bizarra, estávamos a pedir o instrumento de nosso ex-baterista, para que um convidado o usasse em seu lugar no disco, álbum esse em que ele obviamente deveria estar a participar conosco. Que situação mais estranha e da qual jamais poderíamos supor passar um dia, mas foi o que aconteceu!
Bem, nessa
altura, o Dinola não disse-nos oficialmente, mas na prática, o seu
esforço para tentar cumprir o vestibular e visar assim cursar odontologia, já estava
descartado, porém ainda contrariado, ele não esboçava sinais de que pudesse
voltar para a banda, infelizmente.
Todavia, solidário como sempre, ele aceitou na hora a inglória tarefa de emprestar a sua bateria para outro músico gravar o disco de sua própria banda.
Então, mais que isso, o Zé Luiz prontificou-se a levá-la ao estúdio, sob uma demonstração de controle emocional, enorme, eu diria. Quando o dia do início desse trabalho chegou, lá estava ele a montar a sua bateria Tama, e aquele óbvio sentimento de que o certo seria sentar-se no banquinho e gravar todas as faixas, instaurou-se no estúdio.
Bem,
quando o primeiro trabalho para levantar o som da equalização básica da
bateria, começou, ele já estava tão naturalmente inserido naquele
espírito de gravação, que ajudou decisivamente o Ivan, ao dar-lhe todo o
apoio para timbrar o instrumento, da melhor forma possível.
Então, quando achamos uma equalização primordial e o produtor Bianchi anunciou que começaríamos a gravar, propriamente dito, o Ivan, por sentir o clima subliminar sob constrangimento entre nós quatro, membros da velha A Chave do Sol, foi direto ao ponto e disse ao Zé Luiz, que ele é que deveria gravar o disco inteiro.
Claro que sim, mas naquela altura, com o hiato a perdurar por quase dois meses de sua saída, dentro de um estúdio com os ponteiros do relógio a voarem e a cada giro desses, a arrancar-nos um dinheiro do qual não dispúnhamos, nem deu para perder tempo ali com uma catarse interna da banda, para tentar demover o Zé Luiz de sua decisão radical feita meses antes, em suma, foi uma imensa pena, enfim!
Diante desse impasse, na base da pressão emocional que instaurou-se com tal proposta proferida pelo próprio, Ivan, Dinola aceitou gravar algumas faixas e isso minimizou em muito a nossa frustração imensa ao constatar que o nosso baterista não tivesse uma participação, mesmo que pequena, em mais um álbum da banda.
E mesmo com a falta de ensaios naqueles meses em que havia deixado a banda, claro que ele conhecia aquelas canções, como ninguém. Então, sob comoção, e confesso, ficamos todos muito emocionados com essa ação inesperada, o Dinola gravou duas faixas do disco: "Keep me Warm Tonight" e "Lírio de um Pantanal", com Ivan Busic a gravar as demais.
E também ele fez algumas intervenções de percussão na faixa, "Change my Evil Ways".
Isso
esteve longe do ideal, pois o correto seria ele ter gravado tudo, e
ter sido retratado normalmente nas fotos da capa e encarte do LP como componente da nossa banda, mas a vida pregou-nos essa peça.
Portanto, a gravação da bateria foi tranquila, tecnicamente a falar, pois do ponto de vista emocional, revelou-se bastante intensa para todos, devido aos fatores que eu relatei anteriormente.
Apesar da pressa extrema com a qual estávamos a lidar, por conta de não termos meios para bancar adequadamente uma gravação mais folgada em termos de tempo, optamos pela metodologia tradicional do "um-por-vez", ao apostar na rapidez da captura individual, em detrimento de uma gravação de bases ao vivo.
Portanto, encerrada a participação dos bateristas, Ivan Busic e José Luiz Dinola, o próximo na ordem tradicional, fui eu.
Em meu caso, também muito seguro daquelas canções e sem percalços, gravei rápido e até dei-me um luxo extra, ao ver que dentro do que havíamos planejado em termos de tempo para a minha parte ser gravada, havia sobrado mais de duas horas do previsto. Na faixa "Profecia", em que um micro solo de baixo mostrava-se necessário, por que fazia parte do arranjo da música ao vivo, ao ser executado desde 1986, eu usei o recurso de um canal extra, para somar-se ao baixo regular da música.
