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terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Chave/The Key - Capítulo 2 - Shows, Confusões & Virtuosismos - Por Luiz Domingues

Com a definição da banda para estabelecer-se como um quinteto, doravante, e um tempo elástico em relação ao próximo compromisso marcado, partimos então para a elaboração de um novo material. 

Com isso, a intenção ficou clara em desvincular esse grupo da extinta, A Chave do Sol, ao máximo, a se manter um elo saudável com os fãs daquele outro trabalho, mas não como uma continuidade pura e simples dele, porém ao marcar a ideia de se tratar de uma nova banda, com uma outra sonoridade, mas que possuía em suas fileiras, dois ex-membros da velha, A Chave do Sol.

Eis um exemplo claro da confusão gerada: um DVD Pirata que foi lançado muitos anos depois, com imagens capturadas de algum "copião" vazado da ilha de edição da Rede Bandeirantes de TV, mas a nominar-nos como: "A Chave do Sol" (inclusive a usar o logotipo de nossa antiga banda), quando na verdade, éramos uma banda dissidente, chamada: "A Chave", doravante "The Key". 

Se ainda saiam publicadas muitas matérias e resenhas a confundir essa nova banda com a velha, A Chave do Sol, não tivemos culpa nesse processo, que pareceu-nos inevitável. Contudo, a ideia foi tocar a vida para frente e nesse sentido, com sangue jovem a ser injetado nas nossas veias, nós tivemos mais é que aproveitá-lo. 

Na época, claro que diante do panorama que amarguei, com o fim abrupto d'A Chave do Sol, eu sentia-me exaurido em minhas forças e só restara-me mergulhar inteiramente nessa reformulação. Mas não representou nem de longe o som que eu gostaria de fazer. 

Se já estava saturado das sonoridades oitentistas e quem está a ler com atenção esta autobiografia, já está muito ciente de que a minha predileção no Rock vai na contramão da produção estética/artística daquela década, o que dizer então de um mergulho no mundo do Hard-Rock oitentista com ares marcados fortemente pelo apelo aos virtuosismos "Malmsteeneanos?" Enfim, mesmo bastante a contragosto, eu embarquei na proposta que viria a seguir. 

De minha parte, além de estar sem forças para sugerir um outro direcionamento artístico, eu estava cansado mesmo foi de haver passado por tantas mudanças radicais, ao perseguir tendências e boatos, fato ocorrido com A Chave do Sol.

Tal tipo de procedimento esteve a perseguir-me implacavelmente desde meados de 1983, ou seja, assim que a minha ex-banda, A Chave do Sol começou a ganhar notoriedade na mídia. 

Antenado nos movimentos que o tabuleiro do jogo mainstream fazia, constantemente, mas por estar fora da contenda, propriamente dita, estive na condição de um aspirante a tornar-me uma peça da partida, também. E por conta dessa meta pessoal, acompanhara a partida ao tentar interpretar a estratégia dos jogadores, no afã de antecipar o que viria a seguir, como a próxima jogada a ser feita. 

Com isso, eu achava que seria a única chance para estar pronto para ser o escolhido da vez a seguir, e entrar enfim, no tablado do jogo.

Diante dessa prerrogativa, eu exerci a minha influência, ao visar sempre dar o passo certo nesse sentido, para a minha banda subir ao mundo mainstream da música. Tratou-se da nossa única ferramenta a dar-nos esperança, além do óbvio trabalho que exercíamos no cotidiano, com todos os esforços para agarrarmos as oportunidades.

Mas diante dos erros estratégicos que a banda cometeu nesses anos, ao culminar com a sua não chegada ao patamar que aspirávamos, claro que eu estava a sentir-me exaurido em minhas forças internas e para ir além, já bastante descrente de que valeria a pena ficar a elucubrar qual seria a moda do próximo verão, a fim de antecipar as ações de minha banda, para fazer parte dessa possível onda. 

Diante desse cenário todo que colocou-se à nossa frente, nesse início de 1988, eu não forcei mais nenhuma situação para seguir a orientação A, B, ou C, ao deixar o barco navegar, livremente. 

E nesses termos, Eduardo e Fábio estavam muito empolgados com essa moda de virtuosismo em torno do Hard/Heavy oitentista e tiveram carta branca do Beto, nesse sentido, para apresentarem as suas criações, que já coadunavam-se com tal estética e que estavam compostas por eles, previamente. 

Da parte do Rapolli, não houve nenhuma contrariedade, também. Ele apreciava sonoridades setentistas como eu e Beto, mas estava acostumado com a estética oitentista, também. Então, sem pensar muito qual seria a nova moda no Rock brasileiro, mergulhamos nessas composições que Eduardo e Fábio tinham em mãos e estas eram versadas por essa estética do extremo virtuosismo de viés "Malmsteeneano". 

Ao ver pelo prisma de hoje dia (2016), acho que a situação de 1988, analisada como um todo e não só pelo mundo do Rock pesado e underground, foi periclitante na cena brasileira.

A verdade, é que o dito "BR Rock 80's" havia acabado! Somente os que cresceram o suficiente para estenderem as suas respectivas carreiras de uma forma individualizada, estiveram ainda na ativa e continuariam a usufruírem da fama adquirida ainda por algum tempo, com poucos a garantirem a sobrevida nos anos noventa, e no porvir. Sendo assim, não houve mais esperança alguma para se chegar ao mainstream e principalmente para bandas pesadas. 

E em nosso caso, com duas agravantes: cantarmos em inglês, proposta que fora aceita por todos, mas equivocadamente ao meu ver, e sobretudo pela inserção no espectro do extremo virtuosismo e nesse caso, nem é preciso ser um expert em marketing corporativo da indústria da música, para discernir que estivemos a nos limitarmos a um pequeno nicho formado por apreciadores do Rock pesado e tal como uma boneca russa ("matrioshkas"), mais fechados ainda no mundo do virtuosismo, apreciado tão somente por músicos e aspirantes a. Mas foi o que tivemos e assim fomos trabalhar dentro dessa condição que apresentou-se à nossa disposição.

Os ensaios tornaram-se então rotineiros e adequados, logicamente, ao fator de todos (com exceção do Zé Luiz Rapolli), estarem a atuar no mundo didático, igualmente, ao ministrarmos aulas particulares em paralelo, dos nossos respectivos instrumentos. 

Nessa época muitas músicas surgiram e já na metade de março de 1988, essa banda nova teve uma nova identidade, quase que completamente desvinculada da extinta, A Chave do Sol. Ainda tocaríamos algumas músicas do LP "The Key", nos próximos shows, mas bem poucas, quase que a caracterizar uma homenagem ao passado, meu e do Beto, tão somente. 

A minha lembrança de tais ensaios é de uma rotina de muita tranquilidade, apesar das apreensões já relatadas. Chegávamos às 10:00 horas da manhã, na residência do Beto Cruz, às terças, quartas e quintas. Tocávamos até por volta das treze horas, parávamos e almoçávamos juntos, quase que ao estabelecermos uma relação comunitária, aos moldes de bandas sessenta-setentistas e egressas da contracultura hippie.

Por esse lado social, foi bastante prazeroso, reconheço e a união da banda estabeleceu-se mais rapidamente por conta desse convívio amistoso. Um grupo de fãs da banda começou a frequentar esses ensaios, ainda bem no começo do processo e tal determinação dessas meninas, chegou a ser messiânica ao acompanhar-nos, diariamente.

Foram cerca de oito garotas e elas nunca faltavam. Chegavam um pouco depois de nós e a trazer consigo várias sacolas, repletas com compras de supermercado, em mãos. Ocupavam a cozinha e quando parávamos para almoçar, havia um banquete à nossa disposição e com direito a sobremesas caprichadas. Inacreditável a mordomia. 

Fora até engraçado, pois essa banda era praticamente iniciante na cena artística de então, mas ao viver da fama da banda extinta que deu a chance dessa possibilidade surgir posteriormente, não começara exatamente dessa estaca inicial. Independentemente disso, ter uma turma composta por fãs abnegadas e dispostas a cozinhar para nós, diariamente, tornou-se um luxo que não esperávamos ter naquele momento. 

Sobre o trabalho, como eu já disse, este amoldou-se dentro das prerrogativas do virtuosismo típico de fim de década de oitenta, naquele espectro de admiradores do guitarrista sueco, Yngwie Malmsteen.

Da parte do Fábio Ribeiro, as suas ideias detinham sutis referências ao Prog -Rock setentista, é bem verdade, mas eram sutis mesmo, pois ele também estava inebriado pela estética do virtuosismo e peso daquela cena oitentista baseada no Hard/Heavy. 

Assim fomos a construir novas músicas e sob um curto espaço de tempo, julgávamos estarmos prontos para fazer shows com uma personalidade própria, sem precisar canibalizar o cadáver recém enterrado da extinta, A Chave do Sol.

Uma data enfim foi marcada para cumprirmos. Tratamos essa data em questão como a verdadeira estreia da banda, pois os dois shows que fizéramos em janeiro, foram absolutamente emergenciais e pertenciam na verdade à agenda da velha, Chave do Sol. 

Foi marcada para o Teatro Mambembe, onde tínhamos uma familiaridade, eu e Beto, pelos shows que ali fizéramos com A Chave do Sol, desde 1986. Tal data foi prevista para o dia 18 de abril de 1988, mas antes, ainda em março, tivemos compromissos midiáticos.

Em 9 de março de 1988, fomos ao estúdio da emissora, 97 FM de Santo André-SP e concedemos entrevista ao programa: "Hora do Rush". Foi a primeira entrevista em emissora de rádio, após a extinção anunciada d'A Chave do Sol e posterior formação dessa banda nova e dissidente, chamada: "A Chave". 

Claro que perguntas foram feitas nesse sentido e cada vez que fomos indagados nesse aspecto, foi naturalmente penoso ter que dar explicações para justificar o imbróglio todo. 

Em 25 de março de 1988, eu (Luiz), Beto, Zé Luiz Rapolli e Fabio Ribeiro, fomos ao programa: "Over Shock", também da 97 FM. Foi a primeira vez que os novos membros participaram também, só a faltar o Edu para completar a formação. 

Em 1º de abril de 1988, eu (Luiz), Beto e Fábio, participamos do programa: "Clip Independente", da emissora Brasil 2000 FM. O Fábio Ribeiro morava a um quarteirão do estúdio daquela estação, localizada ali entre os bairros da Vila Anglo-Brasileira e Vila Romana, na zona oeste de São Paulo.

Foi a primeira vez em que interagi com essa emissora que tratava-se de uma "College Radio", portanto subordinada à gestão de uma Universidade, no caso a Anhembi-Morumbi. E no futuro, eu teria inúmeras participações nessa emissora, para tocar ao vivo, com outras bandas em que atuaria, tais como: Pitbulls on Crack, Patrulha do Espaço, Pedra e Kim Kehl & Os Kurandeiros. 

Às vésperas do show do Teatro Mambembe, fizemos um intensivo com ensaios, inclusive ao convocarmos um ensaio extra, no domingo que antecedeu o espetáculo. Tínhamos que apresentar a banda nova com uma boa performance, para ganharmos enfim a confiança dos velhos fãs d'A Chave do Sol e iniciarmos uma caminhada própria.

Chegou o dia do show, que tratamos como a real estreia dessa nova banda. Foi o dia 18 de abril de 1988 e nós entraríamos no palco do Teatro Mambembe com a expectativa de um ótimo público presente. 

Não que houvéssemos tido apoio retumbante de divulgação, aliás, muito pelo contrário, os nossos recursos foram mínimos, devido à penúria que enfrentávamos, imersos em dívidas contraídas por conta do lançamento do LP The Key e a escassez de uma agenda mínima que garantisse-nos um respiro. 

Mas houve no ar uma expectativa gerada pelos fãs da antiga, A Chave do Sol, que atônitos e alheios aos nossos conflitos internos, simplesmente não entendiam o porquê da extinção sumária e súbita da nossa banda anterior e pior ainda, a radicalização que fôramos obrigados a adotar, eu e Beto, ao criarmos uma nova banda emergencial e com nome parecido, mas diferente na intenção em demarcar isso claramente.

Enfim, esse confuso encadeamento de acontecimentos marcados por aspectos radicais entre si, já garantiu-nos a certeza de que muita gente nutrira curiosidade para verificar o que seria aquilo, a tal banda, "A Chave", ou para muitos, em tom de brincadeira: "A Chave sem Sol". 

De nossa parte, estivemos bem preparados e com um repertório composto por músicas novas e bem ensaiadas para apresentar essa nova banda, ainda que para a maioria dos fãs, representasse simplesmente a continuidade da antiga banda e para muitos, houve também uma expectativa para checarem como seria a banda sem Rubens Gióia, ícone d'A Chave do Sol, em detrimento de um garoto jovem e então desconhecido. 

Dessa maneira, foram muitos elementos que alimentaram a expectativa para muitos fãs e de nossa parte, quase deu-nos a certeza de que a lotação do Teatro estaria esgotada. Não seria, no entanto, um show exclusivamente nosso. Dividiríamos a noite com a banda: "Laser", que era nova no cenário do Rock pesado paulistano.

Apesar de teoricamente nós estarmos ali na condição de uma banda iniciante, com apenas quatro meses de vida, pela ligação com a banda extinta e também pelas nossas respectivas fichas individuais pregressas, ficamos com a primazia para tocar como "headliner" (banda principal da noite) e o Laser fez o show de abertura ("open act"). 

O público superlotou o teatro, até a superar a nossa expectativa mais otimista. Eu não tive acesso ao borderô oficial, mas lembro-me de que haviam mais de seiscentas pessoas presentes e portanto, quase o dobro da capacidade oficial do Teatro. 

Logo no começo do show, no tema de abertura, cometemos um erro infantil, que envergonhou-nos, mas foi o tal negócio: quantas pessoas ali no momento, perceberam-no? Por não ouvirmos corretamente a contagem de baquetas do José Luiz Rapolli, um pequeno "Flan" (ato do desencontro de acentos entre um instrumento e outro), ocorreu, e convenhamos, logo na primeira nota do show começar a errar, fora um tremendo de um anticlímax!

Contudo, acertamo-nos e rapidamente disfarçamos, ao dar-nos a nítida impressão de que quase ninguém na plateia percebera a falha. Fomos a tocar muitas músicas novas que faziam parte da total reformulação da banda, ao esforçarmo-nos, portanto, para imprimir a ideia de que se havia um vínculo com A Chave do Sol, a nossa intenção não foi viver a usufruir de sua sombra. 

A cada música nova que tocávamos, ouvíamos urros da plateia. Gritos a exaltar a performance, principalmente do Eduardo Ardanuy, foram escutados com clareza, a demonstrar que muita gente ali, estava inebriada pela onda de entusiasmo gerada pela estética do virtuosismo, típica do fim de década de oitenta. 

Tocamos menos músicas do LP The Key, já a extrair aquela dinâmica dos dois primeiros shows realizados anteriormente, quando a urgência fez-nos tocar somente o material da finada, A Chave do Sol.

E demo-nos ao luxo de inserir solos individuais de todos, à moda setentista e por falar em anos 1970, mais uma novidade ocorreu quando fizemos uma versão em ritmo de releitura de uma música do "Led Zeppelin" ("No Quarter"). 

Com um tecladista de ofício na banda, e mais que isso, um virtuose ao instrumento, abriu-se essa possibilidade e neste caso, para a minha satisfação, um setentista inveterado que sou, tal ideia foi um verdadeiro oásis em meio ao deserto oitentista em que estávamos a viver. 

Quando o Fabio iniciou a introdução ao piano elétrico, demorou alguns segundos para o público perceber a nossa intenção, mas logo eu o ouvi alguém gritar da plateia: - "é No Quarter"... para insuflar a plateia que mesmo antes do Beto começar a cantar, já vibrou muito. 

Confesso que surpreendi-me, pois a despeito de levar em conta que em 1988, o final das atividades do Led Zeppelin ainda era uma marca relativamente próxima, sob uma distância de apenas oito anos, e que também, entre fãs da seara do Hard-Rock oitentista, havia um respeito por bandas Hard-Rock setentistas, principalmente em torno do Led Zeppelin e Deep Purple, em uma primeira análise, não fora tão surpreendente em tese, mas a reação mediante tal comoção, foi muito além das minhas expectativas. 

Outro ponto memorável do show, aconteceu quando eu fiquei bastante emocionado, por conta do público, que ovacionou-me, pessoalmente, quando o Beto apresentou a banda, e nessa reação, houve uma carga forte expressa em apoio pela superação que estávamos a mostrar, por mantermos a chama acesa, depois de tantas adversidades que culminaram com o final das atividades d'A Chave do Sol, meses antes. 

