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terça-feira, 1 de março de 2016

Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 1 - O Futuro é Pink Floyd - Por Luiz Domingues

Esta história da minha trajetória na música é bem recente, mas mesmo assim eu já pude acumular muitos acontecimentos para relatar. De fato, narrar a minha relação como membro da banda, "Nu Descendo a Escada", que acompanha o Ciro Pessoa, evoca muitas reflexões iniciais, porquanto a se levar em conta uma história pregressa.

O "Nu Descendo a Escada" em foto clicada depois do primeiro show dessa primeira formação em que fiz parte, no ano de 2011. Da esquerda para a direita: Paulo Pires (bateria), Caleb Luporini (teclados), eu (Luiz Domingues no baixo), um fã desconhecido (camiseta azul) e Kim Kehl (guitarra e voz). Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

E tais reflexões remetem a um passado longínquo. Mesmo ao ter sido um contato recente em termos concretos para a minha carreira, eu preciso recuar bastante para explicar onde isso começou, pelo menos em termos de certas nuances de cunho ideológicas que supostamente me afastariam do Ciro Pessoa por haver um presumível antagonismo de ideias. 

Deixo claro aos leitores, que nada do que vou falar nessa explicação inicial, tem a ver com o Ciro em específico. Apenas existira uma conexão indireta com a qual eu vou analisar a seguir.

Enfim, quando eu comecei a minha carreira na música, no ano de 1976, o universo artístico pelo qual me encantara e que me motivara a fazer parte, esteve na verdade, por se encerrar. 

Toda a estética contracultural dos anos sessenta, estava diluída ao e a sua continuação lógica, ocorrida no avançar dos anos setenta, caminhava para um beco sem saída, infelizmente. Isso deu margem para que astutos e marqueteiros de plantão, se aproveitassem do panorama para extraírem vantagem pessoal. 

Tal formação de opinião em desagrado aos valores sessenta-setentistas deveria ter sido para chocar e aproveitar esse momento de estupefação por um tempo curto, pois a proposta que tiveram em mãos, foi mais insossa do que qualquer exagero do qual acusavam o Rock setentista de haver cometido. 

Refiro-me à usurpação do conceito do "niilismo", usado para respaldar as suas ações torpes. "Destruir o velho, para reconstruir o novo", não é um conceito abominável em si, ao depender das circunstâncias. Mas o que essa gente pregara, foi muito diferente. 

No meu caso em específico no momento pós-1977, eu prossegui firme em meus propósitos e sonhos, a lutar para aprender a tocar um instrumento com um mínimo de destreza e assim fazer com que minha primeira banda, então bem iniciante, crescesse ao máximo que pudesse, sobre tais ditames. 

O Boca do Céu, a minha primeira banda, em foto de 1977. Click de Adelaide Giantomaso

Em meus esforços adolescentes, o "Boca do Céu" deveria ser a banda definitiva de minha vida, se dependesse de minha vontade. E assim, no calor da época e desses sonhos juvenis, todo o meu esforço foi empreendido no sentido para engrandecê-la, e dessa forma, a minha projeção foi sobre a banda lograr êxito, a crescer na mesma proporção em que todos os seus membros também evoluíssem individualmente, como músicos. 

E nesse sentido, quando eu tomei conhecimento dos ventos tenebrosos que vinham de Londres, em 1977, ao contrário de muita gente que se encantara e assim se pôs a correr para o salão de barbearia da esquina, para se entregar ao simbolismo do que essa destruição imposta para tudo o que amávamos, o fato se deu que permaneci incólume a tal modismo diametralmente oposto aos meus ideais. 

Claro, a ideia de se tocar mal propositadamente e compor músicas deliberadamente feias e agressivas, para seguir uma cartilha que fora um embuste planejado por um marqueteiro astuto, passou a me causar estupefação, em detrimento de observar por todos os lados, pessoas a se encantarem com essa mentira deslavada, a se revelar claramente aos meus olhos como um mero subproduto do marketing. 