Essa foi a primeira vez que usei tal recurso em estúdio e somente mais uma vez no futuro, em 2003, eu gravaria uma faixa no álbum solo do guitarrista, Xando Zupo, ocasião em que cometi algo semelhante, mas desta feita por sugestão dele, e não por minha ideia.
As bases de guitarras foram muito tranquilas também. O Rubens não teve dificuldades para gravar as faixas que conhecia muito bem por tocá-las ao vivo, há bastante tempo e o Beto teve uma participação ao executar a guitarra base, em três faixas: "A Woman Like You", "Sweet Caroline" e "Lírio de um Pantanal".
Em outras sessões posteriores, os solos também foram tranquilos, sem percalços técnicos. Rubens naturalmente era o nosso "lead guitar", mas infelizmente, por conta do clima ruim em que a banda mergulhou desde a virada do primeiro para o segundo semestre de 1987, estava mal-humorado quase todo o tempo, e a colocar-se inacessível para diálogos.
Parecia estar ali apenas a cumprir uma função profissional, mas não houve da parte dele o envolvimento emocional. Aquilo foi horrível em todos os sentidos, mas entristecera-me ainda mais, pois nós dois éramos as células primordiais da banda, e como se não bastasse não termos mais o Zé Luiz entre nós, agora amargávamos esse distanciamento.
Bem, eu não cogitava ainda, que essa contrariedade dele resultaria em um mal maior, a ocorrer em poucas semanas, e na época, achei que o mal-estar passaria e tudo normalizar-se-ia após o lançamento do disco e com uma possível volta da maratona de shows e contatos na mídia etc.
Terminadas as gravações de bases e solos, chegara a vez dos vocais, backing vocals e dos convidados a atuarem no disco.
Sobre os convidados, foram apenas dois, além do Ivan, obviamente: Fernando Costa e Andria Busic.
Foto promocional do grupo "Inox", com Fernando Costa ("The Crow"), colocado como o segundo, da esquerda para a direita
Fernando
Costa era guitarrista do "Inox", mas a sua formação mesmo se revelava como tecladista,
e de fato, a sua afinidade com o Rock Progressivo setentista, era total.
Um exímio tecladista e geralmente envolvido com bandas sob orientação
progressiva, Fernando surpreendera a todos quando surgiu como
guitarrista de uma banda de Heavy-Metal, nos anos oitenta e de fato,
a conduzir bem uma guitarra para uma banda dessas características e
sozinho, sem uma segunda guitarra a apoiá-lo, portanto, ao assumir-se
como "lead guitar" da banda.
Na verdade, ele era um multi-instrumentista, e nos dias atuais (2016), tem apresentado-se como baixista em vários trabalhos, versátil e dono de um excepcional dom musical, sem dúvida.
Nessa
participação como convidado, Fernando, ou "The Crow" como gostava de ser
apelidado, gravou algumas intervenções aos teclados, nada rebuscado,
apenas a imprimir um leve colorido aos arranjos de faixas como: "Sun City", "Lírio de um
Pantanal", "Change my Evil Ways" e "Keep me Warm Tonight".
Andria Busic, em foto bem mais atual, extraída do Site oficial do "Dr. Sin", a sua banda por muitos anos.
Já no caso
de Andria Busic, a sua participação foi com alguns backing vocals, ao emprestar-nos a sua bela voz aguda. Ele cantou no refrão de "A Woman
Like You", "Sweet Caroline" e "Sun City".
Sobre a rotina no estúdio Guidon, lembro-me que trabalhamos com dois técnicos, que foram solícitos e interagiram bem conosco e com o Edy Bianchi: Edelson e Pepeu.
A mixagem do disco também foi tranquila, com o Bianchi a auxiliar-nos bastante. Claro, tudo foi feito a toque de caixa, por que o dinheiro foi curtíssimo, ao impossibilitar totalmente um maior esmero, isto é, nenhuma novidade, na dura vida do artista independente e pobre.
Por volta do final de novembro, encerrou-se essa etapa de estúdio e daí em diante, nós tivemos que acelerar com o processo posterior do corte do vinil e a depender posteriormente da rapidez da fábrica, para prensar o quanto antes, pois queríamos e na verdade, precisávamos termos o disco em mãos, o quanto antes para iniciarmos a sua vendagem.
