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quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Trabalhos Avulsos - Capítulo 43 - Jam-Session com Diogo Oliveira & Pedro Silva - Por Luiz Domingues

Eis que após ter participado de uma grande celebração em meio ao no Festival "Mulherada Criativa", no início de julho, ao ar livre pelas ruas da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo, fora formulado-me um convite para um novo trabalho avulso a ser realizado em breve, nos mesmos moldes, em outra feira de rua e no mesmo bairro, entretanto, antes que isso concretizasse-se, outro convite surgiu, aliás, dois outros. 

O primeiro, foi para eu participar como substituto do grande, Marcião Gonçalves, na banda de apoio do magistral guitarrista, cantor e compositor, Chico Suman, em um show a ser realizado na casa de espetáculos, Santa Sede Rock Bar. Ora, tocar com Suman seria um prazer; substituir o amigo, Márcio, idem (ele iria tocar com Renato Teixeira em um show fora de São Paulo, nessa noite) e igualmente, por ser no Santa Sede Rock Bar, uma casa cujos proprietários e sua equipe, são meus amigos e onde eu estava habituado a apresentar-me com forte regularidade, com a minha banda, Os Kurandeiros. 

Mas por conta de um apontamento familiar que eu teria naquele dia proposto para a apresentação, fui obrigado a declinar do convite, infelizmente. Foi quando um outro convite surgiu e desta feita, eu pude aceitar e curiosamente, formulado por um músico que não é apenas um outro amigo de longa data, como também gravita na mesma turma de Chico Suman e construiu uma estreita proximidade com a minha ex-banda, "Pedra", por ter sido colaborador direto do nosso trabalho, ao ter criado capas de discos (os cd's: Pedra II e Fuzuê), inúmeros cartazes e flyers, cenários para shows e um dos vídeoclips mais criativos que eu tive de um trabalho meu, o clip da nossa versão (refiro-me ao Pedra), da canção: "Cuide-se Bem", do Guilherme Arantes. Falo sobre... Diogo Oliveira!

Em foto capturada no camarim do Centro Cultural São Paulo, em fevereiro de 2007, Diogo Oliveira é o primeiro da esquerda para a direita. Ao seu lado, três, dos quatro componentes do Pedra: Ivan Scartezini, Xando Zupo e eu (Luiz Domingues). Foto: Grace Lagôa
 
Músico multi-instrumentista, cantor e compositor, não contente em ser muito bom no campo da música, Diogo é um artista plástico ultra criativo, webdesigner, publicitário, criador de histórias em quadrinhos e muito mais ações no campo das artes gráficas e visuais em geral, a atestar a sua genialidade múltipla. Não só por todo esse potencial criativo e multifacetado, Diogo é o chamado: "um dos nossos", dada a sua confessa opção pela contracultura sessentista, a ostentar uma alma aquariana, versada pelos ideais "woodstockeanos", portanto, é fraterno amigo e signatário dos mesmos ideais que eu professo, desde sempre.

Nesses termos, o seu convite foi para eu participar de uma jam session, junto a ele e também com a participação do excelente baterista, Pedro Silva, em uma casa noturna localizada no bairro do Ipiranga, na zona sudeste de São Paulo. 

E como faz parte da mesma turma, o seu baixista regular seria o Marcião Gonçalves, mas este estaria ocupado nessa noite, a tocar com... Chico Suman, em um festival de Blues, na cidade de Uberlândia, Minas Gerais. Para resumir, eu não pude tocar com Suman, dias antes para substituir o amigo, Marcião Gonçalves, e agora, eu teria que substituí-lo, para que este pudesse acompanhar, Suman, ao se constituir em uma certa ironia do destino ali configurada. 

O repertório proposto seria formado por clássicos do Rock, Blues e Folk Music das décadas de sessenta e setenta, e em sua imensa maioria, canções que eu costumava tocar com Os Kurandeiros, inclusive no mesmo tom. Algumas poucas sob tom diferente e as que eu nunca havia tocado, ao menos, conhecia amplamente por memória afetiva. Falo sobre The Beatles, The Rolling Stones, Jimi Hendrix, Cream, Eric Clapton, Johnny Cash, Derek and Dominos, Neil Young, Stevie Wonder, The Band etc. Em síntese, só coisa boa.

O palco do Quina Bar de São Paulo, com a bateria de Pedro Silva, montada e a espera do ataque. 4 de agosto de 2018. Click e acervo: Luiz Domingues
 
Cheguei ao local, o Quina Bar, e assim que comecei a retirar o meu equipamento do automóvel, vi que Diogo Oliveira estava a estacionar, ali perto. Entrei e fui bem recebido pelos funcionários, todos simpáticos e logo notei a presença do baterista, Pedro Silva, que montava a sua bateria, no pequeno palco da casa. 

