Livres da ação inócua do Studio V, nós havíamos perdido muito embalo gerencial e o nosso emocional então, fora o mais prejudicado nesse período. Havíamos depositado muitas esperanças no trabalho deles, por considerá-los credenciados a dar-nos o impulso que faltava-nos para chegarmos ao nosso objetivo, que seria a ascensão à primeira divisão da música profissional.
Pois então, nesse momento, março de 1987, tínhamos que levantarmo-nos, sacudirmos a poeira e darmos a volta por cima, conforme rezava a sabedoria de Paulo Vanzolini.
E mesmo
sem a grande animação que norteara-nos no ano anterior, ainda tínhamos
forças, e o telefone ainda tocava espontaneamente, para nós.
Sob um patrocínio de última hora, inédito e obviamente bem-vindo, uma tradicional loja de instrumentos no centro de São Paulo, possibilitou-nos bancarmos um tijolo no Jornal da Tarde
Aconteceu tal espetáculo no dia 19 de março de 1987, com cerca de cento e oitenta pessoas na plateia, portanto a metade da lotação oficial do teatro, mas houve uma razão mais ou menos plausível para não termos lotado o auditório: em pouco mais de um mês antes, tínhamos realizado uma mini temporada com cinco shows seguidos no Centro Cultural São Paulo, portanto, foi um motivo razoável.
Contudo, novas frentes apareceram, com boas oportunidades a apresentarem-se rapidamente e foi uma chance boa para retomarmos o nosso embalo outrora prejudicado pela ausência de trabalho dos empresários que nos assistiram anteriormente.
Foram
cinco shows para cumprirmos em abril, portanto: dois em teatro, na cidade de São
Paulo, um no Rio de Janeiro e dois na cidade de Caraguatatuba, no
litoral norte do estado de São Paulo.
Primeiro, tivemos então duas datas no Teatro Arthur Azevedo, um teatro muito bonito e bem estruturado situado no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, e onde já havíamos feito dois shows em 1985.
Naquela ocasião anterior, foram datas ofertadas pelo empresário, Mário Ronco, em pleno embalo da formação da "Cooperativa Paulista de Rock". A Cooperativa implodiu rapidamente, mas os shows aconteceram e foram bons (ler em capítulos anteriores).
Agora,
voltaríamos ao teatro do simpático bairro da Mooca, com mais duas datas.
Foi mais uma movimentação muito boa que teríamos em compartilhamento com outras
bandas, ao reviver, de certa forma, muitos shows em conjunto que fizemos,
principalmente entre 1984 e 1985.
Mas esse entrelaçamento teve problemas para ser construído, pois cada banda apresentou dificuldades advindas de suas agendas próprias, e sendo assim, ao visar não atrapalhar a logística de cada uma, chegou-se em um arranjo final que privilegiou-nos, mas apesar disso, não foi a nossa intenção fazer isso de uma maneira maquiavélica para obtermos vantagem. Contudo, o compromisso de cada banda, motivou tal logística.
Não podíamos tocar no domingo, pois tínhamos show marcado para o Rio de Janeiro, nesse dia. E outras bandas não poderiam tocar na sexta e sábado, pois tocariam em outros locais, também.
Portanto, eis que ocupamos as datas consideradas melhores e sem companhia para compartilhar a noite.
Foram
shows bons, no padrão que tínhamos normalmente, com o público a responder
bem, e em bom número, mesmo ao considerar-se que tínhamos feito cinco
shows no Centro Cultural São Paulo, bem recentemente, dois meses antes, e ainda mais próximo, um no Teatro Mambembe.
É uma lástima... mas não tenho uma só foto desses shows. E shows feitos em teatros, não podem deixar de serem registrados, jamais.
Ainda mais em um palco tradicional como os dos teatros municipais espalhados pelos bairros de São Paulo, com estrutura boa, a conter palco amplo, iluminação com qualidade etc. Portanto, uma pena não haver registros fotográficos de dois shows realizados em um teatro bonito, com a possibilidade das fotos ficar com aspecto de um autêntico, "Book Tour", de bandas internacionais.
No dia 10 de abril de 1987, contamos com oitenta pessoas na plateia, e no dia seguinte, 11 de abril de 1987, foram cento e setenta pessoas.
Fomos
descansar após o show da noite de sábado, pois a nossa logística previra uma
viagem para o Rio de Janeiro, bem cedo, no domingo, com a intenção de chegarmos na capital fluminense na hora
do almoço e podermos assim, relaxarmos antes do soundcheck, no local do show.
Saímos de São Paulo não muito cedo, como planejamos, por que o cansaço adquirido por termos feito dois shows em teatro, seguidamente, abateu-nos, certamente. Mesmo assim, não chegou a ser uma perda de tempo desastrosa, mas apenas pela questão de eliminar a chegada ao Rio de Janeiro com mais calma, e assim, ao deixar a perspectiva de um almoço tranquilo, com direito a um descanso, bem remota.
Chegamos bem ao Rio, almoçamos bem rapidamente nas cercanias do "Canecão" no bairro de Botafogo, na zona sul e entramos no espaço onde funcionava o "Caverna II".
Uma semana antes do show, soubemos que o idealizador do espaço, um rapaz chamado, Raul, havia falecido de uma forma chocante, pois tinha apenas vinte e oito anos de idade e fora vitimado por um ataque cardíaco, fulminante.
Portanto, sabíamos que haveria uma comoção por conta disso entre músicos, jornalistas e frequentadores do espaço, e claro que chateamo-nos também.
Todo o arranjo desse show, transcorreu nesse sentido, e o pessoal das bandas, "Azul Limão" e "Dorsal Atlântica", que também participariam, empenharam-se para tudo sair a contento, com a homenagem ao rapaz a concretizar-se da maneira que ele mais gostava de trabalhar, ou seja, a produzir shows de Rock.
O clima de
comoção foi total, naturalmente, mas havia também uma vontade muito
grande da parte de todos, incluso nós (que nem muita amizade e
convivência tínhamos com o Raul), em fazer desse evento, uma celebração em
sua homenagem.
E de fato, o foi mesmo.
Jornal Contracorrente, de abril de 1987, publicou resenha de um de nossos shows no Centro Cultural São Paulo, realizado em fevereiro
A casa
lotou, com cerca de oitocentas pessoas presentes, as bandas fizeram boas
apresentações, e claro que houveram discursos em memória do rapaz, muito
precocemente falecido.
Não tivemos problemas com o calor excessivo desta vez, como houvera acontecido no ano anterior, ao motivar que o Zé Luiz passasse por um desmaio, em pleno palco.
O relacionamento com as bandas cariocas se mostrava ótimo e assim fomos muito bem tratados, por ambas.
O público
carioca também respondeu de uma forma excepcional, exatamente como houvera
sido em 1986, quando de nosso primeiro show feito ali mesmo naquele espaço.
Uma citação à nossa banda, arrolada como dentro do rol de clientes do guitarrista, Hélcio Aguirra (Golpe de Estado), que também era um dos melhores técnicos de amplificadores de São Paulo. Revista "Mix", em sua edição de número 10
No cômputo
geral, foi um excelente fim de semana para nós, e fez-nos lembrar de
nosso embalo pré-Studio V, ao levar-nos a acreditar que estávamos
por retomar o fôlego perdido em meio a tal associação infrutífera.