Ao encerrar o relato sobre o estúdio, lamento muito que não haja uma única foto desse
momento histórico da banda. Além da verba curta que tínhamos para tudo,
mesmo uma despesa barata como providenciar filmes para um amigo
registrar em máquina Polaroid, que fosse, foi inviabilizado. Só
lamento, portanto, não ter tal material aqui e agora, em 2016, quando
publico estas linhas...
A sessão de fotos oficiais da capa, encarte e material promocional de imprensa, foi conduzida pelo nosso velho amigo, Carlos Muniz Ventura.
Ele começara a sua carreira como fotógrafo amador a capturar shows, bastidores, gravações de discos e até peças promocionais bem informais, anos antes, mas nesse novo instante, estava a trabalhar em um estúdio profissional e havia crescido nesse setor.
A sessão
ocorreu próxima do feriado de proclamação da República, em novembro de
1987, no estúdio Pugliesi, localizado no bairro do Bexiga, zona centro-sul de São
Paulo.
Estamos a aparentarmos nessas fotos, coadunados com a estética do Hard-Rock oitentista, pelo figurino, e a sessão foi tranquila, apesar do clima pesado que pairava sobre a banda.
Mas há uma particularidade nessa sessão e que suscitou uma série de especulações, e até piadas entre fãs e gente do métier.
Uma montagem que eu encontrei na internet, com Beto Cruz e David Coverdale, lado a lado, e provavelmente montada por alguém que gostava de fazer tal comparação entre os dois
Um dia
antes de irmos ao estúdio de fotografia citado, o Beto nos surpreendeu,
pois houvera tingido o seu cabelo com o tom louro, mas bem alaranjado. Ficou chamativo, devo dizer, mas
reforçou a maledicência popular que tachava-o de copiar acintosamente o
vocalista britânico, David Coverdale. Tirante esse estigma, piadas de mau
gosto eram ouvidas pelas beiradas, ao dar-lhe apelido : "Boneca Emília,
do Sítio do Pica Pau Amarelo, o cantor popularesco, "Ovelha" etc.
Nos
meandros técnicos da produção do áudio, tivemos a pressa absoluta de efetuarmos logo o corte, para enviar o acetato matriz à fábrica, e assombrara-nos a perspectiva de que nosso disco nem pudesse ser fabricado ainda
em 1987, por conta de um detalhe que permeava a rotina das gravadoras ao
final de cada ano, em sua praxe, que já durava há décadas como rotina: as fábricas não
davam conta para suprir pequenas produções independentes nessa época do
ano, pois as gravadoras majors faziam encomendas mastodônticas de seus discos
com seus artistas populares, para suprir o estoque das lojas, bem antes do natal.
A
loucura total com que as fábricas entravam já a partir de outubro, para
prensar milhões, literalmente, de cópias de álbuns de artistas como
Roberto Carlos, por exemplo, era incalculável e de fato, os discos representavam nessa época
do ano, um dos principais produtos procurados, como presente de Natal,
por milhões de pessoas.
Sobre o encarte, a estratégia de usarmos o idioma inglês seguira a opinião de pessoas que acreditavam que o nosso melhor caminho na carreira seria por intermédio do aeroporto.
O pessoal da Rock Brigade, que tinha muitas conexões internacionais, ainda que dentro do mundo do Heavy-Metal, estava nesse bojo de conselheiros, nesse sentido. Tanto que o diagramador oficial da revista, um rapaz chamado, Paulo Caciji, foi quem diagramou o encarte que enviei-lhe em português, mas que recebeu tradução.
Crítica construtiva, achava e ainda acho que a tipologia das letras é pequena em demasia. Sei que foi uma necessidade geométrica da diagramação para poder ser absorvida sem cortes e de fato, tem muita informação ali, mas é uma dificuldade para ler, mesmo para quem não necessita de óculos.
Sobre a
capa, como eu já mencionei, fora uma oportunidade gerada pelo publicitário e marqueteiro
da produtora, Studio V, chamado, Arnaldo Trindade, ainda quando estávamos
envolvidos com tal escritório.
