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sábado, 16 de março de 2019

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 10 - Piratas Invadem a Rádio Pirata e Bradam: Toca Raul! - Por Luiz Domingues

O nosso próximo compromisso seria em meio a um festival a ser realizado na cidade de Osasco-SP, produzido pela Secretaria de Cultura dessa cidade, com o objetivo em comemorar o dito, "Dia do Rock". 

Esse evento foi concebido para ser multifacetado, distribuído por vários dias (e não apenas no tal dia da efeméride em questão), e em vários espaços culturais mantidos pela sua Prefeitura. Pois muito bem, uma ótima iniciativa, um festival produzido nos moldes da famosa: "Virada Cultural de São Paulo", haveria por ser algo muito positivo. Fomos escalados para apresentarmo-nos no Centro de Eventos Pedro Bortolosso, e foi marcado para o dia 15 de julho de 2018. 

Tal comunicação dessa data, no entanto, gerou-me uma apreensão, assim que tomei conhecimento, e a minha preocupação foi motivada por uma dúvida em torno de uma questão que nada teve a ver com a nossa banda em si, mas poderia vir a ser uma temeridade.

E o motivo do meu receio, deu-se pelo fato em estarmos a passar pela inevitável e indefectível, realização da Copa do Mundo. E por uma ironia do destino, tal dia, estava marcado para ser a data da final de tal torneio. 

Portanto, em tese, a nossa apresentação haveria por ocorrer uma hora antes do início da sua decisão. Ora, já elucubrei por extensão, que se o Brasil chegasse à final do torneio, seria evidente que haveria por esvaziar não apenas o nosso show, mas todo o evento. Repercuti a minha preocupação com tal possibilidade aos meus colegas e também com a produtora da nossa banda, Lara Pap, mas ninguém compactuou com o mesmo grau de receio. 

Quando soube da confirmação dessa data, o torneio ainda estava a cumprir a sua fase de grupos, portanto, a possibilidade do time do Brasil realmente chegar à final, fora apenas hipoteticamente aventado, porém, algo possível, como uma projeção matemática. 

Soube então que a posição da produção foi firme, no sentido de que, com ou sem a presença do time do Brasil nessa final, os shows programados para esse dia, não seriam cancelados sob hipótese alguma. Tudo bem, então... let's Rock!

Da esquerda para a direita: Kim Kehl, Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues). Os Kurandeiros no Centro de Eventos Pedro Bortolosso de Osasco-SP. Festival Semana do Rock 2018. 15 de julho de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Fui para Osasco-SP, na companhia do Carlinhos Machado, que gentilmente cedeu-me uma carona, o que foi providencial, pois dessa cidade, eu conheço pouco, só domino o básico sobre o seu centro e desta feita, o deslocamento seria feito com destino a um bairro pelo qual eu não encontraria com a mesma facilidade como o Carlinhos, que conduziu-nos com a sua contumaz maestria para escolher caminhos. 

E mais que pelo conforto logístico, foi um prazer desfrutar da sua companhia, pois a conversa foi ótima, com trilha sonora permeada por Rock Progressivo setentista. 

E nesse dia em específico, o Carlinhos contou-me uma história fantástica que fora revelada à ele por um famoso astro do Rock brasileiro setentista, fato ocorrido na coxia do teatro Ruth Escobar em São Paulo, nos idos de 1973, quando da realização de um show de sua banda. Uma ocorrência hilária e sobre a qual, rimos muito, é claro.

Flagrantes da banda em ação. Os Kurandeiros no Centro de Eventos Pedro Bortolosso de Osasco-SP. Festival Semana do Rock 2018. 15 de julho de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Quando chegamos ao local, impressionei-me com a estrutura do equipamento cultural mantido pelo município de Osasco-SP. Tratou-se de um centro cultural multiuso, bem construído a conter vários equipamentos e o local do show propriamente dito, a assemelhar-se com um salão de clube poliesportivo, bem amplo, capaz em abrigar cerca de cinco mil pessoas, eu diria e a manter um palco fixo, feito em alvenaria, com uma estrutura de bastidores bem rústica, porém funcional. 

O equipamento de som e luz disponibilizado, pareceu de um nível adequado ao tamanho do espaço cultural, sob uma primeira impressão. Por outro aspecto, no entanto, mesmo com o time do Brasil alijado da possibilidade em estar na final da Copa do Mundo (e a sua final ter sido realizada entre duas seleções sem muito apelo popular e uma delas, sem tradição pregressa alguma), o nosso evento esvaziara-se. 

Havia pouca gente no espaço, a primeira banda já houvera apresentado-se e a segunda, preparava o seu "set up" para dar início ao seu show. Não seria uma banda, propriamente dita, mas o trabalho de uma cantora solo, chamada, Fernanda Coimbra, com a sua banda de apoio. 

Confraternizamo-nos com o músico, Fabrício Nickel, que era nosso amigo e um dos organizadores do evento, por fazer parte da sua curadoria e logo, alguns Rockers, amigos nossos da cidade, chegaram, entre os quais, o Rocker/Bluesman, Jessé Blindog, e os baixistas, Paulo Callegari e Rey Bass. 

Assistimos então o show da cantora, Fernanda Coimbra e eu gostei bastante do seu trabalho, versado por canções sob forte apelo Bluesy e Jazzy, em predominância e apoiada por uma banda muito boa, municiada por um Power-Trio formado por ótimos músicos (o famoso baterista, Paulinho Sorriso, fez parte desse grupo), a apresentar timbres vintage, muito agradáveis. 

Uma lástima apenas que a audiência estivesse tão pequena, por conta da final da Copa do Mundo de 2018, pois quem ficou em casa a torcer para o Modric ou para o MBapeé, realmente perdeu um bom show da parte dessa cantora e sua banda, que fez-me recordar de alguns shows de MPB providos com muita qualidade, que eu assistira nos anos setenta.

Na primeira foto: eu (Luiz Domingues) e o também baixista e amigo, Paulo Callegari. Na segunda foto, eu (Luiz Domingues) em destaque e Carlinhos Machado ao fundo, na bateria. Os Kurandeiros no Centro de Eventos Pedro Bortolosso de Osasco-SP. Festival Semana do Rock 2018. 15 de julho de 2018. Foto 1: Acervo e cortesia: Paulo Callegari. Click: Marcinha Carvalho. Foto 2: Click, acervo e cortesia: Xandão

Eis que a próxima banda entrou em cena. Louvo a coragem de qualquer artista que predispõe-se a subir em um palco e tocar a sua criação, isso sem dúvida. 

Aplaudi em cada final de música desses rapazes, em sinal de respeito e apoio, mas realmente, para quem conhece-me e sabe muito bem que eu não aprecio nem o Heavy-Metal tradicional, portanto, o que dizer sobre as suas ramificações ainda mais guturais? 

Enfim, boa sorte para tais rapazes, dentro de seu nicho de atuação no mercado e que alcançassem o sucesso que almejavam para a sua carreira.

Mais flagrantes d'Os Kurandeiros em ação. Os Kurandeiros no Centro de Eventos Pedro Bortolosso de Osasco-SP. Festival Semana do Rock 2018. 15 de julho de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

Chegara a nossa vez e a despeito do público ter melhorado um pouco, certamente manteve-se longe do ideal, mas como sempre, com uma ou um milhão de pessoas presentes, isso não interferia na disposição d'Os Kurandeiros para subir no palco e dar o seu recado e assim o fizemos. 

Mais que um show de choque, tão comum em festivais com muitos artistas a apresentar-se, fizemos um set quase no padrão de um show para teatro. E foi muito divertido, pois o público estabeleceu uma sinergia boa para conosco e isso foi até surpreendente dadas as condições que eu elenquei, anteriormente. 

Com um som de palco bem confortável e uma iluminação simples, porém digna, divertimo-nos naquele palco com uma extensão longa e posso afirmar, foi muito prazeroso realizar esse espetáculo.

