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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 5 - Seja Feliz! - Por Luiz Domingues

Após a participação no programa: "Brazucas do Rock" e um show no Santa Sede Rock Bar, no mês de abril de 2016, nos reunimos novamente em maio, para apresentações ao vivo, mas além disso, já havia uma predisposição para a gravação de um novo álbum para aumentar a discografia d'Os Kurandeiros, e desta feita, seria a minha primeira participação em um disco oficial dessa banda, a excetuar-se a gravação e lançamento de um single em 2012 ("Sliding in the Stratosphere"), de forma virtual, através de um promo especialmente realizado para o YouTube. 

Portanto, claro que animei-me com tal perspectiva para enfim deixar uma marca eterna na discografia dessa banda por onde eu atuava desde 2011, e também, acrescentar mais um título para a minha discografia geral e pessoal.

Outra novidade boa foi o incremento do merchandising da banda, a lançar diversos produtos e claro que a conter como carro chefe, as camisetas "T Shirt", um clássico nesse tipo de comércio alinhado às bandas de Rock em geral, há décadas.
E como os consumidores/fãs do trabalho gostam dos produtos, sobretudo as camisetas... posso atestar tal sucesso desse tipo de recurso mercadológico.

Nesses ínterim, o próximo show ocorreu na "Casa Amarela", da cidade de Osasco-SP, um espaço onde já havíamos apresentado-nos muitas vezes, desde 2014. Com um público razoável, fizemos o nosso show e nessa época, apesar de minha recuperação da terceira cirurgia pela qual havia submetido-me, estar sendo muitíssimo mais branda, em relação à recuperação das duas primeiras cirurgias que fiz em 2015, digo que em maio de 2016, ainda era bem recente a intervenção e portanto, havia um incômodo, e sobretudo o impedimento para carregar peso. 

Diante de tal prerrogativa, executar sets longos no palco, a segurar o baixo, tocar e fazer uma performance, ainda que muito discreta, não era recomendável e digo com pesar, que essa condição perdurou durante muitos meses a posteriori.

Carlinhos Machado ao fundo e eu (Luiz Domingues), à direita. Click, acervo e cortesia: Jani Santana Morales. Os Kurandeiros na Casa Amarela de Osasco-SP, em 7 de maio de 2016

Apesar dos incômodos, claro que estava contente em atuar ao vivo com a banda, ter o convívio com os colegas e receber amigos e fãs. E por falar em amigos, recordo-me que tivemos o prazer da presença do ótimo guitarrista, Jessé "Blindog", um Rocker autêntico e extremamente gentil, típico colega daqueles que, reconforta-nos saber que engrossam as nossas fileiras, nas trincheiras em torno de nossos ideais.
Os Kurandeiros em ação, na Casa Amarela de Osasco, em 7 de maio de 2016. Click, acervo e cortesia: Jani Santana Morales (foto 1). Click, acervo e cortesia: Maurício Marcondes (foto 2)

O próximo compromisso ocorreria na Feira da Pompeia, ainda no mês de maio de 2016, e desta feita, com a banda reforçada pelos seus membros sazonais (e sempre bem-vindos), e com tudo a revelar-se muito agradável na fria tarde de outono paulistana, todavia, quente no palco...
Da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, Kim Kehl, Jessé "Blindog", eu (Luiz Domingues) e o proprietário da "Casa Amarela" de Osasco-SP, o popular "Cabelo". 7 de maio de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A próxima atividade d'Os Kurandeiros estava marcada ainda para maio de 2016. A participação na tradicional Feira da Vila Pompeia, que nesse ano celebraria a sua 29ª edição, não era nenhuma novidade para a banda. 

Pelo contrário, na história d'Os Kurandeiros, somavam-se diversas participações e no que concerne-me diretamente, participei na edição de 2013, como componente, mas também já havia tocado com outros trabalhos anteriores na minha carreira, no caso com a Patrulha do Espaço em 2001, e com o Pedra em 2006 & 2008.

A experiência com Os Kurandeiros, em 2013, não havia sido boa, no entanto, conforme já relatei em capítulo anterior, ao acompanhar a cronologia dos fatos. Por vários desmandos da parte da produção, havia perpetrado situações à nossa revelia, como por exemplo a inclusão súbita de um grupo folclórico oriundo da Turquia, a gastar o tempo da nossa apresentação, além do equipamento ruim e sobretudo a sua operação, por ter sido um desastre nesse dia. 

Dessa forma, quando o Kim comunicou-me que desta feita estávamos escalados para o "Palco Rock", sabia de antemão que as condições seriam melhores, incluso a presença de uma multidão na audiência, uma tradição nesse palco da Feira, mas por outro lado, temi pela inevitável sessão de maus tratos da parte de técnicos e produtores estressados, também uma constante nesse específico palco.

Uma panorâmica do "Palco Rock" da tradicional Feira da Vila Pompeia em São Paulo, com Os Kurandeiros em ação, no dia 15 de maio de 2016. Da esquerda para a direita: Nelson Ferraresso aos teclados, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl, Carlinhos Machado na bateria (encoberto), Renata "Tata" Martinelli e Phil Rendeiro. Foto: Toni Estrella 

Contudo, meus temores recônditos não confirmaram-se, pois tudo deu certo nesse show. Organização e pontualidade respeitadas; som com boa qualidade de PA e backline, e também bem operado pelos técnicos terceirizados pela Feira; compartilhamento com bandas amigas e significativas da cena Rock paulistana em voga (o bom "8080", dos amigos Chico e Claudio, tocou antes de nós e de forma super agradável, diga-se de passagem.
Flagrantes d'Os Kurandeiros na Feira da Pompeia em 15 de maio de 2016. Primeira foto: O trio "núcleo duro" da banda: eu (Luiz Domingues), Kim Kehl & Carlinhos Machado. Click, acervo e cortesia: Carlota Carlotinha. Segunda foto: Carlinhos Machado & Renata "Tata" Martinelli. Click, acervo e cortesia: Julio Cesar Andrade. Terceira foto: Kim Kehl em destaque. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida

Mais que uma junção feliz da banda com o equipamento bom e sendo bem operado, o fato da banda atuar como sexteto, a contar com os membros honorários e sazonais, evidentemente "encorpou" o som, sobremaneira. Phil Rendeiro é um bom guitarrista, e que tem o repertório base d'Os Kurandeiros na ponta da língua, portanto, quando ele toca, a base harmônica fica toda sedimentada para o Kim apenas preocupar-se em solar, além dele, Phil, cumprir um backing vocals, igualmente competente. 

O competente guitarrista, Phil Rendeiro, em ação com Os Kurandeiros. Feira da Vila Pompeia, 15 de maio de 2017. Click, acervo e cortesia: Juja Kehl

Sobre o Nelson Ferraresso, já falei várias vezes o quanto admiro-o pela sua categoria e bom gosto, como tecladista. Além de ser um sujeito excepcional, é sempre um enorme prazer quando ele toca conosco e infelizmente isso é raro, dada a vida atribulada que tem como empresário, isso sem contar que sua empresa além de ser dinâmica no mercado, tem como campo de atuação, uma agenda nobre, pois fabrica artefatos de apoio para a sustentação de crianças com dificuldades motoras e/ou paralisia cerebral, portanto, graças aos seus esforços, muitas crianças tem a chance de melhorar a condição de vida, o que eu acho magnífico enquanto ação de alta cidadania consciente. 

Como músico, Nelson é extremamente competente e tem tantas participações como músico convidado em discos de diversos artistas de várias vertentes do Rock; Blues; Pop & Reggae, que seu currículo impressiona, mediante uma discografia gigantesca.

O fantástico, Nelson Ferraresso, tecladista da pesada, Ser humano excepcional e empresário do bem. Click, acervo e cortesia: Juja Kehl. Feira da Vila Pompéia em 15 de maio de 2016, com Os Kurandeiros

E com a voz da incrível, Renata "Tata" Martinelli, tudo fica mais intenso, sempre. Dona de uma voz potente e muito afinada, além de seu carisma e presença de palco, isso por si só já bastaria, mas a "Tata" é também uma amiga daquelas, cujo convívio e prosa agradável, sempre queremos ter por perto.

Renata "Tata" Martinelli, a atuar com Os Kurandeiros, na Feira da Vila Pompeia, em 15 de maio de 2017. Click, acervo e cortesia: Juja Kehl.

