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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Trabalhos Avulsos - Capítulo 40 - Disco Solo de Rodrigo Hid - Por Luiz Domingues

Rodrigo Hid com a Patrulha do Espaço, em 2004. Foto: Ana Fuccia

Quando a nossa formação da Patrulha do Espaço encerrou-se em 2004, o anúncio oficial foi dado em setembro desse ano, porém, na realidade ainda cumprimos um show no mês subsequente, em outubro. 

Contudo, o fato é que vivíamos uma fase de desgaste nítido na relação interna da banda, há meses, pelo menos desde o final de 2003, e assim, o companheiro Marcello Schevano articulou a criação de uma nova banda em paralelo, que denominar-se-ia: "Carro Bomba" e o Rodrigo Hid começou a projetar a ideia de lançar um álbum solo.  

Assim que a Patrulha do Espaço saiu de nossas respectivas vidas, eu soube que o Rodrigo estava a promover ensaios com o jovem e super promissor baterista da banda, "Quarto Elétrico" (Ivan Scartezini), uma ótima banda por sinal, e que havia sido atração de abertura de alguns shows da Patrulha do Espaço, de nossa fase e também com o seu baixista, o super talentoso, Thiago Fratuce, que fora um de meus melhores alunos, nos anos noventa. 

A sua ideia inicial seria gravar em trio e ele, por ser um multi instrumentista, certamente que supriria com galhardia toda a parte das guitarras, teclados, vozes e violões acústicos, portanto a contar com o apoio de uma cozinha de muita categoria, formada por Ivan Scartezini e Thiago Fratuce. Em suma, ele teria tudo para lançar um álbum incrível, ainda mais se levarmos em conta a obviedade de que ele é um compositor inspiradíssimo, portanto não seria apenas o atrativo da exímia execução da parte dele e de seus convidados, mas sobretudo pela certeza de que haveriam de ser, um conjunto de músicas lindas. 

        Rodrigo Hid com o Pedra, em 2006. Foto: Grace Lagôa

Todavia, poucas semanas depois, ocorreu o convite do guitarrista, Xando Zupo, para que Rodrigo viesse a integrar a sua nova banda que estava a ser articulada e com a agravante de que eu mesmo, Luiz Domingues, também estava inserido nesse projeto (e naturalmente que eu insisti para que ele, Rodrigo, aderisse a esse novo trabalho). 

Então, eis que culminou com que ele aceitasse o desafio e nessa nova configuração, o seu projeto para a produção de um disco solo fosse engavetado. Cerca de um ano e meio depois disso, o próprio baterista, Ivan Scartezini, também agregou-se a essa nova banda, batizada como: "Pedra" e tal história está contada em detalhes nos seus respectivos capítulos alojados nos meus Blogs 2 e 3 e igualmente nas páginas do livro impresso, com tal teor, "Quatro Décadas de Rock".

   Rodrigo Hid com o Pedra, em 2014. Foto: Leandro Almeida

Mas o tempo passou, o "Pedra" acabou, depois de um ano de inatividade, voltou, e acabou novamente, desta feita definitivamente em 2015. 

E o Rodrigo, desde muito tempo, já havia tornado-se um dos mais requisitados músicos da noite paulistana, a tocar em bandas cover (como por exemplo, o "Rockover", ao lado do excelente guitarrista, Ronaldo Paschoa, ex-Tutti-Frutti, ex-Guilherme Arantes e ex-Rita Lee), também em inúmeros pequenos combos e além de tudo isso, o fato de por ser eclético ao extremo, propiciou que ele pudesse montar uma agenda incrível como artista solo, a cumprir voz & violão e/ou voz & piano em inúmeras casas noturnas e também para vir a se tornar "side man" de artistas importantes da MPB com teor Folk/Rural, como Chico Teixeira, filho do compositor, cantor e violonista, Renato Teixeira. 

Portanto, com a sua agenda completamente lotada, e ainda que isso fosse (seja) uma maravilha, a pensar estritamente no aspecto financeiro, demorou, mas finalmente Rodrigo Hid vislumbrou uma boa oportunidade para desengavetar o seu projeto para lançar um disco solo. 

Para tanto, Rodrigo planejou gravar o seu disco, a formar vários combos, com músicos amigos que transitaram pela sua carreira até aquele ponto e assim, foi com muita alegria que eu recebi o seu convite para gravar duas faixas em princípio, e mais feliz ainda fiquei, quando soube que o baterista dessas duas faixas em que eu gravaria, seria o meu velho e querido amigo, José Luiz Dinola. 

Ora, que prazer gravar novamente com meu velho colega d'A Chave do Sol e de certa forma resgatar a frustração de um outro projeto nosso que não conseguiu chegar nesse ponto em ter gravado o seu material criado, no caso, o "Sidharta", e nesse aspecto, diretamente ligado também ao Rodrigo Hid.