A outra irmã do Zé Luiz que morava no Rio, Eliane Dinola, esteve presente, e ela sempre foi uma entusiasta da banda e de seus progressos. Nessa noite, após o término do show, ao ver-nos bem cansados pela maratona de shows e viagem no meio dessa logística toda, ofereceu-nos o seu apartamento em Ipanema, na zona sul para descansarmos e seguirmos viagem no dia seguinte, em melhores condições.
Aceitamos a sua gentil oferta e na contrapartida, a convidamos para jantar conosco. Fomos ao Sagres, do bairro da Gávea, restaurante que eu frequentava desde minha segunda passagem pelo Língua de Trapo, em 1983/1984.
Ali, no
animado jantar, a Eliane Dinola disse-nos que não se conformava com a
história de nossa rejeição pela gravadora Warner, diante de tantos indícios de que
seríamos contratados, graças às evidências que cercaram a nossa ascensão na
carreira e também pela associação com o Studio V, e o seu suposto poder
de influência nesse meandro da indústria fonográfica.
Então, ela
propôs que nós a deixássemos intervir, ao apresentar-se como nossa nova
produtora. Ela queria fazer uma nova investida por sua conta e mesmo sem
ser uma profissional do ramo, convenceu-nos em dar-lhe essa chance, por alguns motivos
básicos, entre eles:
1) Tinha boa articulação.
2) Forte poder de persuasão, por ter experiência com vendas.
3) Carisma pessoal.
4) Era uma mulher muito bonita.
Bem, ela
tinha todos os atributos citados, mas não ser do ramo poderia ter sido
problemático nesse tipo de abordagem, contudo, nós ponderamos: a Sonia tinha
experiência em produção teatral, mas no campo da música, não sabia
nada, por mal conseguir distinguir um embuste como Michael Olivier, o cantor popularesco que contratara, em comparação com um artista sério.
Portanto, falta de
conhecimento técnico do assunto, não seria o maior empecilho, mas por
outro lado, uma mulher charmosa e bonita, com a capacidade de persuasão de uma vendedora experiente,
poderia surtir efeito... portanto, por que não, mais uma tentativa?
Publicada
em fevereiro de 1987, essa reportagem repercutiu os melhores shows de
1986. Citou três shows nossos, marcantes na ótica da redação da revista e cometeu uma
gafe, ao publicar uma foto da banda ao vivo, mas de 1984, com a figura
de Chico Dias, como vocalista, portanto, algo bem defasado nessa altura
de 1987...
Outro
ponto, quem garantiria-nos que na ocasião da recusa da Warner, fora o
Liminha em pessoa que analisara o nosso material e vetara-nos? Pode ter sido um assessor, cuja função seria filtrar abordagens cometidas por aspirantes e não tomar
assim o tempo do produtor mais requisitado da companhia.
Então, loucura ou não, aceitamos a proposta e deixamos um material completo com ela e demos-lhe instruções bem básicas para seguir. Ela não precisava entender de arte, música, Rock'n' Roll, tampouco os desdobramentos de tudo isso. Precisava apenas envolver a pessoa com o seu poder de persuasão e convencê-la que o "produto A Chave do Sol" era bom, rentável e já continha um nome respeitável no mercado, aliás, sem apoio algum de uma gravadora major.
Na cronologia, voltarei a abordar esse assunto, para falar do seu desenvolvimento que de fato ocorreu, ao provar-nos que ela teve razão em um aspecto: tinha mesmo o seu poder para conseguir ao menos que ouvissem-na, ao ultrapassar a barreira da recepção na sede da gravadora.
Quando
saímos do restaurante e entramos no carro do Zé Luiz, o lendário, Dodge
Dart, uma viatura da polícia militar abordou-nos ainda nas imediações da Rua
Marquês de São Vicente, perto do Shopping da Gávea.
Bandas como as nossas, e sob um festival que não fora planejado para ser especificamente destinado ao nicho de público habitual que acompanhava-nos, pareceu-nos muito estranho, ou talvez, fosse um sinal de que os boatos que ecoavam pelos cantos, desde 1984, estava para acontecer, com o Hard-Rock a ter a sua vez, enfim. Todavia, gatos escaldados que éramos naquela altura, foi difícil acreditar nisso, eu assinalo.
Uma rara
foto desse show de Caraguatatuba-SP, cumprido em abril de 1987. O Zé Luiz tocou em um
praticável muito alto, acima das cabeças dos amplificadores, sob um padrão
de festival internacional, portanto. Click do nosso saudoso roadie, Eduardo
Russomano, com uma prosaica máquina Polaroid
No dia do
show, deu para sentir que a expectativa na cidade foi alta, e apesar de
não haverem muitos artistas populares escalados para apresentarem-se, tudo
levara a crer que haveria uma multidão na praia.
Ao final da tarde, um micro-ônibus da prefeitura foi disponibilizado para conduzir as bandas e quase todo mundo quis ir logo e acompanhar a maratona toda in loco, a ficar no hotel para esperar a vez de tocar.
Quando descemos do veículo, uma enxurrada de adolescentes cercou o ônibus, com canetas e papel a mão, para caçar autógrafos de todos que desciam. Mas ninguém iludiu-se com tal assédio, pois falavam aos gritos uns para os outros: -"quem é esse aí?", assim que recebiam o autógrafo, ao denotar não conhecerem ninguém, nem mesmo o Donizeti, supostamente um artista popular.
Lembro-me bem do saudoso, Hélcio Aguirra a comentar comigo nesse instante: -"veja o que enfrentaremos daqui a pouco... nem sabem quem nós somos"...
O cantor sertanejo, Donizeti estava conosco nessa comitiva, e parecia tímido em princípio, mas logo ambientou-se entre os Rockers. Ele era muito generoso e educado e nós apreciamos a sua humildade ao conversamos com ele.
Dizia-nos que estava bastante temeroso em enfrentar um público possivelmente Rocker que o detestaria, mas nós o tranquilizamos, ao dizer-lhe que não havia indício algum que aquele público fosse formado por pessoas dessa característica e que também tínhamos dúvidas sobre a mesma questão, mas de uma maneira inversa, ou seja, que fosse uma massa popular avessa ao Rock e hostilizasse-nos.
Tudo foi obscuro para todos naquele momento pré-show, ao gerar especulações, as mais estapafúrdias. No backstage, as instalações mostravam-se simples, com um camarim improvisado como tenda de circo, mas com saletas individuais, para cada banda, portanto, bem organizado. A multidão já se mostra enorme ao cair da tarde e a temperatura amena, talvez um pouco fria para os padrões dos habitantes da cidade, acostumados com o típico calor daquela cidade praiana.
Donizeti
foi chamado ao palco e subiu, corajosamente eu diria, pois teve a noção
que estava ali a cumprir a função como "open act" para quatro bandas de Rock pesado e ao
contrário, faria uma apresentação intimista e acústica, na base da voz &
violão.
Sérgio
Ricardo ao quebrar o violão em 1967, por protesto às vaias que recebera durante uma eliminatória da qual participou no Festival de MPB da TV Record. Ou, poderíamos dizer que fora "super moderno" para a época, pois quebrava violões no palco, como um legítimo contemporâneo de Pete Townshend
Ele seguiu
em frente, cumpriu seu o repertório sem cortes e ao sair, mesmo chateado com a
recepção deselegante com a qual fora tratado, mostrou-se resignado.