Recuperado o contato direto com o desenhista que fizera o esboço dessa ideia bruta, Beto encomendou o lay-out. Esse rapaz chamava-se, Marcos Monteiro, e o seu atelier instalado em uma galeria localizada na Rua Augusta, era conhecido como: "MM Diagonal".
Quando vimos o esboço, ainda no casarão do Studio V, havíamos achado a ideia criativa, e que consistia de uma casca de ovo quebrada e em seu interior, clara e gema, espalhadas, com uma enigmática chave prateada e estilizada com formato antigo, junto, a insinuar que estaria dentro do tal ovo.
Para ir além, um facho de luz translúcido em diagonal, mostra-se emitido da chave, supostamente direcionado ao ponto infinito. Também observava-se a gema do ovo a insinuar as vezes de um Sol, e a clara, para dar a entender tratar-se de uma galáxia formada em seu entorno, com tudo sob um fundo preto, a sugerir o espaço sideral.
Ora, não ocorreu-nos na ocasião, que isso pudesse ser interpretado por outras pessoas como um desenho de mau gosto. Foi certamente estranho aos padrões das estéticas oitentistas em geral, disso não tínhamos dúvida, mas por isso mesmo, se provara como original, por fugir da obviedade em voga.
Ao pensar em padronizações oitentistas típicas, se fosse um disco de uma banda punk, teria que mostrar-se agressivo e ultrajante. Se fosse Pós-Punk, tinha que ter elementos existencialistas, ser depressivo, blasé, niilista e bastante arrogante, ao representar um artista do mundo do Heavy-Metal, tinha que conter morbidez, escatologia e conotação anti-cristã, e finalmente, se seguisse o Hard-Rock oitentista, deveria conter muitas mulheres sensuais e seminuas, insinuações de bebedeiras & orgias perpetradas pelos componentes da banda, estigmatizados como ébrios cafajestes e machistas contumazes.
Então,
essa capa apresentada como um esboço inicial não teve nenhuma conexão com algum signo que eu citei acima e típico de estéticas oitentistas.
De minha parte, o achei a conter signos esotéricos interessantes sobre a formação do universo, a chave como elemento místico a dar respostas nesse sentido metafísico, tal como o estranho objeto monolítico que ilustra várias fotos do LP "Presence", do Led Zeppelin. O ovo como alegoria da mônada cósmica, enfim, a se configurar como algo muito simbólico e mais a parecer uma capa de banda de Rock Progressivo setentista, portanto, de meu inteiro agrado por conter tais elementos perdidos no tempo e no espaço (perigo...perigo...).
Então,
quando o Beto resgatou esse artista e a sua ideia, eu apreciei o fato de que
esse disco teria uma capa plena de simbologias místicas, a evocar
a cosmogênese, ao menos em tese.
Sobre o
lançamento oficial desse álbum, estávamos longe das situações anteriores em que a banda
vivera dias sob franca expansão na carreira e extremamente unida entre os seus
membros, quando planejava-se shows de lançamento com incrementos cênicos, uso
& abuso de textos sofisticados criados pelo poeta, Julio Revoredo etc.
Mas houve
uma perspectiva para a realização de um show para dezembro, que serviria para tal finalidade,
apesar de ser uma data compartilhada com outra banda, e sobretudo, pelo
fato da nossa banda estar a enfrentar dias difíceis com perdas irreparáveis e
clima interno, muito pesado.
Foi no dia 8 de dezembro de 1987, que A Chave do Sol fez efetivamente o seu último show e desfigurada em sua formação, pois não tínhamos mais a presença de José Luiz Dinola a comandar as baquetas da banda. Com Ivan Busic mais uma vez a atuar gentilmente como convidado, tivemos na verdade mais um convidado de última hora, na figura do tecladista super técnico e eclético, Fábio Ribeiro.
Fábio Ribeiro em foto bem mais atual
Foto promocional do "Azul Limão", nos anos oitenta
Bem, o show do "Azul Limão" aconteceu antes do nosso e um fato desagradável ocorreu, não por nossa culpa, absolutamente, mas que envergonhou-nos perante os nossos amigos. Eles ainda estavam na metade de seu show, quando bairristas na plateia, começaram a hostilizá-los por conta deles serem do Rio, e isso reforçara-se a cada vez que o seu vocalista falava com o público entre as músicas e o seu forte sotaque carioca, mostrava-se proeminente.
