Aconteceu no tempo do Pedra, em 2008
É comum em uma reunião informal, em
meio a uma conversação a esmo, que alguém mencione que poderia auxiliar uma outra
pessoa em algum aspecto levantado no bojo da discussão. Isso ocorre geralmente
em momentos descontraídos, onde ao se ouvir algum tipo de colocação que esteja
mais ou menos próximo da sua alçada, uma pessoa mencione que teria ao seu dispor, uma solução,
por trabalhar em um ramo que tenha a ver com a problemática ali discorrida, ou
mesmo por conhecer alguém que seria um facilitador para o interlocutor resolver
o seu problema ali exposto.
Tal predisposição é feita de uma maneira geralmente impensada,
na base do puro reflexo e imbuído por um sentimento de bom-mocismo, mas que
geralmente cessa, assim que o assunto muda dentro da roda de conversa.
No
entanto, quem está a necessitar de uma ajuda e ouve alguém espontaneamente a
apontar para uma solução plausível, interpreta tal oferecimento de uma forma literal e
cobra, mesmo que de uma forma educada, tal resolução, pois a sua agonia está
diametralmente oposta à falta de interesse de quem em vão propôs ajudar, mas na
verdade, apenas tencionara ser agradável naquele momento efêmero da conversa coloquial, sem, contudo, manter a menor intenção de ajudar de fato.
Claro que há exceção e
pessoas que não falam por falar, existem e verdadeiramente se prontificam a cumprir o
que prometeram, mas é uma realidade: a maior porcentagem de pessoas que assim
se pronunciam, na prática, mostram-se muito incomodadas ao receber telefonemas,
mensagens via internet ou até visitas presenciais, feitas da parte de quem
acreditou que poderia de fato ser auxiliado nessa circunstância descrita.
Isso ocorreu muitas vezes comigo (Luiz
Domingues), em diversas bandas por onde atuei, e eu também fui testemunha do
mesmo ocorrido com diversos colegas, em questões semelhantes.
Por exemplo, recordo-me de uma ocasião
em que eu e meus companheiros do “Pedra”, fomos participar de uma entrevista para uma
emissora de rádio e o locutor, que era bem famoso na ocasião, no meio
radiofônico, falou-nos reservadamente, ainda no estúdio da emissora, que
gostava do nosso trabalho e que gostaria de ajudar-nos a galgar degraus mais
acima em nossa carreira e para tal, ele alegou dispor de contatos com a cúpula de outras
emissoras, inclusive alojadas na difusão cultural mainstream, além de empresários e
executivos da indústria fonográfica.
Ótimo, é claro que aceitamos de bom grado
um auxílio que viesse da parte de qualquer pessoa e nesses termos, por
ser um radialista famoso, não houve motivo para não acreditarmos que ele teria
realmente bons contatos, e em segundo lugar, que estivesse sinceramente imbuído
de boa vontade para ajudar-nos.
Marcamos então uma visita ao seu
escritório para aprofundarmos esse seu gentil oferecimento, mas o que aconteceu
em tal visita, revelou-se um constrangimento sob via dupla. Isso por que, assim
que chegamos (no caso, eu, Luiz Domingues e Rodrigo Hid), notamos no semblante
desse rapaz, que ele ficara constrangido com a nossa visita.
Nessa altura,
cerca de 2008, eu já ostentava uma condição como veterano na música e no Rock, e
até o Rodrigo Hid, que ainda era bem jovem, já havia acumulado uma bagagem grande,
portanto, não ficamos nada surpreendidos com a situação, visto que não fora a
primeira vez em que deparávamo-nos com um imbróglio desse nível e inclusive, eu
e Rodrigo já havíamos passado por isso, juntos, como tripulantes a bordo da nave da Patrulha do
Espaço, anteriormente.
O rapaz foi educado, não posso
queixar-me nesse aspecto, por que ele não foi deselegante de forma alguma, pois
aceitara receber-nos, mediante o nosso contato telefônico prévio, convidou-nos
a entrar e ofereceu-nos café, todavia, o seu desconforto mostrou-se enorme, na
medida em que ficara nítido que o apoio que alardeara ofertar-nos, quando de
nossa visita à emissora em que trabalhava, fora um discurso vazio, bem naquela
predisposição efêmera sobre a qual eu aludi ao início desta crônica.
Dessa forma, sem
ter nada concreto para oferecer-nos, foi muito embaraçoso quando ele, no afã para
tentar cumprir o que alardeara-nos anteriormente, sugeriu que a melhor medida
que a nossa banda poderia adotar para buscar uma melhor notoriedade pública,
seria inscrevermo-nos em uma Rede Social da internet, chamada: “Myspace”, que
era a grande coqueluche daquele instante, por supostamente ser uma rede social
formada por artistas e aspirantes a.
Não demorou muito e tal rede entrou em um
processo de decadência acentuada, pois na prática, essa rede não levava ninguém
a lugar algum, visto que era formada essencialmente por artistas a mostrarem os seus
trabalhos, uns aos outros, portanto, servia apenas para forjar amizades com quem
pensava parecido em termos estéticos, aliás, como em qualquer rede social da
Internet.
Dessa forma, quando esse rapaz insistiu para que adotássemos tal
estratégia de divulgação para alavancar a nossa banda e mostrou-se patente ser apenas
essa a sua grande orientação, eu e Rodrigo agradecemos pela “informação”,
também pela acolhida e café, mas partimos, sem ressentimentos para com ele,
pois percebemos de imediato que a sua colaboração anteriormente expressa, houvera
sido uma clássica colocação de momento, sem nenhuma profundidade, como muitas
vezes acontece não apenas no meio artístico, mas na vida de uma maneira geral.
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