Nós o cumprimentamos pela coragem e principalmente por não esmorecer ou tampouco perder a cabeça a responder com revolta ao microfone etc. Nem todo artista tem esse sangue frio ao ser submetido em uma situação dessas, vide Sérgio Ricardo no Festival de MPB, da TV Record em 1967.
Foi a hora das bandas de Rock e o Proteus foi chamado ao palco. O seu show era sempre energético, com os três membros da linha de frente a exercerem uma mise-en-scène frenética, no mesmo patamar de bandas internacionais de Hard-Rock oitentistas, mas a seguir o "Kiss", como a sua inspiração máxima. Com o apoio das explosões do Calil, o grupo de Ciro Bottini & Cia divertiu o público que respondeu com gritos e aplausos.
Ficamos todos mais relaxados, pois ficara claro que o público queria diversão e mesmo ao não ser Rocker em essência, estava a gostar da farra e não haveria de ser diferente com as demais bandas, também.
Com PA de grande porte e iluminação condizente, teve a infraestrutura de um show internacional feito em estádio, portanto, a pressão sonora esteve muito forte.
O Golpe de Estado estava escalado para tocar a seguir, mas o vocalista, Catalau, não estava presente nos bastidores naquele instante. Os outros três membros haviam viajado conosco na comitiva, mas o cantor, Catalau não dera sinal de vida até então, embora estivesse ciente dos compromissos.
Em uma época onde não existiam telefones celulares, eles poderiam naquela situação, apenas torcer pela chegada do seu vocalista. Diante dessa situação, fomos tocar e demos-lhe assim mais tempo para que sua situação interna desagradável fosse solucionada.
Quando
subimos ao palco, após uma apresentação entusiasmada de um comunicador
de rádio local (a representar a Rádio Oceânica FM), que foi o mestre de cerimônias do show, a multidão mostrava-se imensa. Foi o maior público que a nossa banda estava receber, sem
dúvida alguma, em toda a nossa história.
Uma
pena que essa foto rara desse show, esteja tão escura, por conta de ser
proveniente de uma máquina polaroid, bem simples. A sua autoria foi de
Eduardo Russomano, nosso roadie na ocasião, que estava escondido atrás dos
amplificadores.
Com um
palco gigante, pudemos correr pela sua extensão, com a desenvoltura de membros de bandas
internacionais e a cada corrida que empreendi, eu senti o canhão, "Super Trouper", da
iluminação a seguir-me com o foco, e assim envolver-me dentro de uma bolha de luz branca, a garantir a sensação que foi ótima, pois deu-me a certeza de que o show estava
a ser bem cuidado, apesar de não ter havido soundcheck, tampouco, mapa
de luz que orientasse o iluminador e os seus assistentes.
O público respondeu muitíssimo bem aos impulsos de nossas músicas, como se conhecessem-nas, o que foi até engraçado pela simples constatação de que não éramos artistas populares do mundo mainstream. Ora, como explicar isso? Pois é, passaram-se vinte e nove anos (2016), e até hoje eu não tenho uma explicação plausível sobre tal fenômeno estranho.
O técnico do PA foi um rapaz que já havia operado o nosso som e igualmente com um PA de forte pressão sonora, anteriormente. Apelidado como "Castor", ele havia operado-nos em um show que realizamos na Danceteria Radar Tantã, em 1984, fato narrado com detalhes em capítulo bem anterior.
O Castor não podia fazer nenhum milagre pela ausência de soundcheck e pelo simples fato de não conhecer a banda (quando falamos-lhe sobre o show do Radar Tantã, ele só lembrou-se que havia trabalhado lá).
Mas ao julgar pela reação do público, a mixagem que ele imprimiu, devia estar excelente, pois realmente mostrou-se muito surpreendente para nós que o público reagisse com tantos gritos e aplausos, com as mãos levantadas em nossa direção, como se fôssemos o "Aerosmith" a tocarmos em um estádio de beisebol, nos Estados Unidos e diante de seus fãs mais fanáticos.
No palco, a mixagem da monitoração esteve apenas razoável, no entanto. Houve pressão, mas os timbres deixaram a desejar. Contudo, foi o tal negócio: Rockers outsiders e fora do mainstream que éramos, estávamos muito acostumados a tocarmos nas piores condições possíveis, portanto, uma monitoração mediana como aquela, mostrara-se um primor para os nossos padrões usuais.
Enfim, houve uma compensação afinal em sermos "Pobres Stars"... quando raramente tínhamos estrutura de grande porte para trabalharmos, e nesse caso, até estranhávamos.
E por outro lado, dificilmente equipamentos péssimos derrubavam-nos, um fator que artistas internacionais tarimbados não estavam acostumados a lidar (caso do Uriah Heep no Via Funchal em 2006, que eu assisti da coxia, e vi como os seus membros estavam irritados com a péssima monitoração que o técnico brasileiro de monitor, forneceu-lhes). Isso está contado com detalhes em um dos capítulos sobre o "Pedra").
Fizemos o
nosso set list básico da época, tocamos dois números como "bis" a pedido do público e a
sensação de termos feito o show com essa repercussão foi muito acima das nossas expectativas,
tão ressabiados que estávamos com a incógnita que aquilo tudo
sinalizara para nós.
Quando deixamos o palco, vimos que o pessoal do Golpe de Estado ainda estava tenso. Catalau não dera sinal de vida e os demais estiveram resolvidos em tocarem em formação em trio, com Hélcio e Nelson a imbuírem-se do espírito do improviso para cantarem as canções.
Eis então
que apareceu a figura do Catalau, a usar roupas de couro e pesadas
correntes com tachinhas, mais a parecer-se com um vocalista de banda de
Heavy-Metal. Para intensificar a sua chegada triunfal ao camarim, ele estava
a segurar dois cães da raça, Doberman, por coleiras igualmente ornadas com
tachinhas, que sabe-se lá de onde vieram... bem, a
partir do Golpe de Estado, já não prestei mais atenção diretamente nos
shows, pois eu fui conceder entrevistas para a emissora de rádio e o jornal
local, além de atender a vários fanzineiros que apareceram, igualmente a buscarem entrevistas.
Uma dessas entrevistas eu consegui disponibilizar para compor o portfólio e que foi publicada posteriormente.
Foi uma noite intensa, com um sabor de dever cumprido e mais que isso, mediante sucesso. O divulgador, Bip Bip, esteve presente e gostou muito do nosso show, além de demonstrar ter estado entusiasmado para apresentar-nos ao diretor de repertório da BMG.
Muito positivo, portanto, seria ter essa força a mais, porém, depois da frustração com a Warner, ficamos bem mais reticentes e os acontecimentos que seguiram-se, ao culminar com o rompimento com a produtora Studio V, tornou-nos muito mais cautelosos.
Cabe registrar que a propagada transmissão ao vivo da TV Bandeirantes, não aconteceu. Uma explicação simplória sobre algum empecilho técnico de última hora nos foram formuladas, mas na prática, não termos tido essa exibição televisiva, jogou por terra abaixo o esforço em ficarmos quatro dias à disposição dessa produção, e principalmente sem o pagamento de um cachê.