Mas houve um elemento a mais nessa apresentação dos Kurandeiros, na 29ª edição da Feira da Vila Pompeia e que só tratou em coroar a jornada feliz da banda, ao tratar-se da presença de um bom público e muito melhor, a estabelecer uma sincronicidade excelente. Com o público a responder com energia, a performance foi muito agradável, sem dúvida alguma. 

Eis abaixo um especial com os melhores momentos dessa apresentação, sob uma filmagem do casal de fotógrafos e film-makers, Bolívia & Cátia:

Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=waKc9sGtA08 

Satisfeitos pela tarde Rock agradável na Vila Pompeia, a banda tinha agendado para breve, mais uma apresentação na casa de espetáculos, Santa Sede Rock Bar, mas a conversação sobre a iminência em gravar um novo disco, estava a dominar a atenção. Nessa altura, já era certo tratar-se de um "EP" com três músicas novas que o Kim havia composto e que enviou-nos por E-mail para ouvirmos e fazermos cada um, o seu arranjo pessoal.
Respectivamente: Carlinhos Machado, Kim Kehl & eu (Luiz Domingues). Os Kurandeiros na Feira da Vila Pompeia, em 15 de maio de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Juja Kehl
A predisposição da banda já estava voltada para a gravação do EP, sendo o primeiro disco de fato, com a minha participação na formação e claro que estávamos todos animados com tal perspectiva e eu, em particular pela minha expectativa pessoal em ter um registro de minha estada nesse trabalho e a somar mais uma realização na somatória da carreira inteira. 
 
Todavia, concomitantemente, a agenda da banda estava a apontar atividades e isso também foi fator de alegria. No início de junho, eu ainda tinha certos incômodos decorrentes de minha terceira cirurgia, mas estava em condições de levar uma vida quase normal, só a estar mesmo proibido em exercer esforços físicos mais pesados, mas, certo, apesar de gostar do trabalho braçal, não faria a loucura de ser carrier de um enorme backline e/ou P.A. e assim, ao contar com "With Little Help From My Friends" e inclusive a estar sob vigilância dos colegas que sabiam que eu gostava de ser útil ao máximo em tais tarefas, mas simplesmente não podia, por isso eles já prometiam não deixar-me exagerar nos meu arroubos...
Correto, pelo menos ao estar em condições de fazer as apresentações em pé e a poder até ter uma mise en scène mínima que fosse, já dava-me por satisfeito e como já falei anteriormente, depois do que passei, passei a valorizar cada segundo a mais que tenho tido e poder estar em um palco a realizar um show de Rock, já foi um verdadeiro bônus em minha existência
Palco d'Os Kurandeiros montado no Santa Sede Rock Bar, noite de 3 de junho de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Nesses termos, antes mesmo de começarmos a gravar o novo álbum d'Os Kurandeiros, voltamos à simpática casa noturna, "Santa Sede Rock Bar, um reduto Rocker e hippie, raro nos dias atuais, encravado no Tucuruvi, na zona norte de São Paulo. 
 
Foi o dia 6 de junho de 2016, e o trio primordial atuou como de costume, após o último show ter sido com a dita, "Full Band", ou seja, a contar com três membros sazonais, mas considerados fixos, em show realizado na Feira da Pompeia, conforme já relatei anteriormente. E assim foi uma noitada boa, como geralmente ocorre no estabelecimento onde tantas vezes já havíamos apresentado-nos anteriormente.
Da esquerda para a direita: Kim Kehl, Carlinhos Machado na bateria e eu (Luiz Domingues), no Santa Sede Rock Bar em 3 de junho de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Após essa apresentação, a próxima jornada da banda ocorreu em outra casa onde já havíamos tocado bastante, antes, igualmente. Tratou-se da "Casa Amarela", da cidade de Osasco-SP e nossas experiências pregressas ali sempre foram boas, portanto, fomos animados para uma noitada de Blues, Baladas e Rock'n' Roll.
O Power Trio base d'Os Kurandeiros em ação na "Casa Amarela", de Osasco-SP, em 21 de julho de 2016.  Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Sob o frio intenso, a noitada foi ótima e nessa altura dos acontecimentos, já tocávamos as três músicas novas que fariam parte do EP que começaríamos a gravar, em questão de poucos dias. Portanto, nada melhor que uma noite fria de inverno para tocar a balada ultra "seventies", "Faz Frio"...
Dois dias depois e voltamos ao Santa Sede Rock Bar, onde a noitada foi igualmente animada. Sob clima de gravação do disco, fizemos a apresentação com muita volúpia Rocker, e valeu como um último apronto para entrarmos em estúdio, a seguir.
Kim Kehl em rara foto no uso de uma guitarra, Fender Stratocaster, branca, e eu (Luiz Domingues) a usar um baixo (modelo Precision), igualmente branco, não foi proposital, mas combinou! Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar, em 23 de julho de 2016. Click, acervo e cortesia: Rogério Utrila 

Passado esse show no Santa Sede Rock Bar, finalmente chegara a hora, estávamos agendados para usar as dependências do estúdio Curumim, de São Paulo...
E tínhamos então uma data definida para iniciarmos o trabalho de produção do novo álbum: 28 de julho de 2016. O estúdio que abriu as suas portas aos Kurandeiros, fora o tradicional, "Curumim", cujo proprietário era nosso amigo de velha data, o guitarrista/cantor, poeta e compositor, Fernando Ceah, líder da boa banda autoral: "Vento Motivo".

Fernando Ceah na linha de frente, a cantar com Os Kurandeiros. Show d'Os Kurandeiros no Espaço Cultural Gambalaia de Santo André-SP, em 15 de agosto de 2014. Click, acervo e cortesia: Vanessa Anchieta
 
Encravado em um quadrante estratégico entre o centro de São Paulo, e já a apontar para os primeiros bairros da zona oeste, tais como : Santa Cecília, Higienópolis, Pacaembu, Campos Elísios, Barra Funda e Perdizes, a sua localização excelente, com estação de metrô muito próxima, fazia dele, bastante usado por artistas de diversas searas da música brasileira. 

De bandas de Rock a veteranos da velha guarda da MPB (Cauby Peixoto, Angela Maria, Nelson Gonçalves etc), o fato é que tal estúdio tinha a sua tradição. Portanto, além de tudo, pelo fato da amizade com Fernando Ceah e também pela passagem do próprio, Kim Kehl, como ex-membro do "Vento Motivo", em passado próximo, tal conjunção de fatores fez com que a ambientação do Curumim fosse muito familiar aos Kurandeiros, o que certamente contribuiria para o melhor andamento do trabalho, possível.

Show d'Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo. 23 de julho de 2016. Click; acervo e cortesia : Rogério Utrila
 
E foi o que ocorreu, com a receptividade calorosa de Ceah em seu estabelecimento e com sua própria atuação como "tape operator" na captura inicial da base que ali gravaríamos. A ideia foi realizar uma gravação otimizada, com o power trio primordial a tocar ao vivo. Sob tal predisposição, creio já ter explanado a minha opinião em capítulos anteriores (principalmente a enfocar outras bandas por onde atuei no passado), sobre o que penso dessa metodologia de gravação. Só para resumir rapidamente, não é a minha predileção. Sei que o argumento a favor versa sobre a autenticidade da volúpia ao vivo capturada por uma banda e isso é positivo, não nego, mas particularmente, prefiro a estratégia mais convencional, do "um por vez", com a bateria a ser gravada inicialmente, aí sim com suporte de guia ao vivo, mas todos os demais instrumentos a posteriori, com a bateria oficial gravada, e a guia a servir como base, sendo substituída por cada novo instrumento gravado oficialmente.

Show d'Os Kurandeiros na Casa Amarela de Osasco-SP.  7 de maio de 2016. Click, acervo e cortesia: Maurício Marcondes Santos 
 
Entretanto, sei que a verba que Os Kurandeiros dispunham era modesta e claro, gravar a base ao mesmo tempo tornou-se premente, e não seria a primeira vez que eu gravaria um disco sob tais circunstâncias. 

Outro aspecto, se por um lado era temerário para uma banda que não costumava ensaiar, usar tal prerrogativa de gravação, por outro lado, sendo uma banda com constante atuação ao vivo e mais do que acostumada a interagir e improvisar sem receios, não havia nada a temer, por conseguinte...

Não deu outra, passado o rápido preâmbulo de captura dos timbres primordiais de cada instrumentista, Kim, Carlinhos e eu (Luiz), colocamo-nos a disposição de Fernando Ceah para o início dos trabalhos. Um ponto que poderia desestabilizar-nos, seria a falta de comunicação visual melhor com o Carlinhos Machado, devido ao fato da sala por ele usada estar longe visualmente da técnica e tal contato apenas ser possível em ser estabelecido, mediante a imagem do baterista por um monitor de TV. 