Enfim, foi uma grande estreia para a nova banda e uma certeza: o público que acompanhava a velha, A Chave do Sol, apreciou esse novo trabalho ao deixar-nos a convicção de que apoiar-nos-ia doravante, e claro que isso fora um fantasma a mais que atormentara-nos, desde dezembro de 1987, quando a nossa extinta, A Chave do Sol, dissolveu-se. 

Portanto, diante de cerca de seiscentas pessoas, saímos do palco do Teatro Mambembe, na noite de 18 de abril de 1988, com um sentimento de esperança renovada. 

E aos poucos, a agenda começou a mostrar-nos perspectivas, ao comprovar esse sentimento otimista. A lastimar-se, a quase total ausência de fotos desse show em específico, com exceção de uma única foto do Fábio Ribeiro. Existe uma versão com muitos momentos desse show capturados em câmera Mini-VHS, da parte de um grande amigo da banda, chamado: Mário Abud. Se conseguir postar no YouTube, insiro-a aqui, de pronto.

Já tínhamos perspectivas para shows, aparições na TV e mais entrevistas de rádio em vista. Matérias e resenhas ainda a citar o LP The Key e A Chave do Sol, ainda apareciam nas bancas de jornais e revistas. 

E sob tal embalo, uma perspectiva para fazermos shows no interior de São Paulo surgiu, mas não tratou-se, no entanto, nada parecido com a época próspera que tivemos em 1986, com a velha, A Chave do Sol, em que o telefone tocou espontaneamente muitas vezes, para trazer-nos bons convites. 

Na verdade, foi um arranjo familiar de minha parte, sem nada concreto que pudesse ser comemorado antecipadamente, mas claro que quando surgiu a chance, eu não tive dúvidas e com o material na mão, entrei em um ônibus de linha e fui incontinente às cidades interioranas paulistas de Franca e Ribeirão Preto. Cabe explicação.

Ribeirão Preto-SP é uma cidade aonde eu tenho laços familiares. É a terra natal da minha mãe, onde os meus avós maternos moraram por muitos anos e lá eu sempre tive muitos tios e primos, de três graus, aliás, até hoje em dia. 

Um tio, irmão de minha mãe e meus primos, conheciam há anos o Kiko Zambiachi e a sua família, também, pois eram igualmente habitantes daquela cidade. Ao viver os seus dias de glória, com a carreira solo a deslanchar e suas músicas a serem gravadas por outros intérpretes, Kiko poderia dar-nos uma eventual ajuda, talvez ao colocar-nos na situação para abrirmos os seus shows, ou mesmo ao indicar-nos para alguma outra oportunidade. 

                       Kiko Zambianchi, em foto dos anos 1980

Essa foi, no entanto, a concepção de meus tios e primos, que muito amorosamente sempre torceram por o meu sucesso pessoal na música e deslumbraram uma oportunidade para prestarem-me um auxílio direto, graças a essa proximidade que mantinham com a família Zambianchi. 

De minha parte, eu já estava muito mais maduro naquela altura, com quase vinte e oito anos de idade e com uma rodagem a demarcar doze anos a militar na música, portanto, a minha visão era mais realista sobre a maneira com as quais os supostos "apadrinhamentos" e/ou esforços colaborativos ocorriam no show business e ao ir além, creio que já havia desapontado-me com tal tipo de abordagem anteriormente, por fatos relatados nos capítulos sobre A Chave do Sol. 

Mas claro, o gentil gesto de meus parentes, ao oferecer-me mais que o contato com tal artista, mas todo o suporte de estadia na cidade e claro, ao abrir a perspectiva de divulgação na mídia local e da região, venda de discos nas lojas disponíveis, também seriam boas vantagens para arriscar essa viagem.

E assim, fui para o interior alguns dias depois do show do Teatro Mambembe, e direto para Franca-SP, onde eu também tinha dois tios, irmãos da minha mãe, a morarem naquela cidade, sendo que um deles já havia sido presidente da Francana, clube local com time no futebol profissional e uma história forte no basquete nacional. 

Ali, no dia 25 de abril de 1988, graças aos contatos do meu tio, eu concedi entrevista na emissora Hertz FM, para falar sobre o LP The Key, além de vender discos em uma loja no centro da cidade, cujo dono era amigo dele. 

Sobre shows, foi muito complicado se pensar em algo, pois os contatos que ele mantinha dentro do clube que havia presidido no passado, não garantiam nada, visto que o departamento social de tal agremiação ostentava mentalidade popularesca e as atrações musicais que agendavam normalmente, passavam anos-luz de bandas de Rock, ainda mais não conhecidas no mundo mainstream, o nosso caso, como agravante. 

Agradeci o apoio, foi bom rever tios e primos e dali entrei no ônibus em direção a Ribeirão Preto-SP, distante cerca de cem Km de Franca, com o mesmo objetivo de divulgação e possível agendamento de shows. 

Na casa de meus outros tios, o entusiasmo deles e de meus primos para auxiliar-me foi grande e claro, imbuí-me de toda a boa vontade para falar com Kiko Zambianchi, embora internamente, não achasse que isso resultaria em algo concreto.

Bem, a minha prima fez a ligação telefônica e logo colocou-me na linha para falar com ele, em pessoa. Claro, Kiko mostrou-se educado, mesmo por que tinha bastante respeito pelos meus parentes que conheciam-no desde a sua adolescência, mas deu para sentir que aquilo fora embaraçoso para ele e claro que eu compreendia isso. Eu também estava constrangido, pois esse tipo de abordagem mostrava-se um tanto quanto inconveniente pelas circunstâncias. 

Enfim, falei sobre a minha banda, de sua sonoridade e da vontade em fazermos algo em Ribeirão Preto e região, para divulgar esse trabalho. Ele, por sua vez, foi educado e cordial, mas bastante óbvio na resposta que deu-me, ao exortar-me para que eu buscasse apoio de indústrias da cidade, como por exemplo a Cervejaria Paulista ou a Fábrica de Biscoitos Mabel, indústrias tradicionais e prósperas de Ribeirão Preto, para alavancar um possível patrocínio e pleitear datas na famosa Arena ao ar livre, na tradicional, "Cava do Bosque", equipamento cultural público, controlado pela prefeitura local, para um possível show.

De fato, essa Arena era famosa e ali, muitos artistas medalhões da MPB e do Rock já haviam apresentado-se, com algumas apresentações até a se tornarem históricas, caso dos inúmeros shows dos Mutantes, ali realizados no início dos anos setenta etc. 

Eu mesmo já havia apresentado-me ali com bastante sucesso, com o Língua de Trapo, em 1984. Portanto, a dica foi ótima, mas absolutamente evasiva, ao denotar que ele estava educadamente a sair pela tangente, de uma maneira cordial para não envolver-se e ao mesmo tempo não gerar mágoas com os meus familiares, que conheciam-no bem. 

Eu entendi perfeitamente a sua posição e nem na época e muito menos agora, reclamo de sua postura, pois sei que a despeito de estar em um momento bom na sua carreira, ele pouco ou nada poderia fazer para ajudar-me (nos), mesmo que conhecesse-se bem e fosse um ardoroso apoiador da minha banda. 

E pelo contrário, Kiko caminhava irmanado com a "intelligentsia" dos Post-Punkers do eixo São Paulo/Rio/Brasília e não seria com cabeludos anacrônicos para a realidade oitentista hostil, que encantar-se-ia, normalmente. 

Agradeci e disse aos meus familiares que uma perspectiva abrira-se com esse contato, para não frustrar o entusiasmo cativante de meus tios e primos para ajudar-me, mas na realidade, eu sabia de antemão que o contato não renderia nada. 

Contudo, a minha ida a Ribeirão Preto gerou um fruto para a banda. O meu tio conhecia uma repórter da TV local, afiliada da Rede Globo e a convidou para jantar conosco naquela noite. 

Durante a conversa, ela esclareceu-me que não poderia agendar entrevista no jornalismo local, sem a perspectiva de um show em vista na cidade, mas foi simpática e indicou-me para uma entrevista em um dos jornais impressos locais, aonde tinha contatos na redação, e foi para o dia seguinte.

Eu compareci certamente à redação desse periódico e fui bem recebido pela repórter que entrevistou-me. Lógico, foi uma entrevista recheada por colocações efêmeras, por não tratar-se de um órgão especializado, mas não posso queixar-me, deixei Ribeirão Preto com uma divulgação para o trabalho, que foi publicada alguns dias depois. 

No entanto, apesar do meu esforço para explicar-lhe que tratava-se de uma outra banda doravante, a matéria saiu com a manchete: "A Chave do Sol prepara voo Internacional", em uma típica confusão gerada pelo imbróglio todo. 

Engraçado também, na reportagem fez-se menção à minha baixa estatura física. Adjetivaram-me como "baixinho", colocação que não ofendeu-me, pois não tenho nenhum problema em ter tal característica anatômica, mas eu achei por outro lado, desnecessário. Nem em jornais e revistas popularescos em que já havia sido mencionado, isso ocorrera, portanto, surpreendi-me com essa citação tola, vinda de um jornal interiorano. 

Paciência, em Liliput também existem Rockers, acredito...
Além do fato de que toda a minha explicação sobre as mudanças, não foi levada em conta e na reportagem, citaram-nos como "A Chave do Sol", e o release oficial do LP The Key, foi o que prevaleceu. E como eu disse no início deste capítulo, teríamos mais atividades na mídia para cumprir em São Paulo e shows foram marcados, doravante.

Voltei de Ribeirão Preto sem nada concreto (além de uma entrevista no jornal local e outra em uma emissora de Rádio de Franca, cidade próxima), e muito pelo contrário, sem esperança para arrumar um show para a banda, naquelas cidades interioranas.  

Os meus familiares que moravam nessas duas cidades, foram extremamente gentis em tentar ajudar-me nesse sentido, mas os contatos foram efêmeros, infelizmente.  

Bem, por outro lado, o Eduardo Ardanuy comunicou-nos que havia feito um contato em nosso favor e havia a possibilidade de irmos a uma outra cidade interiorana paulista para um show. Seria em Espírito Santo do Pinhal-SP, uma pequena cidade localizada perto de Campinas e de fato, esse show concretizou-se, mas ainda não é hora para falar dele (e que rendeu uma boa história, por sinal).  

Um show no Rio de Janeiro também estava a ser articulado, e nesse caso, graças aos esforços do antigo colaborador carioca, d'A Chave do Sol, o meu amigo, Ricardo Aszmann, que intermediou uma negociação para uma apresentação no Caverna II, tradicional reduto do Rock underground carioca, local aonde já havíamos apresentado-nos duas vezes anteriormente, 1986 e 1987 (bem entendido, com a extinta, "A Chave do Sol").

Mas o concreto mesmo foi que teríamos um show em um mini festival, em São Paulo, a ser realizado sob uma imensa área livre, localizada no pátio da estação Brás do metrô.  

Com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e do próprio Metrô, a ideia seria realizarem-se festivais mensais, nos moldes da antiga "Praça do Rock", com várias bandas a apresentarem-se em shows de choque, sob caráter gratuito para o público em geral. Tal evento foi batizado como: "Estação Jovem".

A Chave sem sol apresentou-se com as seguintes bandas: "Harppia", "Violeta de Outono", "365" e "Gueto". Portanto, pelo teor dessa escalação, foi clara a intenção dos organizadores em tornar tal festival, híbrido, ao misturar bandas da cena pesada do Hard/Heavy, com atrações mais leves, seguidores da cartilha do Pós-Punk, incluso.
Mas cabe ressalvas, pois o Violeta de Outono camuflava-se como um artista oriundo da cena do Pós-Punk, quase que estrategicamente naquela década, mas o seu comprometimento real, sempre foi com a psicodelia sessentista, sem nenhuma dúvida.

No caso do "Gueto", se havia uma casca Pós-Punk no visual e no áudio de seu trabalho, a sua sonoridade era muito mais próxima da cena Pop britânica da metade/fim da década de oitenta, ao jogar doses generosas de R'n'B & Soul "pasteurizado e de branco", ao estilo de artistas ingleses como "Style Council" e "Blue Rondo a la Turk", por exemplo.
E no caso do "365", os rapazes eram egressos da cena Punk oitentista, certamente, mas haviam aprendido a tocar, portanto, pareciam muito mais um "The Clash", ao manter alguns signos do movimento Punk, mas com sonoridade palatável para tradicionalistas como nós que nunca engolimos a tosquice proposital do "Do It Yourself" como desculpa esfarrapada para amparar a ruindade desoladora. Além do mais, os rapazes eram (são), pessoas absolutamente do bem e cordiais. 

Da parte dos "pesados", houve a presença do "Harppia", que professava o Heavy-Metal oitentista tradicional, e nós, comprometidos naquela altura, com o Hard-Rock pleno de virtuosismos "Malmsteeneanos".

Um grande público compareceu ao pátio da Estação Brás do Metrô.
Segundo o cálculo da Polícia Militar, cerca de dez mil pessoas assistiram-nos nessa tarde de um sábado, dia 30 de abril de 1988. 

Os shows transcorreram sem maiores problemas e o nosso em específico, apesar de ter sido de choque, portanto com menor duração, foi bastante vigoroso. O público "misturado" não protagonizou hostilidades para ninguém, como seria de se esperar naquela década tão dividida por "tribos" com comportamento pior do que torcidas uniformizadas, de clubes de futebol.

A Chave/The Key, no Projeto "Estação Jovem", do Metrô Brás, em São Paulo, no dia 30 de abril de 1988. Músicas: "Welcome" e "We Hear the Call". Cópia original: Tibério Correa. Pós-Produção em 2016: Canal de YouTube "Hard'n Heavy Brasil"

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Y0P3wlhfbko

Resenha sobre o Show do Teatro Mambembe, escrita pelo jornalista, Antonio Carlos Monteiro, para a Revista Metal, nº 47

Após o show realizado no pátio da Estação Brás do Metrô, nós tivemos mais tempo para organizar ainda mais a banda, em vários aspectos. 

Por exemplo, precisávamos urgentemente de fotos promocionais novas, pois como se não bastasse a tremenda confusão que essa banda teve de administrar por ser uma dissidência da antiga, A Chave do Sol, precisávamos marcar presença mais incisiva como uma nova banda e mostrar a sua nova face.

Resenha sobre o show no Pátio da Estação Brás do Metrô, escrita pelo jornalista, Antonio Carlos Monteiro, para a Revista Metal, nº 48

Outra questão que rapidamente surgiu, foi a de gravarmos uma nova demo-tape, com músicas inteiramente novas, que já tocávamos nos shows e o Beto mais uma vez movimentou-se de uma maneira muito incisiva, ao criar situações para que isso se concretizasse e ao ir além, já a sondar possíveis investidores para a produção de um novo disco.  

A nossa (falo sobre eu, Luiz e o Beto), situação financeira era lastimável pelas dívidas contraídas pela produção do LP The Key, mas foi uma necessidade vital livrarmo-nos do fantasma d'A Chave do Sol, pois ali estava uma banda inteiramente nova e a precisar autoafirmar-se por suas próprias forças.  

Ela nasceu da necessidade de não deixar a fama da antiga A Chave do Sol espatifar-se no chão, em um momento em que um novo LP havia sido lançado recentemente, mas na verdade, foi uma outra banda desde o começo e pela sonoridade que adquiriu, diferenciou-se muito mais.  

Somente ao final de maio, engrenaríamos uma agenda com perspectiva de continuidade, portanto, nos primeiros vinte dias de maio de 1988, concentramo-nos nessa ideia de produzirmos fotos e viabilizarmos uma nova demo-tape.

Resenha do show que fizéramos no Teatro Mambembe, publicada na Revista Rock Brigade e ao lado, uma nota na mesma edição, a falar sobre a realização do show ocorrido na Estação Brás do Metrô

Antes de seguir na cronologia dos fatos, eu preciso abrir parêntese para falar de um personagem sensacional, que tornou-se um grande amigo da banda. O "seu" Ribeiro, pai do tecladista Fábio Ribeiro, foi um dos homens mais gentis e prestativos que eu conheci, não só em minha trajetória musical, mas acredito que na vida como um todo. 

Ele foi o motorista e roadie de seu filho, praticamente e a sua bondade, boa vontade em sempre ajudar não apenas o seu filho, mas toda a banda e sobretudo o seu gênio dócil, certamente foi um contraponto aos tempos amargos em que vivíamos, por vários fatores.

