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sábado, 2 de fevereiro de 2019

Patrulha do Espaço - Capítulo 20 - Tripulante na Última Missão da Nave - Por Luiz Domingues

Eis que fui comunicado sobre o lançamento do material ao vivo a comemorar os cinquenta anos de carreira do baterista, Rolando Castello Junior, do qual participei de um dos shows em questão, em uma série de quatro, que serviu para alimentar um CD e um DVD, ao vivo. 

Bem, como já expliquei anteriormente, toda essa empreitada foi um esforço para culminar em um trabalho solo do Rolando, em tese, no entanto, pelo fato da Patrulha do Espaço em sua formação daquela atualidade de 2016, ter atuado e a nossa formação Chronophágica ter cumprido uma parte significativa do espetáculo, a relembrar e celebrar a nossa história dentro dessa banda, é claro que tanto no apelo pelo show ao vivo, em novembro de 2016, quanto no lançamento do material em CD e DVD, nesse início de 2018, pode-se considerar a nossa participação como um trabalho ao vivo e adicional da Patrulha do Espaço, propriamente dita.

Ensaio da Patrulha do Espaço, realizado no estúdio Orra Meu, em São Paulo, no dia 10 de fevereiro de 2018. Da esquerda para a direita: Rodrigo Hid, eu (Luiz Domingues), Rolando Castello Junior, Marta Benévolo e por fim, o casal formado pelos ativistas culturais, Vera Mendes & Michel Camporeze Téer. Click, acervo e cortesia: Edgar Franz (Bolívia)
 
E foi além, esse comunicado de lançamento da parte do Rolando, pois a aproveitar a oportunidade, formulou-me um outro convite, que muito honrou-me. 

Conforme eu já havia tomado conhecimento por terceiros, ele havia postado um comunicado em tom de manifesto nas redes sociais, a comunicar publicamente aos fãs da Patrulha do Espaço que resolvera encerrar a carreira da banda, e recolhê-la ao hangar, desta feita, definitivamente. 

Sendo assim, o convite do Rolando veio em torno dessa tomada de decisão, ao dizer-me que estava a organizar uma turnê final e gostaria de contar com a minha presença na formação desses shows derradeiros. Triste em princípio, mas honroso ao extremo por ser convidado a fechar a história da banda, por considerar que fui um tripulante oficial, com larga história escrita em conjunto. 

Melhor ainda, soube por ele mesmo, que Rodrigo Hid havia sido convidado para estar junto em tal esforço final e que não em todos, mas em alguns shows dessa turnê, teríamos a presença também do Marcello Schevano. 

Ou seja, seria a formação Chronophágica a fazer parte dessa turnê final, com o acréscimo da vocalista, Marta Benévolo, fixa na formação da banda, há muitos anos. Certo, consultei os amigos d'Os Kurandeiros, a minha banda naquela atualidade e sua produtora, Lara Pap, e recebi como resposta, o apoio de todos, para que eu participasse e para ir além, disseram-me que se houvesse conflito com a agenda, haveria um esforço da parte de nossa banda para mudar datas e assim, ninguém sairia prejudicado. 

E pelo lado da Patrulha, o Rolando comunicara-me que seriam poucos e bem espaçados os shows, portanto, não haveria por gerar angústia alguma para os outros trabalhos que eu; Hid & Schevano mantínhamos, regularmente. A primeira fase dessa turnê iniciar-se-ia em abril de 2018, na cidade de Curitiba, com outro show no dia seguinte, em Ponta Grossa, ambos no estado do Paraná. Havia perspectiva para dois shows na capital paulista para maio e agosto, respectivamente, um em Belo Horizonte, para junho e em aberto, a possibilidade para Brasília, Porto Alegre e uma cidade interiorana de Santa Catarina, provavelmente, Chapecó. 

Mais uma foto de confraternização pós-ensaio. Da esquerda para a direita: Rapaz não identificado, Rodrigo Hid, Edgar Franz (Bolívia), Michel Camporeze Téer, Vera Camporeze Teér, Marcello Schevano, Rolando Castello Junior e eu (Luiz Domingues). À frente de todos: Marta Benévolo. Ensaio da Patrulha do Espaço no estúdio Orra Meu de São Paulo, em 10 de fevereiro de 2018. Click (selfie), acervo e cortesia: Marta Benévolo

Então, o Rolando completou a dizer-me que viria com a Marta para São Paulo, no início de fevereiro e que gostaria de aproveitar a sua estadia na capital paulista para marcar um ou dois ensaios, para adiantarmos essa preparação. 

E foi assim, nos dias 9 e 10 de fevereiro de 2018, que encontramo-nos nos estúdios Orra Meu, de propriedade dos irmãos Schevano, para iniciar tal processo de elaboração dessa turnê final da Patrulha do Espaço e foi quando recebi as cópias de recordação do CD e do DVD comemorativo pelos cinquenta anos de sua carreira. Falo a seguir sobre tal material.

Sobre o material que recebi do Rolando, certamente que fiquei contente ao verificar a sua qualidade sonora, além das imagens (a mencionar sobre o DVD); o material gráfico de suas respectivas embalagens, recheado com fotos e texto bem escrito, farta informação técnica etc. Aliás, isso não surpreendeu-me, porque conheço o Rolando de uma longa data e na qualidade de ex-componente da Patrulha do Espaço, sei bem de seu esmero para caprichar nesses quesitos, em todos os empreendimentos dos quais coloca-se à frente, na condução da produção geral dos mesmos. E sei que ele também escreve bem, portanto, não esperaria outra resolução a não ser um material muito bem embasado.

Sobre o CD, especificamente, como já alertei anteriormente, a minha participação foi fruto de uma captura única, realizada no show em que a formação Chronophágica da Patrulha do Espaço reuniu-se para uma apresentação em conjunto com a então formação em vigor. Usamos a metade final do espetáculo para a nossa reunião e certamente que foi mágico reviver a nossa fase dentro da história da banda. A nossa formação não atuava junta desde outubro de 2004, quando da dissolução de nosso line-up. 

É bem verdade que o Marcello Schevano seguiu a tocar com a Patrulha do Espaço, reformulada, de 2005 em diante, até meados de 2008 ou 2009, mais ou menos. 

E em 2014, houve uma rápida inserção nossa, mas sem a presença de Rodrigo Hid. No caso, fora uma participação especial, onde eu e Marcello atuamos juntos com a formação regular da banda, naquela ocasião. Portanto, essa reunião do quarteto chronophágico, foi mesmo especial em novembro de 2016.

Das canções que tocamos nessa noite de 4 de novembro de 2016, no Sesc Belenzinho de São Paulo, no CD, ficaram registradas: "Ser", "Nave Ave" e "Homem Carbono". As três interpretações ficaram registradas sob muita energia. 

São de fato vigorosas e ouso dizer que estão carregadas por uma sensação diferente, muito provavelmente influenciadas pela carga emocional ali envolvida, embora eu possa atestar que no calor dos acontecimentos não registrei nenhuma anomalia decorrente disso. 

Estávamos apenas felizes pela reunião, após tantos anos e também pelo espírito da festa, visto que o que comemorou-se ali, na verdade foi a celebração pelos cinquenta anos de carreira do Rolando, portanto, houve essa sensação de honradez por estarmos a participar desse evento. 

Naturalmente que em "Nave Ave", quem comandou o teclado foi o Marcello Schavano e em "Homem Carbono", Rodrigo Hid, portanto a manter a tradição dos nossos áureos tempos dentro da Patrulha do Espaço.