Foto 1: Os Kurandeiros a posar para os fotógrafos presentes. Foto 2: com a companhia do amigo, Paulo Callegari. Foto 3:  Com membros da organização do evento. Da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, Ingrid Faria, Kim Kehl, Fabrício Nickel, eu (Luiz Domingues) e o último rapaz, não identificado. Os Kurandeiros no Centro de Eventos Pedro Bortolosso de Osasco-SP. Festival Semana do Rock 2018. 15 de julho de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

"A Noite Inteira" (Kim Kehl) + "Pro Raul" (Kim Kehl / Osvaldo Vecchione). Os Kurandeiros na Semana Rock de Osasco-SP, em 15 de julho de 2018. Filmagem e cortesia de Paulo Callegari

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hTXSGzgqTZ8&feature=youtu.be 
 
Enquanto conversávamos com amigos e simpatizantes nos bastidores, a banda que sucedeu-nos no palco ("007"), fez um tributo ao Raul Seixas. A despeito de ter sido uma apresentação cover, gostei dos músicos, que apresentaram qualidade e versatilidade. Pude conversar com eles um pouco, posteriormente e fiquei feliz por saber que também desenvolviam um trabalho autoral, que espero conhecer um dia. Gostei da pegada setentista, bem marcante da parte deles. 

E deu para assistir um pedaço da outra banda, "The Melties", com um trabalho Hard-Rock com certa influência do Grunge noventista de Seattle. 

Boa banda, a apresentar canções com convenções sofisticadas e ótimos instrumentistas, além de uma cantora, bem jovem, mas que mostrou qualidade. Não tratou-se de uma sonoridade que cativasse-me, mas eu apreciei a qualidade da banda. E as demais bandas programadas, eu não vi, pois evadi-me do local. 

A lastimar-se o fato de que, se na hora em que tocamos o público mostrara-se fraco, quando eu fui embora e ainda faltavam duas bandas para apresentar-se, o local estava praticamente deserto, uma grande pena. Foi nesse dia do show d'Os Kurandeiros em Osasco-SP, que comemoramos uma ótima novidade extra para a nossa banda.

Chegara da fábrica os dois discos com material ao vivo que o Kim preparava há meses. Em um deles, eu não faço parte, por tratar-se de um show gravado ao vivo no Centro Cultural São Paulo, em 2009, com uma formação anterior, mas no outro, com material gravado ao vivo em programas de rádio e TV, eu participo em várias faixas. 

Os pacotes iniciais com os discos ao vivo d'Os Kurandeiros, a chegar da fábrica. Julho de 2018. Click, acervo e cortesia de Kim Kehl

Ali, no calor dos bastidores do show que realizamos no evento em comemoração pelo Dia do Rock, sob produção da Secretaria Municipal de Cultura de Osasco-SP, em 18 de julho de 2018, foi que a produtora da nossa banda, Lara Pap, mostrou-nos os dois novos álbuns, ao vivo, que finalmente haviam chegado da fábrica. 

Esse projeto da parte do Kim Kehl, estava a ser preparado desde muitos meses antes, mas circunstâncias alheias à sua vontade (e certamente de toda a banda), havia feito com que tivesse ocorrido uma postergação. Portanto, só ali início do segundo semestre de 2018, foi possível, concretizá-lo. 

O primeiro deles, por uma questão cronológica de sua gravação, tratou-se de uma apresentação d'Os Kurandeiros, ocorrida no Centro Cultural São Paulo, em 2009, portanto, nesse eu não participei, visto que só ingressei na banda, em agosto de 2011. 

Com um apanhado de canções oriundas dos discos iniciais e mais alguns singles posteriores, eis que trata-se de uma boa performance do grupo, sob tal formação.

O Kim o denominou como: "Piratão" (!), mas fica a dubiedade na capa, sobre o complemento, "Rock Ao Vivo", fazer ou não parte do seu título oficial. 

Em princípio, não, pois o Kim explicou-nos que quis usar tal adendo apenas como um mote publicitário. Mas a verdade é que sob letras garrafais, é difícil o consumidor/colecionador e/ou fã da banda, não ser levado a deduzir que o nome do disco seja composto como: "Rock Ao Vivo Piratão". Porém, visto pelo prisma das estratégias da publicidade, a confusão pode ser considerada benéfica, acredito.

Sobre o álbum em si, trata-se de uma performance muito boa da banda, com aquela formação de 2009, a conter: Kim Kehl (guitarra e voz), Nelson Ferraresso (teclados), Fabio Scattone (bateria), Rod Fillipovitch (guitarra) e Renato de Carvalho (baixo). 

O áudio foi capturado de uma maneira simples, mediante conexão em "L & R" direto da mesa do PA do Centro Cultural São Paulo, portanto, sob um padrão de gravação pirata, mas com ótima qualidade sonora, a gravação desse disco pode ser qualificada como um Bootleg de luxo. 

De fato, quando o Kim resolveu produzir esse álbum, conseguiu fazer uso dessa fita, de uma maneira que em termos de mixagem e masterização, foi possível imprimir uma substancial eliminação de ruídos, via "Noise Gate" e com uma boa compressão, eis que esse disco, mesmo por não ter sido gravado ao vivo, mediante a sofisticação do uso de uma Unidade Móvel de gravação para separar todos os instrumentos e a voz, devidamente, observa um padrão muito bom do áudio geral, com inteligibilidade na voz e uma percepção muito boa da performance e timbre de todos os instrumentos.

Sob produção de Kim Kehl, com apoio de Lara Pap e fotos do irmão do Kim, Juja Kehl, a capa traz uma foto da banda sob panorâmica do Centro Cultural São Paulo e na contracapa, a guitarra do Kim Kehl repousada sobre o amplificador, sob um enquadramento clássico. Quanto ao repertório apresentado, trata-se do seguinte :

1) Sou Duro
2) A Galera Quer Rock
3) Pro Raul
4) Deixe Tudo
5) A Bomba
6) Vampiro
7) Os Brutos (Também Amam)
8) Meu Mundo Caiu
9) O Kurandeiro
10) Hey Mãe
11) Só Alegria
12) Maria Fumaça
13) Cocada Preta
14) Maria Gasolina
15) Maria Maluca

A seguir, falo sobre o outro lançamento, e desta feita, a conter muitas faixas que eu gravei, e também ao vivo, mas não sobre um show somente, todavia, a tratar-se de uma compilação com muitas participações da banda a tocar ao vivo, em programas de rádio e TV.

O outro lançamento dos Kurandeiros, ocorrido em julho de 2018, foi mais um álbum com material ao vivo, chamado: "Rádio Pirata" e a conter o subtítulo, "Rock ao Vivo". 

Mesmo caso do outro álbum que comentei anteriormente e cujo lançamento foi simultâneo, o termo, "Rock ao Vivo", segundo o Kim, foi um adendo em torno de uma motivação de ordem publicitária e não é o nome do disco, oficialmente. 

A despeito dessa questão, o que importou foi que Os Kurandeiros estavam a lançar dois discos ao vivo, simultâneos e neste último, estou presente em várias faixas, portanto, a rigor, constituiu-se do meu quarto registro fonográfico com tal banda e vigésimo primeiro da carreira em geral.

Qual foi o mote? Eis que o Kim Kehl compilou uma série de apresentações feitas pela banda, ao vivo, em alguns programas de rádio e televisão, entre 2009 e 2017, portanto, tirante as faixas gravadas por uma formação anterior à minha, de 2009, nas demais, eu estou presente. 

Excelente ideia, eis aí o tipo de material que valeu a pena preservar por anos a fio, para finalmente ser lançado em um álbum. Toda a produção desse trabalho, foi um esforço da parte do Kim Kehl, com apoio de Lara Pap. 