Isso por si só, já fora constrangedor e deselegante ao extremo, mas tudo piorou quando alguém insuflou a massa para iniciar um coro para pedir pela presença d'A Chave do Sol no palco.
Claro que não tivemos culpa alguma em um episódio que fugira ao nosso controle, mas de forma indireta chateamo-nos, pois no camarim o Marco estava muito contrariado com a recepção da plateia. Bem, isentos de culpa direta pelo triste episódio, mas ao tentarmos fazer alguma coisa para atenuar, o Beto e eu falamos alguma coisa no microfone, não a atacar a reação da plateia diretamente, mas ao enaltecermos o Azul Limão como uma banda ativa do Rock brasileiro daquela cena oitentista e a deixarmos claro que os seus componentes eram nossos amigos pessoais. Se a carapuça serviu para os idiotas que os hostilizaram, gratuitamente, ótimo.
Na percepção dos fãs, fora um alento, mas na prática, esse foi o último show da carreira d'A Chave do Sol, pelo menos em sua história oficial e sob os parâmetros de seu próprio classicismo construído sob sangue, suor e lágrimas!
Tal sugestão viera da parte do Antonio D. Pirani, o diretor presidente da Revista "Rock Brigade", que emprestara o seu selo para lançarmos o álbum e ele era muito amigo de Walcyr, portanto, intermediaria esse contato da banda, com o citado lojista.
Fachada da loja Woodstock, ao final dos anos oitenta
Bem, a despeito de sua falta de entusiasmo pela promoção, eis que aceitou realizá-la nas dependências de seu estabelecimento. O nosso desafio então seria divulgar o evento, pois mais do que evitar o constrangimento de um eventual baixo comparecimento e gerar assim um anticlímax para o próprio LP e para a imagem da banda, nós precisávamos muito dessa exposição midiática e que isso revertesse em vendas concretas do disco.
Disparar a mala postal do fã-clube foi a providência mais natural, mas um dado a ser considerado nessa equação, fora o de que o nosso cadastro de associados não era dirigido apenas à cidade de São Paulo, portanto, o comparecimento físico das pessoas, estava condicionado e limitado aos fãs paulistanos e no máximo aos moradores de cidades vizinhas da região da Grande São Paulo.
Claro que ele aceitou ajudar-nos e mesmo ao deixar claro que por questões éticas não poderia assinar abertamente a assessoria de imprensa que faria específica para o evento, deu-nos uma grande apoio nesse sentido, e de fato, nós conseguimos um resultado extra, que ajudou-nos a transformar o evento, em um grande sucesso.
Realizamos um programa de rádio, também, para reforçar essa divulgação. Então, no dia 10 de dezembro, eu e Rubens fomos ao "Reynação", programa do jornalista, Leopoldo Rey, na 97 FM de Santo André-SP.
Bem, com matérias de jornais a comentarem sobre a tarde de autógrafos, acrescida da mala postal disparada aos fãs registrados, nós conseguimos um público significativo.
Fotos da da internet a mostrar a aglomeração "headbanger", e típica dos sábados, na porta da loja Woodstock nos anos oitenta, e que invadia o mini boulevard que dá acesso a uma das saídas da estação Anhangabaú, do metrô
Com essa mudança de endereço e a aproveitar-se da rampa de acesso à estação do Metrô, com uma arquitetura que lembrava a de uma praça, tal micro boulevard favorecia a aglomeração de pessoas em frente à loja, que então, muito beneficiou-se desse arranjo urbanístico e assim tornou-se tradição que a loja promovesse um ponto de encontro aos sábados, ao reunir ali na sua porta e na rampa do metrô, um contingente que chegou em momentos de pico de presença, na marca dos centenas de jovens reunidos, que ali permaneciam por horas e mesmo que em sua maioria não fizessem grandes compras na loja, invariavelmente o estabeleciam vez por outra e a sua simples presença como turba ali presente, chamava a atenção para um outro tipo de público que consumia discos e por isso, colaborava subliminarmente com a loja.
Walcyr Chalas, em foto bem mais atual na sua loja, que permanece no mesmo endereço, até os dias atuais (2016)
Walcyr não tripudiou sobre a nossa incômoda situação, mas ficou a relembrar que avisara-nos que o constrangimento seria grande etc.