Gravado pelo Estúdio Móvel Orra Meu
Técnicos de gravação e mixagem: André Miskalo, Gustavo Barcellos e Ricardo Schevano (Estúdio Orra Meu de São Paulo)
Apoio na mixagem: Rolando Castello Junior
Masterização: Gustavo Vazquez (Estúdio Rocklab de Goiânia-GO)
Direção Musical Geral (Shows de São Paulo): Marcello Schevano
Lay Out-capa/Arte Final: Marta Benévolo
Ilustrações: Nico Foti
Foto CD (capa e fundo interno): Patrícia Soransso
Fotos Shows de São Paulo: Leandro Almeida e Edgar Franz (Bolívia) & Cátia Franz
Assistente de palco: Christine Funke
Roadies: Samuel Wagner, Diogo Barreto e Santana
Formação Chronophágica ao vivo no CD:
Rolando Castello Junior: Bateria
Marcello Schevano: Guitarra, Teclados e Voz
Rodrigo Hid: Guitarra, Teclados e Voz
Luiz Domingues: Baixo e Voz 
No caso do DVD, a captura das imagens e do seu áudio, seguiu o mesmo padrão, ipsis litteris, naturalmente a agregar outros profissionais responsáveis pelas filmagens e consequente edição, posteriormente. Além disso, o grande diferencial em relação ao material contido no CD, deu-se pela inclusão de uma música a mais de nossa formação, no caso, a canção: "Vou Rolar".
Portanto, a mesma energia e sinergia imprimidas em nossa performance do CD, repete-se na versão do DVD. Claro, isso também refletiu-se na questão das imagens, através da energia empregada no palco e tanto no mise-en-scène, quanto nas expressões faciais dos quatro componentes, tal fator ficou muito claro. 
A equipe técnica envolvida tanto no show em si, quanto na produção do CD é a mesma, naturalmente, portanto, só acrescento abaixo, o pessoal específico que cuidou do DVD. 

Equipe de Filmagem: Michel Camporeze Téer, Mizael Camporeze Téer, Vera Mendes, Dener Ariani, Ronaldo Mendes, Nazir Correa, Fauto Oliveira, Alessandra Oliveira, Edgar Franz e Cátia Franz.
Edição de imagens: Michel Camporeza Téer
Filmagem dos depoimento do Rolando: Patrícia Soranso
Pós Produção de Imagens: Marcelo "Pepe" Bueno 
Arte de Capa e encarte: Marta Benévolo
Logo: Nico Foti
Fotos Capa e encarte: Santi Sombra
Arte fundo interno: Adrian Arellano
Label: Washington Santos

Músicas da nossa formação no DVD : 
1) Ser
2) Nave Ave
3) Homem Carbono
4) Vou Rolar

Formação da Patrulha do Espaço, fase Chronophágica, no DVD:
Rolando Castello Junior: Bateria
Marcello Schevano: Guitarra, Teclados e Voz
Rodrigo Hid: Guitarra, Teclados e Voz
Luiz Domingues: Baixo e Voz
Honrado por ter mais um material na minha discografia e filmografia na carreira, doravante, em 2018, a missão seria ainda mais emocionante, posso afirmar. Participar da turnê de despedida da trajetória da banda, outorgou-me a chance para escrever mais uma boa história com essa banda, mas muito mais que isso, estar no seu capítulo final, pelas circunstâncias anunciadas publicamente. Portanto, estar com a Patrulha do Espaço nesse momento, haveria de ser histórico e prazeroso, certamente.

E assim, realizados tais ensaios em fevereiro de 2018, no estúdio Orra Meu de São Paulo, os primeiros shows dessa turnê final, aconteceriam no estado do Paraná, na capital, Curitiba em 12 de abril de 2018 e no dia seguinte, na cidade interiorana de Ponta Grossa, no dia 13.

O último voo da nave interplanetária, a nave ave...

Após os ensaios de fevereiro, fiquei no aguardo das coordenadas sobre a logística da etapa paranaense da turnê e a preparar-me individualmente, quando escutei as músicas que haviam sido escolhidas para tocarmos. Nos primeiros dias de abril, eis que Rolando e Marta, enviaram-me as informações e infelizmente, houve nesse ínterim, a má novidade de que o show de Curitiba havia "caído", o que no jargão da música profissional significa que fora cancelado. 

Foi uma pena, pois uma banda dessa magnitude na história do Rock Brasileiro, não ter tido a oportunidade em tocar na capital paranaense, em sua turnê de despedida, foi algo bastante decepcionante para nós e para os fãs curitibanos e de cidades vizinhas. E muito pior ficou, quando o Junior revelou o motivo do cancelamento, a denotar uma completa falta de noção do produtor local que à nossa revelia, decidira "trocar" a nossa data a esmo, sem consulta prévia e obviamente a ignorar o fato de que a nossa banda não era local e uma mudança de datas dessa maneira, quebraria toda a nossa logística traçada para ser cumprida no estado do Paraná. 

Uma grande pena, e também motivo de chateação generalizada pelas circunstâncias e isso motivou o Rolando a postar um longo depoimento em tom de desabafo nas redes sociais da Internet, e diga-se de passagem com toda a razão e assim a reforçar o sentimento nefasto que o Brasil do ano 2018, não era terreno adequado para uma banda de Rock estar na ativa, com a devida seriedade profissional da parte dos contratantes amadores, em sua maioria, que não apresentam nenhuma noção mínima do negócio que afirmam administrar.

Conformados com o cancelamento de Curitiba, a logística paranaense foi repensada para atender somente a apresentação na cidade de Ponta Grossa, no interior do estado. Eu e Rodrigo recebemos as nossas passagens aéreas com destino a Curitiba e a nossa planificação seria chegarmos um dia antes, ou seja, o dia em que deveríamos tocar na capital paranaense. Usaríamos o dia para um ensaio e no dia seguinte, seguiríamos para a cidade interiorana de Ponta Grossa, mediante o uso de uma Van. Nessa etapa, não teríamos a presença do Marcello, infelizmente, portanto, a nossa apresentação dar-se-ia mediante o formato de um quarteto, a contar com : Rolando; Marta; Rodrigo e eu, Luiz.

Em relação a viagem, preocupei-me de imediato, com uma questão pueril, mas da qual, não tinha controle algum, aliás, ninguém tinha. O que ocorreu, foi que há meses eu acompanhava na imprensa as notícias sobre as mudanças promovidas nas regras da aviação, no tocante à questão da acomodação da bagagem, na parte interna das aeronaves. 

Até pouco tempo antes, era possível entrar com um instrumento musical de cordas, do porte de guitarra; violão ou baixo elétrico, com o chamado "soft bag" de mão, aquele invólucro mais simples para carregar o instrumento no ombro, como uma mochila. No entanto, as regras da aviação mudaram e a justificar-se pelo fato do valor das passagens ter popularizado-se ao ponto do avião ter ficado muitas vezes, mais barato que os ônibus. 

Outrora um meio de transporte elitizado, nos tempos atuais, a aviação cortara muitos benefícios com os quais agraciavam os seus clientes e agora, 2018, a bagagem de mão, fora posta em cheque ao ponto de haver uma regra sobre o seu tamanho máximo e pior, qualquer outra bagagem despachada para a ala de carga da aeronave, passara a ser cobrada. 

Resumo da ópera bufa: para levar o instrumento em um bag para dentro da cabine, havia o risco iminente de um funcionário vetar a sua entrada e dessa maneira, seríamos obrigados a despachá-los como carga comum e mediante um frágil bag de ombro, é claro que chegariam destroçados ao seu destino final... ou seja, uma questão simplória mas que angustiou-nos, eu e Rodrigo, por alguns dias a motivar uma frenética troca de informações pelas redes sociais, à cata de informações precisas sobre tais regras esdrúxulas da parte das companhias aéreas. 

Diante desse impasse, não tive outra alternativa a não ser determinar fazer uso de um Hard-Case tradicional, que fosse despachado com um mínimo de segurança de que não chegaria destroçado em Curitiba e amargar taxas na ida e na volta, a diminuir o valor do cachê. 

No caso do Rodrigo, ele resolveu viajar com duas guitarras em um Bag duplo e despachar a sua pedaleira, que seria pequena, mas que sabíamos de antemão que seria vetada pelos funcionários na companhia aérea, na hora de emitir-se o ticket de embarque...

Feito isso, a nossa saída estava marcada para as 12:40 horas da quinta feira, do aeroporto de Congonhas e ante tantas adversidades impostas pela logística aérea, comemoramos isso como um pequeno toque ameno, pois ainda mais desagradável seria se fosse marcado para Cumbica, que é um aeroporto que fica muito mais longe...

Fomos então para Curitiba, ao final da manhã da quinta-feira, dia 12 de abril de 2018. Assim que chegamos ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, eu e Rodrigo fizemos os trâmites do check-in e ao verificar que ainda teríamos um bom tempo de espera pela frente, sentamo-nos no saguão principal e tivemos uma agradável surpresa musical. Uma banda tocava no local para entreter os transeuntes. 

Repertório muito bom, regado por clássicos do Rock, Blues & R'n'B/Soul Music, mais MPB, chamou-nos a atenção pela sua qualidade sonora. Pelo que ouvíamos, devia ter duas guitarras, baixo, teclados, bateria, um pequeno naipe de metais e dois vocalistas solo, mais um pequeno coral formado por backing vocalistas. 