Na sala da técnica do estúdio "A" de gravação do complexo "Orra Meu", o "Sidharta" reunido, dezenove anos depois, com a sua formação clássica. Da esquerda para a direita: José Luiz Dinola, Marcello Schevano, Rodrigo Hid e Luiz Domingues. Agora, o objetivo seria gravar o 1º disco solo de Rodrigo Hid, com Dinola e Domingues a dar suporte instrumental e Schevano a operar e produzir essa gravação. 1° de março de 2017. Acervo e cortesia de Rodrigo Hid. Click: Diogo Barreto

Portanto, seria mais que um prazer pela amizade envolvida entre nós três, mas uma espécie de resgate tardio, mas bem-vindo sobre algo que não conseguimos realizar naquela época, entre 1998 e 1999, com o Sidharta. E para reforçar toda essa incrível teia de conexões entre nós três, houve um quarto elemento que teve tudo a ver conosco e seria o propiciador técnico de tal ação. Refiro-me a Marcello Schevano, que abriu as portas de seu recém-inaugurado mega estúdio, e ele próprio prontificou-se a ser o "tape operator" e produtor do álbum. 

Cabe destacar que quando ele e o seu irmão, Ricardo Schevano, este na qualidade de meu ex-aluno (e baixista experiente e de alto nível, há anos), montaram o seu estúdio, ambos foram estudar produção de áudio e nessa altura, estavam ambos habilitados como técnicos de gravação de alto padrão. E diante de um estúdio maravilhoso que fundaram, com tecnologia de ponta e equipamentos e instrumentos vintage de primeira categoria, qualquer álbum que fosse produzido em seu estabelecimento, tendia a ter qualidade sob nível internacional, portanto, um disco de Rodrigo Hid que traz no bojo a sua qualidade artística altíssima, e produzido sob tais condições técnicas de nível norte-americano ou europeu, só poderia ficar excelente, foi uma dedução lógica.

Reencontro de velhos amigos em jornadas conjuntas e distintas, da esquerda para a direita: Rodrigo Hid, Luiz Domingues e José Luiz Dinola. Primeiro ensaio para a gravação de duas faixas do disco solo de Rodrigo Hid. Estúdio B de gravação do complexo Orra Meu. 1º de março de 2017. Foto: Diogo Barreto

Sobre as canções que Rodrigo designou-me a gravar junto com o José Luiz Dinola, a minha familiaridade com ambas, era total. Tratou-se de duas canções que chegaram a serem gravadas pelo "Pedra", a fim de figurar no repertório do CD derradeiro da banda, o "Fuzuê", mas que foram descartadas por um membro da banda por questão de seu gosto pessoal, ao julgá-las não adequadas ao bojo do álbum. 

Sobre essa produção em si, eu descrevi a situação nos capítulos finais do Pedra, basta procurar no arquivo do Blog. Mas o importante é que o Rodrigo estava disposto a regravá-las e eu, que aprecio as duas, fiquei muito feliz por ter essa chance de novamente colocar o meu baixo nelas, e vê-las enfim, lançadas.

Uma delas chama-se: "Siga o Sol" e trata-se de um Folk-Prog muito bonito, com final em looping emocionante, bem setentista. E a outra que na época tinha o nome provisório de: "Porão" (o Rodrigo pensa em criar uma nova letra e possivelmente ela passará a ter outro título quando for lançada), trata-se de uma canção que ele já planejava gravar em 2004, quando esboçou produzir o seu disco, inicialmente, e ficou anos a tentar vencer a resistência de um colega nossa para inclui-la no repertório do Pedra e mesmo ao gravá-la, não conseguiu evitar o seu descarte na hora do lançamento do disco dessa banda, ocorrência que já citei anteriormente. 

A manter o seu arranjo original, a música tem uma introdução muito a ver com a estética do Prog-Rock setentista e uma parte cantada, mais Pop, a lembrar o som de Elton John e para citar um artista brasileiro semelhante, Guilherme Arantes.

Ensaio com José Luiz Dinola e Rodrigo Hid, para gravarmos duas faixas no disco solo dele, Hid. Estúdio de gravação B do complexo "Orra Meu". 1º de março de 2017. Foto: Rodrigo Hid (selfie) 

Baseamo-nos nas gravações malogradas do Pedra, eu e Dinola para prepararmos as duas canções previamente e alguns ensaios foram marcados para se cumprir a devida pré-produção dessa gravação. E foi um prazer realizar tais encontros, para efetuar esse trabalho e inevitavelmente termos ótimos momentos marcados pela nostalgia ao agruparmo-nos, os quatro ex-integrantes do Sidharta, e curiosamente, no primeiro ensaio, o Rolando Castello Junior estava no estúdio de gravação, a participar de uma sessão de decupagem do material gravado nos shows ao vivo, onde nós também revivemos a nossa formação da Patrulha do Espaço, portanto, sob o mesmo teto, dia e horário, muitos personagens da minha história pessoal na música, em épocas diferentes estiveram ali agrupados, o que foi um momento de alegria pessoal, sem dúvida alguma.