Sobre o material, foi compilado conforme as seguintes fontes:

1) Programa "Barlada"/Rede NGT de TV - 2009
2) Programa "Ao Vivo" - Brasil 2000 FM - março de 2015
3) Programa "Live on the Rocks" - Webradio Saty Rock Brazil - outubro de 2015
4) Programa "Toca Mais Uma" - Rede BCC/TV de Internet - outubro de 2017

Na formação de 2009, Kim Kehl e Nelson Ferraresso tiveram como companhia as presenças de: Fabio Scatone, na bateria e Renato de Carvalho, no baixo. Nas demais faixas a compreender gravações de 2015 a 2017: Carlinhos Machado à bateria e voz e eu (Luiz Domingues), no baixo, além de Kim e Nelson, presentes igualmente.

Em relação à capa, a concepção foi simples, com uma foto do Power Trio básico, formado por Kim Kehl, Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues), a tocarmos no pequeno estúdio da emissora BCC Television, de São Paulo, por ocasião em que participamos do programa: "Toca Mais Uma". 

Mas a foto foi trabalhada com um filtro bem exagerado, portanto, as cores ficaram berrantes e os traços das pessoas; instrumentos e equipamentos, assemelham-se à uma pintura. O Chroma Key do fundo, existente nesse referido estúdio, foi verde na realidade, no entanto, na finalização dessa foto, modificou-se sob um vermelho vivo, cor de sangue, e o piso, preto. 

Na contracapa, uma foto do palco de um show realizado anteriormente, sem a banda, mas só a mostrar instrumentos e equipamento backline, igualmente modificada, mas sem muito exagero, no entanto. Pelo enquadramento, o meu baixo não ficou registrado, dá para ver duas guitarras do Kim e a bateria, além dos amplificadores.

Sobre as canções, pelo fato de ser uma compilação com gravações ocorridas em épocas e circunstâncias diferentes, mas sobretudo por nenhuma gravação ter tido um grande requinte técnico em sua captura inicial, não é possível exigir-se um maior apuro no tocante aos timbres dos instrumentos e vozes, e assim, é para ser entendido mesmo como um disco sob o padrão de um "bootleg". 

E nem mesmo pode-se esperar uma execução perfeita, pois todas as canções foram gravadas ao vivo e sem chance para haver tomadas suplementares a determinar uma escolha, mas simplesmente, são únicas em sua atribuição, ou seja, pequenos erros musicais são observados ao longo da execução, da parte de todos os instrumentistas e cantores envolvidos. 

Entretanto, visto pelo lado romântico da música profissional, são autênticas tais interpretações, justamente por isso. No geral, o áudio preservado revela-se bom e mediante um processo depurativo em estúdio, com mixagem e masterização, o resultado final é satisfatório, com a devida ressalva em considerar-se dentro do padrão de um "bootleg", logicamente. 

Para a memória da banda e individual de cada componente, assim como para os fãs do trabalho, trata-se de um disco a conter um tesouro, e que só enriquece a trajetória desse grupo, em todos os sentidos. 

Outra boa novidade que o Kim introduziu neste álbum, há uma série de vinhetas a simular o ruído da estática, oriunda da audição de velhos aparelhos de rádio. 

Dessa forma, no início e entre algumas faixas, foi acrescida vinhetas que receberam o nome genérico como : "Rádio Pirata", para demarcá-las. Isso lembrou-me o álbum, "The Who Sell Out", do The Who, lançado em 1967, que usou de um dispositivo semelhante ao simular ser a programação de uma emissora de rádio. Neste caso, o The Who investiu mais e de fato, existem vinhetas criadas especialmente para o disco, a simular locuções radiofônicas e até intervalos comerciais a imitar propagandas comerciais a oferecer produtos, porém, mesmo que em nosso caso tal intervenção mostre-se mais simples, devo salientar que a produção do Kim foi bem interessante nesse aspecto.

A respeito das faixas em que participo, cabe uma análise mais pormenorizada.

"A Noite Inteira" 

Versão muito vigorosa e de certa maneira, muito surpreendente, pelo quesito áudio, pois a captura dessa faixa, foi feita de uma forma muito precária, através de ambientação "overall", sem separação dos instrumentos e tampouco por haver microfones para as peças da bateria, portanto, com tal instrumento a soar in natura. 

Usei um baixo da então luthieria, Tajima, réplica de um Fender Precision e ele soa pesado, no limite de uma quase distorção e lembra vagamente o som do John Wetton em seus tempos de King Crimson. 

Acho bem interessante o efeito percussivo que eu sempre fazia ao vivo, mediante o uso da palhetada nas cordas presas e apesar de não ter havido nenhuma mandada do som do baixo na mesa da mixagem, a captura natural do amplificador, soou bem. 

O som da bateria mostra-se seco, apesar da reverberação natural do estúdio de TV onde tocamos ao vivo, e o som da guitarra ficou muito interessante, pois o Kim usou uma guitarra Fender Telecaster, nesse dia, e aquela ardência típica desse modelo de guitarra, revelou-se muitíssimo agradável. 

A voz do Carlinhos no Backing vocals foi prejudicada, no entanto, pois ficou abaixo da voz principal, além da conta, mas dá para ouvir a sua participação, assim mesmo. Ressalto a energia dessa performance, que foi ótima.

"Pro Raul"

Esta versão de "Pro Raul" tem uma captura mais categorizada e já dá para perceber tal detalhe, antes mesmo da música iniciar-se, vide a voz do Kim ao anunciar a canção, com a sua voz já bem processada. Aqui, todos os instrumentos contém os seus respectivos timbres melhor cuidados e a performance é boa, com pequeninos erros pontuais, imperceptíveis. 

Bastante animada a versão e a presença do tecladista, Nelson Ferraresso, a tocar piano elétrico, Fender Rhodes, naturalmente que abrilhantou o faixa. 

Toquei com outro baixo feito por um Luthier, e igualmente a revelar-se uma cópia de um clássico, Fender Precision, desta feita ele soou com um registro mais grave e a minha performance pessoal foi correta, mas um tanto quanto comedida, pois lembro-me bem, optei por fazer uma linha sem maiores improvisos, a otimizar o tempo no estúdio e assim evitar a repetição de muitas tomadas e de fato, foi uma tentativa apenas, disponibilizada e que foi ao ar no programa de rádio.

"Maria Fumaça"

Versão com bastante swing e com múltiplos coloridos, a destacar-se a ótima atuação do Kim ao slide guitar e a condução ótima do Nelson Ferraresso, ao órgão Hammond, pois não apenas encorpou, como desenhou muito bem durante a música. 

Aqui, eu soltei-me mais e permiti-me alguns improvisos e fui feliz em minhas escolhas ao acaso, com um único vacilo, que foi motivado por uma interpretação errônea sobre o mapa harmônico da música, ou seja, achei que mudaria a chave, mas não fora a hora correta e dessa forma, mandei uma nota errada, mas corrigi em uma fração de segundos. 

Usei o mesmo Precision genérico da faixa anterior e ele soa encorpado, sem muito brilho, é verdade, mas com um timbre bom. 

Acho que o som do bumbo ficou obscurecido na mixagem da bateria e talvez a explicação tenha sido o fato do baixo ter ficado com o registro grave um pouco além da conta, por isso a caixa e o chimbau, sobressaem-se.

"Sou Duro"

Essa versão de "Sou Duro", tem um andamento levemente mais lento do que estávamos acostumados a executar ao vivo, e por isso, soa praticamente mais como um R'n'B do que Rock'n' Roll e assim, agrada-me de certa forma, pois produz mais balanço do que o normal. 

O tecladista, Nelson Ferraresso, novamente fez uso do órgão Hammond com um timbre clássico, bem ao estilo do Jimmy Smith e fez um solo duplo, muito bom. 

Usei o mesmo baixo da faixa anterior. A minha condução foi tradicional, sem muito voo, a privilegiar abrir espaço para a guitarra, que pontuou bastante e os teclados, idem.

"A Galera Quer Rock"

Nesta faixa, assim como na sequência iniciada desde a canção, "Pro Raul", há aquela carência do som do bumbo mais presente. A carga com grave ofertada pela presença do baixo, de certa forma não deixa uma lacuna na música, mas isso não supre a ausência do bumbo, sem dúvida. 