Então, quando o relógio mostrou 14:30 horas mais ou menos, a fila de pessoas para solicitar-nos dedicatórias em discos, esteve enorme. O próprio Walcyr, já havia mudado o discurso e não escondia de ninguém que a ação revelara-se um sucesso e que doravante a sua loja faria outras tardes de autógrafos com outros artistas e de fato, foi o que ocorreu, mesmo, com muitas bandas a empreenderem esse tipo de ação de divulgação, ali na porta da Woodstock, nos anos seguintes.
Outro fator que ele comemorou foi por ter atraído pelo menos 90% desse contingente que adquiriu cópias de nossos discos, como pessoas de fora de sua clientela padrão. De fato, a loja tinha boas opções de Rock clássico em suas prateleiras, mas o seu carro chefe era o Heavy-Metal oitentista em voga, portanto, ao proporcionarmos-lhe a chance para atrair pessoas que não necessariamente conheciam a sua loja, isso fora um acréscimo para o seu estabelecimento e ao ir além, muitas pessoas sucumbiram ao impulso consumista e assim compraram outros discos além do nosso, para aproveitar a ocasião, bem naquele efeito gerado pela tentação oriunda das promoções típicas de gôndola de supermercado. No dia seguinte, nós repercutimos esse sucesso estrondoso da tarde de autógrafos, no programa: "Comando Metal", da 89 FM, e conduzido pelo próprio, Walcyr.
Bem, acredito que esse tenha sido o último suspiro de vida e alegria proporcionado pela A Chave do Sol. Lastimavelmente, alguns dias depois, sob uma reunião realizada na residência do Rubens, onde tudo começara em 1982, uma bomba atômica seria deflagrada e nos estertores de 1987, a banda chegaria ao seu final, muito melancólico.
E em terceiro lugar, por que a dívida que contraíramos para produzir o novo disco foi muito alta e a única forma para saná-la, seria no sentido de vendemos muitos discos e para tal, a banda precisava voltar rápido à sua rotina de shows e realizar muita ação na mídia, sobretudo.
Estava acertado que não poderíamos contar mais com Ivan Busic, nesse esforço pós-lançamento do disco. Ele deixara claro isso desde o início, quando aceitou gravar o nosso disco, pois este estava envolvido com a criação de uma nova banda chamada: "Slogan", com o seu irmão, Andria, e outros componentes.
Ao ver o impasse hoje em dia, tenho certeza de que mais do que aborrecer-se com as iniciativas do Beto, Rubens estava magoado comigo, ao interpretar o meu apoio ao Beto como uma demonstração de traição de minha parte, como se eu desejasse que ele fosse eliminado da banda, para a entrada de um outro guitarrista.
Não, absolutamente, não foi isso o que eu desejei. Aliás, eu nem interpretara os fatos sob tal viés, jamais, tanto que choquei-me quando ouvi essa narrativa da sua parte. Eu nunca achei que o Beto estivesse a articular um motim para derrubar o Rubens de sua própria banda e sabia que tais tentativas de talvez cogitar um quinto membro, tiveram uma outra intenção.
Portanto, o frágil bote d'A Chave do Sol lutou contra o mar revolto, em meio a uma terrível tormenta e só contara agora com dois remadores desesperados em não deixá-lo naufragar.
Se fosse para romper, o ideal, teria sido encerrarmos as atividades da banda de comum acordo, de uma forma amigável e com cada um a partir para outros projetos, sem brigas, mágoas e ressentimentos.
Portanto, não tivemos uma outra alternativa a não ser criar uma banda dissidente e que mesmo sendo outra banda em essência, alimentasse-se subliminarmente do legado d'A Chave do Sol, para não confundir a cabeça dos fãs, e dessa forma, para continuar a trabalhar ao máximo, no sentido de estarmos de novo sob evidência na mídia. Além de vender discos desesperadamente, para levantar fundos e pagar as dívidas.
Como fiquei contente em vê-lo a buscar um recomeço e o clima de amizade entre nós, restabelecido amplamente. Nessa casa noturna eu vi a sua mãe, a irmã mais velha, seu filho e muitos sobrinhos seus que eu nem conhecia e senti-me imensamente feliz por estar junto a eles, como se estivéssemos naquela noite de 25 de setembro de 1982, a vivenciarmos o primeiro show d'A Chave do Sol, no Café Teatro Deixa Falar.