Nesses termos, provocações do estilo: "eu odeio Pink Floyd", para muitos soou como algo "revolucionário", mas na minha visão, não passava de um acinte vergonhoso. 

Por que o Rock Progressivo deveria ser execrado? A ideia de se raspar a cabeça e usar coturnos militares, alfinetes espetados pelo corpo e roupas escuras e/ou cinzentas em predominância, ser agressivo como condição sine qua non no cotidiano, exaltar a iconoclastia, enfim, tudo isso somado, me pareceu ser um esforço de marketing para buscar o oposto dos valores da Era Hippie, a perfazer uma antítese deliberada, exatamente para forjar uma nova moda antagônica e na prática, se revelara como um ataque frontal aos valores da contracultura e pior, a denotar ser uma inacreditável demonstração de retrocesso sob a minha ótica, mais a parecer uma reação fascistoide, a forçar a posição anti-contracultural perpetrada por pessoas interessadas no regresso como uma ação de marketing a buscar no contraponto forçado, apenas ganhar dinheiro.

No meio dos anos setenta, em meio à minha óbvia ingenuidade de então, eu tive epifanias em meio à minha vivência infantojuvenil, ou seja, alimentara a sonhadora ideia de que as conquistas comportamentais, estéticas e socioculturais advindas dos anos sessenta estariam sedimentadas e o mundo do futuro seria a concretização desse sonho aquariano, fraternal e pleno de solidariedade, humanidade e beleza artística. 

Como poderia imaginar que uma tempestade negra, agressiva e opositora de tais ideais, estaria a se precipitar sobre nós, para destruir tudo o que fora construído a duras penas? 

Por me sentir muito deslocado dentro desse novo mundo obscuro, me pus a suportar o revés estético e comportamental, com meus parcos recursos.  

E nem poderia haver ocorrido de uma outra forma, pois eu não possuía cacife para confrontar os artífices desse golpe. Meus esforços ainda se voltavam para aprender a tocar um instrumento decentemente, e assim buscar um lugar ao sol no mercado musical, com todas as bandas e oportunidades que apareceram em meu caminho, de 1976 para frente. 

Ao pensar nesses termos, "aprender a tocar" foi uma questão de honra, para manter o meu compromisso com a estética na qual tal baluarte era valorizado. Em termos de praticidade, se eu tivesse aderido à turma oposta, teria sido muito mais fácil!  

Já os adeptos do paradigma a dar conta da máxima: "Faça você mesmo", se valorizaram duplamente, a seguir.

Além de não precisar se esforçar para aprender a tocar um instrumento musical, com o mínimo de dignidade, tal prerrogativa norteou a estética do final dos anos setenta e sedimentou toda a estética oitentista. 

Desta forma, quanto pior o artista tocava e cantava, mais frisson causava para a massa e críticos, a estabelecer uma completa inversão de valores. Se "o lixo virou luxo" e consequentemente, o "luxo virou lixo", sujeitos como eu, que não aderiram a tal antiestética e prosseguiram fiéis ao paradigma anterior, se marginalizaram por dedução lógica. Tocar mal passou a ser um fator elogiável e na contrapartida, o ato de tocar bem, se tornou obsoleto. 

O decantado "Sex Pistols", talvez a banda mais superestimada da história do Rock

O movimento Hippie sofreu um violento processo de ridicularização pública, em todos os níveis, e todos os artistas dessa Era, passaram a ser tratados de uma forma completamente desdenhosa e claro, muito injusta. 

Ao sentir na pele tais manifestações debochadas, de fato eu criei um asco dessa estética oposta, não por ela em si, mas pela maneira obtusa com a qual os seus seguidores a enalteciam e principalmente como se portaram como vilipendiadores da estética anterior, aquariana, na contrapartida em anexo. 

Infelizmente, muita gente valorosa embarcou nessa. E demorou para eu começar a separar o joio do trigo, e perceber que muitos desses colegas, não estavam ali a enxergar todo esse estrago inerente. Pelo contrário, há o caso de certos indivíduos que até hoje não percebem o antagonismo que existiu nesse momento da história do Rock. 