No entanto, a surpresa veio mesmo quando a apresentação encerrou-se e as pessoas iniciaram a dispersar, ao abrir a visão para a banda, que não havíamos enxergado até então : tratava-se de uma banda da Polícia Militar de São Paulo, com todos os músicos a tocar fardados... e quando começaram a desmontar o equipamento, vimos o apoio que tiveram de um séquito formado por roadies, igualmente policiais, que rapidamente levaram tudo para uma Van da corporação e aí, percebemos que havia também uma equipe de segurança, com outros policiais que estavam em pontos estratégicos daquela saguão, a dar apoio. 

Ora, além de ser uma banda muito boa (um dos vocalistas tinha uma voz espetacular, a lembrar cantores clássicos da Soul Music norte-americana), não havia como negar-se que eles tinham um aparato de segurança, perfeito...

Embarcamos enfim, e a não ser pela aeromoça que irritou o Rodrigo, ao pedir-lhe com certa veemência para ele deixar o bag duplo das guitarras, na parte da frente do seu pé e não atrás, ao insistir em um maneirismo sem sentido, que é regra de sua companhia, a viagem transcorreu tranquila. 

Chegamos muito bem e mediante um ônibus urbano especial, rapidamente fomos à rodoviária da capital paranaense, onde encontrar-nos-íamos com o Rolando, que já estava há dias hospedado em um hotel próximo, por conta de compromissos familiares que estava ali a cumprir. 

No período da tarde, após o almoço, estava marcado um ensaio em um estúdio local. Seria na verdade um ensaio inicial, pois por força da logística, a vocalista, Marta Benévolo, ainda não estava na cidade e a sua chegada estava prevista apenas para as vinte duas horas, portanto, um segundo ensaio foi marcado para o período noturno / madrugada.

Ensaio da Patrulha do Espaço no período vespertino em Curitiba-PR. Estúdio Old Black, no bairro do Batel. Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues, sentado), Renato Ximú (o nosso anfitrião e técnico), Rolando Castello Junior e no primeiro plano, a comandar a selfie, Rodrigo Hid. 12 de abril de 2018. Click (selfie), acervo e cortesia de Rodrigo Hid
 
Por volta de dezessete horas, fomos para o bairro do Batel, onde instalamo-nos no estúdio Old Black, comandado pelo guitarrista, Renato Ximú. Ambientação, super a ver com os anos sessenta, com fotos dos Rolling Stones (fase Brian Jones), pelas paredes, além de ícones do Folk-Rock norte-americano dessa década remota, porém muito querida, é claro que senti-me muito bem. 

Ali fizemos um ensaio bem sucinto, só para checar algumas dúvidas prementes, que foram poucas, na verdade, ainda bem. Bairro agradabilíssimo pelo fator do sossego residencial, do Batel saímos já com a noite presente. Tanto na ida, quanto na volta, pelo percurso, o Junior fez as vezes de um cicerone. Ele morara por muitos anos na cidade, do final dos anos oitenta a até quase o término da década posterior, portanto, a conhecia como a palma da mão. 

Se não fosse um grande artista, poderia ser um guia turístico excelente, pois forneceu-nos tantas informações sobre a cidade como um todo, principalmente em suas características culturais, que realmente foi um prazer ter essa conversação em todos os táxis que ocupamos na capital paranaense, nesses dois dias em que lá transitamos. 

E a minha impressão sobre a cidade só valorizou-se ainda mais, não só por tal fornecimento de informações, mas por minha própria percepção de uma cidade que é uma metrópole, mas tem uma organização notável em sua logística básica em termos de limpeza, ordem pública; ordenação do trânsito, a ostentar um comércio pujante e uma rede de serviços, excelente.

Na foto acima, o outro estúdio que visitamos, ao final da noite de 12 de abril, com o avançar pelo dia 13, em plena madrugada. No enquadramento, o set de ensaio do Rodrigo Hid. Estúdio do Nilo, no bairro Mercês, de Curitiba-PR. Click, acervo e cortesia de Rodrigo Hid.
 
Chegamos ao hotel com tempo para descansar e jantar. Marta Benévolo chegara de Brasília no horário previsto e mesmo ao mostrar cansativo para todos, lá fomos nós para o bairro Mercês, uma parte mais alta da cidade, portanto mais fria. 

Ainda era o início de abril e mesmo assim, ao tratar-se de Curitiba que é tradicionalmente a capital mais fria do país, claro que ficou mais gelado para todos, com direito a uma névoa. 

Ensaiamos das 23 horas até cerca de 1:30 horas da madrugada, no estúdio do Nilo, bem confortável e bem equipado. Com um arsenal de guitarras, violões e baixos vintage pelas paredes, claro que ali também caracterizou-se como uma ambientação bem 1960's/ 1970's, ou seja, meio caminho andado para a vibração ser boa na hora de ensaiar.

A banda, apesar do cansaço e avançar do trabalho pela madrugada adentro, esteve feliz nesse bom ensaio realizado. Da esquerda para a direita: Rodrigo Hid a comandar a "selfie", eu (Luiz Domingues), Marta Benévolo e Rolando Castello Junior. Estúdio do Nilo, no bairro Mercês, de Curitiba-PR. 12 para 13 de abril de 2018. Click (selfie), acervo e cortesia de Rodrigo Hid
  
E foi mesmo agradável e produtivo ensaiar ali, apesar do avançado da hora, cansaço generalizado e com direito a deslocamentos aéreos e seus inevitáveis percalços burocráticos a ser cumpridos pelos aeroportos...

O set de ensaio de Rodigo Hid, no ensaio. Patrulha do Espaço a ensaiar em Curitiba-PR, no estúdio do Nilo, no bairro Mercês. 12 para 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Rodrigo Hid

Encerrado o ensaio, que foi muito produtivo e deu-nos a segurança definitiva para fazermos o show sem dúvidas prementes no dia seguinte, ainda ficamos a conversar com o simpático proprietário do estabelecimento, um guitarrista Rocker, a professar dos ideais, como nós. Entretanto, a madrugada avançara e a despeito de ali estar bem agradável a estada, chamamos um táxi e fomos para o hotel, descansar, enfim. 

Não tínhamos atividades matutinas, portanto, o sono atrasado pôde ser sanado e a logística do dia seguinte previu a saída do hotel, rumo à Ponta Grossa, por volta de 13:30 Horas. 

Viagem curta, com cerca de cento e vinte Km de distância apenas de Curitiba, não haveria por gerar contratempos, assim desejamos, mas a lembrar dos tempos de nossos infortúnios com o nosso ônibus, nos anos 2000, eis que pequenos revés estavam a aguardar-nos.

Descansados, banhados e com o estômago abastecido, aguardamos no saguão do hotel a chegada da van contratada. Apuramos que trava-se de um motorista que já trabalhara com a Patrulha do Espaço, várias vezes nas fases posteriores à nossa (eu e Rodrigo), de 2005 em diante, portanto, tratava-se de uma pessoa da confiança do Rolando Castello Junior. 

Um roadie local viajaria conosco, também um profissional bem competente e com serviços prestados ao Rolando, há tempos. E mais uma surpresa agradável: Suka Rodrigues, a viúva do grande artista, Ivo Rodrigues, proeminente guitarrista/compositor e cantor das seminais bandas paranaenses, "A Chave" e "Blindagem", o que em termos de história do Rock paranaense, equivaleria a dizer que ele tocara nos Beatles e também nos Rolling Stones...

Indo além, o Ivo tinha uma relação muito próxima com a Patrulha do Espaço, pois a nossa banda gravara algumas canções suas nos anos oitenta e nessa noite em Ponta Grossa, estava programado que tocaríamos a canção: "Berro", uma composição de sua autoria e lançada no LP de 1981. 

Portanto, ter a Suka Rodrigues entre nós nessa viagem, seria um prazer, pois ela representaria o Ivo nesta homenagem. E além do mais, a Suka também era minha amiga virtual há anos e nós havíamos tido um encontro pessoal no ano anterior, em agosto de 2017, quando ela esteve em São Paulo e presenciou uma apresentação d'Os Kurandeiros, fato relatado com detalhes no capítulo correspondente da cronologia dessa banda em minha autobiografia. 

O simpático roadie também já havia chegado ao hotel. Chamava-se Jardel, e ali travamos uma conversação agradável enquanto esperávamos a chegada da Van, quando ele contou-me que atuava com bandas de Rock, há muitos anos, e por ser músico também, fazia parte de uma banda orientada pelo Folk-Rock norte-americano, dos anos sessenta e setenta. 