Esse começo do fim iniciou-se no limiar de 1987, ou até um pouco antes, ao final de 1986, quando desapontamo-nos com a inoperância do escritório denominado, Studio V.
A sua saída da banda, ao alegar estar a abandonar a música, foi um duro golpe para nós. Beto por sua vez sempre foi pragmático. A sua reação não foi a de choramingar pelas perdas, pelos cantos, mas ao sair à rua e tentar achar soluções práticas.
Mas no momento decisivo, com o Rubens a interpretar tudo da pior forma possível, o racha definitivo foi inevitável. Apesar desse desfecho triste, hoje em dia, eu considero a carreira d'A Chave do Sol, como vitoriosa ao extremo. Conseguimos muitas coisas e eu orgulho-me muito em ter feito parte dessa história.
Os próximos parágrafos falam sobre a repercussão do LP "The Key", inclusive a avançar sobre o ano de 1988, quando A Chave do Sol simplesmente não existia mais. Depois, farei a última análise a seguir e também comentarei sobre as tentativas de volta que a banda teve ao longo dos anos posteriores.
Ao tratar-se da "Folha de São Paulo", onde um certo editor desse periódico disse certa vez que a melhor banda de Rock oriunda da cidade de Liverpool, Inglaterra, fora o "Echo and the Bunnymen", ter uma resenha discreta e sem depreciação, até que foi positivo.
Essa nota publicada nesse jornal popularesco ("Notícias Populares"), que era conhecido em São Paulo, como "espreme sangue", tamanha a sua apelação para o sensacionalismo do "mundo cão", foi forjada na base da pressão. Fruto raro de um contato que fora proporcionado-nos pelo inoperante, Studio V, em 1986, eu não tive preconceito de procurar pessoalmente a redação e abordar a jornalista, Sonia Abrão. Em uma época onde a triagem nas redações de jornais mainstream ainda mostrava-se frouxa, eu fui diretamente à sua mesa e a abordei. Ela tratou-me com simpatia, mas claramente não lembrara-se de minha pessoa por conta de termos participado de seu programa de rádio em 1986, contudo, publicou a nota, ainda que a redigir uma mera reprodução do press-release oficial do LP.
Rick Aszmann, o nosso colaborador no Rio de Janeiro, colocou-nos em contato com um colunista da Revista "Amiga", uma publicação que cobria tradicionalmente o mundo da TV, sobretudo a cobertura das novelas. Mas esse rapaz tinha uma coluna de Rock e Heavy-Metal e portanto, eu não perdi a oportunidade e entreguei-lhe o nosso material em sua residência, no bairro da Lagôa, na zona sul do Rio. Uma resenha curta, mas bem positiva, saiu então.
Muito boa a matéria do jornalista do jornal, "Popular da Tarde", de São Paulo, Arnaldo Branco Filho. Só o enaltecimento que fez no primeiro parágrafo, foi notável e explica muito de nossa trajetória ter tido tantos percalços para penetrar no mundo mainstream. Dá para notar que na maior parte do tempo, ele usou o nosso press-release como base, mas soube dar a sua interpretação e a acrescentar adendos pontuais.
Foi positivo ter apoio em jornais de bairro, um tipo de imprensa de pequeno porte, mas muito eficaz ao meu ver, pois mesmo por ter pequena tiragem, geralmente contava com um público leitor, bem fiel. Neste caso da "Gazeta do Tatuapé", bairro da zona leste de São Paulo, onde eu morava na ocasião, o destaque foi bem simpático, apesar do texto ter sido a mera cópia do nosso press-release. Mas melhor isso, com um texto bem explicado sobre o disco, a jornalista incauto que escreve asneiras, ou "inimigos" comprometidos com estéticas antagônicas e que vão falar mal, sem nem ouvir o trabalho, por força do hábito.
Um outro exemplo de jornal de bairro, o "Jornal da Paulista" circulava por bairros que são cortados pela Avenida Paulista, como o Paraíso, Cerqueira César e Consolação. Foi uma nota curta e baseada no press-release, mas claro que ajudou.