Certo, o show foi bem divulgado na região e as condições técnicas oferecidas, com alto padrão, mas o tal "investimento de carreira", não justificara-se sem a presença da TV, portanto, apesar do público caloroso, ficar sem o cachê, foi doloroso.
Como compensação, ao menos tivemos a cobertura ao vivo de uma emissora de rádio local, com o seu repórter no camarim o tempo todo a entrevistar artistas ali presentes e repercutir assim, o andamento do espetáculo. Foi a presença da Rádio Oceânica de Caraguatatuba, que repetiu a dose, posteriormente.
No dia seguinte, teríamos uma repetição dos shows, portanto. Tratou-se do mesmo equipamento, com a mesma estrutura, mas o público mostrou-se diminuto. Das mais de trinta mil pessoas presentes no primeiro dia, cerca de cinco mil compareceram ao segundo dia de apresentações. Tocamos com a mesma vontade, mas a vibração esteve muito abaixo, com um público apático, que mal bateu palmas educadas ao término de cada música.
Voltamos para São Paulo satisfeitos com o resultado do primeiro show, muito quente, e resignados com a apatia do segundo, bem frio. Chateados com a ausência da TV, nesse esforço que fizemos, mas animados com a perspectiva do "Bip Bip" a agendar-nos entrevista com o executivo da BMG.
E assim
foi no dia 19 de abril de 1987, quando tocamos para trinta mil pessoas
(estimativa da Polícia Militar, mas eu acho que houve mais gente, por que
a PM sempre subestima tais contagens em suas medições de multidão para eventos ao ar livre), e no dia
seguinte, 20 de abril de 1987, foram cerca de cinco mil (mas desta vez,
não deve ter ultrapassado mesmo a avaliação da PM).
De volta a São Paulo, após os shows em Caraguatatuba, nos próximos dias, não tivemos compromissos oficiais. Só restara-nos então centrarmos a nossa atenção para a reunião que possivelmente seria agendada com o executivo da BMG e havia uma remota esperança de que a irmã do Zé Luiz conseguisse uma audiência com o produtor artístico da gravadora Warner.
De nossa
parte, além dessa atenção, o que fizemos foi lançar mais uma edição do
fanzine. Independente de estarmos com a energia bem mais baixa em termos de
animação, lançar o fanzine trimestralmente foi uma obrigação adquirida,
pois os fãs que recebiam-no, eram assinante na verdade.
Fachada
do Edifício Dinola, na Rua dos Pinheiros, bairro homônimo, na zona oeste de
São Paulo. Na parte da frente, hoje em dia (2016), funciona a loja com artigos de
cerâmica e porcelana dos irmãos Dinola, Beth e Zé Luiz. Na porta ao lado,
no andar térreo, funcionava o consultório odontológico do Dr. Dinola,
pai de ambos, e o escritório em anexo, onde tanto trabalhamos em prol d'A
Chave do Sol, entre 1983 (quando iniciamos tais esforços, pois a banda existia desde 1982, bem entendido), e 1987.
Então, eu e
Zé Luiz voltamos ao velho escritório anexo ao consultório odontológico
de seu pai, o grande, Dr. João Batista Dinola, outra figura sensacional que
muito ajudou-nos, assim como o Dr. Rafael Gióia Junior, pai do Rubens.
A residência da família Gióia foi o nosso QG e estúdio de ensaios por anos, e o mesmo devíamos em agradecimento ao pai do Dinola, que cedera-nos o seu escritório, desde 1983, mais ou menos, para ações de produção do fã clube, "Núcleo ZT" e demais ações para a divulgação da nossa banda, que fazíamos.
Eduardo Russomano, depois que rompemos com o núcleo ZT, continuou como funcionário contratado da banda para serviços gerais na produção e no fã-clube, mas nesta altura, com a agenda de shows a escassear, não tivemos mais como mantê-lo como um funcionário remunerado, infelizmente.
Ele ainda ajudou-nos na composição desse fanzine nº 8, e continuaria a auxiliar-nos como amigo
doravante, mas sem vínculo obrigatório, ao estabelecer expediente diário. Isso foi um
retrocesso, certamente, para nós.
Outro fator negativo que passamos a observar nessa fase, o Zé Luiz estava mais calado, taciturno nesses dias e logo descobriríamos a razão de ser de seu mau-humor.
Ele havia sentido muito o impacto da frustração por termos iludido-nos tanto com o Studio V e a promessa alardeada de que entraríamos no elenco de uma gravadora major. Todos nós sentimos, mas para ele, houveram elementos particulares muito angustiantes que atormentavam-no nessa questão, e que só a partir dessa fase, começamos a entender.
Já sabíamos que ele estava a ministrar aulas particulares como um empreendimento para ganhar dinheiro extra, sem esperar nada da banda. Mas o que não sabíamos com maiores detalhes, fora que estava a sofrer pressões familiares, já há algum tempo para buscar a maior solidez financeira em sua vida.
Dessa forma, o seu comportamento em relação aos assuntos da banda, doravante, só contaminou-se pelo pessimismo gerado pelas frustrações que enfrentamos recentemente e o pior estava por acontecer em relação a esse sentimento que ele estava a nutrir.
Sobre o fanzine lançado em abril de 1987, este seguiu o mesmo padrão editorial e de lay-out dos demais e de fato, nós nada poderíamos fazer para melhorá-lo naquele momento de escassez financeira e tensão crescente no ambiente interno da banda, pelos acontecimentos arrolados nos últimos capítulos.
Eis uma descrição de seus tópicos:
2) Sob uma brincadeira, como sempre eu gostava de fazer, disse que os óculos iluminados com "leds" verdes que o Zé Luiz usara no Centro Cultural São Paulo, vieram do planeta, "Glapaux", trazidos como presente pela figura de Edgard, o "ET", que seria oriundo desse distante mundo interplanetário...
3) Revista - Mais descrições sobre publicações onde havíamos sido retratados recentemente e uma nota sobre uma edição da revista, "Som Três", onde pela primeira vez, foi citada a criação de uma fã-clube independente d'A Chave do Sol, com sede no Rio de Janeiro. Foi verdade, tal ação viera da parte de um rapaz muito jovem, que seguia-nos e entrou em contato, quando pediu-nos autorização para desenvolver tal empreendimento.
O seu nome era: Ricardo Aszmann, então um adolescente, morador do bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio. Logo o conheci pessoalmente e tornamo-nos amigos. Rick Aszmann não só administrou esse fã-clube com grande entusiasmo, como muito ajudaria a banda em ações de divulgação no Rio, sempre a buscar oportunidades boas para nós.
Somos
amigos até os dias atuais e certamente para sempre, por falar-nos
constantemente pelas Redes Sociais da Internet. Rick estudou guitarra e
violão, fez faculdade de música, foi sideman de artistas, formou bandas e
é um professor muito requisitado no Rio. Já gravou
discos solo, e atualmente (2016), trabalha pela noite carioca. Ele muito apoiou-me desde quando eu tive a ideia de começar a escrever a minha autobiografia em
2011, na plataforma da comunidade "Luiz Domingues", da saudosa e
insuperável Rede Social Orkut, e acompanha o texto no meu Blog 3, com apurada atenção.