Mas nem esse fator limitante foi capaz de atrapalhar a nossa performance, pois na realidade, gravamos as três canções com poucas tomadas, de tão seguro que foi. Portanto, bateria, baixo, bases de guitarra e até alguns solos e contra solos, foram gravados nessa tarde, sob uma rapidez que surpreendeu a todos. 

Esperávamos uma gravação tranquila, mas o resultado final mostrou-nos algo além de nossas mais otimistas previsões, pois chegáramos ao estúdio por volta das quinze horas, e passara um pouco das dezenove horas, quando eu já estava no trânsito, a caminho da minha residência. 

Foto a capturar o final dos trabalhos no estúdio Curumim, de São Paulo, na sessão inicial de gravação da base com as três canções do EP Seja Feliz. Da esquerda para a direita, na sala da técnica: Carlinhos Machado, Fernando Ceah, Kim Kehl e eu (Luiz Domingues). 28 de julho de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap
 
Gravamos três canções compostas pelo Kim, com estilos e intenções diferentes, uma das outras. A primeira, "A Noite Inteira", foi uma canção fortemente influenciada pelo Blues Rock, com elementos Glitter, bem ao sabor setentista. É como se o "Humble Pie" soasse como o "Mott the Hoople" (ou vice-versa), para que o leitor familiarizado com sonoridades daquela década possa identificar. 

A segunda, "Faz Frio" tem forte inspiração no Pop sessenta / setentista. A olho nu (ouvido, na verdade...), parece uma canção sessentista do Burt Bacharach, mas no desenvolvimento do arranjo e entrada dos teclados de Nelson Ferraresso, a canção tratou por ganhar uma outra dimensão, a parecer-se muito com as baladas setentistas dos discos dos Rolling Stones nessa década, notadamente no final da "Era Mick Taylor" e início da "Era Ron Wood". 

E a terceira canção, não há dúvida, o Kim quis trazer a atmosfera do Acid-Rock sessentista de Jimi Hendrix, com brutal carga de Blues-Rock pesado, a tratar-se de: "Filho do Vodu". Esmiuçarei mais as canções em capítulo próximo, quando abordar o lançamento do disco em si.

Eis a primeira peça publicitária oficial, a dar conta do começo dos trabalhos, e a conter cenas da gravação da base das três canções do EP, capturadas em 28 de julho de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=KkvDb6b8ik8

Segundo vídeo promocional lançado pelos Kurandeiros desta feita ao fazer uma rápida inspeção no estúdio Curumim, durante a sessão de teclados do Nelson Ferraresso, e a mostrá-lo a gravar a canção: "Faz Frio". Agosto de 2016
 
Eis o Link para assistir no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=vGiXPblJsYA

No terceiro vídeo, em nova abordagem dos bastidores da produção do EP Seja Feliz d'Os Kurandeiros, um apanhado, ainda que bem curto, sobre a sessão da vocalista, Renata "Tata" Martinelli, a gravar a sua bela voz em: "A Noite Inteira". Agosto de 2016
 
Eis o Link para assistir no You Tube: 

https://www.youtube.com/watch?v=Fk9u4AxwCqU 

Quarto vídeo a mostrar a gravação do álbum "Seja Feliz", dos Kurandeiros em 2016. Desta feira, a cobertura da gravação do músico convidado, o excelente percussionista, Marco Soledade "Pepito", ao colocar muito swing na faixa: "Filho do Vodu". Agosto de 2016
 
Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=7XHpsGi6SaU

A hora e a vez do Kurandeiro-Mor colocar sua voz em "O Filho do Vodu". Clima de Acid/Blues-Rock e magia de New Orleans no ar, com Kim Kehl a trazer o batuque do Kurandeiro... Agosto de 2016

Um vídeo a estabelecer um resumo dos trabalhos desde a gravação da base, até a voz. Setembro de 2016
 
Eis o Link para assistir no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=pDKXA9F8mYE

Ao final de setembro de 2016, já a mostrar cenas das sessões de mixagem, com o produtor, Carlos Perren, que inclusive também gravou uma surpreendente e agradável intervenção de um instrumento de sopro, no caso, uma trompa, que deu o "toque Burt Bacharach", na canção, "Faz Frio"...
 
Eis o Link para assistir no Tou Tube : https://www.youtube.com/watch?v=68eQ7JaQYWM


Com o disco pronto no estúdio, o anúncio de que em breve estaria disponível para venda. Outubro de 2016
 
Eis o Link para assistir no You Tube: 

https://www.youtube.com/watch?v=r_imQ7256xI
 
E assim foi, com muita eficácia e alegria que consumou-se como uma produção simples, mas que no cômputo geral, revelou-se bastante interessante e ouso dizer, sofisticada, pelo ponto de vista artístico, por inúmeros aspectos. Primeiro pela versatilidade das canções, a mostrar algumas das múltiplas facetas que Os Kurandeiros apresentavam normalmente em seus shows pela noite, ao transitar por muitos estilos e escolas do Blues; Black Music em geral e Rock, principalmente, mas com cada item desses troncos citados, a representar ainda mais possibilidades em desdobramentos incalculáveis. Segundo, pela riqueza que cada instrumentista, incluso os convidados, trouxe para cada canção. Terceiro pela qualidade do áudio e proposta com timbres vintage e quarto, sendo uma banda extremamente objetiva no estúdio, ao não ofertar margem a postergações intermináveis e mesmo assim, a mostrar qualidade no produto final.

Três fotos capturadas nas sessões de mixagem: Kim Kehl na companhia do produtor musical, Carlos Perren, que mixou o álbum e atuou como músico convidado a tocar Trompa em: "Faz Frio". Outubro de 2016. Fotos de Lara Pap 
 
Sobre o disco em si, e a análise das faixas e produção em geral, falo adiante, com maior apuro.

Produção do disco em estúdio, encerrada, no tocante a parte visual / gráfica, seguiu-se o mesmo padrão de extrema praticidade, com uma capa sóbria, porém bela, a ostentar um vistoso logotipo em tons avermelhados, criada pelo grande ilustrador / desenhista e design gráfico, Johnny Adriani. 

Tal artista já havia feito essa ilustração, tempos antes, portanto o Kim só resgatou uma arte que já dispunha e estava arquivada, ao aguardar oportunidade em ser aproveitada. E a hora de utilizá-la chegou enfim, e posso afirmar sem dúvida alguma que encaixou-se como uma luva ao espírito desse novo álbum d'Os Kurandeiros. 

Eu já havia tido trabalhos meus ilustrados pelo Johnny Adriani, antes, inclusive capa de disco, no caso, o CD "Chronophagia", da Patrulha do Espaço, lançado no ano 2000. E agora mais uma vez teria o prazer de ter uma bela obra assinada por esse incrível ilustrador. 

Sobre a contracapa, uma foto da banda ao vivo, capturada em maio de 2016, na Feira da Vila Pompeia, mostra a formação com o Power Trio base, reforçado por seus membros honorários, Nelson Ferraresso, Renata "Tata" Martinelli e Phil Rendeiro. Veio a calhar, pois todos, com exceção do Phil, participaram da gravação do disco.  
EP Seja Feliz - Os Kurandeiros  
Gravado no Estúdio Curumim de São Paulo-SP/24 canais/Gravação Digital - entre julho e agosto de 2016  
Técnico de Som e Produtor de estúdio: Fernando Ceah   
Mixado e masterizado no estúdio Foka de São Paulo SP - entre setembro e outubro de 2016  
Técnico de Mixagem, masterização e produção de estúdio: Carlos Perren  
Capa: arte e criação de Johnny Adriani  
Foto: Juja Kehl
Arte final de capa & contracapa: Kim Kehl  
Assistência: Lara Pap  
Produção geral: Kim Kehl

Faixas :  
1) A Noite Inteira (Kim Kehl)  
2) Faz Frio (Kim Kehl)  
3) O Filho do Vodu (Kim Kehl)
 
Formação da banda nesse álbum :  
Kim Kehl : Guitarra, Voz e Violões  
Carlinhos Machado : Bateria
Luiz Domingues: Baixo
Nelson Ferraresso: Teclados  
Renata "Tata" Martinelli: Voz
 
Músicos convidados:  
Marcos Soledade "Pepito": Percussão nas três faixas  
Carlos Perren: Trompa em "Faz Frio"
 
"A Noite Inteira" (Kim Kehl)


Eis o Link para escutar no You Tube: 
https://www.youtube.com/watch?v=P0R6P6KAuqo
 
Essa música, conforme já citei anteriormente, tem uma junção de estilos setentistas do Rock, bem marcantes. Trata-se de uma feliz transição entre o Blues Rock, com certa identidade Hard-Rock, porém com muito do Glitter Rock britânico daquela década. 
 