Portanto, já na primeira metade dos anos oitenta, eu ainda tive boa vontade ao fazer inúmeros esforços para compreender tal elemento opositor. Nesse sentido, que desejei deter a visão desses entusiastas da estética antagônica aos meus ideais, para enfim fechar um julgamento justo sobre o tema, inclusive a interagir diretamente com alguns de seus mais ferrenhos defensores.

Malcolm Mclaren, o dono de uma loja de artigos sado-masoquistas em Londres no final dos anos setenta e que enxergou no movimento Punk uma alavanca em ternos de moda, para alavancar o seu negócio. Mesmo que não fosse a sua deliberada intenção, esse senhor abriu a caixa de Pandora para gerar um estrago

Acho incrível como pessoas esclarecidas não enxergam o óbvio ululante. Esse manifesto da "anti-música" criado por Malcolm McLaren, foi um mero golpe de marketing para promover a sua loja de artigos sadomasoquistas e para tal intento, usou o "Sex Pistols" como garotos propaganda de sua armação. 

Esse negócio de "chocar" com atitudes ultrajantes, foi concebido para ter durado muito pouco tempo, mas o grande estrago mesmo, foi da parte da mídia e os ditos "formadores de opinião", ao comprarem essa ideia em tom de manifesto e muito pior, alçá-la a um patamar sob superestimação total em meio a uma ação de exagerada formação de opinião a respeito, portanto a sedimentar o famigerado paradigma. 

Será que neste planeta Terra, somente eu (Luiz Domingues), David Gilmour e Guilherme Arantes, pensamos isso a respeito dessa ultra superestimação do movimento punk? 

Pois é, a lobotomia coletiva foi sem precedentes, a fazer com que o senhor Goebbels pudesse se orgulhar de seus filhotes/seguidores. 

Com essa atitude, se abriu não uma porta, mas um verdadeiro portal para se vilipendiar o Rock, mesmo que em princípio os seus artífices não mensurassem o estrago que fariam (foi o tal negócio: será que o militar obediente que apertou o botão fatídico dentro da aeronave, "Enola Gay", estimou o real estrago que seu ato causaria, ali em agosto de 1945?). 

Bem, com essa atitude, se instituiu uma interminável "Era" de obscuridade no gênero. Com a formatação do conceito de que "não era preciso saber tocar um instrumento, para tocar", se gerou na verdade, um estrago sem precedentes, ao abrir espaço para o enaltecimento de pseudo-artistas, uma geração formada por músicos com péssima condição técnica. 

Como enfatizara o próprio Ciro (inclusive eu já o vira a falar sobre isso, publicamente, em um documentário, antes mesmo de ir tocar em sua banda): -"foi uma geração formada por bandas raquíticas". 

Pior e mais odioso do que enaltecer essa safra de músicos mal preparados, foi a agravante de se massacrar, via mídia & formação de opinião, a boa safra observada pela geração anterior. Nunca concordei com tal pressuposto, é lógico! 

Além de não achar razoável exercer o conceito de niilismo dessa forma, em via de regra eu nunca me conformei com o fato de se manobrar deliberadamente para destruir a imagem do passado, pois é claro que se trata de uma atitude arbitrária da pior espécie.

Qualquer semelhança com um famoso romance de Ray Bradbury, não foi mera coincidência. Não incomodar-me-ia em nada que o Punk-Rock existisse, se não houvesse no seu bojo, toda essa execrável estratégia de marketing agressiva e sob autoritário.

Se apenas exercesse o seu direito de se apresentar como uma estética tosca tudo bem, eu não teria nada contra isso, ao respeitar a opção. Aceitaria democraticamente a diferença de mentalidade e eticamente, até apoiaria o fato de quem pensa assim, por ter esse direito ao livre arbítrio. 

Mesmo por que, só acredito em arte como expressão livre e espontânea. Pelo fato de não gostar da musicalidade ou no caso, ausência de alguma sequer, a minha opção respeitosa seria apenas no sentido de não comprar os discos ou assistir shows com tais artistas que se expressassem dessa forma. 