4) Muito
constrangedor ao ler hoje em dia, mas ao mesmo tempo engraçado, uma nota
ridícula deu conta de que nos shows do Centro Cultural São Paulo, o Beto, quando
cantava a música, "Ninho do Amor", aproximava-se de minha pessoa a apontar-me em sinal de "denúncia", quando cantava trechos em que falava-se sobre a preferência por
ninfetas, ao insinuar que eu só interessava-me por garotas bem novas, ou seja, foi só uma brincadeira para mexer com o público nos shows e
eu quis explorar isso como algo engraçado.
5) TV -
Além dos programas de TV que fizéramos de janeiro de 1987, até ali, eu citei
o programa: "Super Special" da TV Bandeirantes, que realmente deu apoio
testemunhal para promover a nossa temporada no Centro Cultural São
Paulo.
6) Rádio -
Destaque para mais uma entrevista no histórico "Balancê", da Rádio
Globo/Excelsior. Falei também sobre programas da 97 FM que estavam a auxiliar-nos com execuções de músicas, casos de "Reynação" (comandado por
Leopoldo Rey), e "Riff Raff", do Richard Nacif.
A música "Desilusões"
realmente estava para entrar na programação da emissora, e de fato, isso veio
a ocorrer, pouco tempo depois. Houve
também a notícia de que o programa, "Sinergia", de Valdir Montanari, anteriormente
transmitido pela USP FM, estaria de mudança para a emissora, Alpha FM e assim,
tivemos a certeza de que teríamos mais um espaço, assegurado.
7) Sob mais uma informação técnica, eu dei a entender que o Rubens tencionava adquirir um novo
equipamento ou quiçá uma nova guitarra, para breve. Houve a intenção, certamente da parte dele em comprar um novo amplificador, mas isso não concretizou-se na ocasião.
8)
Promoção - Resolvemos criar uma promoção diferente para movimentar o fã-clube. Ganharia uma foto autografada da banda, quem enviasse a melhor
redação com o tema: "Por que eu curto A Chave do Sol"...
9) Fã
Clube - E a fase foi tão boa nesse campo, pelo menos, que além do Rick
Aszmann, no Rio de Janeiro, outro fã-clube independente d'A Chave do Sol havia sido fundado no interior de São
Paulo. Vinha da cidade de Oswaldo Cruz-SP, a iniciativa de um garoto que já mantinha
um fã clube chamado: "Defensores do Heavy Metal".
Claro que aceitamos e
ofertamos o nosso aval para ele iniciar as suas atividades. Infelizmente, ao
contrário do Rick Aszmann, no Rio, que realmente esforçou-se e ajudou
demais a banda, até ao acompanhar a sua dissidência, no pós-rompimento ao
final de 1987, este do interior de São Paulo, não logrou êxito.
10) Fofoca - Em uma brincadeira com a minha própria pessoa, a nota afirmava que estava a chegar uma certa quantidade de cartas de fãs, a afirmar que eu parecia-me fisicamente com alguns astros do Rock internacional. Isso foi verdade e as citações de figuras como Steve Harris, Steve Vai, Bruce Dickinson e Ian Astbury, do "The Cult". Na minha opinião, todos não tinham nada a ver comigo e o mais próximo pela fisionomia facial, talvez fosse o Ian Astbury. Convenhamos, Steve Vai é sósia de Paulo Zinner, o baterista do Golpe de Estado, isso é algo público e notório.
Rubens ainda namorava a guitarra Gibson SG' 1966, com dois braços que pertencia ao Marcos Cruz, irmão do Beto. Eu também namorava o baixo Rickenbacker'1967 que ele estava a vender, mas ambos ficamos só com a vontade, pois sem dinheiro para tal, ambos os instrumentos foram arrematados pelo músico/colecionador, Marcus Rampazzo.
Outra história verdadeira e emocionante para nós: de fato o Zé Luiz circulava com bicicleta no bairro de Interlagos, portanto bem longe de sua casa, quando estourou o pneu e teve que pedir carona para voltar. O caminhoneiro que o auxiliou, era mesmo fã d'A Chave do Sol, isto é, mostrara-se inacreditável como não tínhamos a real dimensão de nossa popularidade, ao acharmos que éramos só conhecidos no nicho do Rock underground.
Em outro tópico, como o Edgard havia aprovado a brincadeira que eu fizera na edição anterior do fanzine, ao insinuar que ele fosse gay (quando "soltara a franga" ao encontrar Roberta Close pelas ruas de Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo), eu insisti na brincadeira e agora inventei que ele ficara furioso com a insinuação.
Para atiçar mais a brincadeira,
eu escrevi ao final: "Não precisa ficar nervoso, Edgard, não foi essa a
nossa intenção, mas que você gostou do encontro, gostou, não negue sua
louca"... ele riu muito dessa continuação da piada e realmente não ofendeu-se, ainda bem.
11) Fãs -
Além da tradicional publicação de endereços de fãs interessados em
conhecer outros fãs, eu também citei um concurso que acontecia na Revista
Som Três, que criara uma enquete para saber que artistas seriam
sugeridos para compor o elenco de atrações de um possível Festival Rock in Rio 2.
Conclamamos os fãs a escreverem e dar-nos o seu apoio.
Zé Luiz
trabalhou nesse lay-out do fanzine, nitidamente para não deixar-me desamparado nessa missão, pois ele sabia de minha inabilidade para trabalhos manuais. Eu escrevia
todo o texto, mas sempre fui um zero à esquerda para artes gráficas,
desenho etc.
O clima já não estava bom no ambiente interno da banda e por fatos que estavam para acontecer em breve, tratou de piorá-lo. Tínhamos um show para fazer em maio, apenas e as tais reuniões com novas tentativas de abordagem a gravadoras.
O que eu
não poderia imaginar, seria que esse show de maio, estava fadado a ser o
último d'A Chave do Sol, com a sua formação clássica!
Bem, apesar de estarmos com o a energia bem diminuta, houve a atenção para os dois encontros que poderiam dar-nos um novo alento, com executivos de gravadoras.
O primeiro, seria a tentativa de Eliane Dinola em abordar o produtor da Warner. E a segunda ação, mais plausível, foi a reunião prometida na sede da BMG, através do divulgador, "Bip Bip", que tornara-se o nosso amigo.
Sobre a
irmã de Zé Luiz, eu já elenquei anteriormente as suas qualidades pessoais que credenciavam-na a tentar uma abordagem. No bojo, acrescento o óbvio, ou
seja, a extrema boa vontade dela, que tinha a sua vida para cuidar, isto é, uma casa e uma
filha pequena para se preocupar, as suas atividades profissionais etc.
Ela detinha mesmo uma capacidade de expressão extraordinária e ao apresentar-se como produtora musical, passou facilmente pela triagem inicial daquela organização (refiro-me à gravadora Warner), e marcara uma reunião com o produtor musical em pessoa.
Não que a subestimássemos, de forma alguma, mas ficamos realmente estupefatos quando ela noticiou-nos que a reunião estava agendada, com a exceção evidente do próprio Zé Luiz, que conhecia bem a obstinação e capacidade de sua irmã mais velha.