Eis mais um exemplo de simplicidade franciscana, mas útil no cômputo geral, com a "Folha Metropolitana".
Do mesmo grupo editorial da Folha Metropolitana, o "Metro News" foi outro jornal distribuído gratuitamente nas estações do Metrô de São Paulo, bem cedo aos seus usuários. E neste caso, o diário apenas replicou a nota do seu coirmão.
Ah, se não tivéssemos Leopoldo Rey como amigo, jamais teríamos resenhas na Revista "Bizz", esta naturalmente comprometida com o enaltecimento e manutenção do status quo de estética vigente das correntes derivadas do Pós-Punk. Tirante a informação errônea de que os nossos discos anteriores haviam sido "totalmente instrumentais", a resenha foi bem simpática e ser comparado ao Deep Purple, uma grande honra, embora eu desconfie que ele referiu-se ao Deep Purple-pós1984, portanto kilometros distante de seus melhores dias...
Na revista "Metal", houve mais uma resenha ótima do Tony Monteiro, detalhista e sempre isento, pois mesmo por ser nosso amigo, ele nunca deixou de apontar aspectos negativos. Ainda bem, ele enxergou muito mais méritos do que deméritos no disco. Na mesma edição, em outra página, uma nota a citar-nos, sob uma análise sobre o panorama de 1987. Engraçada a afirmação quase jocosa da legenda da foto, ao conferir-nos a alcunha de "Hard-oxigenado", em uma clara alusão ao cabelo tingido do Beto.
Resenha na mesma edição n° 43, da revista Metal, sobre o nosso show no teatro Mambembe, no início de dezembro de 1987. O Tony Monteiro citou o desconforto do Azul Limão, que eu narrei em parágrafo anterior e na sua opinião seu set fora longo demais, aspecto que eu não observei na hora, mas nesse caso fez um certo sentido a animosidade do público, apesar da detestável demonstração de bairrismo que eu lembro-me que ocorreu, também.
Covardia total, mas foi Eduardo Russomano quem assinou essa resenha do LP The Key, na revista "Rock Brigade"... mas a despeito dele ser nosso amigo, roadie e ex-funcionário do fã-clube, o Edu escreveu bem e acho que não transpareceu ao leitor comum, que talvez não fosse muito correto ele ter escrito, por questões éticas comprometidas pelo conflito de interesses, evidente.
Uma opinião forte da jornalista, Amanda Desireé, na revista "Roll", ao dar conta de que o preconceito contra bandas do mundo pesado mostrava-se grande na mídia mainstream e ao mesmo tempo, ao isentar-nos desse espectro, deixou claro que o nosso negócio era bem mais ameno...
Eu e Beto concedemos essa entrevista para o jornalista Tony Monteiro, que foi publicada na revista "Metal", n° 43. O tom de desilusão e medo pelo futuro sombrio foi terrível e refletiu o que passávamos nessa época, que precedera o lançamento do disco e assim, quando a matéria foi publicada, os nossos piores temores já haviam confirmado-se, infelizmente...
Uma entrevista conduzida pelo Eduardo Russomano para a revista "Rock Brigade". Bem, quando iniciou a falar da Sonia e o Studio V, o Edu sabia de cátedra o quanto aquela associação fora prejudicial para nós.
Nota em um fanzine do México, chamado: "Heavy-Metal Subterraneo", em que o Eduardo de Souza Bonadia, da Rock Brigade, foi correspondente, no Brasil.
Essa matéria não tem assinatura, mas acredito ter sido escrita pelo jornalista, Sérgio Martorelli, para a revista "Roll". Ela é boa em linhas gerais, mas comenta sobre alguns pontos negativos do novo trabalho que lançáramos, principalmente no quesito das letras. Bem, nesse caso, receio que ele teve razão em criticar, pois o excesso de romantismo que o Beto imprimiu nas suas criações, foi realmente um ponto negativo.
Uma resenha muito boa no jornal alternativo, "Contracorrente", assinada pelo Tony Zimmermann, que fora o pseudônimo de um jornalista famoso que eu conhecia bem, mas em respeito ao fato de que o uso de um pseudônimo denota o desejo de se manter oculto, oficialmente, claro que não revelarei quem ele era, de fato.
Continua...
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