Começa com um riff clássico de Rock'n' Roll, que lembra bastante o trabalho de bandas como o "Humble Pie", fortemente influenciada pelo Blues. Mas o elemento Glitter logo pronuncia-se, com diversos signos, entre os quais o uso e abuso de backing vocals ao fazer o clássico "Uh Uh", que força com que a sonoridade fique absolutamente festiva, ao sabor de bandas dessa escola "Glam", como: "T.Rex", "Mott the Hoople", "Silverhead" e "Glitter Band", entre outras. 
 
Gosto muito da voz da Renata "Tata" Martinelli, que canta com uma voz rasgada, tanto na voz solo, quanto em contra vozes, onde impressiona pela afinação e alcance agudo. Suas intervenções lembram-me a Silvinha, que cantava muito, por sinal.

O solo de guitarra do Kim é melódico e lembra muito o som do Mick Ronson, tanto nas resoluções, quanto no timbre. 
 
Nelson toca piano, a pontuar com intervenções bem Rock'n Roll e tem também um órgão Hammond a sedimentar uma base sutil, com uso de caixa Leslie, sempre bem vinda. 
 
A bateria toca reta, como nos discos do "Status Quo", e eu gosto dessa firmeza na condução e dos timbres, incluso o bumbo grave e a quase completa ausência de reverber nela, o que é uma dádiva na minha percepção. Gosto do som abafado, ao estilo do áudio dos anos setenta. 
 
A percussão do Marcos Soledade "Pepito" é bastante criativa, com o uso de diversos instrumentos ao longo da canção, mas a predominar o som das congas na parte final, a conferir-lhe um balanço incrível. Mas dá para ouvir a pandeirola, guiro, cowbell e timbales. Todavia, tudo muito bem distribuído, com critério e bom gosto.

Sobre o baixo, usei Fender Precision e ele soa mais comedido que o normal. Não é o registro mais agressivo, com estalo metálico que eu mais uso, mas ele ronca em alguns trechos da canção, não resta dúvida.

A respeito da opção do Kim Kehl em gravar o vocal solo em duo com a Tata, creio que a explicação é simples. O fato dela não estar em todos os shows, talvez condenasse a canção ao engavetamento, com execuções sazonais, só quando ela participasse das apresentações dos Kurandeiros, mas com a voz do Kim registrada igualmente, a canção é peça permanente do repertório dos shows desde o seu lançamento e posso atestar, faz sucesso.  
 
E finalmente sobre a letra, trata-se de uma opção festiva. Pode não ter pretensões intelectuais, mas cumpre o seu papel ao encaixar-se como uma luva na sonoridade da canção. A temática é simples, a falar de aproveitar-se o embalo de uma festa etc. e tal. 
 
Nada diferente do que todo mundo que escute os Rolling Stones ou Faces a cantar em inglês em suas canções e aprove o seu teor, ao não entender a língua estrangeira, falemos objetivamente...
 
"Faz Frio"  (Kim Kehl)
Eis o Link para escutar no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=sc4r0cQZHXU
 
Essa canção é uma balada clássica, com forte identidade sessentista em sua essência, a lembrar muito o estilo pop e sofisticado de Burt Bacharach, mas ao longo do arranjo que incorporou-se através dos diversos instrumentistas convidados, ganhou outras nuances, igualmente instigantes ao meu ver, e enriqueceu-se sobremaneira. A inclusão da trompa, um instrumento de sopro sinfônico e não muito usual em gravações de música Pop em geral, reforçou a ideia da influência de Burt Bacharach. 
 
Muito mais comum, se fosse uma canção do Burt, teria sido a inclusão de trompete, um tipo de instrumento de sopro muito usado nas suas canções da década de 1960, mas a simples inclusão da trompa ao fazer uma linha melódica doce, cumpriu a mesma função e deu esse ar sofisticado, como se a canção fosse trilha de um filme daquela década. É ouvir esse começo e imaginar Audrey Hepburn com uma xícara de chá quente, a olhar pela janela de seu apartamento em Queens, lá em Nova York, e fitar assim, a rua sob nevasca e pessoas super agasalhadas a caminhar apressadas pela calçada. 
 
Mas quando o Nelson Ferraresso colocou os seus teclados, novas influências trouxeram um colorido diferente à canção. Com o seu piano Fender Rhodes super criativo, a música parece uma balada dos Rolling Stones, daquelas tantas, uma mais linda que a outra, dos discos da banda, nos anos setenta. O espírito de Billy Preston baixou no estúdio Curumim, graças a uma intervenção direta dos Deuses do Rock e o Nelsinho foi muito feliz em dar vazão a tanta inspiração e criatividade. Fora o piano Fender Rhodes que ficou lindo, tem intervenções de órgão Hammond e strings ultra setentistas, a lembrar trilhas de seriados policiais de TV, daquela década. 
 
Portanto, desta vez é o Kojak que espia da janela da sua delegacia, a mirar para o bairro do Bronx, e enquanto degusta o seu pirulito, pensa em como surpreender os bandidos nas ruas. Mais uma vez, o Carlinhos Machado brindou-nos com uma bateria sóbria, segura e com belos timbres. 
 
O nosso convidado, Marcos Soledade "Pepito" trouxe uma percussão contínua, com uso de caxixis a manter ritmo e no uso de pontuais intervenções com carrilhão, a produzir efeitos simples, mas bonitos. Gosto muito da base de violão batido que o Kim manteve, com timbre agudo, muito belo. E as intervenções de guitarra são excelentes, incluso o solo, onde o uso de caixa Leslie, ficou um primor, ultra setentista e extremamente doce. 
 
E na parte da voz, gosto também da melodia e da interpretação do Kim, a fazer menção a estar a sentir frio, de fato, e conferir dessa maneira, fidedignidade à proposta da temática da letra. Esta por sinal, com forte teor romântico, mas a sair ilesa do verdadeiro tobogã que é para qualquer letrista, em não escorregar na pieguice. O Kim passou com louvor nesse perigoso e escorregadio quesito.
 
Sobre o baixo, usei Fender Jazz Bass, certamente um baixo muito adequado para tocar-se qualquer canção que tenha conexão com a Black Music em geral. 
 
Ao tratar-se de uma balada com sabor R'n'B sessentista em seu âmago, nada melhor portanto que evocar os mestres James Jamerson e Donald "Duck" Dunn... e viva a Motown!
 
"O Filho do Vodu" (Kim Kehl)
Eis o Link para assistir no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=gAkLHthBIiM

Aqui, trata-se de uma canção fortemente comprometida com as mais profundas raízes do Blues-Rock, mas com a carga lisérgica direta do período conhecido como o mais profícuo da história do Rock, o dito "Late Sixties"/"Early Seventies", traduzida em puro Acid-Rock. É Jimi Hendrix ressuscitado em meio a um ritual vodu, com a invocação de zumbis creoles, diretamente de um pântano do Mississippi.  
 
Sobre a gravação em si, claro que o carro chefe é a usina de riffs oriundos da guitarra do Kim e todo mundo foi atrás, ao conferir-lhe um sustentáculo de peso mastodôntico e por isso mesmo, agradabilíssimo. Impressionante o peso e a incidência de registros de frequências graves na bateria de Carlinhos Machado. Com um som encorpado de bumbo e tambores a moda antiga, a sua bateria é um autêntico azougue, a soar muitíssimo bem. 
 
Os teclados do Nelson impressionam também pela massa que ele concebeu. Com órgão Hammond distorcido e percutido ao estilo do grande, Jon Lord, realmente confere um peso incrível à canção. Tem strings estridentes em alguns trechos também, e intervenções pontuais com o piano, muito bonitas ainda que bem sutis. 
 
O Marcos Soledade "Pepito" "pilotou" congas com muito molho, a lembrar muito algumas canções do LP "Eletric Ladyland" do Jimi Hendrix. Gostei muito de tal acréscimo. E claro, toda a parte de guitarras é muito boa, a mesclar timbres robustos de Gibson Les Paul, além da acidez aguda da Fender Stratocaster, com direito a alavancadas, ruideiras & loucura à vontade, porque... "aqui é sixties, bicho"...