Entretanto, infelizmente não foi assim que os fatos de 1977 e sua decorrência lógica, ocorreram. O fato de se trabalhar acintosamente nesse sentido de execrar a música bem feita e executada, foi o que sempre realmente me incomodou. 

Na contrapartida, atesto que eu gosto de muitos artistas que tem um espectro de atuação, baseado na simplicidade musical. Não tenho nada contra artistas que baseiam o seu trabalho sob um formato musical simples.

O produtor musical e baixista, Tony Visconti, com David Bowie na primeira foto e Marc Bolan, na segunda.

Na minha estante de discos, o T.Rex vive em perfeita harmonia com o Gentle Giant. São extremos dentro do Rock. Um grupo se pautou  como absolutamente simples em sua formatação musical. O seu líder, Marc Bolan, morreu a saber fazer apenas seis acordes na guitarra e somente os básicos, nada sofisticados.

Tony Visconti, baixista e produtor musical de artistas emblemáticos da história do Rock
 

O outro, foi o supra-sumo da sofisticação musical. E o que os une?
Tratou-se do mesmo produtor, um sujeito chamado: Tony Visconti. Portanto, eu nunca acreditei que a sofisticação musical deveria ser extirpada do Rock, como decretaram os seguidores de Malcolm McLaren através da sua propaganda.

E acrescento que eu sei bem que em meio aos Punks britânicos, ali no calor da explosão do modismo em 1977, houve uma ala que odiava o Malcolm MClaren, exatamente por enxergarem em sua ação de marketing, um embuste que vista pela sua ótica, conspurcava o movimento ao avacalhá-lo. 

Em resumo: graças à instituição dessa mentalidade, o estrago criado foi enorme e o tempo decorrido em consequência disso, inacreditável! 

Reafirmo, tal mentalidade foi mega, ultra superestimada e o preço que pagamos por isso, é por amargarmos trinta e nove anos (2016), em meio a trevas no Rock, com raros e efêmeros lampejos de revitalização. 

Diante desse quadro complexo e que demandava uma adversidade com a qual eu convivia desde o final dos anos setenta, quando o Kim me convidou para fazer parte da banda de apoio do Ciro, não foi que eu tivesse essa apreensão assim tão raivosa (mesmo por que, a minha diferença sempre foi institucional e jamais pessoal contra entusiastas dessa estética), mas por um breve instante, me passou pela mente que eu trabalharia com alguém daquela cena do Pós-Punk oitentista, e por conta disso, poder-se-ia esbarrar em controvérsias ideológicas irremediáveis. 

Contudo, essa pequena apreensão dissipar-se-ia, e pelo contrário, eu teria uma grata, muito grata surpresa ao conhecer enfim, o Ciro Pessoa!

Que fique claro, se bem que eu acho que já deixei bem claro anteriormente: não é pelo gênero em si, tampouco pelas pessoas que o professaram, e nem mesmo pelos seus seguidores que nutrem apreço e simpatia por tal estilo. 

A contrariedade que nutro, se dirige contra quem criou o "Hype" em cima da ideia errada do falso niilismo. Na minha percepção, se alguém quiser fundar uma banda sob parcas condições técnicas, na qual nenhum membro saiba tocar, tudo bem, o artista em questão é livre para tal ação, não me incomoda em nada. 

Se este conseguir seguir em frente e construir carreira dessa forma, me incomoda muito menos, e até parabenizo pela façanha.

Pelo contrário, nesse caso, creio que possa até admirar forte dose de convicção, movida pela força de vontade de tais pessoas em levar adiante tal empreitada. 

E se houverem admiradores desse trabalho que comprem ingressos de shows, discos e material de merchandising, por que não poderiam atuar e pleitear um espaço na cena artística? 

O que me perturba efetivamente, são os inescrupulosos "formadores de opinião", que arquitetaram essa maldita mentalidade e a perpetuaram "ad infinitum", a prejudicar centenas de artistas talentosos que passaram a ser em marginalizados, injustamente. 