Eu não tinha muita intimidade com ele (havíamos interagido em dois shows do Pedra e um d'Os Kurandeiros com o Suman Brothers Band, em épocas passadas), mas a sua simpatia cativou-me de imediato e ali estabelecemos uma conversa muito boa. 

A sua bateria, uma Ludwig dos anos sessenta, impressionou-me muito pela sua beleza e raridade, inclusive ao consideramos que a marca Ludwig, outrora icônica ao mundo do Rock, caíra em uma espécie de ostracismo nas últimas décadas, mas em minha percepção, versado que sou pelas décadas de sessenta e setenta, os bateristas mais jovens podem ignorar isso e preferirem as marcas asiáticas em geral, mas Ludwig é Ludwig no meu conceito. 

Pedro é um excelente baterista, muito técnico, criativo e pela conversa que tivemos, 100% influenciado pela mesma estética, portanto, a conversa foi muito animada. Aliás, descobri que ele era (é) também professor universitário, a ministrar aulas em uma faculdade de economia, na cidade de Santo André-SP, no ABC paulista e muitos alunos seus estiveram presentes, ali no Quina Bar, nessa noite. 

Ele mesmo confidenciou-me que em suas aulas, apesar de que estava (está) em uma cátedra das ditas matérias exatas, ele sempre inseria dentro do contexto geral, analogias a falar sobre música, e Rock sessentista, geralmente. Portanto, se depender dele como professor, teremos formandos em economia com simpatia pelo Rock sessentista, nas gerações futuras.

No pós-show, a confraternização dos músicos: Pedro Silva, eu (Luiz Domingues) e Diogo Oliveira. Quina Bar de São Paulo. 4 de agosto de 2018. Acervo e cortesia: Diogo Oliveira. Click: Carol Machado
 
Eis que chegam ao estabelecimento, Carlinhos "Jimi" e Carol Machado, meus amigos de longa data, Carlinhos é um grande guitarrista e amigo desde o meu tempo como componente da Patrulha do Espaço, conheço-o desde 2001. E quanto a Carol Machado, ela acompanhou bastante a trajetória do Pedra, nos anos 2000. 

Tirante esses amigos em comum, o bar lotou com inúmeros outros amigos de Diogo e Pedro, mais estranhos, frequentadores da casa e foi muita animada a performance. Diogo cantou e tocou com maestria, isso não surpreendeu-me, já o conheço há muitos anos e sei de seu potencial como músico. A sua interpretação para as canções do Jimi Hendrix, foi excelente e elogiado pelo próprio, Carlinhos "Jimi", e este é um especialista na obra desse ícone do Rock sessentista. 

Pedro Silva também tocou muito, gostei muito da sua criatividade e intensidade. É o tipo de músico que empolga-se e deixa transparecer isso na performance, e por conta dessa particularidade nítida de sua personalidade, fez com que eu lembrasse-me do Nahame Casseb, o popular "Naminha", baterista com quem eu toquei na minha segunda passagem pelo Língua de Trapo, em 1983 & 1984. Naminha era assim também, um baterista que quando se animava, expressava isso nitidamente no gestual e no semblante. Fizemos duas entradas bem animadas, as pessoas interagiram muito, e assim, foi uma noitada extremamente prazerosa.

Ao encerrar, Diogo contou-me que estava para lançar uma Revista de História em Quadrinhos, autoral e revelou-me o teor da sua criação, os principais personagens e o mote. Com a abordagem absolutamente psicodélica, teria muito a ver com o estilo do Robert Crumb, influência óbvia dele como cartunista e sob bom gosto, certamente. E foi assim, uma Jam session animada, com ótimo repertório, mediante um público interativo e simpático, com excelentes músicos, ótimo convívio e presença de amigos queridos em comum. Em suma, como diria o Dr John: -"Such a Night!" 

Agora sim, o próximo trabalho avulso anunciado, seria acompanhar o guitarrista, cantor e compositor, Lincoln "The Uncle" Baraccat, que não possuía uma banda fixa e assim, cada vez que marcava um show, costumava montar um time inteiramente novo e sensacional para acompanhá-lo, a la Ringo Starr e desta feita, eu tive a honra de receber e aceitar o seu convite para fazer parte de seu grupo sazonal.

Confraternização final pós show. Pedro Silva, eu (Luiz Domingues) e Diogo Oliveira. Quina Bar de São Paulo, em 4 de agosto de 2018. Acervo e cortesia de Diogo Oliveira. Click: Carol Machado

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