Enquanto isso, aguardávamos um sinal semelhante da parte do divulgador, "Bip Bip", que também veio logo. Uma reunião estava agendada, portanto, com um produtor que mostra-se conhecido no meio e que usava como denominação, um apelido que fazia menção ao seu porte físico, digamos, desleixado. Era o homem que batia o martelo, pró ou contra, na decisão final de contratar ou não, como diretor de repertório da gravadora.
Então, resolvemos quebrar o protocolo básico e ao invés de escalarmos a namorada do Zé Luiz e nossa produtora executiva na ocasião, Eliane Daic, para falar com o tal produtor citado, resolvemos irmos nós mesmos.
Sei que
foi uma prática errada e quebrava a regra básica de que o artista em pessoa não deve
participar desse tipo de negociação, mas tratou-se na contrapartida, de uma instrução
direta do "Bip Bip", que alertou-nos que o tal produtor não observava as regras éticas do meio, ao não importar-se com protocolos e gostava de falar direto com o artista, sem conversa
ensaiada e típica de empresários/produtores e o seu costumeiro discurso de vendedor.
A julgar pelas alcunhas de ambos e o patamar de inferioridade momentânea em que a gravadora ostentava naquele instante oitentista, a amargar uma posição abaixo da concorrência, fez sentido que a praxe fosse abolida e as abordagens ocorressem na base da total informalidade.
Na outra frente que tivemos, no Rio, a
irmã do Dinola conseguiu de fato a reunião. No gabinete do tal produtor,
ela falou a usar da sua habilidade verbal como vendedora nata que o era e foi muito bem
tratada pelo celebrado executivo. Contudo, não conseguiu lograr êxito, pois o
discurso dele, foi o padrão, ao alegar que a nossa banda não estava
coadunada com o que eles acreditavam naquele instante.
Pura verdade e nós já sabíamos disso, há anos, portanto, cabe observar que a nossa insistência em abordar a Warner por seguidas vezes e ao usar vários meios para tal, fora em si, uma péssima estratégia.
Sob uma
metáfora grosseira, pareceu a tática de caçadores de autógrafos a tentarem
burlar a segurança de hotéis, onde artistas famosos estão hospedados, por isso,
hoje eu tenho a convicção de que ao sermos rejeitados pela primeira vez e
sabedores na época, que independente da qualidade/possibilidade
comercial da banda, uma segunda tentativa de abordagem caracterizara um
erro estratégico, por estigmatizar-nos. O que dizer então da terceira,
quarta, quinta tentativas?
Acho que ficamos marcados na gravadora como os "cabeludos anacrônicos e chatos", em uma demonstração de teimosia insuportável.
Eliane foi mega gentil conosco e tenho certeza de que não tentou ajudar-nos apenas pelo seu laço sanguíneo com o Zé Luiz, mas por que gostava da banda. Todavia, apesar dessa imensa boa vontade, ela também não conseguiu um resultado melhor que o de Sonia, ao representar o Studio V.
Nenhuma
abordagem daria certo pela evidente disparidade de mentalidade da parte
da mentalidade reinante entre os maiorais das gravadoras da época e nesses termos, o nosso trabalho soava-lhes antagônico aos seus princípios.
E nessa altura o fato de termos tentado várias abordagens, só piorou a situação, eu acredito, ao refletir sobre essa estratégia malograda, hoje em dia. Outro fator: uma questão impossível para ser detectada ali no momento, contudo, hoje é cristalina, foi o fato de que o movimento do BR-Rock 80's estava a encerrar-se.
A grande
onda que caracterizou-lhe com aura de um movimento ou cena, chame como
quiser, havia arrefecido-se em seu próprio processo de diluição natural. Ao falar sobre os artistas expoentes
que surgiram nessa "onda", somente quem conseguiu solidificar-se
individualmente, teve e continuou a ter espaço na mídia e portanto,
por contar com um gerenciamento profissional sustentável, doravante.
De 1986 para frente, isso já estava delimitado claramente, mas lógico que ninguém teve essa visão na época.
Portanto, a chance para artistas que jamais estiveram compactuados com a estética oitentista, revelava-se, infinitamente, pior ainda, em relação aos que surfaram na crista da onda, e agora observavam a onda a acabar-se.
Foram duas
situações que embaralhavam essa visão na época e deram-nos falsas esperanças,
na verdade ao se caracterizarem como sinais de absolutamente nada para animar-nos. Foram
falsos sinais que não soubemos interpretar corretamente, na ocasião.
Eis que o Ultraje a Rigor apareceu com esse visual de banda Hard-Rock oitentista, em 1987, vide a foto acima. Um sinal de esperança para quem militava no mundo do Rock pesado, a sinalizar que as gravadoras majors abririam as suas portas para artistas dessa estética? Foi o que muitos pensaram, mas na prática, foi um ledo engano.
O primeiro
caso foi o do "Ultraje a Rigor" que surpreendeu a todos, com uma
repaginada radical no seu visual, ao dar a entender que assumiria uma
identidade Hard-Rock, e deixaria de lado a mentalidade supostamente coadunada
com o modismo em torno do Pós-Punk, adotado em seus primórdios e no seu momento de pico de sucesso na mídia.
Muita gente que esteve na trincheira oposta, do Rock pesado, comemorou tal mudança de posicionamento da banda de Roger Moreira & Cia, ao acreditar ser uma sinalização de que o mundo mainstream estaria a abrir-se para uma outra estética, ao libertar-se dos tentáculos dos seguidores de Malcolm McLaren.
Mas fora um
ledo engano, pois a banda mudara apenas o seu visual, ao adotar doravante o figurino
de bandas norte-americanas do mundo Hard-Rock em voga, mediante o uso de cabeleiras imensas e armadas
com muito laquê, bem no gosto, ou mau gosto ao ser realista, daquela seara pesada dos anos oitenta.
O trabalho deles continuou igual, com sonoridade Rock'n' Roll bem básica, e ênfase total nas letras com teor de deboche.
Outro exemplo de sinalização errada, fora o próprio, "Sepultura". De fato, tal banda entrara em uma ascensão meteórica e sob cunho internacional, impressionante, e assim, o eco de seu sucesso retumbante, proporcionou-lhes algumas portas abertas no Brasil, que nem mesmo eles esperavam, que abrissem-se.
Acredito que pelo fato de ser uma banda orientada pelo Heavy-Metal extremo, não teria de forma alguma, nenhuma possibilidade para atingir um público não coadunado com tal estética, pela total falta de apelo Pop em sua música radical, por mínimo que fosse. Portanto, ao depararem-se com pessoas completamente de fora do nicho do Heavy-Metal, a frequentarem os seus shows, tais como atores globais e alguns playboys desavisados, a única explicação razoável para tal fenômeno de aceitação insólita, residira na histórica subserviência do brasileiro comum, em valorizar uma manifestação artística que antes desprezava ou ignorava, somente pelo fato de que os estrangeiros estavam a ovacioná-la.
Não posso
cravar essa tese hipotética como incontestável, mas creio que é bastante sólida
para explicar, portanto, o fenômeno estranho em verificar-se a presença de pessoas completamente
alheias ao mundo do Heavy-Metal, quiçá o Metal extremo, ainda mais
radical e anti-Pop em sua essência, a frequentarem os shows do Sepultura e
a serem fotografadas em camarotes caros, de casas de shows badaladas do Rio
e São Paulo, com copo de Whisky importado na mão, e a fazer caretas
com língua de fora e "malocchio", com a outra mão...