Diante desse bloqueio, talentos anônimos, detentores de muita capacidade artística, amargaram o limbo da história, para que o espaço artístico fosse monopolizado cruel e de forma despótica pelos medíocres e sinto muito em ter que afirmar isso.

Tal prática engendrada tem nome e se chama: manipulação, daí, não há cabimento que tenha durado trinta e nove longos anos (2016), e ainda hoje, não dê indícios de que será extirpado, tão cedo. 

Não tenho nada contra o "Sex Pistols", pessoalmente. Em mina ótica, é apenas uma banda muito ruim, da qual eu jamais compraria um disco, ou gostaria de assistir ao vivo. 

Aliás, o argumento pífio de alguns, que dizem que o álbum que causou toda essa celeuma, é "bom", por que foi gravado por músicos de estúdio, e não por aqueles rapazes incautos, também não me convence. 

Neste caso, se for para ouvir um disco falso gravado por outros músicos, prefiro mil vezes os primeiros álbuns do grupo "The Monkees", sem dúvida, que de fato foram gravados por músicos de estúdio. 

Todavia, o que perturba é verificar esse "hype" indevido sobre eles, que nesta altura, já passou ao patamar de um culto à bestialidade. E por ser uma manifestação sob fanatismo doutrinário semelhante a uma seita, claro que não deve ser levado a sério, mas apenas ser lamentado.

                        Ciro Pessoa em atuação ao vivo. Fonte: Internet 

Enfim, este desvio de conversa foi muito importante para que o leitor entenda esse posicionamento e portanto, como eu fui surpreendido positivamente quando conheci o Ciro Pessoa. Sendo assim, explicada a razão de eu manter tais convicções estéticas dentro do movimento do Rock, vou avançar nesta narrativa. 

Antes mesmo de conhecer o Ciro, pessoalmente, eu já tinha obtido um alentador aviso da parte do Kim Kehl. Em conversa via internet, ele me disse que o trabalho do Ciro seria muito voltado para a psicodelia sessentista e que possuía muita influência do Pink Floyd, fase Syd Barrett. 

Cáspite! Fiquei surpreendido e de forma muito positiva, é evidente, pois eu jamais esperaria por tal configuração estética.

Outro passo nesse sentido, foi quando o Kim me enviou alguns links para eu começar a conhecer o trabalho solo do Ciro. Confesso, não conhecia os seus discos solo, ao me limitar a contar com um parco conhecimento da sua obra, advindo do fato público e notório de ter conhecimento que ele fora membro dos "Titãs", mas bem no início da carreira daquela banda midiática, e posteriormente, do "Cabine C", um grupo tipicamente oitentista e orientada pela estética Pós-Punk. 

Então, baseado nessas informações superficiais em que travei contato, foi surpreendente em minha ótica, saber que os seus discos solo apontavam para a psicodelia sessentista. 

Na minha ótica inicial, sem me aprofundar eu pensei que tal surpreendente realidade só teria sido possível por ele haver rompido com aquela turma do manifesto de 1977, ou simplesmente, que ele talvez não enxergasse tal antagonismo e sem preconceitos, abraçara a psicodelia, com as bênçãos de Syd Barrett. 

Assisti alguns vídeos de apresentações suas no YouTube e gostei bastante das canções e sobretudo da performance do Ciro.

Still de um vídeoclip absolutamente surrealista de uma canção do Ciro Pessoa

Um desses vídeos, aliás, fora gravado ao vivo no Auditório Ibirapuera, e eu o achara incrível, com uma canção psicodélica ao ser interpretada em meio a um cenário esfuziante, sob uma ambientação incrível, que lembrava uma pintura de Salvador Dali ou de René Magritte. 

Ora, ao me deparar com uma performance dessa monta, me desarmei automaticamente das minhas mais enraizadas ressalvas e já me senti muito estimulado a estar dentro dessa banda de apoio e a participar dessa loucura psicodélica, com bastante identidade. 

E tudo se intensificou, enfim, quando conheci o Ciro, pessoalmente, e pela conversa, notei que apreciaria muito estar a atuar na sua banda de apoio. 