Esplêndido, a conversa girou animadamente sobre o lendário "CSNY"; os discos solo de Neil Young; Bob Dylan e que tais, ou seja, só coisas boas. Finalmente chegou a Van e infelizmente, o atraso perpetrado pelo seu motorista, tratou por colocar uma pimenta no bom astral, que estava para lá de doce, até então. 

Apesar do rapaz ser muito tranquilo, simpático e solícito, tal atraso atrapalhou-nos não só pela questão do clima ter pesado, mas por desencadear um problema que enfrentaríamos já em Ponta Grossa.

Apelidado como "Bolívia", não recordo-me de seu nome. A viagem foi tranquila, apesar de tais apreensões relatadas acima, porém, inevitavelmente, chegamos nessa cidade interiorana com substancial atraso e como resultado prático, ao invés de podermos descansar um pouco no hotel, tivemos que tomar posse dos quartos, guardar a bagagem pessoal e sair imediatamente para o local do evento, pois o horário do soundcheck, estava para acontecer.  

Para amenizar essa pressa desmedida, eis que ao chegarmos ao hotel, fomos recepcionados por um fã inveterado da Patrulha do Espaço, que não só viajara de Curitiba para assistir-nos, como colocou-se à disposição para ajudar como assistente de produção. 

Isso não foi algo improvisado ali no calor dos acontecimentos, pois o Junior já havia combinado isso previamente há muito tempo, mas foi providencial contar com a ajuda do simpaticíssimo, Cristiano Rocha Affonso da Costa. 

Fã da Patrulha do Espaço há muitos anos, baterista de uma banda de Rock de São José dos Pinhais-PR, chamada: "Matilda Rock Band", sendo também um militar com alta patente e com diversas especializações; escritor com livros técnicos publicados e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. 

Acompanhado de sua esposa e não menos simpática, Lorena Bindo Affonso da Costa, o casal recebeu-nos no saguão do hotel com extrema cordialidade. 

Ali, rapidamente, pois o tempo urgia, enquanto voltávamos a correr para a Van, com destino ao local do show para realizarmos o soundcheck, ele relatou-me que fora a um show da Patrulha do Espaço, de nossa formação, em Campinas-SP, no ano de 2000, ocasião em que estava naquela cidade interiorana paulista, a cumprir seus estudos na escola de cadetes do exército, mas que por força das circunstâncias, não assistira o show, mas apenas abordara-nos durante o período vespertino, quando estávamos a preparar o soundcheck. 

Não lembrei-me dessa ocorrência, apesar de ter uma memória de longo alcance, muito boa, mas ele compreendeu o meu esquecimento e de fato, além de tratar-se de uma lembrança muito remota, de fato, conversamos com muitas pessoas em situações assim, e lembrarmos dos pormenores sobre todas, é realmente muito difícil.

No momento do soundcheck, no palco montado no Parque Manoel Ribas, em Ponta Grossa-PR, na tarde de 13 de abril de 2018. Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Marta Benévolo, Rolando Castello Junior e no comando da selfie, Rodrigo Hid. Click (selfie), acervo e cortesia de Rodrigo Hid      

Fomos rapidamente para o soundcheck e o local foi um Parque Público, no centro da cidade de Ponta Grossa. Cerca de quinze minutos perdidos a mais, por conta do impasse em achar-se um local adequado para a Van ficar perto do palco, eis que conseguimos, lograr êxito, enfim. Apesar da correria toda, deu para fazer um soundcheck satisfatório. 

O equipamento providenciado pela produção, não foi de primeira linha, mas o seu proprietário e técnico de áudio, fez um bom trabalho, devo reconhecer isso e assim, o som arrumado no soundcheck, deu-nos a devida confiança de que o nosso show seria bom.

A banda a realizar o soundcheck. Ponta Grossa-PR, 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso da Costa
 
Apesar desse conforto ao perceber que apesar dos pesares essa produção seria mínima o suficiente para darmos um bom recado aos fãs de Ponta Grossa-PR, a tensão gerada ainda pelos atrasos acumulados, pairou no ar. Tínhamos, ao término do soundcheck, cerca de meia hora para voltarmos ao hotel e retornar o local do show. 

A banda de abertura ainda nem tinha aparecido para fazer o seu soundcheck, mas o horário previsto para a sua apresentação já estava para iniciar-se. Em suma, foi quando o imponderável ocorreu, em uma decorrência óbvia do fato da nossa saída de Curitiba ter precipitado um encadeamento de eventos mal-sucedidos. 

Com pressa e nervosismo instaurados naquela Van, eis que já dirigíamo-nos de volta ao hotel, quando em um determinado cruzamento, o nosso simpático motorista, distraiu-se e simplesmente não parou, mesmo ao estar claro que a preferencial seria de quem transitava pela perpendicular. 

Vimos um motociclista a subir com razoável velocidade e pela sua postura, munido da certeza de que a preferencial era sua (e o era, de fato), não esboçara nenhuma intenção em frear, portanto, quando sentimos que o nosso motorista também não fez menção em pisar no freio, só deu tempo para gritarmos, uma interjeição coletiva, simultânea e instintiva ao pronunciarmos em uníssono a palavra: -"cuidado" ... porém, o impacto foi inevitável, com o motociclista ao ser atingido em cheio, mediante um estrondo violento. 

Pela impressão inicial, pensei que o rapaz havia ferido-se gravemente e a sua moto estivesse arruinada. Mas qual não foi a nossa surpresa quando o vimos levantar-se e ao fazer um autoexame, o próprio acidentado verificou que não sofrera nem um arranhão, sequer. 

A seguir, examinou a sua moto, que aliás era uma bela, Harley Davidson, portentosa e esta também pareceu-lhe intacta. Já a polaina frontal do para-choque da Van, estava arrebentada. 

Enfim, o susto foi enorme, mas o rapaz estava bem e a sua moto sem grandes avarias, portanto, mediante uma troca de contatos, o rapaz nem cogitou chamar alguma autoridade para lavrar um boletim de ocorrência e liberou-nos. 

Para quem estava sob extremo atraso, parar por conta de um acidente desse porte... enfim, com o tempo exíguo, realmente não deu para relaxar no pré-show, mediante o conforto do bom hotel onde hospedáramo-nos e assim, só deu tempo para trocar de figurino e lá fomos nós de volta ao local do show...

Uma panorâmica da banda no palco. Vê-se a figura do amigo, Cristiano Rocha Affonso da Costa, ao lado esquerdo, sentado. Ele apoiou-nos também como roadie, além de ter fotografado a banda em ação. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso da Costa. Click: Lorena Bindo Affonso da Costa
 
Chegamos ao local e a banda de abertura já havia encerrado o seu espetáculo. Fui informado que os rapazes tocaram covers orientados pelo Pop Rock. Tudo bem, cada um com as suas escolhas, mas teria sido muito mais adequado uma banda autoral a mostrar o seu trabalho. 

Bem, 2018 em curso, e os conceitos de outrora estavam cada vez mais distantes da realidade com a qual convivemos, décadas atrás e nesse aspecto, amargávamos uma mudança de mentalidade, obviamente para muito pior, no âmbito cultural. 

Momentos individuais do show. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
O show começou com grande energia, através de músicas tais como: "Robot" e "Deus Devorador", temas pesados, no limiar do Heavy-Metal e oriundas do LP "Patrulha '85", que em nosso tempo à frente da banda, evitávamos por destoar da nossa proposta mais Vintage Rocker que tínhamos. 

Entretanto, novos tempos ou melhor, últimos tempos dessa banda, nem tínhamos como esboçar contestar. Primeiro por sermos, eu e Rodrigo Hid, ex-membros convidados para tal esforço final, portanto, sob uma situação sui generis para emitir opiniões mais contundentes no sentido da montagem do repertório. Nesse caso, acatar o desejo do Rolando, o membro fundador e decano da banda, em sua derradeira turnê, sem dúvida que foi a postura mais respeitosa. 

E em segundo lugar, pelo fato de ter sido a derradeira turnê, e assim, o repertório haveria de ser o mais abrangente possível, dentro da discografia completa da banda e nesse aspecto, eu e Rodrigo sabíamos que seria necessário respeitar tal representatividade com músicas de todos os discos. 