Sobre a proposta da letra, a explicação do Kim quando mostrou-nos a canção, foi tão convincente que tirou a possibilidade de qualquer contra argumentação em contrário. Ora, você leitor, se gosta de Blues-Rock, Southern Rock, Acid Rock & afins, tem ideia de quantas músicas clássicas desses gêneros tem esse mesmo teor na temática? 
 
A começar por "Voodoo Child", do Jimi Hendrix, e a passar por incontáveis exemplos similares, realmente, digamos que é ideia recorrente, no bom sentido do termo. Sobre a sua interpretação, acho-a bem condizente com a proposta e as intervenções com risadas "macabras", tem tudo a ver com o clima de fantasmagoria francófana, ao estilo New Orleans. 
 
Sobre o baixo, não tinha como fugir da escolha do Fender Precision e evocar o espírito "Hendrixeano" de Noel Redding e Billy Cox, mas confesso, tem algumas escapadas fora da curva do rio, e o Gary Thain aparece vez por outra... sobre o timbre, ele mostra-se um pouco mais abafado do que geralmente gosto de timbrá-lo, mas está com peso e ronca nas entrelinhas.
 
Para encerrar a minha análise sobre o álbum, creio que o resultado geral do áudio é muito bom, com capa bonita e o fato de ser uma produção simples em termos gerais, em nada atrapalhou o seu resultado artístico e pelo contrário, acho que é um mérito a mais, visto que mediante poucos recursos, tenho a consciência de que fizemos muito, como produto de qualidade, bem acabado. E claro, sinto muito prazer e orgulho em ter esse disco como um registro de minha atuação nessa banda, e espero que seja o primeiro de muitos.
Os Kurandeiros no estúdio Curumim, com o produtor, Fernando Ceah. Julho de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Após o início das gravações do EP Seja Feliz, ao final de julho de 2016, a banda naturalmente imbuiu-se dessa missão com grande entusiasmo. Todavia, por ser uma banda ativa em termos de agenda e mesmo em meio a uma crise institucional sem fim no Brasil, driblou assim a escassez de oportunidades que acometia a todos os setores da vida artística e cultural em geral (fato concreto, em tempos de crise, o primeiro setor da sociedade que sente o recrudescimento da recessão econômica é o ligado a cultura, quando a mentalidade reinante é cortar compra de livros, discos e idas ao cinema, teatro e shows musicais...), Os Kurandeiros comemoravam o fato de que mesmo a sentir na pele os efeitos da diminuição de oportunidades generalizada, no caso, ainda assim, elas apareciam para a banda. Ótimo, vamos em frente, então, mesmo quando as oportunidades que surgissem, não fossem exatamente dentro de nossos anseios. 

Foi o que ocorreu em 19 de agosto de 2016, quando a banda teve apresentação agendada em um curioso espaço cultural, encravado em um ótimo ponto de um bairro nobre da zona sul de São Paulo, mas mesmo assim, diante de tal localização privilegiada, ostentava uma estrutura absolutamente underground, mais a parecer-se com espaços decadentes do centro da cidade, reutilizados como equipamentos culturais "modernosos" e a usar a crueza das suas instalações precárias como um tipo de trunfo cultural ao passar a ideia de uma espécie de "élan avantgarde". 

Espaços assim geridos por jovens cuja identidade cultural apontam para tendências preocupadas (muitas vezes obcecadas), em apontar para o "futuro", geralmente esbarram em idiossincrasias que muito fazem com que eu recorde-me da mentalidade Pós Punk que dominou a cena oitentista. O aspecto da rudeza desoladora, com ares pós apocalípticos, era uma constante naquela década e a decadência dos escombros, tratada como um cenário ideal para fomentar tais ideais dessa gente, e claro que minha formação cultural ou melhor a exprimir, contracultural, sempre apontou para o inverso disso tudo. 

Nos anos 1990, mesmo não fechados mais com o Pós-Punk, explicitamente, muitos jovens flertaram com a continuidade (ou continuísmo, como queira), dessa mentalidade e isso refletira-se em dúzias de casas noturnas espalhadas por São Paulo e sobretudo como paradigma monolítico de quase todas as bandas de Rock da cena underground paulistana e com a qual convivi muito no meu tempo a bordo do Pitbulls on Crack.

Pois foi exatamente o que eu senti quando adentrei as dependências do espaço onde tocaríamos, denominado, "Feeling Music Bar", um misto de sala de ensaios para bandas / salas de aulas de música e espaço cultural para apresentações musicais. Suas dependências rústicas e multiuso lembraram-me o espaço que a revista Dynamite manteve ao final dos anos oitenta e início dos noventa, na Rua Dr. Vila Nova, pelas mesmas características. 

Gerenciado por gente jovem e certamente antenada na movimentação cultural contemporânea de segunda década de século XXI, posso afirmar que a orientação ali era a do "Indie Rock", e claro que absolutamente coadunada na realidade com a qual o Rock daquela atualidade investia-se em seu micro nicho da atualidade, no panorama artístico brasileiro, ou seja, sob uma Era de absoluto sucateamento do espaço para a cena fora do mainstream, dita "independente", o que considerava-se "Rock" naquele momento, remontava aos pequenos nichos destinados ao Indie Rock e o Heavy-Metal. 

Sob uma terceira via, ainda de menor expressão, saudosistas de sonoridades do passado, e não necessariamente fechadas em apreciadores das estéticas sessenta-setentistas, mas a dividir espaço com oitentistas e noventistas ou seja, para artistas como nós, o micro espaço disponível ficara restrito aos jurássicos dos jurássicos... por isso também, uma banda como Os Kurandeiros merece a menção honrosa, pois manteve-se com vida ativa e mais que isso, sob alta rotatividade, ao levar-se em consideração todas as condições adversas, acima mencionadas.

Mas ao falar sobre o espaço citado, além das precariedades inerentes, a mentalidade da casa em programar shows coletivos, como se fossem mini festivais, com muitas bandas absolutamente desconhecidas, a arregimentar uma programação "obscura do obscura do underground", precisa ser analisada sob dois aspectos, um bom e outro mau. O lado bom, é que em uma época tão árida, uma casa que propunha-se a abrir espaço para bandas dessa natureza, merecia aplauso, pois a despeito de qualquer adversidade, onde essas bandas de garotos iriam apresentar-se e dar seus primeiros passos? 

Antigamente havia uma profusão de oportunidades para artistas iniciantes, a começar pelos festivais colegiais, incluso nas redes públicas, estadual e municipal. Lembro com carinho, inclusive, de que minha primeira banda nos anos setenta ("Boca do Céu", com história inteiramente relatada no início deste texto autobiográfico e à disposição neste Blog), teve duas oportunidades dessa monta e foi o seu grande "debut", enquanto banda; da minha carreira em particular e para os companheiros de então, incluso o hoje renomado, Laert Sarrumor. Mas nos tempos mais atuais, isso não ocorria mais, portanto, parabéns ao "Feeling Music Bar" por ter tido essa predisposição.

Já o aspecto negativo, foi que por programar tantas bandas para uma noite só, a bagunça na organização tornou-se inevitável e sendo assim, para uma banda com a nossa história e pelo nosso currículo, assim que entramos e sentimos a vibração ali reinante, é claro que questionamos internamente o que aquela apresentação agregar-nos-ia artisticamente. No entanto, banda resiliente e sem nenhuma vaidade como a nossa, não haveria por apresentar constrangimentos. Em outras bandas por onde passei, talvez a atitude fomentada por outros membros fosse a de insistir em cancelar e evadir-se do local sumariamente, mas Os Kurandeiros não eram assim e dessa forma, mesmo diante de um panorama bastante questionável em termos de dividendos a ser capitalizados, artisticamente a pensar, subimos ao palco e demos o nosso recado. Bem, o equipamento não ajudou em nada. Era um palco até razoável em termos de dimensão, ao lembrar o de casas mais bem aprumadas por onde já havíamos tocado, mas a sonoridade ali, apesar da existência de um PA e backline aceitáveis, deixou a desejar. Dá para ver no vídeo existente com um resumo da nossa apresentação, que foi sofrido para a banda, mas levamos com dignidade até o final, é claro

Sobre as outras bandas, eram todas completamente desconhecidas e achei engraçado quando um rapaz da produção citou-as para nós, como se fossem reconhecidas por um grande público. Talvez em um circuito obscuro do qual nem consigo conceber, tivessem os seus seguidores, tomara que sim, mas realmente, nunca havia ouvido falar de nenhuma sequer e apesar dos pesares, eu costumo ter uma noção do que ocorre na cena underground pelos contatos que tenho em diversos setores da música, incluso amizade com jornalistas bem informados sobre os seus subterrâneos, mas o fato de não fazer nem ideia de quem eram aquelas bandas, realmente espantou-me. Bem, boa sorte para todos que ali apresentaram-se e que sonham com o êxito na vida artística.
Sobre o som dessa garotada, algumas eram formadas por bons músicos, devo reconhecer pelo que vi e ouvi, mas a orientação da maioria era pelo Heavy Metal ou pelo Indie Rock, portanto, não despertou nenhuma comoção da minha parte. Somente um duo acústico, formado por dois violonistas com tendência "Folk", agradou-me mais pela obviedade de ser algo mais palatável à minha formação musical. Mas por não ter anotado os nomes de todos para a minha ficha pessoal do show, não recordo-me quem foram, para cita-los, agora.