Após três ensaios, a gravação foi marcada e o Dinola sugeriu uma técnica diferente na metodologia de gravação, que já estava habituado a usar nas gravações de sua banda, o "Violeta de Outono" e cujo conceito, o guitarrista, Fábio Golfetti havia aprendido na Europa, em meio às suas andanças como membro da banda Prog-Rock internacional, o "Gong". 

Nesse conceito, a aproveitar-se do fato da tecnologia digital estar muito avançada, fica mais fácil gravar músicas mais complexas, ao estilo Prog-Rock, que tenham muitas partes, divididas em trechos, e posteriormente a montagem milimétrica de tais frações é perfeita. No caso da música provisoriamente conhecida como: "Porão", tal metodologia facilitou-nos a vida, pois trechos complexos foram gravados separadamente, a minimizar ao máximo a incidência de erros. Dessa forma, muito rapidamente o José Luiz Dinola gravou a bateria das duas canções e na mesma tarde, em pouquíssimo tempo, eu já gravei a minha parte, igualmente, com muita tranquilidade.

A preparar-me para gravar, sob absoluta tranquilidade na sala A do estúdio Orra Meu, com Marcello Schevano, na operação. E pela visão da janela, o roadie, Diogo Barreto a fazer ajustes na bateria de José Luiz Dinola, na sala ao lado. Na minha mão em pleno uso, o Fender Precision e no cavalete, o Rickenbacker 4001, gentilmente emprestado por Ricardo Schevano. 19 de abril de 2017. Foto: Rodrigo Hid

Sobre os baixos que eu usei, levei o meu Fender Precision para gravar o Prog-Rock que torna-se canção Pop ao seu final e o Rickenbacker na canção Folk-Prog, a seguir a mesma intuição que tive por ocasião da gravação das mesmas canções mas para o disco do Pedra. Creio ter sido adequado nas duas ocasiões, estou convencido que é o que as músicas pedem. 

A diferença, é que usei o Rickenbacker do Ricardo (e não o meu, que curiosamente é da mesma cor, só que modelo 4003 e do ano de 1980), e o dele é um 4001, ano 1973, ou seja, com linha de captação, Toaster. E a amplificação cedida pelo estúdio, com caixa e cabeçote Ampeg, absolutamente matadora, a imprimir timbre e peso, fantástico. Ricardo Schevano auxiliou-me muito na produção desse som de baixo, e atesto que saí do estúdio muito satisfeito com a sonoridade dessa captura.

Um pouco antes da sessão de gravação iniciar-se, a conversar com o meu velho amigo, José Luiz Dinola. "Um Minuto Além" e sempre reencontramo-nos na mesma... "Luz". Gravação do disco solo de Rodrigo Hid, no estúdio Orra Meu de São Paulo. 19 de abril de 2017. Foto: Rodrigo Hid

Marcello operou, mas com supervisão de um de seus professores do curso de áudio, e que também opera regularmente ali no estúdio "Orra Meu", o ótimo, André Miskalo. Além de Ricardo, que também habilitou-se teoricamente muito bem e acompanhou tudo de perto. Portanto, Rodrigo cercou-se de técnicos gabaritados e com tal estúdio ultra equipado e moderno, teria tudo para se elaborar um álbum memorável.


Algumas semanas depois dessa gravação, vi pelas redes sociais da Internet, que um novo time de músicos convidados por Rodrigo já estava a gravar mais faixas. Tudo absolutamente em família, a outra cozinha convidada fora formada por Rolando Castello Junior e Nelson Brito, a dispensar qualquer tipo de apresentação sobre ambos...

E no início de julho de 2017, eis que eu recebo um novo recado pelo inbox do Facebook, com Rodrigo a convocar-me para gravar mais duas faixas, desta feita com o extraordinário baterista, Franklin Paolillo, uma lenda do Rock brasileiro setentista. Uma canção será inédita e a outra, "Sonhos Siderais", uma peça que o Rodrigo compôs para o nosso projeto Sidharta, portanto, estou muito animado para desengavetar mais um tema que trabalhamos com tanto carinho naquele projeto ocorrido ao final dos anos noventa e esta não aproveitada por outra banda, posteriormente, como muitas que foram gravadas pela Patrulha do Espaço ou pelo Pedra. 


Sendo assim, futuramente mais um ou dois capítulos serão escritos a falar sobre esse trabalho avulso que realizo com o meu velho amigo, Rodrigo Hid e a envolver diretamente muitos companheiros de inúmeras jornadas de minha carreira. 
A conversar com os irmãos Schevano: Ricardo, em pé e Marcello, sentado, próximo a mesa de som. Gravação do disco solo de Rodrigo Hid, no estúdio Orra Meu, de São Paulo. 19 de abril de 2017. Foto: Rodrigo Hid

Continua... (mas com data indefinida para publicação, neste momento, dezembro de 2017)

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