"Seu" Ribeiro, além das qualidades que eu elenquei acima, foi um "GPS humano", porque era impressionante o seu conhecimento sobre a cidade de São Paulo, e não só isso, mas praticamente sobre todas as cidades vizinhas que compõe a região conhecida como "Grande São Paulo". 

É claro, naquela época, ninguém sonhava com telefones celulares com tecnologia smart, GPS e nem mesmo com computadores, embora a Internet já existisse aberta ao público, mas poucos usufruíam dela. O recurso que todo mundo usava, era o de consultar mapas para descobrir-se um endereço desconhecido, expediente usado por quase todo o motorista, ao guardar o "Guia 4 Rodas", ou o "Mapograf", no porta luvas do carro.

Mas ele, não... sobre qualquer rua que lhe perguntávamos aonde se localizava, ele sabia exatamente como chegar ali e citava caminhos possíveis, ao demonstrar conhecer a cidade na palma da mão. 

Outra característica sua, foi a da paciência absoluta. Eu considero-me uma pessoa com característica "zen", com alto grau de paciência e tolerância, mas o "seu" Ribeiro foi muito além disso.

O seu comportamento era exemplar no trânsito e uma vez, com o Fábio e eu (Luiz) como passageiros ao circularmos com ele, passou por nós um carro conduzido por um garoto impulsivo e bastante agressivo, por fechá-lo de uma forma acintosa, em alta velocidade. 

Qualquer motorista ficaria revoltado com a manobra agressiva do sujeito, mas ele não abalou-se em nem um milímetro. Apenas freou para evitar a colisão e ao segurar o carro na mão, com uma habilidade incrível, continuou a dirigir tranquilo e disse-me ao dirigir-me à minha pessoa, diretamente: -"nunca se sabe se um motorista desses faz uma barbaridade desse teor por necessidade e não pela transgressão pura e simples. Vá saber se o sujeito não está com a esposa em trabalho de parto, ou se leva um ente querido infartado para o hospital ou mesmo se acabou de receber a mensagem saber que estão a assaltar sua residência? Por isso eu nunca julgo, xingo ou exijo satisfação e se for mesmo só uma transgressão, é problema dele, não meu"...

A sua habilidade para acomodar todo o equipamento do Fábio, em um exíguo "Fusca" 1969 (e impecável, aliás, pois parecia ter saído da concessionária há quinze minutos e que assim estivéssemos portanto em 1969, de fato), mostrava-se quase como um número circense de contorcionismo.

Eu simplesmente não acreditava que ele dava um jeito e acondicionava cinco teclados e um mini PA que o Fabio usava para alimentar a tecladeira toda, fora os suportes, cases com cabos e utensílios, mixer e amplificador.

Com aquela calma zen budista que lhe era peculiar, ele montava tudo com muito cuidado, e não importava se eram quatro horas da manhã, fator que muitas vezes ocorreu, naturalmente em shows realizados em casas noturnas. 

Uma vez eu não aguentei e perguntei-lhe: como era possível conhecer a cidade de São Paulo dessa forma, de maneira enciclopédica e ele respondeu-me com a sua simplicidade: -"fui taxista por muitos anos, ao começar em 1958"...

Certo, claro que taxistas conhecem a cidade muito melhor que motoristas amadores, mas o conhecimento dele superava qualquer expectativa. 

A mãe do Fábio também era de uma bondade incrível. Costureira de muita técnica e criatividade, chegou a confeccionar camisas que encomendei-lhe para usá-las como figurino de shows e que foram muito elogiadas, certamente, por serem muito bem feitas e com caimento perfeito, por sinal.

Todas as fotos de Fuscas "1300", ano 1969 que aparecem nestes últimos parágrafos, são apenas ilustrativas e nenhuma era do fusca do "Seu" Ribeiro, de fato. Mas dão ideia de como era o seu bólido...

Soube, anos depois, que o "seu" Ribeiro havia partido para uma outra dimensão. Certamente que ele deve ser uma das pessoas mais queridas lá onde está a morar na atualidade e claro, deve fornecer informações aos anjos, sobre os caminhos no céu, que já deve ter mapeado inteiro no seu cérebro. Grande figura! Saudade, "seu" Ribeiro !
Ao final de maio de 1988, tivemos mais uma apresentação, mas desta feita, foi algo sui generis. O Eduardo Ardanuy fora convidado a fazer uma exibição em um evento patrocinado pela escola "IG & T", uma escola moderna de aprendizado musical e por ter como um dos seus proprietários, o guitarrista do Rádio Táxi, Wander Taffo.

Tal evento realizou-se no Victoria Pub, e de fato, foi curioso voltar ao palco daquela casa noturna, cinco anos após A Chave do Sol ter tido um momento de uma certa euforia, decorrente do primeiro pico de ascensão que experimentáramos na nossa iniciante carreira como banda. 

Agora, foi uma situação bem diferente. Tratara-se de uma outra banda e não seria uma temporada como a que A Chave do Sol tivera cumprido entre fevereiro e abril de 1983. A ideia seria realizar um show de choque e o foco nem foi a nossa banda em si, mas o holofote sobre o Eduardo Ardanuy, exclusivamente.

Tratado como uma exibição de guitarristas que eram alunos de tal escola, cada um se fez valer de sua própria banda como apoio, mas o foco foi tão somente a performance dos guitarristas. 

Tudo bem, não ficamos constrangidos em participarmos e entre nós, tratamos o evento como um show normal da banda, mesmo por que foi aberto ao público em geral e não teve o caráter de um recital de conservatório, tão somente, e restrito a alunos, professores e parentes de alunos. 

Tocamos quatro ou cinco músicas normais de nosso repertório e todas detinham longos solos de guitarra, como era praxe desse material novo dessa nova banda. 

Lembro que houve uma bancada com professores, como se fosse um júri de festival de MPB, mas sinceramente não recordo-me se havia alguma intenção de se estabelecer algum tipo de premiação para os que fossem considerados "melhores" etc. e tal.

Em tal bancada, entre outros, lembro-me das presenças de Wander Taffo e André Christovam, e que este último, brincou comigo bastante, ao soltar gritos em tom de brincadeira, eu sei, por dizer que eu é que seria o destaque da banda.

Enfim, tocamos como em um show normal, para dar o nosso recado. Aconteceu no dia 25 de maio de 1988, com cerca de trezentas pessoas no recinto, aliás, para os padrões do Victória Pub, fora uma baixa frequência.

Sob uma entrevista concedida para a Revista "Wanted", em 1988, o baixista do Ultraje a Rigor, Maurício, citou-nos como banda que ele recomendava, mas na verdade, ao referir-se à velha, A Chave do Sol... 

Poucos dias depois uma nova apresentação aconteceu, mas desta feita, em um espaço novo que surgiu na cidade de São Paulo. Chamado como: "Alquimia", tratava-se de um pequeno auditório localizado no bairro da Vila Buarque, no centro de São Paulo, e vizinho de espaços culturais que eram muito tradicionais na cidade, templos de cultura importantes para o teatro e a música na cidade, há décadas.

Entrevista d'A Chave/The Key publicada na Revista "Rock Brigade", conduzida pelo presidente da "Sociedade Brasileira dos Apreciadores do Deep Purple" (fã-clube oficial do Deep Purple no Brasil, chancelado pelo fã-clube britânico e oficial da banda), João Cucci Neto

Contudo, ao contrário da sua vizinhança ilustre, as suas dependências eram bem modestas e a minha lembrança é a de um palco pequeno, tímido mesmo e que aliás, deu-nos uma certa dose de exercício de contorcionismo para colocar o backline da banda no seu espaço cênico diminuto e mais que isso, a garantir um mínimo de possibilidade em termos de mobilidade para os componentes da banda poderem atuar com um mínimo de desenvoltura adequada. 

Apesar de nosso esforço para disparar a mala postal do fã-clube e contar com um pequenino apoio com filipetas, não conseguimos arregimentar um grande público ao espaço.

Rara foto desse show no "Alquimia. Estou em destaque e com Fábio Ribeiro atrás e encoberto pelos teclados. Acervo e cortesia de Índia Dias
 
Foi um show bem burocrático, eu diria, com um certo desânimo por parte da banda, ao deparar-se com um palco claustrofóbico para trabalhar. De fato, foi um pouco desagradável tocar sob tais condições. Foi no dia 2 de junho de 1988 e diante de apenas cem pessoas, que tocamos no Espaço Alquimia.

Como eu havia conhecido o João Cucci Neto, por ocasião da entrevista que ele conduziu, ao representar a Revista "Rock Brigade", nós estabelecemos amizade pela óbvia similaridade de apreço que tínhamos pelo Rock sessenta-setentista e apesar dele ser um inveterado fã do Deep Purple, pelo cargo que mantinha no seu fã-clube oficial e em constante comunicação com o fã-clube britânico dessa grande banda setentista, ele também gostava de muitas outras bandas dessas duas décadas fundamentais para o Rock e daí, claro que aproximamo-nos. 

E partiu de sua iniciativa formular-me um pedido que eu julguei inusitado à época, mas que aceitei de pronto. João me pediu, portanto para escrever uma matéria a ser publicada no fanzine do seu fã-clube "SBADP", a focar nos baixistas que o Deep Purple teve em sua história. 

Bem, eu sempre gostei de escrever, desde criança, mas a música obscureceu de certa forma esse prazer paralelo que eu nutria, mas que só comecei a exercer para valer a partir de 2011 e salvo um poema de minha autoria que fora publicado em um jornal de bairro, em 1979 e a redação de quase todo material para A Chave do Sol e seu fã-clube, ao usar pseudônimos, eu não tinha mais nada publicado de minha autoria e assinado, até então. Claro que aceitei e entreguei-lhe o material, o mais rápido que pude, mas infelizmente não tenho cópia para ilustrar aqui na autobiografia.

Outra coisa que ele tentou fazer pela nossa banda, foi intermediar uma reunião com um conhecido seu que mantinha muitos contatos no exterior e esse rapaz em questão, houvera sido fundamental para sedimentar o sucesso internacional do "Sepultura", pois ele travaria  contatos com centenas de fanzines e fã-clubes de Heavy-Metal e Rock pesado em geral, em inúmeros países do mundo e graças a esses contatos, o Sepultura cumpriu uma longa via crucis de envio de material, desde 1986 para tais publicações underground, que deu-lhe respaldo para ser descoberto no mundo do Heavy-Metal internacional. 

Sob um encontro intermediado pelo João Cucci Neto, em sua própria residência, no bairro do Ipiranga, zona sudeste da cidade de São Paulo, encontrei-me com esse rapaz cujo nome não revelarei, mas a conversa foi desanimadora. 

Ele esclareceu-me que os seus contatos eram centrados no mundo do Heavy-Metal e que o Sepultura lograra êxito por ter o som certo para agradar essa tribo com a qual ele tinha contatos, mas o nosso som, diferentemente, não fazia sentido algum naquele universo. Claro que isso foi o lógico, óbvio e ululante, mas mesmo assim, chateei-me, não com o rapaz em si, mas com a dura realidade em me sentir um outsider até para os mais radicais outsiders...

Outra curiosidade a respeito do João Cucci Neto, foi que ele confessou-me que estava desapontado com a cúpula da Revista "Bizz", pois através do jornalista, Leopoldo Rey, fora contatado para escrever uma resenha do LP "Machine Head", do Deep Purple, para uma sessão da revista que tinha a missão de resgatar a história dos álbuns clássicos da história do Rock. 

Claro que o Leopoldo que eu conhecia bem e sabia que era um jornalista não comprometido com a "Intelligentsia" do Pós-Punk, portanto deve ter brigado na reunião de pauta para assegurar uma ideia dessas, mas infelizmente, em meio àquela mentalidade abominável que a revista adotava acintosamente, "clássico" para eles, eram os álbuns Punks e Post-Punkers, lançados de 1977 em diante.

A cada edição, essa revista em questão enfocava exemplos abomináveis de obras e artistas que só na mentalidade doentia deles, poderia ser classificada como "importantes" na história do Rock, e assim, apesar dos esforços do Leopoldo Rey, a matéria escrita por João Cucci Neto, a retratar o LP Machine Head, do Deep Purple, foi vetada. Nessa mesma linha de raciocínio, The Beatles, Led Zeppelin, Cream, Janis Joplin, Bob Dylan, The Who e Jimi Hendrix não tinham importância... e ainda tem gente que pergunta-me por que eu tenho reservas tão acentuadas contra a década de oitenta... e durma-se com um barulho desses...

 

Na semana seguinte ao show que realizamos no claustrofóbico palco do "Espaço Alquimia", nós tivemos dois shows marcados para fora de São Paulo. Um seria no interior do estado, em uma pequena cidade chamada: "Espírito Santo do Pinhal", fruto de um contato proporcionado da parte do Eduardo Ardanuy. E o outro, seria no Rio de Janeiro, graças aos esforços de Ricardo Aszmann, nosso colaborador no Rio. 

Sobre o show na pequena cidade interiorana, não esperávamos na de especial, portanto, detínhamos mais expectativas sobre o Rio, onde seria uma boa oportunidade para apresentarmos o nosso som em tal importantíssima capital, onde nossa ex-banda, A Chave do Sol continha muitos fãs e a sua súbita extinção, seguida da criação não menos surpreendente de uma nova banda dissidente, gerara especulações e certamente a curiosidade dos fãs cariocas. 

Para reforçar, o show na pequena cidade interiorana não despertava-nos grande esperança de expansão promocional de nossa banda, mas evidentemente, seria válido pelo cachê oferecido.

Nos apresentamos bem na porta da Igreja da Matriz, dessa simpática cidade interiorana de Espírito Santo do Pinhal-SP

Bem, seriam dois shows em um final de semana, o que dar-nos-ia um cansaço inevitável, visto que seriam em dias seguidos, sem intervalo para viagens mais confortáveis e tempo para descanso entre eles. 

Correto, isso seria raro para uma banda nova, sem empresário e com pouco espaço midiático, portanto, cansaço a parte, comemoramos esse simulacro de micro turnê. Fomos para a cidade de Espírito Santo do Pinhal, no início da tarde no dia do show, 11 de junho de 1988. 

No uso de uma velha e valorosa Kombi e a levarmos conosco o backline (equipamento de palco), da banda, pois o prometido ali foi contarmos apenas com o PA do evento disponibilizado, foi uma viagem tranquila pela estrada boa, mas um pouco sofrida pelo aspecto do conforto. Apesar de estarmos no final do outono, estava um dia quente, aliás padrão comum no interior de São Paulo.

Ao chegarmos a cidade, que fica perto de Campinas e Mogi-Guaçú, dirigimo-nos diretamente ao centro da localidade, onde tocaríamos em um evento ao ar livre, com o palco improvisado e montado na escadaria de acesso da Catedral da cidade, logicamente localizada na principal praça do centro, como é algo típico em cidades interioranas. 

Montamos o backline com o apoio da produção local e fomos avisados que o soundcheck seria feito a toque de caixa, sem maiores requintes e já com o público a espreita, pois não poderíamos elaborarmos os testes antes da missa das 18:00 horas e haveria uma outra missa marcada para as 20:00 horas. 

Bem, acostumados a tocarmos em condições de monitoração bem insalubres, como quase todo Rocker brasileiro, nem ficamos muito contrariados, mas claro que seria mais uma situação aviltante a ser contabilizada na carreira. 

Arrumado tudo, fomos levados para jantar em uma pensão local e por localizar-se bem próxima, fomos a pé, sem nenhum constrangimento. Na pensão, fomos muito bem tratados pela proprietária e seus funcionários, além dos seus hóspedes que eram quase todos, idosos. Se tratou de um estabelecimento simples, mas muito aconchegante, com o clima de um singelo "Lar".

Quando chamaram-nos à mesa para o jantar, tomamos um susto, pois a despeito da simplicidade generalizada, a fartura na mesa mostrou-se impressionante, ou seja, honraram a típica tradição interiorana, versada pela absoluta hospitalidade e fartura nas iguarias.

Comemos tanto, que quando nos foi servida a sobremesa, ficamos constrangidos, mas não tivemos pudor em atacarmos violentamente aqueles doces e bolos maravilhosos, dignos da Tia Anastácia, do Sítio do Pica-Pau Amarelo. 

Estávamos todos empanturrados, quando fomos convidados a sentarmo-nos na sala de estar do estabelecimento e aí serviram-nos o cafezinho, como um tiro de misericórdia para aquele bando de cabeludos gulosos.