E um terceiro aspecto, mas igualmente importante, a proposta de nossa fase estava bastante diluída. Assim que a nossa formação dissolveu-se em 2004, a Patrulha do Espaço seguira em frente a resgatar o seu elo com o Hard-Rock mais pesado, a beirar o Heavy-Metal e portanto, tirante fãs antigos, a garotada que esteve a acompanhar mais de perto dali em diante, foi a turma da camiseta preta e a gesticular o indefectível sinal do malocchio, portanto, a resignação haveria de ser o remédio para se lidar com tal panorama adverso aos nossos anseios chronophágicos...

Mais momentos do show pela lente de Marina Semensati. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
Mas tivemos momentos muito mais Rockers, não só quando tocamos temas de nossa formação, mas o material mais antigo da Patrulha do Espaço, que tem o seu élan setentista, é claro. Por exemplo, a nossa interpretação da balada, "Berro", foi emocionante. 

Aquela desdobrada ultra setentista, o teor da letra, o solo de guitarra e baixo simultâneos ao final... confesso que tive muito prazer em executar tal bela canção de autoria do Ivo Rodrigues e lembrar-me da boa fase da Patrulha do Espaço, quando a conheci pessoalmente, ao aproximar-me de seus componentes, no início dos anos 1980, e fase pela qual mantinha a admiração explícita desde então. 

Além do fator emocional, em saber que Serginho Santana e Dudu Chermont já não estão mais entre nós, e o mesmo em relação ao próprio autor da canção, o Ivo Rodrigues, portanto, com os três a viver no condomínio celestial, digamos assim.

Momentos do show. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
Havia certamente, muitos fãs da Patrulha do Espaço. Fomos abordados por muitos deles com discos em mãos, à caça de autógrafos e logicamente que isso foi muito gratificante. Mas não vou mentir e dizer que a massa foi formada por Rockers, e fãs incondicionais de nossa banda. Essa associação automática só era possível nos anos setenta e pôs-se a diluir com o tempo, lastimavelmente, nenhuma novidade, portanto. 

Mas, longe disso, ao menos tivemos ali uma plateia interessada e respeitosa, não posso deixar de reconhecer isso. Muitos não tiveram vergonha para nos abordar ao final para expressar, até ingenuamente, eu diria, que havia-nos conhecido ali no show, portanto, ficou a impressão de que muita garotada ali presente, estava pelo embalo e surpreendeu-se com uma banda inteiramente desconhecida aos seus parâmetros, mas que haviam apreciado. 

Sinal dos tempos, certamente, uma banda a fazer turnê de despedida da carreira, com quarenta e um anos de labuta, e uma discografia enorme... enfim, se fôssemos norte-americanos ou europeus seria um outro nível de interesse, mas o Brasil era/é isso aí...

Mais momentos do espetáculo. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Marina Semensati
 
Bem, o show prosseguiu e ao final, gerou-se uma comoção, a confirmar as minhas impressões anteriores, isto é : havia fãs verdadeiros da Patrulha do Espaço e uma garotada despreparada, mas interessada e nessa soma improvável, a ovação concretizou-se e motivou um pedido para um duplo "bis" e para a nossa satisfação, a sensação final de que foi prazerosa e muito bem sucedida a nossa performance.
Instantes finais do espetáculo. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso da Costa. 

Não é uma filmagem primorosa e o áudio é muito precário em alguns momentos, mas eis um apanhado do show em Ponta Grossa que a TV Educativa de Ponta Grossa-PR, produziu e que foi ao ar, cerca de um mês depois do show. Louvo a boa vontade da equipe dessa emissora em ter feito tal filmagem, certamente por tratar-se de um registro que há de entrar para a história da banda, em seus momentos finais

Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=FQA5HYC5PHg  

 
Após o término do espetáculo e abordagem dos fãs nos bastidores, foi bem tumultuada a nossa evasão do local, pela obviedade de uma estrutura de show ao ar livre, em parque público. Faltou apoio policial ou com seguranças particulares, que fosse. 

Aliás, falei em parágrafos anteriores, super bem da capital, Curitiba, que visitara no dia anterior e mesmo sob a pressa total e o stress instaurado, devo acrescentar que pelo pouco que observei, Ponta Grossa é uma cidade pujante, com muitos recursos, conforto, ótima infraestrutura e tudo mais, mas uma coisa eu percebi nas duas cidades e talvez seja uma falha do governo estadual do Paraná, pois a atribuição da segurança pública é do estado, mas o fato é que em ambas as cidades que eu visitei, achei o policiamento pouco presente na ação preventiva. 

E ali, na hora dessa saída, senti ainda mais a falta desse apoio fundamental para nós em tal instante, sob forte assédio. Por sorte, tratou-se de um grupo de fãs imbuídos das melhores intenções para conosco, mas o fato é que estivemos à mercê e se não fosse uma turma amistosa...

Com o grande, Cristiano Rocha Affonso da Costa, músico (baterista da banda de Rock paranaense: "Matilda"), ativista cultural, militar com alta patente, escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, pesquisador e um especialista em mediar conflitos com alta periculosidade, sendo mestre palestrante sobre o tema e autor de livros técnicos sobre tais técnicas especiais para resolver conflitos extremos. E também, dono de uma personalidade incrível, pela sua bondade fora do comum, simpatia e amizade. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click (selfie), acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso da Costa. 
 
Após o encerramento e saída do Parque Manoel Ribas, fomos a uma boa cantina italiana da cidade e o jantar foi agradabilíssimo, entre amigos. E o repouso, no confortável hotel, o bálsamo para coroar a sensação do dever cumprido. Mais que isso, foi um recado bem dado aos fãs e para os novos fãs que ali angariamos, o fato de desconhecer a nossa trajetória mediante "apenas" quarenta e um anos de carreira, naturalmente que não foi sua culpa, tampouco nossa, mas deste país que cuida muito mal dos setores da educação & cultura, portanto, artistas como nós, ficam a margem da difusão mainstream, e dessa forma, o nosso trabalho não tem como chegar à percepção deles.
Ao final do show, a banda no palco, perfilada em foto de Marina Semensati. e na segunda foto, a banda e sua comitiva no restaurante, "La Gondola", em Ponta Grossa-PR. Do alto, no sentido horário: Rodrigo Hid, Jardel (roadie), Lorena Bindo Affonso da Costa, Cristiano Rocha Affonso da Costa, Rolando Castello Junior, Marta Benévolo, Suka Rodrigues, "Bolívia"(motorista da van) e eu (Luiz Domingues). Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso da Costa. Click: Garçom

No dia seguinte, não tínhamos compromissos com a banda. Apenas voltaríamos para Curitiba, a fim de dispersar a comitiva. Eu e Rodrigo tínhamos voo marcado para São Paulo, no início da noite; Marta e Rolando ainda ficariam por lá, por mais alguns dias por conta de compromissos particulares. Despedimo-nos na rodoviária de Curitiba e de lá, eu e Rodrigo fomos para o aeroporto Afonso Pena, onde ainda tivemos uma longa espera pelo nosso voo. Embarcamos e antes das 21 horas, eu já estava em minha residência, em São Paulo, para relaxar. Dali em diante, a programação dessa turnê só previra um novo encontro em maio de 2018. Um show em São Paulo, no Sesc Pompeia e sob condições emocionais além da nossa própria despedida, pois a nossa apresentação estaria inserida no contexto de uma celebração da gravadora Baratos Afins, portanto, muitos signos em comum deveriam ser compartilhados nessa festa.

Continua...

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Patrulha do Espaço - Capítulo 19 - Reencontro, Tesouros Resgatados & Pérolas Novas Encomendadas - Por Luiz Domingues

Após a minha participação como convidado de um show da Patrulha do Espaço, na condição de ex-componente, em junho de 2014, uma nova ocorrência com a minha ex-banda apresentou-se no decorrer de 2016. Através de uma mensagem via "inbox", pela Rede Social Facebook, o Rolando Castello Junior, disse-me que planejava lançar uma nova coletânea da banda e que nesse novo álbum, haveria a presença de mais algumas músicas da formação da qual fiz parte, algumas extraídas dos álbuns oficiais de estúdio que gravamos e outras decorrentes ainda daquele material que graváramos ao vivo em uma temporada realizada no Centro Cultural São Paulo, em julho de 2004. 