Tem dois "vacilos" generalizados da parte da banda, e um deles, parece ter sido sincronizado e assim, para o ouvinte leigo, que não conhece tais meandros da música, passa como se fosse um "arranjo" premeditado. O bumbo só aparece em momento solo, quando os demais param de tocar e aí dá para ver que a sua timbragem não foi feliz, pois está sem peso algum, quase a parecer um bumbo "trigado", com mais "Kick" do que pelo corpo da nota emitida. 

Acho que o baixo ficou um pouco mais aquém nessa mixagem e aí, é difícil distinguir as suas frases com maior nitidez. Independente dessas questões mais técnicas, trata-se de uma versão com energia.

"Maria Maluca"

Versão com bastante vigor e a mesma observação sobre timbres e mixagem das anteriores, desde "Pro Raul". A destacar-se o sonoro palavrão que o Kim aqui registrou e que às vezes usava ao vivo, durante os shows como alternativa para gerar graça, em detrimento da palavra correta da letra, que está cantada na versão oficial, gravada no álbum de estúdio. O certo é pronunciar/cantar as palavras: "no bolso", mas aqui, o Kim cantarolou algo mais incisivo, digamos assim...

"Anjo" ("Eu vi um Anjo")

Essa versão é muito boa, pela emoção que ficou impregnada na performance. Soou como deve ser, isto é, uma canção gospel (sem conotação religiosa, no entanto), como um blues emocional. Sob outro padrão de gravação, com maior capricho, aqui, tudo soa melhor, inclusive as vozes e sim, a do Carlinhos, está bem proeminente e bem timbrada. Uma performance excelente e que retrata como essa canção costumava soar naqueles tempos.

"Os Brutos Também Amam"

Boa versão desse Blues, embora eu tenha cometido alguns equívocos, corrigidos prontamente, mas mesmo assim, perceptíveis e motivados por insegurança de minha parte em torno do mapa da música. Tirante os meus pecados, foi uma boa performance geral da canção e com o mesmo padrão da gravação comentada sobre a faixa anterior, no tocante aos timbres e padrão de mixagem. Gosto do pontilhado do órgão Hammond, outra vez bem ao estilo clássico dos blues, e que lembra o som do Booker T.

As demais faixas ("Beber Até Cair", "Deixe Tudo", "Dead Flowers" e "Can't Be Satisfied"), foram gravadas por uma formação anterior e assim, eu não participei. São versões com um padrão de áudio e performance sob qualidade, perpetrada por aquela formação anterior, em linhas gerais.

Bem, no cômputo geral, trata-se de um lançamento que enriqueceu bastante a discografia da banda e a minha em particular, fiquei muito feliz por chegar ao vigésimo primeiro disco da minha carreira e com a certeza de que esse número aumentará.

Assim que recebemos a encomenda vinda da fábrica, com os dois novos álbuns lançados pela banda, ao final de julho de 2018, iniciamos os esforços em prol da sua divulgação. 

Claro, feita a devida ressalva, pois vivíamos tempos difíceis e se nos anos anteriores reclamávamos sobre a impossibilidade em contarmos com alguma exposição na mídia mainstream, sinto relatar que o panorama piorara sobremaneira, ou seja, na metade de 2018, até a mídia nanica mostrava-se intransponível e assim, os raros espaços onde dignavam-se a comentar sobre artistas marginalizados do mundo underground, nosso caso, restringiram-se aos Blogs e canais de YouTube, com pequena penetração, geridos por alguns poucos idealistas e empreendedores culturais. 

Estes, tão outsiders, quanto nós, enquanto artistas. Paciência, reclamar ou suspirar por épocas passadas onde as condições mostravam-se melhores, de nada adiantaria para mudar tal predisposição, portanto, a melhor solução revelara-se seguir em frente e a buscar tais espaços, ao invés de apenas lastimar ou atribuir a má fase vivida pelo Rock, a terceiros que monopolizaram os espaços do Show business, há décadas quando impuseram os ditos "hypes" etc. e tal.

Uma boa novidade veio do merchandising da banda, através de mais uma safra com camisetas, como as registradas nas fotos acima, sempre a movimentar positivamente a loja da banda na internet e nos shows ao vivo.

Uma resenha sobre a canção "Andando na Praia", foi publicada no Blog "Brasil Rocker", sob a condução do blogger, Mateus Freire, em julho de 2018 :        

https://brasilrocker.blogspot.com/2018/07/albuns-ao-vivo-dos-kurandeiros.html

Veio a seguir, mais um show realizado no Santa Sede Rock Bar e desta feita a comemorar o natalício do Kim Kehl. Sob uma celebração bem animada, eis que o Kurandeiro-Mor chegou à casa dos sessenta anos de idade. 

Pois é, a idade avança também para os Rockers, e o Kim atingiu essa marca, da qual o Carlinhos Machado já havia ultrapassado e eu, poucos dias depois, completaria mais um ciclo igualmente, a marcar uma aproximação desse mesmo estágio já atingido pelos meus companheiros. 

E a prova cabal, o Rock mantém-nos jovens, pois tirante alguns problemas de saúde, a atitude Rocker fez com que a sensação fosse de sermos muito mais novos do que a idade cronológica real registrada em nossos documentos. 

Kim Kehl & Os Kurandeiros em ação no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 22 de julho de 2018. Foto 1: Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap. Foto 2: Click; acervo e cortesia de Gilda Elena

Tocamos com bastante ímpeto, Edy Star apareceu e foi chamado imediatamente para cantar algumas canções conosco. Mandamos alguns temas como: "Rua Augusta", "O Bom" e "O Crivo", com a sua presença no vocal e foi muito energética a sua aparição, a animar a audiência.
Com Edy Star devidamente a cantar no pedestal ornado por uma estrela.... Kim Kehl & Os Kurandeiros em ação no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 22 de julho de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap

E ao final, o bolo providenciado pela casa, reuniu amigos em torno do Kim, que enfim, comemorou devidamente a sua chegada à vida sexagenária.
Na primeira foto, o garçom oficial da casa, Kelson "Zumbi" Calgueiro, a exibir o bolo de aniversário de Kim Kehl, para o próprio aniversariante. Na segunda foto, amigos agrupados em torno de Kim Kehl, a espera do corte do bolo. Kim Kehl & Os Kurandeiros em ação no Santa Sede Rock Bar, de São Paulo, em 22 de julho de 2018. Click da Foto 1: Lara Pap. Foto 2: Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Fernando Camacho

Foi um ótimo show, comemoramos o aniversário do Kim Kehl e estávamos contentes pelo recente lançamento dos dois discos ao vivo. Em breve, teríamos mais shows, uma pequena repercussão midiática por conta dos novos álbuns e a possibilidade para empreendermos uma mini-turnê, sob uma condição temática e prazerosa, por vários motivos.
Montagem com quatro fotos do show, citado acima. Kim Kehl & Os Kurandeiros, em ação no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 22 de julho de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap.
Agosto entrou iluminado para Kim Kehl & Os Kurandeiros, por notícias boas no campo da divulgação do novo single, perspectiva para shows, mas principalmente por uma questão de iluminação, mesmo... ocorreu que um fã do nosso trabalho, chamado, Guido Stoffel, criou uma bela luminária com o logotipo da banda, com a possibilidade de produção em larga escala, a visar as vendas para a loja da banda. Mais um item interessante, portanto e que certamente despertou a atenção dos fãs do trabalho.
Eis acima, dois exemplos, com a ação de lâmpadas usadas com colorações distintas da lamparina criada pelo amigo, Guido Stoffel, para ser comercializadas na loja de merchandising d'Os Kurandeiros. E na terceira foto, Kim Kehl e Guido Stoffel, com exemplares de álbuns de bandas pregressas do Kim em sua carreira. Agosto de 2015. Fotos 1 e 3: Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Juja Kehl. Foto 2: Click e acervo: Luiz Domingues

Outra novidade boa, Edy Star anunciou a realização de uma mini turnê a visitar diversas "Casas de Cultura", que eram equipamentos mantidos pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, espalhados em diversos bairros,da cidade e convidou, 

Os Kurandeiros para ser a sua banda base. O Power-Trio d'Os Kurandeiros, acrescido do ótimo percussionista, Michel Machado, haveria de atuar com a missão em relembrar a carreira solo do Edy, sob o viés de seu grande companheiro, de jornada, Raul Seixas. 