Um resumo do show que fizemos no Feeling Music Bar, em 19 de agosto de 2016
 
Eis o Link para assistir no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=diOTpVKM-Cs
 
Passada essa apresentação todos os esforços foram concentrados no arremate da produção do novo álbum e de fato, ele logo finalizou-se e apresentou-se para lançamento. Nesse ínterim uma casa tradicional da zona leste de São Paulo, sinalizou com a ideia de um projeto para Os Kurandeiros. Falo disso a seguir.

 

Recebemos então o convite do salão: "Fofinho Rock Bar" (talvez o mais antigo salão destinado ao Rock em São Paulo, em contínua atividade, a remontar a sua inauguração ao remoto ano de 1971), para um projeto fixo, e do qual Os Kurandeiros já tinham experiência pregressa. 

Explico: o fato, é que a proposta ventilada pelo estabelecimento seria a de que fôssemos atração fixa da casa, para uma serie de shows, em princípio, com periodicidade mensal, e a cada edição, que nós convidássemos outra banda para fazer uma participação especial.

Os Kurandeiros em ação no Fofinho Rock Bar, de São Paulo, na primeira edição do Projeto "Sunday Rock", dia 16 de outubro de 2016. Clicks, acervo e cortesia de Alê Machado

Ora, havíamos criado a Magnólia Blues Band como banda derivada d'Os Kurandeiros, no ano de 2014, com a mesma prerrogativa, em moldes ligeiramente diferentes, pois a ideia ali fora a de realizar shows semanais na casa de espetáculos, Magnólia Villa Bar, e a convidar artistas individualmente a tocar conosco a cada semana, e em princípio oriundos do universo do Blues. 

Já no início de 2016, Os Kurandeiros também protagonizaram projeto semelhante e desta feita ainda mais parecido de fato, sendo banda fixa do "Templo Club" (experiência já relatada em capítulos anteriores), e também a ter a incumbência em convidar artistas a participar conosco, em um projeto denominado: "Sunday Blues". Agora, o Fofinho sinalizava com projeto idêntico, mas com uma diferença básica: sendo uma banda convidada a cada edição, e a perfazer dois shows.

Mais fotos dos Kurandeiros no Fofinho Rock Bar, de São Paulo,  em 16 de outubro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Jani Santana Morales 

Não fora exatamente uma novidade para nós, e pelo contrário, sabíamos o caminho a ser percorrido nesse tipo de projeto, portanto, aceitamos, mas sem elaborar grande ilusão sobre tal, pois matinê dominical nos tempos então atuais, com bandas de Rock clássico, não seria certamente fácil para manter-se com o sucesso desejado etc. e tal.  

Mas fomos com predisposição para enfrentar o desafio e na primeira edição convidamos a boa banda, "Cobra Criada", que tem uma história no circuito paulistano, tendo sido banda de abertura do "Golpe de Estado" por muitos anos e por ter em suas fileiras músicos conhecidos nossos e com bom nível técnico e amizade conosco, caso do baterista, Binho "Batera" (também integrante do "Vento Motivo"), além de contar com um histórico de apresentações sazonais na condição de baterista "sub", d'Os Kurandeiros, ao ajudar-nos em algumas ocasiões nas quais o nosso baterista, Carlinhos Machado, teve problemas pessoais e não pode estar presente.

Os Kurandeiros em ação no Fofinho Rock Bar, de São Paulo, na primeira edição do Projeto "Sunday Rock", dia 16 de outubro de 2016. Clicks, acervo e cortesia de Alê Machado, com ele em pessoa sentado conosco, na mesa (última foto), sendo o segundo da esquerda para a direita, a usar camiseta amarela com estampa a retratar o Jimi Hendrix. Última foto, com click de Jani Santana Morales

Sobre o Fofinho, já havia apresentado-me ali algumas vezes. Nos anos oitenta com A Chave do Sol e no ano de 1999, com a Patrulha do Espaço, sendo esse show histórico, por ter marcado a estreia da nossa formação "Chronophágica". Mas desta vez, não usaríamos o palco principal, situado no salão do andar superior, mas um mini palco "lounge", no patamar térreo da casa. 

Certo, Os Kurandeiros estavam acostumados a tocar em palcos mais comedidos e de fato, não seria problema, inicialmente para nós. Mas se por um lado a predisposição da casa em não abrir mão de sua matinê de música mecânica no andar superior, foi previsível, ao considerar-se sua forma habitual em trabalhar, por outro, o que não contávamos agora seria com o fato de que além de não haver vedação entre os dois salões, em nenhum momento a casa desistiria de manter a sua longa sessão dominical em atividade contínua e geralmente dominada por um repertório calcado no Heavy Metal internacional. 

Portanto, por levar-se em consideração que o PA desse salão era dotado de porte grande, com enorme pressão sonora, a perspectiva de tocarmos embaixo, com um outro PA (nós a tocarmos o nosso set normal e acima, o som mecânico a executar Heavy Metal, concomitantemente), foi no mínimo, algo bizarro. 

Pior que isso, a concorrência sonora ia além do incômodo sonoro atordoante, mas atrapalharia decisivamente a nossa performance, mesmo a observar que no nosso palco, a casa disponibilizaria um PA bastante fidedigno. 

Os Kurandeiros em ação no Fofinho Rock Bar, de São Paulo, na primeira edição do Projeto "Sunday Rock", dia 16 de outubro de 2016. Clicks, acervo e cortesia de Alê Machado

Mas houve outra agravante... na frente do estabelecimento, em comunicação com a rua, no caso a Avenida Celso Garcia, eles tinham em anexo, um botequim próprio, também alimentado por um P.A. com potência forte e ali, um DJ comandava uma sessão de Classic Rock e MPB setentista. 

Se por um lado o repertório ali executado era agradabilíssimo, como se estivéssemos a escolher discos de nossas respectivas coleções particulares, apesar disso, naquele volume ensurdecedor e também na determinação em não parar das 16 às 23 horas, o panorama para as nossas apresentações seria estranho ao extremo, com a nossa performance a concorrer com outros dois PA's simultâneos e ensurdecedores. 

Valeria a pena, arriscar algo tão insalubre? Bem, por sermos tratados com bastante simpatia pelos mandatários da casa e estes a mostrar-se animados com o projeto, e a não enxergar problemas nas condições que elenquei anteriormente, imbuímo-nos de coragem e fomos resolutos para a primeira edição.

"A Noite Inteira ao vivo no Fofinho Rock Bar" - 16 de outubro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=DKkem6azthY

"O Filho do Vodu", ao vivo no Fofinho Rock Bar, em 16 de outubro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=o2PY4WduqBY

"Faz Frio" ao vivo no Fofinho Rock Bar", em 16 de outubro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=6a4XXDLf_K0
 

"Os Brutos Também Amam" no Fofinho Rock Bar, em 16 de outubro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=HVrNtehpuCU

Mas antes de nós, o "Cobra Criada" fez o seu show, a mesclar algumas canções autorais com diversos covers do Rock nacional e internacional, em boas interpretações. Ao vê-los tocar, gostamos muito da performance, contudo, a guerra de PA's ali dentro do estabelecimento, realmente prejudicava muito a boa condução do espetáculo, é óbvio, fora o fato de não haver nenhuma torre de iluminação, mínima que fosse, ao fazer com que a banda tocasse sob luz de serviço e claro que foi um mais um fator a atrapalhar a performance. 

