Aconteceu no tempo da minha segunda passagem pelo Língua de Trapo, por volta de 1984
Em minha
segunda passagem pelo Língua de Trapo, conforme já narrei com detalhes
em meu livro autobiográfico, a banda atingira um outro patamar de
profissionalismo, ao qual eu não vivenciara em minha primeira
participação, na formação dessa banda. E por conta disso, em meio aos
inúmeros fatores que atordoaram-me em minha volta, em outubro de 1983,
um deles foi a grande profusão de shows e viagens para cumprir turnês
longas.
Ótimo, não trata-se de uma queixa de minha parte de forma
alguma, pois pelo contrário, isso representou de fato o que eu mais
desejava em termos de realização pessoal, desde que imbuíra-me da
determinação em ser um músico profissional, nos primórdios da minha
primeira banda, o Boca do Céu e na companhia, coincidentemente, de meu
amigo e também fundador do Língua de Trapo, o Laert Julio, vulgo Laert
"Sarrumor".
Posto isso, o fato é que logo nas primeiras viagens, a adaptação com os novos companheiros foi instantânea. Muitos eram egressos do momento inicial da banda, ou seja, foram meus colegas entre 1979 e 1981, e os que eu não tivera convivência direta, eu também já conhecia por outras circunstâncias, portanto, não havia nenhum estranho ali.
E sendo assim, com amizade e liberdade com todos, assim que chegávamos a um hotel para estabelecer o check-in, não havia nenhuma restrição de minha parte em relação a ninguém e vice-versa, para dividirmos quartos duplos ou triplos para a hospedagem. A conversa e a camaradagem era sempre boa com todos.
Mas um dia, uma manifestação de um dos colegas, surpreendeu-me e
aos demais, ao motivar risadas generalizadas e a graça dessa
manifestação foi exatamente pelo fato do depoimento do colega em
questão, ter sido feito sob absoluta sinceridade e seriedade, ou seja,
ele não estava a propor uma piada para causar a descontração geral, mas
apenas a tecer um comentário honesto.
E o que ele disse?
Bem, na hora do check-in, o meu amigo, que era (é) um músico extraordinário, compositor, cantor e um sujeito culto e muito gentil (mas cujo nome eu não vou citar para não constrangê-lo), afirmou que preferia dividir o quarto comigo, Luiz Domingues, em detrimento do outro colega nosso, que fora ventilado ali na hora, pois considerava-me um sujeito educado, que não falava alto; não tinha chulé, e também por nunca ter flagrado-me a arrotar e sobretudo, por conta de eu não costumar peidar...
Bem, após elencar tais virtudes da minha pessoa com uma voz pausada e sob absoluta seriedade, a gargalhada generalizou-se no saguão do hotel, pois mais do que enaltecer a minha pessoa por tais quesitos, alguns deles bizarros, diga-se de passagem, o contraponto foi imediato em relação ao outro colega (cujo nome eu não citarei, pelo mesmo motivo alegado sobre o autor da frase), por supostamente ele não ter as mesmas qualidades em termos de decoro, que eu possuía.
Em suma, tínhamos ali um grupo formado por homens entre vinte e trinta anos de idade, mas como acontece em qualquer comitiva, não importa a maturidade atingida pelo fator cronológico, pois a tendência é que todos nós, tornemo-nos meninos em idade escolar, quando agrupados em excursões... por isso, não teve jeito, pois o colega rejeitado tornou-se alvo das brincadeiras e apelidos jocosos decorrentes de tal exposição, por pelo menos alguns dias, com a fama adquirida por expelir odores desagradáveis durante o seu adormecer noturno...
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