Um repertório a conter canções do álbum dos Kavernistas, que Edy gravou com Raul Seixas; Sérgio Sampaio e Míriam Batucada, nos idos de 1971, além do disco solo dele, de 1974 (LP "Sweet Edy"), e alguns clássicos do Raul, é lógico. Também foi incluída uma canção do seu novo disco solo, recém-lançado e muito bem produzido pelo Zeca Baleiro. 

Tratou-se de um Rock sensacional, denominado : Rock'n' Roll é Fodaço". Um ensaio foi marcado para o dia 29 de agosto, e que foi realizado no estúdio Curumim, de propriedade do nosso amigo, Fernando Ceah, vocalista e guitarrista, do "Vento Motivo". 

E um segundo ensaio ao vivo, delineou-se a seguir, como avant-première da turnê, no dia 31 de agosto e já estou a chegar nessa narrativa. 

Nesse ínterim, a repercussão do novo single, "Andando na Praia", começou a despontar. Mais um Blog lançou uma resenha, com publicação em agosto de 2018. 

Blog Limonada Hippie. Eis o link para ler a resenha:

Eis que uma nova oportunidade para tocarmos no Santa Sede Rock Bar, surgiu, e desta feita, o guitarrista, Nição Altino, que tornara-se recentemente um bom amigo nosso, marcou a comemoração de seu natalício a coincidir com o nosso show. 

Então, lá estávamos nós a tocar no Santa Sede Rock Bar, sob euforia, novamente e a festa foi de fato, durante a noite inteira, pelo natalício do amigo, além do show extra com Edy Star e uma animação que gerou um delírio. 

Fizemos o show inteiro da turnê do Edy Star, inicialmente a surpreender os presentes e foi ótimo, pois deu-nos o apronto final para o dia seguinte, quando de fato, iniciaríamos a propagada turnê: "Toca Raul", na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, bairro do extremo da zona sul da cidade de São Paulo.

Nas duas primeiras fotos, Os Kurandeiros em ação, Nas demais, com Edy Star no comando da voz. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 31 de agosto de 2018. Fotos 1, 2 e 3: Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap. Foto 4: Click, acervo e cortesia: Cleber Lessa
 
Então, foi isso, após o intervalo da primeira entrada, fizemos o show normal d'Os Kurandeiros e quase 100 % baseado no trabalho autoral, e assim, o público foi saudado por dois shows, na prática.   

"Rua Augusta" (Hervé Cordovil) / "O Bom" (Eduardo Araújo) com Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star. Santa Sede Rock Bar de São Paulo. 31 de agosto de 2018


Eis o Link para assistir no You Tube:  

https://www.youtube.com/watch?v=ttiSpx0o4r8 
 

"Negócios no Interior" (Kim Kehl), com Kim Kehl & Os Kurandeiros, no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 31 de agosto de 2018.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VlKtdqJufnQ
 

Mais flagrantes do show d'Os Kurandeiros e também da participação de Edy Star. Ao final, uma confraternização com: Kim Kehl, Edy Star, Silvia Altino (mãe do guitarrista, Nição Altino), Tili Roxy Andreotti (a usar chapéu, namorada de Nição Altino), Nição Altino, Carlinhos Machado com Thaina Yara (da equipe do Santa Sede Rock Bar e coincidentemente, aniversariante no mesmo dia) e eu (Luiz Domingues). Kim Kehl & Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 31 de agosto de 2018. Fotos 1, 2 e 3: Click; acervo e cortesia de Marcos Kishi. Foto 4: Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap            

Noitada excelente, como todas deveriam ser para o Rock, mas nem sempre é assim, eu sei e lastimo, mas esta em questão, foi muito especial e quando saboreei uma fatia do ótimo bolo ofertado pelo amigo, Nição Altino, conduzido pelas mãos de sua bela namorada, a doce, Tili Roxy, comprovei que fora de fato o prêmio final por uma celebração do Rock'n' Roll. 

No dia seguinte, 1º de setembro, iniciaríamos a turnê "Toca Raul", com Edy Star e Michel Machado como convidado especial. Casa de Cultura do M'Boi Mirim, ali iríamos nós... como vovô já dizia...

Com o bom ensaio realizado durante a semana e uma apresentação informal realizada em meio a um show regular d'Os Kurandeiros, na véspera, quando Edy apareceu e passou o show inteiro ao vivo em nossa apresentação, estávamos seguros enfim, para iniciarmos a turnê "Toca Raul" com a presença de Edy Star e também com o percussionista, Michel Machado. 
 
Bem, o primeiro ponto a observar-se em relação a esta turnê, foi o fato de que ela montara-se em sua logística a prestigiar apresentações pelo circuito de Casas de Cultura da Prefeitura de São Paulo, sob a administração da Secretaria Municipal de Cultura. 
 
Por ser equipamentos montados em bairros longínquos, espalhados pelos quatro cantos da cidade, já fiquei feliz por saber que levaríamos o nosso show para espaços tão bem-intencionados em sua missão para levar arte & cultura às populações mais carentes em oportunidades, em todos os sentidos e principalmente no tocante às questões culturais. 
 
Um prazer a mais, portanto, por poder ter contato com os moradores desses bairros tão distantes dos bairros mais centrais da cidade, que pela magnitude territorial da megalópole de São Paulo, ficam distantes da vida cultural mais proeminente da cidade. 
Alguns dias antes de realizarmos esse primeiro show da turnê, que realizar-se-ia na Casa de Cultura M'Boi Mirim, no extremo da zona sul de São Paulo, fomos informados que a banda de Heavy-Metal, Vodu, veterana dos anos oitenta e que recentemente anunciara a volta de suas atividades, também apresentar-se-ia no mesmo dia e mais que isso, uma informação vaga dera conta que haveria outras atrações no mesmo dia. 
 
Fui o primeiro a chegar ao local, no dia da apresentação e tirante as dificuldades operacionais que enfrentei para arrumar um local para estacionar, visto que o entorno do equipamento cultural mostrou-se densamente povoado por estabelecimentos comerciais, incluso um mercado ao estilo Horti-Fruti, muito movimentado. 
 
Por sorte, arrumei uma vaga muito perto e tive o apoio de funcionários da Casa de Cultura, nesse sentido. Aliás, foi a minha primeira boa impressão ali, visto que eu fui muito bem recebido e tratado, de pronto, pelos funcionários da Casa de Cultura, do mais humilde ao mandatário máximo. 
 
Outra observação boa que eu fiz ali, logo que cheguei, veio do mural de atividades, onde eu tomei ciência de que muitas atividades sob cunho nobre, eram feitas gratuitamente a atender os moradores do bairro. Aulas de línguas estrangeiras, reforço escolar, aulas de dança e artes plásticas, atividades para a terceira idade e também, muito interessante, cursos de cultivo de hortas e pomares caseiros. Tudo gratuito e apoiado por um sem número de voluntários e em sua maioria, jovens. Impressionei-me por tudo isso e por ver o idealismo e ânimo dessa rapaziada em servir a sua comunidade. 
Logo, uma apresentação iniciou-se, bem simples, com alguns músicos a dar um apoio para um grupo de dança folclórica a defender certas tradições culturais do estado do Pará. Admirei a sua apresentação feita com bastante dignidade. 
 
Havia pouco público presente, o que achei estranho, visto ser um espaço bem localizado em um ponto do bairro do M'Boi Mirim, fartamente provido por um comércio pujante, e portanto, densamente povoado. 
 
Logo avistei a figura do baterista do Vodu, Sergio Facci, e logo em seguida, outro velho conhecido, André "Pomba" Cagni, artistas que conheço desde os anos oitenta. No caso do André, sempre ativo na militância cultural e política, conversamos um pouco sobre o panorama político daquela atualidade e ele revelou-me que não candidatara-se para o pleito de 2018, visto ter empreendido tais tentativas em eleições anteriores, mas que estava na militância e logicamente apoiava certos candidatos. 
 