De fato, da gravação de três shows dessa mini temporada no CCSP, em 2004, lançamos o disco "Capturados ao Vivo no CCSP em 2004", mas lançado em 2007. é bom salientar), e anos mais tarde o Junior lançou mais uma canção ao vivo dessa gravação/formação, em um álbum híbrido, com material inédito e proveniente de uma formação mais moderna (em 2012, através do CD "Dormindo em Cama de Pregos"), na condição de "Bonus Track", no caso, a canção: "Rock com Roll". 

Agora, a meta seria uma coletânea a apresentar material da banda, tanto em faixas de estúdio, quanto ao vivo, produzidas no período pós ano 2000, como uma espécie de continuação da tetralogia "Dossiê Volumes 1, 2, 3 & 4, que fez um apanhado de toda a carreira da banda, entre 1980 a 2000, com exceção dos dois anos iniciais das suas atividades (1977/1979), a conter os dois primeiros discos da fase com Arnaldo Baptista, suprimidos por conta de direitos autorais presos a uma gravadora/editora, irredutível em ceder tal material, uma pena.

Fiquei contente com a novidade, é claro, e mantive-me na expectativa de tal lançamento. Esse contato ocorreu por volta de abril de 2016. Mais ou menos em agosto do mesmo ano, o Junior abordou-me novamente, ao dizer-me estar com o disco pronto e que gostaria de entregar-me um lote de CD's da minha cota pessoal de recordação e a pedir-me para ficar também com o lote de Rodrigo Hid, com o qual marquei um café posteriormente, para entregar-lhe o seu material. Pois foi assim então, na noite de 28 de agosto de 2016, encontrei-me com o Junior e sua atual esposa e vocalista da Patrulha, Marta Benévolo, no saguão do hotel onde estavam hospedados, no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo. Ali, conversamos sobre os velhos tempos de nossa formação e mais detidamente sobre o lançamento dessa nova coletânea, em questão.

Denominada, "Aventuras Rockeiras no Século XXI", apresenta uma boa retrospectiva do que a Patrulha do Espaço produziu no novo século, a englobar logicamente a formação "Chrophágica", da qual fiz parte e com espaço generoso na concepção desse álbum, eu diria. Ao extrair algumas canções de cada álbum, do CD "Chronophagia", para frente, incluso mais duas inéditas do mesmo bojo de canções gravadas para o disco ao vivo de 2004, a nossa formação ocupa mais da metade dessa coletânea. Sobre o critério de escolha do material, o Junior disse-me ter decidido-se a priorizar mais os Rocks tradicionais e o Hard-Rock, já a projetar para o futuro o lançamento de uma segunda parte dessa coletânea, desta feita centrada no material progressivo e psicodélico que a banda produziu e certamente, se confirmar tal lançamento, tende a ser mais um disco baseado em nossa formação, pois as formações que sucederam-nos, levaram a banda para um trabalho mais pesado, quase ao limite do Heavy-Metal, doravante.

Sobre o nosso material, então, as escolhas foram as seguintes:
1) CD Chronophagia - "Ser", "Tudo Vai Mudar" e "Retomada"
2) CD ".ComPacto" - "São Paulo City", "Louco um Pouco Zen" e "Homem Carbono"
3) CD "Missão na Área 13" - "Universo Conspirante", "One Nighter", "Rock com Roll", "Vou Rolar", "For Loonies Only" e "Trampolim"
4) CD "Capturados ao Vivo no CCSP em 2004" - "Sai Dessa Vida" e "Vampiros".

A respeito do material extraído dos álbuns de estúdio não há muito a acrescentar, pois já foram amplamente comentadas em capítulos anteriores. Falo então sobre as duas canções que não entraram no álbum ao vivo, gravado em 2004. Trata-se de duas músicas clássicas do repertório antigo da banda, oriundas da fase do trio dos anos 1980, composto por Junior/Serginho/ Dudu. 

Nota-se em ambas uma pegada setentista acentuada, ainda ao sabor do Rock brasileiro daquela década e mesmo tendo sido gravadas no início dos anos oitenta, pelo trio clássico citado, a intenção da banda ainda rezava por tal cartilha tradicionalista e portanto, quando gravadas ao vivo pela nossa formação "Chronophágica", evidentemente que tiveram em nossa interpretação, a mesma intenção, naturalmente.

Em "Sai Dessa Vida", impressiona o som de baixo nessa captura. O Fender Precision ronca forte ao extremo. O riff inicial em 7/4 fica naquele limiar entre o Hard e o Prog-Rock. Solos muito vigorosos e uma interpretação vocal solo de Rodrigo com muita força. Junior arrebenta com a levada e as viradas.

Sobre "Vampiros", essa canção que é uma composição do saudoso, Ivo Rodrigues (sei que não consta do crédito oficial, mas o baixista, Carlão Gaertner, garantiu-me que essa canção tem a participação na autoria, de todos os componentes d'A Chave, e não somente o Ivo, como ficou marcado), ex-guitarrista e vocalista das lendárias bandas paranaenses, "A Chave" e "Blindagem". Nessa versão, Rodrigo Hid mais uma vez brilha no vocal solo. 

É bem verdade que o andamento está bem mais acelerado do que a gravação original de estúdio feita pela Patrulha, mas creio que tal entusiasmo soa bem nessa versão ao vivo. Marcello e Rodrigo brilham nas guitarras e o meu baixo, Fender Precision, segue o padrão da faixa anterior, com uma timbragem aguda, ardida, alguns graus a mais do que eu normalmente equalizo no amplificador para shows ao vivo, mas certamente fruto da masterização do CD que deve ter realçado os agudos, sobremaneira. 

A parte do solo principal que foi feita desdobrada, tem um belo arranjo, gosto muito da sincronia de guitarras e baixo. O Junior arrebenta, impressionante como até em uma levada aparentemente tranquila, ele dá um jeito de torná-la sofisticada, e com uma empolgação Rocker que só quem viveu os anos 1960/1970, sabe o que realmente isso significa. 

Os backing vocals são simples, mas aparecem com força. Ao ouvir no headphone, o leitor/ouvinte, encontrará a minha voz ao lado direito e a do Marcello, no esquerdo.

Para falar da concepção geral do CD, a masterização foi feita no estúdio Rocklab, em Goiânia-GO, sob a batuta do amigo, Gustavo Vasquez. Toda a parte de ilustrações ficou a cargo de Marta Benévolo e "Cerrado Goiano" e nesse caso, sinceramente não sei se este último trata-se de uma brincadeira, uma pessoa ou um espaço/estúdio onde foi feito o trabalho. As ilustrações aludem ao espaço sideral/astronautas e motivações análogas. Na capa principal, vê-se um foguete de concepção "futurista" ao sabor dos anos cinquenta do século passado, encravado no solo de um planeta/asteroide e três astronautas do lado de fora, a carregar baixo; guitarra & prato de bateria, e a usar uniformes espaciais bem ao estilo "retrô", a parecer uma ilustração de Comics / HQ dessa época, portanto, sob numa concepção muito bonita e lúdica ao mesmo tempo.
Na parte interna, são várias lâminas, a apresentar o padrão típico das coletâneas produzidas pelo Rolando, com texto muito bem escrito, ao explicar o teor do lançamento e situar o leitor / ouvinte na história enfocada da banda nesse período proposto; informações técnicas precisas sobre as canções; o disco em si; recheado com fotos das respectivas capas dos álbuns que cederam canções para a coletânea, e das formações da banda envolvidas nesse contexto. Produção geral e concepção de Rolando Castello Junior.
Luiz Domingues & Rodrigo Hid em 31 de agosto de 2016, em uma padaria da Vila Mariana, zona sul de São Paulo, ocasião em que além do café e da boa conversa, celebramos o lançamento da coletânea, "Aventuras Rockeiras no Século XXI", da Patrulha do Espaço, na qual ambos estamos representados em várias faixas provenientes de nossa participação na formação "Chrophágica" dessa banda. Click (selfie), acervo e cortesia: Rodrigo Hid

Alguns dias depois de receber tal material das mãos do Junior, marquei um café com o Rodrigo Hid e entreguei-lhe a sua cota de CD's desse lançamento. Assim, em 31 de agosto de 2016, encontramo-nos na padaria da esquina da minha rua e pudemos colocar a conversa em dia, e eu a entregar-lhe o material.