Na primeira foto, Ciro Pessoa em meio a uma entrevista. Fonte: Internet. Na segunda, a atuar como convidado d'Os Kurandeiros em 24 de agosto de 2011, quando nos conhecemos. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Conheci o Ciro, pessoalmente, no dia em que toquei pela primeira vez com Os Kurandeiros de Kim Kehl, no Magnólia Villa Bar, em 24 de agosto de 2011. 

Foi tudo novidade naquela noite, a tocar pela primeira vez com uma nova banda, mas que ostentava uma longa carreira, e cujo repertório, eu pouco conhecia. E foi uma novidade também, conhecer o Ciro Pessoa na mesma noite, quando ele atuou como convidado da nossa banda.

                                 Ciro Pessoa em entrevista. Fonte: Internet

Nessa noite, eu já estava ciente da proposta de tocar com o Ciro e também sobre como seria o trabalho dele, naquela ocasião, mas faltava conhecê-lo pessoalmente. O Kim não havia dado a certeza, mas me disse que possivelmente o Ciro apareceria naquela noite e que talvez fizesse uma participação conosco. 

E de fato, ele apareceu e sob uma oportunidade que surgiu, subiu ao palco do Magnólia Villa e cantou uma versão muito improvisada para a canção: "Ruby Tuesday", dos Rolling Stones, e "Ando Meio Desligado", dos Mutantes, duas escolhas dele, feitas na hora, sob total improviso aleatório. Depois do show, eu conversei enfim, mais detalhadamente com ele, Ciro, após ter sido apresentado pelo Kim, formalmente.

Still de um vídeoclip absolutamente surrealista perpetrado pelo Ciro Pessoa. Fonte: Internet

Na conversa que tivemos, falamos sobre o seu trabalho e muitos pormenores por ele citados, me animaram, mais ainda. Por exemplo, ele se queixou de que estava cansado de trabalhar com músicos oriundos da cena do Pós-Punk e do mundo indie "moderninho", pois essa garotada não entendia a psicodelia sessentista como deveria ser executada. 

De fato, eu tinha visto alguns vídeos dele no YouTube e também ficara com essa impressão. Palavras dele mesmo, seriam "moleques de braço duro", e ele sonhava em contar com uma banda mediante músicos que soassem como o Pink Floyd.

          O Pink Floyd no auge da sua carreira. Fonte: Internet

Bem, essa afirmação, acendeu o meu ânimo sobremaneira e por motivos óbvios, e claro que se dependesse de minha alçada, ele teria o som do Roger Waters, doravante, sem dúvida. 

Fora essas considerações estéticas, eu adorei o seu astral pessoal. A se revelar como um sujeito extremamente descontraído e despachado, muito brincalhão e que sob um certo aspecto, a me fazer lembrar do Chris Skepis, este, meu velho companheiro do Pitbulls on Crack. 

E mal sabia eu, que em um mundo muito pequeno, na verdade Ciro Pessoa e Chis Skepis conheciam-se, desde 1973, coincidência que eu descobri a posteriori. 

E a conversa derivou para outros aspectos. Falamos também sobre outros artistas dos anos sessenta e artistas plásticos como Salvador Dali e René Magritte. 

Algumas frases de efeito que ele gostava de repetir, me impressionaram, pois revelaram que o seu apreço pelo Rock sessenta-setentista era real, e não ocasional. Uma delas, ele repetiu por diversas vezes durante a conversa e me impressionou bastante por seu caráter em formato de um lema, muito forte: -"O futuro é Pink Floyd".

O Pink Floyd em sua fase sessentista psicodélica, com Syd Barrett na guitarra (o quarto da esquerda para a direita)

Dessa forma, eu fiquei bastante contente com esse primeiro contato, motivado para preparar as músicas e começar a ensaiar. O Kim me levou nesse mesmo dia, o material do Ciro para eu escutar em casa. 

Foram treze (ou quatorze) músicas para começar a decorar. As letras se mostravam louquíssimas, muito calcadas no surrealismo, e claro, a se encaixarem como uma luva na psicodelia por ele, proposta.

Continua...

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