Bem, logo chegaram os demais membros de sua banda e os guitarristas, apesar de ser veteranos em termos cronológicos, em nossa faixa etária, digamos assim, não eram os componentes originais, mas o simpático vocalista, Andrews Góis, que cumprimentou-me efusivamente, e que estava no time dessa volta da banda às suas atividades. 
 
Eis que Carlinhos Machado chegou e assistiu comigo o final da apresentação do grupo de dança folclórica paraense. Kim Kehl também chegou e ambos tiveram dificuldades para estacionar os seus respectivos automóveis. A tarde esvaía-se, e o Vodu estava prestes a iniciar o seu show, quando Edy Star e a seguir, o percussionista, Michel Machado, chegaram.
Set List que cumprimos na apresentação. Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura do M'Boi Mirim, de São Paulo, em 1º de setembro de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

O show do Vodu começou e o PA fora contratado por eles e compartilhado conosco mediante divisão de despesas. O equipamento pertencia e foi operado por um técnico chamado, Rizzo, que sonorizara um show d'Os Kurandeiros, realizado no Templo Club do bairro do Bexiga, em janeiro de 2016. 
 
Bem, pude assistir boa parte do show do Vodu e verifiquei que a equalização e também a iluminação providenciada pela equipe do Rizzo, trabalhou bem. 
 
E a banda mostrou estar muito bem afiada, em grande forma técnica e artística, mesmo que o Heavy-Metal não seja um gênero do meu agrado, mas dentro do estilo e proposta deles, o show foi muito bom. Infelizmente, também na apresentação do Vodu, o público não apresentou um aumento do seu contingente. 
 
Uma pena, pois o palco estava bonito com um equipamento de som & luz terceirizado, sob bom nível e uma banda com qualidade a tocar.
Registros da apresentação. Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura do M'Boi Mirim, de São Paulo, em 1º de setembro de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap 

Subimos ao palco e iniciamos com uma pequena "overture" que o Kim criara, a evocar uma micro "pout-pourri" com citações de diversas canções do Raul Seixas, o alvo da nossa turnê com Edy Star. Em seguida, tocamos "Pro Raul", canção do repertório d'Os Kurandeiros e que no set list, foi denominado como "Raul foi para o Beleléu". 
 
E só então, entrou em cena, Edy Star, de fato uma grande estrela, o último membro da confraria dos Kavernistas ainda entre nós e de sua entrada em diante, foi uma sucessão de clássicos de sua carreira solo, do repertório dos Kavernistas, do qual foi membro e do Raul Seixas, seu grande companheiro de jornada artística. Não tivemos um grande contingente, mas este vibrou muito com as canções, a cantar, dançar e aplaudir com muito entusiasmo.
Flagrantes da apresentação. Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura do M'Boi Mirim, de São Paulo, em 1º de setembro de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap 

Todos nós divertimo-nos bastante nessa apresentação, e saímos muito felizes com a receptividade do público e das simpáticas pessoas que cuidam desse espaço cultural. Foi no dia 1º de setembro de 2018. Um início muito bom para a turnê, lá no bairro do M'Boi Mirim, extremo da zona sul de São Paulo.

Eis abaixo, um especial com alguns momentos da apresentação dos Kurandeiros com Edy Star e Michel Machado, na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, de São Paulo, em 1º de setembro de 2018.


Eis abaixo o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4W3N2MAwkD4

"Metamorfose Ambulante" (Raul Seixas), com Os Kurandeiros & Edy Star, na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, em São Paulo, no dia 1º de setembro de 2018.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=weP3cK45CR4


"Al Capone" (Raul Seixas), com Os Kurandeiros & Edy Star, na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, em São Paulo, no dia 1º de setembro de 2018.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=pvFCXg5-oV4


"O Crivo" (Raul Seixas), com Os Kurandeiros & Edy Star, na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, em São Paulo, no dia 1º de setembro de 2018.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hwkNoqzpCxw


"Maluco Beleza" (Raul Seixas), com Os Kurandeiros & Edy Star, na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, em São Paulo, no dia 1º de setembro de 2018.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_rDCTMM7Q6o


"Êta Vida" (Raul Seixas), com Os Kurandeiros & Edy Star, na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, em São Paulo, no dia 1º de setembro de 2018.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Tq6a5IdfBGw


"Quero Ir" (Raul Seixas), com Os Kurandeiros & Edy Star, na Casa de Cultura do M'Boi Mirim, em São Paulo, no dia 1º de setembro de 2018

Eis o Link para assistir no YouTube :
https://www.youtube.com/watch?v=Ys-OGZxSwrk
Confraternização final, pós-show. Da esquerda para a direita: Carlinhos Machado, Michel Machado, Edy Star, Kim Kehl e eu (Luiz Domingues). Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura do M'Boi Mirim, de São Paulo, em 1º de setembro de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Então, o próximo compromisso dessa turnê seria apenas ao final de outubro. Mas ainda em setembro, houve boas novas para Os Kurandeiros, no campo da divulgação. A dar início, tivemos um especial com cerca de quarenta minutos de duração na Webradio Orra Meu, de Ribeirão Preto-SP, que foi ao ar, em 7 de setembro de 2018.
Em seguida, outro bom especial na Webradio RST, de Niterói-RJ, no ar em 19 de setembro de 2018.
E para coroar o apoio bom que tivemos em Webradios nesse mês, a música: "A Galera Quer Rock" foi marcada para ser executada no playlist da Webradio Crazy Rock, entre os dias 22 e 26 de setembro de 2018.
E assim fechamos o mês, felizes por tais acontecimentos e também por perspectivas que já avistavam-se para o mês subsequente.
Eis que as oportunidades midiáticas prosseguiram no decorrer de setembro de 2018, para Os Kurandeiros de Kim Kehl. E desta feita, o convite veio da parte de um jornalista que eu muito admiro e sobre o qual, já teci inúmeros elogios ao longo do texto da minha autobiografia inteira, desde a metade dos anos oitenta, quando o conheci e desde então, ele sempre deu muita força para a minha banda na ocasião, A Chave do Sol. 
 
Falo sobre Antonio Carlos Monteiro, o popular: Tony Monteiro. Pois bem, ele cobriu com muito interesse a carreira d'A Chave do Sol, posteriormente da sua banda dissidente, "A Chave/The Key". Passou algum tempo e tornou-se um entusiasta do trabalho do Pitbulls on Crack, no decorrer dos anos noventa, acompanhou com admiração o meu trabalho com a Patrulha do Espaço nos anos dois mil e foi muito respeitoso com o trabalho do Pedra, a seguir. 
 
Ou seja, o Tony resenhou quase todos os trabalhos que eu desenvolvi na carreira, a contar as bandas que culminaram em gravar álbuns, com exceção do Língua de Trapo. E em um passado bem recente, havia resenhado um álbum de Kim Kehl & Os Kurandeiros que eu gravei, o EP "Seja Feliz" de 2016. Portanto, que prazer ter mais uma vez uma abertura midiática proporcionada por ele. 
Kim Kehl em seu estúdio particular, o "Mandioka Produções" a falar por vídeo conferência com o jornalista, Tony Monteiro, para o programa "Rock'n'Brasil" da Webradio MKK, de São Paulo-SP

Mas o entrevistado foi apenas o Kim, que gravou a sua participação via Skype, na tarde de 27 de setembro de 2018. O programa foi ao ar com várias canções do repertório da banda, incluso o novo single, "Andando na Praia" e uma boa conversa, com bom humor e bastante informações sobre o atual estágio da banda. A entrevista foi ao ar no dia 2 de outubro, com reprises nos dias 9 e 10.
Ainda em setembro de 2018, tivemos a confirmação da entrada de nosso single, "Andando na Praia", em algumas plataformas digitais para vendas, graças ao apoio que tivemos da gravadora Baratos Afins. Eis que entramos então no Spotify, Deezer e Itunes.
O nosso próximo show foi no dia 18 de outubro de 2018, no Santa Sede Rock Bar. Uma festa de confraternização de ex-alunos de uma escola, chamada "CEPEF" (Escola Estadual Professor Eurico Figueiredo), localizada no bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, foi marcada e a casa convocou-nos para tocar e entreter essa turma. Bem, estávamos acostumados a animar festas dessa natureza, inclusive por nunca furtarmo-nos ao direito de tocar fartamente o nosso material autoral, mesmo diante de tais circunstâncias excepcionais.
Uma panorâmica da banda em ação. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 18 de outubro de 2018. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap

Colocamo-nos a tocar normalmente e tirante alguns fãs da banda que estiveram desde o início a prestigiar-nos com entusiasmo, notamos que a tal turma de ex-alunos do colégio citado, preferiu reunir-se na parte externa do estabelecimento. 
 