Foi quando o Zé Luiz Rapolli, do nada, ao olhar para a TV que exibia o "Jornal Nacional", da Rede Globo, soltou uma pérola inesperada: -"o que será que vai passar no "Super Cine", hoje?" Hilário! 

Caímos sob uma gargalhada coletiva, pois estávamos tão empanturrados, que a perspectiva de se assistir um filme e cochilar nas poltronas como se estivéssemos cada um na sua respectiva casa, por um segundo foi cogitada por todos, com as respectivas panças inchadas, quando ouvimos a brincadeira do Rapolli.

Entretanto, tínhamos um show de Rock para fazer, a despeito dos respectivos estômagos absurdamente cheios e com a preguiça inerente a reboque. 

Quando voltamos à Praça, a segunda missa da noite ainda estava em curso e nós tivemos que esperar o seu término, mas já havia uma multidão na praça, a aguardar pelo show. Claro que não tratava-se de um público Rocker, mas haviam uns poucos ali, com alguma noção de quem éramos e o que aconteceria com nossa performance naquele palco inusitado.

Quando a missa encerrou-se e os fiéis deixaram a Igreja, fomos autorizados a começar. 

Por incrível que pareça, o nosso som, certamente muito pesado para os padrões de ouvintes não acostumados a tal sonoridade, não espantou a massa. Aplaudiam com entusiasmo a cada canção encerrada e na minha ótica, acho que o clima ali entre tais pessoas, fora de festa, e por isso, qualquer som os divertiria, mesmo o nosso, que era pesado, cantado em inglês, e repleto por solos virtuosísticos.

Enfim, foi melhor dessa forma para todos e assim, saímos muito satisfeitos do palco, pois fizemos o nosso show normal e completo, para um público que pareceu divertir-se. Além do mais, ganhamos um bom cachê, pago regiamente, e aquele jantar... bem, acho que já falei sobre isso!

Voltamos imediatamente para São Paulo, pois no dia seguinte, bem cedo, partiríamos para o Rio de Janeiro, onde uma apresentação no "Caverna II", aguardava-nos, e aí sim, seria um show importante para a evolução na carreira, mas infelizmente, ao contrário de um público não Rocker de uma pequena cidade interiorana, ao tocarmos em uma capital importantíssima como o Rio, nós tivemos problemas e eu já explico o que ocorreu. 

Então foi assim, tocamos na praça da matriz da pequena Espírito Santo do Pinhal, no dia 11 de junho de 1988, com cerca de cinco mil pessoas a assistir-nos, segundo a estimativa oficial da Polícia Militar.

Pelo tipo de filipeta absolutamente amadorística e feita nas coxas (creio que literalmente), nós deveríamos ter desconfiado que as coisas não dariam certo no Rio.

Chegamos em São Paulo no início da madrugada e tínhamos pouco tempo para descansarmos, pois a viagem para o Rio seria realizada no início da manhã seguinte. 

Partimos para o Rio e chegamos na hora do almoço, sob um dia nublado e atípico para o padrão carioca de sol e calor escaldante. Chegamos ao espaço onde funcionava o Caverna II, onde tínhamos, eu e Beto, a lembrança de shows realizados nos anos de 1986 e 1987, com nossa ex-banda, A Chave do Sol, mas agora as circunstâncias seriam diferentes, com uma nova banda e um novo som.  

A expectativa entre os cariocas foi grande, sabíamos, por conta dos acontecimentos que culminaram com o fim das atividades de nossa ex-banda e a criação às pressas dessa nova banda dissidente.

Tocaríamos com duas bandas pesadas da cena local e formada por bons músicos e pessoas boas, com as quais teríamos certamente uma boa ambientação. Foram: "Destroyer" e "Calibre 38". Conhecíamos o pessoal do Calibre 38 e estava garantido, portanto, o clima de camaradagem nos bastidores. Contudo, algo inexplicável ocorreu nessa tarde & noite.

Em primeiro lugar, o público que compareceu às dependências do Caverna II, foi diminuto para os padrões daquele espaço. Nos anos anteriores, havíamos apresentado-nos (ao falar sobre A Chave do Sol, logicamente), para mais de mil pessoas espremidas no salão retangular e muito quente. Mas nesse dia, o público informado pela produção, de forma aproximada, foi de apenas trezentas pessoas.

O segundo ponto e mais desagradável, foi que o público habitual do Caverna II, simplesmente não compareceu e o que vimos ali, foi um público adepto de tendências radicais de Heavy-Metal extremo, absolutamente agressivo e hostil. 

Ficamos surpresos quando subirmos ao palco e os que estavam mais próximos da grade de segurança, hostilizaram-nos bastante. Não foram xingamentos pesados, mas abusaram da ironia e do deboche, ao satirizar o nosso sotaque paulista/paulistano, e aí sim, a achincalharem os nossos clubes de futebol, como uma maneira para atingir-nos. Até aí tudo bem, pensamos em princípio tratar-se de meia dúzia de bairristas idiotas e dispostos a praticarem o bullying coletivo, pelo simples prazer mórbido de incomodar-nos.

Mas quando começamos a tocar, sentimos que não houve sinergia alguma, pois mal ouvíamos aplausos educados dos poucos que ali compareceram com vontade de assistir os shows das três bandas e houve a constatação também de que as duas bandas cariocas que tocaram na mesma noite, igualmente houveram sido recepcionadas friamente pela plateia. 

Segundo o meu amigo, Ricardo Aszmann, que era o nosso contato no Rio, e conhecia bem a cena local, tais elementos eram radicais xiitas vindo de bairros longínquos da periferia e cidades da Baixada Fluminense e que só tiveram o objetivo de tumultuar, praticar bullying e incomodar quem quer que fosse que subisse ao palco. 

Tudo bem, mas onde esteve o público habitual da casa? A única resposta plausível para tal surpreendente ausência, fora pela divulgação malfeita e nessa altura, de fato, o Caverna II já não tinha a força de anos anteriores, infelizmente. 

Foi um show bastante estranho, portanto. Saímos do palco aborrecidos por não termos apresentado-nos para o verdadeiro público carioca, Rocker, mas sim para uma massa alheia ao nosso som e apenas disposta a hostilizar-nos, simplesmente. 

Na semana subsequente, teríamos dois shows no "Black Jack Bar", em São Paulo, uma casa minúscula, mas tradicional no circuito do Rock paulistano.

Resenha sobre o show realizado no Rio de Janeiro, escrita pelo jornalista, Sérgio Martorelli para a Revista Metal, nº 49
Voltamos do Rio frustrados pelo resultado pífio da apresentação, mas resignados pelo consolo efêmero de nós não termos sido responsáveis por tal situação. O nosso próximo compromisso seria duplo na verdade, com dois dias no Black Jack Bar, tradicional reduto do circuito de Rock underground na cidade de São Paulo.

Foto promocional do "Inox", com Paulo Toledo como o primeiro, em destaque

Tal estabelecimento já tinha tido vários proprietários e agora estava sob a administração de Paulinho "Heavy" Toledo, ex-vocalista da banda "Inox". Portanto, privilegiava em sua agenda, bandas da cena do Hard-Rock. Tocamos nos dias 17 e 18 de junho de 1988, sexta e sábado. Na sexta, tivemos cerca de cem pessoas ao bar e no sábado, foram duzentas e cinquenta, portanto, um bom público na média e principalmente se considerarmos que tratara-se de um pequeno espaço. 

O som ali era caótico e o ideal seria tocar bem baixo, para nivelar com o pequeno e tímido PA da casa, ao visar não obscurecer as vozes, mas seria quase impossível manter tal dinâmica. Claro, quando a casa apresentava uma boa frequência de público, a tendência seria melhorar a qualidade sonora, com a massa corpórea das pessoas a inibir a incidência de reverberação, mas mesmo assim, tocar com baixo volume fora uma necessidade ali. Os shows foram bons, apesar das condições tímidas da casa. 

Alguns dias depois, recebemos um convite da TV Cultura de São Paulo e fomos participar de uma edição do programa, "Boca Livre". Tínhamos participado desse programa, eu e Beto, no ano anterior, 1987, mas ainda como componentes d'A Chave do Sol. Aliás, fora o último programa de TV feito pel'A A Chave do Sol, com o guitarrista cofundador da banda, Rubens Gióia, mas já sem a presença de José Luiz Dinola, substituído provisoriamente por Ivan Busic. Nesse momento, seria uma outra banda e um outro som, naturalmente.

O programa ainda era apresentado pelo radialista, Kid Vinil, mas desta feita ele teria tinha a companhia de uma apresentadora chamada: Dadá Cyrino, que também era cantora. Figura espalhafatosa, ela apresentava o programa aos berros, sob um estilo histriônico que assemelhava-se às apresentações de programas infantis e/ou circenses, por ser bem exagerada, portanto. 

Na verdade, as bandas não eram o foco ali, mas sim uma disputa entre estudantes a representarem os seus respectivos colégios, ao estilo de uma "gincana", daí talvez justificar-se a figura estrambótica de Dadá Cyrino, em detrimento do Kid Vinil que era bem mais comedido, por incrível que pareça.

Nessa noite, ali no Teatro Franco Zampari, tivemos a companhia de duas bandas. Os veteranos do "Placa Luminosa", uma banda que era híbrida por atuar no circuito de bailes e conter um trabalho autoral em paralelo e a banda Punk, "Kães Vadius". 

Tocamos duas músicas. Uma delas foi: "Stole My Heart", uma canção bem Pop, pelo menos no conceito do que seria "pop" para quem professava o Hard-Rock oitentista sob viés norte-americano. Lembrava bastante o som do "Van Halen", fase Sammy Hagar, para situar o leitor melhor. 

Já a outra canção, "Narrathan", continha uma roupagem bem calcada no Hard-Rock britânico, com espaço para longas intervenções com solos. A despeito de eu ser um destoante contumaz naquela seara do Hard-Rock virtuosístico, com apelo "malmsteeniano" que essa banda havia adotado, confesso que algumas cadências harmônicas dessa música que remetiam ao Hard-Rock setentista, agradavam-me.

Havia um longo solo dividido entre os teclados e a guitarra, que era feito sob uma sequência de alternância de meio tons, que muito lembrava-me o som do "Rainbow", nos anos setenta. 

Épico, barroco & dramático, e com timbres de mini-moog ultra setentistas que o Fábio executava, para deixá-lo ainda mais dentro desse estilo do Hard-Rock, daquela década. 

Bem, fizemos uma micro entrevista e tocamos as músicas. "Flashs" da reação das pessoas na plateia demonstravam um desinteresse absoluto pelo som cheio de firulas de nossa banda, mas o que deve ter incomodado mesmo foi o fato das canções terem sido cantadas em inglês.

Se isso fez algum sentido para o universo do Rock underground do final de década (talvez graças ao sucesso internacional retumbante do "Sepultura", muitas bandas daquela cena haviam adotado tal expediente linguístico), mas para o grande público alheio a essa movimentação estratégica dos bastidores da música, não fez sentido algum. 

Eis o vídeo dessa apresentação no Boca Livre em 4 de julho de 1988, resgatado por Will Dissidente em seu Blog, "A Chave do Sol", em 2015.

O Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=eLeK3fjyf6g

Bem, ao assistir o vídeo, acho que foi uma apresentação boa, com a banda bem ensaiada e por ter uma performance muito convincente, mas aquela sonoridade realmente não haveria de empolgar pessoas não antenadas nas tendências mais atuais do Rock oitentista, portanto, foi muito questionável o rumo que estávamos a tomar.

Se estivéssemos com grandes contatos internacionais a abrir-nos portas, certamente faria todo o sentido, pois a banda soava bem, detinha grande poder de performance e contava com dois solistas virtuoses na sua formação, mas não foi o caso e o que tivemos, foi a dura realidade brasileira para se lidar, ainda favorável ao Pop diluído do "fim da feira" do Pós-Punk e o som peso-pesado, circunscrito aos seus devidos nichos do underground. 

O "Sepultura" transitava por certos meios do mainstream, mas de uma forma absolutamente incompreensível sob o ponto de vista de sua sonoridade e estética. Mas isso jamais significou em tese, que o público não adepto de sonoridades do Metal extremo realmente havia absorvido tal estética. Mais parecia uma assimilação pelo modismo, na base da formação de opinião, pois definitivamente, nada havia de Pop no trabalho deles.

Enfim, tal aparição nossa na TV, com essa estética e sonoridade, aliada ao fato de cantarmos em inglês, foi na verdade, a constatação de que estávamos a desferir vários tiros errados, mas claro, não tínhamos esse discernimento à época. E sem tal visão clara dos fatos, continuamos a insistir nessa estratégia, ao pensar em gravar uma demo-tape, gravar um LP etc. 

Como curiosidade dessa aparição na TV Cultura, acrescento que eu tive uma surpresa com a tal apresentadora, Dadá Cyrino, cerca de um ano depois, em 1989, quando fui convidado pelo ex-guitarrista do Terra no Asfalto, Aru Junior, para conhecer um projeto de banda autoral que ele tinha em mente. Não foi a minha intenção abandonar essa dissidência chamada, A Chave/The Key, principalmente para não deixar o Beto Cruz sem o meu apoio, ele que lutara tanto para criar a banda e mantê-la em pé, desde o início de 1988, mas eu fui falar com o Aru, um amigo e músico que admirava e fora meu colega de banda entre 1980 e 1982.

Quando adentrei a residência dele, eis que descubro que a sua nova esposa era Dadá Cyrino, isto é, vivemos em um mundo pequeno mesmo!

E além do som que ele queria fazer, houve a possibilidade de tocar com ele na banda de apoio de sua esposa, que movimentava-se para fomentar uma carreira latino-americana, ao empreender uma música Pop cantada em castellaño, com vários signos de latinidade, principalmente com sabor caribenho em sua música. 

Bem, não deu para aceitar tais propostas, mas foi curioso ir visitar um velho amigo e surpreender-me com Dadá Cyrino, como dona da casa.

Ainda a falar sobre o vídeo no programa " Boca Livre", há flashs que mostram em close a irmã do Zé Luiz Rapolli, Sueli Rapolli e a então namorada do Eduardo Ardanuy, cujo nome esqueci-me completamente.

E também a curiosa presença da atriz, Cristiane Tricerri, que na época fazia parte do premiado grupo de teatro, "Ornitorrinco", do diretor, Cacá Rosset e o seu semblante não foi exatamente de quem estivesse empolgada com o nosso som.

E assim ocorreu no dia 4 de julho de 1988, no Teatro Franco Zampari, acoplado à estação Tiradentes do Metrô, no bairro do Bom Retiro, centro da cidade e com cerca de quinhentas pessoas na plateia. O próximo compromisso, seria uma volta ao Teatro Mambembe, ainda em julho.

Voltaríamos ao palco do Teatro Mambembe, onde em abril havíamos feito o que consideramos a estreia oficial dessa nova banda. E claro, já tínhamos uma longa convivência com tal Teatro, eu e Beto, principalmente, com grandes performances da nossa antiga, A Chave do Sol, ali. 

O Teatro Mambembe ainda mantinha fôlego em 1988, apesar da cena underground estar também por apresentar sinais de declínio, tal como a cena mainstream do BR Rock 80's. Não percebíamos isso com muita clareza, mas ao olhar com distanciamento histórico, em 2015, momento em que escrevo este trecho, claro que isso foi nítido. Sem muitos recursos, fizemos a nossa divulgação mais calcada no disparo da mala postal do fã-clube, via correio e fomos para o show. 

Dividiríamos a noite com uma nova banda que estava a debutar no cenário do Rock pesado e underground, chamada, "Naja", comandada pelo guitarrista, Micka, que fora membro de outra banda da cena oitentista, o "Santuário". Essa antiga banda dele, era proveniente de Santos-SP, no litoral e que tivera relativo êxito na cena do Heavy-Metal oitentista. Bem, notícia boa, por que o Micka era (é) um sujeito gentil, e o convívio seria bom nos bastidores, sem dúvida.

Fizemos o show praticamente igual ao que havíamos feito em abril, com a inclusão de algumas músicas novas, inclusive, mas o resultado não foi o mesmo, com aquela comoção toda gerada.

Ao começar pela bem menor presença de público, desta feita, com quase a metade em relação ao público que havia comparecido em massa, na ocasião anterior. Foi um show mediano, pela minha lembrança, pois a baixa frequência de público tirou-nos um pouco de ânimo, é claro, mas também já haviam sinais de desgaste interno, por incrível que pareça, para uma banda que tinha apenas seis meses de vida.

A maneira abrupta com a qual fora formada, a sombra da velha, A Chave do Sol, a trilha estética adotada, a falta de recursos financeiros e a cena a diluir-se, foram fatores para explicar as dificuldades dessa banda, sem dúvida, mas eu vou além. 