Dessa
forma, o fenômeno "Sepultura" não caracterizara nenhuma tendência de
mercado no âmbito das gravadoras que aqui operavam a indústria da música
local. Tal banda estava na verdade a surfar no seu êxito pessoal e no qual
teve todos os méritos, sem dúvida, mas isso não quis dizer que o
Rock pesado teria espaço como um todo, ao abrir chances para outras
bandas e nem mesmo para as infinitamente "mais leves", o nosso caso.
Feita essa análise, resta-me falar sobre a reunião com o tal produtor da gravadora BMG-Ariola. Foi ao cair da tarde de um dia útil, ao final de abril de 1987, que eu (Luiz) e Beto fomos ao gabinete do produtor citado, com o nosso material em mãos e imbuídos da esperança por um resultado satisfatório.
Isso por que o clima de descontração que aquela gravadora mantinha, aliado ao fato de que não parecia estar preocupada em fechar questão com a estética A, B, ou C, sinalizara-se como um alento para nós, sempre inferiorizados por sermos considerados como eternos,"outsiders" naquela década.
O apoio do divulgador, "Bip Bip", que era uma persona respeitada na gravadora e vira-nos em ação nos shows de Caraguatatuba-SP, também haveria de somar-se, nessa equação.
Enfim,
chegamos ao gabinete e apesar de recebidos com educação protocolar por tal produtor, a sua
apatia expressa em seu semblante, denotou total falta de interesse na conversa. Entregamos-lhe o
material de portfólio e a fita K7 com a demo-tape, e ele mal falara
conosco até então.
Foi quando ele deu uma folheada no material e o fechou, bruscamente como se aquilo estivesse a incomodá-lo, e consequentemente a fazê-lo perder tempo com algo que absolutamente não interessava-lhe.
Então, com uma certa truculência, ele ligou o tape-deck que tinha próximo de si e disse-nos que estava empolgado com uma banda gaúcha que estava a produzir, e esta, seria o novo "estouro na mídia".
Começamos a
ouvir então o som do "TNT", que não era uma banda ruim, eu reconheço e
tinha até as suas qualidades, pois sem comungar com o Pós-Punk como seria sempre
para esperar-se como uma obviedade, naquela época.
Mas também, não era nada extraordinário o trabalho desses rapazes dos pampas ao tratar-se de uma banda comum, sem nenhum atrativo excepcional e inquestionável que fizesse dela, algo "especial".
Durante aqueles minutos em que ficamos em silêncio a ouvir o som do TNT, ficara claro o desprezo absoluto da parte do tal produtor em relação ao nosso trabalho, por sequer mencionar a intenção de ouvir um segundo sequer da nossa música.
Ouvimos duas ou três músicas do TNT e ao desligar o tape-deck, eis que ele iniciou um monólogo sobre o quanto acreditava que tal banda faria sucesso estrondoso, em sua ótica profissional.
Foi então quando eu descobri pela via dolorosa, que isso era uma praxe nesse mundo das corporações musicais. O produtor da Warner o fizera na Kombi do Zé Luiz (história contada em detalhes, vários capítulos atrás), quando desconversou sobre o som de nossa demo que tocava, e emendou um discurso sobre a "maravilha" que era o "Camisa de Vênus".
Agora o tal sujeito barrigudo fizera ainda pior, pois em uma reunião formal para analisar-se o material de uma banda, no caso a nossa, a estratégia desdenhosa e vergonhosa, fora fazer-nos ouvir o trabalho de uma outra banda.
Nos anos
noventa, eu passaria por algo igual com o Pitbulls on Crack, quando em uma
tentativa de mostrar um novo trabalho ao produtor, Miranda, este
respondeu-nos ao apertar o play da máquina de gravação do estúdio Be Bop, e
assim obrigou-nos a ouvir o "Mundo Livre S/A", certamente uma maneira
sutil de dizer-nos que o nosso som era inadequado, e aquilo que mostrava-nos, representava a grande "Coca Cola gelada do deserto", ou do mangue, como queira o leitor.
Muitos anos depois, um amigo que militou a vida toda no mundo corporativo e não ligado às artes, portanto, ao referir-se a um ambiente ainda mais monolítico, disse-me que a tática padrão para lidar com assuntos indesejáveis dentro das corporações era o do desestímulo sutil ao interlocutor.
A tática consistia em nunca abordar o assunto de uma forma cartesiana com a pessoa, mas a permanecer alheio e emitir sinais sutis e contrários, ao elogiar opostos, para criar assim a inibição. E caso a pessoa insistisse ou perdesse a postura, ao partir para a agressão verbal, a postura seria a de permanecer em silêncio e suportar a verborragia, até a pessoa cansar de falar, para no primeiro momento de pausa possível, dar por encerrada a conversa, e educadamente pedir para a pessoa retirar-se.
Não tratava-se portanto de um complô contra nós, nem mesmo seria o caso de se visar alimentar a teoria da conspiração, pois tal tática de desdém com ares blasé, era apenas uma praxe corporativa, tão somente.
-"Falou, então, sr. robusto... pois que fosse feliz a acumular a sua banha abdominal, até explodir como a "Dona Redonda" do "Saramandaia", talvez ao fazer uso de "TNT", para estimular a sua ida aos ares"...
Foi a penúltima tentativa de abordagem a gravadoras que ocorreram de nossa parte, e aconteceu em meados de junho.
Com mais duas negativas de gravadoras a arderem na pele ainda, o ânimo da banda diminuíra, drasticamente. Já não havia a obstinação por ensaiarmos com constância, outrora uma marca registrada de nossa banda e tirante a parte prática, dessa falta de empenho, que refletir-se-ia em algum momento com a ferrugem a ser acumulada inevitavelmente, a grande erva daninha que estávamos a observar crescer em nossa volta, foi de ordem psicológica.
Ao minar-nos nesse sentido, vários fatores externos fizeram com que sucumbissem também animosidades pessoais, desavenças, irritabilidade etc. Em um momento de crise, a tendência em tempos de escassez de recursos e falta de perspectivas de melhora, seria a de haver desgaste psicológico.
Isso
acontece em qualquer tipo de empreendimento onde existam sócios, e uma
banda de Rock é também uma pequena empresa, gerida por um grupo de
sócios.
Assim, o clima começou a azedar internamente na banda, desde que frustráramo-nos com a inoperância do Studio V, mas tiramos uma força das entranhas para prosseguir e ainda bem, algumas oportunidades ainda surgiram no momento imediatamente após o rompimento com os empresários, para relativizar as insatisfações pessoais de cada um e possíveis desentendimentos surgidos desse clima ruim, no âmbito interno da banda.
Todavia, após a
tentativa de abordagem na BMG-Ariola, com tamanha demonstração de
desdém do sujeito que recebeu-nos, creio que as nossas forças esvaíram-se
de vez.
Conforme eu já mencionei, o Zé Luiz vinha a receber pressões familiares para tomar um rumo tradicional, na sua vida profissional e que não mais o iludisse com a construção de uma carreira artística, mas que desse-lhe também o sustento sócio financeiro.