Nada que incomodasse-nos, mas ficou a estranha constatação de que a turma inteira ignorou-nos, e não foi por que não gostaram do som ou acharam o volume muito alto, reações que seriam até esperadas, mas simplesmente em nenhum momento esboçaram ter interesse em nossa performance. 
 
Tudo bem, não incomodou-nos em nada, não estou em contradição aqui, mas apenas relatei por que achei a ocorrência, exótica, portanto cabível para esta narrativa. 
 
Noite do dia 18 de outubro de 2018. No dia seguinte, teríamos a continuidade da turnê "Toca Raul", em conjunto com Edy Star e reforçados pelo percussionista, Michel Machado.
Além de realizar mais um show d'Os Kurandeiros, o que sempre foi um prazer, por si só, eis que o nosso próximo compromisso seria mais um da turnê que iniciáramos em setembro, em conjunto com Edy Star e reforçados pelo ótimo percussionista, Michel Machado, a homenagear, Raul Seixas. 
 
Desta feita, visitaríamos a Casa de Cultura Hip Hop Leste, no bairro de Cidade Tiradentes, um logradouro longínquo do extremo da zona leste da capital paulista. 
Fui o primeiro a chegar ao equipamento cultural citado, após uma longa jornada e não sem antes estabelecer um estudo prévio mediante o Google Map, pois eu achava que o ponto mais longínquo da zona leste que eu atingira em minha vida, teria sido o bairro de São Mateus, por conta de tantas vezes em que busquei ou levei o motorista, Walter "Alemão", que ali morava, e no tempo em que este senhor servira a Patrulha do Espaço, entre 2002 e 2004. 
 
Entretanto, quando vi que o bairro da Cidade Tiradentes posicionava-se muito além de São Mateus, realmente tive que preparar-me bem, mediante indicações e sobretudo, no dia, ter muita paciência em enfrentar o longo percurso, sem familiaridade alguma com o ambiente e também pelo tráfego intenso, mesmo em um sábado vespertino. 
 
Dei sorte, no entanto, pois sabia que o endereço dessa Casa de Cultura ficava muito próximo do terminal de ônibus desse bairro e assim, quando passei por São Mateus e fitei o enorme fluxo de ônibus a seguir por uma avenida, não preocupei-me mais em seguir as minhas anotações, e simplesmente segui os bólidos. 
 
Pois bem, eis que o terminal surgiu, após uma longa jornada e de fato, logo adentrei a rua que eu procurava, no entanto, o número indicado, simplesmente não existia. Parei e pedi informação em alguns estabelecimentos comerciais e ninguém nunca ouvira falar da Casa de Cultura Hip Hop Leste, contudo, não senti-me desamparado por tal manifestação coletiva em sinal de desconhecimento, mas apenas tive a certeza que por ser a rua em questão, o local devia estar ali em algum lugar, mesmo com a numeração errada, mas ao mesmo tempo, fiquei entristecido por verificar que tal desconhecimento popular revelara-me a falta de apreço pelo equipamento cultural disponibilizado pelo poder público, da parte dos moradores do bairro. 
 
Entrei no carro e pus-me a procurar o local, cônscio de que estava perto e aí, ao passar de novo pelo enorme terminal de ônibus já citado, eis que vejo um pequeno largo acoplado ao terminal e pergunto a um guardador de carros, onde ficava o espaço e o rapaz falou-me que não fazia a menor ideia. Contudo, a memória visual do mapa que eu analisara, ocorreu-me e o espaço estava ali, cerca de trinta metros de onde o rapaz alegara não conhecê-lo. 
 
Bem, falta de interesse por cultura a parte, o fato é que a sinalização do local mostrou-se bem tímida. Uma faixa improvisada no portão principal foi a única certeza que eu tive, mas sem vacilar, entrei no espaço e constatei tratar-se de um micro sítio encravado em pleno terminal de ônibus da Cidade Tiradentes, bairro super populoso da zona leste de São Paulo. 
Flagrantes da apresentação. Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura Hip Hop Leste. Bairro Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. 20 de outubro de 2018. Acervo e cortesia de Edy Star. Click: Celso

Aí veio a parte boa da experiência em rodar tanto. Assim como houvera ocorrido no show anterior, na Casa de Cultura M'Boi Mirim, no extremo da zona sul de São Paulo, todo o pessoal da Casa de Cultura Hip Hop Leste recebeu-me com uma simpatia tremenda. 
 
Uma ativista da casa, por exemplo, logo mostrou-me as dependências e apresentou-me ao coordenador do espaço, além de abrir o camarim que ocuparíamos, porém, não sem antes trazer-me um ótimo café, feito na hora. Fui ao salão onde tocaríamos e constatei que um filme infantojuvenil estava a ser exibido sob um telão e havia poucas crianças acompanhadas de seus pais a assisti-lo. 
 
Mas antes disso, uma trupe de circo havia feito uma apresentação. De fato, assim que estacionei, notei que tais artistas estavam a guardar o seu material em seus carros particulares e assim a articular a sua partida do local. Rapidamente, em conversa com o segurança da Guarda Municipal que ali estava de prontidão, fui informado que existia um projeto de ensino de agricultura doméstica, mediante uma pequena horta comunitária. E também uma casa em anexo que servia como biblioteca. 
 
Na casa central, eram muitos os cursos oferecidos, com oficinas de artes plásticas, literatura, teatro, dança, música e informática. Continha também atividades lúdicas para crianças e para a terceira idade. 
 
Sou informado também que aquele pequenino sítio, o mini bosque e as duas casas, foram preservados propositalmente, pois a área toda fora uma fazenda cafeeira, no século XIX. Bem, fiquei bastante impressionado com tudo o que presenciei e ouvi da parte das pessoas que ali trabalhavam. Haveria uma atração musical antes de nós.
Mais flagrantes de nosso show. Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura Hip Hop Leste. Bairro Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. 20 de outubro de 2018. Clicks, acervo e cortesia da equipe da Casa de Cultura Hip Hop Leste

Vi no programa oficial da Casa, tratar-se de um cantor chamado, Diego Moraes. Confesso, não o conhecia anteriormente e torci para que fosse um artista com qualidade, não só para eu apreciar, mas para abrilhantar a noite. Logo em seguir, vejo uma van entrar no espaço e a seguir, descer de seu interior uma trupe formada por artistas e roadies. Era Diego e sua banda a descarregar o seu equipamento e iniciar lentamente a preparação do seu soundcheck no salão de apresentações. 
 
De imediato, intuí que seria um som sob qualidade perpetrado por tal cantor e sua banda, pela aura da banda e educação com a qual cumprimentaram-me. Enfim, já simpatizei, antes mesmo de ouvir o trabalho. 
 
Eis que chega à casa, Edy Star, acompanhado de um amigo seu que forneceu-lhe a carona, um produtor musical chamado, Celso. Cerca de meia hora depois, vejo Lara Pap e Kim Kehl a estacionar o seu automóvel no mesmo local onde eu perguntara a um guardador de autos da rua, onde ficava o espaço e ele respondera-me que não o conhecia. 
 