Acho que o primeiro item que eu citei, sobre o caráter abrupto de sua formação, foi significativo em um sentido quase romântico, mas que reputo ser fundamental na formação de qualquer banda: a empolgação inicial de se agruparem forças em torno de um objetivo, é primordial para dar o primeiro impulso criativo e neste caso, a banda fora montada de uma forma emergencial e para cobrir compromissos de uma banda recém extinta.

Não houve o fator "sonho" nessa formação inicial e isso seria uma condição importante para que se tivesse uma química inicial, que fosse capaz de aguentar os primeiros tempos que são sempre difíceis para uma banda nova. 

Mais que isso, pressupõe que as pessoas arregimentadas para a formação de uma banda, tenham mais afinidades em comum, do que diferenças. Que as influências sejam parecidas em pelo menos 70 %, no cômputo geral, presumivelmente, que haja um consenso básico sobre qual linha estética a seguir-se, doravante, tanto em termos musicais, quanto poéticos em relação às letras e sua mensagem.

Enfim, nada disso foi levado em conta para a criação dessa banda e portanto, em poucos meses, os primeiros sinais de desgaste entre os membros, começaram a aparecer. 

Nessa circunstância, eu quase não comunicava-me com o Eduardo Ardanuy. Achava-o circunspecto, fechado nas suas convicções musicais e com pouca ou talvez nenhuma similaridade com os meus valores. Fábio Ribeiro era um menino educado, cordial e solícito, mas a diferença de idade (e convenhamos, nem era tanta assim, coisa de dez anos), fez com que eu me comunicasse mais com o seu pai, o saudoso "seu" Ribeiro.

Portanto, foi com o Zé Luiz Rapolli que eu mais conversei e as nossas conversas giravam muito em torno das nossas predileções do Rock das décadas de sessenta e setenta e graças a essas conversas, eu tive a falsa impressão, dez anos depois, de que ele talvez fosse o baterista ideal para o projeto do Sidharta, mas isso foi um equívoco de minha parte (falo sobre isso no capítulo dessa banda em específico, é claro). 

Sobre a parte musical, eu tentei manter uma tradição que usava e estava muito acostumado com o outro, Zé Luiz, o Dinola, que era o esforço em criar sob parceria, arranjos rítmicos elaborados para enriquecer o trabalho da banda. 

Ele, Rapolli, gostou da ideia e nós chegamos a ensaiarmos sozinhos, quando criamos divisões rítmicas a serem executadas nas músicas, mas a mentalidade dessa banda não comportava tal tipo de procedimentos para o arranjo em particular da linha de baixo e bateria, pois logo o Edu reclamou de nossas "quebradeiras rítmicas" ao alegar que isso "atrapalhava" os seus solos. 

Não foi da parte dele um arroubo de arrogância, mas de fato, uma questão de mentalidade, pois o Jazz-Rock setentista não interessava-lhe e no seu espectro de influências, o Hard-Rock Pop oitentista e o acento virtuosistico que adorava, continha como padrão, a extrema simplicidade de baixo e bateria, como ponto pacífico no arranjo, a fazer dos solos, o grande destaque a ser realçado.

O som do guitarrista sueco, Yngwie Malmsteen, foi o exemplo que norteou os trabalhos dessa banda, predominantemente...

Para trocar em miúdos, foi mais um fator para desanimar-me ainda mais com essa banda e sua estética que desagradava-me inteiramente. Contudo, apesar dessas contrariedades, não foram nada graves as desavenças internas sob o ponto de vista humano, que caracterizassem um clima insuportável, brigas ou mau humor generalizado, mas o suficiente para gerar-se pequenas insatisfações, que só tendiam a crescer e foi o que aconteceu. 

De minha parte, aquele som não era o meu, definitivamente. A aposta no Hard-Rock Pop que fosse híbrido o suficiente para flertar com o mainstream, havia sido um sacrifício calculado nos momentos finais d'A Chave do Sol, mas no caso dessa nova banda, a guinada para o som pensado para atender o virtuosismo "malmsteeneano" jamais teria sido uma opção que eu gostaria de experimentar.

Essa linha foi uma escolha do Edu, que além de professá-la por prazer estético, acreditava piamente que seria um caminho que teria vazão comercial internacional, fator esse que o Beto também estava convencido naquela altura e daí a opção para adotar o inglês como língua oficial da expressão dessa banda. 

Fábio Ribeiro continha uma boa escola progressiva setentista, tecladista versátil e virtuose que o era, portanto, fã de tecladistas dessa vertente da década de setenta, todavia, também apreciava a nova moda de virtuosismo oitentista e era compreensível no sentido que tal escola "moderna" no Hard-Rock, dera vazão também a longos e virtuosos solos de teclados. 

No caso do José Luiz Rapolli, ele gostava muito do som das décadas de sessenta e setenta, mas não importava-se em tocar aquela tendência moderna oitentista e a absorvia sem problemas.

Em resumo, o único que apresentara desconforto com a opção musical ali adotada fui eu, e se haviam sinais de insatisfações dos demais, aí sim, foram pelos outros fatores que arrolei alguns parágrafos atrás. 

Vida que seguiu, apesar de tudo, prosseguimos em frente nessa metade de 1988 e novos compromissos surgiram. Sobre o show no Teatro Mambembe, este ocorreu no dia 12 de julho de 1988, com cerca de trezentas pessoas na plateia.

Nos dias 11, 14, e 20 de julho de 1988, nós tivemos aparições rápidas em um novo programa de TV, que mostrara-se moderno para os padrões da época, chamado: "TV Mix", veiculado na TV Gazeta de São Paulo. 

Aparentemente caótico e avantgarde, mantinha a proposta de ser uma mescla de programa de jornalismo cultural, com cobertura de cotidiano em geral da metrópole. Para dizer a verdade, era bem interessante a sua proposta em torno do dinamismo e informalidade, ao extrair o ranço de seriedade de um jornal tradicional, por ser leve, "moderninho", e de certa forma, irreverente.

Com exibição diária e ao vivo (apresentava três edições por dia), possuía uma série de âncoras, entre eles, figuras que não eram ainda famosas na TV, nessa ocasião, como Serginho Groisman, Alê Primo, o escritor, Caio Fernando Abreu, o então jovem, Cléber Machado (atual narrador esportivo da TV Globo), Marcelo Mansfield ("Terça Insana"), Luis Henrique (travestido como "Condessa Giovanna" e que depois disso ficaria famoso a interpretar a "Mamma Bruschetta", em programas femininos na TV), e Astrid Fontenelle (na ocasião, futura MTV), só para citar alguns jovens (e alguns veteranos também, caso de Ricardo Corte Real e Tadeu Jungle (ex-A Fábrica do Som), e de certa forma tal programa antecipou a extrema informalidade que dois anos depois marcaria o início das atividades da MTV no Brasil.
No caso da Astrid, certamente que a sua atuação na TV Mix, assegurou a sua contratação para a MTV, em 1990. E no dia 20, a aproveitar a passagem pela TV Mix, novamente, agendamos participação no programa "Realce". No tempo d'A Chave do Sol, éramos habitues desse programa em que nos apresentamos diversas vezes ao realizarmos dublagens hilárias e a participar das loucuras improvisadas do apresentador argentino, Mister Sam.
Mas agora, o Realce havia reformulado-se muito. Mister Sam não fazia mais a apresentação que ficara a cargo de um locutor de Rádio FM chamado, Beto Rivera. Ele era extremamente profissional e gentil, mas não tinha o carisma e a insanidade do Mister Sam, e assim, tornou o programa muito comedido, portanto, a subtrair-lhe muito do seu charme anterior.

Nesse dia, dividimos o programa com um artista super ilustre do Rock/MPB brasileiro setentista, Pepeu Gomes, que foi muito gentil conosco nos bastidores e conversou bastante com o Edu Ardanuy, sobre guitarras, equipamento etc. 

O próximo compromisso foi no Centro Cultural São Paulo. Desta feita, ao contrário do público presente que havíamos considerado decepcionante no Teatro Mambembe, tivemos bastante público nessa apresentação. Tocamos perante cerca de seiscentas pessoas, no dia 24 de julho de 1988 e foi um show com energia, devo registrar.

Foto de João Cucci Neto, a cobrir esse show do Centro Cultural São Paulo, para a revista, Rock Brigade

Mas o que mais marcou nesse dia, não foi a nossa boa performance, tampouco a reação calorosa do público, mas um acontecimento de bastidores. Através do Eduardo Ardanuy, o empresário que estava a trabalhar com o João Ricardo, Ex-"Secos & Molhados", foi assistir o nosso show e talvez daí surgisse o interesse em contratar-nos. 

Bem, desde o final da antiga, A Chave do Sol, que não tínhamos mais contato com empresários e agora que uma nova banda estava articulada e a fazer relativo rumor na mídia especializada, se arrumássemos alguém para auxiliar-nos, não seria nada mal. 

Alguns dias depois, uma reunião foi marcada para uma conversa com o rapaz que chamava-se, Enzo, mas fico a dever o seu sobrenome. O ponto de encontro foi o próprio, Centro Cultural São Paulo, mas ao contrário do que supúnhamos, a sua real intenção não seria contratar-nos. 

Contudo, só percebemos isso alguns minutos depois, pois ao emitir uma desculpa esfarrapada sobre ali não ser um local adequado para conversarmos (e não procedia, pois o CCSP contém vários ambientes de convivência, café), eis que ele convidou-nos a irmos a uma cantina italiana no bairro do Bexiga e enquanto degustássemos uma bela massa italiana, conversaríamos com mais calma.

Ao chegarmos em tal bairro, entre inúmeras cantinas que existem na Rua 13 de maio, entramos na "Lazzarella Due" (excelente, claro), mas surpreendemo-nos com João Ricardo a nossa espera. Bem, foi uma mera armadilha, com o tal empresário não interessado em ser o nosso manager, mas na verdade, preocupado em arregimentar músicos para compor uma nova tentativa de volta dos Secos & Molhados, que João Ricardo estava a planejar.

O interesse ali seria convidar Edu e Fábio, os nossos solistas. E a conversa girou em torno disso, pelos cantos, enquanto comíamos e o empresário fazia esforços para que eu (Luiz), Beto e Zé Luiz Rapolli não prestássemos atenção no assédio sobre os nossos companheiros, mas isso foi praticamente inútil para tentar disfarçar. 

E convenhamos, se fosse em 1973, eles não teriam nem o que pensar, e nós só poderíamos amargar a perda de nossos companheiros, a desfalcarem a nossa banda, mas em pleno 1988, a perspectiva de uma terceira ou quarta "volta" dos Secos & Molhados e sem Ney Matogrosso e Gerson Conrad em suas fileiras, não os seduziu. 

Quando o jantar terminou, o tal empresário ficou com o seu humor muito diferente. Falante e brincalhão no início da noite, esteve a posteriori mal-humorado, sob um misto de contrariedade pela não concretização de seu intuito, visto que Edu e Fábio não mostraram-se empolgados com a proposta e talvez potencializado pela ingestão de vinho. 

Antes disso acontecer, horas antes, quando em um momento permeado por conversas sobre amenidades, esse rapaz havia oferecido-me carona, pois descobrira que eu era morador do bairro do Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo e ele era da Mooca, bairro da mesma região. Nesse novo momento, não houve como ele retroceder em sua gentil oferta, apesar de estar visivelmente contrariado pelo rumo da conversa.

Portanto, durante o percurso, pôs-se a dirigir em profundo silêncio e quando o carro alcançou o viaduto Bresser, na avenida Radial Leste, eis que o rapaz tomou um impulso e perguntou-me se eu não importar-me-ia em prosseguir a minha viagem a usar o metrô, pois ele estava cansado e desejava virar ali para embrenhar-se pelo bairro da Mooca, rumo à sua residência. 

Claro que não importei-me, seriam apenas duas estações de metrô adiante para eu chegar à minha residência, mas tal episódio serve para ilustrar a contrariedade do rapaz. Bem, eu nem preciso dizer que ele parou de atender o telefone logo a seguir e o seu suposto interesse em empresariar-nos, nunca existiu realmente.

Dois dias depois desse jantar estranho em uma cantina italiana do Bexiga, nós tivemos uma apresentação em um espaço novo que arriscava-se a produzir shows de Rock, onde não havia nenhuma tradição nesse sentido. 

E na prática, sempre que surge uma iniciativa assim, a cena fica agitada, com o boato a correr entre músicos, produtores, agitadores culturais, jornalistas e público cativo em geral. Claro que aceitamos o desafio e arriscamos a bilheteria, ao acreditar que poderia vir a tornar-se um novo ponto sustentável para o Rock na nossa cidade.

Foi uma produção do baterista do "Harppia", Tibério Correa, que esforçou-se para dar tudo certo, com toda a boa vontade e interesse que um músico de Rock poderia nutrir sobre isso, mas infelizmente a sua iniciativa não deu o resultado esperado e logo a casa fecharia as suas portas para o Rock, infelizmente. 

Um dia antes, em 27 de julho, Fábio Ribeiro e Zé Luiz Rapolli haviam concedido entrevista para a emissora Brasil 2000 FM, mas nem assim, com tal esforço extra de divulgação, fez com que tal promoção ajudasse-nos a termos mais público no local. 

E ao aproveitar a abertura que o programa TV Mix, da TV Gazeta, estava a proporcionar-nos, fomos também participar, na base de uma rápida entrevista, na verdade, um testemunhal só para reforçar a divulgação dos shows no Dunny's Club e Projeto Leste I.

É bem verdade que quatro dias antes havíamos tido cerca de seiscentas pessoas no Centro Cultural São Paulo e isso quase que anulara a possibilidade de movimentarmos uma nova multidão a um local totalmente sem tradição de shows de Rock e desconhecido, portanto, de nosso público habitual. 

Então, mesmo sob tal perspectiva sombria, nós fomos ao Dunny's Club, um salão localizado na Lapa, na zona oeste de São Paulo e demos o nosso recado para uma plateia formada por apenas cinquenta testemunhas. 

Além da pequena frequência de público, o palco e o equipamento não foram de muita qualidade, portanto, foi um show um tanto quanto sofrido para nós. E houve uma agravante para justificar a ausência de público: dois dias depois, tocaríamos em um gigantesco espaço na Zona Leste, chamado: "Projeto Leste I". 

Com uma propaganda razoável que estava nas ruas, portanto, o show nesse clube da Lapa ficara encravado entre as nossas apresentações no Centro Cultural São Paulo e essa do enorme "Projeto Leste I", portanto, a obscurecer o show nesse pequeno clube da Lapa. 

Com abertura na emissora Brasil 2000 FM, Fábio Ribeiro foi efetuar entrevista no programa, "Clip Independente" nessa emissora, para reforçar a divulgação. 

Então foi assim, com apenas cinquenta pessoas na plateia, fizemos o show no Dunny's Club da Lapa, em 28 de julho de 1988 e claro, a piada pronta esteve na ponta da língua: "Dane-se clube"... mas quem "danou-se" fomos nós mesmos neste caso!

 
Não foi um baile de formatura, como sugere o cabeçalho da filipeta, mas apenas uma propaganda do patrocinador, aliás algo muito inusitado. E grafar a palavra Rock, como "Roque", denotou a total falta de proximidade do tal patrocinador, com o nosso universo, ou, um arroubo xenófobo, digno de um Policarpo Quaresma...

Chegamos ao Projeto Leste I e impressionamo-nos com sua dimensão gigantesca. Tratava-se de um enorme galpão localizado na Rua Siqueira Bueno, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo.

Os responsáveis por tal espaço queriam fazer dele um novo polo de shows de grande proporção e na zona leste, o que fora louvável, mas a sua missão mostrava-se bastante difícil, apesar da boa localização, com a Mooca, por ser um bairro muito perto do centro de São Paulo, cercada por outros tradicionais bairros da região, como Brás, Belém, Pari, Tatuapé e Vila Prudente, entre outros, além dessa rua em específico, ficar localizada a três quarteirões de uma estação de Metrô. 

Todavia, o desafio foi enorme, pois naquela época, as grandes casas de shows ficavam instaladas majoritariamente nas zonas sul e oeste, e portanto, quebrar essa rotina na cidade foi bastante difícil. 

Outro ponto, foi que a febre das "danceterias" havia acabado há muito tempo. Portanto, em 1988, a proposta ali foi a de promover espetáculos, para focar nos artistas, na mais bela tradição dos shows de Rock de outrora, todavia, manter uma rotina com shows a movimentar dez a quinze mil pessoas que certamente o espaço comportava, seria difícil ao extremo, a não ser que produzissem shows com artistas internacionais sob forte apelo popular. 