Quanto ao Rubens, ele já
não estava tão entusiasmado com os rumos atuais da banda e passara a questionar
a mudança radical (na verdade, a terceira mudança), que levara-nos para
um caminho dentro do campo do Hard-Rock oitentista, em que praticamente suprimiu-se o
material antigo, notadamente a verve do Jazz-Rock que marcara-nos nos
primeiros anos de atuação da banda.
Ele teve razão, claro, mas em termos. De fato, abandonar completamente o material antigo da banda não houvera sido uma estratégia salutar em sua totalidade.
O ponto válido nessa
tática, fora apenas o de buscarmos uma colocação no mundo das gravadoras
majors, mas foi um risco grande, pois ao não conseguirmos tal intento,
estávamos apenas a frustrar o nosso público antigo, que gostava da nossa
carreira como um todo, portanto, também (ou principalmente) do material antigo, composto sem
nenhuma preocupação de agradar produtores de gravadoras ou agentes da mídia
mainstream.
Beto achava que deveríamos continuar na estratégia e o fato de estarmos a receber negativas das gravadoras abordadas até então, não significava que a insistência não daria certo mais para a frente.
Eu, de minha parte, só queria que a banda prosseguisse unida, a lutar e continuar a sua trajetória. De fato, concordava parcialmente com as colocações de Beto e Rubens, mas tentava fazer uma mixórdia entre as duas propostas.
Achava
válido tentar continuar a lutarmos para buscarmos um lugar ao sol, portanto
com estratégias mais certeiras, adequadas para tal, mas também queria que a
história da banda fosse respeitada e músicas clássicas do repertório,
voltassem ao set list dos shows, com exceção das "pauleiras" do EP de
1985, pois nesse aspecto, achava-as realmente despropositadas.
Diante desse desânimo generalizado, o Beto, que foi sempre pragmático, propôs mudanças até na formação da banda. Isso causou um mal-estar bem grande e tal ideia haveria de ser um fator de discórdia que tornar-se-ia cancerígeno, com o perdão da metáfora forte, e que revelar-se-ia em alguns meses, um fator decisivo para o final da banda.
Tiro todo o peso desse ato, das costas do Beto, pois sei que a sua intenção foi outra, completamente, deixo claro. A sua vontade de fazer algo para movimentar a banda e dar-lhe a sobrevida, fora a sua real intenção, mas o Rubens não levou para esse lado e o clima doravante, só piorou no âmbito interno da banda, também por esse fator.
Dessa forma, o Beto propôs que conversássemos com Daril Parisi, nosso amigo e um grande guitarrista e tecladista, que estava sem banda naquele momento, com o súbito término das atividades do "Platina".
Na sua ótica, uma mudança de formação, com Daril a entrar em nossa banda e a torná-la um quinteto, traria muita atenção midiática e seria, portanto, um alento para tomarmos um novo fôlego.
Teoricamente,
não seria uma má ideia, mas por outro lado, não houve nenhuma garantia de
que uma mudança assim levar-nos-ia a alguma melhora significativa.
O grande guitarrista/tecladista e professor, Daril Parisi, em foto bem mais atual
Particularmente,
eu não apreciava muito a ideia, mas por outro aspecto. Não conseguia vislumbrar que isso fosse
uma estratégia com possibilidade de proporcionar-nos um novo impulso, mas compreendi
o ponto de vista do Beto, em tentar criar um fato novo.
Infelizmente o Rubens não pensou sob esse aspecto e ao levar para o lado pessoal, sentiu-se preterido. Também entendo-o, pois afinal de contas ele fora a célula mater da banda.
Ele imaginara a criação da banda com esse nome ainda na tenra infância, ao ouvir os discos do Jimi Hendrix, diretamente da coleção de seu irmão mais velho, Rafael Gióia. Ainda adolescente, chegou a formar banda com esse nome, embora não seja contabilizada na história oficial de nossa banda, mas foi um fato.
Portanto, claro que eu entendo e muito, que o Rubens tenha aborrecido-se com tal ideia do Beto.
Então, chegamos em um ponto onde ficamos desunidos, sob o fogo cruzado das indisposições mútuas, mal-entendidos e com cada um a fazer uma leitura diferente da situação.
Rubens chateado com o repertório dos shows sem menção ao material antigo e com a ideia de incorporar mais um guitarrista na banda, Beto a tentar criar fatos novos para dar alento à banda, Zé Luiz a viver uma crise pessoal ao questionar a sua permanência na banda e até na música, e eu, só a desejar que a banda sobrevivesse, ao tentar restabelecer a união interna e o foco.
Uma jam-session foi feita de uma forma bastante informal com o Daril Parisi, que era (é), um gentleman e este mostrou-se muito honrado com o convite para uma conversa e a lembrança de seu nome.
Ele admirava a nossa banda, na mesma medida em que apreciávamos o Platina e a sua categoria como músico e pessoa. Entrar para a formação d'A Chave do Sol foi uma ideia que enalteceu-lhe muito, mas ele que sempre foi sensível e muito inteligente, ao sentir que tal ideia do Beto, não foi unânime e também pelo astral da banda, bem baixo, não forçou nenhuma barra, embora de sua parte, estivesse animado para aliar-se, desde que fosse um desejo muito claro dentro da banda e infelizmente, não o foi.
Nada contra o Daril, pelo contrário, sempre o considerei um grande músico, compositor e um excepcional Ser Humano.
Se o clima já estava ruim no interno da banda, infelizmente, só advieram pioras. Mais uma vez tiro a carga de culpa das costas do Beto, pois a sua intenção foi a melhor possível.
E daqui para frente, amigo leitor e fã em particular d'A Chave do Sol, os próximos capítulos serão tristes, com poucos momentos a relembrar histórias felizes ou acontecimentos engraçados, mas a focar em muitas reflexões sobre o quanto o desgaste nos fez mal, ao estremecer até a amizade, infelizmente.
Bem, da parte do Zé Luiz também teve efeito ruim tal ideia do Beto. Ele não foi contra uma mudança de formação com a entrada de um quinto membro, em princípio, mas o seu estado de ânimo por conta de seus problemas existenciais, familiares pessoais e até sócio financeiros (talvez isso, sobretudo), o atormentava internamente e tal tentativa da parte do Beto para salvar a banda, soou-lhe como infrutífera. Faltava um triz para ele revelar-nos então o que afligia-lhe pessoalmente e o desfecho para a banda não poderia ter sido pior, mas ainda não vou comentar sobre isso.
Rubens ficou muito arredio com essa ideia do Beto e colocou-se em posição defensiva, a afastar-se de nós, em um processo irreversível eu diria, pois no segundo semestre, ele mal compareceria aos ensaios, aborrecido que ficara com o rumo da banda.
Bem, em meio a essa crise interna, os fãs nem desconfiavam que passávamos por isso e oportunidades para realizarmos shows e aparições midiáticas continuavam a aparecerem, se bem que a diminuir gradativamente na sua intensidade, pois como eu já deixei claro em vários capítulos, quando um artista começa a despontar, é necessário que tal "momentum" seja agarrado com as duas mãos e se possível, com os pés também.
Como não
tínhamos um empresário esperto o suficiente para aproveitar isso
adequadamente, com métodos e contatos, estávamos a perder a nossa vez.
Na verdade, já havíamos perdido, hoje eu enxergo tais acontecimentos com clareza.
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