Foi quando chegou a nossa vez e nessa primeira oportunidade, a nossa apresentação evitou releituras de clássicos e calcou-se no show autoral. Apesar de todas as dificuldades já esperadas e que confirmaram-se assim que iniciamos o nosso show, fizemos o espetáculo com o melhor que pudemos oferecer ali e foi surpreendente, pois mesmo sendo massacrados por verdadeiras serras elétricas travestidas como guitarras e vocais esganiçados das bandas de Heavy-Metal, vindas do patamar de cima, e atrapalhados pelo Robert Plant e Zé Ramalho, entre outros, que cantaram bem alto no patamar abaixo virado para a Avenida Celso Garcia, muitas pessoas apareceram para assistir, dançar & cantar, e mesmo porque, se em cima o público "headbanger" não interessava-se em descer para assistir e ouvir-nos, a clientela que preferia ficar a escutar Rock e MPB setentista, abaixo, certamente haveria por identificar-se com a nossa postura e proposta sonora. Foi assim na primeira edição, ainda que não agraciada com uma enorme multidão, mas apesar dos pesares, foi animador.

Os Kurandeiros a posar informalmente no Fofinho Rock Bar, de São Paulo, na primeira edição do Projeto "Sunday Rock", dia 16 de outubro de 2016. Da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, eu (Luiz Domingues) & Kim Kehl. Click, acervo e cortesia de Jani Santana Morales

Um verdadeiro show em regime de "guerrilha", como diz-se no jargão dos músicos, a designar apresentações feitas sob condições inóspitas, e ao tratar-se d'Os Kurandeiros que é uma banda que não tem vaidades e / ou estrelismos, acho que nem sentimos muito a aspereza da guerra, através das trincheiras... para incomodar-nos para valer, a saraivada de tiros, granadas & gás mostarda não basta... ocorreu em 16 de outubro de 2016, e é difícil mensurar o público presente corretamente, pois as atrações eram diferentes ali. 

Digamos que ali no salão onde tocamos e sem considerar os hippies do botequim externo e os metaleiros do patamar acima, creio que cerca de trinta e cinco pessoas aglomeraram-se a nossa frente, em momentos de pico do nosso show. Em termos de continuidade do Projeto "Sunday Rock", dessa forma, a pular o mês de novembro, uma nova data foi marcada para dezembro, e da qual falo na cronologia adequada.  

Fruto do bom relacionamento que mantínhamos com a cúpula da emissora, "Stay Rock Brazil", uma importante Webradio do meio Rocker, outra boa oportunidade para divulgar o nosso recém lançado álbum ocorreu em uma festa organizada por eles e melhor ainda que receber tal convite para figurar nessa celebração, foi o fato de que fora marcada para uma casa de espetáculos onde nós tínhamos uma familiaridade bem grande e simpatia, sobretudo, o Santa Sede Rock Bar. E assim, com a casa a apresentar ótimo público, fizemos uma apresentação sob muita energia, a gerar até uma euforia além da esperada e claro que isso animou-nos bastante.
Os Kurandeiros na festa da Webradio Stay Rock Brazil. Santa Sede Rock Bar, 30 de outubro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Cristina Piratininga Jatobá 

Nesse mini festival da emissora, tocaram outras bandas e ali o ambiente foi 100% familiar para nós, com bandas amigas e da qual apreciávamos os seus respectivos trabalhos. Casos do "Vento Motivo" e "8080", das quais inclusive já tive o prazer de elaborar resenhas de seus respectivos discos, em meu Blog nº 1. 

Mais fotos d'Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar, a comemorar o 8º aniversário da webradio, Stay Rock Brazil. 30 de outubro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: João Pirovic

E também a agradável apresentação do "Delinquentes de Saturno", um simpático combo derivado do "Apokalypsis", igualmente liderado pelo veterano Rocker aquariano, Zé Brasil, e a apresentar um surpreendente repertório com forte dose de experimentalismo "Prog", a lembrar muito a escola do "Krautrock" setentista. 

Isso reforçou-se em muito pela presença do baixista superb, Gabriel Costa, a atuar com tal banda. Ele é meu amigo desde 2001, quando o conheci durante minhas andanças com a Patrulha do Espaço em turnês por cidades interioranas paulistas. 

Mais fotos d'Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar, comemorando o 8º aniversário da Webradio, Stay Rock Brazil. 30 de outubro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Leandro Almeida

E também uma banda com orientação mais Hard-Rock oitentista, seara que não agrada-me normalmente, mas devo reconhecer, gostei do trabalho dos rapazes e o fato de serem extremamente gentis e solícitos, naturalmente cativou-me, ao tratar-se do "Mr. Huddy". Enfim, uma noitada muito agradável pela festa em si, presença de bandas boas, todas amigas e pela simpatia habitual da casa, além do pessoal da emissora, muito cortês com Os Kurandeiros, sempre. Aconteceu no dia 30 de outubro de 2016.
Mais fotos d'Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar, a comemorar o 8º aniversário da Webradio, Stay Rock Brazil. 30 de outubro de 2016. Na primeira foto, Kim Kehl entre membros da Webradio e componentes da banda "Vento Motivo". Abaixo, a produtora musical Gigi Jardim a colocar os "Ya-yas" para fora, perto da minha própria pessoa (Luiz Domingues). Na terceira foto, o grande músico e escritor, Walter Possibom, ao meu lado (Luiz Domingues). E na última, Kim Kehl e Walter Possibom. Clicks, acervo e cortesia de Leandro Almeida e Tânia Regina, em fotos misturadas

Próxima parada: Santa Sede Rock Bar e desta feita para ser tratado como show de lançamento do novo álbum d'Os Kurandeiros.
Eu (Luiz Domingues) em ação! Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar, a comemorar o 8º aniversário da Webradio, Stay Rock Brazil. 30 de outubro de 2016. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida
Após a excelente participação na festa de aniversário da Webradio, Stay Rock Brazil, voltamos no mesmo palco, o do Santa Sede Rock Bar, mas desta feita para um show regular d'Os Kurandeiros. Tratamos tal ocasião como um show de lançamento do EP Seja Feliz, recém lançado naquela época.

Os Kurandeiros em ação no Santa Sede Rock Bar, em 5 de novembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Jani Santana Morales

Fizemos um show animado e devo registrar que foi a primeira vez que usei um baixo Rickenbacker em uma apresentação dos Kurandeiros e a justificativa é bem lógica, pois a rigor sempre achei que os modelos tradicionais da Fender, Precision e Jazz Bass, fossem mais adequados às necessidades d'Os Kurandeiros, pela obviedade dessa banda ter seu estilo fortemente calcado no Blues-Rock tradicional. 

No entanto, fiquei surpreendido como o tradicional som agressivo inspirado no médio-agudo que esse instrumento proporciona naturalmente, e este caiu muito bem na sonoridade da banda, portanto a abrir caminho para ser usado em outras apresentações no futuro.

Kim Kehl & Carlinhos Machado em destaque! Os Kurandeiros em ação no Santa Sede Rock Bar, em 5 de novembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Jani Santana Morales

Convidados pela direção da casa a fazer mais uma data próxima, eis que no mês seguinte voltamos ao Santa Sede Rock Bar.

Digno de nota, o nosso amigo, Walter Possibom, que é um grande guitarrista e empreendedor cultural super entusiasmado e ativo, visitou-nos nesse show e nessa ocasião, estava a colher os frutos do recém lançamento de seu romance: "Um Brilho nas Sombras", uma ficção muito bem escrita e a tratar-se de uma "Rock Story", de fato, com personagens construídos em torno da ambientação Rocker setentista e recheado por referências muito bem colocadas, sobre tal universo. 

Não fora, no entanto, o seu primeiro livro publicado, pois por ser um médico legista proeminente e muito respeitado no seu meio, já havia lançado muitos livros acadêmicos sobre a sua especialidade médica, mas agora comemorava o seu debut como escritor ficcional, que além da música é outra de suas paixões pessoais. Tive o prazer de comparecer à sua tarde de autógrafos e após leitura prazerosa de sua obra, escrevi uma resenha no meu Blog 1. 