Convenhamos, naquele momento de 1988, abrir um local enorme desses e sem muita perspectiva de que fornecesse-lhe subsídios concretos para a sua continuidade, foi um ato de coragem ou de loucura, como queira o leitor.

Enfim, análise meramente contemplativa, não tivemos nada com isso e se dependesse de nossa óbvia vontade, o espaço lotaria com uma grande multidão, porém, nossa banda não reunia condições para tal, e nem ao somarem-se forças com as bandas que nos fariam ompanhia naquela noite, isso seria possível. 

Bem, estávamos escalados para tocar ao lado de "Centúrias", "Harppia", e uma banda argentina, chamada: "Nemesis". O equipamento disponibilizado foi bom, houve um sistema de iluminação com qualidade e o palco mostrava-se grande, sob um padrão internacional. 

As instalações, incluso camarins, eram rústicas, mas tudo funcional, portanto, a infraestrutura para fazer uma bela apresentação, existiu. Mas a despeito disso tudo, o público que compareceu nessa noite, beirou o ridículo.

Claro que a divulgação poderia e deveria ter sido muito melhor, mas o resultado na bilheteria foi desalentador. Diante de cerca de setenta testemunhas, sob um espaço que comportaria entre dez a quinze mil pessoas, não foi possível se pensar nesse resultado a não ser como um fiasco, mas o que poderíamos fazer? 

Sobre os shows em si, foram bastante desanimados, eu diria. O baixo astral observado nos bastidores foi grande pelo resultado pífio de bilheteria. E o pessoal do "Nemesis", a banda argentina, portou-se com bastante altivez, a impossibilitar uma confraternização.

Talvez estes hermanos se julgassem o último alfajor de Buenos Aires e por isso, a sua postura marcou-se pela arrogância, mas na prática, se tratava de uma banda comum de Heavy-Metal oitentista, sem nenhuma diferença em relação a qualquer banda brasileira, a não ser o fato de que cantavam em castellaño. 

Sobre o nosso show, foi o de sempre, mas bem sofrido pela reverberação causada pela ausência de público. Com setenta testemunhas naquele hangar imenso, não houve como não se produzir um verdadeiro tiroteio de frequências desagradáveis a ricochetearem pelas paredes e teto do ambiente.

Outro aspecto engraçado, deu-se com o fato mediante tão pouca gente presente, que muitos tomaram a postura de assistirem os shows sentados e alguns até a se manterem deitados, como se estivessem em uma praia, ou seja, foi ridículo e desanimador para todos que ali apresentaram-se, sem dúvida. 

Assim foi a experiência no Projeto Leste I, na noite de 30 de julho de 1988. No dia seguinte, dia 31, Fábio Ribeiro e José Luiz Rapolli concederam entrevista ao programa, "Noites Futuristas", da Brasil 2000 FM. 

O próximo show seria realizado apenas em setembro e o ânimo, cada vez mais baixo, para uma banda que pareceu nunca ter provido a química e não fora para menos, pela forma com a qual fora formada, a despeito de serem todos os componentes novos, ótimos músicos e boas pessoas. 

Foi a hora para pensar em uma demo-tape, talvez a salvação para tentar fazer desse trabalho algo para se estabilizar.

O Beto mobilizou a todos para gravarmos uma demo-tape com o material novo que essa banda havia composto até então. O seu irmão, Claudio Cruz, emprestou-nos um gravador dotado de quatro pistas, da marca "Fostex", que era bem simples e com apenas quatro canais, claro que seria uma gravação com muitas limitações e obrigatoriamente, teríamos que fazer uma ginástica para minimizar ao máximo o efeito limitador de uma drástica redução para mixar, inevitável. 

Com uma sonoridade que era encorpada ao extremo e com a presença de longos solos e geralmente duplos em quase todas as músicas, seria necessário um estúdio de 24 canais no mínimo, para tal sonoridade sair a contento. Porém, sem recursos para bancar nem um estúdio simples com oito canais, a solução foi registrar as novas músicas dessa maneira simplória.

Nessa foto ilustrativa de um estúdio que eu nem conheço pessoalmente, veja a presença de uma parte de pedra em um dos cantos, fundamental na acústica.

Fora essa limitação, claro que houve a agravante dessa gravação não ser possível de ser realizada sob um ambiente adequado, com vedações e rebatimento de vários tipos, como madeira, pedra e vidro, componentes importantes no quesito da acústica. 

E pior ainda, não dispúnhamos de microfones adequados para a captura geral. Em suma, seria uma demo-tape caseira, onde o resultado final, com muito esforço, seria o de um ensaio gravado com um pouco mais de requinte no áudio, que o habitual.

E assim, gravamos em um domingo de agosto de 1988, na sala de estar da residência do Beto Cruz. Improvisamos biombos com móveis, cobertores e almofadas, para isolar prosaica e precariamente a bateria dos amplificadores dos teclados, baixo e guitarra e foi o máximo que poderíamos fazer para coibirmos vazamentos, ou seja, quase nada. Gravamos tudo ao vivo, incluso solos, pois não existiu a possibilidade de fazermos "overdubs" para suprir as necessidades dos instrumentos, individualmente. Somente a voz teve essa possibilidade, no dia seguinte.

O resultado sonoro dessa captura até que surpreendeu, ao ficar além das expectativas que mantínhamos em relação a uma gravação de ensaio, apenas melhorada. Claro que a mixagem foi feita na base do "Ping Pong" (gíria usada entre músicos, para descrever a ginástica que era promover a redução dos instrumentos, em poucos canais), e claro, foi sofrida. 

O baixo e a bateria inteira ficaram juntos em único canal e quem é músico e/ou produtor, sabe o quanto isso é desastroso, praticamente a arruinar qualquer possibilidade de se obter timbre e tratamento para cada peça da bateria e a achatar o baixo ao patamar de quase não entender-se as frases feitas pelo baixista. 

A guitarra e os teclados também prejudicaram-se ao extremo, pois mesmo a ocuparem um canal cada um, o fato de ter uma base apenas, e o solo inserido no mesmo canal, limitara-os tremendamente.

Enfim, sob regime gratuito, com essa máquina simplória que nem nossa era, e alguns poucos microfones "Shure SM 58", inadequados dessa maneira para uma gravação, foi o melhor que poderíamos fazer. 

Apesar de tudo, consideramos que o material atenderia a necessidade premente e nessa altura, haviam dois contatos interessados em ouvir o material e não seriam gravadoras de médio, muito menos, grande porte. Trataram-se de dois pequenos selos, oriundos de lojas de discos, que entravam no mercado para concorrer com a Baratos Afins, que nessa altura detinha status de gravadora e não de um simples selo. 

Um desses contatos, foi de uma loja na mesma Galeria do Rock de São Paulo e o outro, de uma loja no Rio de Janeiro, localizada no bairro de Copacabana. Com tal demo em mãos, nem precisávamos preparar material gráfico, pois a conversa seria coloquial com tais lojistas, que estavam a aventurarem-se no mundo da produção artística e fonográfica.

O contato do Rio foi meu, pois eu costumava vender discos nessa tal loja, sempre. Cheguei, portanto. com a fita K7 em mãos e fomos ouvi-la no tape-deck, ali mesmo no balcão da loja. 

Eu passei vergonha, no entanto, pois alguma configuração na reprodução da fita master para a minha cópia, fora feita de forma errada, e assim, o volume estava baixíssimo. Simplesmente não dava para distinguir as músicas, mesmo ao colocar-se o tape deck no seu volume máximo.

Pedi desculpas ao rapaz e fiquei comprometido a providenciar uma cópia audível na minha próxima ida ao Rio, mas isso nunca mais aconteceu, pois fatos novos aconteceram em São Paulo. 

Primeiro, que os amigos do Golpe de Estado indicaram-nos um contato na gravadora Eldorado, para onde estavam a mudarem-se, quando deixaram a Baratos Afins. E segundo, que antes mesmo que o rapaz do Rio ouvisse a fita, o lojista da Galeria do Rock, em São Paulo havia antecipado-se e a demonstrar forte interesse, marcou uma reunião em nosso ensaio, com o forte propósito para fechar o acordo conosco.

Sobre o contato na Eldorado, uma reunião foi marcada na sede dessa gravadora, que nessa época ainda ficava localizada no centro da cidade. Fui com o Beto e ali havia aquela formalidade básica de empresa no trâmite da conversação, embora a Eldorado estivesse apenas sob um patamar de médio porte como gravadora, era muito aberta a ouvir artistas do underground, sem conluio com estéticas A, B ou C, e melhor ainda a ter em suas fileiras, marqueteiros inescrupulosos a gerir o seu sistema de trabalho. 

Tanto que o seu elenco se mostrava eclético, com artistas nada afeitos ao sistema, como: bluesman, artistas folk obscuros, música de raiz, MPB muito alternativa e nesse novo momento, a investir no Rock, sem preconceitos, pois mantinham no seu elenco, de bandas Punk ao Hard-Rock quase setentista, do Golpe de Estado, que estava a chegar ali e onde aliás, esta banda atingiria o seu clímax nos anos seguintes, com a Eldorado quase ao levá-los ao mundo mainstream. 

Tal reunião aconteceu com um diretor artístico chamado, Ota, um japonês que recebeu-nos friamente, mas pelo menos não teve a soberba típica com a qual eu e Beto estávamos acostumados a lidar, em abordagens com produtores arrogantes que esnobaram-nos nos tempos da velha, A Chave do Sol. 

Talvez se cantássemos em português, houvesse uma chance do nosso som passar pelo seu crivo, mas além dessa contrariedade, o excesso de firulas virtuosísticas, não o entusiasmou. Se tivéssemos um som mais direto, como o do Golpe de Estado que estava a entrar na gravadora, talvez conseguíssemos lograr êxito, todavia, o nosso som pecava pelos excessos e até certas músicas que julgávamos "Pop", na verdade, não sensibilizavam produtores acostumados com o mercado, nem mesmo no caso de uma gravadora diferenciada como era a Eldorado, acostumada a dar chances para artistas "outsiders".

Bem, com o tal Ota não deu certo e eu posso até elucubrar se o resultado não pudesse ser diferente se a conversa tivesse sido com outro produtor da casa, chamado, Vagner Garcia, que anos depois eu viria a conhecer por conta do ingresso do Pitbulls on Crack nessa mesma gravadora. 

Mas mesmo assim, ao saber hoje em dia, que o Vagner era bem mais acessível, esse som dessa "A Chave sem Sol", se mostrava mesmo como algo muito inadequado ao padrão real do que costumavam considerar um produto palatável, comercialmente a se analisar. Sobre a conversa com o lojista da Galeria do Rock, eu falo depois, ao esclarecer quem ele era, logicamente...

Entretidos nessa questão de alinhavarmos um selo para gravar um álbum, só fomos ter agenda novamente ao final de setembro. 

Escalados para participarmos de um mini festival, fomos nos apresentarmos no "Megafestival", designados para tocar no dia "Hard'n' Heavy", mediante um evento realizado em um salão sem nenhuma tradição para shows de Rock na cidade e dessa forma, claro que sempre que aparecia uma possibilidade nova, todo mundo envolvido com a cena, animava-se. 

Seriam dois dias, com uma noite mais amena, dedicado ao Hard-Rock, em que inserimo-nos e a noite peso-pesado, com o Heavy-Metal. O tal salão foi o do Clube dos Aeroviários, localizado na Avenida Washington Luiz, quase em frente ao aeroporto de Congonhas, logicamente para fazer jus ao fato de ser uma associação de profissionais ligados à aviação.

O organizador esforçou-se para fazer com que o festival desse certo, e na minha ótica, foi um sucesso, pois no nosso dia, atraiu cerca de quinhentos pagantes ao salão e por considerar-se ser um espaço pequeno, que se ultra lotado talvez comportasse um pouco mais do que isso, creio ter sido um ótimo resultado. 

E para reforçar, eu soube posteriormente que a noite do Heavy-Metal movimentou ainda mais público ao local, portanto, deu-lhe um suporte financeiro. Só que algo inoportuno ocorreu. Ao contratar-nos mediante cachê fixo combinado, na hora de acertar as contas conosco o rapaz alegou estar com dificuldades para cumprir o compromisso acordado. 

Talvez o bom resultado de bilheteria não tivesse sido o suficiente para cobrir-lhe os gastos da produção, pois foi possível que contasse com patrocínios que faltaram-lhe e assim, a bilheteria, mesmo que tenha sido boa, não cumpriu a meta para sanar a despesa a dar-lhe o lucro esperado, mas, e nós com isso? 

Bem, o Beto foi tratar do assunto em um lugar reservado e como estava a demorar, eu fui ver o que ocorria e quando cheguei o clima estava quente. Desculpas esfarrapadas não colaram e o Beto com pavio curto subiu o tom e aí o rapaz chamou os seus seguranças e infelizmente eles foram agressivos e claro que apelariam, se a conversa não parasse por ali. Enfim, tivemos que contentar-nos com parte do cachê combinado. 

Não vou revelar o seu nome, mas esse rapaz militou no meio até meados dos anos 2000 pelo que eu saiba, e tomara que seja feliz, hoje em dia. Tenho certeza de que não agiu com má fé, pois eu sei que a intenção dele foi boa, mas apenas não era experiente na época para lidar com produção de shows e dimensionou mal a produção, por não preparar-se adequadamente para arcar com os compromissos firmados previamente e diante de um revés fora de sua expectativa, ficou descapitalizado para honrar os acordos e nessas circunstâncias, sobrou a conta da produção alheia para os artistas. 

Sobre o show, este foi feito com muita energia, com um público que não fora exclusivamente nosso, mas que respondeu com bastante entusiasmo. O som e a iluminação foram apenas razoáveis no cômputo geral, e na hora do show, os amplificadores disponibilizados deram-nos dissabores com falhas, principalmente o da guitarra usado pelo Edu. Mesmo assim, o show foi bom em termos gerais. 

Foi assim então, tocamos no Clube dos Aeroviários, em 17 de setembro de 1988, com cerca de quinhentas pessoas na plateia. Na outra semana, voltaríamos ao Black Jack Bar, para mais dois shows. Tocamos nos dias 23 e 24 de setembro de 1988, com frequência excelente. No show da sexta, dia 23, duzentas e cinquenta pessoas viram-nos a tocar e no sábado, 24, trezentas e vinte pessoas passaram pela bilheteria da casa. 

Apesar desse bom público, claro que as condições do bar não eram ideais, com um palco minúsculo e um equipamento de PA absolutamente insuficiente para suprir um show de Rock. O lado bom de se tocar no Black Jack, além do sempre bom público presente, foi a hospitalidade dos seus donos que eram Rockers como nós, caso do Paulo Toledo, e Fernando Costa, ambos ex-membros do "Inox". 

Portanto, foi sempre agradável e de certa forma, amenizara a falta de condições físicas para se exercer em sua plenitude um show de Rock à altura das bandas que ali apresentavam-se.

Resenha sobre o show no Clube dos Aeroviários, publicada na Revista Rock Brigade, escrita por André "Pomba" Cagni

Nessa altura, o meu ânimo que nunca foi grande com essa banda e essa sonoridade, sobretudo, se mostrara ainda mais baixo. Eu não tinha nada contra ninguém, pessoalmente e pelo contrário, considerava-os pessoas de bem, sob todos os aspectos. 

E era grato ao Beto pelo seu esforço descomunal para manter tudo isso a funcionar e sem dúvida, foi o seu grande mérito ter criado essa banda em tempo recorde quando ficamos sob uma situação dificílima ao final de 1987. 

Mas a estética desagradava-me inteiramente, em uma oposição sistemática aos primeiros e tímidos sinais que começariam a impulsionar-me na direção diametralmente oposta. 

Cansado das adversidades hostis sentidas durante a década de oitenta, eu comecei a perceber que haveria uma chance para buscar-se uma reciclagem através do que eu realmente amava no campo da música, e assim, uma semente pequenina começou a germinar na minha mente, a levar-me de volta às décadas de sessenta e setenta em termos de predileções estéticas e por uma questão de ideal.

Tudo o que ocorreu depois desse início de retomada de posição da minha parte, mais ou menos em 1988, pôs-se a crescer e nos capítulos sobre os meus trabalhos avulsos, está contado a partir de 1990, assim como em toda a trajetória do Pitbulls on Crack que só fez tal sentimento crescer, para explodir na caminhada do Sidharta, a partir de 1997, e posterior concretização desse sonho de resgate retrô, com a Patrulha do Espaço, no pós-1999. 