Fui até bem perto e chamei por ambos, para sinalizar que era ali e que poderiam estacionar o seu carro dentro do complexo. Carlinhos Machado chegou a seguir e por fim, o percussionista, Michel Machado. 
Nesta altura, o som de Diego Moraes & banda já estava em curso. Sonoridade híbrida, com forte influência retrô, mas com algumas timbragens e referências modernas, pareceu-me uma MPB contemporânea, mas muito robusta, com fortes doses de Soul Music, Blues, Jazz e ritmos brasileiros no seu bojo. 
 
Eu (e todos, incluso, Edy Star), fiquei/ ficamos impressionados pela qualidade das canções, arranjos e performance ao vivo. Cantor com muita qualidade técnica, Diego também era/é um performático artista no palco. E o seu visual, mediante um figurino ultra anos setenta e no uso de uma cabeleira Black Power imensa, não deixou-me dúvida que mostrara-se fortemente influenciado por música de qualidade. E a banda, ótima, gostei muito. 
 
Uma formação exótica pela ausência de um baixista, pois o seu tecladista supriu os graves com a sua mão direita e o uso de samplers modernos a imitar a sonoridade tradicional de um baixo, apresentou também: bateria, guitarra e dois sopristas, um trombone e um saxofonista. 
 
De fato, o tecladista supriu a necessidade de uma massa com frequências graves, mas um baixista de ofício na banda, encorparia ainda melhor, mesmo por que, com esse forte aceno para a Soul Music que o som dele exibiu, um bom baixista a "swingar" forte, cairia como uma luva no trabalho e para quem acha que "suprir" grave é a única função do baixo em uma banda, tenho a convicção de que é um ledo engano essa avaliação. 
 
Bem, apreciamos, aplaudimos e apoiamos a exibição de Diego Moraes & Banda, mas a constatação de haver menos de dez pessoas a assistir um show tão bom, além de ser frustrante para o artista no palco, em via de regra, acendeu uma luz amarela para nós, visto que a perspectiva não seria melhorar tal contingente, apesar da maior fama e tradição do Edy Star e sobretudo pelo apelo mais popular do nosso show, a evocar Raul Seixas.
Michel Machado e eu (Luiz Domingues) na primeira foto e Kim Kehl & Carlinhos Machado, na segunda. Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura Hip Hop Leste. Bairro Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. 20 de outubro de 2018. Clicks, acervo e cortesia da equipe da Casa de Cultura Hip Hop Leste

Então, o pessoal de Diego Moraes liberou o palco e nós rapidamente montamos o nosso backline e empreendemos um soundcheck bem simples. O público de fato não melhorou, mas nós fizemos o show normal, sem nenhum prejuízo à performance. Inclusive, foi mais firme do que o show anterior em M'Boi Mirim, fator que o percussionista, Michel Machado salientou-me ao término de nossa apresentação. 
 
Verdade, a tendência doravante seria a segurança total, para os próximos e em novembro e dezembro, teríamos muitos. Foi um show feito com bastante segurança e onde o Edy brincou muito com os poucos que ali tiveram a boa ideia em passar sessenta minutos de um sábado a ouvir-nos. 
 
Os Kavernistas, Raul Seixas e o próprio Edy foram bem homenageados, e até mesmo Os Kurandeiros, certamente. O equipamento disponibilizado deu conta, o nosso backline era bom, mas o salão mostrou-se inadequado, certamente. 
 
Sujeito a uma forte reverberação e ainda por cima com pouca gente presente, é claro que tivemos que observar dinâmica acima do normal e mesmo assim, o som não ficou cristalino. Paciência, foi o melhor que pudemos fazer e o técnico local teve boa vontade em colaborar.
Uma panorâmica da banda no palco. Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura Hip Hop Leste. Bairro Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. 20 de outubro de 2018. Click, acervo e cortesia da equipe da Casa de Cultura Hip Hop Leste 

"Rock'n Roll é Fodaço" (Zeca Baleiro/Edy Star), ao vivo na casa de Cultura Hip Hop Leste do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=kyv6URHvwWk


"Rockixe" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=PkPQgsUcL7Y

"Pro Raul" (Kim Kehl / Osvaldo Vecchione), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=O7xOJm_nSD8

"Rua Augusta" (Hervê Cordovil)/"O Bom" (Eduardo Araújo), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=rONc08gIJEM

"Sociedade Alternativa" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=MYHLUhd2RmY

"Sessão das Dez" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=G7Tf3ccmDMM

"Toca Raul" (Zeca Baleiro)/"Como Vovó Já Dizia" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste, no bairro Cidade Tiradentes, em São Paulo, em 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=NLx1RW_cpo0

"Metamorfose Ambulante" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste no bairro Cidade Tiradentes, em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=JxtQgUNy7KM

"Rock das Aranhas" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste, no bairro Cidade Tiradentes, em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=w-sHLgC-gZE

"Al Capone" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste, no bairro Cidade Tiradentes, em São Paulo, no dia 20de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=IL36UldhSKQ


Solo final em "Sociedade Alternativa" (Raul Seixas), ao vivo na Casa de Cultura Hip Hop Leste, em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.

Eis o Link para assistir no YouTube:

Melhores momentos do show completo na Casa de Cultura Hip Hop Leste, em São Paulo, no dia 20 de outubro de 2018. Com Edy Star e Michel Machado.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=O7xOJm_nSD8&t=147s 

Quase dez da noite e já estávamos a deixar a simpática Casa de Cultura Hip Hop Leste. Sem aplicativos ou GPS, não tive alternativa a não ser seguir a orientação do carro de Lara Pap e Kim Kehl, que segui e como eles costumavam obedecer fielmente o que o aplicativo indicava-lhes, foi um caminho permeado por passagens por ruas estreitas e escuras, até atingirmos uma avenida larga e fartamente sinalizada, caso da Avenida Jacú-Pêssego e dali até atingir um ponto da própria zona leste, onde eu tivesse uma mínima familiaridade visual, foram muitos Kms percorridos. 
 
Eis que vejo uma placa a indicar um caminho que levaria para alguma parte do bairro da Penha, mas daí a atravessar os demais bairros menos periféricos da zona leste e finalmente vislumbrar o centro da capital e uma saída para a zona sul, realmente demorou. Portanto, a constatação, aliás, duas: 

1) São Paulo é muito maior do que aparenta ser na teoria de sua dimensão geográfica.

2) Uma Casa de Cultura encravada em um bairro tão longínquo e carente, administrada por pessoas que tem o idealismo em torno do seu ativismo, com tanta predisposição e a apresentar tantas opções ricas em suas atividades, e tudo absolutamente gratuito, realmente não merece ter tão pouco apoio da comunidade que a cerca e pela qual, foi fundada.
Da esquerda para a direita: Kim Kehl, Carlinhos Machado, Edy Star, Michel Machado na percussão (encoberto) e eu (Luiz Domingues), só pelo detalhe do baixo. Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Casa de Cultura Hip Hop Leste. Bairro Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. 20 de outubro de 2018.

E ao chegar em casa, fiz uma rápida pesquisa no Google e descubro que Diego Moraes estava na luta, como nós. Possuía/possui muitos vídeos no YouTube, apresentava-se onde fosse possível, tinha o apoio moderado de pequenos programas de internet e tentara a fama em programa de calouros na TV, desses que diziam revelar cantores para o mundo mainstream, mas que na prática só proporcionava-lhes a fama efêmera. 
 
Enfim, foi/é mais um bom artista que merecia um espaço melhor, mas estava/está aí no limbo do underground. Que tenha boa sorte nessa luta, que eu sei bem, é muito árdua, para não dizer inglória, ante as adversidades. Bem, o próximo show dessa turnê com Edy Star, seria dali a quinze dias, e a ser realizado em uma outra Casa de Cultura de um bairro distante da zona leste, mas antes disso, estava programado mais um show regular d'Os Kurandeiros em sua rotina, extra "Turnê Toca Raul".

Continua...

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