Eis abaixo o link para ler minha impressão sobre o livro: 

http://luiz-domingues.blogspot.com.br/search?q=Um+Brilho+nas+Sombras

Da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, Kim Kehl & eu (Luiz Domingues). Os Kurandeiros a posar no pós-show, no Santa Sede Rock Bar, dia 9 de dezembro de 2016. Click, acervo e cortesia: Pat Freire

Nesse encontro no Santa Sede Rock Bar, conversamos bastante sobre o seu romance e onde ele deu-me muitas dicas valiosas sobre o mercado editorial, e prontificou-se a auxiliar-me em relação aos preparativos do meu livro, na versão impressa, e que vem a ser a minha longa Autobiografia na Música, cujo este adendo aqui fica fora nessa primeira edição, mas poderá entrar em uma segunda edição revista e aumentada ou simplesmente fazer parte de um segundo volume... e o futuro dirá qual caminho adotarei. 

O importante é que estou vivo e bem, como dizia o grande, Johnny Winter, e o fato de estar a escrever capítulos com atualizações, já comemoro e isso pode estender-se aos Kurandeiros, que estão na ativa, sempre a trabalhar, sem perder tempo com lamentos pelas redes sociais, tampouco a fazer pose de "Rock Star", ao evitar colocar o pé na estrada ou como a "Maria Maluca", o faz, pôr o pé na jaca...

"7 Anos" ao vivo no Santa Sede Rock Bar, em 5 de novembro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Rg1lcXNsrrc

"Sou Duro" ao vivo no Santa Sede Rock Bar, em 5 de novembro de 2016.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=sk0SOZgZFPo

Trecho final de "O Filho do Vodu", ao vivo no Santa Sede Rock Bar, em 5 de novembro de 2016

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Hr4ijDTYc0M 

Após o encerramento das atividades da Magnólia Blues Band em abril de 2016, e cuja banda base foram os próprios Kurandeiros, ficamos bastante tempo sem apresentações na casa de espetáculos, "Magnólia Villa Bar". 

E basta olhar os capítulos iniciais da minha história com Os Kurandeiros e mesmo independente da história da Magnólia Blues Band, cuja história tem a sua identidade própria, para o leitor recordar-se que Os Kurandeiros tinham uma tradição nesse estabelecimento. Portanto, foi com alegria que o revisitamos na noite de 16 de dezembro de 2016, sob certas precauções acústicas, visto que a casa ainda sofria com fiscais e um vizinho beligerante que não dava trégua...

Os Kurandeiros de volta ao Magnólia Villa Bar, em 16 de dezembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Jani Santana Morales

E assim, fizemos uma apresentação animada, contentes em rever os amigos da casa e a obter o prazer da participação do tecladista, Alexandre Rioli, o proprietário da casa, em algumas canções, a reviver também o quarteto da Magnólia Blues Band.
Os Kurandeiros em ação no Magnólia Villa Bar em 16 de dezembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Jani Santana Morales

Já no dia seguinte, tivemos um curioso show realizado dentro de uma feira artesanal ao ar livre, localizada em uma aprazível praça pública, no bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo. Fora um convite do guitarrista, Geraldo Guimarães, o popular Gegê, integrante da boa banda, "Pompeia 72", especializada em releituras de clássicos do Rock setentista. Era para ser um show compartilhado entre as duas bandas, mas um problema súbito de saúde com um dos componentes do "Pompeia 72" resultou no cancelamento da participação deles e dessa forma, Gegê foi convidado pelo Kim a participar conosco e foi um prazer ter a sua guitarra entre nós, certamente. 

Foi uma apresentação que começou dispersa, o que foi normal dentro de uma feira ao ar livre e com as pessoas naquela tendência em não prestar atenção e encarar a nossa participação como mera música de sala de espera, mas aos poucos conquistamos aquela audiência e chegou-se em um ponto onde ficou até bem animado, com muitas pessoas a dançar e aplaudir. 

Claro, ao tratar-se de um show ao ar livre, alguns mendigos apareceram, mas nada significativo, muito menos ameaçador e o que predominou ali foi um ambiente bem familiar, sob uma tarde ensolarada, com a presença de muitas famílias com crianças, idosos e até bebês.

Uma foto clicada momentos antes da apresentação iniciar-se, com o técnico de som à direita, a usar camiseta azul e Kim Kehl a esquerda, a caminhar entre o backline da banda. Evento "Brooklin Trend", no bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo, em 17 de dezembro de 2016. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Um vídeo curto a mostrar Os Kurandeiros a executar um trecho da música, "Black Sabbath", da banda homônima, com a participação do guitarrista, Geraldo "Gegê Guimarães, como convidado especial da banda. Brooklin Trend, 17 de dezembro de 2016. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=eCfuAwx9t3I


Outro trecho da participação d'Os Kurandeiros no evento ao ar livre, "Brooklin Trend", em 17 de dezembro de 2016.

Eis o Link para assistir no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=m5_ak-_CFkE

Então foi isso, uma boa apresentação ao ar livre no evento "Brooklin Trend", na Praça General Gentil Galvão, no bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo, na tarde ensolarada de 17 de dezembro de 2016, com cerca de cem pessoas a assistir-nos em momento de pico de atenção, mas certamente com mais gente a passear pela feira ao longo da tarde / noite.


No dia seguinte, tínhamos o compromisso no Fofinho Rock Bar, a levar adiante a ideia do evento permanente, "Sunday Rock". Desta feita, a banda convidada foi o "Mr. Huddy", com o seu som pesado, calcado no Hard Rock oitentista, mas certamente a apresentar elementos setentistas agradáveis, ainda que sutis, nas suas canções autorais. Foi bom o show dos rapazes e claro, eles sofreram com as dificuldades inerentes ali instauradas, com uma espécie de "fogo amigo" em ação, por conta dos dois PA's dentro da casa, ensurdecedores e ininterruptos a concorrer com a nossa apresentação e também da banda convidada.

Dois flagrantes d'Os Kurandeiros no Fofinho Rock Bar, em 18 de dezembro de 2016. A banda em ação e abaixo, Carlinhos Machado na companhia de um grande amigo d'Os Kurandeiros, o professor Cesar Benatti, que vem a ser o diagramador e responsável pelo Lay out do meu livro impresso, "Quatro Décadas de Rock". Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap

Sofremos os mesmos problemas gerenciais e já relatados, em relação à primeira edição do projeto, e claro que reivindicamos melhorias. A casa prontificou-se a estudar tais mudanças, mas já alertou-nos que abrir mão do som mecânico ininterrupto ao promover pausas estratégicas intercaladas com as nossas apresentações, seria uma resolução muito difícil de ser posta em prática, visto que o seu público habitue estava acostumado com tal dinâmica, há anos etc. 

Difícil pensar em prosseguir, com uma concorrência dupla dentro da própria casa, mas mesmo assim, resolvemos dar um voto de confiança à sua diretoria, no sentido de que atenuariam ao menos o volume dos dois PA's concorrentes, o que seria um alento, caso concretizado. E o fato de que mesmo diante de tanta insalubridade, o recado dado pela banda no palco era ofertado a quem dignava-se a nos assistir e na pior das hipóteses, isso fazia valer a pena o nosso esforço, sem dúvida.

Os Kurandeiros em fotos individuais no Fofinho Rock Bar, no dia 18 de dezembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Regina de Fátima Galassi

E assim encerramos o ano de 2016, com uma curiosa predisposição final que seguiu o padrão do começo do ano. Começamos no Templo Club com o "Sunday Blues" e encerramos o ano com projeto semelhante, o "Sunday Rock". Desta feita na casa de espetáculos, Fofinho Rock Bar. 
Duck Strada, grande baterista e violonista/cantor e compositor Folk e eu (Luiz Domingues). Fofinho Rock Bar, 18 de dezembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Regina de Fátima Galassi
Não ficaram muito boas tais fotos, mas registram a confraternização pós show, no Fofinho Rock Bar, em 18 de dezembro de 2016. Na primeira, da esquerda para a primeira, Will Dissidente, que coincidentemente estava no local e é o idealizador do Blog "A Chave do Sol", Luiz Domingues, Kim Kehl e respectivamente, o cantor e também o guitarrista da banda "Mr. Huddy", Rildo Pedroso e Nuno Oliveira. Acervo e cortesia: Will Dissidente. Clicks: Lara Pap

Mas o ano fora marcado positivamente mesmo, fora pelo lançamento de um novo álbum e a contar com a formação da qual faço parte, para coroar a minha passagem pela banda e quero crer, por ser o primeiro de muitos outros trabalhos no futuro. Que viesse 2017, que fôssemos felizes!

Continua...

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Que legal, Gil ! Eu que agradeço-lhe por estar a acompanhar !

      O Blog é seu, visite-o sempre !

      Abraço !

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