Mas é importante assinalar: foi em 1988, que tal semente inicial começou a fazer-me sonhar novamente, para que eu pudesse resgatar os meus ideais Rockers sedimentados nos anos 1970, quando iniciei minha trajetória na música. 

Portanto, é preciso esclarecer que em teoria, o surgimento de uma pequenina semente, não faz com que o semeador possa animar-se, verdadeiramente e nesse caso, eu ainda não considerava ser possível tal resgate e pelo contrário, ainda vivia sob o sentimento amargo de que tudo o que amava houvera sido destruído pela deflagração da bomba Punk e de seus derivados radioativos, posteriores.

Resignado em viver em meio a um mundo sombrio, cinzento e sem Jimi Hendrix, Beatles e ecos Woodstockeanos, estava acostumado com a desolação oitentista que fazia com que o cenário parecesse o set de filmagem de "Blade Runner", com os seus famigerados "Cyber Punks" mediante a sua indecente rudeza e agressividade atroz. 

Portanto, se o som dessa banda em que estava como componente era estupidamente oitentista sob o prisma do Hard-Rock virtuosístico, seria óbvio que eu sentisse-me contrariado. Eu queria mais é voltar para o The Who, The Beatles e The Rolling Stones e não mergulhar em Yngwie Malmsteen e seus congêneres. 

Alheios a esses conflitos internos, os colegas nada tiveram a ver com tais anseios meus, e naquele momento, eu não possuíra nem meios de sair da banda e ir buscar o meu caminho e a minha verdade, mas seria por pouco tempo, no entanto. 

Estávamos a entrar em outubro de 1988 e em menos de um ano, tal resolução seria concretizada, enfim.

Matéria que escrevi para a Revista Rock Brigade, sob um convite de seu editor, Antonio D. Pirani, para falar sobre baixo e baixistas. O meu foco era a velha guarda, naturalmente, mas claro que citei exemplos oitentistas pela preocupação de não ser anacrônico e principalmente a expressar uma opinião nas páginas de uma revista que era focada no mundo do Heavy-Metal, prioritariamente

Desse ponto em diante, extremamente fatigado e farto pelas adversidades, eu somente permaneci como membro dessa banda para não deixar os meus amigos sem apoio, principalmente o Beto Cruz, com o qual eu contraíra uma dívida moral por tudo o que ele fez para manter essa banda em pé e o mínimo que eu poderia fazer nessa altura, seria dar-lhe o suporte que precisava para chegarmos pelo menos na gravação de um álbum e pelo desencadear dos acontecimentos, estávamos perto de realizarmos tal feito.
Um dos vários motivos pelos quais eu aboliria o apelido,"Tigueis", em 1999, foi sem dúvida a questão dos muitos aborrecimentos que tive com tal grafia por ser constantemente publicada de uma forma errônea. Louvo a boa vontade do funcionário do Teatro Mambembe em datilografar a filipeta acima, mas a sua falta de cuidado na digitação foi grande. "Tiguels" até que ficou bonito, ao soar como um sobrenome estrangeiro, mas faça-me o favor! E no caso do Zé Luiz, a família Rapolli deve ter chateado-se por ser chamada de "Ramolle", que inclusive sugere um estilo de massa italiana, talvez... 

Uma nova investida no Teatro Mambembe, no dia 10 de outubro de 1988, seria não apenas a última vez dessa banda a pisar nesse palco, mas também, a minha derradeira, na carreira. O fato, é que o velho Teatro estava a ser pressionado a vender as suas instalações para a ampliação de um hospital/maternidade que era seu vizinho, o Santa Joana, famoso no bairro.

Foto mais atual da fachada do Hospital Santa Joana, na ladeira íngreme da Rua do Paraíso. O prédio envidraçado ao lado, foi onde funcionou o Teatro Mambembe nos anos oitenta e que depois tornou-se um anexo desse complexo hospitalar

Ouvíamos há meses os boatos de que o Hospital estava a reclamar do barulho e aglomeração noturna, muitas vezes a ultrapassar a marca de quinhentas pessoas que na entrada e saída dos shows, naturalmente fazia muito barulho, com inevitáveis manifestações de euforia da parte de muitos, ainda mais com a adrenalina de um show de Rock, a dar-lhes tal impulso. 

Mas ao pensar hoje em dia, creio que sim, devia haver um incômodo por tratar-se de um hospital, mas no fundo, tal reclamação foi uma estratégia para pressionar os proprietários a cederem ao ímpeto do Hospital em buscar ampliação e foi inevitável, com o Teatro ao ser vendido e rapidamente a se transformar em um ambulatório, em anexo ao seu complexo. 

A cidade de São Paulo perdera mais um palco democrático e honesto, tal como o saudoso, Lira Paulistana e assim, artistas independentes e outsiders ficaram órfãos mais uma vez. 

Ao falar, portanto, dessa última vez em que toquei nesse teatro, ocorreu no dia 1º de outubro de 1988, como eu já havia dito e nessa noite, dividimos o palco com os amigos do Viper. Nessa altura, o Viper já não era aquela banda formada por garotos imberbes e havia amadurecido muito, não só na idade de seus componentes, mas como banda, propriamente dita. 

Cerca de quatrocentas pessoas compareceram ao show e isso foi um pouco mais do que a capacidade total do Teatro, portanto, ótimo público, porém, acostumados que estávamos a superlotar, com ocasiões até em que havíamos movimentado mais do dobro dessa lotação máxima, consideramos o público dessa noite, apenas razoável, sendo assim, ora veja como os conceitos eram diferentes nessa época em relação ao panorama tétrico do ano de 2016, quando cinquenta pagantes em um evento, é comemorado como um triunfo! O nosso show foi no padrão normal do que estávamos habituados a encenarmos na época, sem grandes novidades.

Uma equipe de reportagem do programa jornalístico, SPTV/3ª Edição, da Rede Globo, filmou alguns trechos dos shows das duas bandas e colocou tal material no ar, no dia seguinte. Infelizmente, não tenho tal material disponível. 

Cerca de quinze dias depois, tivemos mais uma oportunidade para apresentarmo-nos em São Paulo. E para promover tal espetáculo, fomos no dia 25 de novembro de 1988, novamente ao programa, "TV Mix", da TV Gazeta, para uma rápida inserção, somente para falarmos sobre o espetáculo. 

Estivemos escalados para tocarmos no "Dama Xoc", uma casa de médio porte que abrira em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Se por um lado perdíamos o Teatro Mambembe, houve o Dama Xoc e o seu concorrente no mesmo bairro, o Aeroanta, como casas de espetáculos de médio porte a suprirem a necessidade de bandas desse patamar, sem chances para tocar em casas mais sofisticadas como o Olympia e o Palace, acostumadas a promover shows internacionais, mas ao mesmo tempo, sem relegar-nos ao limbo das pequenas casas, sem estrutura. 

Contudo, ao contrário dos Teatros Lira Paulistana e Mambembe, para tocar-se no Dama Xoc e no Aeroanta, não foi tão fácil assim. Havia uma burocracia e uma velada barreira que só poucos tinham acesso, portanto, quando surgiu a oportunidade, claro que comemoramos.

Não seria, no entanto, um show exclusivo nosso. Teríamos que dividir o palco e a noite com duas outras bandas, "Vodu" e "Viper". Sobre o Viper, estes eram velhos amigos e não haveria nenhum problema e sobre o Vodu, apesar de nós não termos a mesma amizade, eu conhecia o bom baterista, Sérgio Facci e o baixista, André "Pomba" Cagni, e este fora um rapaz extremamente bem articulado e muito esperto em termos de envolver-se nos meandros de produções, as mais diversas.

André "Pomba" Cagni, baixista do Vodu, em foto mais atual, onde também atua na militância política e em questões de cidadania, além dos agitos culturais 

Tanto que logo a seguir, ainda em 1988, ele esteve a articular muitas novidades nos bastidores da música pesada underground e praticamente já poder-se-ia dizer que paralelo à sua carreira artística como músico, ele tornou-se um produtor e empreendedor, pois eis que rapidamente ele abriu um espaço que transformou-se em um mini Centro Cultural, articulou a criação de uma revista que durou anos nas bancas ("Dynamite"), passou a produzir shows & festas etc. 

Da nossa parte, queríamos usar esse show para algo a mais, talvez em uma das últimas tentativas para damos um salto, mas sinceramente, por tudo o que já explanei nesta particular história dessa banda, só se fosse algo muito restrito ao mundo do Rock pesado underground e adepto desse específico nicho dos apreciadores de virtuosismo, a semente embrionária do tal do Heavy-Metal melódico que infestaria a década de noventa, nesse mundo pesado.

E nesse sentido, o Beto quis trazer um elemento diferente para incrementar o show que seria filmado, e assim, convidou e preparou uma aluna sua de canto, para fazer backing vocals conosco. Essa garota chamava-se: Marcinha, e fico a dever o seu sobrenome que realmente fugiu-me. 

Lembro-me do Beto a promover ensaios particulares com ela, ao ajudá-la e a corrigi-la em alguns aspectos, dias antes desse show. O fato, é que nessa época, eu não fazia backing vocals a contento, apesar do Beto insistir muito para a minha participação, aliás desde o tempo d'A Chave do Sol. 

Eduardo Ardanuy não esboçava vontade para cantar e de fato, só queria ater-se à performance de sua guitarra. Fábio Ribeiro fazia alguma participação, mas era tímida e o nosso baterista, José Luiz Rapolli, apesar de ter um vozeirão grave, ao estilo de um locutor de emissora de rádio FM, não arriscava-se. 

Portanto, com essa sua aluna, o Beto projetou manter um suporte, para não esgoelar-se tanto, ao desgastar-se nos shows, além de possibilitar o enriquecimento do som da banda, naturalmente. 

A Marcinha era uma moça muito gentil e apesar de não ser uma garotinha, mas já uma mulher madura, com vinte e poucos anos, acredito, não detinha experiência de palco alguma e mesmo ao sonhar com essa oportunidade, se colocou bastante receosa com a perspectiva.

O seu nervosismo pela situação toda, foi compreensível. Foi na verdade o seu primeiro show, embora, soubesse que não ficaria exatamente na frente no palco, mas sob uma posição discreta, próxima ao praticável da bateria, portanto menos inibidora para alguém inexperiente. 

No show, ela não comprometeu, mas pelo vídeo, é possível notar que esteve bem inibida. Tenho cópia desse show, e está nos planos lançá-lo no YouTube, um dia. Foi um show sem grandes novidades, correto musicalmente e com performance boa da banda. 

Foto da banda no camarim do Dama Xoc, minutos antes de entrarmos em cena. Note leitor, que estamos com o visual de algumas fotos assinadas por Eric de Haas, que compuseram a capa do LP "A New Revolution", que só seria lançado dois anos depois. Acervo de Fábio Ribeiro

Aconteceu em 27 de novembro de 1988, no Dama Xoc e com a presença de cerca de quatrocentas pessoas no seu amplo ambiente rústico, com a proposta de todo mundo assistir os shows em pé, sem maior conforto. 

Uma ocorrência mencionável, foi quando o Beto fez propaganda da camiseta que estávamos a lançar, com a capa do LP The Key como estampa e reputo ter sido esse, um dos maiores erros cometidos por essa banda, pois definitivamente, não éramos a continuidade da velha, "A Chave do Sol". 

Por sorte, tal acordo com um patrocinador não logrou êxito e desfez-se a seguir, para confinar tais camisetas ao lote experimental com dez ou doze peças iniciais. Eu nem tenho uma camiseta dessas na minha memorabilia. 

No vídeo, o Beto faz uma brincadeira com o nosso roadie na ocasião, César Cardoso, que era meu aluno e que fora uma indicação minha para trabalhar conosco, já que ele continha uma certa experiência nesse setor, por ser primo de um dos membros da banda: "Civil", com a qual trabalhou nessa mesma época mais ou menos. Ele, Cesar, aparece no vídeo ao subir ao palco e exibir a estampa da camiseta em questão.

Micro resenha sobre o show no Dama Xoc, publicada na Revista Rock Brigade, em sua edição de nº 33

No dia 15 de dezembro de 1988, fomos no programa TV Mix, da TV Gazeta, para promover o último show do ano. E curiosamente, esse seria o último programa de TV que essa banda participaria em sua carreira. 

No dia seguinte, fizemos o último show do ano de 1988, no Black Jack Bar. Cerca de trezentas e cinquenta pessoas compareceram e apesar dessa super aglomeração para aquele diminuto espaço, eu tive um aborrecimento com a banda nesse dia.

Sob uma somatória de insatisfações que vieram a crescer mediante um patamar crescente, mas como eu já salientei anteriormente, nada teve a ver com as pessoas em si, mas com a situação toda que angustiava-me, nesse dia, ao sair de meu padrão de tolerância "zen budista" e monástica habitual, o fato foi que eu irritei-me com uma questão prática do show em si. 
 
Como era sabido por todos e eu já salientei aqui neste relato, o Black Jack Bar era uma casa com dimensões diminutas e continha um equipamento de PA compatível com tal tamanho de instalações arquitetônicas, porém inadequado para suprir as necessidades de uma banda de Rock, ainda mais na nossa formação como quinteto, com a presença de teclados, além da guitarra, baixo e bateria. 
 
Portanto, não dava para tocar alto naquele palco, sob o risco de tornar o som, uma maçaroca incompreensível, ao anular qualquer possibilidade de ser possível ouvir-se o vocalista, com um mínimo de inteligibilidade. Nessa noite em específico, desde o soundcheck, a banda pareceu não estar disposta a fazer uma dinâmica ferrenha para tornar o espetáculo audível para os fãs e sob um padrão de volume absurdo, nós começamos a tocar. 

Após três ou quatro apelos que eu fiz para que abaixassem os seus respectivos amplificadores, sem nenhum esboço de que pretendiam ceder nesse quesito, eu tomei uma decisão radical, ao abaixar o meu amplificador ao patamar zero. 

Foi inacreditável, mas eu não toquei durante quase todo o show na verdade, mas apenas a digitar ao instrumento, com o amplificador mudo e mesmo assim, nenhum dos meus quatro colegas, notou a ausência do baixo, e nem mesmo ninguém da parte do público!

O volume foi tão absurdo dos demais, que a ausência de um instrumento como o baixo, que naturalmente sobrepõe-se pelo seu peso amparado pelas frequências graves, passou-lhes batido completamente. 

Lógico que eu fiquei chateado com eles por não atenderem os meus pedidos para se estabelecer uma dinâmica estratégica que adaptasse-nos às condições sonoras inadequadas da casa. Mas eu também fiquei constrangido por ter tomado tal atitude, que em tese, fora desrespeitosa aos fãs que pagaram ingressos para assistir o espetáculo. 

Ponderei isso na hora, é claro. No entanto, o meu impulso em fazê-lo, também baseou-se na constatação de que para o bem dos próprios fãs, um instrumento a menos, poderia contribuir para dar-lhes um show melhor no aspecto do áudio. Além do mais, o fato de eu ter tocado a digitar verdadeiramente, mas sem emitir som no amplificador, despistou qualquer possibilidade de alguém achar a minha postura desrespeitosa. 

Se tivesse cruzado os braços, ou simplesmente abandonado o palco, aí sim, seria uma afronta ao público e à própria banda e claro que jamais o faria. Por fim, ao analisar pelo aspecto emocional, certamente que esse meu protesto velado representou a minha insatisfação com esse trabalho e mais uma vez eu reitero, não foi nada contra as pessoas em si, embora nesse dia eu tenha irritado-me com a teimosia de todos em tocarem muito alto, mas principalmente porque eu estava a sobrar ali, com aquela sonoridade/estética que não apreciava, definitivamente. 

Assim encerrou-se 1988, um ano muito difícil na minha carreira, pelos acontecimentos terríveis que acometeram-me desde o final de 1987, ao obrigar-me a tomar um rumo que eu jamais quis ter tomado, mas por lutar muito para não deixar a derrota abater-me.

Hoje em dia eu penso que nada disso deveria ter acontecido, por um aspecto: o mal-entendido que precipitou o fim d'A Chave do Sol poderia ter sido contornado mediante uma conversa, alguns dias depois daquela tensa reunião onde o impasse levou à extinção da banda. 

Muito provavelmente a banda poderia ter continuado a sua trajetória sem prejuízos, inclusive com a volta de nosso baterista, José Luiz Dinola, que já havia desistido da ideia improvável de abandonar a música. 