Achei que o próximo reencontro com ex-companheiros da Patrulha do Espaço dar-se-ia em um ano aproximadamente, com o possível lançamento do segundo volume dessa coletânea que o Junior disse-me estar a planejar e produzir, mas na verdade, veio bem antes e com direito a um show de reunião histórico e emocionante para todos. E melhor ainda, ao abrir outra oportunidade para um disco ao vivo a mais, gravado em pleno 2016... conto sobre essa aventura, agora

Conforme relatado anteriormente, a coletânea denominada "Aventuras Rockeiras no Século XXI", fora lançada em 2016, a compreender um farto material da Patrulha do Espaço, focado na produção pós 2000, e logicamente como sugere o título da obra.
Não repetirei a análise que já fiz amplamente acima, mas realço que claro que ficamos todos (ao referir-me aos componentes de nossa formação), contentes com a inclusão de farto material de nossa fase e indo além, acho que na verdade, com predominância acentuada. 

Contudo, ainda em 2016, teríamos mais uma boa surpresa, motivada por outra produção pela qual o baterista Rolando Castello Junior empenhou-se e desta feita, ao constituir-se em uma celebração sua, pessoal, mas logicamente a respingar em todos que interagiram com ele nos diversos trabalhos que ele realizou em sua carreira. A ideia em que estava a trabalhar seria a de realizar uma série de shows, a aludir aos seus principais trabalhos na carreira, e a primeira frente seria agrupar companheiros de diversas jornadas, e claro que tal produção não seria nada fácil, em princípio.

Ao final, quando uma logística delineou-se em torno dos companheiros que confirmaram presença nas apresentações, os shows foram montados da seguinte maneira: Patrulha do Espaço em formação atual + formação Chronophágica, Aeroblues e Inox.

A turnê foi montada para acontecer em São Paulo, Curitiba & Buenos Aires, e tudo foi gravado e filmado. Portanto, sob uma segunda etapa e isso ocorrerá ao final de 2017/início de 2018, certamente, uma caixa será lançada com CD's e DVD's, fruto desses shows realizados. A caixa será naturalmente focada no espetáculo comemorativo dos cinquenta anos de carreira de Rolando Castello Junior, no que ele considera o início de sua carreira, em 1966, quando tinha apenas treze anos de idade. Ou seja, dez anos antes do meu início, que ocorreu em 1976.

Foto de nossa formação da Patrulha do Espaço, em fevereiro de 2001. Click de Ana Fuccia

Sobre o que concerne-me diretamente, tudo começou com uma mensagem do Junior no meu "inbox" da rede social, Facebook. Claro que aceitei o gentil convite da parte dele sobre participar e ficou ainda mais prazeroso ao saber que a minha presença estaria vinculada a uma reunião completa de nossa formação. E ao saber que todos os demais companheiros estavam confirmados, logicamente que senti-me feliz por essa oportunidade em reunirmo-nos, após doze anos de dissolução da nossa fase na história dessa banda.  

Um ensaio foi marcado para os estúdios "Orra Meu", de propriedade dos irmãos Schevano, que eu sabia de sua construção, há anos, e o próprio Marcello havia conversado comigo pela rede social Facebook, cerca de um ano antes, quando a estrutura física do empreendimento já estava praticamente pronta e ele queria saber se meu primo, Emmanuel Barreto, que era dono do Site Cultural "Orra Meu", não importar-se-ia em que os irmãos Schevano registrassem tal denominação para batizar seu estúdio. Fiz a ponte e meu primo sinalizou que não haveria problema algum e dessa forma, ao entrar com o protocolo no INPI, os irmãos Schevano selaram a sua marca. 

Fui convidado a visitar as suas instalações, mas ainda não havia tido uma oportunidade para tal. Os amigos da banda "Tomada" também haviam convidado-me a visitar as sessões de gravação de seu novo álbum, mas não fora possível realizar tal intento. Dessa forma, só fui tomar contato com o estúdio, no dia em que fui ensaiar com a Patrulha do Espaço, ao final de outubro de 2016, e fiquei boquiaberto com as suas instalações; equipamentos e com o ritmo de atividades que já apresentava naquela altura, mesmo sendo ainda, recém-inaugurado. 

Em suma, fiquei impressionado com a qualidade das salas de ensaios e sobretudo das salas de gravação, que apresentam uma infraestrutura de estúdio de alto padrão norte-americano ou europeu. Fiquei muito orgulhoso desse sucesso pessoal dos irmãos Schevano, e claro que a minha ligação com ambos é antiga, pois bastar examinar a minha autobiografia, quando cito-os desde que Ricardo Schevano apresentou-se para ser meu aluno, no longínquo ano de 1994, e a trazer o seu irmão caçula, Marcello para a minha sala de aulas e dali veio toda a interação que tive com a primeira banda deles, o "Essex"; depois o Sidharta e a Patrulha do Espaço com o Marcello a atuar na formação etc.

Na copa do estúdio "Orra Meu", a formação Chronophágica da Patrulha do Espaço, reunida após doze anos da dissolução dessa fase na história da banda. Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Rolando Castello Junior, Rodrigo Hid, Marcello Schevanno e a presença do vocalista do "Carro Bomba", Rogério Fernandes, a interagir conosco na conversa. Outubro de 2016. Click, acervo e cortesia: Daniel "Kid"

Encontrei-me com Marcello Schevano e Rodrigo Hid nas dependências do complexo de estúdios Orra Meu, localizado no bairro da Saúde, em São Paulo, e logo a seguir, avistei o Junior na copa, do mesmo. E como se não bastasse ter essa estrutura toda, eles ainda possuem uma laje externa imensa e que dá margem à construção de mais salas de estúdios e até um auditório que tranquilamente comportaria duzentas pessoas bem instaladas, para a realização de shows. Por ora, é apenas uma espécie de "fumódromo" do estúdio, e a visão que tem-se ali de uma parte do bairro, com uma impressionante selva de pedra, ultra urbana, é incrível, principalmente no período noturno.

A banda a ensaiar e a fazer aquele som Rocker e com a volúpia de outrora, resgatada. Viva a Chonophagia! Da esquerda para a direita : Luiz Domingues; Rodrigo Hid e Marcello Schevano na linha de frente, com Rolando Castello Junior na bateria, pronto a realizar as suas viradas impossíveis. Estúdio Orra Meu, São Paulo. Outubro de 2016. Click, acervo e cortesia: Daniel "Kid"

Ensaiamos e foi muito prazeroso tocar aquelas oito músicas previamente escolhidas para o show ("Ser", "Tudo Vai Mudar", "Nave Ave", "São Paulo City", "Homem Carbono", "Rock com Roll", "Vou Rolar" e "One Nighter"). Na hora do ensaio, "One Nighter" foi cortada, por questão de falta de espaço, visto que dividiríamos o espetáculo com a formação atual da Patrulha + convidados. Então, fechou-se em sete canções. Outro ponto sobre o critério de escolha das músicas, privilegiou-se o repertório mais Hard-Rock/Rock'n' Roll, com a inclusão de apenas um número progressivo, no caso de: "Nave Ave". 

A falta de tempo para ensaiar e sobretudo a necessidade em coibir exageros ao pensar-se no "todo" do show, fez com que essa escolha fosse a mais acertada.

Foi ótimo ensaiar com os antigos colegas e tocar aquelas canções com a velha volúpia Rocker da Patrulha do Espaço, de nossa formação, sendo claro que comentamos que no futuro ficaria aberta a possibilidade de uma nova reunião para dessa vez, haver mais espaço de tempo e a inclusão de temas mais progressivos no repertório.  

Não havia muito tempo para ensaiar, visto que outros ensaios estavam marcados com outros convidados e o bloco de shows com o Alejandro Medina a envolver o som da banda porteña, "Aeroblues", onde o Junior foi membro, além do "Inox", outro trabalho dele, desta feita nos anos oitenta, precisavam ocorrer e dessa forma, marcou-se mais um ensaio apenas e só para passar o set, sem repetições, para dali a dois dias e esse apronto rápido só comportava mesmo a presença do repertório mais Hard-Rock, mesmo, sem chance para os temas progressivos e psicodélicos.

Bem, agora reunir-nos-íamos no dia 4 de novembro de 2016, no palco do Sesc Belenzinho, em São Paulo.

Hora do show, hora de homenagear a carreira de um dos Rockers mais perseverantes da história do Rock brasileiro e também de celebrar uma formação que muito orgulhosamente digo que está na história da Patrulha do Espaço e muito além, no Rock brasileiro. A expectativa foi grande, pois se em 2014, eu havia tocado em um show da Patrulha do Espaço, como convidado e nesse mesmo show, o Marcello esteve conosco no mesmo palco, desta vez, com a presença garantida de Rodrigo Hid, nós obviamente tínhamos desta feita, a nossa formação em sua totalidade e não seriam apenas duas músicas, mas um show de choque, a ocupar quase a metade do espetáculo.

Patrulha do Espaço em sua formação "Chronophágica" (1999-2004), a ensaiar dias antes do show, no estúdio Orra Meu, de São Paulo. Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Rodrigo Hid, Marcello Schevano e na bateria, Rolando Castello Junior. Click, acervo e cortesia: Daniel "Kid"

Cheguei no horário combinado para aguardar a realização do soundcheck, nas amplas dependências do Sesc Belenzinho. Já havia tocado ali com o Pedra, em fevereiro de 2013, mas no seu belo teatro. Desta feita realizar-se-ia o espetáculo na dita "Comedoria", um neologismo que criaram para designar um imenso salão onde existe um restaurante e uma lanchonete e ali realizam-se também shows musicais. Sem nenhum prejuízo artístico, o espaço chega a ser muito maior que o da famosa "Chopperia" do Sesc Pompeia, portanto, com um palco grande, a conter PA com enorme pressão sonora e iluminação no mesmo padrão de um teatro, faz com que realizar-se shows ali é uma garantia de exibição sob alto padrão. 

Como o objetivo foi gravar todos os shows, vi que a unidade móvel do estúdio Orra Meu estava ali e com os irmãos Schevano e com três técnicos a trabalhar intensamente (o próprio, Ricardo Schevano; André Miskalo e Gustavo Barcelos). Sou informado de que tais profissionais são altamente gabaritados na produção de áudio e que foram professores dos Schevano, no curso que fizeram de operação / gravação de áudio, tempos atrás, na renomada escola de áudio, IAV.

Fotos do soundcheck e no camarim com o amigo, Cesar Gavin, baixista e blogueiro da pesada. Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016  Clicks; acervo e cortesia: Cesar Gavin 

Christine Funke, uma produtora musical que eu conheci em 2014, por ocasião do show Tributo em que participei em homenagem ao grande, Hélcio Aguirra, e que tornara-se muito amiga minha e de meus companheiros nos Kurandeiros de Kim Kehl, seria a "road manager" dos shows, o que deu-me alegria, dada a nossa amizade sedimentada. No camarim, passei um longo tempo a conversar com Marta Benévolo e Daniel Dalello, vocalista e baixista da atual formação da Patrulha e ambos, muito gentis, com o tempo a passar prazerosamente pela boa prosa regada a café com torradas. Aos poucos, muita gente conhecida chegou e agregou-se ao clima leve do camarim. 

O ótimo guitarrista, Carlinhos Anhaia, um especialista em Country-Rock, Paulão Thomaz, meu amigo desde 1984, mais ou menos, o extraordinário Ivan Busic, que relembrou a gravação do LP The Key, d'A Chave do Sol em 1987, e como gravou a faixa, "A Woman Like You", sem a esteira da caixa ativada...  

Muita gente amiga no camarim. Da esquerda para a direita, Marta Braga (esposa de Paulo Zinner), Mariana Schevano (esposa de Marcello Schevano), Rogério Fernandes (vocalista do Carro Bomba), Paulão Thomaz (atualmente no Kamboja), Paulo Zinner e eu (Luiz Domingues). Na frente, agachados, Paulinho "Heavy" (Inox) e Cesar Gavin (baixista e blogueiro). Click, acervo e cortesia: Bolívia & Cátia 

E teve mais: os roadies da nossa fase, Samuel Wagner e Daniel "Kid", e cheguei a comentar com eles e na presença de Rodrigo Hid por perto: - "só faltou o nosso motorista, o "seu" Walter e seus gritos ensandecidos (: -"sai da frente do azulão, seus FDP" !),
Rogério Fernandes (vocalista do "Carro Bomba"), Paulinho "Heavy", vocalista do Inox, e o excepcional, Paulo Zinner, também circulavam pelo camarim festivo. Outra figura sensacional, o baixista e agitador cultural/blogueiro da pesada, Cesar Gavin, aproveitou a ocasião para gravar diversas entrevistas nos bastidores, eu incluso, e claro, com o foco no Rolando, o grande homenageado dessa celebração toda. Conversamos muito sobre o meu livro, minha carreira, com direito a outros trabalhos por onde passei e foi muito prazeroso esse contato com um dos empreendedores culturais mais fortes do métier.
Amigos queridos e personagens super citados no meu livro, em épocas e situações diferentes e/ou paralelas. Da esquerda para a direita: Marcelo "Pepe" Bueno (baixista do Tomada e meu ex- aluno), Cesar Gavin (baixista e blogueiro/agitador cultural), eu mesmo (Luiz Domingues), Luiz Carlos Calanca (dono da loja/gravadora "Baratos Afins" e produtor de dois discos d'A Chave do Sol, nos anos oitenta), e Luciano "Deca"(guitarrista, amigo e meu colega de Pitbullls on Crack nos anos noventa... we've have a lift off !). Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Click, acervo e cortesia: Bolívia & Cátia

Soundcheck realizado sem muita demora, a pressão estava boa no palco e agora seria aguardar o início do espetáculo que dar-se-ia com a Patrulha do Espaço então atual (mas nem tanto, pois o guitarrista titular, Danilo Zenite, não pode comparecer e assim, Marcello Schevano, assumiu), com vários convidados avulsos, incluso a esposa do Marcello (Mariana Schevano), que tocou bateria na música: "Robot". Quando chegou a nossa vez, assim que subi ao palco, vi que uma reação muito forte irrompeu na plateia, e ao mirar nos rostos das pessoas, pude ver em seus semblantes, uma emoção sincera. Tal sentimento bateu de encontro com a nossa, em estarmos a reviver a nossa formação. Não foi uma "volta", todos estão comprometidos com outros trabalhos e o Rolando toca a Patrulha do Espaço para frente com a sua nova formação e ele mesmo tem outros trabalhos paralelos. Entretanto, ao revelar-se um show de choque, doze anos depois foi um prazer, é claro e acima de tudo, uma oportunidade de resgate e um presente aos fãs do trabalho.
Doze anos depois e a formação Chronophágica da Patrulha do Espaço, novamente reunida. Uma mágica só possível graças ao "Pote de Pokst", certamente... Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: João Pirovic 

Tocamos com muita garra o nosso repertório e mesmo não tendo havido tempo hábil para mais ensaios e apuro, os pequenos erros cometidos foram irrelevantes e creio termos feito uma apresentação na altura das que fazíamos quando estávamos unidos a trabalhar regularmente e sob grande forma artística.
Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Clicks, acervo e cortesia: Leandro Almeida 

Foi um prazer enorme tocar a canção: "Tudo Vai Mudar", pela canção em si, mas sobretudo pelo que representa em termos de "espírito chronophágico", ao simbolizar o que sonhávamos mudar, o "religare" com que tanto sonhei, enfim... 
Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Clicks; acervo e cortesia: Bolívia & Cátia

O público respondeu com muito calor humano e senti muitos flashs da parte de máquinas fotográficas, e as inevitáveis filmagens com telefones celulares e tablets. De fato, horas depois e já havia repercussão com tal material pelas redes sociais, o que foi bem interessante e espelhou bem o clima dessa apresentação.
Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Clicks; acervo e cortesia: Robson Tiburcio Paiva 

Missão cumprida, não na "Área 13", porém, uma página avançada da formação chronophágica foi escrita nessa noite de 4 de novembro de 2016. Estava de parabéns o Rolando pelos seus cinquenta anos de carreira e sem ceder nem um milímetro em suas convicções Rockers, o que em um país como o Brasil, tem valor dobrado, ou muito mais que isso.

"Tudo Vai Mudar" ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Postado por Washington Santos
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cPEn1u834IQ

"Homem Carbono" ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Postado por Washington Santos    
 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cPEn1u834IQ   

E fica a perspectiva de mais um capítulo para a Patrulha do Espaço, entre o final de 2017 e início de 2018, quando fatalmente descreverei o lançamento dos CD's e DVD's dessa caixa comemorativa que será lançada graças a essa turnê.

Luiz Domingues em destaque, como nos velhos tempos em que exercia a "Retomada" do sonho dos "Sixties", a bordo dessa nave. Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Belenzinho de São Paulo. 4 de novembro de 2016. Click; acervo e cortesia: Regina de Fátima Galassi

Portanto, continua...
mas sem data definida para a publicação do próximo capítulo.