Todavia, o pior cenário possível manteve-se e sem saída, tivemos que montar uma banda às pressas, por conta da necessidade premente de vendermos discos. Ao ir além, estávamos desesperados e não houve uma outra alternativa naquele instante.

Foto promocional clicada na residência do fotógrafo e amigo, Carlos Muniz Ventura, na Vila Pompeia, zona oeste de São Paulo, em 1988

Mas ao final do ano, embora ainda houvesse muita dívida a ser quitada, ficara claro que essa banda não teve nada a ver com a antiga, A Chave do Sol, portanto, as suas receitas não poderiam servir para que pagássemos as dívidas de uma outra banda, a não ser pela disponibilização de minha parte e do Beto Cruz, além da venda de cópias do LP The Key, naturalmente.

Então, pelo simples fato de ser uma outra banda, com outro trabalho distinto e sem levar em consideração o fato da emergência causada pelo final abrupto da velha, A Chave do Sol, como principal agente motivador de sua criação, tal banda na minha trajetória se revelara pesada, emocionalmente a falar, pelo fato de não estar a apresentar resultados artísticos e/ou financeiros interessantes, e pior, não suprir-me com grandes perspectivas para médio ou longo prazo.

Em resumo: tratou-se de um som que eu não gostava, não estava a justificar-se pelos seus parcos resultados financeiros e/ou artísticos e não esboçara apresentar perspectivas de melhora para o futuro, em 1989, que batia na porta. Diante desse panorama, eu tive poucas alegrias para comemorar nesse ano de 1988, em relação a essa banda:

1) A sobrevivência heroica após uma hecatombe e o mérito por essa sobrevida fora todo do Beto Cruz, que lutou como um leão para não deixar a chama apagar.

2) A boa vontade de uma parcela muito grande dos fãs da extinta, A Chave do Sol que mesmo sem compreender corretamente o que ocorrera-nos, apoiou essa nova banda, e estendo tal observação à uma grande parcela dos jornalistas especializados.

3) O espírito de cooperação dos novos membros agregados, Edu, Fábio e José Luiz Rapolli e incluo Theo Godinho, mesmo que este último tenha tido participação meteórica nesse processo.

O ano de 1989 estava a chegar e apenas dois fatos novos para esse ano novo, poderiam segurar essa banda unida e com certo comprometimento mútuo: um disco e uma perspectiva nova que ocorreria em breve, mas que ainda não fora conhecida por nós ao final de 1988.

Continua...    

11 comentários:

  1. EXCELENTE resenha!!! Voltei no tempo! Quanta emoção!

    Conheci a banda Chave ao vivo na noite do dia 28/01/1988, uma quinta-feira (já conhecia o som/disco antes dessa data), na praia da Enseada no Guarujá, SP, Projeto Verão Vivo, por acaso, passando férias escolares na praia, quando já curtia heavy metal, mas nem sabia quem iria tocar naquela noite. Aliás, no ano de 1988 fui em TODOS os shows da Chave em SP!!! Sem exceção! Teatro Mambembe, Black Jack Rock Bar, Dama Xoc, Projeto SP, Programa Boca Livre, Centro Cultural de SP, Clube dos Aeroviários etc. Uma curiosidade: no show no Clube dos Aeroviários em SP, região do Aeroporto de Congonhas, no dia 17/09/88, um sábado frio, fui por causa do VIPER quer era a grande sensação do momento, e por causa da CHAVE, mas principalmente por causa do EDU (mas isso já vou contar). O local não estava cheio, tinham espaços enormes na platéia. Lembro-me do Paulão, baterista do Centúrias, xingando e gritando, chutando um dos bumbos da sua bateria, dizendo: "vamos agitar, porra! Cadê os headbangers desse lugar!!!" Algo assim. O Viper tinha músicas contagiantes, mas os garotos, na época, tocavam mal ao vivo, e o baterista VALDER SANTOS (VALDÉRIO) era muito ruim!!! O Rhpasody era uma superbanda! Músicos excelentes, e o vocalista Fernando tinha uma voz poderosa, alcançando altas notas. Em outras palavras, gritava pra cacete! E a Chave deu um show à parte, pois era a banda MAIS TÉCNICA da época; de nível internacional. O único "problema" da nova Chave era que as músicas não "pegavam", não "colavam", eram na sua maioria chatas de se ouvir. Sem grande empolgação. Se valia mais da técnica apurada de seus músicos do que da criação musical. A Chave de Sol, na formação anterior, tinha uma pegada mais rock e mais consistente, dava gosto de ouvir. Outro "problema" é que o EDU "MALMSTEEN" ARDANUY, que acabei conhecendo (ele morava no bairro de Santana, SP, na época), que aliás foi quem completou com R$ 3,00 faltantes o dinheiro da entrada para mim (isso porque Cz$ 700,000 equivaliam hoje a R$ 7,00. Fui a esse show do Aeroviários só com o dinheiro do ônibus - ida e volta - eu tinha 16 anos, na época - e mais R$ 4,00 nos dias de hoje). Ele estava na porta e puxei conversa com ele. Acreditem! Mas eu estava dizendo que o outro "problema" da nova Chave, com a nova formação, é que o EDU era um fenômeno de músico, único para a época (tinham outros grandes guitarristas rock, é claro, como o Theo Godinho da Chave, que foi professor do Edu, Zé Luíz, "Xinho", da banda Spitfire, Michel Perié da banda Jaguar, Joe Moghrabi da banda Proteus, Robertinho do Recife da banda MetalMania, Wander Taffo da banda Rádio Táxi etc.), mas ele era um SHOW À PARTE. Brilhava demais e "apagava" os outros músicos, se me permitem dizer assim. Eu, como fã, falando na perspectiva de fã, e os demais fãs que eu conhecia, queriam ver o EDU e não a Chave! O Edu era o cartão postal. No mundo rocker, underground, todos só falavam no Edu, no tal jovem guitarrista que entrou na Chave, num cara que tocava como o sueco Malmsteen que explodiu no mercado musical 4 anos antes, que era a febre do momento, juntamente com o americano Vinnie Moore, em meados dos anos 80. Guardadas as devidas proporções, as pessoas iam ao show da Chave para ver o EDU, e não para ver a Chave em si. Essa era a verdade! (continua...)

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    1. Olá, Sandro !

      Mas que comentário rico em detalhes e acredite, minha autobio enriquece-se quando comentários vindo de leitores com tal teor são postados como esse seu.

      Sua análise é mais que uma visão vinda de outra pessoa, mas impressionante como em muitos aspectos corrobora a minha lembrança pessoal dos fatos, como componente da banda enfocada neste capítulo.

      De fato, foi isso mesmo o que disse, ou seja, quando Edu Ardanuy (e Fabio Ribeiro, também, eu acrescento),entraram nessa banda, o direcionamento que ela adotou foi todo calcado para privilegiar os solos quilométricos. A sua percepção em dizer que as músicas não tinham grande apelo pop que prendessem a atenção do público, procede, justamente pelo fato inquestionável de que eram meras peças concebidas para dar vazão aos longos solos de ambos e principalmente do Edu.

      Portanto, fico feliz de ouvir de um fã desse trabalho que acompanhou com bastante atenção ( e impressionei-me com a quantidade de shows que assistiu dessa banda, conforme relatou com precisão sobre locais e datas), que a minha percepção pessoal sobre o que foi esse trabalho, não era só uma impressão minha por ser um estranho no ninho ali, visto que nunca gostei de Heavy-Metal, mas nem entre apreciadores dessa escola, escapava a ideia de que tudo girava em torno da necessidade de fazer o Edu brilhar além da conta para um trabalho de grupo, mais parecendo uma carreira solo dele, com músicos de apoio a lhe dar suporte.

      Sendo assim, se já tinha muitas contrariedades sobre o direcionamento pesado e oitentista desse trabalho, imagine numa circunstância assim tão desfavorável. Desta forma, meu relato fica amplamente lastreado com o seu adendo.

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  2. Continuação...

    Apesar disso, o som não emplacava, não agradava. Se a Chave tivesse tido um guitarrista com a veia mais rock/blues, como era o caso do RUBENS GIÓIA, menos virtuoso e técnico, menos estrela, no sentido de destaque, porque como pessoa o Edu era simples e amigável, teria existido até hoje, acho eu. Enfim, o EDU OFUSCAVA a Chave.
    De qualquer forma, foram épocas boas para mim, época em que os shows eram baratos, o rock nacional vivia do boca a boca, dos flyers feitos em máquina de escrever, caseiros, dos fanzines impressos, da venda de discos e fitas K-7, tinha seu público fiel, tanto que em plena SEGUNDA-FEIRA, o Teatro Mambembe, no Paraíso, SP, por exemplo, abarrotava de gente; e eu estava lá toda segunda!!!

    Tigueis, seu blog é excelente, pois é escrito com a ALMA e com o CORAÇÃO; com riqueza de detalhes. Nos faz viajar no tempo (para àqueles que viveram nesse tempo, como eu).

    Um abraço,

    Sandro Molina

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    1. Respondendo a continuação de seu ótimo comentário, eis aí mais um fato claro sobre como eu não considero essa banda uma continuação da velha Chave do Sol.

      Apesar da velha Chave do Sol ter se aproximado do Hard-Rock e do Heavy-Metal oitentistas em um momento da sua carreira, isso não caracteriza exatamente o teor do nosso trabalho, que era muito mais afeito, com cômputo geral, à escolas clássicas do Rock setentista, com o Jazz-Rock na linha de frente.

      Portanto, como você bem observou, o Rubens Gióia era o guitarrista mais adequado para esse trabalho, com escola sessenta-setentista, forte influência de Jimi Hendrix; Alvin Lee; Johhny Winter etc etc.

      Dessa forma, A Chave / The Key nasceu com outra mentalidade completamente diferente e, infelizmente, fora de minha influência pessoal, pois como deixei claro no texto da minha autobio, vivendo momentos dramáticos sob o ponto de vista emocional e na questão financeira, vi-me sem forças para impor ideias de direcionamento artístico e quando me dei conta, o som era esse, gostasse ou não...

      Sobre o que disse na sequência, está coberto de razão. Havia uma cena underground pulsante nessa época e mesmo com toda a precariedade logística que enfrentávamos pela falta de recursos, não necessitávamos de muitas coisas para lotar teatros, pois havia um público muito ativo. Portanto, para não dizer que não enxergo nada de positivo na década de oitenta, digo que sim, tenho admiração por haver nessa época muito mais interesse por parte das pessoas, isso é um fato.

      Hoje temos a fantástica ferramenta da Internet à nossa disposição, mas também poucos lugares para tocar; não se vendem mais discos e os shows, raros, vivem vazios, com pouca gente que se dispõe a comparecer embora nas redes sociais todos digam que irão estar presentes...

      Por fim, estou muito feliz pela sua participação e elogio ao final. Fico muito gratificado por saber que gostou do Blog e da minha redação autobiográfica, e assim, deixo-lhe o convite para ler os outros capítulos em que relato minha trajetória com outras bandas por onde passei,esperando que aprecie, igualmente.

      Grande abraço, amigo Sandro Molina !!

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    2. Tigueis,

      A Chave do Sol no formato power trio fez história/escola e depois com 4 integrantes era muito boa (eu só gostei do BETO nos vocais, os demais não!)!!! Pena que ficaram apenas os vídeos e a memória de quem viveu essa época. Porque tenho certeza de que se a banda não tivesse cindido talvez estaria até hoje na ativa e com todos juntos!!!

      Mas, na minha fé cristã, as coisas acontecem da maneira que Deus quer e permite, e no seu devido tempo. O que há de ser, será! O que era pra ser, foi! Nada se pode acrescentar e nada se pode subtrair.

      O Edu se consagrou como "guitar hero" brasileiro (merecidamente), por mais que eu ache todos eles CÓPIAS do pioneiro e único no estilo: Yngwie Malmsteen! O Fábio Ribeiro nem sei o que está fazendo. E o José Luiz Rapolli estava/está no Pink Floyd Cover.

      Só você que não sei o que está fazendo? (o Pedra era uma grande banda!).

      Abraço!

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    3. Olá, Sandro !

      A Chave do Sol teve várias fases num curto espaço de tempo, cinco anos de existência. Mas sem dúvida que duas dessas fases distintas são as mais festejadas pelos fãs do trabalho : a fase do trio que apareceu por cinco vezes no programa "A Fábrica do Som" entre 1983 e 1984, e a partir do final do ano de 1985 até o seu final em 1987, como um quarteto Hard-Rock oitentista, tendo Beto Cruz no vocal.

      Observei isso bem no texto dessa banda, e também fiz minhas conjecturas sobre as variáveis que poderiam ter nos favorecido a prosseguir,vencendo nossas diferenças e administrando assim as crises internas. Sim, também acho, a banda poderia ter durado mais e ter escrito uma história mais robusta, incluso com o lançamento de mais álbuns etc etc.

      Tanto que ao longo da história desta outra banda chamada A Chave e que posteriormente mudou de nome para "The Key", certamente ficou claro que lastimo que a velha Chave do Sol tivesse tido final abrupto e nos obrigado a criar A Chave / The Key numa questão emergencial.

      Sobre o que eu faço atualmente, é só seguir lendo os demais capítulos desta autobio, meu amigo. Depois do Pedra (grato pelo elogio à esse trabalho !!), vieram mais três bandas e duas das quais eu ainda sou membro e numa delas, estou gravando um EP neste momento de 2016.

      Falo sobre Os Kurandeiros, banda de Rock e Blues, liderada pelo guitarrista Kim Kehl. Também sou da banda de apoio do cantor / compositor Ciro Pessoa, chamada Nu Descendo a Escada.

      E também tenho uma intensa atividade como escritor e blogueiro, sendo colaborador de muitos Blogs, duas revistas impressas e mantenho três Blogs próprios, sendo este, o número 3, exclusivo para tratar da minha autobio na música.

      Super feliz com sua leitura e intervenções, um grande abraço !!

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  3. Luiz, parabéns pela biografia, muito bom de ler, riquíssima em detalhes.
    O show da Estação Brás em 30/04/1988 foi postado pelo Tiberio em seu canal do YouTube, segue o link:

    https://www.youtube.com/watch?v=2upQ3263Y-c

    Qual música do The Key foi executada nesse show, só reconheço a intro "Welcome"!?
    Obrigado por compartilhar histórias tão boas.

    Abraços.

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    1. Mas que sensacional esse adendo que ofertou-me !!

      Maravilha !! Em tempos de autobiografia, todo o material raro que surge é de fato um tesouro de valor inestimável para compor esse enorme quebra cabeças de tantas lembranças, dados e citações de pessoas, datas e situações.

      Desde a época, o Tibério fala-me que tinha essa filmagem e dizia que faria uma cópia, mas isso não aconteceu, de fato. Fico imensamente feliz, portanto, em saber que ele tomou a providência de postar tal material no You Tube.

      Vou examinar e assim que possível respondo-lhe sobre o set list das músicas desse show. E também tomarei as devidas providências para incorporar o link aos blogs.

      Agradeço-lhe efusivamente por tal indicação e estou muito feliz por saber que está lendo o texto autobiográfico e apreciando as histórias arroladas.

      Grande abraço !!

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    2. Olá, amigo !

      Respondendo a sua pergunta, a participação da Chave nesse vídeo postado pelo Tibério tem de fato a vinheta "Welcome" que costumava abrir os shows dessa banda, e a segunda canção chama-se "We Hear the Call".

      Mais uma vez agradecido pelo inestimável apoio !!

      Abração !!

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    3. Boa tarde.

      Já suspeitava que seria "We Hear The Call", porém está um pouco diferente da versão do álbum.
      Se me permitir, neste domingo onde faz 29 anos desta apresentação, gostaria de postar em meu canal o vídeo com esta apresentação de vocês, colocando na descrição o link com os 4 capítulos da história da The Key e o link com a apresentação completa de todas as bandas neste evento. Ah, e futuramente gostaria de postar Pitbulls on Crack também! rs

      Abraços.

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    4. Poxa, peço perdão pela demora em responder-lhe !

      O Blogger não avisou-me de sua última postagem e só agora, a mexer no texto para fazer algumas correções gramaticais, foi que o notei.

      Bem, agradeço muito pela postagem e é claro que fica super autorizado a incluir os links da minha autobiografia nas postagens desta e de outras bandas pelas quais passei, como o Pitbulls on Crack, por você citado. Aliás, é um grande serviço que presta-me e também à memória dessas bandas todas.

      Parabéns pelos esforços empreendidos !

      Grande abraço !

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